Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
© M et ro po lit an M us eu m o f A rt, N ew Yo rk /F ot óg ra fo d es co nh ec id o Livro do Professor Volume 7 Livro de atividades Literatura Vanessa de Paula Hey ©Editora Positivo Ltda., 2017 Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora. Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil) H615 Hey, Vanessa de Paula. Literatura : livro de atividades : Vanessa de Paula Hey. – Curitiba : Positivo, 2017. v. 7 : il. ISBN 978-85-467-1634-0 (Livro do aluno) ISBN 978-85-467-1587-9 (Livro do professor) 1. Ensino médio. 2. Literatura – Estudo e ensino. I. Título. CDD 373.33 13Realismo Literatura realista Contexto histórico e correntes de pensamento • Revolução Industrial em seu estágio mais avançado (introduziu de maneira definitiva as novas tecnologias e os processos científicos). • Consequências: êxodo rural, inchaço das cidades, lutas do proletariado (devido às condições de trabalho desumanas). • No Brasil, o final do século XIX foi marcado por importantes acontecimentos como: a Abolição da Escravatura (1888), a Proclamação da República (1889) e o início da República Oligárquica do Café. Nota: o contexto histórico vale para o Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo – estéticas literárias que ocorreram praticamente na mesma época. Principais aspectos do Realismo racionalidade: preocupação com a verdade; valorização do conhecimento racional; pesquisa e observação da realidade impessoalidade: distanciamento entre o autor e os temas por ele apresentados nas obras; separação entre os sentimentos do autor e do personagem objetividade: não mais idealizada, a realidade é descrita como algo concreto e palpável contemporaneidade: o contexto histórico e social no qual o autor está inserido é o mesmo retratado nas obras crítica à burguesia: as obras realistas critiocam e questionam os valores e os ideais burgueses Correntes de pensamento da época Idealizada ou desenvolvida por Característica Positivismo Augusto Comte Fundamenta-se na ideia de que o conhecimento científico, formulado com base na observação e nos experimentos, é o único válido. Determinismo Hippolyte Taine Defende que o comportamento humano é determinado e condicionado pelo meio, pelo contexto histórico e pela raça. Evolucionismo Charles Darwin Baseia-se na seleção natural, segundo a qual apenas espécies mais aptas são capazes de sobreviver e perpetuar-se. Essa teoria entrou em choque com os ideais criacionistas. Marxismo/Socialismo Karl Marx e Friedrich Engels Doutrina política e econômica pautada na ideia de distribuição de riquezas, decorrente de reforma social que excluiria a divisão de classes e a propriedade privada. Psicanálise Sigmund Freud Teoria que pretende explicar o funcionamento do aparelho psíquico (mente humana) e tornar conscientes os processos psíquicos inconscientes que foram reprimidos ou recalcados durante as etapas do desenvolvimento do sujeito, por meio do método de associação livre. 2 Volume 7 Realismo na Europa Romantismo Realismo subjetividade objetividade idealização da realidade retrato fiel da realidade personagens mais simples, estereotipados personagens mais complexos, maior densidade psicológica nacionalismo universalismo valorização do passado histórico valorização do presente literatura como fuga da realidade literatura como forma de engajamento amor: sentimento puro amor: condicionado às conveniências sociais proximidade emocional distanciamento emocional Nesse momento, o Romantismo já se encontrava desgastado. O público leitor esperava mais do que um excesso de sentimentalismo e amor à pátria. Surge, então, o Realismo, estética literária que pretende representar nas obras uma visão mais lúcida da realidade. Na Europa, a publicação do romance Madame Bovary, em 1856, do escritor francês Gustave Flaubert , foi inaugural dessa estética. Realismo em Portugal Principais características Tentativa de retratar a realidade de maneira fiel; foco nas questões sociais; descrição de pessoas comuns; representação da vida cotidiana; crítica aos falsos valores de conduta moral e aos bons costumes. poesia: temática bem variada – relatos do cotidiano, poesia política e engajada e poesia metafísica (questionamentos relacionados a Deus, à vida e à morte). prosa: crítica aos valores burgueses, à falsa moralidade do clero; retrato dos costumes das classes menos favorecidas; temas considerados vulgares ou mesmo tabus no período: adultério, exploração do homem pelo homem, jogo de insteresses, conveniências sociais. Em meados do século XIX, coexistiam, em Portugal, grupos de escritores com insteresses distintos: por um lado, havia aqueles ainda apegados aos modos de escrita próprios do Romantismo e, por outro lado, um grupo de jovens escritores que se dedicavam a uma nova forma de expres- são literária. Em 1865, aconteceu um episódio dividiu opiniões: a Questão Coimbrã, que envolveu Antonio Feliciano Castilho, grande defensor da estética romântica, e Antero de Quental, um dos jovens escritores da época. Castilho criticou a literatura que estava sendo feita e imediatamente Antero de Quental reagiu, defendendo que a arte literária não poderia mais ser alienada, mas sim uma arte combativa, vinculada com a realidade, e voltada à representação dos dilemas ideológicos que caracterizavam as questões sociais da época. Os autores mais representativos são Eça de Queirós (prosa) e Cesário Verde (poesia). Realismo no Brasil Depois da Independência e do surto nacionalista-ufanista, a nação ainda esperava pelo progresso social, político e econômico. Com a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), mesmo que vencedor, o Brasil saiu com dívidas altas. Todo esse processo fortaleceu o pensamento republicano, de- sencadeando a decadência e o isolamento da monarquia. Nessa época, as ideias abolicionistas também ganharam força. No Brasil, o Realismo teve início em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas. 3Literatura Volume 7 Machado de Assis (1839-1908) 1.