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TEXTO 01: Jurgen Habermas - Teoria de laAcción Comunicativa, vol. II; capítulo: Tareas de una Teoria Crítica de la Sociedad > Questão central: se na situação atual das ciências sociais é necessário e possível encontrar um substituto à teoria do valor, ao menos pelo lado que ela permitia por em relação os acertos teóricos relativos à dimensão "sistema" com os relativos à dimensão "mundo de vida". > Marx entendeu o plexo sistema da autorrealização do capital como uma totalidade fetichista; e isso havia dado lugar à exigência metodológica de que tudo aquilo que pudesse cair corretamente sob uma descrição sistêmica poderia decifrar-se por sua vez como um processo de coisificação do trabalho vivo. Mas essa desmedida exigência desaparece no sistema econômico capitalista não vemos somente uma nova formação de relações de classes, senão também um avançado nível de diferenciação sistêmica com direito próprio. > Sob essa premissa, a "questão semântica" de como traduzir algo de uma linguagem teórica a outra se transforma na questão empírica de quando o crescimento do complexo monetário-burocrático afeta a outros âmbitos de ação que não podem assentar-se sobre mecanismos de integração sistêmica sem que se produzam efeitos colaterais patológicos. > A análise da teoria parsoniana dos meios lhe conduziu à hipótese de que esses limites sobre passam com a penetração dos imperativos sistêmicos nos âmbitos da reprodução cultural, da integração social e da socialização. E esta é uma hipótese que deve contrastar-se empiricamente mostrando a existência de abstrações reais em zonas nucleares do mundo da vida. > Introduziu o conceito sistêmico de sociedade pela via de objetização metodológica do mundo da vida justificando em termos de uma teoria da ação ao passo da perspectiva do participante à perspectiva do observador, que essa objetização comporta. Isso também se aplica à teoria do valor: sua finalidade é esclarecer o que significa para a reprodução simbólica do mundo da vida que a ação comunicativa fique relevada por interações regidas por meios, que a linguagem seja substituída por meios como o dinheiro e o poder em sua função de coordenar a ação. (...) > O assentamento da ação sobre um mecanismo de coordenação distinto e, portanto, sobre um princípio de socialização distinto, só terá como efeito uma coisificação, uma deformação patológica das infraestruturas comunicativas do mundo da vida quando o mundo da vida não possa deixar as funções afetadas, quando não possa delegar sem dor essas funções em subsistemas de ação regidos por meios. Assim os fenômenos de coisificação perdem o duvidoso status de feitos que puderam deduzir-se de enunciados econômicos sobre relações de valor só com ajuda de transformações semânticas; as abstrações reais constituem agora um âmbito objetual empiricamente indagável. Se convertem em objeto de um programa de investigação que já não necessita da teoria do valor ou outro instrumento parecido. >Uma teoria da modernização capitalista que se valha dos meios da teoria da ação comunicativa se atem ao modelo de Marx em um aspecto distinto. Se comporta criticamente ante à realidade das sociedades desenvolvidas na medida em que elas não se utilizam do potencial de aprendizagem de que culturalmente dispõem e se entregam a um descontrolado aumento da complexidade. "Como si de un poder cuasi-natural se tratara, lacomplejidad sistémica se enseñoreaenellas (...) de unpatrimonio no regenerable; no solamente desgasta las formas tradicionales de vida, sino que ataca lainfraestructura comunicativa incluso de mundos de la vida profundamente racionalizados". > Mas essa teoria também é crítica aos debates em Ciências Sociais que não são capazes de decifrar os paradoxos da racionalização social porque só convertem em objeto os sistemas sociais complexos sob um desses aspectos abstratos, sem notar a constituição histórica do âmbito objetual sobre que versam. > Atualmente, a teoria crítica da sociedade não se comporta como competidor ante às orientações de investigação estabelecidas, pois a partir da ideia que cada um dessas exposições desenvolve acerca do surgimento das sociedades modernas, o que trata é explicar no que consiste a limitação específica e também o relativo