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1 PLANO DE ENSINO CURSO: Direito PERÍODO: 5º Semestre 2017/1 e 4º Semestre 2017/2 TURNO: Diurno/Noturno DISCIPLINA: Teoria Geral do Processo Penal CARGA HORÁRIA SEMANAL: 1,5 horas/aula CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 30 horas/aula I – EMENTA Desenvolvimento histórico do processo penal. O processo como uma das formas de composição da lide penal. Jus puniendi. Unidade ou dualidade do processo penal. Princípios de direito processual penal. Eficácia da lei no tempo e no espaço. A interpretação da lei. Fontes da matéria. II – OBJETIVOS GERAIS Promover a compreensão e a importância do Direito Processual Penal, assim como apresentar e discutir o significado dos institutos fundamentais do Direito Processual Penal; de forma a estimular a capacidade de análise, domínio de conceitos e terminologia jurídica, argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais envolvidos. III – OBJETIVOS ESPECÍFICOS Preparar para utilização de elementos de doutrina, jurisprudência e legislação componentes da técnica jurídica do Direito Processual Penal, com uma visão crítica e consciência sociopolítica. Promover o desenvolvimento das competências e habilidades definidas no perfil do egresso, quais sejam: • Leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico- jurídicas; • Interpretação e aplicação do Direito; • Pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito; • Adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias, administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos; • Correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito; 2 • Utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica; • Julgamento e tomada de decisões; • Domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e aplicação do Direito. IV – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. Introdução ao Processo Penal. 1.1. O Direito de Punir. 1.2. Abordagem e Evolução Histórica do Direito Processual. 2. Pretensão Punitiva e Lide Penal. 2.1. O Direito de Punir e o Direito de Liberdade. 2.2. O Processo Penal como Instrumento da Pretensão Estatal. 2.3. O Processo Penal como Garantia do Cidadão. 2.4. Finalidade do Processo e o Devido Processo Legal. 3. Sistemas Processuais. 3.1. Origem, Evolução Histórica, Importância. 3.2. Do Processo Acusatório. 3.3. Do Processo Inquisitivo. 3.4. Do Processo Misto. 3.5. O Juiz, o Ministério Público e a Polícia Judiciária. 3.6. Processo e Procedimento. 3.7. Fases Da Persecução Penal. 4. Norma Processual Penal. 4.1. Fontes das Normas Processuais. 4.2. Leis Locais de Organização Judiciária. 4.3. Aplicação da Lei Processual no Tempo. 4.4. Aplicação da Lei Processual no Espaço. 4.5. Interpretação da Lei Processual Penal. 5. A Constituição Federal e o Processo Penal. 5.1. Princípios Constitucionais do Processo Penal. 6. A Humanização da Justiça Penal. 7. Temas e Casos Práticos da Área voltados para a Realidade Regional de Inserção do Curso. V – ESTRATÉGIA DE TRABALHO 3 A disciplina será desenvolvida com aulas expositivas e práticas, sendo incentivada a participação dos alunos nos questionamentos e discussões apresentadas, acompanhadas de metodologias que privilegiam a integração entre teoria e prática, entre elas: estudos de casos, análise de jurisprudência, elaboração de trabalhos práticos e produção de textos, realização de seminários (elaborados pelos alunos da disciplina) e ciclo de palestras (com professores convidados, profissionais da área e/ou de áreas afins), quando pertinente. VI – AVALIAÇÃO A avaliação será realizada por intermédio de provas regimentais e atividades desenvolvidas em sala de aula, conforme solicitação do professor da disciplina, tendo como referência as metodologias adotadas de integração entre teoria e prática. VII – BIBLIOGRAFIA Bibliografia Básica: Ada Pellegrini Grinover et all - Recursos No Processo Penal - 7ª Ed. 2011 – Editora RT. Ada Pellegrini Grinover et all - As Nulidades No Processo Penal - 12ª Ed. Revista e Atualizada - Editora RT. ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 3. ed. Bahia: JusPodivm, 2009. BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Direito Processual Penal. v. I. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. JESUS, Damásio E de. Código de processo penal anotado. São Paulo: Saraiva, 2007. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 5ª ed. São Paulo: RT, 2008. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de processo penal. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 2. Bibliografia Complementar: DEMERCIAN, P. H. Curso de processo penal. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. DEVECHI, Julio César C. Manual básico de processo penal. 3ª ed. Curitiba: Juruá, 2008. 4 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas: Millennium/Bookseller, 2003. v. 2. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 2006. NORONHA, Edgar Magalhães. Curso de direito processual penal. São Paulo: Saraiva, 2005. NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 8ª ed. São Paulo: RT, 2008. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2008. 5 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 1. O litígio e sua composição: o homem tem sempre vários interesses sobre os bens da vida, e na hipótese de não poder conservar todos, tem que sacrificar os menos importantes. O conflito de interesses ocorre sempre que houver incompatibilidade entre os interesses postos em relação. Quando sobre um bem existem dois ou mais interesses, instala-se o que nos chamamos de conflito de interesse (pretensão). Se nenhuma das pessoas desistir de seu interesse, teremos o que chamamos de lide, que é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita. Interesse: é a disposição de satisfazer uma necessidade. É a vontade de conquistar algo. Pretensão: é a exigência de subordinação de um interesse alheio a um interesse próprio. Lide: o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Para compor tal conflito de interesses, vários modos foram utilizados na história humana, entre eles: a) Força física: nas fases primitivas da civilização dos povos, inexistia um Estado suficientemente forte para superar os ímpetos individualistas dos homens e impor o direito acima da vontade dos particulares. De fato, não existia um órgão estatal que, com soberania e autoridade, garantisse o cumprimento do direito e nem tampouco havia leis (normas gerais e abstratas impostas pelo Estado aos particulares). Desse modo, quem pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria força e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfação de sua pretensão. Até mesmo a própria repressão aos atos criminosos se fazia em regime de vingança privada, sendo que quando o Estado chamou a si o jus punitionis, ele o exerceu inicialmente mediante seus próprios critérios e decisões, sem a interposição de órgãos ou pessoas imparciais independentes e desinteressadas. A esse regime chama-se autotutela (ou autodefesa), consistindo no uso da força, tratando-se da primeira forma de solução dos conflitos. As partes envolvidas, exercendo a autodefesa, punham fim a contenda. Como se verifica facilmente, a autodefesa era a negação da própria justiça, pois o mais fraco, mesmo que detivesse o direito, não podendo contar com o auxílio externo, não tinha como resistir e o cedia ao mais forte. A guerra é o sinônimo máximo douso da força para a solução de conflitos. Duas são as características da autotutela: a) ausência de juiz distinto das partes e b) imposição da decisão por uma das partes à outra. A força física não prevaleceu como regra, ante a evolução do homem e da complexidade dos meios sociais. Atualmente, existe em nosso ordenamento jurídico apenas as seguintes exceções à autotutela, quais sejam, prisão em flagrante por qualquer do povo (artigo 302, CPP), e os institutos do estado de necessidade e legitima defesa. O exercício da autotutela fora das hipóteses legalmente admitidas configura ilícitos penais, tipificados nos textos do arts. 345 e 350, do Código Penal. 6 Como crítica a este meio de solução de conflitos, temos que ela gerava injustiça e impunidade, pois o mais fraco, embora sendo prejudicado, certamente não reagiria. Ademais, se ninguém por ele assumisse a defesa-vingança, seu direito pereceria. b) Composição: com a evolução e o abrandamento do emprego da força, surge "a composição" como forma de solução de litígios. Ela ocorre quando uma das partes integrantes do conflito abre mão de seu interesse em favor da outra ou quando ambas reúnem parcelas de sua pretensão para solucionar pacificamente suas divergências. São três as formas de autocomposição: a) desistência (renúncia à pretensão); b) submissão (renúncia à resistência oferecida à pretensão), e c) transação (concessões recíprocas). Todas essas soluções têm em comum a circunstância de serem parciais - no sentido de que dependem da vontade e da atividade de uma ou de ambas as partes envolvidas. Tem aplicação na sede penal, sendo que no direito brasileiro, com o advento da Lei n.º 9099/95 (Lei sobre o Juizado Especial Criminal), foi inserido no direito positivo a composição como forma de solução de litígio. Para tanto, basta conferirmos a redação dos artigos 72 e 89 da Lei n.