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FACULDADE DE TALENTOS HUMANOS-FACTHUS 
Gabriella Gomes Brinck
Laura Dias Miranda 
Naylana Marques Messias da Silva 
Raissa Carolina da Cruz Silva 
A REDESIGNAÇÃO SEXUAL E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE
The Sexual Reassignment And Personality Rights
Uberaba 
2020
Gabriella Gomes Brinck
Laura Dias Miranda 
Naylana Marques Messias da Silva 
Raissa Carolina da Cruz Silva 
A REDESIGNAÇÃO SEXUAL E OS DIREITOS DA PERSONALIDADE
The Sexual Reassignment And Personality Rights
Trabalho acadêmico apresentado ao curso de Direito, da Faculdade de Talentos Humanos(FACTHUS). 2º período.
Orientador: Rafael Oliveira Cecílio.
Uberaba
2020
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................02
2 METODOLOGIA....................................................................................................03
3 DESENVOLVIMENTO..........................................................................................04
 3.1 FENÔMENO DA TRANSEXUALIDADE EM SI...........................................04
 3.2 MUDANÇA NO CORPO: CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL...05
 3.3 TRANSEXUALIDADE: DIREITO AO NOME E À PERSONALIDADE..08
 3.4 TRANSEXUALIDADE: DIREITO AO NOME E À PERSONALIDADE..10
 3.5 TRANSEXUALIDADE: DIREITO AO NOME E À PERSONALIDADE..12
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
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RESUMO
O conceito de transexualidade está relacionado à redesignação sexual desejada por indivíduos que não se identificam com o seu sexo biológico, ou seja, existe um descompasso entre o sexo biológico do indivíduo e seu sexo psicossocial. Nesse sentido, faz-se necessária a cirurgia de redesignação de sexo para solucionar esse conflito interno. Após a realização desse procedimento, é de suma importância que ocorra a alteração do nome e do sexo nos registros civis a fim de evitar situações constrangedoras e resguardar os Direitos da Personalidade e o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. No Brasil, não existe legislação específica a respeito da transexualidade, assim, a regulamentação da cirurgia de transgenitalização é responsabilidade do Conselho Federal de Medicina. Assim, busca-se demonstrar de maneira cristalina, a necessidade de legislação específica, ressaltando a importância de dar apoio para esses indivíduos transexuais que, inúmeras vezes vítimas de preconceitos e violências, sejam respeitadas e possam viver dignamente.
Palavras chave: Transexualidade. Redesignação Sexual. Nome. Sexo. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
ABSTRACT 
The concept of transsexuality is related to the sexual reassignment desired by individuals who do not identify with their biological sex, that is, there is a mismatch between the biological sex of the individual and their psychosocial sex.. In this sense, sex reassignment surgery is necessary to resolve this internal conflict. After this procedure is performed, it is of paramount importance that the name and sex change occur in the civil records in order to avoid embarrassing situations and protect the Rights of the Personality and the Principle of Dignity of the Human Person. In Brazil, there is no specific legislation regarding transexuality, so the regulation of transgenitalization surgery is the responsibility of the Federal Council of Medicine. Thus, we try to demonstrate in a crystalline way the need for specific legislation, emphasizing the importance of giving support to these transgender individuals who, many times victims of prejudice and violence, are respected and can live with dignity.
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Keywords: Transsexuality. Sexual Reassignment. Name. Sex. Principle of the Dignity of the Human Person.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por escopo abordar as questões relacionadas ao indivíduo transexual e seus direitos fundamentais ditados pelo princípio da dignidade da pessoa humana, principalmente no que diz respeito aos Registros Públicos, independentemente de ter sido realizada ou não a cirurgia de mudança de sexo. Estas serão analisadas com ênfase no Direito Civil em consonância com as Garantias Constitucionais. A construção de um conceito de sexo e identidade sexual, considerando o reconhecimento psíquico-sexual da pessoa transexual por si e pela sociedade, é o ponto crucial para a possibilidade jurídico-legal de alteração do gênero sexual na forma pretendida.