direito de cada um deles. > Se descartamos por carecer de complexidade o enfoque que representa a teoria do comportamento, existem hoje3 principais direções de investigação q se ocupam do fenômeno das sociedades modernas (não críticas ou excludentes entre si): 1 - Ligada a Weber e à historiografia marxista; constitui linha de pesquisa de orientação comparativa, de metodologia tipológica, centrada nos aspectos sociais da história (conhecido como história social). A dinâmica da luta de classes recebe atenção maior conforme o enfoque, e o núcleo teórico é constituído por hipóteses sobre a diferenciaçãoestrutural da sociedade em sistemas de ação especificados funcionalmente; seu estreito contato com a pesquisa histórica impede que a teoria da diferenciação estrutural resulte num programa de orientação teórica. Separa a metodologia funcionalista. Ideia unidimensional do processo global de diferenciação estrutural. Falta o acabamento conceitual para uma adequada distinção entre: a) Diferenciação estrutural do mundo da vida, sobretudo de seus componentes sociais; b) A automização dos sistemas de ação que se diferenciamatravés dos meios de controle, e a diferenciação interna desses subsistemas e c) Os processos de diferenciaçãoque simultaneamente possibilitam a desdiferenciação de âmbitos de ação socialmente integrados, no sentido de uma colonização do mundo da vida. 2 - Ligada à teoria econômica neoclássica e com o funcionalismo sociológico; linha sistêmica de pesquisa que se impôs na economia e na administração. Se ocupa preferencialmente da complexidade interna dos sistemas econômicos e do sistema administrativo, suficiente como modelos idealizados. Mas na medida em que viram a necessidade de incluir os entornos sociais, fez-se sentir a necessidade de uma teoria integrada que compreendera também a interação entre os subsistemas economia e Estado, dada sua relação de complementariedade funcional. 3 - Com base na Fenomenologia, na Hermenêutica e no Interacionalismo Simbólico, linha de pesquisa centrada nos aspectos acessíveis da teoria da ação. As distintas correntes da sociologia compreensiva, na medida em que procedem com suficiente grau de generalização, coincidem no seu interesse por esclarecer as estruturas das imagens do mundo das formas de vida. O núcleo é a teoria da vida cotidiana, que também pode se conectar com investigação histórica. Quando isso ocorre, os processos de modernização podem ser apresentados desde a perspectiva dos modos de vida específicos das distintas capas e grupos sociais (...). "Una teoría crítica de lasociedadpodráasegurarse tanto mejor de los resultados de estas tresdirecciones de investigacióncuantomayossealaexactitudcon que demuestreendetallecómolosámbitosobjetuales que esas líneas de investigación se limitan a dar ingenuamente por sentados sólopudiernformarseenlaconstelación de comienzosdel mundo moderno y, por cierto, como consecuenciadeldesacoplamiento de sistema y mundo de la vida". > Ainda que a teoria da diferenciação estrutural não separa suficientemente os aspectos sistema e mundo da vida, as linhas de pesquisa baseadas na teoria de sistemas e na teoria de ação isolam e sobregeneralizam em cada caso um desses aspectos. Nos três casos, as abstrações metodológicas tem a mesma consequência. Suas teorias de modernidade permanecem insensíveis ao que Marx chamava de abstrações reais; elas só podem ser abordadas por uma análise que tenha em conta simultaneamente a racionalização do mundo da vida e o aumento da complexidade dos subsistemas regidos por meios e que não perca de vista a natureza paradoxal das suas interferências; las patologias sociaisnão podem medir-se em função de estados de normalidade biológicos, senão em função das contradições em que se vejam envoltas as interações entrelaçadas comunicativamente, por causa do poder objetivo com que os enganos podem apoderar-se de uma prática cotidiana dependente da facticidade de pretensões de validade. > Ao falar de abstrações reais, Marx não só se referia aos paradoxos (supra mencionado) como também aos paradoxos que só são acessíveisa uma análise da coisificação (ou racionalização). "Precisamente estoeslo quelaviejtateoría crítica se habíapropuesto como tarea antes de que a principio de losaños 40 empezara a distanciarse cada vez + de