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Humanização do Ambiente Hospitalar

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O processo de humanização do ambiente
hospitalar centrado no trabalhador 221Backes DS, Lunardi Filho WD, Lunardi VL.
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):221-7.
 www.ee.usp.br/reeusp/
THE HUMANIZATION PROCESS OF THE HOSPITAL ENVIRONMENT CENTERED
AROUND THE WORKER
EL PROCESO DE HUMANIZACIÓN DEL AMBIENTE HOSPITALARIO CENTRADO EN EL TRABAJADOR
Dirce Stein Backes1, Wilson D. Lunardi Filho2, Valéria Lerch Lunardi3
RESUMO
A humanização do ambiente
hospitalar não se concretiza se
estiver centrada unicamente em
fatores motivacionais externos ou
somente no usuário. Um programa
de humanização necessita ser
assumido como um processo de
construção participativa que
requer respeito e valorização do
ser humano que cuida. Pautado em
valores e princípios humanos e
éticos e em idéias de Freire, este
trabalho tem por objetivo expli-
citar como se desencadeou um
processo de humanização, numa
instituição hospitalar, centrado,
inicialmente, no trabalhador, me-
diante a problematização coletiva
da realidade concreta e a cons-
trução de relações dialógicas, hori-
zontais e reflexivas. A proposta
possibilitou maior compreensão
do significado de humanização,
com o resgate de iniciativas ante-
riores de humanização já adotadas,
a adoção de um Banco de Idéias
como um espaço para a emersão
de subjetividades, a organização
de ambientes coletivos acolhe-
dores e uma maior aproximação
entre a direção e trabalhadores.
DESCRITORES
Equipe de assistência ao
paciente.
Inovação organizacional.
Instituições de saúde
(organização e administração).
Trabalhadores.
Salud de las mujeres.
RESUMEN
La humanización del ambiente
hospitalario no se concretiza si
estuviera centrada únicamente en
factores de motivación externas o
solamente en el usuario. Un pro-
grama de humanización necesita
ser asumido como un proceso de
construcción participativa que
requiere respeto y valorización del
ser humano que cuida. Basados en
valores y principios humanos y
éticos y en ideas de Freire, este
trabajo tuvo por objetivo explicitar
cómo se desencadenó el proceso
de humanización, en una insti-
tución hospitalaria, centrado,
inicialmente, en el trabajador,
mediante la problematización
colectiva de la realidad concreta y
la construcción de relaciones
dialógicas, horizontales y reflexivas.
La propuesta posibilitó mayor
comprensión del significado de
humanización, con el rescate de
iniciativas anteriores de huma-
nización ya adoptada, la adopción
de un Banco de Ideas como un
espacio para la emergencia de
subjetividades, la organización de
ambientes colectivos acogedores y
una mayor aproximación entre la
dirección y los trabajadores.
DESCRIPTORES
Equipo de asistencia al paciente.
Innovación organizacional.
Instituciones de salud
(organización y administración).
Trabajadores.
ABSTRACT
The humanization of the hospital
environment cannot be achieved
if the focus is directed only to
external motivational factors or
just to the user. A humanization
program needs to be assumed as
a participative construction
process that demands respect and
valuing of the human being that
provides care. Based on human
and ethics values and principles
and on Freire’s ideas, this study
aims to describe how a humani-
zation process was unchained in
a hospital, initially centering on
the worker, through the collective
discussion of concrete problems
and the construction of hori-
zontal, reflective dialogical
relations. The proposal made
possible a better comprehension
of the meaning of humanization,
with the rescue of previous
initiatives of humanization, the
elaboration of a databank in
which there is room for subje-
ctivity, the creation of warm
collective areas and a closer
relationship between directors
and workers.
KEY WORDS
Patient care team.
Organizational innovation.
Health facilities (organization
and administration).
Workers.
Recebido: 04/04/2005
Aprovado: 17/08/2005
R
ELATO D
E P
ESQ
U
ISA
O processo de humanização do ambiente
hospitalar centrado no trabalhador*
* Texto extraído da
Dissertação “A
construção de um
espaço dialógico-
reflexivo com vistas
à humanização do
ambiente hospitalar”,
Fundação Univer-
sidade Federal do
Rio Grande (FURG),
2004.
1 Enfermeira. Mestre
em Enfermagem
pela FURG.
backesdirce@ig.com.br
2 Enfermeiro, Doutor
em Enfermagem –
Professor
Orientador/FURG.
lunardifilho@terra.com.br
3 Enfermeira. Doutor
em Enfermagem –
Professora Co-
orientadora/ FURG.
vlunardi@terra.com.br
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):221-7.
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O processo de humanização do ambiente
hospitalar centrado no trabalhador
Backes DS, Lunardi Filho WD, Lunardi VL.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A organização do trabalho
pode ser vista como uma forma de maximizar as
potencialidades humanas, tornando produtivos os recur-
sos humanos, em fazer as pessoas trabalharem juntas,
levando para uma tarefa comum suas potencialidades e
conhecimentos individuais(1).