º 9.099/95, onde é permitida a transação penal. Como característica, a autocomposição apresenta convergência de vontades. c) Processo: ultrapassadas as formas de uso da força e composição, com a evolução chegou-se ao instrumento do processo para a solução de conflitos. Pode se definir processo como o conjunto de normas e principio reguladores do instrumento pelo qual se obtém a exteriorização da vontade concreta da lei. Por tal instituto, a solução do conflito vem através de uma decisão, onde prevalece o direito sobre a força. No processo, o conflito passa a ser decidido por alguém que não esteja nele envolvido, garantindo a imparcialidade na solução, com força suficiente para ser respeitada por todos e, principalmente, pelos litigantes. O Estado despontou como o único terceiro capaz de desempenhar esta função, isto porque se encontra distante das partes (imparcialidade) e têm força para impor suas decisões aos litigantes e aos demais membros da sociedade. No caso do direito penal, o Estado, para alcançar o bem-estar social, passou a elaborar leis tutelando valores importantes para a paz social, sendo que do descumprimento destas normas, que são gerais e abstratas, enseja a aplicação de penas. Em um determinado momento histórico, o Estado passou a monopolizar a administração da justiça, sendo que ninguém pode sobrepor-se a ele na solução de qualquer litígio, nem mesmo a pessoa detentora do direito lesado (pelo direito penal é crime fazer justiça com as próprias mãos - art.349 do CP). Foi destacada uma função própria do Estado para a solução de conflitos, que é o Poder Judiciário, obrigado, constitucionalmente, a prestar a tutela jurisdicional a todos que o procurem (art.5º, XXXV, da CF). Assim, o Estado assume o exercício da função/poder jurisdicional, através da jurisdição. Os juízes nascem em substituição às partes que não podem fazer justiça com as próprias mãos e a essa ordem estatal convencionou-se chamar- se de jurisdição. A jurisdição, assim, é uma das funções do Estado, mediante a qual este substitui, na pessoa do juiz, aos titulares dos interesses em conflito para imparcialmente aplicar o direito 7 ao caso concreto, a fim de fornecer uma pacifica solução ao litígio, reafirmando a autoridade da ordem jurídica. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO A jurisdição tem por características: ➢ Substitutividade: o Estado, através das pessoas previamente designadas, ou seja, os juízes, substitui, com uma atividade sua, à vontade dos litigantes, a fim de promover a justa composição da lide, pela correta aplicação das regras jurídicas. ➢ Inércia: a jurisdição é inerte, somente agindo somente diante de provocação da parte. Somente algumas exceções existem, como a concessão de hábeas corpus de ofício, ou a execução de pena por iniciativa do juízo (artigo 105, da LEP). ➢ Imutabilidade: os atos jurisdicionais, ao contrário dos legislativos e dos administrativos, são os únicos passíveis de transitar em julgado, isto é, de se tornarem imutáveis, não podendo ser revistos ou modificados. ➢ Lide: a existência da lide é uma situação constante na atividade jurisdicional, especialmente quando se trata de pretensões insatisfeitas que poderiam ter sido atendidas espontaneamente pelo obrigado. Mesmo assim, há situações, no processo penal, em que a lide não estará presente. É o que ocorre, por exemplo, quando há pedido de absolvição da acusação, nesse caso, o processo continua, a atividade jurisdicional mantém o curso, sem que a lide exista. Quando o indivíduo exerce o direito de ação, invoca a prestação da tutela jurisdicional, dando ensejo ao processo, instrumento do qual se vale o Estado para conhecer o fato; as partes; colher provas; valorá-las, e ditar sua decisão através do juiz. O processo tem início com a ação e evolui até o seu ato final que é a sentença. Trata-se de uma sucessão de atos coordenados cujo objetivo é a solução de conflitos. O processo é hoje a principal forma de solução de litígios, sendo que o uso da força e a composição são formas subsidiárias de solução da lide. Resumindo Ação: é o direito público subjetivo de se obter do Estado uma decisão acerca da lide objeto do processo. Processo: é o instrumento de atuação da jurisdição. É o modo através do qual o Estado Juiz se vale para exercer o poder jurisdicional. 2. Direito de Punir - jus puniendi e jus persequendi: o direito de punir pertence ao Estado e pode ser abstrato ou concreto. Monopolizando a Administração da Justiça, somente ao Estado é reservado o dever de punir alguém que tenha cometido uma infração penal, até porque, sempre aparecerá como vítima mediata de todo e qualquer ilícito penal. De fato, ocorrendo um delito, teremos a vítima imediata (o que sofre a lesão ao bem jurídico do qual é titular) e a mediata (titular do mandamento proibitivo não observado pelo sujeito ativo da infração penal). 8 O Estado realiza este direito por meio do Estado Judiciário, após ter sido instaurada uma lide penal, sendo o delito de ação penal pública, condicionada ou incondicionada. No caso de ação penal privada, cabe ao ofendido ou aos seus representantes movimentar a máquina judiciária para aplicação da sanção penal. Porém, para que o Estado pleiteie a punição de alguém, antes deverá dizer qual são as condutas proibidas. Assim, através do Poder Legislativo são elaboradas leis penais, que culminam sanções no caso de seu descumprimento. Com a lei nasce o jus puniendi in abstrato; quando alguém viola a lei nasce o jus puniendi in concreto. Jus puniendi pode ser definido como o direito de impor sanções. Quando alguém realizar um comportamento que aperfeiçoa uma norma penal incriminadora, pouco importando se prevista na parte especial do Código Penal ou na Legislação penal extravagante, tem-se o nascimento da pretensão punitiva (pretensão que o Estado tem em punir alguém). Será instaurado o processo legal para se aplicar a norma penal mais adequada ao caso concreto. O poder depunir pertence, portanto, ao Estado. Mas, o poder de punir do Estado não é ilimitado. Inicialmente, há que se perquirir se existe previsão legal do comportamento tido como delitivo devendo ser observados os princípios da legalidade e da anterioridade, contidos no art. 1º do CP. Trata-se, ainda, de princípio constitucional, inserido no rol dos direitos e garantias individuais (art.5º, XXXIX). O jus puniendi só existe se houver lei anterior que o autorize. Outro limitador deste poder é a obrigatoriedade de se punir somente o autor do fato (autoria em sentido amplo), que abarca a co-autoria e participação. Além disso, para se aplicar a pena, há que se observar o processo e o julgamento. É o princípio nulla poena sine judicio. O Estado não pode auto-executar o seu direito de punir. A pena somente pode ser aplicada através do processo e somente através de um juiz se pode reconhecer a culpa de quem transgrediu o ordenamento jurídico. Assim, o Estado, além do direito de punir, dispõe também do direito de ação. Dá-se, portanto, a persecutio criminis, na qual o Estado-Administração, através de um órgão próprio (Ministério Público) pede ao Estado-Juiz a aplicação da lei penal ao caso concreto. Emerge daí um conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida, mormente porque o Estado tem a pretensão de punir e o infrator tem a pretensão de permanecer em liberdade. O jus persequendi pode ser definido como o direito subjetivo do Estado, exercido pelo Ministério Público, parcela do Estado-Administração encarregada de postular, perante o Estado-juiz, a condenação do infrator. É o promotor de justiça o dominus litis, o dono da ação penal pública, o detentor da titularidade do processo-crime. Registre-se até aqui, para melhor compreensão da matéria, a lição de Magalhães Noronha, que leciona: “É o Estado o titular do direito de punir. O crime lesa não apenas direitos individuais, mas sociais também, pois perturba as condições da harmonia e estabilidade, sem as quais não é possível a vida comunitária. Mas incumbe ao Estado –que é um meio e não um fim- a consecução do bem comum, que não conseguiria alcançar se não estivesse investido do jus puniendi, do direito de punir o crime, que é o fato mais grave que o empece na consecução daquela finalidade. Esse direito estatal não é, entretanto, ilimitado. Nas sociedades civilizadas vige, em regra, o princípio da reserva legal –nullum crime, nulaa 9 poena sine lege- que limita o direito de punir. O conjunto de normas incriminadoras constitui, então, o direito objetivo, que circunscreve ou delimita o jus puniendi. Com efeito, ao mesmo tempo em que oi Estado incrimina um fato, declara que não poderá punir quem não o praticar. Mas mesmo depois de cometido o delito, não se pode discricionariamente aplicar a sanção, isto é, a pena ou conseqüência do crime. Esta só tem lugar mediante processo e julgamento, pois a ação punitiva estatal atinge o status libertatis do indivíduo, donde a necessidade de obediência a outro princípio liberal: Nulla poena sine judicio. Conseqüentemente, deve o Estado, além do jus puniendi, dispor de outro direito que vai realizar aquele: é o jus persequendi ou jus persecutionis (direito de ação), que, por assim dizer, realiza o jus puniendi”. (Curso de direito processual penal, p.03). Do conflito entre a pretensão de punir X pretensão de permanecer em liberdade faz eclodir a lide penal, que será dirimida com a entrega da prestação jurisdicional pelo magistrado. Tão logo a infração penal seja praticada, o Estado, através de seus órgãos, inicia a atividade persecutória, que se traduz na investigação do fato. Amealhadas provas acerca da autoria e da materialidade pela Polícia Judiciária (Polícia Civil), outro órgão próprio, o Ministério Público, ingressa com ação penal deduzindo a pretensão penal em juízo. A persecução penal apresenta dois momentos distintos: 1) investigação criminal, de caráter inquisitivo e preparativo e 2) o da ação penal, deduzido em juízo. O processo somente se inicia na segunda fase da persecução, quando se forma a chamada relação jurídica processual. 