lasinvestigaciones sociológicas. Por esovoy a repasarelcomplejo de temas que ocuparan a laprimera teoria crítica (...)" > Ou seja: nesse ponto, Habermas se propõe a fazer um repasse da Teoria Crítica já desenvolvida até o início dos anos 1940, a mostrar como alguma das preocupações da teoria crítica podem ser retomadas sem se comprometer com suposições filosóficas ou históricas e, por fim, mostrar o "distinto significado" que tem hoje a crítica do positivismo na era do pós positivismo. O texto original é contínuo com umas indicações mínimas de cada uma das propostas, mas por uma questão lógico- esquemática eu vou fragmentar, conforme segue. I – Repasse da Teoria Crítica - Até o início dos anos 1940 o trabalho do Instituto de Investigação Social esteve dominado essencialmente por 6 temas: a) Formas de integração das sociedades pós liberais: ante a profunda transformação sofrida pelo capitalismo liberal, o conceito de coisificação estava exigindo uma especificação; sobretudo o nacional- socialismo obrigou o estudo da mudança da relação entre economia e Estado (...). b) Socialização na família e o desenvolvimento do eu; c) Meios de comunicação de massa e cultura de massa; > A relação entre o sistema de ação econômica e o sistema de ação administrativa deciso sobre como fica integrada a sociedade, sobre as formas de racionalidade a que se submete o contexto em que os indivíduos desenvolvem sua vida. > Mas a subsunção dos indivíduos socializados sob o padrão de controles sociais dominantes tinha que se estudar em outro lugar: na família, que, como agência de socialização, prepara os sujeitos para os imperativos do sistema ocupacional e no espaço público, onde a cultura de massas gera obediência generalizada às instituições políticas. > A teoria do capitalismo tardio só podia explicar o tipo de integração social. d) Psicologia social "de la protesta paralizada y acallada": Imagem monolítica de uma sociedade totalmente administrada; a ela corresponde um modo de socialização repressivo, que exclui a natureza interna, e um controle social q tudo penetra, feito através dos canais dos meios de comunicação de massas. e) Teoria del arte f) Crítica del positivismo de la ciência. >Os processo de coisificação da consciência só podem se converter em objeto de programa de pesquisa planejado integralmente em termos empíricos uma vez que a teoria do valor perdeu sua função essencial. O conteúdo normativodo conceito de coisificação tinha de se obter a partir do potencial de racionalidade da cultura moderna. > A arte se converte em objeto preferido de uma crítica ideológica que se impõe a si mesma como tarefa ao separar conteúdos transcendentes da arte autêntica, seja utópica ou crítica, dos componentes afirmativos ideologicamente consumidos dos ideais burgueses - filosofia tem significação central. II – Como alguma das preocupações da teoria crítica podem ser retomadas sem se comprometer com suposições filosóficas ou históricas; > A discussão em termos de crítica ideológica com a tradição poderia propor-se como objetivo a recuperação do conteúdo da verdade dos conceitos e problemas filosóficos, a apropriação de seu conteúdo sistemático, porque a crítica viria sustentada por supostos teóricos; nesse momento a teoria crítica se baseava ainda na filosofia marxista da história - na convicção de que forças produtivas desenvolvem uma força objetivamente explosiva. Só sob esse suposto poderia limitar-se a crítica a tornar conscientes os homens das possibilidades para às que já está madura a própria situação histórica. > Sem uma teoria da história não seria possível uma crítica imanente centrada ao redor de figuras do espírito objetivo; sem essa teoria a crítica se veria abandonada aos variáveis critérios que contingentemente pusera à sua disposição cada época histórica. O programa de investigação dos anos 1930 vinha sustentado pela confiança, nutrida pela filosofia da história, que sob a pressão do desenvolvimento das forças produtivas se desfaria em movimentos sociais. Mas paradoxalmente, Horkheimer, Marcuse e Adorno, graças aos seus trabalhos de crítica ideológica, se viram reforçados na opinião de que nas sociedades pós liberais a cultura perde sua autonomia e fica incorporada, nas formas des-sublimadas que adota na cultura de massas, na