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25/09/2020 1 SÍNDROME DA IMOBILIDADE Disciplina: Fisioterapia na Saúde do Idoso Docente: Thaís Passos INTRODUÇÃO Com o avançar da idade algumas condições vão surgindo e se somando, de maneira que a partir dos 75 anos há um declínio funcional mais acelerado, o que implica maior incapacidade, fragilidade, imobilidade e mortalidade. Os idosos fragilizados podem ser definidos como indivíduos com mais de 75 anos de idade, tendem a ficar mais restritos ao leito, evoluindo rapidamente para imobilidade e suas complicações. 25/09/2020 2 SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) A SI, apesar de muito usada entre os geriatras, é, na realidade, pouco conhecida e entendida por médicos de outras especialidades. O pouco que se sabe da SI é proveniente do conhecimento da medicina espacial, na qual se estuda o efeito da falta de gravidade sobre o corpo humano e a influência dessa ausência em várias funções orgânicas. Na posição supina prolongada, a força da gravidade sobre o nosso corpo é menor e daí surgem a perda óssea, muscular etc. SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) SÍNDROME: conjunto ou complexo de sinais e sintomas que ocorrem ao mesmo tempo que, individualizam uma entidade mórbida e podem ter mais de uma etiologia. IMOBILIDADE: ato ou efeito resultante da supressão de todos os movimentos de uma ou mais articulações em decorrência da diminuição das funções motoras, impedindo a mudança de posição ou translocação corporal. 25/09/2020 3 SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) SÍNDROME DA IMOBILIZAÇÃO OU SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI): complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares, que, por conseguinte, prejudica a mudança postural, compromete a independência, leva à incapacidade, à fragilidade e à morte. SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) Todos os órgãos e aparelhos podem sofrer consequências da imobilidade SEGUINDO SEGUINDO Constipação intestinal hipotonia muscular, osteoporose SEGUINDO Distúrbios cardiovasculares respiratórios, digestivos e metabólicos INÍCIO Deterioração intelectual e comportamental Deterioração dos estados depressivose/ou + Desnutrição, distúrbios metabólicos contratura e negativação do balanço nitrogenado + + COMPLEXO DE ALTERAÇÕES QUE REPERCUTEM NEGATIVAMENTE SOBRE O ORGANISMO TENDO ORIGEM NA IMOBILIDADE 25/09/2020 4 SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO Nem todo paciente confinado no leito tem SI depende da classificação temporal: REPOUSO: permanência no leito de 7 a 10 dias IMOBILIZAÇÃO: permanência no leito de 10 a 15 dias DECÚBITO DE LONGA DURAÇÃO: permanência no leito por mais de 15 dias Para caracterizar a SI, usa – se critérios que orientam fazer um diagnóstico da síndrome e que tenham características próprias: CRITÉRIO MAIOR: déficit cognitivo médio a grave e múltiplas contraturas CRITÉRIO MENOR: sinais de sofrimento cutâneo ou ferida de decúbito (úlcera de decúbito), disfagia leve a grave, dupla incontinência e afasia. DEFINE – SE UM PACIENTE COM SI QUANDO ELE TEM AS CARACTERÍSTICAS DO CRITÉRIO MAIOR E PELO MENOS DUAS DO CRITÉRIO MENOR. SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) CAUSAS Diversas são as patologias que levam o idoso à imobilidade evoluindo consequentemente para SI. É necessário conhecer todas as causas para estabelecer o tratamento adequado e prevenção de suas complicações. AVE: acidente vascular encefálico; SCV: sistema cardiovascular; SD: sistema digestório; SE: sistema esquelético; SM: sistema muscular; SNC: sistema nervoso central; SR: sistema respiratório O resultado de todos esses problemas seria em última instância, equilíbrio precário, quedas, limitação da marcha, perda da independência, imobilidade no leito e, finalmente a SI. 25/09/2020 5 SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) CAUSAS Independente da causa da imobilidade, mesmo por curtos períodos de tempo, a imobilização resulta em modificações para pior nos sistemas cardiovascular, osteomuscular, respiratório e do metabolismo. O estado psíquico também pode sentir o efeito do imobilismo, sendo frequentes depressão, apatia, déficit cognitivo e ansiedade. SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) Esses idosos necessitam de dieta especial por sonda, usam antibiótico de última geração para tratamento de infecção do trato urinário (ITU), pneumonias e úlceras e requerem curativos especiais, o que eleva sobremaneira os custos de manutenção. Estudos controlados mostram alta taxa de mortalidade entre os idosos imobilizados no leito – em torno de 50 % (Carla et al, 2011). A causa mortis é quase sempre devido à falência múltipla dos órgãos, mas, por vezes, uma causa específica pode ser encontrada, sendo a pneumonia, a embolia pulmonar e a septicemia as mais comuns. 