Na sociedade contemporânea há uma inclinação ao desagrado e uma desconfiança quanto ao que é diferente ou incomum. Entretanto, os transexuais têm lutado arduamente por reconhecimento e amparo jurídico e social. O ordenamento jurídico vigente é um tanto quanto defasado no que diz respeito aos direitos dessas pessoas. A exposição da tutela do princípio da dignidade humana, dos direitos fundamentais e a visão constitucional do direito civil é necessária para a apresentação dos institutos jurídicos aptos a ensejar uma análise crítica do tema proposto sem o ranço de um direito estagnado e não voltado para a tutela da pessoa humana.
É considerada transexual a pessoa portadora de uma disfunção de identidade de gênero. Neste sentido, esta pessoa pertence morfologicamente a um determinado sexo, mas psicologicamente pertence ao sexo contrário. Sexo é biológico, gênero é social. A grande diferença que percebemos entre homens e mulheres é construída socialmente, desde o nascimento, quando meninos e meninas são ensinados a agir de determinadas formas. Como as influências sociais não são totalmente visíveis, as diferenças entre homens e mulheres são naturais, totalmente biológicas, quando parte delas é influenciada pelo convívio social. A transexualidade é marcada por uma rejeição do próprio fenótipo e uma ânsia de adequação transformando o corpo até que fique parecido ou idêntico ao do gênero cujo indivíduo se identifica. 
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No decorrer deste trabalho, ressalta-se as diversas batalhas enfrentadas pelo indivíduo transexual, desde a sua aceitação pela sociedade, passando pela submissão à cirurgia de readequação sexual, até a retificação do seu registro público, com a modificação do nome e sexo em seus documentos, pretendendo analisar a extensão e repercussão desses direitos na vida dos indivíduos transgêneros sob a ótica da dignidade da pessoa humana e do direito ao nome. Outrossim, vale ressaltar o que esses indivíduos passam até sua aceitação na sociedade, principalmente dentro de casa, pela sua própria família. Causas como o suicídio, criminalização da transfobia, rotina de exclusão e violência e assassinatos, são frutos de um preconceito sem fundamento ou com base em que ser diferente é errado. “Afinal como é ser trans?”.
Desta maneira, faz-se imprescindível a criação de mecanismos legislativos e psicológicos que amparem o indivíduo transexual em todas as fases de sua vida. Serão explanados os desafios encontrados na busca pela inexigibilidade de redesignação sexual e de autorização judicial para alteração do prenome e gênero no Registro Civil pelas pessoas trans, tanto no Direito Comparado como no sistema brasileiro. De outra forma, se a partir do pressuposto de que há múltiplas possibilidades de experiências e práticas de gênero, então se teria mais facilidade em compreender que pessoas que demandam a retificação de seus registros para um gênero com o qual se identificam são pessoas totalmente capazes de dizer sobre aspectos personalíssimos de sua experiência subjetiva e identitária de gênero. 
A partir dessa compreensão e reconhecimento, não haveria justificativa para abordar suas demandas a partir do marco patologizante, o qual acaba por se configurar como vetor de patologização e estigma e, consequentemente, de limitação à autonomia e direitos às pessoas trans. Cabe refletir, portanto, se compreender o sexo a partir de uma perspectiva essencialista - e, como consequência, o fenômeno transidentitário a partir da perspectiva patológica -, não seria um dos principais responsáveis pela persistência de padrões discriminatórios em relação às pessoas transgênero e obstáculo para a superação da transfobia institucionalizada noseio das instituições públicas e privadas.