engrenagem do sistema econômico-administrativo. O desenvolvimento das forças produtivas, inclusive no próprio pensamento crítico, aparece cada vez mais na perspectiva de uma turva assimilação ao seu contrário. Na medida em que para esses autores a sociedade totalmente administrada só encara uma razão instrumental elevada à totalidade, todo o que existe se transforma em abstração real; e, assim sendo, o atacado e deformado por essas abstrações tem necessariamente que subtrair-se de toda intervenção empírica. > A fragilidade desses fundamentos da filosofia da história permite-nos entender por quê a tentativa de uma teoria crítica da sociedade desenvolvida em termos interdisciplinares estava condenada ao fracasso e por quê Horkheimer e Adorno recortaram esse programa reduzindo-lhe a considerações especulativas sobre a "dialética da ilustração" {não sei o que Habermas entendeu por esse termo; traduzi apenas literalmente}. Os supostos do materialismo histórico sobre a relação dialética entre forças produtivas e relações de produção haviam se transformado em enunciados pseudonormativos sobre a teologia objetiva da história - considerada como a força impulsora da realização de uma razão que nos ideias burgueses se havia interpretado a si mesma de forma equívoca. A teoria crítica só poderia assegurar-se de seus fundamentos normativos em perspectiva da filosofia da história. Mas isso apenas não era capaz de sustentar um programa de investigação empírica. > "Locual queda también de manifiestoenla falta de unámbitoobjetual claramente delimitado como es el de lapráctica comunicativa cotidiana del mundo de la vida, enla que se encarnanlasestructuras de racionalidad y enla que pueden ser identificados losprocesos de coisificación". As categorias básicas da Teoria Crítica enfrentam diretamente a consciência dos indivíduos a uns mecanismos sociais de integração que se limitariam a prolongar-se para dentro, intrapsiquicamente. Ao contrário, a teoria da ação comunicativa pode assegurar-se do conteúdo racional de estruturas antropológicas profundas numa análise que inicialmente é apenas reconstrutivo, isso é, que vem planejado em termos a-históricos. Essa análise descreve estruturas da ação e do entendimento, que podem inferir-se do saber intuitivo dos membros competentes das sociedades modernas. Essa análise cerra todo caminho de volta à uma filosofia da história que, forçosamente, não pode ser capaz de distinguir entre problemas de lógica evolutiva e problemas de dinâmica evolutiva. >Enese espectro de temas se reflejalaidea programática de Horkheimer de una ciencia social interdisciplinar. Habermas se propõe, então, a complementar a proposição com alguns comentários sobre os temas mencionados. "Me decidotambién a estas notas ilustrativas porque quierosubrayarel carácter plenamente abierto y lacapacidad de conexión que piensotieneelplanteamiento que hehecho de la teoria de lasociedad (...).Lo que lateoría de la sociedade puede proporcionar por símisma se asemeja al carácter focalizador de una lente. Sólocuandolascienciassocialesdejaran de ser capaces de inspirar ideasnuevashabría expirado la época de lateoría de lasociead". a) Formas de integração das sociedades pós liberais: > O racionalismo ocidental surgiu no marco das sociedades em que se implanta o capitalismo burguês. Por isso, com Marx e Weber se estudam as condições de partida da modernização analizando o caso desse tipo de sociedades e seguido a tendência evolutiva capitalista. Mas nas sociedades pós liberais esse caminho se bifurca: Numa das direções a modernização vem impulsionada pelos problemas endogenamente gerados pelos processos de acumulação econômica e na outra pelos problemas gerados pelos esforços de uma racionalização dirigida pelo Estado. No caminho evolutivo do capitalismo organizado se formam a ordem política das democracias de massas e do Estado social; não obstante, sob a pressãoda crise econômica a forma de produção, ameaçada pelas consequências da desintegração social, só podem se manter em alguns lugtares com a instauração de regimes autoritários ou fascistas. No caminho evolutivo que representa o socialismo burocrático se cristalizam a ordem política das ditaduras de partido único (estanilismo). Essas ramificações tornam necessárias especificações