3. O processo: do início ao final, o processo compreende a prática de diversos atos que vão viabilizar o julgamento. Como visto, o Estado Administração está impedido de fazer justiça com as próprias mãos, razão pela qual criou um órgão adequado para deduzir a pretensão punitiva perante o Estado-Juiz, esse órgão é o Ministério Público. O Ministério Público, através do Promotor de Justiça, deduz a pretensão punitiva em Juízo. O acusado é citado para se defender e, após uma série de atos, onde é assegurado o contraditório e ampla defesa, o Juiz julga a causa penal: se procedente, impõe a sanctio iuris ao culpado; se improcedente, absolve-o. O processo é, então, um conjunto de atos que se sucedem, segundo a lei, até o ato final e mais importante: a sentença, que tem por fim dirimir a lide. O processo pode ser visto, ainda, como uma relação jurídico-processual, que se estabelece entre o Autor, o Réu e o Juiz. Essa relação jurídico-processual é: ➢ Autônoma: porque independe da existência da relação material discutida; ➢ Pública: porque somente o Estado dita a solução para a lide penal pelo Poder Judiciário. Ademais, a dedução da pretensão punitiva é feita por um órgão público; ➢ Unitária: porque é una no seu objeto, a solução da lide penal; ➢ Complexa: porque envolve uma série de direitos e obrigações entre os sujeitos processuais principais e terceiras pessoas; ➢ Progressiva e continuativa: porque os atos processuais são coordenados e praticados segundo a previsão legal, numa seqüência continuada. 10 4. Características do Direito Processual Penal: são características do direito processual penal- ➢ Autonomia: porque possui objeto e princípios que lhe são próprios. Não se confunde com o Direito Penal, sendo em verdade um ramo autônomo, com institutos e princípios próprios. Assim, enquanto o direito penal foca seus estudos nas figuras delituais penais, o direito processual penal mostra quais os meios para se obter a tutela jurisdicional penal. ➢ Instrumentalidade: embora seja autônomo, possui caráter instrumental, pois torna possível a atuação do Direito Penal objetivo. De efeito, o direito penal não é de coação direta, pois o jus puniendi do Estado somente se aplica mediante o processo. Deste modo, o direito processual penal se torna um instrumento para fazer atuar o direito penal. 5. O Direito de Punir x o Direito de Liberdade. O Processo Penal, diante da conceituação pode ser vista sob dois aspectos. De um lado, temos que o direito de punir do Estado existe para a proteção da sociedade de forma genérica. Este poder-dever somente pode ser invocado quando houver uma infração penal. Isto se infere do artigo 5º, LVII da CF, prevê que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Por tal razão, a pessoa somente poderá receber pena e ter seu direito de liberdade violado se for considerado culpado pelo Estado através de um órgão que exerça função jurisdicional. Desta feita, o processo penal serve para concretizar a pretensão punitiva do Estado. De outro lado, o processo penal é devido a todos que compõe a sociedade, assim como, a estrangeiros que estejam no País. Trata-se de direito público e subjetivo, não encontrando distinção relacionada à raça, cor, sexo, idade, posição social ou cultural, conforme previsto expressamente, no artigo 5., da Constituição Federal. Assim, uma pessoa somente poderá perder a liberdade se tiver um devido processo legal, razão pela qual é também instrumento de liberdade. 6. Finalidade do Direito Processual Penal: aplicação do direito penal objetivo, garantindo a paz social. Duas são, portanto, sua finalidade. A primeira é permitir a realizaçãoda pretensão punitiva surgida pela prática de um delito. A segunda é pacificar o meio social, com a punição do infrator penal. É importante verificar que o Processo Penal não é um instrumento de repressão do Estado, mas sim garantidor dos direitos individuais. Isto porque a pretensão punitiva estatal somente pode ser exercida quando esta seguir corretamente os trâmites processuais, havendo, desse modo, limitação do Poder Estatal, pois não pode efetivar sua pretensão, sem respeito ao contraditório, a ampla defesa etc. 7. Posição Enciclopédica: o Direito Processual Penal é um ramo do Direito Público. De fato, a diferença entre o direito público e o privado baseia-se em dois elementos: no sujeitos das relações reguladas e na finalidade da norma. Quando um dos sujeitos é o Estado Soberano, há o direito público; ao reverso, direito privado. Ademais, visando a aplicação da 11 pena, o direito processual penal visa garantir a paz pública e restaurar a ordem jurídica violada, defendendo, pois, interesses públicos. DA NORMA PROCESSUAL PENAL 1. Conceito e conteúdo: todo ramo do direito se expressa através de normas jurídicas. Estas normas, segundo o seu objeto imediato, podem ser divididas em normas materiais e instrumentais. As primeiras disciplinam imediatamente a cooperação entre pessoas e os conflitos de interesses ocorrentes na sociedade, escolhendo qual dos interesses conflitantes deve prevalecer. Já as normas instrumentais contribuem de forma indireta para a resolução dos conflitos interindividuais, mediante a disciplina da criação e atuação das regras jurídicas gerais ou individuais destinadas a regulá-los diretamente. Entre as normas instrumentais encontramos as normas processuais, cujo objeto é a disciplina do modo processual de resolver os conflitos mediante a atribuição ao juiz dos poderes necessários para resolvê-los e, às partes, de faculdades e poderes destinados à eficiente defesa de seus direitos, além da correlativa sujeição à autoridade exercida pelo juiz. No caso do processo penal temos que toda a norma jurídica que regula a atuação da jurisdição penal é uma norma de processo penal ou norma processual penal. A norma processual penal consiste nas disposições estatuídas sobre as atividades que se desenvolvem no processo e seus consectários lógicos, consistentes na regulamentação da atuação do juiz, das partes e de terceiros, quer fixando-lhes a respectiva posição processual, quer dispondo a respeito de suas recíprocas relações. A ordem que contém toda norma processual é a imposição à todos que intervêm no processo, de não se afastarem das regras de condutas traçadas, salvo quando a própria norma autorizar. Conforme as disposições que regulam, podemos separar as normas processuais em espécie. Temos as normas processuais penais que regulam as atividades que se desenvolvem para atuação do Poder Jurisdicional do Estado na esfera jurídico-penal. Temos, ainda, normas que contêm regras de organização judiciária (que são destinadas a regular a instituição, nomeação, atribuições e discriminação dos órgãos judiciários e seus auxiliares). Anote-se que toda a norma de Direito Processual, seja ele penal ou civil, é de direito público, vez que trata principalmente de como se desenvolve uma função pública, a jurisdicional. No processo penal, tal caráter se acentua ainda mais porque se trata de regular como se alcança a pretensão punitiva do Estado. 2. Fontes do Direito Processual Penal: fonte, para o direito, significa tudo aquilo de onde provém um preceito jurídico, a forma de exteriorização do direito, os modos de expressão do direito. No Direito Processual Penal as fontes podem ser classificadas em: a) De produção ou materiais, ou seja, àquelas que constituem, que criam o Direito: a única fonte de produção (material) do Direito Processual Penal é o Estado, em face da natureza publicista do processo. À União compete legislar, privativamente, sobre "direito processual" (art.22, I, da CF), sendo permitido aos Estados-Membros legislarem sobre 12 questões específicas das matérias relacionadas no mencionado artigo, inclusive direito processual penal (art.22, parágrafo único). Os Estados e ao DF podem, concorrentemente com a União, legislarem sobre "criação, funcionamento e processo do Juizado de pequenas causas" (arts. 24, X, e 98, I), "procedimentos de matéria processual" (art.24, XI) e sobre “direito penitenciário” (art.24, I, e §§ 1º e 2º, da CF). b) Formais ou de cognição, são as que revelam o direito, ou seja, o modo como se exterioriza o direito. Estas podem ser divididas em diretas, primárias e imediatas (lei) e indiretas, secundárias e mediatas (costume, os princípios gerais de direito e analogia). Alguns autores citam a doutrina e a jurisprudência como fontes formais, mas prevalece o entendimento que se tratam de meras formas de interpretação. No que se refere à fonte formal, temos que a direta, primária e imediata é a lei. Quanto às fontes indiretas, mediatas ou secundárias, são