25/09/2020 6 SÍNDROME DA IMOBILIDADE (SI) CONSEQUÊNCIAS DA IMOBILIDADE A IMOBILIDADE PROLONGADA LEVA À DETERIORAÇÃO PROGRESSIVA DE VÁRIOS SISTEMAS, MUITO ALÉM DA SENESCÊNCIA NORMAL, CHEGANDO – SE MAIS TARDE À SINDROME DE IMOBILIZAÇÃO. SNC: sistema nervoso central, SR: sistema respiratório, SCV: sistema cardiovascular, SEM: sistema endocrinometabólico, SD: sistema geniturinário, ST: sistema tegumentar, SM: sistema muscular, SE: sistema esquelético SISTEMA TEGUMENTAR A pele senil apresenta declínio na produção de células epiteliais, causando adegalçamento de 20 a 30 % na espessura da epiderme, redução de número, tamanho e secreção da glândula sudorípara, escasso tecido de sustentação e diminuição da vascularização. A derme desidrata, perdendo seu vigor e elasticidade. Todos esses fatores combinados tornam a pele inelástica e friável, facilitando as lesões dermatológicas do paciente acamado. 25/09/2020 7 SISTEMA TEGUMENTAR ORIA, Reinaldo B. et al . Estudo das alterações relacionadas com a idade na pele humana, utilizando métodos de histo-morfometria e autofluorescência. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro , v. 78, n. 4, p. 425-434, Aug. 2003 . SISTEMA TEGUMENTAR COMPLICAÇÕES TEGUMENTARES MICOSES São facilitadas pela umidade constante na superfície corporal, fato comum em acamados, pois suor, urina e restos de alimentos acumulam – se principalmente se o colchão for revestido de material não poroso e a higiene for precária. Eritrasma, micose causada pela Nocardia minutíssima, atinge regiões úmidas e intertriginosas (axila, mamária e inguinal). Infecção por cândida é problema também em áreas de dobras ou pregas. As micoses são porta de entrada para importantes infecções bacterianas e estão presentes, com frequência em diabéticos. Higiene, bom estado nutricional, exposição ao sol, uso de roupa de material poroso (evitar tecidos sintéticos e fraldas), temperatura ambiente agradável, controle glicêmico e o não uso de colchão com superfície plástica são medidas preventivas de micoses. 25/09/2020 8 SISTEMA TEGUMENTAR COMPLICAÇÕES TEGUMENTARES Xerose Nome dado ao ressecamento da pele, causado pela diminuição das glândulas sudoríparas, que causa prurido e descamação. O uso de sabões, banhos de imersão, banhos quentes e demorados pioram o problema. Deve –se, por isso, evitar esses fatores precipitantes, usar hidratantes para pele e induzir a ingestão de líquidos. SISTEMA TEGUMENTAR COMPLICAÇÕES TEGUMENTARES Laceração O constante atrito sobre o leito associado à pouca elasticidade da pele, à falta de tecido de sustentação e à xerose acabam produzindo lacerações na pele, principalmente braços e pernas. Jamais mobilizar o paciente pelo antebraço ou contê – lo com faixas de crepe diretamente nos punhos. Fotos: Manual de Prevenção e Tratamento de Lesões por Fricção /Frank da Silva Torres et al. 2016 https://3dejulhonoticias.com.br/2014/05/03/i doso-e-amarrado-e-fica-o-dia-inteiro-sem- higienizacao-no-acre/ 25/09/2020 9 SISTEMA TEGUMENTAR COMPLICAÇÕES TEGUMENTARES Dermatite amoniacal Vulgarmente chamada de assadura Lesão muito frequente devido ao contato da pele com urina. O uso de fraldas geriátricas pode até agravar o problema, pois,por serem revestidas de plástico, criam um meio próprio (umidade e calor) para proliferação de bactérias que desdobram a uréia em amônia. Para homens, dá – se preferência ao uso de coletor. Nas mulheres que usam fraldas, deve – se dar banho ao trocá – las, não permitindo que fiquem molhadas de urina. SISTEMA TEGUMENTAR COMPLICAÇÕES TEGUMENTARES Úlcera de decúbito ou Ferida de decúbito Estudos mostram incidência de 10 a 20 % em idoso acamado e taxa de mortalidade de 70 % ao ano. Cerca de 13 % dos idosos tem úlcera de graus III e IV. O fator desencadeante da UD é, em última instância, a compressão por mais de duas horas de uma área tecidual