históricas, inclusive no nível mais geral dos tipos de integração da sociedade e das correspondentes patologias sociais. > Hipótese de que entre as condições de partida do processo de modernização figura uma profunda racionalização do mundo da vida. O dinheiro e o poder tem que poder ficar anclados como meios no mundo da vida; tem que poder ficar institucionalizados por via de direito positivo. Uma vez cumpridas essas condições de partida, podem diferenciar-se um sistema econômico e um sistema administrativo que guardam entre si uma relação de complementariedade e que entravam uma relação de intercâmbio com seus entornos por meios de controle. Nesse nível de diferenciação sistêmica em que surgem as ciências modernas, primeiro capitalistas e depois, destacando-se delas, as sociedades do socialismo burocrático. A via capitalista da modernização fica aberta enquanto o sistema econômico desenvolve em seu crescimento uma dinâmica própria e se põe a cabeça com seus problemas engenamente gerados - se faz com o primado evolutivo para o conjunto da sociedade global. O caminho modernizador discorre em outros termos quando o sistema de ação administrativoa, sobre a base de uns meios de produção amplamente estatizados e da institucionalização da dominação política de um partido único, consegue uma autonomia similar frente ao sistema econômico. > Na medida em que se implantam esses princípios de organização surgem relações de intercâmbio nesses dois subsistemas funcionalmente complementares e os componentes sociais do mundo da vida em que estão ancorados os meios. Uma vez descarregado das tarefas da reprodução material, o munda da vida pode, por um lado, diferenciar- se em suas estruturas simbólicas, pondo, assim, em marcha a lógica própria das evoluções que caracterizam a modernidade cultural; por outro lado, a esfera da vida privada e da opinião pública política ficam agora postas também à distância tanto quanto ao redor do sistema. Segundo seja o sistema econômico ou o aparato estatal em que ostente o primado evolutivo, será a economia doméstica ou as afiliações politicamente relevantes as que constituam a principal porta de entrada pela que penetram no mundo da vida as crises das que esses subsistemas logram desembaraçar-se. > As perturbações da reprodução material do mundo da vida adotam nas sociedades modernizadas a forma de desequilíbrio sistêmico; e esses, ou operam diretamente como crises ou provocam patologias no mundo da vida. >Essas crises de controle sistêmico tem sido investidas principalmente no caso do ciclo econômico dos sistemas de economia de mercado; mas no socialismo burocrático os mecanismos de autobloqueio da planificação administrativa produzem tendências às crises semelhantes do processo de acumulação. Os paradoxos da racionalidade planificadora, à semelhança da racionalidade de intercâmbio, podem explicar-se pelas contradições em que caem consigo mesmas as orietanções racionais da ação a causa de efeitos sistêmicos não pretendidos. A essas tendências à crise não só se faz frente no subsistema que em cada caso surge, como também no sistema de ação que lhes é complementar e ao que podem ser deslocados. Assim como que a economia capitalista depende das intervenções organizativas do Estado, assim também as instâncias planificadoras do socialismo burocrático dependem das operações de autogoverno do sistema econômico. O capitalismo desenvolvido oscila entre as políticas que representam a autorregulação pelo mercado e o intervencionismo estatal. Mais marcada ainda é a estrutura dilemática na outra parte, onde as medidas políticas oscilam sem remédio entre o reforço da planificação central e a descentralização, entre os programas econômicos orientados à inversão e os orientados ao consumo. > Mas esses desequilíbrios sistêmicos só se manifestam como crise quando os rendimentos da economia do Estado ficam manifestamente por baixo de um nível de aspiração estabelecido e minam a reprodução simbólica do mundo da vida ao provocar nele conflitos e reações de resistência - que afetam diretametne aos componentes sociais do mundo da vida. Mas antes de que esses conflitos possam por em perigo ãmbitos nucleares da integração social, se vem deslocados à periferia: antes de produzir-se estados de anomia, se apresentam fenômenos