ª fase (romântica) Produção que contempla o início de sua carreira (1850) e se estende até a década de 1870. Também conhecida como fase de amadureci- mento ou preparação, nela, sua obra apresenta traços próprios da estética romântica: moralismo burguês, sentimentalismo, subjetivismo e cumprimento do esquema romântico. Obras mais representativas do período: • Romances – Ressurreição, A mão e a luva e Helena e Iaiá Garcia. • Contos – Contos Fluminenses e Histórias da meia-noite. • Poesia – Crisálidas, Falenas e Americanas. • Teatro – Queda que as mulheres têm para os tolos, Os deuses de casaca e Tu, só tu, puro amor. 2.ª fase (realista) Produção que fez Machado de Assis ser reconhecido como um grande escritor. Tem início em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Obras mais representativas do período: • Romances – Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires. • Contos – Papéis avulsos, Histórias sem data e Várias Histórias. • Poesia – Ocidentais. • Teatro – Não consultes médico e Lição de botânica. crítica às situações humanas e à burguesia: os valores sustentados pelo Romantismo, como a amizade, o amor, o casamento e a religião, são, por vezes, desacreditados ou mesmo ridicularizados. O adultério, a hipocrisia, as segundas intenções e a vaidade são os grandes corruptores dos relacionamentos humanos. análise psicológica: seus personagens, em geral, são redondos, ou seja, apresentam grande profundidade psicológica, são fortes, repletos de contradições e podem ser considerados imprevisíveis linguagem: acadêmica, obediente à norma culta, concisa, objetiva e com a presença de metalinguagem uso de digressões: a narrativa é constantementeinterrompida por reflexões, retrospectivas e comentários do narrador ou do personagem. As digressões diminuem a distância entre o narrador e o leitor, transformando este em cúmplice ou colaborador; o narrador conversa com o leitor e, por vezes, sugere a ele que pule alguns capítulos ou interrompa a leitura intertextualidade: alusão a outras obras, textos e autores; uso de citações e paródia tempo e espaço: os enredos têm como pano de fundo as paisagens físicas e sociais do Rio de Janeiro do final do século XIX ironia: jogo de linguagem que permite abordar temas delicados de modo crítico ou sarcástico; dá aos enredos maior profundidade e senso crítico pessimismo: visão negativa do mundo; uso de humor e ironia para contrapor o negativismo Características gerais da obra machadiana 4 Atividades 1. Observe a obra de arte do artista argentino Antonio Berni. BERNI, Antonio. Manifestación. 1934. 1 óleo sobre estopa, color., 180 cm x 249,5 cm. Museu de Arte Latinoamericano, Buenos Aires. As pessoas retratadas na tela são personagens ideali- zados ou representam pessoas comuns? Explique. As pessoas retratadas representam o ser humano comum. Na tela, há a presença de vários tipos, facilmente reconhecidos em quase todas as sociedades. Não se busca mostrar somente aquilo que é belo, ou que se aproxima do perfeito, mas pessoas reais, que faziam parte da sociedade da época. 2. Marque as alternativas que correspondem às manifes- tações artísticas do Realismo. a) ( ) A prática da arte pela arte. b) ( X ) A arte como forma de denúncia. c) ( X ) A representação do real, desvinculado da idea- lização e do sentimentalismo. d) ( ) O uso de muitos símbolos. 3. Quanto ao Realismo, marque as proposições corretas. a) ( ) A literatura desenvolvida por essa estética literária se voltou, principalmente, para os problemas rurais, demonstrando como o avanço dos grandes centros urbanos corrompeu a vida no campo. b) ( ) Essa estética desenvolveu o romance naciona- lista, sem se utilizar do excesso de sentimenta- lismo romântico. c) ( X ) Buscou analisar, de maneira mais objetiva e com senso crítico, os problemas sociais, denunciando os vícios e a corrupção da sociedade burguesa da época. d) ( X ) Evidenciou os aspectos desagradáveis da rela- ção entre indivíduo e sociedade. 