os costumes (normas de comportamento que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante, pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica, que nunca revogam a lei) e princípios gerais (postulados gerais que se fundam em premissas éticas extraídas do material legislativo, que conferem unidade e validade a todo um sistema jurídico). São chamadas de fontes indiretas, pois, não contendo o direito, produzem-no indiretamente. A lei tem preferência sobre as demais fontes que somente podem suplementá-la. Os tratados (acordos assinados entre países em assuntos de natureza política, incluindo-se os da repressão aos ilícitos penais), convenções (acordos com menor característica de solenidade) e regras de direito internacional (princípios induzidos das leis internas dos Estados e inferidos de convenções internacionais ou afirmados na doutrina ou proclamados em Congresso) são mencionados no art.1º, inciso I. O tratado é considerado fonte primária do Direito Processual Penal, sendo que ele prevalece no conflito com a lei. Analogia é uma forma de auto-integração da lei, sendo que na lacuna involuntária desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente um dispositivo que disciplina hipótese semelhante. Por suprir eventualmente omissões da lei, pode ele ser considerado como fonte do direito, em face da redação do art.4º, da LICC. A analogia pode ser definida como um raciocínio por comparação, na qual se buscam pontos comuns entre situações semelhantes, visando a dar eles semelhante solução jurídica. Baseia-se na premissa de onde houver as mesmas razões, há se aplicar idêntica solução. Através da analogia, o jurista dá a fatos semelhantes, iguais tratamento jurídico. Por fim, que a jurisprudência, quando consolidada na forma de súmula vinculante também é fonte do direito processual penal. Assim, de regra, o acompanhamento ao entendimento jurisprudencial não é obrigatório, salvo no caso de ser editada a Súmula vinculante, pois nesta hipótese, conforme art. 103-A, da CF, deverá ser obedecido o entendimento do STF: Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, depois de reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder 13 Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processossobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. 3. Interpretação da Lei Processual Penal: interpretar é o processo lógico que procura estabelecer a vontade da lei, que não é necessariamente à vontade do legislador; é descobrir o verdadeiro conteúdo da norma jurídica, precedendo sempre à aplicação, processo pelo qual se submete o caso concreto à norma geral. Toda interpretação da lei deve atender "aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum" (art.5º da LICC), bem como se observar o que dispõe o art.1º da LEP, que estabelece ser o fim da pena a promoção da integração social do condenado. Hermenêutica é a ciência ou método que se preocupa com a interpretação da lei. Os costumes e os princípios gerais do direito não constituem em interpretação da lei, mas em fontes do direito processual penal. 3.1. Espécies de interpretação: a) Quanto ao sujeito que realiza a interpretação, temos: ➢ Interpretação autêntica ou legislativa: é a que procede da mesma origem que a lei e tem força obrigatória. É feita, pois, pelo próprio órgão encarregado da elaboração do texto. Poder ser contextual (quando vem inserida na própria legislação, no próprio texto a ser interpretado. Ex: conceito de flagrante delito, estabelecido pelos arts. 302 e 303 do CPP) ou posterior (quando feita após a entrada em vigor da lei). ➢ Interpretação doutrinária e científica: feita pelos estudiosos e cultores do direito. Trata-se do entendimento dado aos dispositivos legais pelos escritores ou comentadores do direito. Não tem força obrigatória. Exposições de motivos constituem forma de interpretação doutrinária, e não autêntica, uma vez que não são leis. ➢ Interpretação judicial, jurisprudencial ou usual: é a interpretação dada pelos órgãos jurisdicionais. Referida interpretação se consolida na jurisprudência, que é o conjunto de manifestações judiciais sobre determinado assunto legal, exaradas num sentido razoavelmente constante. 14 b) Quanto aos meios empregados: ➢ Gramatical, literal ou lexicográfica: leva-se em conta o sentido literal das palavras ou expressões empregadas pelo legislador. É o primeiro método que se deve valer mão o intérprete. Procura-se, aqui, o significado das palavras empregadas, o conteúdo semântico da norma. ➢ Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico. Obtém através do confronto lógico entre os seus dispositivos, procurando-se compreender o espírito da lei e a intenção do legislador. O intérprete serve-se, então, das regras gerais do raciocínio. ➢ Histórica: analisa-se o contexto histórico no qual a lei foi promulgada com o escopo de se descobrir qual a sua finalidade. c) Quanto ao resultado: ➢ Declarativa: ocorre quando o texto examinado não é ampliado e nem restringido, encontrando-se apenas o significado oculto do termo ou expressão utilizada pela lei. Geralmente é obtida com a interpretação literal. ➢ Restritiva: ocorre quando se reduz o alcance da lei para que se possa encontrar a sua exata vontade. A lei foi além de sua vontade, por isso a interpretação vai restringir o seu significado. ➢ Extensiva: é referida expressamente no art.3º, ocorrendo quando é necessário ampliar o sentido ou alcance da lei, porque a letra escrita ficou aquém de sua vontade. ➢ Progressiva, adaptativa ou evolutiva: é aquela que, ao longo do tempo, adapta-se às mudanças políticas-sociais e às necessidades do presente. Serve para abarcar as novas concepções ditadas pelas transformações sociais, científicas, jurídicas ou morais que devem permear a lei processual estabelecida. 4. Interpretação da norma processual: a lei processual penal admite interpretação extensiva, aplicando-se, ainda, as regras de hermenêutica comuns. Todavia, não se trata de preceito absoluto, pois as regras que restringem liberdade pessoal, devem ser rigorosamente interpretadas em caráter restritivo. Regra geral: aplicação da hermenêutica. Exceção: quando se tratar de regras referentes à liberdade do acusado, a interpretação deve ser restritiva. 5. Interpretação analógica: é aquela em que a vontade da norma é abraçar casos análogos não previstos singularmente. Ocorre, geralmente, quando a lei após elencar uma cláusula genérica se segue a uma fórmula casuística. Exemplo: art.121, § 2º, IV, do Código Penal; art. 6º do CPP. Não se confunde interpretação analógica com analogia, pois a primeira é forma de interpretação; já a segunda é forma de auto-integração. Na interpretação analógica não há vazios, porquanto a própria lei já declara que pretende alcançar casos análogos. 6. Analogia: é a atividade consistente em aplicar a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a caso semelhante. O fundamento da analogia é o ubi eadem ratio, ibi 15 eadem jus (onde há mesma razão, aplica-se o mesmo direito), sendo uma forma de auto- integração da lei. Na lacuna involuntária desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente um dispositivo que disciplina hipótese semelhante. A dois tipos de analogia: a) a legis e b) a iuris. A primeira se opera quando o processo de integração da norma se dá por outra norma. Já a segunda quando a integração ocorre com os princípios gerais de direito. A analogia somente pode ser aplicada na lacuna involuntária da lei, não sendo cabível nas hipóteses em que a lei processual tem caráter inflexível, taxativo. SISTEMAS PROCESSUAIS OU TIPOS DE PROCESSO PENAL Sistema pode ser definido como a reunião coordenada e lógica de princípios ou idéias relacionadas de modo que abranjam um campo do conhecimento. O Processo Penal, visando atingir seus objetivos (aplicação da lei penal e pacificação do meio social) pode adotar um dos seguintes sistemas que o caracterizam: a) acusatório, b) inquisitivo ou c) misto. Tais sistemas processuais se diferem, principalmente, pelos órgãos que se encarregam da persecução penal; a quem compete o julgamento, e a maneira como o acusado é tratado durante o tramitar da ação penal. Nota-se que os sistemas abaixo não são um desenvolvido sobre os outros, mas sim existiram e existem até hoje de forma concomitante. 