2. METODOLOGIA
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3. DESENVOLVIMENTO
3.1 FENÔMENO DA TRANSEXUALIDADE EM SI
No princípio da Dignidade da Pessoa Humana, a discussão acerca do estigma do preconceito e da exclusão que permeiam a vida do transexual, se mostra evidente a necessidade do reconhecimento jurídico de sua identidade de gênero. É neste sentido que a presente argumentação prossegue, à medida em que se analisará a necessidade de tutela e concretização da faculdade à Identidade de Gênero enquanto expressão de direito fundamental. Ao longo das últimas décadas, os países ocidentais tiveram uma alteração significativa no que diz respeito a vida sexual das pessoas. Nas sociedades tradicionais, a sexualidade estava ligada estreitamente ao processo de reprodução e atualmente se tonaram ideias distintas. A sexualidade tornou-se uma dimensão de vida que cada indivíduo pode explorar e desenvolver. Se a sexualidade foi definida outrora em função da heterossexualidade e da monogamia no contexto das relações matrimoniais, há agora uma aceitação cada vez maior de diversas orientações e comportamentos sexuais numa ampla variedade de contextos. A inclusão do direito à Identidade de Gênero no âmbito dos Direitos Fundamentais é um tema novo, ainda pouco explorado pelos autores constitucionalistas, mas suscitado e reclamado pela agenda LGBTQI+ em todo o mundo. Ante a escassez de um conceito jurídico, ainda se faz necessário um esforço multidisciplinar para defini-lo, diferenciando-o dos discursos do sexo e do gênero. De acordo com uma visão tradicionalista, sexo, gênero, sexualidade e identidade de gênero têm sido estabelecidos como uma relação em que um conceito é sequência lógica do outro. O sexo bio-anatômico seria determinante do comportamento de gênero e da experiência específica da sexualidade. Haveria uma suposta continuidade entre esses elementos, o que serviria para normatizar a vida dos indivíduos e da sociedade. Em diversos contextos e entre diferentes abordagens que tratam sobre o tema da transexualidade, é encontrado um aspecto que parece ser consensual: o desacordo entre o sexo biológico e o sexo psicológico na transexualidade. Entre os profissionais da saúde, as formas pelas quais a transexualidade é entendida variam a depender do referencial teórico-profissional e vivencial. Para a medicina, o sexo biológico é a referência para a determinação da identidade sexual dos sujeitos. 
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Qualquer desvio em relação a essa norma médica é compreendido como um transtorno, que pode ser tratado cirurgicamente adaptando o corpo ao que o sujeito entende ser. Já no âmbito das ciências sociais, a transexualidade vem sendo discutida a partir de suas relações com as normas e os valores do universo sociocultural, numa perspectiva crítica em relação à biomedicina. De acordo com o Manual MSD, a disforia de gênero envolve um sentimento forte e persistente de que o sexo anatômico da pessoa não corresponde ao sentimento interno da pessoa de ser do sexo masculino, feminino, misto, neutro ou algo diferente (identidade de gênero). Essa sensação de incompatibilidade faz com que a pessoa sinta angústia significativa ou compromete em muito a capacidade de funcionamento da pessoa. A transexualidade é a forma mais extrema da disforia de gênero. As pessoas com disforia de gênero acreditam que são vítimas de um acidente biológico e que estão cruelmente aprisionadas em um corpo que é incompatível com o seu sentimento interno como masculino, feminino ou algo diferente (identidade de gênero). Por exemplo, algumas pessoas que são rotuladas como homens no nascimento sentem-se como mulheres presas a um corpo de homem e vice-versa. Esse sentimento de incompatibilidade (a denominada incongruência de gênero ou não-conformidade de gênero) não é considerado um transtorno a menos que cause angústia significativa ou interfira com a capacidade de funcionamento da pessoa. A angústia normalmente é uma combinação de ansiedade, depressão e irritabilidade. Algumas pessoas sentem que não são do sexo masculino nem feminino, que são algo entre os dois, que são uma combinação dos dois ou que sua identidade muda. A não binaridade é um termo geral que se refere a algumas dessas variações de identidade de gênero. Outros termos que podem ser usados são não binário e agênero. Não se sabe quantas pessoas têm disforia de gênero, mas estima-se que ela ocorra em cinco a 14 em cada mil bebês cujo sexo de nascimento é masculino e em dois a três em cada mil bebês cujo sexo de nascimento é feminino. Um número muito maior de pessoas se identifica como transgênero que as que de fato atendem aos critérios para disforia de gênero.