de perda de legitimaçaõ ou de perda de motivação. Mas se se logram interceptar as crises de controle, isto é, as perturbações percebidas da reprodução material abrindo mão de recursos do mundo da vida, surgem então patologias do mundo da vida. Para a manutenção da economia e do Estado são relevantes os recursos assinalados na fila intermediária em relação à conservação da sociedade; é aqui, nas ordens institucionais do mundo da vida, onde em última instância tem sua "anclaje" os subsistemas. > A substituição das crises de controle pelas patologias do mundo da vida podem ser representadas das seguintes formas: os estados anômicos se evitam e as legitimações e motivações importantes para a existência das ordens institucionais se asseguram a custo e por emio da exploração exaustiva dos restantes recursos. Se ataca e explora a cultura e a personalidade para dominar as crises e estabilizar a sociedade. Consequência: No lugar de fenômenos anômicos (e no lugar da perda de legitimação e a perda de motivação substituidora da anomia) surgem fenômenos de alienação e de desestruturação de identidades coletivas. Estes fenômenos lhes faz derivar da colonização do mundo da vida e os caracterizei como coisificação da prática comunicativa cotidiana. >> Sem embargo, as deformações do mundo da vida só adotam a forma de uma coisificação das relações comunicativas nas sociedades capitalistas, é dizer, ali onde as crises são transladadas ao mundo da vida através da porta de entrada que representa a economia doméstica. Não se trata da sobredilatação de um único meio, senão da monetarização e burocratização dos âmbitos de ação de trabalhadores e consumidores, de cidadãos e clientes das burocracias estatais. Nas sociedades nas que a crise penetra no mundo da vida pela porta da "pertinência" ou afiliações políticas relevantes, as deformações do mundo da vida adotam uma forma distinta. Também aqui, nas sociedades de socialismo burocrático, âmbitos de ação que dependem de por si da integração social ficam assentados sobre mecanismos de integração sistêmica. Só que a coisificação das relações comunicativas é substituída por uma simulação de relações comunicativas em âmbitos burocraticamente desertizados e coativamente humanizadosocupados por um comércio e trato pseudo político. Essa "pseudo-politização" guarda em certos aspectos uma relação de simetria com a privatização coisificadora. O mundo da vida não fica assimilado diretamente ao sistema; não fica assimilado a âmbitos de ação formalmente organizados e jurisdicizados, senão que as organizações do aparato estatal da economia, autonomizadas sistemicamente, são retroprojetadas sobre uma ficção de horizonte do mundo da vida. O sistema, ao apresentar-se com roupagens de mundo da vida, deixa vazio o mundo da vida. b) Socialização na família e o desenvolvimento do eu > A família era considerada como a agência através da qual os imperativos sistêmicos se imiscuem nos destinos das pulsões; mas não era levada a sério na sua estrutura comunicativa interna - era considerada num ponto de vista funcionalista. Daqui se desentendem as grandes mudanças ocorridas na família burguesa e em especial se mal interpretara o resultado da perda de relevância da autoridade paterna. Parecia como se agora os imperativos sistêmicos, através da midiatização da família, tiveram oportunidade de intervir no acontecer intrapsíquico, de forma direta ou peneirados somente pelo meio brando da cultura de massas; mas se, pelo contrário, no câmbio estrutural da pequena família burguesa se vê operar também a lógica própria da racionalização do mundo da vida, se se tem em conta que na igualitarização das pautas de relação, nas formas individuais de comércio e trato e nas práticas pedagógicas liberalizadas fica também liberado um fragmento do potencial de racionalidade que a ação comunicativa leva em seu seio, então o câmbio experimentado pelas condições socializadoras das famílias de classe média aparece também a uma luz distinta. > Os indicadores empíricos sugerem a autonomização de uma família nuclear em que os processos de socialização se cumprem através do meio de uma ação consensual amplamente desinstitucionalizada. Cristalizam aqui infraestruturas comunicativas que se tem liberado de encadeamentos latentes por parte dos