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Teoria Geral do Processo Penal - AP1

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1 
PLANO DE ENSINO 
CURSO: Direito 
PERÍODO: 5º Semestre 2017/1 e 4º Semestre 2017/2 
TURNO: Diurno/Noturno 
DISCIPLINA: Teoria Geral do Processo Penal 
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 1,5 horas/aula 
CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 30 horas/aula 
 
I – EMENTA 
Desenvolvimento histórico do processo penal. O processo como uma das formas de 
composição da lide penal. Jus puniendi. Unidade ou dualidade do processo penal. Princípios 
de direito processual penal. Eficácia da lei no tempo e no espaço. A interpretação da lei. 
Fontes da matéria. 
II – OBJETIVOS GERAIS 
Promover a compreensão e a importância do Direito Processual Penal, assim como 
apresentar e discutir o significado dos institutos fundamentais do Direito Processual Penal; 
de forma a estimular a capacidade de análise, domínio de conceitos e terminologia jurídica, 
argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais envolvidos. 
III – OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
Preparar para utilização de elementos de doutrina, jurisprudência e legislação componentes 
da técnica jurídica do Direito Processual Penal, com uma visão crítica e consciência 
sociopolítica. 
Promover o desenvolvimento das competências e habilidades definidas no perfil do egresso, 
quais sejam: 
• Leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos 
jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-
jurídicas; 
• Interpretação e aplicação do Direito; 
• Pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e 
de outras fontes do Direito; 
• Adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias, 
administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e 
procedimentos; 
• Correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito; 
 
2 
• Utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de 
reflexão crítica; 
• Julgamento e tomada de decisões; 
• Domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e 
aplicação do Direito. 
IV – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
1. Introdução ao Processo Penal. 
1.1. O Direito de Punir. 
1.2. Abordagem e Evolução Histórica do Direito Processual. 
2. Pretensão Punitiva e Lide Penal. 
2.1. O Direito de Punir e o Direito de Liberdade. 
2.2. O Processo Penal como Instrumento da Pretensão Estatal. 
2.3. O Processo Penal como Garantia do Cidadão. 
2.4. Finalidade do Processo e o Devido Processo Legal. 
3. Sistemas Processuais. 
3.1. Origem, Evolução Histórica, Importância. 
3.2. Do Processo Acusatório. 
3.3. Do Processo Inquisitivo. 
3.4. Do Processo Misto. 
3.5. O Juiz, o Ministério Público e a Polícia Judiciária. 
3.6. Processo e Procedimento. 
3.7. Fases Da Persecução Penal. 
4. Norma Processual Penal. 
4.1. Fontes das Normas Processuais. 
4.2. Leis Locais de Organização Judiciária. 
4.3. Aplicação da Lei Processual no Tempo. 
4.4. Aplicação da Lei Processual no Espaço. 
4.5. Interpretação da Lei Processual Penal. 
5. A Constituição Federal e o Processo Penal. 
5.1. Princípios Constitucionais do Processo Penal. 
6. A Humanização da Justiça Penal. 
7. Temas e Casos Práticos da Área voltados para a Realidade Regional de Inserção do Curso. 
V – ESTRATÉGIA DE TRABALHO 
 
3 
A disciplina será desenvolvida com aulas expositivas e práticas, sendo incentivada a 
participação dos alunos nos questionamentos e discussões apresentadas, acompanhadas de 
metodologias que privilegiam a integração entre teoria e prática, entre elas: estudos de 
casos, análise de jurisprudência, elaboração de trabalhos práticos e produção de textos, 
realização de seminários (elaborados pelos alunos da disciplina) e ciclo de palestras (com 
professores convidados, profissionais da área e/ou de áreas afins), quando pertinente. 
VI – AVALIAÇÃO 
A avaliação será realizada por intermédio de provas regimentais e atividades desenvolvidas 
em sala de aula, conforme solicitação do professor da disciplina, tendo como referência as 
metodologias adotadas de integração entre teoria e prática. 
VII – BIBLIOGRAFIA 
Bibliografia Básica: 
Ada Pellegrini Grinover et all - Recursos No Processo Penal - 7ª Ed. 2011 – Editora RT. 
 Ada Pellegrini Grinover et all - As Nulidades No Processo Penal - 12ª Ed. Revista e 
Atualizada - Editora RT. 
 
ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 3. ed. 
Bahia: JusPodivm, 2009. 
BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Direito Processual Penal. v. I. Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2008. 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 
JESUS, Damásio E de. Código de processo penal anotado. São Paulo: Saraiva, 2007. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. São 
Paulo: RT, 2008. 
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal. 11ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2008. v. 2. 
Bibliografia Complementar: 
DEMERCIAN, P. H. Curso de processo penal. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. 
DEVECHI, Julio César C. Manual básico de processo penal. 3ª ed. Curitiba: Juruá, 2008. 
 
4 
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: 
Millennium/Bookseller, 2003. v. 2. 
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 2006. 
NORONHA, Edgar Magalhães. Curso de direito processual penal. São Paulo: Saraiva, 
2005. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 8ª ed. São Paulo: 
RT, 2008. 
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 
2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
1. O litígio e sua composição: o homem tem sempre vários interesses sobre os bens da 
vida, e na hipótese de não poder conservar todos, tem que sacrificar os menos importantes. 
O conflito de interesses ocorre sempre que houver incompatibilidade entre os interesses 
postos em relação. Quando sobre um bem existem dois ou mais interesses, instala-se o que 
nos chamamos de conflito de interesse (pretensão). Se nenhuma das pessoas desistir de seu 
interesse, teremos o que chamamos de lide, que é o conflito de interesses qualificado por 
uma pretensão resistida ou insatisfeita. 
 
Interesse: é a disposição de satisfazer uma necessidade. É a vontade de conquistar algo. 
Pretensão: é a exigência de subordinação de um interesse alheio a um interesse próprio. 
Lide: o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. 
 
 Para compor tal conflito de interesses, vários modos foram utilizados na história 
humana, entre eles: 
a) Força física: nas fases primitivas da civilização dos povos, inexistia um Estado 
suficientemente forte para superar os ímpetos individualistas dos homens e impor o direito 
acima da vontade dos particulares. De fato, não existia um órgão estatal que, com soberania 
e autoridade, garantisse o cumprimento do direito e nem tampouco havia leis (normas gerais 
e abstratas impostas pelo Estado aos particulares). Desse modo, quem pretendesse alguma 
coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria força e na medida dela, 
tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfação de sua pretensão. Até mesmo a própria 
repressão aos atos criminosos se fazia em regime de vingança privada, sendo que quando o 
Estado chamou a si o jus punitionis, ele o exerceu inicialmente mediante seus próprios 
critérios e decisões, sem a interposição de órgãos ou pessoas imparciais independentes e 
desinteressadas. A esse regime chama-se autotutela (ou autodefesa), consistindo no uso da 
força, tratando-se da primeira forma de solução dos conflitos. 
 As partes envolvidas, exercendo a autodefesa, punham fim a contenda. Como se 
verifica facilmente, a autodefesa era a negação da própria justiça, pois o mais fraco, mesmo 
que detivesse o direito, não podendo contar com o auxílio externo, não tinha como resistir e 
o cedia ao mais forte. A guerra é o sinônimo máximo douso da força para a solução de 
conflitos. Duas são as características da autotutela: a) ausência de juiz distinto das partes e 
b) imposição da decisão por uma das partes à outra. 
 A força física não prevaleceu como regra, ante a evolução do homem e da 
complexidade dos meios sociais. Atualmente, existe em nosso ordenamento jurídico apenas 
as seguintes exceções à autotutela, quais sejam, prisão em flagrante por qualquer do povo 
(artigo 302, CPP), e os institutos do estado de necessidade e legitima defesa. O exercício da 
autotutela fora das hipóteses legalmente admitidas configura ilícitos penais, tipificados nos 
textos do arts. 345 e 350, do Código Penal. 
 