restrita, que, por sua vez, produz pressão e colabamento (isquemia) dos vasos sanguíneos. Uma úlcera surge em poucas horas, mas necessita de meses para cicatrizar, sendo que o paciente tem 50% de chances de morrer em 4 meses. As úlceras surgem de dentro para fora, ou seja, dos tecidos adjacentes às proeminências ósseas, estendendo – se para a superfície até exteriorizarem – se na epiderme, recebendo graduação I, quando existe apenas hiperemia, a qual não empalidece ao ser comprimida, até grau IV, em caso de necrose de músculos, ligamentos, tendões e pele. A isquemia produz anoxia, morte celular e reação inflamatória em cadeia, resultando em necrose tecidual. Desnutrição, desidratação, má higiene, anemia, obesidade, sedação excessiva, doença cardiorrespiratória, hipoalbuminemia, predisposição individual, doenças crônicas, colchão inadequado, perda de sensibilidade dolorosa, falta de mobilidade e diminuída captação de oxigênio pelos tecidos são elementos que contribuem para sua formação. A melhor prevenção é a correção de todos os fatores citados, além de proteção para as proeminências ósseas, posicionamento no leito, mobilização de 2 em 2 horas (mesmo à noite) e assentar o paciente o maior tempo possível. Em termos de colchão, o mais adequado é o “pneumático”, com insuflação intermitente, sendo o colchão tipo “caixa de ovo “ pouco eficaz. 25/09/2020 10 ÚLCERA DE DECÚBITO 3 Decúbito Dorsal 1. Occipital 2. Escápula 3. Sacro 4. Calcâneo Decúbito Lateral 1. Orelha 2. Ombro 3. Cotovelo (Epicôndilo) 4. Trocânter 5. Côndilo Femoral 6. Maléolo Decúbito Ventral 1. Nariz/Face 2. Acrômio 3. Úmero 4. Crista Ilíaca 5. Patela 6. Dedos ÚLCERA DE DECÚBITO 25/09/2020 11 ÚLCERA DE DECÚBITO PREVENÇÃO: Posicionamento e Trocas de Decúbito 25/09/2020 12 SISTEMA TEGUMENTAR COMPLICAÇÕES TEGUMENTARES Equimoses São frequentes nesses pacientes e representam a grande fragilidade capilar associada à falta de tecido de sustentação para os vasos sanguíneos. O uso de anticoagulante e traumas contribuem para o seu aparecimento. Deve – se manipular esses pacientes com cautela, usando –se bandagens para proteção dos membros. SISTEMA ESQUELÉTICO COMPLICAÇÕES ARTICULARES Na imobilidade, uma série de alterações mecânicas e físico – químicas ocorre nas articulações, levando à contratura. Com a falta de mobilidade, o líquido sinovial e seus nutrientes deixam de fluir na cartilagem intra-articular por ausência do efeito bomba, responsável por sua difusão. Surge com o passar do tempo as contraturas, que podem ser definidas como: “limitação da amplitude do movimento articular a ponto de impedir um desempenho normal de sua função”. Uma articulação contraturada é caracterizada por ter menor fluidez e nutrientes no líquido sinovial com proliferação do tecido conectivo fibroso e gorduroso (fibroblastos, adipócitos e matriz extracelular). O tecido conectivo frouxo torna – se denso e fibrosos, com elasticidade diminuída. A sinóvia torna –se fibrosa, retrátil espessada e hiperemiada. A cartilagem sofre degeneração. Com apenas 2 semanas de imobilização surgem reabsorção óssea e cartilaginosa com cistos ósseos subcondrais (artrofibrose), principalmente pela falta de sobrecarga articular. O tecido conectivo periarticular hipertrofia –se, produzindo uma fibrose que, associada às modificações musculares, leva à contratura e anquilose. Flexão de joelhos, quadril e cotovelos é característica comum a todos os pacientes com SI. Contraturas devem ser prevenidas com movimento ativo e passivo da articulação (cinesioterapia) e posicionamento no leito com coxins, almofadas, pranchas ou órteses para alongamento. 25/09/2020 13 SISTEMA ESQUELÉTICO COMPLICAÇÕES ÓSSEAS A imobilidade produz intensa e rápida perda de massa óssea (em torno de 0,9% da massa óssea total/semana, com pico máximo entre o 4° e 6º mês, quando se estabiliza). A perda óssea pode ser medida pelo aumento da calciúria e hidroxiprotina urinária, a qual é um marcador de reabsorção óssea (atividade osteoclástica). O percentual de perda de massa óssea é da faixa de 1% do seu total por semana, bem menor que o percentual de perda muscular. Osteoporose A perda de massa óssea relaciona –se com o aumento de reabsorção do osso trabecular e diminuição em sua formação, sugerindo –se que 30% da perda óssea sejam resultantes de absorção aumentada e 70% resultantes da formação diminuída. Essa