complexos sistêmicos. O antagonismo entre o homem, que na esfera íntima se educa para a liberdade e humanidade, e o burguês, que na esfera do trabalho social obedece a imperativos funcionais, foi sempre ideologia. Mas esse antagonismo cobra uma significação distinta: os mundos da vida familiar miram de frente os imperativos do sistema econômico e administrativo, que lhes advertem desde fora, no lugar de ver-se mediatizados por eles "a tergo". Nas famílias e em seus entornos pode observar-se uma polarização entre os âmbitos da ação comunicativamente estruturados e os formalmente organizados, que coloca os processos de socializaçãosob condições distintas, e os expõe a um tipo distinto de riscos. É o que sugerem, tomados em termos gerais, dois dos sintomas que vem sublinhando a psicologia social: a decrescente importância da problemática edípica e a crescente importância das crises da adolescência. > Desde muito tempo, os médicos de orientação psicoanalítico vem observando uma mudança sintomática nas enfermidades psicológicas típicas da época. As histerias clássicas quase desapareceram; o número de neuroses compulsivas decresce drasticamente; em seu lugar aumentam as perturbações narcisistas. Christopher Lashaproveitou essa mudança de sintomas para fazer um diagnóstico da época, que vai muito além do âmbito do clínico. Esse diagnóstico confirma que as transformações significativas da atualidade escapam à psicologia social quando ela parte para explicar-lhes da problemática edípica, da interiorização de uma repressão social meramente mascarada na autoridade paterna. Resultam mais fecundas as explicações que partem da premissa de que as estruturas de comunicação liberadas no seio da família representam umas condições de socialização mais exigentes e simultaneamente mais vulneráveis. Surge um potencial de irritação; e com ele cresce também a probabilidade de que as instabilidades no comportamento dos pais tenham repercussões desproporcionadamente grandes, no sentido de um sublimado sentimento de desamparo. > A importância que tem para a socialização o desacoplamento do sistema e mundo da vida vem sugerido também por outro fenômeno: o da agudização da problemática da adolescência. Se os imperativos sistêmicos já não penetram furtivamente na família assentando-se em formas de comunicação distorcidas e intervindo sub repticiamente na formação da pessoa, senão que advem à família de fora, abertamente e sem nenhum mistério, tanto mais terão então a formar-se disparidades entre as competências, atitudes e motivos, por um lado, e as exigências funcionais dos papeis da idade adulta, por outro. Os problemas da separação da família e da formação de uma identidade própria estão convertendo o desenvolvimento juvenil nas sociedades modernas, desenvolvimento que apenas se conta com umrelação do eu com a natureza externa em categorias da filosofia da consciência, isto é, segundo o modelo das relações entre um sujeito e um objeto, pode substituir-se então por uma teoria da socialização que vincule Freud com Mead, que coloque as estruturas da intersubjetividade no posto que lhes corresponde e que substitua as hipóteses relativas aos destinos pulsionais por hipóteses relativas à história da interação e da formação da identidade. Esse planejamento pode: a) fazer seus os recentes desenvolvimentos que tem tido lugar na investigação psicanalítica, em especial a teoria das relações de objeto e a psicologia do eu; b) conectar com a teoria dos mecanismos de defesa, de modo que podem abordar-se as conexões entre as barreiras intrapsíquicas à comunicação, por um lado, e as perturbações da comunicação no plano interpessoal, no outro; c) utilizar as hipóteses sobre os mecanismos de resolução consciente e inconsciente dos conflitos para estabelecer uma conexão entre a ortogênese e a patogênese. O desenvolvimento cognitivo e socio-moral investigado na tradição de Piaget, se cumpre segundo pautas estruturais que proporcionam um plano de fundo e contrase fiáveis para os desvios apreendidos intuitivamente no âmbito do clínico. c) Meios de comunicação de massa e cultura de massa; d) Psicologia social "de la protesta paralizada y acallada": e) Teoria del arte f) Crítica del positivismo de la ciência.
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