3.2 MUDANÇA NO CORPO: CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL
Transexualidade não é mais considerada transtorno mental, conforme consta da 10ª Classificação Internacional de Doenças (CID). Após 28 anos, transexuais passam a ser 
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reconhecidos como pessoas que podem necessitar de cuidados médicos, especialmente durante um processo de transição de gênero (que envolve cirurgias e terapia hormonal) e não mais como pessoas que precisam de tratamento psiquiátrico. Conforme o Ministério da Saúde "desde 2008 oferece o processo transexualizador pelo SUS". Existem 15 serviços habilitados pela pasta, "sendo cinco hospitalares (com cirurgia) e 12 ambulatoriais" em todo o País. Para ambos os gêneros, a idade mínima para procedimentos ambulatoriais é de 18 anos. Para procedimentos cirúrgicos, a idade mínima é de 21 anos. A cirurgia de mudança de sexo reflete em alguns aspectos no campo do direito civil e penal. Permite-se mencionar, em primeiro plano, o princípio da dignidade da pessoa humana que constitui fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, inc. III, CF), e também assegura a todos a inviolabilidade da vida privada, da intimidade e da honra (art. 5º, inc. X, CF). Segundo o artigo 13 do Código Civil de 2002, salvo por exigência médica, o indivíduo não pode dispor do próprio corpo, quando isto importar em diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. E ainda, conforme o artigo 15, ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Para a realização de cirurgia de redesignação sexual é necessário o consentimento livre e esclarecido (CFM art. 6º, 1.955/10). Além disso, a cirurgia de transgenitalização só é recomendada após o diagnóstico, configurando o indivíduo como transexual e, ainda assim, exige-se antes do diagnostico um acompanhamento médico por especialistas de diversas áreas durante o período de dois anos. (CFM art. 4º, 1.955/10). A transição de gênero é um processo complexo e que envolve a saúde, por isso, é essencial o acompanhamento com equipe multiprofissional, com assistência integral. O cuidado com a população trans é estruturado por dois componentes: a Atenção Básica e a Atenção Especializada. A Básica refere-se à rede responsável pelo primeiro contato com o sistema de saúde, pelas avaliações médicas e encaminhamentos para tratamentos e áreas médicas mais específicas e individualizadas. A Especializada é dividida em duas modalidades: a ambulatorial (acompanhamento psicoterápico e hormonioterapia) e a hospitalar (realização de cirurgias e acompanhamento pré e pós-operatório). No caso das pessoas trans que desejam realizar cirurgias, o processo é irreversível, e é necessário acompanhamento psicológico por pelo menos dois anos, para 
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que a pessoa tenha segurança para tomar suas decisões. Para ambos os gêneros, a idade mínima para procedimentos ambulatoriais é de 18 anos. Esses procedimentos incluem acompanhamento multiprofissional e hormonioterapia. Para procedimentos cirúrgicos, a idade mínima é de 21 anos. Após a cirurgia, deve ser realizado no mínimo um ano de acompanhamento pós-cirúrgico. Depois disso, o cuidado em saúde pode ser prestado pelos serviços da rede de saúde, conforme a necessidade do usuário. Para ajudar na formação dos profissionais de saúde, o Ministério disponibiliza um curso de educação à distância(AVASUS), sobresaúde integral LGBT. A terapia hormonal, tanto feminilizante como masculinizante, faz parte do processo transexualizador e induz o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários desejados, enquanto reduz os do sexo biológico. É amplamente utilizada por grande parte dos pacientes, que relatam alivio importante do sofrimento causado pela inadequação das características físicas à identidade de gênero. Infelizmente, casos de discriminação se destacam nos atendimentos da população trans, o que a afasta ainda mais dos cuidados de saúde básica. Alguns médicos especialistas alegam não saber lidar com as necessidades que surgem em cada consulta, outros desrespeitam o nome social e a orientação sexual das pessoas, e alguns até dizem nunca ter conhecido alguém trans, o que deixa evidente a falta de preparo e treinamento dos profissionais das unidades básicas. Em casos de discriminação, é possível fazer uma denúncia contra o profissional em centros de referências ou núcleos especializados de combate à homofobia no seu estado ou registrar um boletim de ocorrência policial. Nas regiões Norte e Nordeste, há uma unidade de Recife que presta serviços abertos à comunidade LGBT, como: fóruns de acolhimento, atendimento