6 
 Como crítica a este meio de solução de conflitos, temos que ela gerava injustiça e 
impunidade, pois o mais fraco, embora sendo prejudicado, certamente não reagiria. 
Ademais, se ninguém por ele assumisse a defesa-vingança, seu direito pereceria. 
b) Composição: com a evolução e o abrandamento do emprego da força, surge "a 
composição" como forma de solução de litígios. Ela ocorre quando uma das partes 
integrantes do conflito abre mão de seu interesse em favor da outra ou quando ambas 
reúnem parcelas de sua pretensão para solucionar pacificamente suas divergências. São três 
as formas de autocomposição: a) desistência (renúncia à pretensão); b) submissão (renúncia 
à resistência oferecida à pretensão), e c) transação (concessões recíprocas). Todas essas 
soluções têm em comum a circunstância de serem parciais - no sentido de que dependem da 
vontade e da atividade de uma ou de ambas as partes envolvidas. Tem aplicação na sede 
penal, sendo que no direito brasileiro, com o advento da Lei n.º 9099/95 (Lei sobre o Juizado 
Especial Criminal), foi inserido no direito positivo a composição como forma de solução de 
litígio. Para tanto, basta conferirmos a redação dos artigos 72 e 89 da Lei n.º 9.099/95, onde 
é permitida a transação penal. 
 Como característica, a autocomposição apresenta convergência de vontades. 
c) Processo: ultrapassadas as formas de uso da força e composição, com a evolução 
chegou-se ao instrumento do processo para a solução de conflitos. Pode se definir processo 
como o conjunto de normas e principio reguladores do instrumento pelo qual se obtém a 
exteriorização da vontade concreta da lei. 
 Por tal instituto, a solução do conflito vem através de uma decisão, onde prevalece o 
direito sobre a força. No processo, o conflito passa a ser decidido por alguém que não esteja 
nele envolvido, garantindo a imparcialidade na solução, com força suficiente para ser 
respeitada por todos e, principalmente, pelos litigantes. 
 O Estado despontou como o único terceiro capaz de desempenhar esta função, isto 
porque se encontra distante das partes (imparcialidade) e têm força para impor suas 
decisões aos litigantes e aos demais membros da sociedade. 
 No caso do direito penal, o Estado, para alcançar o bem-estar social, passou a 
elaborar leis tutelando valores importantes para a paz social, sendo que do descumprimento 
destas normas, que são gerais e abstratas, enseja a aplicação de penas. 
 Em um determinado momento histórico, o Estado passou a monopolizar a 
administração da justiça, sendo que ninguém pode sobrepor-se a ele na solução de qualquer 
litígio, nem mesmo a pessoa detentora do direito lesado (pelo direito penal é crime fazer 
justiça com as próprias mãos - art.349 do CP). 
 Foi destacada uma função própria do Estado para a solução de conflitos, que é o 
Poder Judiciário, obrigado, constitucionalmente, a prestar a tutela jurisdicional a todos que o 
procurem (art.5º, XXXV, da CF). Assim, o Estado assume o exercício da função/poder 
jurisdicional, através da jurisdição. Os juízes nascem em substituição às partes que não 
podem fazer justiça com as próprias mãos e a essa ordem estatal convencionou-se chamar-
se de jurisdição. 
 A jurisdição, assim, é uma das funções do Estado, mediante a qual este substitui, na 
pessoa do juiz, aos titulares dos interesses em conflito para imparcialmente aplicar o direito 
 
7 
ao caso concreto, a fim de fornecer uma pacifica solução ao litígio, reafirmando a autoridade 
da ordem jurídica. 
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO 
 
 A jurisdição tem por características: 
➢ Substitutividade: o Estado, através das pessoas previamente designadas, ou seja, os 
juízes, substitui, com uma atividade sua, à vontade dos litigantes, a fim de promover a justa 
composição da lide, pela correta aplicação das regras jurídicas. 
➢ Inércia: a jurisdição é inerte, somente agindo somente diante de provocação da parte. 
Somente algumas exceções existem, como a concessão de hábeas corpus de ofício, ou a 
execução de pena por iniciativa do juízo (artigo 105, da LEP). 
➢ Imutabilidade: os atos jurisdicionais, ao contrário dos legislativos e dos administrativos, 
são os únicos passíveis de transitar em julgado, isto é, de se tornarem imutáveis, não 
podendo ser revistos ou modificados. 
➢ Lide: a existência da lide é uma situação constante na atividade jurisdicional, 
especialmente quando se trata de pretensões insatisfeitas que poderiam ter sido atendidas 
espontaneamente pelo obrigado. Mesmo assim, há situações, no processo penal, em que a 
lide não estará presente. É o que ocorre, por exemplo, quando há pedido de absolvição da 
acusação, nesse caso, o processo continua, a atividade jurisdicional mantém o curso, sem 
que a lide exista. 
 
 Quando o indivíduo exerce o direito de ação, invoca a prestação da tutela 
jurisdicional, dando ensejo ao processo, instrumento do qual se vale o Estado para conhecer 
o fato; as partes; colher provas; valorá-las, e ditar sua decisão através do juiz. 
 O processo tem início com a ação e evolui até o seu ato final que é a sentença. 
Trata-se de uma sucessão de atos coordenados cujo objetivo é a solução de conflitos. 
 O processo é hoje a principal forma de solução de litígios, sendo que o uso da força e 
a composição são formas subsidiárias de solução da lide. 
 
Resumindo 
Ação: é o direito público subjetivo de se obter do Estado uma decisão acerca da lide objeto 
do processo. 
Processo: é o instrumento de atuação da jurisdição. É o modo através do qual o Estado Juiz 
se vale para exercer o poder jurisdicional. 
 
2. Direito de Punir - jus puniendi e jus persequendi: o direito de punir pertence ao 
Estado e pode ser abstrato ou concreto. Monopolizando a Administração da Justiça, somente 
ao Estado é reservado o dever de punir alguém que tenha cometido uma infração penal, até 
porque, sempre aparecerá como vítima mediata de todo e qualquer ilícito penal. De fato, 
ocorrendo um delito, teremos a vítima imediata (o que sofre a lesão ao bem jurídico do qual 
é titular) e a mediata (titular do mandamento proibitivo não observado pelo sujeito ativo da 
infração penal). 
 
8 
 O Estado realiza este direito por meio do Estado Judiciário, após ter sido instaurada 
uma lide penal, sendo o delito de ação penal pública, condicionada ou incondicionada. No 
caso de ação penal privada, cabe ao ofendido ou aos seus representantes movimentar a 
máquina judiciária para aplicação da sanção penal. 
 Porém, para que o Estado pleiteie a punição de alguém, antes deverá dizer qual são 
as condutas proibidas. Assim, através do Poder Legislativo são elaboradas leis penais, que 
culminam sanções no caso de seu descumprimento. Com a lei nasce o jus puniendi in 
abstrato; quando alguém viola a lei nasce o jus puniendi in concreto. Jus puniendi pode ser 
definido como o direito de impor sanções. 
 Quando alguém realizar um comportamento que aperfeiçoa uma norma penal 
incriminadora, pouco importando se prevista na parte especial do Código Penal ou na 
Legislação penal extravagante, tem-se o nascimento da pretensão punitiva (pretensão que o 
Estado tem em punir alguém). Será instaurado o processo legal para se aplicar a norma 
penal mais adequada ao caso concreto. O poder depunir pertence, portanto, ao Estado. 
 Mas, o poder de punir do Estado não é ilimitado. 
 Inicialmente, há que se perquirir se existe previsão legal do comportamento tido 
como delitivo devendo ser observados os princípios da legalidade e da anterioridade, 
contidos no art. 1º do CP. Trata-se, ainda, de princípio constitucional, inserido no rol dos 
direitos e garantias individuais (art.5º, XXXIX). O jus puniendi só existe se houver lei 
anterior que o autorize. 
 Outro limitador deste poder é a obrigatoriedade de se punir somente o autor do fato 
(autoria em sentido amplo), que abarca a co-autoria e participação. 
 Além disso, para se aplicar a pena, há que se observar o processo e o julgamento. É 
o princípio nulla poena sine judicio. O Estado não pode auto-executar o seu direito de punir. 
A pena somente pode ser aplicada através do processo e somente através de um juiz se 
pode reconhecer a culpa de quem transgrediu o ordenamento jurídico. 
 Assim, o Estado, além do direito de punir, dispõe também do direito de ação. Dá-se, 
portanto, a persecutio criminis, na qual o Estado-Administração, através de um órgão próprio 
(Ministério Público) pede ao Estado-Juiz a aplicação da lei penal ao caso concreto. Emerge 
daí um conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida, mormente porque o 
Estado tem a pretensão de punir e o infrator tem a pretensão de permanecer em liberdade. 
 O jus persequendi pode ser definido como o direito subjetivo do Estado, exercido 
pelo Ministério Público, parcela do Estado-Administração encarregada de postular, perante o 
Estado-juiz, a condenação do infrator. É o promotor de justiça o dominus litis, o dono da 
ação penal pública, o detentor da titularidade do processo-crime. 
 Registre-se até aqui, para melhor compreensão da matéria, a lição de Magalhães 
Noronha, que leciona: “É o Estado o titular do direito de punir. O crime lesa não apenas 
direitos individuais, mas sociais também, pois perturba as condições da harmonia e 
estabilidade, sem as quais não é possível a vida comunitária. Mas incumbe ao Estado –que é 
um meio e não um fim- a consecução do bem comum, que não conseguiria alcançar se não 
estivesse investido do jus puniendi, do direito de punir o crime, que é o fato mais grave que 
o empece na consecução daquela finalidade. Esse direito estatal não é, entretanto, ilimitado. 
Nas sociedades civilizadas vige, em regra, o princípio da reserva legal –nullum crime, nulaa 
 
9 
poena sine lege- que limita o direito de punir. O conjunto de normas incriminadoras 
constitui, então, o direito objetivo, que circunscreve ou delimita o jus puniendi. Com efeito, 
ao mesmo tempo em que oi Estado incrimina um fato, declara que não poderá punir quem 
não o praticar. Mas mesmo depois de cometido o delito, não se pode discricionariamente 
aplicar a sanção, isto é, a pena ou conseqüência do crime. Esta só tem lugar mediante 
processo e julgamento, pois a ação punitiva estatal atinge o status libertatis do indivíduo, 
donde a necessidade de obediência a outro princípio liberal: Nulla poena sine judicio. 
Conseqüentemente, deve o Estado, além do jus puniendi, dispor de outro direito que vai 
realizar aquele: é o jus persequendi ou jus persecutionis (direito de ação), que, por assim 
dizer, realiza o jus puniendi”. (Curso de direito processual penal, p.03). 
 Do conflito entre a pretensão de punir X pretensão de permanecer em 
liberdade faz eclodir a lide penal, que será dirimida com a entrega da prestação jurisdicional 
pelo magistrado. Tão logo a infração penal seja praticada, o Estado, através de seus órgãos, 
inicia a atividade persecutória, que se traduz na investigação do fato. Amealhadas provas 
acerca da autoria e da materialidade pela Polícia Judiciária (Polícia Civil), outro órgão próprio, 
o Ministério Público, ingressa com ação penal deduzindo a pretensão penal em juízo. 
 A persecução penal apresenta dois momentos distintos: 1) investigação 
criminal, de caráter inquisitivo e preparativo e 2) o da ação penal, deduzido em 
juízo. O processo somente se inicia na segunda fase da persecução, quando se forma a 
chamada relação jurídica processual. 
 