1) Acusatório: por este sistema há nítida separação entre órgão acusador e julgador e caracteriza-se pela: ➢ Existência do contraditório, como garantia política do cidadão: assegura as partes processuais às mesmas obrigações e os mesmos direitos. Se há uma parte, o acusador; deve existir outra defendendo o réu. Esse sistema supõe completa igualdade das partes, ou seja, devem ser conferidas as mesmas oportunidades para a produção de provas, para manifestações a respeito dos elementos probatórios, etc. ➢ Adoção da publicidade como regra: o processo é público e dele qualquer pessoa poderá tomar conhecimento, ainda que não tenha interesse na causa. Excepcionalmente se admite a limitação ou restrição da publicidade dos atos processuais, como acontece, por ex., na sala secreta do Tribunal do Júri; nas audiências que versem sobre crimes contra os costumes ou naqueles feitos que tenha sido decretado sigilo de justiça, etc. ➢ Observância do actium trium personarum, ou seja, as funções de acusar, defender e julgar são desempenhadas por pessoas distintas: a acusação nas ações penais públicas pertence ao Ministério Público; nas privadas, ao ofendido ou aoseu representante. A defesa fica a cargo de um advogado, podendo este ser dativo ou constituído. O julgamento é reservado a quem se encontre investido no poder jurisdicional. Via de regra ao poder judiciário. Excepcionalmente o Estado confere este poder ao Senado Federal, nos casos previstos nos incisos l e ll, do art. 52, da CF. ➢ Iniciativa do processo pela acusação: o juiz nunca dá início, por si só, ao processo, sendo sempre provocado pelo autor, que no processo penal, faz a acusação. Em resumo o sistema acusatório reúne, basicamente, os seguintes requisitos: o julgamento é feito por populares (jurados) ou por órgãos judiciários totalmente imparciais; 16 igualdade das partes; liberdade das partes quanto a apresentação das provas; não pode o juiz provocar a sua própria jurisdição; o processo é oral, público e contraditório; livre convicção quanto à apreciação das provas; a regra é a liberdade do acusado, admitindo-se excepcionalmente a prisão do acusado e a sentença faz coisa julgada. A ênfase do sistema acusatório é o polo passivo da relação processual (o acusado), sendo que há um sistema de proteção contra o arbítrio do Estado. Visa cercar o acusado de garantias acerca do devido processo penal. Destaque-se que a Lei de Combate ao Crime Organizado (Lei n° 9.034/95) traz a hipótese de diligências realizadas pessoalmente pelo juiz, ainda na fase do inquérito, como a violação de sigilos preservados pela Constituição ou pela lei (v. art. 156, CPP). Nota-se que tal artigo foi analisado pelo STF, a qual pontuou: a) o magistrado tem poderes instrutórios e a investigação criminal não é monopólio da polícia judiciária; b) a coleta de provas não antecipa a formação do juízo condenatório e c) a CF autoriza restrições ao princípio da publicidade. 2) Inquisitivo: trata-se de sistema oposto ao acusatório, nele não existindo o contraditório. Há ênfase e fortalecimento do Estado, enquanto possuidor do jus puniendi. As funções de acusar, defender e julgar são exercidas por uma única pessoa ou um mesmo órgão. Não há liberdades processuais e nem igualdade entre as partes. Caracteriza-se pela: ➢ Concentração das três funções (acusar, defender e julgar) em uma só pessoa; ➢ Por ser o processo escrito e sigiloso; ➢ Ausência de contraditório, com defesa meramente formal; ➢ Existência de juízes permanentes e irrecusáveis; ➢ Há ampla liberdade da acusação, com meios violentos para se obter provas, admitindo-se, inclusive tortura. Confissão como rainha das provas. Este tipo de processo passou a dominar praticamente toda a Europa Continental, por influência da Igreja, a partir do Concílio Latranense de 1215. 3) Misto: este sistema, também conhecido como acusatório formal, surgiu após a Revolução Francesa, com o Código de Instrução da França em 1808. Procurou unir as virtudes dos dois sistemas anteriores, caracterizando-se o processo por divisões bem delimitadas em três etapas, a saber: a) investigação preliminar; b) instrução preparatória e c) fase de julgamento. Nas duas primeiras etapas, coincide com o sistema inquisitivo. Inexiste contraditório, devendo ele ser escrito e sigiloso, sendo as três funções (acusar, defender e julgar) desenvolvidas pela mesma pessoa. No julgamento final, passa a ser semelhante ao acusatório. Há contraditório; o processo é público, e o julgador não pode ser quem acusa. Assim, as funções de acusar, defender e julgar são entregues à pessoas distintas. 4) No Direito Pátrio: adota-se o processo tipo acusatório. A acusação foi conferida a um órgão do Estado, o Ministério Público, nos crimes de ação penal pública. Já nos crimes de ação penal privada a acusação cabe ao ofendido. A função de julgar foi assegurada aos 17 juízes de direito e aos juízes de fato (júri). Ao acusado é assegurada a ampla defesa, bem como o contraditório. A existência de inquérito policial, onde prepondera o sigilo e a forma inquisitiva, não desnatura tal sistema, pois se trata de procedimento meramente informativo, que não se confunde com processo. Paulo Lúcio Nogueira, ao contrário da grande maioria dos doutrinadores, entende que o nosso ordenamento adotou o sistema processual misto (Curso completo de processo penal, p.27). O mesmo se diga de Guilherme de Souza Nucci, para quem o nosso sistema é inquisitivo garantista, pois o juiz brasileiro pode produzir provas de ofício, decretar a prisão do acusado sem solicitação, podendo utilizar subsidiariamente elementos do inquérito policial para formar a sua convicção (Código de Processo Penal Comentado, p. 65). Contudo, tais posições são minoritárias perante os demais doutrinadores. Por oportuna, destaca-se a lição de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco: “No processo penal brasileiro adota-se o sistema acusatório. Quanto à fase prévia representada pelo inquérito policial, já vimos que constitui processo administrativo, sem acusado mas com litigantes (após o indiciamento), de modo que os elementos probatórios nele colhidos (salvo as provas antecipadas a título cautelar) só podem servir à formação do convencimento do Ministério Público, mas não para embasar uma condenação” (Teoria Geral do Processo, p.58-59). Destaca-se que o que tange ao Brasil, necessário se realizar estudo particularizado. Atualmente, o Direito Processual Penal é regulamentado pela Constituição Federal pelo Código de Processo Penal (Decreto-Lei de 1941 e respectivas alterações) e por leis especiais (extravagantes). Anote-se a seguinte evolução: Leis processuais brasileiras (histórico: a) Ordenações do Reino (sobretudo Filipinas); b) Código de Processo Criminal (1832); c) Códigos Processuais dos Estados (Constituição de 1891); d) Retorno à unidade processual nacional (Constituição de 1934); e) Código de Processo Penal (1941) - atualmente em vigor (e com alterações); f) Lei de Execução Penal (1984) - passou a regular a matéria específica; g) Legislação especial extravagante (exs: crimes de responsabilidade, crimes militares, Lei nº 9.099/95, Lei nº 11.343/06 etc). Durante as ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, o sistema adotado era o inquisitorial, ante as fortes influências do direito canônico. Com a vinda da Família Real, passou a adotar-se a legislação pátria ganhando destaque a Constituição Federal de 1824 e o Código de Processo Criminal de 1932. A constituição de 1891 tem como premissa fundamental a possibilidade dada aos Estados de elaborarem seus próprios Códigos de Processo. A Constituição de 1934 voltou a unificar a lei processual, sendo que em 1941 foi elaborado o nosso atual Código de Processo Penal, Decreto Lei n.º 3.689 de 30 de outubro de 1941, tendo adotado o sistema acusatório. 18 4.1. O papel do Ministério Público, do Juiz e da Polícia Judiciária no sistema acusatório de persecução penal. Adotado o sistema acusatório entre nós, repudiou-se a estrutura do sistema inquisitivo, no qual se confunde, em um único órgão estatal, as funções de investigar, acusar e julgar. Ademais, o acusado deixa de ser um mero objeto da relação processual, mas sim um sujeito processual, com direitos a serem resguardados na persecução penal. Assim, importante destacar que no sistema acusatório houve a transformação da fisionomia da persecução penal, visto que situou o réu e acusado, nessa atividade estatal, como sujeito de direitos e não apenas como objeto das investigações. Processualizou-se a persecutio criminis....sem que o interesse público da punição do culpado ficasse diminuído ou debilitado. O juiz deixou de encarnar a função repressiva do Estado contra o infrator da lei penal, para permanecer imparcial e sereno, como órgão exclusivo da aplicação do Direito Penal objetivo, ou seja, da jurisdição penal propriamente dita (José Frederico Marques, in anotações à obra de Pimenta Bueno, JoséAntonio. “Apontamentos sobre o processo criminal brasileiro”, anotada e atualizada por. SP, RT, 1959, pg. 28). Desta forma, cada órgão estatal exerce uma função bem delineada no processo acusatório. Cabe a Polícia Judiciária investigar a infração penal, colhendo elementos acerca de sua autoria e de sua materialidade. Ao Ministério Público compete a promoção da ação penal pública. É ao juiz pena a prestação da tutela jurisdicional, decidindo pela pretensão de punir do Estado ou pelo direito de liberdade do acusado. Em relação a Polícia Judiciária, tem-se constitucionalmente a seguinte divisão em: 1) Polícia Federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. 