4. (UFMT) A partir da metade do século XVIII, na Europa, uma conjugação de eventos redimensionou a cúpula do poder social. A burguesia, contraposta à nobreza e clero ora decadentes, se firmou e a ciência passou a explicar racionalmente a realidade. Essa alteração na fisionomia econômico-filosófica do velho continente, com reflexos nas nações periféricas, veio acompa- nhada de um natural realinhamento das artes. A lite- ratura, sem abrir mão de proporcionar prazer estético e cumprindo seu papel de revelar a relação entre o homem e sua circunstância histórica, adequou-se e espelhou a nova realidade que trazia, entre outros marcos, a supracitada alternância de classes no po- der. Qual fato histórico ocorreu no Brasil durante a época do Realismo? a) Chegada da expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa X b) Proclamação da República c) Conjuração Mineira e condenação de Tiradentes d) Vinda de D. João VI e da família real e) Abdicação de D. Pedro I 5. (ENEM) No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de épo- ca: o Romantismo. “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da bele- za, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.” ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 1957. A frase do texto em que se percebe a crítica do narra- dor ao Romantismo está transcrita na alternativa: X a) ...o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas... “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da bele- za, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.” Literatura 5 b) ...era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça... c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno,... d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou de- zesseis anos... e) ...o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. 6. Leia o seguinte trecho retirado do conto “Noite de Al- mirante”, de Machado de Assis, e destaque ao menos três características realistas, transcrevendo passagens que as comprovem. Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e enfiou pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou de uma longa viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou licença. Os companheiros disseram-lhe, rindo: – Ah! Venta-Grande! Que noite de almirante vai você passar! ceia, viola e os braços de Geno- veva. Colozinho de Genoveva... Deolindo sorriu. Era assim mesmo, uma noite de almirante, como eles dizem, uma des- sas grandes noites de almirante que o esperava em terra. Começara a paixão três meses antes de sair a corveta. Chamava-se Genoveva, ca- boclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido. Encontraram-se em casa de terceiro e ficaram morrendo um pelo outro, a tal ponto que estiveram prestes a dar uma cabeçada, ele deixaria o serviço e ela o acompanharia para a vila mais recôndita do interior. A velha Inácia, que morava com ela, dissua- diu-os disso; Deolindo não teve remédio senão seguir em viagem de instrução. Eram oito ou dez meses de ausência. Como fiança recípro- ca, entenderam dever fazer um juramento de fidelidade. ASSIS, Machado de. Volume de contos. Rio de Janeiro: Garnier, 1884. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/bv000208.pdf>. Acesso em: 5 ago. 2015. 1) objetividade: “Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e enfiou pela rua de alcunha: designação (normalmente depreciativa) que se utiliza no lugar do nome de alguém. corveta: tipo de embarcação. recôndita: retirada, longe. Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos”; 2) materialização do amor: “Ah! Venta-Grande! Que noite de almirante vai você passar! ceia, viola e os braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva...”; 3) representação da pessoa comum: “Chamava-se Genoveva, caboclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido”. 7. Relacione as colunas. (1) Romantismo (2) Realismo ( 1 ) Elogio aos valores burgueses e às suas institui- ções, como o casamento e a Igreja. ( 1 ) Desenvolvimento de um romance nacionalista, exaltando o modo de vida da sociedade brasileira. ( 2 ) Retrato objetivo da realidade, criticando muitos dos valores burgueses da época. ( 2 ) Presença do espírito cientificista do período, como o Darwinismo, Evolucionismo, Determinismo e Po- sitivismo. ( 1 ) Preocupação como passado e com a história, rara- mente tratando dos problemas da época. 8. Sobre a obra machadiana da fase realista, assinale a afirmativa correta. a) Ocupa-se da descrição minuciosa das relações amoro- sas entre personagens, que vivenciam o amor de forma incondicional. b) Os romances da segunda fase são marcados pela crença determinista como justificativa das ações dos personagens. c) Apresenta como constantes o vocabulário preciso, a bondade humana e a sátira. X d) Expõe uma análise profunda dos sentimentos hu- manos, rompendo com a ordem cronológica tradi- cional. e) Como muitos escritores que pertenceram à mesma tradição, Machado de Assis começou sua carreira es- crevendo romances realistas, e, mais tarde, passou para uma temática mais naturalista, com a publicação de ro- mances de tese. 6 Volume 7 9. Sobre a prosa de Machado de Assis, assinale a alterna- tiva INCORRETA. a) Em contraposição à postura de conformidade ado- tada pelo escritor na década de 1870, nas décadas seguintes, observa-se um intelectual irônico, pessi- mista e crítico. b) Um dos temas mais recorrentes na sua segunda fase foi a crítica à hipocrisia social. c) É marcada pelas temáticas universais, que revelam, com humor e ironia, a verdadeira condição humana. X d) Seus romances realistas abordam superficialmente os conflitos humanos, buscando o efeito imediato do problema, sem se preocupar com a profundidade dos problemas morais e sociais. e) As fraquezas humanas são objeto de constante re- flexão. 