3. O processo: do início ao final, o processo compreende a prática de diversos atos que vão 
viabilizar o julgamento. Como visto, o Estado Administração está impedido de fazer justiça 
com as próprias mãos, razão pela qual criou um órgão adequado para deduzir a pretensão 
punitiva perante o Estado-Juiz, esse órgão é o Ministério Público. 
 O Ministério Público, através do Promotor de Justiça, deduz a pretensão punitiva em 
Juízo. O acusado é citado para se defender e, após uma série de atos, onde é assegurado o 
contraditório e ampla defesa, o Juiz julga a causa penal: se procedente, impõe a sanctio iuris 
ao culpado; se improcedente, absolve-o. 
 O processo é, então, um conjunto de atos que se sucedem, segundo a lei, até o ato 
final e mais importante: a sentença, que tem por fim dirimir a lide. O processo pode ser 
visto, ainda, como uma relação jurídico-processual, que se estabelece entre o Autor, o Réu e 
o Juiz. Essa relação jurídico-processual é: 
➢ Autônoma: porque independe da existência da relação material discutida; 
➢ Pública: porque somente o Estado dita a solução para a lide penal pelo Poder Judiciário. 
Ademais, a dedução da pretensão punitiva é feita por um órgão público; 
➢ Unitária: porque é una no seu objeto, a solução da lide penal; 
➢ Complexa: porque envolve uma série de direitos e obrigações entre os sujeitos 
processuais principais e terceiras pessoas; 
➢ Progressiva e continuativa: porque os atos processuais são coordenados e praticados 
segundo a previsão legal, numa seqüência continuada. 
 
 
 
10 
4. Características do Direito Processual Penal: são características do direito processual 
penal- 
➢ Autonomia: porque possui objeto e princípios que lhe são próprios. Não se confunde com 
o Direito Penal, sendo em verdade um ramo autônomo, com institutos e princípios próprios. 
Assim, enquanto o direito penal foca seus estudos nas figuras delituais penais, o direito 
processual penal mostra quais os meios para se obter a tutela jurisdicional penal. 
➢ Instrumentalidade: embora seja autônomo, possui caráter instrumental, pois torna 
possível a atuação do Direito Penal objetivo. De efeito, o direito penal não é de coação 
direta, pois o jus puniendi do Estado somente se aplica mediante o processo. Deste modo, o 
direito processual penal se torna um instrumento para fazer atuar o direito penal. 
 
5. O Direito de Punir x o Direito de Liberdade. 
 
 O Processo Penal, diante da conceituação pode ser vista sob dois aspectos. 
 De um lado, temos que o direito de punir do Estado existe para a proteção da 
sociedade de forma genérica. Este poder-dever somente pode ser invocado quando houver 
uma infração penal. 
 Isto se infere do artigo 5º, LVII da CF, prevê que ninguém será considerado culpado 
até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Por tal razão, a pessoa somente 
poderá receber pena e ter seu direito de liberdade violado se for considerado culpado pelo 
Estado através de um órgão que exerça função jurisdicional. 
 Desta feita, o processo penal serve para concretizar a pretensão punitiva do Estado. 
 De outro lado, o processo penal é devido a todos que compõe a sociedade, assim 
como, a estrangeiros que estejam no País. Trata-se de direito público e subjetivo, não 
encontrando distinção relacionada à raça, cor, sexo, idade, posição social ou cultural, 
conforme previsto expressamente, no artigo 5., da Constituição Federal. 
 Assim, uma pessoa somente poderá perder a liberdade se tiver um devido processo 
legal, razão pela qual é também instrumento de liberdade. 
 
6. Finalidade do Direito Processual Penal: aplicação do direito penal objetivo, garantindo 
a paz social. Duas são, portanto, sua finalidade. A primeira é permitir a realizaçãoda 
pretensão punitiva surgida pela prática de um delito. A segunda é pacificar o meio social, 
com a punição do infrator penal. É importante verificar que o Processo Penal não é um 
instrumento de repressão do Estado, mas sim garantidor dos direitos individuais. Isto porque 
a pretensão punitiva estatal somente pode ser exercida quando esta seguir corretamente os 
trâmites processuais, havendo, desse modo, limitação do Poder Estatal, pois não pode 
efetivar sua pretensão, sem respeito ao contraditório, a ampla defesa etc. 
 
7. Posição Enciclopédica: o Direito Processual Penal é um ramo do Direito Público. De 
fato, a diferença entre o direito público e o privado baseia-se em dois elementos: no sujeitos 
das relações reguladas e na finalidade da norma. Quando um dos sujeitos é o Estado 
Soberano, há o direito público; ao reverso, direito privado. Ademais, visando a aplicação da 
 
11 
pena, o direito processual penal visa garantir a paz pública e restaurar a ordem jurídica 
violada, defendendo, pois, interesses públicos. 
 
DA NORMA PROCESSUAL PENAL 
 
1. Conceito e conteúdo: todo ramo do direito se expressa através de normas jurídicas. 
Estas normas, segundo o seu objeto imediato, podem ser divididas em normas materiais e 
instrumentais. As primeiras disciplinam imediatamente a cooperação entre pessoas e os 
conflitos de interesses ocorrentes na sociedade, escolhendo qual dos interesses conflitantes 
deve prevalecer. Já as normas instrumentais contribuem de forma indireta para a resolução 
dos conflitos interindividuais, mediante a disciplina da criação e atuação das regras jurídicas 
gerais ou individuais destinadas a regulá-los diretamente. 
 Entre as normas instrumentais encontramos as normas processuais, cujo objeto é a 
disciplina do modo processual de resolver os conflitos mediante a atribuição ao juiz dos 
poderes necessários para resolvê-los e, às partes, de faculdades e poderes destinados à 
eficiente defesa de seus direitos, além da correlativa sujeição à autoridade exercida pelo juiz. 
 No caso do processo penal temos que toda a norma jurídica que regula a atuação da 
jurisdição penal é uma norma de processo penal ou norma processual penal. 
 A norma processual penal consiste nas disposições estatuídas sobre as atividades 
que se desenvolvem no processo e seus consectários lógicos, consistentes na 
regulamentação da atuação do juiz, das partes e de terceiros, quer fixando-lhes a respectiva 
posição processual, quer dispondo a respeito de suas recíprocas relações. 
 A ordem que contém toda norma processual é a imposição à todos que intervêm no 
processo, de não se afastarem das regras de condutas traçadas, salvo quando a própria 
norma autorizar. 
 Conforme as disposições que regulam, podemos separar as normas processuais em 
espécie. Temos as normas processuais penais que regulam as atividades que se 
desenvolvem para atuação do Poder Jurisdicional do Estado na esfera jurídico-penal. Temos, 
ainda, normas que contêm regras de organização judiciária (que são destinadas a regular a 
instituição, nomeação, atribuições e discriminação dos órgãos judiciários e seus auxiliares). 
 Anote-se que toda a norma de Direito Processual, seja ele penal ou civil, é de direito 
público, vez que trata principalmente de como se desenvolve uma função pública, a 
jurisdicional. No processo penal, tal caráter se acentua ainda mais porque se trata de regular 
como se alcança a pretensão punitiva do Estado. 
 
2. Fontes do Direito Processual Penal: fonte, para o direito, significa tudo aquilo de onde 
provém um preceito jurídico, a forma de exteriorização do direito, os modos de expressão do 
direito. 
 No Direito Processual Penal as fontes podem ser classificadas em: 
a) De produção ou materiais, ou seja, àquelas que constituem, que criam o Direito: 
a única fonte de produção (material) do Direito Processual Penal é o Estado, em face da 
natureza publicista do processo. À União compete legislar, privativamente, sobre "direito 
processual" (art.22, I, da CF), sendo permitido aos Estados-Membros legislarem sobre 
 