2) Polícia civil, dirigida por delegados de polícia de carreira, incumbindo, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. Em sede de direito processual penal, a principal função da polícia judiciária, seja estadual ou federal, é a de apuração das infrações penais e da sua autoria através do inquérito policial. Por seu turno quem preside o inquérito policial é o Delegado de Polícia auxiliado pelos investigadores de polícia, peritos e auxiliares administrativo Já o Ministério Público pode ser conceituado como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. É função institucional do Ministério Público a promoção, privativamente, da ação penal pública, na forma da lei. 19 Por fim, em relação ao juiz, sua principal função é a da prestação da atividade jurisdicional. Assim, o magistrado julga, aplicando a lei ao caso concreto, através de um ato chamado sentença. Eficácia da Lei Processual Penal (Tempo e no Espaço) 1. Eficácia da Lei Processual no Espaço - Aplicação no Espaço (artigo 1º do Código de Processo Penal): 1.1. Adoção do Princípio da Territorialidade e da Unidade do DPP. No que toca as leis processuais penais, em matéria de eficácia no espaço, adota-se o princípio da territorialidade, consubstanciado no brocardo locus regit actum, ou seja, aplica- se a lei processual penal brasileira a todo delito ocorrido no território nacional. Tal princípio vem adotado no art. 1º, que rege: "O processo penal reger-se-á em todo o território brasileiro, ressalvados...:" Pelo Princípio da Territorialidade as normas de DPP têm aplicabilidade exclusiva dentro do território nacional, conforme se verifica pela regra do art. 1º do CPP. Ressalte-se, porém, que o artigo 5, § 4º, da Constituição Federal prevê que: “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Assim, apesar de uma infração penal ter sido cometida no Brasil, havendo interesse do Tribunal Penal Internacional, pode-se entregar o seu autor à jurisdição estrangeira. No mais, a regra geral é de aplicação do princípio da territorialidade, sendo que por exceção, os incisos deste artigo especificam quando dentro do território brasileiro ele não tem incidência. Pela lex fori, os limites da jurisdição criminal coincidem com os limites do território nacional e a todos os processos submetidos a essa jurisdição é aplicável a lei processual penal nacional. Temos, ainda, que o direito processual é uno, sendo aplicado em todo território brasileiro. O território que se refere o CPP é tanto o conceito estrito, como o de território por extensão. A doutrina admite, no entanto, que a lei processual penal de um Estado possa ser aplicado fora de seus limites territoriais, nas seguintes hipóteses: a) em território nullius; b) quando o Estado, onde deva ser praticado o ato processual, consentir (autorizar), e c) em território ocupado no caso de guerra. Salvo estas exceções, a lei processual penal é eminentemente territorial. Esta é a regra geral. Exceções: Não se aplica o CPP: a) No caso de tratados, convenções e regras de direito internacional que disponham de modo contrário, como, por exemplo, no caso de imunidades diplomáticas, em que se excluem os representantes de governos estrangeiros da jurisdição penal do Estado onde se encontram creditados (Convenção de Viena, 1961 – Decreto 56.435/65). Esses representantes, como por exemplo, os embaixadores, secretários de embaixada, pessoal técnico e administrativo das representações, seus familiares, 20 funcionários das organizações internacionais não respondem por seus crimes no território nacional, mas podem ser julgados pela legislação de seu próprio país. O cônsul, por infrações comuns, responde perante as autoridades brasileiras; mas por infrações praticadas no exercício de suas funções, perante o país que o nomeou. Nota-se que no conflito entre lei e tratado, prevalece este. Resumo Deste modo, temos que caso o Brasil firme um tratado, uma convenção ou esteja sujeito a regras de direito internacional, deve a lei processual penal brasileira ser afastada para que a proveniente daquelas fontes sejam aplicadas. b) Quando se tratar de crime de responsabilidade do Presidente da República, dos Ministros de Estado, nos delitos conexos com aqueles e dos Ministros do Supremo Tribunal Federal (art.1º, II), que serão denunciados perante a Câmara dos Deputados e julgados pelo Senado Federal. Também estão excluídos os governadores de Estado e do DF, bem como seus secretários (Lei nº 7106/83), bem como o Vice-Presidente, o Procurador- Geral da República e o Advogado-Geral da União. Os crimes de responsabilidade estão arrolados no artigo 85 da CF. A Lei nº 1079/50 regulamentou o processo e julgamento destes crimes de responsabilidade, admitindo a aplicação subsidiária do CPP. Tem-se aqui a chamada jurisdição política c) Os processos da competência da Justiça Militar: o CPP não se aplica, também, aos processos da competência da Justiça Militar Estadual ou Federal, que possuem Código Processual Penal próprio. A Justiça Militar é uma justiça especial, cabendo a ela o processo e julgamento, tanto dos crimes propriamente militares, como os impropriamente militares. d) Os processos da competência do Tribunal especial: não existe na legislação brasileira este tipo de tribunal, embora no passado, foi instituído o Tribunal de Segurança Nacional sob a égide da Constituição de 1937, que o previa no art. 122, XVII (Os crimes que atentarem contra a existência, a segurança e a integridade do Estado, a guarda e o emprego da economia popular serão submetidos a processo e julgamento perante o Tribunal Especial, na forma que a lei instituir). e) Os crimes de imprensa: a derradeira ressalva feita pelo art. 1º é a pertinente aos processos por crime de imprensa. A lei nº 5250/67 define nos arts. 14 a 22, os tipos penais que constituem crime de imprensa, e nos arts. 42 e ss. estabelecem as normas processuais penais, que são seguidas para apuração destes crimes. Contudo, tal lei foi julgada inconstitucional pelo STF e não mais existe entre nós. A leitura a ser feita é de que, havendo lei especial para determinado procedimento, se aplica a ela, servindoo CPP para suprir as lacunas. Assim, o CPP não se aplica, ainda: a) aos crimes eleitorais, que são julgados pela Justiça Eleitoral; b) aos crimes falenciais; c) aos crimes de entorpecentes; d) as infrações penais de menor potencial ofensivo, ou seja, a todos os crimes que tiverem previsão de lei especial que contrariem as regras gerais do CPP. Entretanto, ressalva-se que conforme 21 dispõe o parágrafo único do CPP, a tais infrações se aplica, subsidiariamente, as regras do CPP. 2. Eficácia da Lei Processual Penal no Tempo (artigo 2º do Código de Processo Penal): 2.1. Princípio do efeito imediato: dispõe o art.2º "A lei processual aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos autos realizados sob a vigência da lei anterior". Pela redação do artigo percebe-se que a lei nova tem incidência imediata, aplicando-se aos novos processos (que se iniciaram após a vigência da lei), como também as ações penais em andamento, aos processos em curso. Não possui retroatividade, não incidindo sobre atos já praticados e consumados, não os invalidando. Aplica-se o princípio tempus regit actum. Projeta-se a lei processual nova para o futuro. Não se perquire, em matéria processual penal, se a nova lei é mais ou menos severa que a anterior, pois sendo a norma de caráter exclusivamente processual penal, sua aplicação é imediata, regulando toda a relação processual em curso ou a que se iniciar. Somente quando a lei processual expressamente dispor, poderá ela retroagir. Ao reverso, não terá este efeito. Anote-se, porém, que em casos concretos, existem as chamadas normas mistas ou normas processuais penais, que abrigam naturezas diversas, de caráter penal e de caráter processual penal. São normas penais as que versam sobre o crime, a pena, efeitos da condenação, do jus puniendi. São normas processuais, as que regulam o processo desde o seu início até final da execução ou da extinção da punibilidade. Caso a norma abrigue tanto disposição de natureza penal, como de natureza processual, deverão ser obedecidos os princípios da ultratividade e retroatividade da lei mais benigna. 1.2. Previsão na lei nova da ultratividade da lei anterior: através de previsão expressa pode ocorrer que a norma processual não tenha efeito imediato. O nosso atual CPP, não foi aplicado totalmente quanto entrou em vigência. Isto porque na Lei de Introdução ao CPP, o legislador estabeleceu no art. 6º que "as ações penais, em que já se tenha iniciado a produção da prova testemunha, prosseguirão, até a sentença de primeira instância, com o rito estabelecido na lei anterior". Com base neste exemplo, temos que no silêncio da norma processual penal, por força do art.2º do CPP, sua incidência será sempre imediata, aplicando-se, desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob vigência da lei anterior. Porém, como exceção, através de previsão expressa poderá haver ultratividade da norma anterior. 1.3. Vigência e revogação: Em princípio a lei processual é elaborada para viger por tempo indeterminado. Na publicação, por expressa disposição legal, deve constar quando a norma processual terá vigência. Encerra-se a vigência com a revogação da lei, que pode ser expressa ou tácita. A revogação pode ser ainda parcial (derrogação) ou total, quando é chamada de ab-rogação. 