10. (ENEM) Capítulo III Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de bron- ze, mas o amigo Palha disse-lhe que era ma- téria de preço, e assim se explica este par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, es- colheria a bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem re- sistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que es- tava acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da pro- víncia, nem pôde deixar na cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros serviços. ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento). Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside X a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência sobre a es- sência. b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela dos imigrantes. c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que represen- tam o desejo de eternização de Rubião. d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho. e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de xenofobia. 11. (UNICAMP – SP) Leia os seguintes trechos de Viagens na minha terra e de Memórias Póstumas de Brás Cubas: Benévolo e paciente leitor, o que eu tenho de- certo ainda é consciência, um resto de consciên- cia: acabemos com estas digressões e perenais divagações minhas. (Almeida Garrett, Viagens na minha terra. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1969, p.187.) Neste despropositado e inclassificável livro das minhas Viagens, não é que se quebre, mas enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode deslindar e seguir em tão embaraçada meada. (Idem, p. 292.) Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ín- timo, por que o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, em Romances, vol I. Rio de Janeiro: Garnier, 1993, p. 140.) argentaria: peça trabalhada em prata. teso: tenso. pajem: jovem serviçal. Literatura 7 a) No que diz respeito à forma de narrar, que seme- lhanças entre os dois livros são evidenciadas pelos trechos acima? Caráter digressivo das narrativas, redução da importância da ação dramática, comentários irônicos do narrador e a constante abordagem ao leitor (“Benévolo e paciente leitor" – Garret e “o maior defeito deste livro és tu, leitor” – Machado). b) Que tipo de leitor esta forma de narrar procura frus- trar, e de que maneira esse leitor é tratado por am- bos os narradores? Procura frustrar o leitor impaciente e ingênuo, acostumado a certas convenções do gênero narrativo. Nas duas obras, o leitor é tratado de maneira irônica pelo narrador. 12. (UNICURITIBA – PR) Considere o texto abaixo e avalie as afirmativas a seguir. Ao Leitor QUE STENDHAL confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cin- quenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessi- mismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conú- bio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um pró- logo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos cousas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e, aliás, desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agra- dar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agra- dar, pago-te com um piparote, e adeus. (MACHADO DE ASSIS. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Abril Cultural, 1978.) a) ( F ) O diálogo com o leitor, a narrativa em primei- ra pessoa, marcada pela ironia, as referências intertextuais e metalinguísticas são característi- cas inconfundíveis do Realismo e do Naturalis- mo, cujas características se misturam na obra de Machado de Assis. b) ( F ) Quando diz “Obra de finado”, o narrador espera que o livro escrito em vida venha a ter alguns leitores após sua morte: “...eu ainda espero an- gariar as simpatias...” c) ( F ) O diálogo do narrador em primeira pessoa com o leitor é um traço vanguardista da obra de Machado de Assis, aspecto que será posterior- mente desenvolvido por modernistas, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos. d) ( F ) Característica inconfundível dos romances de Machado de Assis é a profunda análise psicológica das personagens à luz dos avanços da Sociologia e da Psicologia do século XIX, conforme a linha aberta pelos realistas europeus. e) ( V ) Por romper radicalmente com o novelismo idea- lizante do Romantismo e inaugurarum estilo narrativo único em nossa ficção do século XIX, o romance Memórias póstumas de Brás Cubas inaugurou a literatura realista no Brasil. 13. (UEM – PR) Leia os fragmentos a seguir, retirados de romances de Machado de Assis, e responda à questão abaixo. “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o es- tilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem ...” (Memórias Póstumas de Brás Cubas) consterna: aflige. galhofa: zombaria. conúbio: relação, casamento. frívola: superficial. angariar: conquistar. nimiamente: em demasia. enfadonho: tedioso. ínfimo: de pouca importância. ébrios: embriagados. 