perda é proporcionada pela falta de atividade muscular e pela falta de sustentação de peso corporal do paciente acamado, pouca ingestão de cálcio e falta de exposição solar. A hipercalciúria pode ser diminuída se o paciente ficar em ortostatismo pelo menos três horas/dia. O ortostatismo desencadeia o estresse ósseo, elemento essencial para o turnover desse tecido. Coloca –se o paciente numa mesa de ortostatismo (prancha que inclina até a posição vertical com o paciente contido) ou se possível, em barras paralelas. Mesmo que o paciente volte a ter alguma atividade física em ortostatismo, pode demorar mais de dez semanas para recuperar parte da massa óssea perdida. A perda de nitrogênio, que representa desgaste muscular, segue paralela à hipercalciúria do repouso prolongado. SISTEMA ESQUELÉTICO COMPLICAÇÕES ÓSSEAS Além da osteoporose, osteomalácia pode ser também encontrada, já que esse paciente, sendo raramente exposto ao sol, tem síntese diminuída de vitamina D. Na osteoporose o osso fica fraco devido a porosidade causado pela perda de cálcio , na osteomalácia o osso fica mole devido a mineralização deficiente. 25/09/2020 14 SISTEMA MUSCULAR Idosos sadios, após a sétima década de vida, apresentam importante processo degenerativo na musculatura, mesmo quando mantêm atividade física. A restrição de pacientes idosos saudáveis ao seu leito leva à atrofia muscular importante já nos primeiros 10 dias. Na imobilidade, a degeneração da musculatura é mais intensa e acelerada, pois alteram – se a estrutura e a função do sistema neuromuscular, a transmissão do potencial de ação, as fibras musculares e os elementos do tecido conjuntivo. Atrofia muscular, perda de força, encurtamento de fibras e perda de sarcômeros. Resultado O número de unidades motoras excitáveis (neurônio motor único somado ao conjunto de fibras musculares por ele inervado) no músculo estriado diminui acentuadamente, o que acarreta grande perda de fibras de contração rápida (tipo II) e, após 3 semanas, já predomina, fibras lentas (tipo I). Na imobilidade observa – se perda mais acentuada de massa muscular na coxa do que nos membros superiores (MMSS). Com 6 semanas de imobilidade, a força muscular dos membros inferiores (MMII) declina 20% e a dos MMSS 10%, havendo estudos mostrando perda diária de 1 a 1,5 % da força total, ou seja, quase 10% por semana. O declínio acentuado da força muscular resulta em perda de torque (força utilizada para sair da imobilidade) e prejuízo da coordenação motora. 25/09/2020 15 As fibras de colágeno, que estão presentes na composição do músculo, em formato de rede e com função de apoio estrutural, cruzam – se, fundem – se (cross-linkage) e encurtam – se, perdendo sua propriedade elástica, o que, por sua vez, encurta o músculo e o tendão, resultando em contratura das articulações.Os músculos encurtados sofrem atrofia duas vezes mais rápido e mais intensamente que os músculos estendidos. Com a imobilidade há ao aumento da produção de citocinas pró – inflamatórias e espécies reativas de oxigênio, levando a maior quebra de fibras musculares por proteólise. As modificações musculares da síndrome da imobilidade são responsáveis pelas deformidades articulares. Sabe-se que a estase é o principal elemento desencadeador de trombose venosa profunda (TVP), já que ela facilita os fatores ativadores da coagulação. SISTEMA CARDIOVASCULAR TROMBOSE VENOSA PROFUNDA À medida que a idade avança, dois outros elementos facilitam a TVP, como o estado de hipercoagulabilidade e as lesões das paredes venosas, formando, assim, a tríade de Virchow. 25/09/2020 16 SISTEMA CARDIOVASCULAR Trombose Venosa Profunda Na SI, a posição supina, a contratura dos MMII (quadril e joelho) e a ausência do efeito de bomba da musculatura da panturrilha predispõem à estase venosa profunda. Outras comorbidades, como o acidente vascular encefálico (AVE), neoplasias, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), infarto agudo do miocárdio (IAM), fraturas e infecções, são coadjuvantes nessa complicação. A somatória de todos esses fatores faz com que a TVP tenha uma incidência de 15% em idosos internados. Deve-se examinar e observar frequentemente os membros inferiores desses pacientes, onde se procura aumento súbito do diâmetro dos MMII, palidez, hipotermia local, empastamento à palpação da panturrilha, edema duro, alteração