22 A CONSTITUIÇÃO E O PROCESSO PENAL A Constituição, entendida como base de todo o ordenamento jurídico, traz os fundamentos de todos os ramos do direito, que são dela derivados, sendo que toda a legislação infraconstitucional a ele deve prestar vassalagem, sob pena de inconstitucionalidade. Sendo assim, óbvio que o direito processual penal deve a ela obediência, sendo que os seus postulados permeiam todo o campo direito processual. Na lição de José Frederico Marques: ...o Direito Constitucional sem invadir, propriamente, o campo particular de cada uma das Ciências Jurídicas representa para elas, segundo Santi Romano, uma espécie de intróito, porquanto as conduz até os limites em que se manifestam suas diversas peculiaridades, para deixá-las livres desse ponto em diante, sem todavia perdê-las de vista um só momento. É que a lei maior contém em si os fundamentos institucionais e políticos de toda a legislação ordinária, mormente quando se coloca, com normatividade rígida, no ponto culminante da hierarquia das fontes do Direito, tal como se sucede, entre nós, desde a promulgação da primeira das nossas Constituições Republicanas (Elementos de Direito Processual Penal, vol.01, p.78). Ademais, do estudado até agora podemos observar que o processo penal, da forma como se encontra estruturado, representa mais um meio de autolimitação do Estado do que um instrumento destinado à persecução penal. De fato, a aplicação da lei penal por parte do Estado-Administração, com a conseqüente satisfação de seu ius puniendi, somente pode se dar através de um processo penal que garanta ao indivíduo acusado o contraditório e a ampla defesa, além de outras garantias existentes em nível constitucional, que consubstanciam o devido processo legal. O direito processual penal, portanto, na lição de Afrânio da Silva Jardim “é fruto do avanço civilizatório da humanidade resultante da jurisdicialização do poder punitivo do Estado...Por isso, um código democrático há de ser informado pela necessidade de tutelar os direitos e garantias individuais, sem se descurar, entretanto, da defesa social” (Direito Processual Penal, p. 307). Desse modo, em razão da relevância dos valores que são tutelados pelo processo penal (liberdade do indivíduo, limitação do Poder Estatal e segurança do meio social), se faz necessário que a própria Constituição Federal trace os vetores de tais ordenamentos, não se podendo entender o processo penal, sem que se entenda os princípios constitucionais que o modelam. Neste ponto, cabe destacar a lição de Ada Pelegrini Grinover, Antônio Scarance e Antônio Magalhães Filho, que lecionam: “Todo o direito processual, como ramo do direito público, tem suas linhas fundamentais traçadas pelo direito constitucional, que fixa a estrutura dos órgãos jurisdicionais, que garante a distribuição da justiça e a declaração do direito objetivo, que estabelece alguns princípios processuais; e o direito processual penal chega a ser apontado como direito constitucional aplicado às relações entre autoridade e liberdade. Mas além de seus pressupostos constitucionais, comuns a todos os ramos do direito, o direito processual é fundamentalmente determinado pela Constituição em muitos de seus aspectos e institutos característicos” (Teoria Geral do Processo, p.78) 23 Na mesma toada é a lição de Hermínio Marques Porto para quem: “As normas processuais penais têm sua fundamentação em preceitos de direito constitucional quando enunciados direitos individuais e do Estado. A atividade jurisdicional expressa, em relação a princípios constitucionais que são sua fonte, forma de atividade do Estado com sentido de complementar a tutela que ele enumera e garante” (Júri, procedimentos e aspectos do julgamento, p.29). Assim, entendida que é a Constituição Federal que dá forma ao processo penal, temos que as leis processuais são também meios de se garantir a liberdade do indivíduo. As formas impostas pelos procedimentos, a obediência aos prazos processuais, o sistema de nulidades, a garantia do duplo grau de jurisdição –sistema recursal-, tudo isto está a garantir que o indivíduo não tenha tolhida sua liberdade, a não ser que lhe garanta um devido processo legal (constitucional). Posto isto, fica evidente o porquê nosso sistema processual é o acusatório, pois é neste que as garantias constitucionais existentes são mais bem reafirmadas. De fato, é neste sistema que se garante a imparcialidade das partes, pois se entrega a cada um dos sujeitos processuais funções exclusivas;é ainda nele que se garante uma melhor defesa, ao se adotar o contraditório e a publicidade como regra; é nele que se proíbe as provas ilícitas e ilegítimas etc. A Constituição Federal molda todo o processo penal, de modo que este somente é tido como perfeito, quando obedece aos mandamentos insculpidos na Lei Maior. Vale aqui registrar também o pensamento de Eugênio Pacelli de Oliveira, para quem: “O devido processo penal constitucional busca, então, a realização de uma justiça penal submetida as exigências de igualdade efetiva entre os litigantes. (O processo penal brasileiro, p. 09).” Assim, diante desta perspectiva o processo penal tanto serve ao controle social, como também é instrumento garantidor de direitos. Aqui calha à lição de Antônio Alberto Machado, que bem leciona: O processo penal é um campo do direito e da ciência jurídica tão permeada de valores e por questões políticas que acaba se constituindo numa seara especialmente polêmica. Pudera, trata-se do ramo do direito que disciplina mecanismos por meio dos quais o Estado pode constranger as liberdades individuais e impor penas aos indivíduos. Não há dúvida que funciona como um sistema de controle social. Mas é um sistema contraditório. Ao mesmo tempo que serve ao controle e à repressão, o processo penal serve também como garantia de direitos fundamentais. Se por um lado é um instrumento que pode levar a supressão da liberdade do indivíduo, por outro, pode também garantir a libertação deste último, assegurando-lhe a efetivação dos direitos individuais básicos. E continua o autor: A bem dizer, mais do que simples mecanismo de persecução penal, o processo é um verdadeiro instrumento de garantia: a garantia política de que a pena criminal 24 somente será aplicada por meio de um procedimento formalmente estabelecido, já que toda a punição deve ser procedida de um processo e um julgamento formal, nos termos da nulla poena sine judicio, assegurados sempre o contraditório e a ampla defesa aos acusados. (Teoria Geral do Processo Penal, Ed. Atlas, p.1.) PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO PROCESSO PENAL 1. Noções gerais (conceito, diferenças entre princípios e regras e características dos princípios): Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que princípio é, por definição, o "mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico..."1 Trata-se, portanto, de norma dotada de generalidade e abstração superior às demais, que se irradiam e imantam o sistema jurídico, dando sustentáculo a esse, e vinculando toda a interpretação do sistema jurídico. Diante do próprio conceito, verifica-se claramente a posição de destaque que os princípios ocupam em nosso ordenamento. O conhecimento do que sejam princípios e para que eles servem são de enorme importância para a compreensão do ordenamento jurídico que eles orientam. Cada ramo do direito possui princípios próprios, que conformam todo o sistema, os quais podem estar expressos ou implícitos, na Constituição Federal e em outros dispositivos legais. O Direito Processual Penal seguindo a regra é conformado por uma série de princípios, que dão significado aos dispositivos contidos no Código de Processo Penal. Os princípios processuais penais podem ser conceituados como os postulados fundamentais da política processual penal de um Estado. Os princípios ditam o Processo Penal do Estado, informando o tipo do processo, caracterizando-o. Trata-se de ponto de partida do sistema. Os princípios processuais penais são encontrados tanto na Constituição Federal (princípios constitucionais), como na legislação infraconstitucional. 2. Espécies: 2.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS PERTINENTES ➢ Princípio da igualdade (art. 5o, caput): é a chamada isonomia processual. Em juízo, as partes devem ter as mesmas oportunidades, sendo tratadas de forma igualitária, sendo eventual tratamento desigual, deverá ser justificado em prol de um fator considerado constitucionalmente relevante. Assim, a acusação e defesa estão sujeitas aos mesmos direitos, ônus, obrigações e faculdades. Para que haja tal equilíbrio, não se permite que o réu exerça sua defesa técnica pessoalmente, salvo se tiver habilitação técnica (art.263). Faz- se isto para que não se comprometa o princípio da igualdade. 1 Elementos de Direito Administrativo. Ed. RT, São Paulo, 2001, pg. 771. 25 Nosso direito, visando favorecer o réu, consagra alguns institutos somente em seu favor, como, por exemplo, o protesto por novo júri; os embargos infringentes e de nulidade; a revisão criminal da sentença condenatória, e a proibição da reformatio in pejus. Porém, tais institutos não são exceção à regra, mas sim obediência ao outro princípio que vigora no processo penal, o do favor rei ou favor libertatis. ➢ Princípio da legalidade (art. 5o, inc. II): todos os procedimentos e os sujeitos processuais devem pautar suas condutas de acordo com as leis regentes. Porém, nota-se que no processo penal, a legalidade não é tão rígida quanto no direito penal material, porquanto são admitidas interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais do direito da lei processual penal. 2.