8 Volume 7 “A leitora que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, que- rida; eu mudo de rumo.” (Dom Casmurro) “Se não fora o que aconteceu e se contará por estas páginas adiante, haveria matéria para não aca- bar mais o livro; era só dizer que sim e que não, e o que estes pensaram e sentiram, e o que ela sentiu e pensou, até que o editor dissesse: basta! Seria um livro de moral e de verdade, mas a história come- çada ficaria sem fim. Não, não, não... Força é con- tinuá-la e acabá-la. Comecemos por dizer o que os dois gêmeos ajustaram entre si [...].” (Esaú e Jacó) Identifique uma característica típica da prosa macha- diana presente nos três fragmentos acima e explique- -a. A seguir, extraia dos fragmentos trechos em que essa característica pode ser observada. Metalinguagem, ou seja, quando há, em um texto, a discussão sobre seu próprio processo de construção e a reflexão sobre o funcionamento da linguagem. Nos trechos em destaque, o texto é o tema do próprio texto. No primeiro fragmento: “porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios”; no segundo: “A leitora que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje quer fechá-lo às pressas”; no terceiro: “Se não fora o que aconteceu e se contará por estas páginas adiante, haveria matéria para não acabar mais o livro”. 14. (UFRGS – RS) Assinale a alternativa correta sobre a obra de Machado de Assis. a) O primeiro romance publicado por Machado de As- sis foi Dom Casmurro (1899), totalmente integrado à estética romântica, ao pôr em evidência história de amor entre Bentinho e Capitu. cavatina: tipo de música. b) Brás Cubas, o protagonista do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, é um humanista oriundo da classe trabalhadora, defensor dos direitos dos escravos. c) Quincas Borba, único romance de Machado de Assis que apresenta narrador em primeira pessoa, é nar- rado pelo próprio Quincas Borba. X d) Várias Histórias reúne alguns dos principais contos de Machado de Assis, entre eles “A causa secreta”, que narra o prazer mórbido que sente Fortunato ao presenciar o sofrimento alheio. e) Helena é um romance da última fase de Machado de Assis, já integrado ao realismo, na qual se desta- ca a ironia que consagrou o autor. 15. (USF – SP) Há duas obras [...] cujos títulos envolvem “memórias”: as póstumas de Brás Cubas e as de um sargento de milícias. A respeito dessas obras, de gran- de importância para a literatura nacional, bem como do contexto de produção e às características das estéticas em que se enquadram, analise as afirmações que se- guem. I. Ambas as narrativas versam acerca de eventos me- morialísticos registrados pelos narradores-persona- gem em ordem não cronológica. II. O romance de Machado de Assis reflete as caracte- rísticas que iriam se tornar marca registrada do au- tor, como a análise psicológica, a metalinguagem, a conversa com o leitor e o sarcasmo, entre outras. III. Embora a narrativa de Manuel Antônio de Almeida pertença à esfera de produção do Romantismo na- cional, pode-se afirmar que ela antecipa, em grande parte, a transformação que Machado de Assis pro- vocará com a produção de obras que constituirão o Realismo brasileiro. IV. As duas obras trazem inovações significativas ao panorama literário nacional, uma vez que registram, de forma crítica, o painel social da burguesia cario- ca, que envolve os costumes, a linguagem, as diver- sões e os relacionamentos. Analisadas as afirmações acima, assinale a opção que apresenta todas as corretas. a) I, II e IV. b) II, III e IV. c) I e II. X d) II e III. e) III e IV. Literatura 9 16. Leia a seguinte passagem retirada do romance macha- diano Dom Casmurro. – Não! exclamei de repente. – Não quê? Tinha havido alguns minutos de silêncio, du- rante os quais refleti muito e acabei por uma ideia; o tom da exclamação, porém, foi tão alto que espantou a minha vizinha. – Não há de ser assim, continuei. Dizem que não estamos em idade de casar, que somos crianças, criançolas, – já ouvi dizer criançolas. Bem; mas dous ou três anos passam depressa. Você jura uma cousa? Jura que só há de casar comigo? Capitu não hesitou em jurar, e até lhe vi as faces vermelhas de prazer. Jurou duas vezes e uma terceira: – Ainda que você case com outra, cumprirei o meu juramento, não casando nunca. – Que eu case com outra? – Tudo pode ser, Bentinho. Você pode achar outra moça que lhe queira, apaixonar-se por ela e casar. Quem sou eu para você lembrar-se de mim nessa ocasião? – Mas eu também juro! Juro, Capitu, juro por Deus Nosso Senhor que só me casarei com você. Basta isto? – Devia bastar, disse ela; eu não me atrevo a pedir mais. Sim, você jura... Mas juremos por outro modo; juremos que nos havemos de casar um com outro, haja o que houver. Compreendeis a diferença, era mais que a elei- ção do cônjuge, era a afirmação do matrimônio. A cabeça da minha amiga sabia pensar claro e depressa. ASSIS, Machado. Dom Casmurro. Olinda: Livro Rápido, 2010. p. 56. Qual é a diferença entre a forma de juramento proposta por Bentinho e a proposta por Capitu? No trecho descrito, Bentinho apresenta dois momentos distintos: um como um narrador que se mostra de forma racional e outro em que se apresenta de maneira passional. A diferença da postura entre o juramento feito por Bentinho e o feito por Capitu está no fato de aquele se mostrar mais emocional e esta mais racional (uma vez que faz uma proposta bem mais inteligente que a dele). 