da coloração da pele (manchas acastanhadas), alteração do trofismo da pele, etc. Na forma cianótica, a trombose venosa iliofemoral é reconhecida pela cianose dos MMII em sua totalidade, dor à palpação da região inguinal e febre baixa. Prevenção e profilaxia devem ser feitas com movimentação frequente dos MMII, uso de meias de compressão, além do uso de heparina de baixo peso molecular. TROMBOSE VENOSA PROFUNDA SISTEMA CARDIOVASCULAR EMBOLIA PULMONAR A consequência mais temida de TVP é a embolia pulmonar, sendo ela responsável por 20% de todas as causas de morte do paciente acamado. A fonte de origem dos êmbolos seriam as veias ilíacas, femorais e da panturrilha. 25/09/2020 17 SISTEMA CARDIOVASCULAR EMBOLIA PULMONAR Embolia pulmonar A manifestação clínica é variável, podendo ser assintomática e inespecífica ou apresentar-se com dispneia e taquipneia, tosse, além de taquicardia, cianose, broncospasmo, hipotensão, sudorese, febre, choque, escarro hematoptoico etc. A dor pleurítica é de difícil avaliação nesses pacientes. Deve-se ter alto índice de suspeita nesses casos, realizando-se propedêutica com radiografia de tórax, eletrocardiograma (ECG), gasometria, D-dímero* e, quando possível, cintigrafia de ventilação e perfusão e angiotomografia. A prevenção é a mesma da TVP e o tratamento é feito com infusão de heparina seguida de anticoagulantes orais. *O Dímero D é um produto de degradação da fibrina e sua dosagem tem sido utilizada na avaliação laboratorial de diversas situações que cursam com distúrbios da hemostasia como na trombose venosa, tromboembolismo pulmonar, sepse, além de várias outras. SISTEMA CARDIOVASCULAR ISQUEMIA ARTERIAL AGUDA DOS MEMBROS INFERIORES A isquemia arterial na imobilização é causada por obstrução ateromatosa da artéria, a qual pode estar comprometida pela idade avançada, diabetes melito, dislipidemia, hipertensão arterial, tabagismo etc. Frequentemente também a isquemia pode ser por embolia proveniente de fibrilação atrial, IAM, aneurismas de aorta etc. Na SI ocorre, com frequência, contratura do quadril (a face anterior da coxa encosta no abdome e no tronco) e do joelho (a panturrilha apoia-se na face posterior da coxa), o que causa estrangulamento do lúmen arterial nesses locais e formação de trombo, levando finalmente à isquemia do membro. Outros fatores precipitantes seriam neoplasias, arterites, infecção etc. 25/09/2020 18 SISTEMA CARDIOVASCULAR Isquemia Arterial aguda dos Membros Inferiores O quadro clínico é súbito, surgindo em poucas horas, e caracterizado por palidez do membro e posterior cianose, dor intensa, hipotermia, ausência de pulso e, finalmente, gangrena. Pela gravidade do déficit cognitivo desses pacientes, um sintoma inicial como a dor pode não ser manifestado, fazendo com que o quadro seja diagnosticado tardiamente, perdendo, assim, a chance de restabelecer a revascularização. Às vezes, mesmo diagnosticando precocemente a isquemia, o acesso do paciente a serviços especializados é precário, levando a complicações. Casos de mumificação e gangrena não são raros, sendo indicada a amputação como método de tratamento. O problema é que o alto risco cirúrgico para esses pacientes, que são frequentemente terminais, leva sempre à dúvida entre intervir agressivamente ou deixar evoluir, dando-se apenas suporte clínico. Cuidadores, Fisioterapeutas e enfermeiros devem ser alertados para não permitir que o paciente fique no leito com o quadril e joelho fletido em ângulo menor do que 20°, pois isso impede quase que completamente a circulação arterial. Deve-se tentar posicionar essas articulações em ângulo mais aberto. SISTEMA CARDIOVASCULAR HIPOTENSÃO POSTURAL Considera-se hipotensão postural quando existe uma queda da pressão arterial sistólica (PAS) > 20 mmHg e pressão arterial diastólica (PAD) > 10 mmHg em posição ortostática, podendo ocorrer em períodos curtos de imobilidade, como 72 h. Observa-se a hipotensão postural (HP) em 20 a 30% dos idosos, sendo que essa frequência é mais elevada em pacientes fragilizados. A etiologia da HP é complexa e múltipla, sendo resultante de modificações cardiovasculares associadas a outras condições patológicas, como a própria redução do volume sanguíneo. 