individualizado com psicoterapia, tratamento hormonal seguro e rodas de conversas que estimulam o convívio e a troca de experiências entre os que estão chegando e aqueles que aguardam a cirurgia. Esse “espaço trans” é o único a acolher e oferecer atendimento integral a homens e mulheres transexuais que estão na fila de espera para cirurgias e que precisam de acompanhamento durante todo o processo de transição. A infraestrutura e a tecnologia permitem que o hospital faça implantação de prótese mamária, retirada do útero, tireoplastia (cirurgia que modifica a cartilagem tireoide para adequar a voz ao gênero), mastectomia (retirada da mama) e transgenitalização (procedimento que utiliza o pênis para construir o canal vaginal,
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clitóris e lábios vaginais). A equipe consegue fazer uma cirurgia de transgenitalização por mês, realizada somente em mulheres trans. No Brasil, apenas Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Goiânia possuem hospitais aptos a realizar procedimentos cirúrgicos para cuidar dessa parcela da população. Além deles, outras seis sedes ambulatoriais em Uberlândia, Curitiba, João Pessoa, Belém e em São Paulo oferecem atendimentos em áreas como endocrinologia, proctologia, fonoaudiologia e saúde mental. A faloplastia, método destinado a homens trans que aumenta o tamanho do clitóris para se assemelhar a um pênis, é feita apenas em Goiânia e ainda é realizada em caráter experimental. Para simplificar essa trajetória é possível seguir alguns passos para adentrar no SUS na sua transição de gênero: 1. verifique qual a unidade de saúde mais próxima da sua casa; 2. você tem o direito de usar seu nome social(permissão para atualizar o seu cadastro com seu nome social); 3. peça para se consultar com alguém da enfermagem ou plantão médico; 4. paciência e calma(a fila pode levar de 2 meses a 2 anos apenas para ter a primeira consulta psicossocial). Para muitos, a condição não é favorável, mas quem tem condição pode entrar pela consulta particular e agilizar o processo. 
3.3 TRANSEXUALIDADE: DIREITO AO NOME E À PERSONALIDADE
Na doutrina, identificam-se três grandes correntes a respeito do tema. A primeira delas detém uma visão conservadora, dentre os principais autores estão Luiz Flávio Borges D'Urso, Aracy Klabin e Matilde Josefina Sutter, que sustentam a impossibilidade jurídica de qualquer redesignação do gênero sexual no registro civil; a segunda corrente, com uma posição intermediária, é defendida por Rosa Maria de Andrade Nery, que admite a modificação, mas deve constar especificamente o termo transexual no assento de nascimento do requerente no lugar do gênero anterior; por sua vez, a terceira corrente, numa orientação liberal, os autores Antonio Chaves, Caio Mário da Silva Pereira, Luiz Alberto David Araújo, Elimar Szaniawski, Tereza Rodrigues Vieira e Ricardo Algarve Gregório defendem a possibilidade de substituição do gênero registral atual para o sexo oposto, sem qualquer averbação ou anotação no respectivo assento. Entende-se que a última corrente detém o posicionamento mais moderno e adequado, devendo ser aceita pelos Tribunais, em especial, com base no princípio da dignidade da 
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pessoa humana que tem como principal fundamento evitar que a pessoa passe por humilhações e sofrimentos. A tutela sobre os direitos dos transexuais, nesse sentido, se coloca como exemplo de uma sociedade contemporânea. Apesar do ordenamento jurídico brasileiro já ter sido alterado visando atender as necessidades dos transexuais, ainda é possível encontrar obstáculos em sua real inclusão desse grupo social. Negar o direito de alguém ter o nome que condiz com o gênero sexual é sonegar o direito de ser feliz. Buscar meios de adequação dos transexuais na sociedade, baseado no princípio da dignidade humana (art 1º, III, da Constituição Federal), é um objetivo a ser traçado por toda população brasileira, seja com a alteração do pronome e gênero, seja com o combate aos preconceitos enraizados pela sociedade. Em pleno século XXI, ainda se questiona direitos imanentes às condições de vida como seres humanos. Os direitos relativos a personalidade se tratam de direitos atrelados à noção de liberdade, de dignidade, de individualidade e de pessoalidade, devendo todo ser humano ter sua vida em pleno desenvolvimento e igualdade de oportunidades. O transexual caracteriza-se por seu desejo de aceitação social e juridicamente quanto ao sexo oposto atribuído no momento do nascimento. A cláusula geral da dignidade humana inserida na Constituição Federal fundamenta o direito à identidade do