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS ➢ Princípio da inafastabilidade da apreciação judicial (art. 5o, inc. XXXV). “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Trata-se do princípio que garante o amplo acesso ao Judiciário, bem como o direito de ação. Dirige-se este princípio aos três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário). De fato, o Legislativo não pode editar leis que excluam, de modo desproporcional, o controle judicial de determinados atos, não podendo o Executivo, por sua vez, promulgar medidas provisórias ou outros atos normativos no mesmo sentido. Já o Poder Judiciário não se pode furtar de apreciar qualquer lesão ou ameaça a direito, de qualquer espécie que seja, sendo que o magistrado, por exemplo, não pode deixar de julgar. ➢ Princípio do Devido Processo Legal: decorre da disposição adotada pelo art.5º, LIV, da CF, que dispõe: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Trata-se tal disposição do due processe of law, ou seja, o processo conforme a lei. Todo o processo para que seja legal e tenha validade, deve seguir as disposições traçadas em lei, sendo que sua desobediência gera nulidade ou anulabilidade dos atos processuais. Assim, o processo penal deve permiti a ampla possibilidade de defesa do réu, permitindo que ele produza provas, apresente alegações e demonstre sua inocência. Ademais, ao reverso, permite ao órgão acusador demonstrar ao magistrado, pelos meios legais, a responsabilidade penal do indivíduo que violou a lei penal. Este princípio pode ainda ser visto por dois significados: 1º) ninguém pode ser privado de sua liberdade sem o devido processo legal e 2º) toda pessoa tem o direito de conhecer previamente todas as regras de processo penal. ➢ Princípio do Juiz Natural: ou do Juiz constitucional, que é aquele pré-constituído por lei para apuração da infração penal. Praticada a infração penal, seja qual for, o seu autor já sabe por qual órgão jurisdicional será julgado. Pode ser compreendido em seu dúplice aspecto: a) proibição de juízo ou tribunal de exceção - art.5º, XXXVII, da CF - não pode ser criado órgão formado ou não por membros do Poder Judiciário, para o julgamento de fato pretéritos, e b) garantia do juiz competente, que implica no julgamento do autor do fato pelo órgão jurisdicional com previsãoconstitucional. Por este princípio ninguém será processado e nem sentenciado senão pela autoridade competente. Nota-se que a existência de Juízes Especiais não viola o referido princípio. Por razões objetivas, estes Juizados 26 Especiais se separam dos órgãos ordinários; mas por terem assento constitucional não violam tal princípio. ➢ Princípio da Imparcialidade do Juiz: qualquer que seja o processo (civil, trabalhista, penal, etc.), a parte tem direito a um julgamento isento e imparcial. Não pode haver parcialidade do órgão jurisdicional na solução da lide, pois aí haveria insegurança jurídica, não se atingindo a principal finalidade do Estado que é a paz pública. Para garantir a imparcialidade do juiz, a ele são asseguradas uma série de garantias constitucionais (vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos) e prerrogativas (foro especial). Já ao Poder Judiciário como um todo, para se garantir sua independência, temos que ele possui orçamento e direção próprios, visando garantir sua isenção. ➢ Princípio do promotor natural (art. 5o, LIII): significa que ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público, dotado de amplas garantias pessoas e institucionais, de absoluta independência e liberdade de convicção e com atribuições previamente fixadas e conhecidas. Somente o Promotor de Justiça pode exercer as funções do parquet, vedada a indicação de promotores "ad hoc" ou dativos. É vedada, em razão deste princípio, a designação casuística de promotor, pela Chefia da Instituição, para promover a acusação em caso específico, uma vez que tal procedimento chancelaria a figura do chamado "promotor de exceção". ➢ Princípio do Contraditório: é conhecido também por princípio da bilateralidade da audiência, tendo assento constitucional (Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes). Decorre do brocado “audiatur et altera pars”. É a possibilidade conferida aos contendores de praticar todos os atos tendentes a convencer o juiz. Em homenagem a este princípio, temos que proposta a ação penal, o juiz possibilita ao acusado a autodefesa e a defesa técnica, sendo que através da citação ele toma conhecimento da acusação, sendo chamado para se defender. O réu pode contrariar a acusação que lhe é feita, não podendo ser condenado sem exercer o direito de defesa. Visando garantir a plena eficiência deste princípio, temos que o réu sempre contará com a assistência de uma defesa técnica. Nota-se que o contraditório deverá ser exercido através de um devido processo legal, sendo que dele decorrem duas regras: a) igualdade processual (as partes são possuidoras dos mesmos direitos e obrigações, sendo à acusação e à defesa garantidas a produção das mesmas provas admitidas em direito, cabendo o seu ônus a quem fizer a alegação), e b) liberdade processual (pode-se ou não exercer os seus direitos, podendo o réu constituir o advogado que bem entender; indicar e ver produzida toda e qualquer prova, desde que admitida pelo direito etc.). Em resumo, somente pode o juiz dizer qual é o direito aplicado se ouvida uma parte for dada a outra o direito de se manifestar em seguida. Há duas espécies de contraditório: 1º) diferido – adiado, postergado e vem, depois da produção de provas. 2º) imediato – direto, exercido no momento da produção de provas. 27 O pressuposto do principio do contraditório é o direito de ser informado. Em resumo, possibilidade de contraditar, argumentar e provar. É diferente ao que ocorre com a ampla defesa, pois o contraditório a torna real e fundamentada. Anote-se que na fase do inquérito policial não há contraditório, que fica postergado para o caso do Estado ingressar ou não com a ação penal. ➢ Princípio da ampla defesa (art. 5.°, inc. LV): “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes”. O processo não é um procedimento inquisitório, mas acusatório. Os litigantes devem ter a oportunidade de apresentarem defesa em sentido amplo. O Estado possui o dever de fornecer ao acusado a mais ampla defesa seja pessoal (autodefesa) ou técnica (defensor) e de prestar assistência jurisdicional e gratuita aos necessitados. Também, compreende esse principio o dever de observar a ordem processual de modo que a defesa sempre se manifeste por último. Há exceções a essa ordem, como no caso de contra razões de recurso e a recusa peremptória dos júris em Plenário, que serão analisados mais a frente. ➢ Princípio da Inocência: tem assento constitucional estando previsto no art. 5º, LVII, da CF, que dispõe: "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". Trata-se da presunção de inocência, que significa ausência de culpa. Desdobra-se em 03 aspectos, como anotado pelo Professor Fernando Capez: a) no momento da instrução processual, como presunção legal relativa de não-culpabilidade, inverte-se o ônus da prova; b) no momento da avaliação da prova, deve-se valorá-la em favor do acusado quando houver dúvida, e c) no curso do processo penal, como paradigma de tratamento do imputado, especialmente no que concerne à análise da necessidade da prisão processual. Tal princípio não sofre qualquer violação com a permissão pelo nosso ordenamento das prisões cautelares (em flagrante, preventiva, temporária e provisória), das vedações de concessão de liberdade provisória pela Lei de Crimes Hediondos e dos Crimes Organizados. ➢ Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos: são inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, da CF). Tais provas constituem uma das provas vedadas (provas produzidas contra o ordenamento jurídico) pelo nosso ordenamento. São proibidas tanto as provas ilícitas (vedada por regra de direito material), como as ilegítimas (vedada por regra de direito processual). ▪ Também são vedadas as provas ilícitas por derivação, que são aquelas em si lícitas, mas produzida a partir de outra ilegalmente obtida (Ex: de uma confissão obtida mediante tortura, consegue apreender produtos do crime). Tal vedação decorre da adoção da teoria dos "frutos da árvore envenada - fruits of the poisonous tree", segundo a qual o vício da planta se transmite aos seus frutos. ▪ Anote-se, porém, que em favor do réu, face ao princípio da proporcionalidade, é pacífica a jurisprudência no sentido de que tal prova será admitida. Como exceção, se admite pro societate. 28 ➢ Princípio do favor rei: por este princípio temos que na dúvida beneficia-se o acusado, havendo recursos exclusivamente em seu favor, não havendo coisa soberanamente julgada contra si. ➢ Princípio da Publicidade: tem assento constitucional (Art. 5º, LX: "a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem" e art. 93, IX, "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes"). Os atos processuais em regra são públicos, de modo a dar credibilidade na justiça. Visa, ainda, frear os desmandos, as arbitrariedades e a corrupção. Porém, tal princípio não é absoluto. Às vezes há interesses maiores, que não podem ser prejudicados, como a pessoa do acusado, de seus familiares, ou, ainda, a vítima e sua família, etc.. Destarte, quando a publicidade for mais prejudicial do que benéfica, ela poderá ser restringida. Como exceção, temos o artigo 792, § 1º, do CPP; o da votação sigilosa nos crimes julgados
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