12 
questões específicas das matérias relacionadas no mencionado artigo, inclusive direito 
processual penal (art.22, parágrafo único). Os Estados e ao DF podem, concorrentemente 
com a União, legislarem sobre "criação, funcionamento e processo do Juizado de pequenas 
causas" (arts. 24, X, e 98, I), "procedimentos de matéria processual" (art.24, XI) e sobre 
“direito penitenciário” (art.24, I, e §§ 1º e 2º, da CF). 
b) Formais ou de cognição, são as que revelam o direito, ou seja, o modo como se 
exterioriza o direito. Estas podem ser divididas em diretas, primárias e imediatas (lei) e 
indiretas, secundárias e mediatas (costume, os princípios gerais de direito e analogia). 
Alguns autores citam a doutrina e a jurisprudência como fontes formais, mas prevalece o 
entendimento que se tratam de meras formas de interpretação. 
 No que se refere à fonte formal, temos que a direta, primária e imediata é a lei. 
Quanto às fontes indiretas, mediatas ou secundárias, são os costumes (normas de 
comportamento que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante, pela convicção 
de sua obrigatoriedade jurídica, que nunca revogam a lei) e princípios gerais (postulados 
gerais que se fundam em premissas éticas extraídas do material legislativo, que conferem 
unidade e validade a todo um sistema jurídico). São chamadas de fontes indiretas, pois, não 
contendo o direito, produzem-no indiretamente. 
 A lei tem preferência sobre as demais fontes que somente podem suplementá-la. 
 Os tratados (acordos assinados entre países em assuntos de natureza política, 
incluindo-se os da repressão aos ilícitos penais), convenções (acordos com menor 
característica de solenidade) e regras de direito internacional (princípios induzidos das 
leis internas dos Estados e inferidos de convenções internacionais ou afirmados na doutrina 
ou proclamados em Congresso) são mencionados no art.1º, inciso I. 
 O tratado é considerado fonte primária do Direito Processual Penal, sendo que ele 
prevalece no conflito com a lei. 
 Analogia é uma forma de auto-integração da lei, sendo que na lacuna involuntária 
desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente um dispositivo que disciplina hipótese 
semelhante. Por suprir eventualmente omissões da lei, pode ele ser considerado como fonte 
do direito, em face da redação do art.4º, da LICC. A analogia pode ser definida como um 
raciocínio por comparação, na qual se buscam pontos comuns entre situações semelhantes, 
visando a dar eles semelhante solução jurídica. Baseia-se na premissa de onde houver as 
mesmas razões, há se aplicar idêntica solução. 
 Através da analogia, o jurista dá a fatos semelhantes, iguais tratamento jurídico. 
 Por fim, que a jurisprudência, quando consolidada na forma de súmula vinculante 
também é fonte do direito processual penal. Assim, de regra, o acompanhamento ao 
entendimento jurisprudencial não é obrigatório, salvo no caso de ser editada a Súmula 
vinculante, pois nesta hipótese, conforme art. 103-A, da CF, deverá ser obedecido o 
entendimento do STF: 
 
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, 
mediante decisão de dois terços dos seus membros, depois de reiteradas decisões 
sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na 
imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder 
 
13 
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e 
municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida 
em lei. 
 
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas 
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou 
entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e 
relevante multiplicação de processossobre questão idêntica. 
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou 
cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação 
direta de inconstitucionalidade. 
 § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou 
que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, 
julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial 
reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da 
súmula, conforme o caso. 
 
3. Interpretação da Lei Processual Penal: interpretar é o processo lógico que procura 
estabelecer a vontade da lei, que não é necessariamente à vontade do legislador; é descobrir 
o verdadeiro conteúdo da norma jurídica, precedendo sempre à aplicação, processo pelo qual 
se submete o caso concreto à norma geral. 
 Toda interpretação da lei deve atender "aos fins sociais a que ela se dirige e às 
exigências do bem comum" (art.5º da LICC), bem como se observar o que dispõe o art.1º da 
LEP, que estabelece ser o fim da pena a promoção da integração social do condenado. 
 Hermenêutica é a ciência ou método que se preocupa com a interpretação da lei. 
 Os costumes e os princípios gerais do direito não constituem em interpretação 
da lei, mas em fontes do direito processual penal. 
3.1. Espécies de interpretação: 
a) Quanto ao sujeito que realiza a interpretação, temos: 
➢ Interpretação autêntica ou legislativa: é a que procede da mesma origem que a lei e 
tem força obrigatória. É feita, pois, pelo próprio órgão encarregado da elaboração do texto. 
Poder ser contextual (quando vem inserida na própria legislação, no próprio texto a ser 
interpretado. Ex: conceito de flagrante delito, estabelecido pelos arts. 302 e 303 do CPP) ou 
posterior (quando feita após a entrada em vigor da lei). 
➢ Interpretação doutrinária e científica: feita pelos estudiosos e cultores do direito. 
Trata-se do entendimento dado aos dispositivos legais pelos escritores ou comentadores do 
direito. Não tem força obrigatória. Exposições de motivos constituem forma de interpretação 
doutrinária, e não autêntica, uma vez que não são leis. 
➢ Interpretação judicial, jurisprudencial ou usual: é a interpretação dada pelos órgãos 
jurisdicionais. Referida interpretação se consolida na jurisprudência, que é o conjunto de 
manifestações judiciais sobre determinado assunto legal, exaradas num sentido 
razoavelmente constante. 
 
 
14 
b) Quanto aos meios empregados: 
➢ Gramatical, literal ou lexicográfica: leva-se em conta o sentido literal das palavras ou 
expressões empregadas pelo legislador. É o primeiro método que se deve valer mão o 
intérprete. Procura-se, aqui, o significado das palavras empregadas, o conteúdo semântico 
da norma. 
➢ Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua 
posição dentro do ordenamento jurídico. Obtém através do confronto lógico entre os seus 
dispositivos, procurando-se compreender o espírito da lei e a intenção do legislador. O 
intérprete serve-se, então, das regras gerais do raciocínio. 
➢ Histórica: analisa-se o contexto histórico no qual a lei foi promulgada com o escopo de 
se descobrir qual a sua finalidade. 
c) Quanto ao resultado: 
➢ Declarativa: ocorre quando o texto examinado não é ampliado e nem restringido, 
encontrando-se apenas o significado oculto do termo ou expressão utilizada pela lei. 
Geralmente é obtida com a interpretação literal. 
➢ Restritiva: ocorre quando se reduz o alcance da lei para que se possa encontrar a sua 
exata vontade. A lei foi além de sua vontade, por isso a interpretação vai restringir o seu 
significado. 
➢ Extensiva: é referida expressamente no art.3º, ocorrendo quando é necessário ampliar o 
sentido ou alcance da lei, porque a letra escrita ficou aquém de sua vontade. 
➢ Progressiva, adaptativa ou evolutiva: é aquela que, ao longo do tempo, adapta-se às 
mudanças políticas-sociais e às necessidades do presente. Serve para abarcar as novas 
concepções ditadas pelas transformações sociais, científicas, jurídicas ou morais que devem 
permear a lei processual estabelecida. 
 
4. Interpretação da norma processual: a lei processual penal admite interpretação 
extensiva, aplicando-se, ainda, as regras de hermenêutica comuns. Todavia, não se trata de 
preceito absoluto, pois as regras que restringem liberdade pessoal, devem ser rigorosamente 
interpretadas em caráter restritivo. 
 Regra geral: aplicação da hermenêutica. Exceção: quando se tratar de regras 
referentes à liberdade do acusado, a interpretação deve ser restritiva. 
 
5. Interpretação analógica: é aquela em que a vontade da norma é abraçar casos 
análogos não previstos singularmente. Ocorre, geralmente, quando a lei após elencar uma 
cláusula genérica se segue a uma fórmula casuística. Exemplo: art.121, § 2º, IV, do Código 
Penal; art. 6º do CPP. Não se confunde interpretação analógica com analogia, pois a primeira 
é forma de interpretação; já a segunda é forma de auto-integração. Na interpretação 
analógica não há vazios, porquanto a própria lei já declara que pretende alcançar casos 
análogos. 
 
6. Analogia: é a atividade consistente em aplicar a uma hipótese não regulada por lei 
disposição relativa a caso semelhante. O fundamento da analogia é o ubi eadem ratio, ibi 
 
15 
eadem jus (onde há mesma razão, aplica-se o mesmo direito), sendo uma forma de auto-
integração da lei. 
 Na lacuna involuntária desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente um 
dispositivo que disciplina hipótese semelhante. 
 A dois tipos de analogia: a) a legis e b) a iuris. A primeira se opera quando o 
processo de integração da norma se dá por outra norma. Já a segunda quando a integração 
ocorre com os princípios gerais de direito. 
 A analogia somente pode ser aplicada na lacuna involuntária da lei, não sendo 
cabível nas hipóteses em que a lei processual tem caráter inflexível, taxativo. 
 
SISTEMAS PROCESSUAIS OU TIPOS DE PROCESSO PENAL 
 
 Sistema pode ser definido como a reunião coordenada e lógica de princípios ou idéias 
relacionadas de modo que abranjam um campo do conhecimento. O Processo Penal, visando 
atingir seus objetivos (aplicação da lei penal e pacificação do meio social) pode adotar um 
dos seguintes sistemas que o caracterizam: a) acusatório, b) inquisitivo ou c) misto. Tais 
sistemas processuais se diferem, principalmente, pelos órgãos que se encarregam da 
persecução penal; a quem compete o julgamento, e a maneira como o acusado é tratado 
durante o tramitar da ação penal. Nota-se que os sistemas abaixo não são um desenvolvido 
sobre os outros, mas sim existiram e existem até hoje de forma concomitante. 
1) Acusatório: por este sistema há nítida separação entre órgão acusador e julgador e 
caracteriza-se pela: 
➢ Existência do contraditório, como garantia política do cidadão: assegura as partes 
processuais às mesmas obrigações e os mesmos direitos. Se há uma parte, o acusador; deve 
existir outra defendendo o réu. Esse sistema supõe completa igualdade das partes, ou seja, 
devem ser conferidas as mesmas oportunidades para a produção de provas, para 
manifestações a respeito dos elementos probatórios, etc. 
➢ Adoção da publicidade como regra: o processo é público e dele qualquer pessoa 
poderá tomar conhecimento, ainda que não tenha interesse na causa. Excepcionalmente se 
admite a limitação ou restrição da publicidade dos atos processuais, como acontece, por ex., 
na sala secreta do Tribunal do Júri; nas audiências que versem sobre crimes contra os 
costumes ou naqueles feitos que tenha sido decretado sigilo de justiça, etc. 
➢ Observância do actium trium personarum, ou seja, as funções de acusar, defender e 
julgar são desempenhadas por pessoas distintas: a acusação nas ações penais públicas 
pertence ao Ministério Público; nas privadas, ao ofendido ou aoseu representante. A defesa 
fica a cargo de um advogado, podendo este ser dativo ou constituído. O julgamento é 
reservado a quem se encontre investido no poder jurisdicional. Via de regra ao poder 
judiciário. Excepcionalmente o Estado confere este poder ao Senado Federal, nos casos 
previstos nos incisos l e ll, do art. 52, da CF. 
➢ Iniciativa do processo pela acusação: o juiz nunca dá início, por si só, ao processo, 
sendo sempre provocado pelo autor, que no processo penal, faz a acusação. 
 Em resumo o sistema acusatório reúne, basicamente, os seguintes requisitos: o 
julgamento é feito por populares (jurados) ou por órgãos judiciários totalmente imparciais; 
 