transexual, na medida em que a concepção repersonalizante do direito reconhece expressamente a tutela jurídica dos direitos de personalidade. O grande obstáculo que os transexuais enfrentam é a alteração do registro civil para completa satisfação com relação à identidade pessoal, á efetivação do direito da personalidade de alteração de nome e gênero. Entretanto, este está sendo superado gradativamente com a mudança dos estigmas sociais e reflexo dessas alterações na lei. Em março de 2018 o STF decidiu que todo cidadão possui o direito de escolher a forma como deseja ser chamado, nesse sentido determinou que os transexuais podem alterar o nome e o sexo no registro civil sem se submeter a cirurgia e sem determinação judicial. Considerando que a cirurgia modificou o sexo, o nome carece ser automaticamente alterado sem necessidade de utilização de nome social, com essa alteração legislativa o processo desgastante de burocracias pós-operatórias para alterações registrais e extinguido. Outrossim, como o registro público possui efeito constitutivo, servindo para provar a existência e a veracidade do que está consignado, a alteração registral levada a efeito torna-se acessível ao conhecimento de todos, o que
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podem também ser objeto de discriminação. Contudo é abordado também os direitos da personalidade, que é de grande conteúdo evolucionário, e que muito também explica sobre a personalidade transgênica. Segundo a Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), o art.11 aponta como características dos direitos de personalidade a intransmissibilidade e a irrenunciabilidade, sendo que o seu exercício não pode sofrer limitação voluntária. A autonomia privada incide nos direitos da personalidade. A subjetividade do homem, a sua identidade e capacidade de se autodeterminar deve ser reconhecida, pois este é um ser dotado de consciência que apresenta vontade própria e autonomia agindo de acordo com suas necessidades e o seu peculiar conceito de dignidade. Esta deve ser garantida, respeitando-se as diferenças. O Estado é responsável por assegurar o respeito à dignidade da pessoa humana, contudo, a dignidade é um valor subjetivo que só pode ser restringido se houver riscos à liberdade ou integridade de outrem, o indivíduo não pode ser submetidouma moral oficial imposta (LOTUFO, Renan; NANNI, Giovanni Ettore, 2008). 
3.4 ABORDAGENS DA INFÂNCIA E RELAÇÕES DA ESCOLARIDADE DE UM TRANSEXUAL
É de suma importância falar sobre o preconceito que os transexuais lidam no ambiente escolar, em 1999, a goiana Rafaela Damasceno foi uma das primeiras transexuais a entrar em uma universidade pública no Brasil. A estudante, que tinha na época 23 anos, ingressou no curso de geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG) cheia de esperanças e com o objetivo de seguir na carreira acadêmica. O preconceito e a intolerância de colegas e até de professores, porém, a obrigaram a abandonar o sonho e a sair da faculdade sem diploma. Estudo realizado pela Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (ABLGBT), divulgado em dezembro de 2016, mostra que 73% dos estudantes que não se declaram heterossexuais no Brasil já foram agredidos verbalmente na escola. Já as agressões físicas ocorreram com um a cada quatro desses alunos. A sociedade continua sendo regida pela heteronormatividade, possuindo regimentos ancorados em normas e padrões heterossexuais que são concebidos de forma natural, ideal e compulsória a todos os membros, sendo incapaz de acolher devidamente outras formas de expressão sexual e 
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considerando como desvio de conduta qualquer outro tipo de manifestação da sexualidade. No entanto, as normas não se sustentam sozinhas, cabendo às diversas instituições sociais cuidar para que elas permaneçam em vigor na sociedade contemporânea (utilizam da rigidez e do conservadorismo). Dentre essas instituições, se destacam a família, a igreja, a escola e o trabalho e para manter os padrões (vida social) age de forma a alimentar a exclusão, os estigmas e os preconceitos, imprimindo incontáveis sofrimentos e dificuldades à trajetória de vida de todas as pessoas que manifestem sua sexualidade de forma diferente daquela que é tida como padrão. Desse modo, as dificuldades das mulheres e homens transexuais costumam se iniciar na família, desde a infância, com a vigilância e a punição para que se adaptem ao comportamento tido como ideal para o seu sexo anatômico. Contudo, essas dificuldades ganham uma dimensão ainda maior nos espaços da educação formal. Como consequência, gera grande sofrimento às pessoas que não