17. Leia o trecho retirado do último capítulo da obra Dom Cas- murro, de Machado de Assis, e responda ao que se pede. Agora, por que é que nenhuma dessas capri- chosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-ca- valos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir- me-ia, como no seu cap. IX, vers. 1: “Não te- nhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. ASSIS, Machado. Dom Casmurro. Olinda: Livro Rápido, 2010. p.148. a) Qual é a conclusão do narrador sobre a personalida- de de Capitu? O narrador acredita que a personalidade de Capitu tenha se desenvolvido com base em sua inclinação natural,afinal: “hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca". b) O narrador-personagem Bentinho ainda hesita quanto à certeza de que fora traído? Por quê? Não. Bentinho tem certeza de que fora traído. O que resta saber é se a Capitu que ele acredita tê-lo traído já existia na Capitu menina. c) O que representa o “resto” para o narrador? Trata-se do questionamento final proposto pelo narrador, que, já tomando por fato certo a traição, ainda quer saber se aquela Capitu que o enganara era a mesma que conheceu ainda menina. 10 Volume 7 14 Naturalismo Naturalismo na Europa Como estética literária, o Naturalismo não corresponde à descrição ou mesmo à exaltação da natureza (característica do Romantismo), mas ao retrato do ser humano e do mundo pela perspectiva das ciências naturais. O Naturalismo surgiu com Émile Zola (1840-1902) e é considerado uma extensão da estética realista, apresentando alguns aspectos em comum, como a aversão ao Romantismo e a maneira objetiva de representar a realidade. O que diferencia essa estética, contudo, é o enfoque cientificista adotado pelos autores. Assim, os textos naturalistas também podem ser chamados de realistas, embora o contrário não seja válido. Naturalismo no Brasil temas prediletos: sexo, adultério, assassinato, miséria, desequilíbrio psíquico, etc. determinismo: o momento histórico, as questões hereditárias e o meio em que vive o ser humano são elementos que condicionam o seu comportamento patologismo: por ser uma vertente cientificista, o Naturalismo preocupa-se em estudar as distorções do comportamento, da personalidade e dos grupos sociais amoralismo: a vertente naturalista descreve e narra a realidade dos fatos, sem emitir juízos de valor quanto ao comportamento dos personagens animalização do ser humano: visão do ser humano como um ser que se move mais pelos seus instintos do que pela razão; face a alguma situação, as respostas são instintivas romances de tese: as obras naturalistas se colocam a serviço das teses cientificistas, tentando comprová-las materialismo (corrente marxista): enfatiza o necessário à sobrevivência do ser humano e o que estrutura economicamente a vida em sociedade autores publicação de O Mulato, de Aluísio de Azevedo (1881) Aluísio de Azevedo: maior nome do Naturalismo brasileiro. Principais obras: – O mulato (1881) – Casa de pensão (1884) – O cortiço (1890), obra-prima do autor, representa a influência do meio sobre o comportamento social Raul Pompeia: não se encaixa muito bem nos moldes realista-naturalistas. O Ateneu, por exemplo, é uma obra que apresenta traços impressionistas. Adolfo Caminha: autor de romances que causaram escândalo em sua época. Obras: – O normalista – O Bom-Crioulo Júlio Ribeiro – A carne Domingos Olímpio – Luzia-homem Inglês de Sousa – O Missionário Naturalismo extensão do Realismo características Literatura 11 Volume 7 Realismo Naturalismo influência de Flaubert influência de Émile Zola romance documental romance de tese ou experimental ser humano como um ser racional ser humano como um ser instintivo interesse pela psicologia interesse pela biologia e patologia destaque para o individual (sem se esquecer do social) destaque para o coletivo retrato e crítica às classes dominantes retrato das camadas inferiores da sociedade denúncia social crítica social investigação da alma humana, acentuando-lhe o caráter perverso investigação do ser humano em seus aspectos mais instintivos, libidinosos e animalescos ambiente focalizado: vida urbana da corte ambiente focalizado: favelas, cortiços, bairros, periferia tipos humanos tomados para análise: burguesia decadente e hipócrita tipos humanos tomados para análise: seres humanos movidos pelo instinto, populações marginalizadas preferência pela observação e análise de comportamento preferência pela experimentação tendência em destacar o universo interior das personagens destaque para a realidade externa dos personagens - onde vivem, como se comportam narrativa descritiva e detalhista: preocupação com a fidelidade ao real narrativa que revela o relato de experiências que se relaciona com hipóteses científicas 12 4. A estética naturalista brasileira foi muito bem representada pelo autor Aluísio de Azevedo. Sua produção revela ver- dadeiras obras-primas, partidárias do espírito naturalista e que analisaram e criticaram com excelência o comporta- mento da sociedade burguesa. Sobre o autor e sua obra, pode-se afirmar que I. recebeu, em seus romances naturalistas, a influência de autores como Machado de Assis e Eça de Queirós. II. a obra O Mulato provocou violenta reação da sociedade maranhense da época por satirizar os vários tipos sociais, como as beatas e o clero (fazendo com que o autor retornasse ao Rio de Janeiro). Atividades 1. Sobre o Naturalismo, complete as lacunas e faça o que se pede. a) A obra inaugural do Naturalismo no Brasil é O Mulato , de Aluísio de Azevedo, de 1881 . Já a obra-prima desse escritor é O cortiço . b) Cite quatro características naturalistas. Sugestão de resposta: personagem condicionada, personagem patológica, ênfase nas necessidades instintivas e animalização do homem. c) Cite quatro fatores comuns aos movimentos realista e naturalista. Sugestão de resposta: os dois movimentos eram antiburgueses, antirromânticos, anticlericais e apresentavam preocupações sociais. 