25/09/2020 19 Normalmente, o estresse gravitacional ao se levantar repentinamente faz com que o sangue (0,5 mL a 1 L) se acumule nas veias das pernas e do tórax. A diminuição transitória subsequente do retorno venoso reduz o débito cardíaco e, assim, a PA. Em resposta, os barorreceptores no arco aórtico e no seio carótico ativam os reflexos autônomos para retornar a PA rapidamente ao normal. O sistema nervoso simpático aumenta a frequência cardíaca e a contratilidade, além de aumentar o tônus vasomotor dos vasos de capacitância. A inibição parassimpática (vagal) simultânea também aumenta a frequência cardíaca. Com a manutenção da posição ortostática, a ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona e a secreção de vasopressina (ADH) causam retenção de sódio e água, aumentando o volume sanguíneo circulante. Os barorreceptores são sensores de pressão SISTEMA CARDIOVASCULAR HIPOTENSÃO POSTURAL Isquemia Arterial aguda dos Membros Inferiores Na SI, a posição supina prolongada faz com que os barorreceptores percam sensibilidade, além das modificações naturais do envelhecimento (rigidez das paredes arteriais, baixa resposta dos receptores adrenérgicos). Assim, respostas como aumento da frequência cardíaca, vasoconstrição arterial e constrição dos vasos de capacitância para elevar o débito cardíaco não ocorrem, causando má perfusão cerebral e síncope. Outros elementos associados a isso, tais como desidratação, ICC, diabetes melito, doença de Parkinson, antipsicóticos e anti- hipertensivos, também facilitam a HP. 25/09/2020 20 SISTEMA URINÁRIO INCONTINÊNCIA URINÁRIA Na SI, podemos observar que praticamente todos os pacientes são incontinentes, já que são portadores de quadro demencial avançado, têm dificuldade de comunicação, não deambulam, são portadores de infecção urinária crônica, usam diversos fármacos e são fragilizados. Esses pacientes, antes de desenvolverem a SI, passaram um longo período confinados em cadeiras ou mesmo no leito, adquirindo, então, a IU. A IU é uma complicação grave, pois facilita o aparecimento de lesões dermatológicas (dermatiteamoniacal, úlceras, micoses, infecções da pele etc.), além de dificultar as condições higiênicas do paciente e do seu ambiente. SISTEMA URINÁRIO INCONTINÊNCIA URINÁRIA Na SI, o paciente responde pouco às medidas terapêuticas para a IU, restando, então, o uso de coletor urinário para homens e fralda geriátrica para mulheres. Para essas mulheres, a sonda estaria indicada quando houvesse úlcera de decúbito e se pretendesse sua cicatrização, já que a urina em contato com úlceras dificulta sua resolução. Além da IU, retenção urinária (bexigoma) é observada com frequência na SI, sendo causada por hipertrofia prostática, fecaloma, uso de diuréticos e fármacos com ação anticolinérgica. A apresentação clínica de um bexigoma pode ser um quadro súbito de delirium, já que dor suprapúbica pode não ser expressa pelo paciente. Associado a isso, eliminação ou extravasamento involuntário de urina faz com que esse diagnóstico passe despercebido. 25/09/2020 21 SISTEMA URINÁRIO INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO A infecção do trato urinário (ITU) tem prevalência de 20% entre os idosos, e no paciente imobilizado, incidência de 40%, sendo essa infecção mais comum nos idosos institucionalizados. Tanto a ITU alta com comprometimento renal quanto a baixa podem ter graves consequências. Os fatores predisponentes à ITU na SI são: Incontinência urinária Uso de fraldas geriátricas Obstrução uretral Pouca ingestão de líquidos Internação hospitalar Diminuição da IgA na parede vesical Hipoestrogenismo Diminuída capacidade renal para acidificar urina e manter a osmolaridade. O uso de sonda vesical de demora tem prevalência de cerca de 8% nos idosos imobilizados, sendo um importante fator para ITU. SISTEMA URINÁRIO INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO O quadro clínico é diferente do apresentado por pacientes mais jovens, podendo manifestar-se com: Sonolência Excessiva Prostração Fraqueza Desidratação Falha na Memória Alucinações e Confusão Mental Redução dos níveis de consciência Mudança comportamental Agitação e agressividade Hipoglicemia Septicemia Hipotermia Já os idosos podem apresentar hipotermia, que é caracterizada pela redução da temperatura corporal para menos de 35ºC. A hipotermia é considerado como o ponto chave para identificar rapidamente uma infecção em idosos, uma vez que geralmente o paciente adulto com doenças infecciosas apresenta quadros febris. 