Desse modo, consideramos que a humanização do ambi-
ente hospitalar e da assistência à saúde não se concretiza se
estiver centrada unicamente em fatores motivacionais exter-
nos ou somente no usuário. O hospital humanizado é aquele
que contempla, em sua estrutura física, tecnológica, huma-
na e administrativa, a valoração e o respeito à dignidade da
pessoa humana, seja ela paciente, familiar ou o próprio pro-
fissional que nele trabalha, garantindo condições para um
atendimento de qualidade.
Sendo o ser humano um ser de relações e não só de
contatos, ele não apenas está no mundo, mas com o mundo,
o que resulta de sua abertura à realidade, da problematização
de sua condição na realidade do trabalho e de sua contribui-
ção na construção desta mesma realidade(2-4). A huma-
nização, muito mais do que um artifício, uma técnica ou ape-
nas uma intervenção significa estreitar relações
interprofissionais, que possibilitem aos trabalhadores reco-
nhecer a interdependência e a complementaridade de suas
ações, permitindo que o coração, junto à razão, se manifeste
nas relações de trabalho do dia-a-dia.
Tendo como pressuposto que a humanização da assis-
tência emergirá com a realização pessoal e profissional dos
que a fazem, desenvolver um processo de humanização, ini-
cialmente com ênfase no trabalhador, demanda, principal-
mente, por parte dos dirigentes, acolhimento, escuta e uma
atitude de sensibilidade, para compreender a realidade que
se apresenta na perspectiva do próprio trabalhador, seja ela
favorável ou não. A ênfase na pessoa humana do trabalha-
dor, como uma das mais importantes vantagens competiti-
vas de qualquer instituição, requer dos gestores o estímulo
às iniciativas, a proximidade nas relações e a flexibilidade
para compreender o ser humano em suas inquietações e
perspectivas de vida. O administrador, em seu papel de diri-
gente, passa a exercer, no contexto da humanização, um pa-
pel de estimulador e facilitador, de alguém cuja função é
concorrer para desenvolver as pessoas, suas habilidades e
competências, possibilitando que sejam capazes de realizar,
por si próprias, processos inovadores e, dessa forma, pro-
vocar mudanças estruturais e culturais(5).
É preciso, assim, estimular o trabalhador a participar ati-
vamente do processo de construção de uma proposta de
humanização, ou seja, é preciso auxiliá-lo a tomar consciên-
cia da realidade, do seu estado existencial e de sua própria
capacidade para transformá-la. Em outras palavras, não po-
demos limitar o entendimento de um atendimento humanizado
como uma prática imposta, que deveria se dar de maneira
vertical e fragmentada. Diferentemente, um processo de
humanização do ambiente institucional pressupõe um pro-
cesso participativo e dinâmico, não excludente, baseado em
relações horizontais e dialógicas(2-4,6-7).
O profissional da saúde, ao refletir sobre as condições e
relações de trabalho e o seu modo de agir, pode inserir-se na
realidade, de uma maneira mais crítica e consciente.
Problematizar e concretizar a humanização do ambiente, mais
especificamente a partir do trabalhador, implica uma reflexão
crítica e dialógica acerca dos princípios e valoresque
norteiam a prática dos profissionais, de modo a assumirem
sua condição de sujeitos e agentes de transformação.
Logo, os profissionais de saúde, para estabelecerem
um contato efetivo com os usuários, necessitam dispor de
condições básicas tanto materiais como humanas para de-
senvolver as suas atividades, de forma digna e justa(8).
Portanto, desencadear um processo participativo para a
produção de conhecimentos, em um determinado foco,
supõe um jogo tático por parte do educador/coordena-
dor(2) com os trabalhadores e não sobre eles e a substitui-
ção de uma maneira mais ingênua de conhecer a realidade
por outra mais crítica de interligar os serviços. Produzir
conhecimentos acerca da humanização nas instituições de
saúde pressupõe, nesse contexto, estabelecer um proces-
so educativo dinâmico, criativo, participativo e sistemáti-
co, a fim de que os trabalhadores assumam efetivamente o
seu papel de sujeitos da produção.
Assim, o trabalho objetiva explicitar como se desenca-
deou um processo de humanização, numa instituição hospi-
talar, centrado, inicialmente, no trabalhador, mediante a
problematização coletiva das condições de trabalho e a cons-
trução de relações dialógicas, horizontais e reflexivas, com a
tomada de consciência e de modificação de si próprio, da
equipe, tendo em vista sua humanização e a humanização
do meio em torno de si.
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
Em 2003, na Santa Casa de Misericórdia, localizada na
cidade de Pelotas, no extremo Sul do Rio Grande do Sul, a
partir de convite da Chefia de Enfermagem, foi constituída
uma Equipe de Humanização com dezoito trabalhadores
oriundos de diferentes setores do hospital, selecionados
intencionalmente por suas características de liderança: en-
fermeiros, médicos, nutricionistas, farmacêuticos, psicólo-
gos, assistentes sociais, contadores, administradores, eco-
nomistas domésticas, dentre outros profissionais. Esta cons-
tituição objetivou, inicialmente, criar condições, em um es-
paço interdisciplinar, para a problematização da realidade e a
reflexão dialógico-reflexiva, voltadas às condições e rela-
ções de trabalho dos profissionais. A proposta considerou,
O processo de humanização do ambiente
hospitalar centrado no trabalhador 223Backes DS, Lunardi Filho WD, Lunardi VL.