correspondem à conduta e à aparência que são esperadas culturalmente para o seu sexo anatômico, fazendo com que se sintam demasiadamente pressionadas e desrespeitadas e, não raramente, impelindo-as a abandonarem os estudos. O abandono escolar se torna, assim, uma forma de evitar os sofrimentos vivenciados na escola. No entanto, a escolaridade é um fator primordial para o acesso ao mercado de trabalho no contexto atual, mesmo quando as atividades exigem pouco esforço intelectual. A declaração de várias pessoas trans traz à tona as dificuldades relacionadas às atividades que dividem as crianças de acordo com o seu gênero e que são muito frequentes no ensino básico, bem como um possível despreparo da professora em lidar com o caso, gerando angústia na mãe e culpa na filha. Outro ponto que podemos citar como grande causador de constrangimentos – e que está relacionado à falta de preparo e possíveis preconceitos dos profissionais de educação – é a resistência para a utilização do nome social. Mesmo havendo resoluções na maioria dos Estados e em diversos municípios brasileiros que asseguram o direito da pessoa ser chamada por um nome que expresse a sua identidade de gênero (nome social), muitas instituições não respeitam isso e continuam utilizando o nome que consta no registro geral de identidade (nome civil), desrespeitando o desejo do indivíduo e ignorando sua caracterização física e identificação de gênero. Cada vez mais, o direito fica garantido no papel, porém, infelizmente, a mudança na prática é muito vagarosa. Seja por 
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ignorância, por resistência ou por preconceito, muitos transexuais continuam sofrendo por serem chamadas por um nome que não reconhecem como seu. Os transexuais frequentam a escola por seis ou sete anos, enquanto são obrigados pelos pais e, assim que tiverem um pouco de autonomia, decidem abdicar dos estudos por considerarem o território escolar um local de humilhações, desprezos e desrespeitos. Muitos narram, inclusive, que algumas vezes o abandono escolar foi determinante para o rompimento da relação com os familiares. Entre as mulheres transexuais que possuem escolaridade maior, há o frequente relato da melhor aceitação da identidade de gênero, da presença afetiva e do suporte por parte dos familiares durante a infância e adolescência. Tal fato indica que a participação familiar pode ser decisiva para o melhor enfrentamento e a superação das dificuldades e discriminações encontradas no ambiente escolar, porém, infelizmente, isso parece acontecer na minoria das vezes. 
3.5 DESAFIO NO ACESSO AO TRABALHO PARA PESSOAS TRANSEXUAIS
Analisando os contextos, existe cinco principais desafios enfrentados pela população trans quando busca se inserir no mercado de trabalho formal, quais sejam: (i) preconceito e transfobia; (ii) documentos, tais como registro civil e certificado de reservista; (iii) uso de banheiro, vestiário e uniforme; (iv) linguagem corporal e verbal. Assim, é possível perceber que todo descaso da população prejudica sua formação e a falta de capacitação juntamente com a exclusão pelo preconceito sexual deixando poucas opções no mercado de trabalho. “Na verdade, o Brasil tem muita transfobia com relação a essa população, porque a sociedade ainda não enxerga a gente como mulheres. Porque a gente precisa mobilizar a sociedade para que enxergue a gente verdadeiramente como cidadãs de fato. Por isso que a gente tem essa dificuldade pra chegar[...] de fato até um trabalho formal. Geralmente os trabalhos que a gente tem é só informal, como cabeleireiras, como esteticistas, e também o trabalho na prostituição. Não que seja um trabalho menor. [...] Só que a gente precisa lutar mais ainda por isso.” (Fernanda de Moraes, Antra). Se a pessoa busca um emprego depois de ter iniciado o processo de transição, não é contratada em virtude do preconceito durante o processo seletivo e, ainda, encontra a ignorância em relação ao que significa ser transexual, rejeição e preconceito. No entanto, se a pessoa já tinha um emprego e, então, realiza sua 