25/09/2020 22 SISTEMA DIGESTÓRIO DESNUTRIÇÃO Um dos critérios usados para identificar a SI é a desnutrição, o que demonstra sua alta incidência nesses pacientes. Um dos critérios usados para identificar a SI é a desnutrição, o que demonstra sua alta incidência nesses pacientes. Enquanto 14% dos idosos normais maiores de 80 anos são desnutridos na comunidade, naqueles com SI essa condição está presente em 90% deles. https://portalintegracao.com.br SISTEMA DIGESTÓRIO DESNUTRIÇÃO Juntando-se a isso, temos pouca oferta e aceitação de líquidos (o idoso tem menor sensação de sede), causando desidratação crônica. A desnutrição proteico-calórica associada à deficiência de oligoelementos, minerais (Ca, Fe, Zn) e vitaminas leva a um estado de caquexia, resultando em alto índice de morbidade e mortalidade. Na imobilidade, há aumento na eliminação urinária e fecal de Ca, P, Zn, N etc. 25/09/2020 23 SISTEMA DIGESTÓRIO DESNUTRIÇÃO As causas da desnutrição e caquexia são várias: Estados demenciais avançados, Depressão Sequela de AVE Disfagia e uso de sonda Anorexia Perda de olfato, visão e paladar Problemas odontológicos Gastroparesia Diarreia Fecaloma Má absorção intestinal Aumento do catabolismo (úlceras de pressão) Pneumopatias e cardiopatias Síndromes dolorosas Falta de pessoal para preparar e oferecer dieta adequada Doenças neuromusculares Infecção SISTEMA DIGESTÓRIO DESNUTRIÇÃO Ao exame clínico, observamos no desnutrido: Escasso tecido gorduroso subcutâneo Pequena massa muscular Baixo peso corporal Desidratação Infiltrado subcutâneo devido a hipoalbuminemia Úlceras de decúbito de difícil cicatrização Outras características seriam anemia, osteoporose, fraqueza generalizada e infecções graves O que se percebe na SI é que os cuidadores não se dão conta do quão pouco esses indivíduos se alimentam e, quando procuram orientação, já se instalou a caquexia. Existe resistência por parte dos cuidadores, talvez por motivo sentimental e/ou técnico, ao uso de sonda para alimentação. 25/09/2020 24 SISTEMA DIGESTÓRIO CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Constipação intestinal é a eliminação de fezes endurecidas, em uma frequência menor do que três vezes na semana e com volume abaixo do habitual. Frequentemente encontrada na SI, acarreta grande sofrimento ao idoso acamado devido às formações de fezes endurecidas e impactadas no sigmoide e no reto, evoluindo para o que chamamos de “fecaloma”. As causas de constipação intestinal são várias: • Disfunção anorretal • Menor sensação de plenitude retal ou desejo de evacuar • Trânsito intestinal mais lento (nos idosos sadios, esse tempo é o mesmo que nos adultos) • Uso de fármacos anticolinérgicos • Menos ingestão de líquidos e fibras • Manutenção de paciente no leito no momento de evacuar • Constrangimento social • Depressão • A própria imobilidade no leito • Fraqueza da musculatura abdominal • Antiácido à base de sais de alumínio SISTEMA DIGESTÓRIO CONSTIPAÇÃO INTESTINAL O paciente apresenta-se com desconforto abdominal, anorexia, vômitos e agitação psicomotora, sendo as complicações mais graves obstrução intestinal, vólvulo do sigmoide e compressão do colo da bexiga, acarretando retenção urinária e bexigoma. Outro sinal observado é a diarreia paradoxal ou espuriosa, que é a eliminação de muco retal misturado às fezes, dando a falsa impressão de serem diarreias. 25/09/2020 25 SISTEMA DIGESTÓRIO DISFAGIA Característica presente em quase todos os pacientes de SI, a disfagia antecede a síndrome, sendo o resultado de déficits neurológicos importantes. Aos poucos, o paciente vai perdendo sua capacidade de trabalhar o alimento dentro da cavidade oral, impulsioná-lo com a língua para a orofaringe e produzir o reflexo voluntário para deglutição. A disfagia leva frequentemente à recusa voluntária de alimentos. Com isso, o paciente ingere cada vez menos nutrientes e líquidos, atingindo, finalmente, o estado de caquexia. Uma complicação que pode ser letal é a pneumonia aspirativa, caracterizada por aspiração de alimento e secreção para o pulmão. SISTEMA RESPIRATÓRIO Na posição supina prolongada, uma série de modificações ocorre na dinâmica respiratória: A amplitude de movimento do diafragma está diminuída assim como a expansibilidade torácica Isso ocorre pela fraqueza das musculaturas intercostal e abdominal, além das modificações nas