2. Marque a alternativa em que todas as características listadas pertencem ao Naturalismo. a) Idealização da natureza, descrição exacerbada das paisagens rurais, gosto pelo noturno. b) Descrição da natureza, subjetividade, ênfase na análise do indivíduo como parte de uma coletividade. c) Passadismo, análise da sociedade da época, referência à mitologia greco-romana. X d) Determinismo, objetividade, crítica social, cientificismo, materialismo, experimentalismo. e) Postura escapista, religiosidade, superficialidade, verossimilhança. 3. Enumere as colunas. 1) Personagem realista 2) Personagem naturalista 3) Romance realista 4) Romance naturalista 5) Temas realistas 6) Temas naturalistas a) ( 5 ) Adultério, hipocrisia, preconceito racial, retrato das injustiças sociais, ridicularização dos valores burgueses. b) ( 2 ) Por vezes, condicionada e patológica, comparada a animais por não conter seus instintos. c) ( 3 ) Impressão da vida real, preocupação em denunciar as injustiças sociais, detalhista e objetivista. d) ( 6 ) Relações sexuais, pobreza, assassinatos, crítica às injustiças sociais, desequilíbrio psicológico. e) ( 4 ) Romance de tese, apoiado na observação e experimentação científicas. Descrição de ambientes miseráveis e desequilibrados. f) ( 1 ) Semelhante ao homem comum, apresenta os aspectos negativos da personalidade. Permite o estabelecimento de uma relação entre o texto e a realidade histórica e social na qual se insere. Literatura 13 III. O cortiço, obra-prima do autor, se passa no Rio de Janeiro e discorre sobre o ambiente de corrupção da habitação coletiva, exemplificando a tese de que o homem é produto do meio. IV. em suas obras, destacam-se temas como desejos carnais, corrupção, impunidade e adultérios. V. o autor utiliza o espaço urbano e os personagens para fazer um retrato psicológico da sociedade da época. Estão corretas: a) I, II e III. X b) II, III e IV. c) II e V. d) I, II e IV. e) Todas as alternativas. 5. Leia os seguintes trechos retirados das obras Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, O Missionário, de Inglês de Souza e Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Em seguida, identifique características realistas/naturalis- tas em cada uma das passagens. a) Macas de lona suspensas em varais de ferro, umas sobre as outras, encardidas como panos de cozi- nha, oscilavam à luz moribunda e macilenta das lanternas. Imagine-se o porão de um navio mercante carregado de miséria. No intervalodas peças, na meia escuridão dos recôncavos moviam-se corpos seminus, indistintos. Respirava-se um odor nauseabundo de cárcere, um cheiro acre de suor humano diluído em urina e alcatrão. Negros, de boca aberta, roncavam profundamente, contorcendo-se na inconsciência do sono. Viam-se torsos nus abraçando o convés, aspectos indecorosos que a luz eviden- ciava cruelmente. De vez em quando uma voz entrava a sonambular coisas ininteligíveis. Houve um marinheiro que se levantou, do meio dos outros, nu em pelo, os olhos arregalados, medonho, gritando que o queriam matar. No fim de contas o pobre-diabo era vítima de um pesadelo, nada mais. Tudo voltou ao silêncio. CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000052.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2015. Descritivismo em: “Macas de lona suspensas em varais de ferro, umas sobre as outras, encardidas como panos de cozinha, oscilavam à luz moribunda e macilenta das lanternas.”; personagem que representa o homem comum em: “No fim de contas o pobre-diabo era vítima de um pesadelo, nada mais.”; preferência pelos ambientes miseráveis em: “Imagine-se o porão de um navio mercante carregado de miséria. No intervalo das peças, na meia escuridão dos recôncavos moviam-se corpos seminus, indistintos. Respirava-se um odor nauseabundo de cárcere, um cheiro acre de suor humano diluído em urina e alcatrão.”; objetividade em: “Houve um marinheiro que se levantou, do meio dos outros, nu em pelo, os olhos arregalados, medonho, gritando que o queriam matar”. b) Alguns dias dava-lhe uma gana de satisfazer o apetite, devorando lascas de pirarucu assado, com farinha-d’água e latas de marmelada, compradas com os seus ganhos de acólito e cantor do coro. Apanhava indigestões de queijo-do-reino e de bananas-da-terra, ingeridas às dúzias, às escondidas, na latrina, para evitar a censura do confessor, a quem, logo depois, quando lhe apertavam as cólicas e a moléstia se denunciava, revelava a falta, culpando dela o demônio, pertinaz em o perseguir e tentar. E jejuava severamente, privando-se de todo alimento dias inteiros para purgar os pecados e provar o arrependimento. SOUZA, Inglês de. O Missionário. 3. ed. São Paulo: Ática, 1992. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ bv000120.