16 
igualdade das partes; liberdade das partes quanto a apresentação das provas; não pode o 
juiz provocar a sua própria jurisdição; o processo é oral, público e contraditório; livre 
convicção quanto à apreciação das provas; a regra é a liberdade do acusado, admitindo-se 
excepcionalmente a prisão do acusado e a sentença faz coisa julgada. 
 A ênfase do sistema acusatório é o polo passivo da relação processual (o acusado), 
sendo que há um sistema de proteção contra o arbítrio do Estado. Visa cercar o acusado de 
garantias acerca do devido processo penal. 
 Destaque-se que a Lei de Combate ao Crime Organizado (Lei n° 9.034/95) traz a 
hipótese de diligências realizadas pessoalmente pelo juiz, ainda na fase do inquérito, como a 
violação de sigilos preservados pela Constituição ou pela lei (v. art. 156, CPP). Nota-se que 
tal artigo foi analisado pelo STF, a qual pontuou: a) o magistrado tem poderes instrutórios e 
a investigação criminal não é monopólio da polícia judiciária; b) a coleta de provas não 
antecipa a formação do juízo condenatório e c) a CF autoriza restrições ao princípio da 
publicidade. 
 
2) Inquisitivo: trata-se de sistema oposto ao acusatório, nele não existindo o contraditório. 
Há ênfase e fortalecimento do Estado, enquanto possuidor do jus puniendi. As funções de 
acusar, defender e julgar são exercidas por uma única pessoa ou um mesmo órgão. Não há 
liberdades processuais e nem igualdade entre as partes. Caracteriza-se pela: 
➢ Concentração das três funções (acusar, defender e julgar) em uma só pessoa; 
➢ Por ser o processo escrito e sigiloso; 
➢ Ausência de contraditório, com defesa meramente formal; 
➢ Existência de juízes permanentes e irrecusáveis; 
➢ Há ampla liberdade da acusação, com meios violentos para se obter provas, 
admitindo-se, inclusive tortura. Confissão como rainha das provas. 
 Este tipo de processo passou a dominar praticamente toda a Europa Continental, por 
influência da Igreja, a partir do Concílio Latranense de 1215. 
 
3) Misto: este sistema, também conhecido como acusatório formal, surgiu após a Revolução 
Francesa, com o Código de Instrução da França em 1808. Procurou unir as virtudes dos dois 
sistemas anteriores, caracterizando-se o processo por divisões bem delimitadas em três 
etapas, a saber: a) investigação preliminar; b) instrução preparatória e c) fase de 
julgamento. 
 Nas duas primeiras etapas, coincide com o sistema inquisitivo. Inexiste contraditório, 
devendo ele ser escrito e sigiloso, sendo as três funções (acusar, defender e julgar) 
desenvolvidas pela mesma pessoa. 
 No julgamento final, passa a ser semelhante ao acusatório. Há contraditório; o 
processo é público, e o julgador não pode ser quem acusa. Assim, as funções de acusar, 
defender e julgar são entregues à pessoas distintas. 
 
4) No Direito Pátrio: adota-se o processo tipo acusatório. A acusação foi conferida a um 
órgão do Estado, o Ministério Público, nos crimes de ação penal pública. Já nos crimes de 
ação penal privada a acusação cabe ao ofendido. A função de julgar foi assegurada aos 
 
17 
juízes de direito e aos juízes de fato (júri). Ao acusado é assegurada a ampla defesa, bem 
como o contraditório. 
 A existência de inquérito policial, onde prepondera o sigilo e a forma inquisitiva, não 
desnatura tal sistema, pois se trata de procedimento meramente informativo, que não se 
confunde com processo. Paulo Lúcio Nogueira, ao contrário da grande maioria dos 
doutrinadores, entende que o nosso ordenamento adotou o sistema processual misto (Curso 
completo de processo penal, p.27). O mesmo se diga de Guilherme de Souza Nucci, para 
quem o nosso sistema é inquisitivo garantista, pois o juiz brasileiro pode produzir provas de 
ofício, decretar a prisão do acusado sem solicitação, podendo utilizar subsidiariamente 
elementos do inquérito policial para formar a sua convicção (Código de Processo Penal 
Comentado, p. 65). 
 Contudo, tais posições são minoritárias perante os demais doutrinadores. Por 
oportuna, destaca-se a lição de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e 
Cândido Rangel Dinamarco: “No processo penal brasileiro adota-se o sistema acusatório. 
Quanto à fase prévia representada pelo inquérito policial, já vimos que constitui processo 
administrativo, sem acusado mas com litigantes (após o indiciamento), de modo que os 
elementos probatórios nele colhidos (salvo as provas antecipadas a título cautelar) só podem 
servir à formação do convencimento do Ministério Público, mas não para embasar uma 
condenação” (Teoria Geral do Processo, p.58-59). 
 Destaca-se que o que tange ao Brasil, necessário se realizar estudo particularizado. 
Atualmente, o Direito Processual Penal é regulamentado pela Constituição Federal pelo 
Código de Processo Penal (Decreto-Lei de 1941 e respectivas alterações) e por leis especiais 
(extravagantes). 
 Anote-se a seguinte evolução: 
 Leis processuais brasileiras (histórico: 
a) Ordenações do Reino (sobretudo Filipinas); 
b) Código de Processo Criminal (1832); 
c) Códigos Processuais dos Estados (Constituição de 1891); 
d) Retorno à unidade processual nacional (Constituição de 1934); 
e) Código de Processo Penal (1941) - atualmente em vigor (e com alterações); 
f) Lei de Execução Penal (1984) - passou a regular a matéria específica; 
g) Legislação especial extravagante (exs: crimes de responsabilidade, crimes militares, 
Lei nº 9.099/95, Lei nº 11.343/06 etc). 
 Durante as ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, o sistema adotado era o 
inquisitorial, ante as fortes influências do direito canônico. Com a vinda da Família Real, 
passou a adotar-se a legislação pátria ganhando destaque a Constituição Federal de 1824 e o 
Código de Processo Criminal de 1932. 
 A constituição de 1891 tem como premissa fundamental a possibilidade dada aos 
Estados de elaborarem seus próprios Códigos de Processo. 
 A Constituição de 1934 voltou a unificar a lei processual, sendo que em 1941 foi 
elaborado o nosso atual Código de Processo Penal, Decreto Lei n.º 3.689 de 30 de outubro 
de 1941, tendo adotado o sistema acusatório. 
 
 
18 
4.1. O papel do Ministério Público, do Juiz e da Polícia Judiciária no sistema 
acusatório de persecução penal. 
 Adotado o sistema acusatório entre nós, repudiou-se a estrutura do sistema 
inquisitivo, no qual se confunde, em um único órgão estatal, as funções de investigar, acusar 
e julgar. Ademais, o acusado deixa de ser um mero objeto da relação processual, mas sim 
um sujeito processual, com direitos a serem resguardados na persecução penal. 
 Assim, importante destacar que no sistema acusatório houve a transformação da 
fisionomia da persecução penal, visto que situou o réu e acusado, nessa atividade estatal, 
como sujeito de direitos e não apenas como objeto das investigações. Processualizou-se a 
persecutio criminis....sem que o interesse público da punição do culpado ficasse diminuído 
ou debilitado. O juiz deixou de encarnar a função repressiva do Estado contra o infrator da 
lei penal, para permanecer imparcial e sereno, como órgão exclusivo da aplicação do Direito 
Penal objetivo, ou seja, da jurisdição penal propriamente dita (José Frederico Marques, in 
anotações à obra de Pimenta Bueno, JoséAntonio. “Apontamentos sobre o processo criminal 
brasileiro”, anotada e atualizada por. SP, RT, 1959, pg. 28). 
 Desta forma, cada órgão estatal exerce uma função bem delineada no processo 
acusatório. Cabe a Polícia Judiciária investigar a infração penal, colhendo elementos acerca 
de sua autoria e de sua materialidade. Ao Ministério Público compete a promoção da ação 
penal pública. É ao juiz pena a prestação da tutela jurisdicional, decidindo pela pretensão de 
punir do Estado ou pelo direito de liberdade do acusado. 
 Em relação a Polícia Judiciária, tem-se constitucionalmente a seguinte divisão em: 
1) Polícia Federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela 
União e estruturado em carreira, destina-se a: 
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, 
serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim 
como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija 
repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; 
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o 
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas 
áreas de competência; 
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; 
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. 
 
2) Polícia civil, dirigida por delegados de polícia de carreira, incumbindo, ressalvada a 
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, 
exceto as militares. Em sede de direito processual penal, a principal função da polícia 
judiciária, seja estadual ou federal, é a de apuração das infrações penais e da sua autoria 
através do inquérito policial. Por seu turno quem preside o inquérito policial é o Delegado de 
Polícia auxiliado pelos investigadores de polícia, peritos e auxiliares administrativo 
 Já o Ministério Público pode ser conceituado como instituição permanente, 
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do 
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. É função institucional 
do Ministério Público a promoção, privativamente, da ação penal pública, na forma da lei. 
 