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transição, pode ser demitida. Por esse motivo, inclusive, muitas travestis, mulheres transexuais e homens trans adiam sua transição, com medo de perder seus empregos (REIDEL, 2013, p. 96). uso do nome social pode significar uma barreira para o acesso ao mercado de trabalho, bem como para a permanência em um emprego, tendo em vista que o desrespeito a ele é uma das manifestações mais expressas de preconceito contra a população trans no ambiente de trabalho. Nesse sentido, a dificuldade de alteração, por meio judicial, do registro civil, bem como a exigência deste e do certificado de reservista (no caso de mulheres transexuais e travestis), dificultam a inserção dessa população no mercado de trabalho. Outra forma de negação da identidade de gênero das pessoas trans refere-se aos impedimentos de utilizarem banheiro, vestiário ou uniforme em conformidade com sua identidade de gênero. Essas pessoas, então, as consequências do duplo preconceito, primeiramente pela sua identidade de gênero 'não convencional' e, em seguida, pelo lugar ocupado (ou não ocupado) no mundo do trabalho. Com isso, fica evidente que os mais diversos contextos sociais imprimem dificuldades para a vivência de trabalho das mulheres transexuais. Por fim, outro elemento que surgiu como desafio para a inserção das travestis, mulheres transexuais e homens trans no mercado de trabalho foi seu próprio corpo, isto é, tanto em virtude de muitas serem imediatamente reconhecidas enquanto transexuais por apresentarem peculiaridades no corpo, na voz e maneirismos, quanto por eventualmente desconhecerem regras de etiqueta profissional, as pessoas trans encontram barreiras no acesso ao mercado de trabalho.O ser transexual “está estampado na cara”, é algo que, em geral, não se pode esconder. Assim, o preconceito sofrido pelas pessoas trans no mercado de trabalho seria diverso daquele sofrido por outras LGBTs, ou seja, por um lado, a orientação sexual pode ser vivida de forma íntima e até dissimulada, podendo ser omitida por meio de performances similares aos estereótipos da heterossexualidade, como quando um homossexual possui voz grave e não apresenta linguagem corporal ou gírias geralmente ligadas à comunidade LGBT. 
Os relatos evidenciam a rigidez dos processos regulatórios, que possuem sua base, principalmente, na suposta naturalidade corporal a partir da qual a sociedade espera que a identidade do indivíduo seja formada.
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Mesmo sendo compreendida, na esfera subjetiva, como a percepção que o outro e o próprio indivíduo têm de sua condição, a identidade de gênero possui sua genealogia nas rígidas práticas institucionais, nos discursos e nas normas sociais. Em outras palavras, a identidade de gênero também pode ser considerada uma construção discursiva e regulatória, que nega o “diferente” ao mesmo tempo em que depende dele para constituir a normatização, pois é a partir do que é considerado diferente que são demarcados os limites e a coerência identitária. O fenômeno da transexualidade, ao não se conformar com a norma heterossexual, interroga e desafia as compreensões de corpo, sexo, gênero e identidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Neste artigo, buscamos contribuir o entendimento sobre as etapas complicadas que os transexuais passam diante a sociedade, a lei, a família, o trabalho e outros diversos campos, com ênfase na discriminação em virtude de identidade de gênero. Delimitamos também, o contexto de vulnerabilidade social e econômica, bem como de violência, no qual as pessoas transexuais e travestis estão inseridas no Brasil. Em suma, percebe-se que a sociedade precisa rever os seus valores, entender e respeitar os direitos da personalidade de cada um. Essa falta de compreensão acarreta o preconceito e diversas adversidades como o abandono escolar, a falta de oportunidades no mercado de trabalho, a marginalização dos transexuais que muitas vezes não são aceitos pela família e se envolvem com drogas ou se submetem a prostituição como meio de sobrevivência, nesses ambientes eles se deparam com a intolerância e homofobia, que em determinados casos prejudica a integridade física dessas pessoas. Nesse sentido, entende-se que a legislação necessita ser rígida com a intenção de proteger esses indivíduos, que são de fato extremamente vulneráveis. A vivência e o respeito das identidades transgêneras precisa ocorrer de maneira integral, o respeito ao nome social e o direito a vivência igualitária conforme o gênero com que se identificam. 
5. REFERÊNCIAS
http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/52867-transexualidade-a-liberdade-de-ser-voce-mesmo
https://www.antonelaendocrino.com.br/hormonizacao-de-transgeneros/
https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/como-funciona-o-sus-para-pessoas-transexuais/
https://medium.com/@ravispreizner/como-iniciar-sua-transi%C3%A7%C3%A3o-de-g%C3%AAnero-pelo-sus-74314e3b020e
https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/6548/5078 
https://www.scielo.br/pdf/rdgv/v14n2/1808-2432-rdgv-14-02-0302.pdf
file:///C:/Users/Samsung/Downloads/18583-93712-1-PB%20(2).pdf

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