articulações costocondrais O acúmulo de gazes e fezes nas alças intestinais empurra o diafragma para cima e comprime as bases pulmonares Funções pulmonares como capacidade respiratória funcional, capacidade respiratória máxima, volume minuto e volume corrente e relação V/Q estão comprometidos em até 50% O acúmulo de secreção pulmonar se acentua já que a função ciliar, a capacidade de tossir e eliminar essa secreção podem estar ausentes PNEUMONIA 25/09/2020 26 SISTEMA RESPIRATÓRIO A pneumonia é a principal causa de morte em idosos acamados, sendo que estudos em hospitais mostram taxa de mortalidade de até 25% para maiores de 70 anos. PNEUMONIA No paciente acamado existe acúmulo de líquido nos pulmões, que serve de meio de cultura para bactérias que causarão pneumonia hipostática. O quadro clínico da pneumonia no idoso caracteriza-se pela sintomatologia atípica e polimórfica, o que pode fazer com que passe desapercebida ou mesmo levar a erros no diagnóstico: • Confusão mental • Desidratação • Hipotensão • Obnubilação • Um fato interessante nesses pacientes é que,apesar da hipoxia e hipercapnia, eles podem não ter sua frequência respiratória aumentada. • A reação febril nos idosos é controversa, pois se acredita que não respondam bem à produção de fatores pirogênicos, tais como endotoxinas e interleucina. são sinais inespecíficos, mas que chamam atenção SISTEMA RESPIRATÓRIO PNEUMONIA Dor torácica, característica comum em pneumonia dos adultos, é de difícil avaliação no idoso com SI. Tosse e expectoração podem também estar ausentes na pneumonia, devido a perda de reflexo e força na caixa torácica. Estertores e crepitação basal são aspectos comuns a quase todos os idosos acamados e, na maioria das vezes, não se correlacionam com pneumonia, sendo muito mais um sinal de estase pulmonar. A intervenção do fisioterapeuta respiratório é de grande importância neste tratamento. 25/09/2020 27 FISIOTERAPIA NA SÍNDROME DA IMOBILIDADE INTRODUÇÃO A fisioterapia tem atuação indispensável no tratamento dos pacientes com a SI, minimizando e/ou prevenindo os efeitos deletérios causados pelo prolongado tempo em decúbito. Quanto mais precoce a fisioterapia em pacientes imobilizados, menores serão os efeitos danosos no corpo deles. 25/09/2020 28 A fisioterapia pode acrescentar a qualidade de vida destes pacientes por meio de: Estímulos na movimentação no leito e independência nas atividades; Estímulos na deambulação (caminhada); Prevenção decomplicações pulmonares; Auxilio na resolução de doenças pulmonares já instaladas (promove padrão respiratório mais eficaz); Evita complicações circulatórias; Reduz a dor; Mantém a força muscular e a amplitude de movimentos com exercícios (isométricos, metabólicos, ativo-resistidos e passivos); Evita encurtamentos musculares, atrofias e contraturas; Melhora da mobilidade e flexibilidade, coordenação e habilidade; Promove relaxamento; Previne e trata o edema (inchaço) que pode ocorrer como conseqüência da doença ou da imobilização no leito; Promove a reeducação postural; Promove a conscientização corporal; Previne escaras (desde a fase aguda hospitalar, realizando mudanças de decúbito de 2/2hs) ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA SI Um programa de mobilizações articulares, implementado com regularidade, pode contribuir para a melhoria das amplitudes articulares em pessoas com síndrome do desuso(imobilidade). ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA SI É possível promover amplitude por menor que seja, corrigir a ineficiência dos músculos e articulações, além de reduzir a perda da capacidade funcional. O posicionamento adequado no leito associado a um programa de cinesioterapia dirigida é fundamental para a prevenção de contraturas osteomusculares e articulares. 25/09/2020 29 ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA SI Quando combinada com o programa de exercícios físicos, melhora significativamente a força muscular comparada com o uso do programa de exercícios isoladamente. O tratamento com eletroestimulação neuromuscular de baixa frequência é indicada para fortalecimento muscular, manutenção da ADM e controle de espasticidade muscular podendo ser indicada para paciente com a síndrome da imobilidade a fim de evitar complicações oriundas da imobilização no leito.
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