19 
 Por fim, em relação ao juiz, sua principal função é a da prestação da atividade 
jurisdicional. Assim, o magistrado julga, aplicando a lei ao caso concreto, através de um ato 
chamado sentença. 
 
Eficácia da Lei Processual Penal (Tempo e no Espaço) 
 
1. Eficácia da Lei Processual no Espaço - Aplicação no Espaço (artigo 1º do Código 
de Processo Penal): 
1.1. Adoção do Princípio da Territorialidade e da Unidade do DPP. 
 No que toca as leis processuais penais, em matéria de eficácia no espaço, adota-se o 
princípio da territorialidade, consubstanciado no brocardo locus regit actum, ou seja, aplica-
se a lei processual penal brasileira a todo delito ocorrido no território nacional. Tal princípio 
vem adotado no art. 1º, que rege: "O processo penal reger-se-á em todo o território 
brasileiro, ressalvados...:" 
 Pelo Princípio da Territorialidade as normas de DPP têm aplicabilidade exclusiva 
dentro do território nacional, conforme se verifica pela regra do art. 1º do CPP. Ressalte-se, 
porém, que o artigo 5, § 4º, da Constituição Federal prevê que: “O Brasil se submete à 
jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Assim, 
apesar de uma infração penal ter sido cometida no Brasil, havendo interesse do Tribunal 
Penal Internacional, pode-se entregar o seu autor à jurisdição estrangeira. 
 No mais, a regra geral é de aplicação do princípio da territorialidade, sendo que por 
exceção, os incisos deste artigo especificam quando dentro do território brasileiro ele não 
tem incidência. Pela lex fori, os limites da jurisdição criminal coincidem com os limites do 
território nacional e a todos os processos submetidos a essa jurisdição é aplicável a lei 
processual penal nacional. 
 Temos, ainda, que o direito processual é uno, sendo aplicado em todo território 
brasileiro. 
 O território que se refere o CPP é tanto o conceito estrito, como o de território por 
extensão. 
 A doutrina admite, no entanto, que a lei processual penal de um Estado possa ser 
aplicado fora de seus limites territoriais, nas seguintes hipóteses: a) em território nullius; b) 
quando o Estado, onde deva ser praticado o ato processual, consentir (autorizar), e c) em 
território ocupado no caso de guerra. Salvo estas exceções, a lei processual penal é 
eminentemente territorial. 
 Esta é a regra geral. 
Exceções: Não se aplica o CPP: 
a) No caso de tratados, convenções e regras de direito internacional que 
disponham de modo contrário, como, por exemplo, no caso de imunidades diplomáticas, 
em que se excluem os representantes de governos estrangeiros da jurisdição penal do 
Estado onde se encontram creditados (Convenção de Viena, 1961 – Decreto 56.435/65). 
 Esses representantes, como por exemplo, os embaixadores, secretários de 
embaixada, pessoal técnico e administrativo das representações, seus familiares, 
 
20 
funcionários das organizações internacionais não respondem por seus crimes no território 
nacional, mas podem ser julgados pela legislação de seu próprio país. 
 O cônsul, por infrações comuns, responde perante as autoridades brasileiras; mas 
por infrações praticadas no exercício de suas funções, perante o país que o nomeou. Nota-se 
que no conflito entre lei e tratado, prevalece este. 
Resumo 
Deste modo, temos que caso o Brasil firme um tratado, uma convenção ou esteja sujeito a 
regras de direito internacional, deve a lei processual penal brasileira ser afastada para que a 
proveniente daquelas fontes sejam aplicadas. 
 
b) Quando se tratar de crime de responsabilidade do Presidente da República, dos 
Ministros de Estado, nos delitos conexos com aqueles e dos Ministros do Supremo 
Tribunal Federal (art.1º, II), que serão denunciados perante a Câmara dos Deputados e 
julgados pelo Senado Federal. Também estão excluídos os governadores de Estado e do DF, 
bem como seus secretários (Lei nº 7106/83), bem como o Vice-Presidente, o Procurador-
Geral da República e o Advogado-Geral da União. 
 Os crimes de responsabilidade estão arrolados no artigo 85 da CF. 
 A Lei nº 1079/50 regulamentou o processo e julgamento destes crimes de 
responsabilidade, admitindo a aplicação subsidiária do CPP. Tem-se aqui a chamada 
jurisdição política 
c) Os processos da competência da Justiça Militar: o CPP não se aplica, também, aos 
processos da competência da Justiça Militar Estadual ou Federal, que possuem Código 
Processual Penal próprio. 
 A Justiça Militar é uma justiça especial, cabendo a ela o processo e julgamento, tanto 
dos crimes propriamente militares, como os impropriamente militares. 
d) Os processos da competência do Tribunal especial: não existe na legislação 
brasileira este tipo de tribunal, embora no passado, foi instituído o Tribunal de Segurança 
Nacional sob a égide da Constituição de 1937, que o previa no art. 122, XVII (Os crimes que 
atentarem contra a existência, a segurança e a integridade do Estado, a guarda e o emprego 
da economia popular serão submetidos a processo e julgamento perante o Tribunal Especial, 
na forma que a lei instituir). 
e) Os crimes de imprensa: a derradeira ressalva feita pelo art. 1º é a pertinente aos 
processos por crime de imprensa. A lei nº 5250/67 define nos arts. 14 a 22, os tipos penais 
que constituem crime de imprensa, e nos arts. 42 e ss. estabelecem as normas processuais 
penais, que são seguidas para apuração destes crimes. Contudo, tal lei foi julgada 
inconstitucional pelo STF e não mais existe entre nós. A leitura a ser feita é de que, havendo 
lei especial para determinado procedimento, se aplica a ela, servindoo CPP para suprir as 
lacunas. 
 Assim, o CPP não se aplica, ainda: a) aos crimes eleitorais, que são julgados pela 
Justiça Eleitoral; b) aos crimes falenciais; c) aos crimes de entorpecentes; d) as infrações 
penais de menor potencial ofensivo, ou seja, a todos os crimes que tiverem previsão de lei 
especial que contrariem as regras gerais do CPP. Entretanto, ressalva-se que conforme 
 
21 
dispõe o parágrafo único do CPP, a tais infrações se aplica, subsidiariamente, as regras do 
CPP. 
 
2. Eficácia da Lei Processual Penal no Tempo (artigo 2º do Código de Processo 
Penal): 
 
2.1. Princípio do efeito imediato: dispõe o art.2º "A lei processual aplicar-se-á desde 
logo, sem prejuízo da validade dos autos realizados sob a vigência da lei anterior". Pela 
redação do artigo percebe-se que a lei nova tem incidência imediata, aplicando-se aos novos 
processos (que se iniciaram após a vigência da lei), como também as ações penais em 
andamento, aos processos em curso. Não possui retroatividade, não incidindo sobre atos já 
praticados e consumados, não os invalidando. Aplica-se o princípio tempus regit actum. 
Projeta-se a lei processual nova para o futuro. 
 Não se perquire, em matéria processual penal, se a nova lei é mais ou menos severa 
que a anterior, pois sendo a norma de caráter exclusivamente processual penal, sua 
aplicação é imediata, regulando toda a relação processual em curso ou a que se iniciar. 
Somente quando a lei processual expressamente dispor, poderá ela retroagir. Ao reverso, 
não terá este efeito. 
 Anote-se, porém, que em casos concretos, existem as chamadas normas mistas ou 
normas processuais penais, que abrigam naturezas diversas, de caráter penal e de 
caráter processual penal. São normas penais as que versam sobre o crime, a pena, efeitos 
da condenação, do jus puniendi. São normas processuais, as que regulam o processo desde 
o seu início até final da execução ou da extinção da punibilidade. Caso a norma abrigue tanto 
disposição de natureza penal, como de natureza processual, deverão ser obedecidos os 
princípios da ultratividade e retroatividade da lei mais benigna. 
 
1.2. Previsão na lei nova da ultratividade da lei anterior: através de previsão expressa 
pode ocorrer que a norma processual não tenha efeito imediato. O nosso atual CPP, não foi 
aplicado totalmente quanto entrou em vigência. Isto porque na Lei de Introdução ao CPP, o 
legislador estabeleceu no art. 6º que "as ações penais, em que já se tenha iniciado a 
produção da prova testemunha, prosseguirão, até a sentença de primeira instância, com o 
rito estabelecido na lei anterior". 
 Com base neste exemplo, temos que no silêncio da norma processual penal, por 
força do art.2º do CPP, sua incidência será sempre imediata, aplicando-se, desde logo, sem 
prejuízo da validade dos atos realizados sob vigência da lei anterior. Porém, como exceção, 
através de previsão expressa poderá haver ultratividade da norma anterior. 
 
1.3. Vigência e revogação: Em princípio a lei processual é elaborada para viger por tempo 
indeterminado. Na publicação, por expressa disposição legal, deve constar quando a norma 
processual terá vigência. Encerra-se a vigência com a revogação da lei, que pode ser 
expressa ou tácita. A revogação pode ser ainda parcial (derrogação) ou total, quando é 
chamada de ab-rogação. 
 