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2015. acre: que tem muita acidez. alcatrão: substância escura e viscosa, derivada do petróleo. pirarucu: tipo de peixe. acólito: clérigo que serve ao subdiácono na missa. latrina: privada. pertinaz: persistente. 14 Volume 7 cônego: religioso. rutilantes: vistosas. arruído: tumulto. sapoti: fruto de árvore tropical. muriçoca: tipo de inseto. centelha: faísca. cantáridas: insetos voadores. O trecho evidencia a presença de um personagem patológico, apresentando uma descrição objetiva e detalhista. Além disso, é possível perceber a animalização do homem e uma ênfase nas necessidades instintivas: “dava-lhe uma gana de satisfazer o apetite, devorando lascas de pirarucu assado, com farinha-d’água e latas de marmelada, compradas com os seus ganhos de acólito e cantor do cor”. c) Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temen- te às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma cousa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa. Meu tio cônego fazia às vezes alguns reparos ao irmão; dizia-lhe que ele me dava mais liberdade do que ensino, e mais afeição do que emenda; mas meu pai respondia que aplicava na minha educação um sistema inteiramente superior ao sistema usado; e por este modo, sem confundir o irmão, iludia-se a si próprio. [...] O que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada, – vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domí- nio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor. ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2004. p. 47. Personagem condicionado ao meio em: “[...] temente às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus”; ambiente desequilibrado e aspectos negativos da personalidade em: “vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor”; objetividade e detalhismo em: “Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada”. 6. (FUVEST – SP) E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. Aluísio Azevedo, O cortiço. Em que pese a oposição programática do Naturalismo ao Romantismo, verifica-se no excerto – e na obra a que pertence – a presença de uma linha de continuidade entre o movimento romântico e a corrente naturalista brasileira, a saber, a a) exaltação patriótica da mistura de raças. X b) necessidade de autodefinição nacional. c) aversão ao cientificismo. d) recusa dos modelos literários estrangeiros. e) idealização das relações amorosas. Literatura 15 7. (FUVEST – SP) Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede. [...] desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes. Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam na composição de O cortiço, identifique e explique aquela que se manifesta no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a seguir: a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”. No trecho destacado, manifestam-se duas orientações doutrinárias desenvolvidas no século XIX. A primeira é a visão de que o comportamento humano é condicionado pelo meio (determinismo). No trecho indicado, há a presença do componente racial sobre o indivíduo. A segunda orientação relaciona-se à postura eugenista de Rita Baiana, que prefere se relacionar com homem branco, na nítida intenção de aprimorar a raça. b) “cedendo às imposições mesológicas”. A palavra mesologia refere-se à influência que o ambiente exerce sobre o ser e sobre a qual o personagem não tem controle. Jerônimo sente desejos por Rita Baiana, o que faz com que se entedie com a esposa e seja levado a consumar a traição. 8. (UCB – RJ) SãoLuís do Maranhão A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase não se podia sair à rua; as pedras escaldavam; [...] a Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre. [...] doutro lado da praça, uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo, seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas, apregoava em tom muito arrastado e melancólico: ‘Fígado, rins e coração!’ Era uma vendeira de fatos de boi. As crianças nuas [...], a pele crestada, os ventrezinhos amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel [...]. Os cães, estendidos nas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos. AZEVEDO, Aluísio. O mulato. São Paulo: Moderna, 1999, p. 6, com adaptações. Com base na leitura compreensiva do texto e nas questões relativas à periodização da literatura brasileira, julgue os itens a seguir. 1. ( V ) O texto apresenta uma descrição detalhista e objetiva da realidade. 2. ( V ) Ressalta-se, no texto, uma concepção determinista da existência, traço marcante da produção literária naturalista. 3. ( V ) O autor recorre ao zoomorfismo para retratar o estado de degradação do ser humano. 4. ( F ) O romance O mulato, de Aluísio Azevedo, é considerado o marco inicial do Naturalismo brasileiro, movimento literário caracterizado pela defesa implacável da abolição dos escravos. 5. ( F ) Assim como no trecho lido, a sondagem psicológica e o estudo de temas ligados à essência humana são ele- mentos basilares das principais obras de Machado de Assis e de Clarice Lispector. propendeu: inclinou-se. cavouqueiro: aquele que cava. mesológicas: condições do meio ambiente. enfarava: entediava. lascívias: luxúrias. apregoava: anunciava. crestada: queimada pelo sol. guinchavam: chiavam. 16 Volume 7l
Compartilhar