 
22 
 
A CONSTITUIÇÃO E O PROCESSO PENAL 
 
 A Constituição, entendida como base de todo o ordenamento jurídico, traz os 
fundamentos de todos os ramos do direito, que são dela derivados, sendo que toda a 
legislação infraconstitucional a ele deve prestar vassalagem, sob pena de 
inconstitucionalidade. Sendo assim, óbvio que o direito processual penal deve a ela 
obediência, sendo que os seus postulados permeiam todo o campo direito processual. Na 
lição de José Frederico Marques: ...o Direito Constitucional sem invadir, propriamente, o 
campo particular de cada uma das Ciências Jurídicas representa para elas, segundo Santi 
Romano, uma espécie de intróito, porquanto as conduz até os limites em que se manifestam 
suas diversas peculiaridades, para deixá-las livres desse ponto em diante, sem todavia 
perdê-las de vista um só momento. É que a lei maior contém em si os fundamentos 
institucionais e políticos de toda a legislação ordinária, mormente quando se coloca, com 
normatividade rígida, no ponto culminante da hierarquia das fontes do Direito, tal como se 
sucede, entre nós, desde a promulgação da primeira das nossas Constituições Republicanas 
(Elementos de Direito Processual Penal, vol.01, p.78). 
 Ademais, do estudado até agora podemos observar que o processo penal, da forma 
como se encontra estruturado, representa mais um meio de autolimitação do Estado do que 
um instrumento destinado à persecução penal. De fato, a aplicação da lei penal por parte do 
Estado-Administração, com a conseqüente satisfação de seu ius puniendi, somente pode se 
dar através de um processo penal que garanta ao indivíduo acusado o contraditório e a 
ampla defesa, além de outras garantias existentes em nível constitucional, que 
consubstanciam o devido processo legal. 
 O direito processual penal, portanto, na lição de Afrânio da Silva Jardim “é fruto do 
avanço civilizatório da humanidade resultante da jurisdicialização do poder punitivo do 
Estado...Por isso, um código democrático há de ser informado pela necessidade de tutelar os 
direitos e garantias individuais, sem se descurar, entretanto, da defesa social” (Direito 
Processual Penal, p. 307). 
 Desse modo, em razão da relevância dos valores que são tutelados pelo processo 
penal (liberdade do indivíduo, limitação do Poder Estatal e segurança do meio social), se faz 
necessário que a própria Constituição Federal trace os vetores de tais ordenamentos, não se 
podendo entender o processo penal, sem que se entenda os princípios constitucionais que o 
modelam. 
 Neste ponto, cabe destacar a lição de Ada Pelegrini Grinover, Antônio Scarance e 
Antônio Magalhães Filho, que lecionam: “Todo o direito processual, como ramo do direito 
público, tem suas linhas fundamentais traçadas pelo direito constitucional, que fixa a 
estrutura dos órgãos jurisdicionais, que garante a distribuição da justiça e a declaração do 
direito objetivo, que estabelece alguns princípios processuais; e o direito processual penal 
chega a ser apontado como direito constitucional aplicado às relações entre autoridade e 
liberdade. Mas além de seus pressupostos constitucionais, comuns a todos os ramos do 
direito, o direito processual é fundamentalmente determinado pela Constituição em muitos 
de seus aspectos e institutos característicos” (Teoria Geral do Processo, p.78) 
 
23 
 Na mesma toada é a lição de Hermínio Marques Porto para quem: “As normas 
processuais penais têm sua fundamentação em preceitos de direito constitucional quando 
enunciados direitos individuais e do Estado. A atividade jurisdicional expressa, em relação a 
princípios constitucionais que são sua fonte, forma de atividade do Estado com sentido de 
complementar a tutela que ele enumera e garante” (Júri, procedimentos e aspectos do 
julgamento, p.29). 
 Assim, entendida que é a Constituição Federal que dá forma ao processo penal, 
temos que as leis processuais são também meios de se garantir a liberdade do indivíduo. As 
formas impostas pelos procedimentos, a obediência aos prazos processuais, o sistema de 
nulidades, a garantia do duplo grau de jurisdição –sistema recursal-, tudo isto está a garantir 
que o indivíduo não tenha tolhida sua liberdade, a não ser que lhe garanta um devido 
processo legal (constitucional). 
 Posto isto, fica evidente o porquê nosso sistema processual é o acusatório, pois é 
neste que as garantias constitucionais existentes são mais bem reafirmadas. De fato, é neste 
sistema que se garante a imparcialidade das partes, pois se entrega a cada um dos sujeitos 
processuais funções exclusivas;é ainda nele que se garante uma melhor defesa, ao se 
adotar o contraditório e a publicidade como regra; é nele que se proíbe as provas ilícitas e 
ilegítimas etc. 
 A Constituição Federal molda todo o processo penal, de modo que este somente é 
tido como perfeito, quando obedece aos mandamentos insculpidos na Lei Maior. Vale aqui 
registrar também o pensamento de Eugênio Pacelli de Oliveira, para quem: “O devido 
processo penal constitucional busca, então, a realização de uma justiça penal submetida as 
exigências de igualdade efetiva entre os litigantes. (O processo penal brasileiro, p. 09).” 
 Assim, diante desta perspectiva o processo penal tanto serve ao controle social, 
como também é instrumento garantidor de direitos. Aqui calha à lição de Antônio Alberto 
Machado, que bem leciona: 
 
O processo penal é um campo do direito e da ciência jurídica tão permeada de 
valores e por questões políticas que acaba se constituindo numa seara especialmente 
polêmica. Pudera, trata-se do ramo do direito que disciplina mecanismos por meio 
dos quais o Estado pode constranger as liberdades individuais e impor penas aos 
indivíduos. Não há dúvida que funciona como um sistema de controle social. 
Mas é um sistema contraditório. Ao mesmo tempo que serve ao controle e à 
repressão, o processo penal serve também como garantia de direitos 
fundamentais. Se por um lado é um instrumento que pode levar a supressão 
da liberdade do indivíduo, por outro, pode também garantir a libertação 
deste último, assegurando-lhe a efetivação dos direitos individuais básicos. 
 
 E continua o autor: 
 
A bem dizer, mais do que simples mecanismo de persecução penal, o processo é um 
verdadeiro instrumento de garantia: a garantia política de que a pena criminal 
 
24 
somente será aplicada por meio de um procedimento formalmente estabelecido, já 
que toda a punição deve ser procedida de um processo e um julgamento formal, nos 
termos da nulla poena sine judicio, assegurados sempre o contraditório e a ampla 
defesa aos acusados. (Teoria Geral do Processo Penal, Ed. Atlas, p.1.) 
 
 
PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO PROCESSO PENAL 
 
1. Noções gerais (conceito, diferenças entre princípios e regras e características 
dos princípios): Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que princípio é, por definição, o 
"mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que 
se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua 
exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do 
sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico..."1 
 Trata-se, portanto, de norma dotada de generalidade e abstração superior às 
demais, que se irradiam e imantam o sistema jurídico, dando sustentáculo a esse, e 
vinculando toda a interpretação do sistema jurídico. 
 Diante do próprio conceito, verifica-se claramente a posição de destaque que os 
princípios ocupam em nosso ordenamento. O conhecimento do que sejam princípios e para 
que eles servem são de enorme importância para a compreensão do ordenamento jurídico 
que eles orientam. 
 Cada ramo do direito possui princípios próprios, que conformam todo o sistema, os 
quais podem estar expressos ou implícitos, na Constituição Federal e em outros dispositivos 
legais. O Direito Processual Penal seguindo a regra é conformado por uma série de 
princípios, que dão significado aos dispositivos contidos no Código de Processo Penal. 
 Os princípios processuais penais podem ser conceituados como os postulados 
fundamentais da política processual penal de um Estado. Os princípios ditam o Processo 
Penal do Estado, informando o tipo do processo, caracterizando-o. Trata-se de ponto de 
partida do sistema. Os princípios processuais penais são encontrados tanto na Constituição 
Federal (princípios constitucionais), como na legislação infraconstitucional. 
 
2. Espécies: 
2.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS PERTINENTES 
➢ Princípio da igualdade (art. 5o, caput): é a chamada isonomia processual. Em juízo, as 
partes devem ter as mesmas oportunidades, sendo tratadas de forma igualitária, sendo 
eventual tratamento desigual, deverá ser justificado em prol de um fator considerado 
constitucionalmente relevante. Assim, a acusação e defesa estão sujeitas aos mesmos 
direitos, ônus, obrigações e faculdades. Para que haja tal equilíbrio, não se permite que o 
réu exerça sua defesa técnica pessoalmente, salvo se tiver habilitação técnica (art.263). Faz-
se isto para que não se comprometa o princípio da igualdade. 
 
1 Elementos de Direito Administrativo. Ed. RT, São Paulo, 2001, pg. 771. 
 
25 
 Nosso direito, visando favorecer o réu, consagra alguns institutos somente em seu 
favor, como, por exemplo, o protesto por novo júri; os embargos infringentes e de nulidade; 
a revisão criminal da sentença condenatória, e a proibição da reformatio in pejus. Porém, 
tais institutos não são exceção à regra, mas sim obediência ao outro princípio que vigora no 
processo penal, o do favor rei ou favor libertatis. 
➢ Princípio da legalidade (art. 5o, inc. II): todos os procedimentos e os sujeitos 
processuais devem pautar suas condutas de acordo com as leis regentes. Porém, nota-se 
que no processo penal, a legalidade não é tão rígida quanto no direito penal material, 
porquanto são admitidas interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o 
suplemento dos princípios gerais do direito da lei processual penal. 
 
2.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS 
➢ Princípio da inafastabilidade da apreciação judicial (art. 5o, inc. XXXV). “a lei não 
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Trata-se do princípio 
que garante o amplo acesso ao Judiciário, bem como o direito de ação. Dirige-se este 
princípio aos três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário). De fato, o Legislativo não 
pode editar leis que excluam, de modo desproporcional, o controle judicial de determinados 
atos, não podendo o Executivo, por sua vez, promulgar medidas provisórias ou outros atos 
normativos no mesmo sentido. Já o Poder Judiciário não se pode furtar de apreciar qualquer 
lesão ou ameaça a direito, de qualquer espécie que seja, sendo que o magistrado, por 
exemplo, não pode deixar de julgar. 
➢ Princípio do Devido Processo Legal: decorre da disposição adotada pelo art.5º, LIV, 
da CF, que dispõe: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal. Trata-se tal disposição do due processe of law, ou seja, o processo conforme 
a lei. Todo o processo para que seja legal e tenha validade, deve seguir as disposições 
traçadas em lei, sendo que sua desobediência gera nulidade ou anulabilidade dos atos 
processuais. Assim, o processo penal deve permiti a ampla possibilidade de defesa do réu, 
permitindo que ele produza provas, apresente alegações e demonstre sua inocência. 
Ademais, ao reverso, permite ao órgão acusador demonstrar ao magistrado, pelos meios 
legais, a responsabilidade penal do indivíduo que violou a lei penal. 
 Este princípio pode ainda ser visto por dois significados: 1º) ninguém pode ser 
privado de sua liberdade sem o devido processo legal e 2º) toda pessoa tem o direito de 
conhecer previamente todas as regras de processo penal. 
➢ Princípio do Juiz Natural: ou do Juiz constitucional, que é aquele pré-constituído por lei 
para apuração da infração penal. Praticada a infração penal, seja qual for, o seu autor já 
sabe por qual órgão jurisdicional será julgado. Pode ser compreendido em seu dúplice 
aspecto: a) proibição de juízo ou tribunal de exceção - art.5º, XXXVII, da CF - não 
pode ser criado órgão formado ou não por membros do Poder Judiciário, para o julgamento 
de fato pretéritos, e b) garantia do juiz competente, que implica no julgamento do autor 
do fato pelo órgão jurisdicional com previsãoconstitucional. Por este princípio ninguém será 
processado e nem sentenciado senão pela autoridade competente. Nota-se que a existência 
de Juízes Especiais não viola o referido princípio. Por razões objetivas, estes Juizados 
 
26 
Especiais se separam dos órgãos ordinários; mas por terem assento constitucional não 
violam tal princípio. 
➢ Princípio da Imparcialidade do Juiz: qualquer que seja o processo (civil, trabalhista, 
penal, etc.), a parte tem direito a um julgamento isento e imparcial. Não pode haver 
parcialidade do órgão jurisdicional na solução da lide, pois aí haveria insegurança jurídica, 
não se atingindo a principal finalidade do Estado que é a paz pública. 
 Para garantir a imparcialidade do juiz, a ele são asseguradas uma série de garantias 
constitucionais (vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos) e 
prerrogativas (foro especial). Já ao Poder Judiciário como um todo, para se garantir sua 
independência, temos que ele possui orçamento e direção próprios, visando garantir sua 
isenção. 
➢ Princípio do promotor natural (art. 5o, LIII): significa que ninguém será processado 
senão pelo órgão do Ministério Público, dotado de amplas garantias pessoas e institucionais, 
de absoluta independência e liberdade de convicção e com atribuições previamente fixadas e 
conhecidas. Somente o Promotor de Justiça pode exercer as funções do parquet, vedada a 
indicação de promotores "ad hoc" ou dativos. É vedada, em razão deste princípio, a 
designação casuística de promotor, pela Chefia da Instituição, para promover a acusação em 
caso específico, uma vez que tal procedimento chancelaria a figura do chamado "promotor 
de exceção". 
➢ Princípio do Contraditório: é conhecido também por princípio da bilateralidade da 
audiência, tendo assento constitucional (Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, 
com os meios e recursos a ela inerentes). Decorre do brocado “audiatur et altera pars”. É a 
possibilidade conferida aos contendores de praticar todos os atos tendentes a convencer o 
juiz. Em homenagem a este princípio, temos que proposta a ação penal, o juiz possibilita ao 
acusado a autodefesa e a defesa técnica, sendo que através da citação ele toma 
conhecimento da acusação, sendo chamado para se defender. 
 O réu pode contrariar a acusação que lhe é feita, não podendo ser condenado sem 
exercer o direito de defesa. Visando garantir a plena eficiência deste princípio, temos que o 
réu sempre contará com a assistência de uma defesa técnica. Nota-se que o contraditório 
deverá ser exercido através de um devido processo legal, sendo que dele decorrem duas 
regras: a) igualdade processual (as partes são possuidoras dos mesmos direitos e 
obrigações, sendo à acusação e à defesa garantidas a produção das mesmas provas 
admitidas em direito, cabendo o seu ônus a quem fizer a alegação), e b) liberdade 
processual (pode-se ou não exercer os seus direitos, podendo o réu constituir o advogado 
que bem entender; indicar e ver produzida toda e qualquer prova, desde que admitida pelo 
direito etc.). 
 Em resumo, somente pode o juiz dizer qual é o direito aplicado se ouvida uma parte 
for dada a outra o direito de se manifestar em seguida. 
 Há duas espécies de contraditório: 
1º) diferido – adiado, postergado e vem, depois da produção de provas. 
2º) imediato – direto, exercido no momento da produção de provas. 
 
27 
 O pressuposto do principio do contraditório é o direito de ser informado. Em resumo, 
possibilidade de contraditar, argumentar e provar. É diferente ao que ocorre com a ampla 
defesa, pois o contraditório a torna real e fundamentada. 
 Anote-se que na fase do inquérito policial não há contraditório, que fica postergado 
para o caso do Estado ingressar ou não com a ação penal. 
➢ Princípio da ampla defesa (art. 5.°, inc. LV): “Aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa 
com os meios e recursos a ela inerentes”. O processo não é um procedimento inquisitório, 
mas acusatório. Os litigantes devem ter a oportunidade de apresentarem defesa em sentido 
amplo. O Estado possui o dever de fornecer ao acusado a mais ampla defesa seja pessoal 
(autodefesa) ou técnica (defensor) e de prestar assistência jurisdicional e gratuita aos 
necessitados. Também, compreende esse principio o dever de observar a ordem processual 
de modo que a defesa sempre se manifeste por último. Há exceções a essa ordem, como no 
caso de contra razões de recurso e a recusa peremptória dos júris em Plenário, que serão 
analisados mais a frente. 
➢ Princípio da Inocência: tem assento constitucional estando previsto no art. 5º, LVII, da 
CF, que dispõe: "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença 
penal condenatória". Trata-se da presunção de inocência, que significa ausência de culpa. 
Desdobra-se em 03 aspectos, como anotado pelo Professor Fernando Capez: a) no momento 
da instrução processual, como presunção legal relativa de não-culpabilidade, inverte-se o 
ônus da prova; b) no momento da avaliação da prova, deve-se valorá-la em favor do 
acusado quando houver dúvida, e c) no curso do processo penal, como paradigma de 
tratamento do imputado, especialmente no que concerne à análise da necessidade da prisão 
processual. 
 Tal princípio não sofre qualquer violação com a permissão pelo nosso ordenamento 
das prisões cautelares (em flagrante, preventiva, temporária e provisória), das vedações de 
concessão de liberdade provisória pela Lei de Crimes Hediondos e dos Crimes Organizados. 
➢ Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos: são 
inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, da CF). Tais 
provas constituem uma das provas vedadas (provas produzidas contra o ordenamento 
jurídico) pelo nosso ordenamento. São proibidas tanto as provas ilícitas (vedada por regra de 
direito material), como as ilegítimas (vedada por regra de direito processual). 
▪ Também são vedadas as provas ilícitas por derivação, que são 
aquelas em si lícitas, mas produzida a partir de outra ilegalmente 
obtida (Ex: de uma confissão obtida mediante tortura, consegue 
apreender produtos do crime). Tal vedação decorre da adoção da 
teoria dos "frutos da árvore envenada - fruits of the poisonous tree", 
segundo a qual o vício da planta se transmite aos seus frutos. 
▪ Anote-se, porém, que em favor do réu, face ao princípio da 
proporcionalidade, é pacífica a jurisprudência no sentido de que tal 
prova será admitida. Como exceção, se admite pro societate. 
 
28 
➢ Princípio do favor rei: por este princípio temos que na dúvida beneficia-se o acusado, 
havendo recursos exclusivamente em seu favor, não havendo coisa soberanamente julgada 
contra si. 
➢ Princípio da Publicidade: tem assento constitucional (Art. 5º, LX: "a lei só poderá 
restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse 
social o exigirem" e art. 93, IX, "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão 
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o 
interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a 
seus advogados, ou somente a estes"). 
 Os atos processuais em regra são públicos, de modo a dar credibilidade na justiça. 
Visa, ainda, frear os desmandos, as arbitrariedades e a corrupção. Porém, tal princípio não é 
absoluto. Às vezes há interesses maiores, que não podem ser prejudicados, como a pessoa 
do acusado, de seus familiares, ou, ainda, a vítima e sua família, etc.. Destarte, quando a 
publicidade for mais prejudicial do que benéfica, ela poderá ser restringida. Como exceção, 
temos o artigo 792, § 1º, do CPP; o da votação sigilosa nos crimes julgados

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