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dentre outras, que o diálogo não pode excluir o conflito,
sob pena de ser um diálogo ingênuo(9) e que qualquer pes-
soa que quer expressar sua subjetividade plenamente preci-
sa não só ter um ponto de vista claro e consistente, mas
também abertura para o mundo do outro(10).
A partir das idéias de Freire(2-4, 6-7), a criação deste espaço
pressupôs o diálogo como alternativa de democratização da
cultura e uma relação de unidade de contrários não–antagô-
nicos, mas implicando uma relação horizontal de pessoa a
pessoa, com centralidade no reconhecimento e valorização
do potencial humano para a liberação da criatividade e liber-
dade na construção e transformação da realidade.
Para atender os critérios éticos, foram seguidas as reco-
mendações da Resolução no. 196/96, do Conselho Nacional
de Saúde, bem como a solicitação de autorização ao Comitê
de Ética em Pesquisa da instituição, a fim de validar a pro-
posta de trabalho e poder divulgar as informações(11). As-
sim, os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos
e a metodologia propostos, bem como assegurado o seu
direito de acesso aos dados. O consentimento por escrito
foi solicitado, com o propósito de poder utilizar as informa-
ções, garantindo que a identidade seria manti-
da em sigilo e assegurada à liberdade de qual-
quer integrante poder deixar o grupo a qual-
quer momento, se entendesse que seria me-
lhor para si.
Assim, a partir da gravação e transcrição
das falas dos participantes, de anotações de
campo e da exploração de questões específi-
cas, buscou-se, em um primeiro momento, des-
velar o significado da humanização a fim de descobrir o nú-
cleo de sentido que compõe uma comunicação ou que de-
nota os valores de referência e os modelos de comporta-
mento presentes no discurso do dia-a-dia. A seguir, proce-
deu-se a um resgate, no coletivo, de movimentos anteriores
já desenvolvidos e vivenciados na instituição, os quais evi-
denciaram preocupação com a humanização institucional,
com valores de respeito ao ser humano e a sua dignidade, de
modo a valorizar o desencadeamento do processo de
humanização proposto, a partir do próprio trabalhador, do
que pensa, do que vive, do que sente e percebe.
Desse modo, mediante a análise dos múltiplos movimen-
tos construídos a partir da equipe constituída, em busca do
reconhecimento das necessidades e potencialidades dos
trabalhadores como desencadeadores de um processo de
humanização hospitalar, apresentamos, a seguir, o
desvelamento do significado de humanização para os parti-
cipantes da equipe, o resgate de iniciativas anteriores de
humanização nesta instituição hospitalar e outras iniciati-
vas implementadas, centradas, inicialmente, no trabalhador
e na sua humanização.
DESVELANDO O SIGNIFICADO
DA HUMANIZAÇÃO
O termo humanização suscita no ambiente hospitalar di-
versos entendimentos e, com eles, a multiplicidade do seu
real significado. Para compreender e analisar, de forma siste-
matizada, o significado da humanização, optou-se, inicial-
mente, pela exploração das seguintes questões: 1) O que
você entende por humanização? 2) No seu entender, qual
deveria ser o objetivo principal da equipe de humanização?
3) De que forma, você poderia contribuir no desenca-
deamento do processo de humanização? A seguir, são apre-
sentados os significados de humanização sistematizados a
partir das manifestações dos constituintes da Equipe de
Humanização. A fim de assegurar o anonimato dos partici-
pantes, será utilizada a Letra “E” e o número corresponden-
te à fala, identificados no texto como [e1]; [e2]; [e3] e, assim
por diante.
A humanização, no entender da Equipe de Humanização,
significa, fundamentalmente, criar um clima organizacional
favorável ao atendimento do paciente. É um processo que
não se resume no atendimento técnico e mecânico do paci-
ente, mas na compreensão e cuidado do pa-
ciente como um todo [e1; e3; e4]. Para que o
paciente possa ser atendido de forma inte-
gral, a equipe necessita trabalhar de forma
integrada e, para que uma equipe possa atuar
de forma integrada, necessita melhorar a co-
municação entre os profissionais [e5]; pro-
mover os trabalhadores, no sentido de valo-
rizar iniciativas e compartilhar idéias [e7],
colocando ênfase na socialização das ações humanas para
estabelecer um melhor convívio [e4].
A humanização, nesse cenário, pressupõe, essencialmen-
te, uma mudança de atitudes e comportamentos, por parte
dos gestores e dos profissionais [e3]. Mesmo cientes de
que todo o trabalho de humanização se dá a partir da equipe
e em equipe, esses trabalhadores ainda apontam a existên-
cia de dificuldades nas relações de trabalho, na comunica-
ção e no reconhecimento do papel efetivo de cada um dos
integrantes na própria equipe. Na sua compreensão, o obje-
tivo da equipe de humanização deveria ser, inicialmente,
humanizar-se, como equipe, para humanizar o atendimen-
to do paciente [e4]; promover a participação dos profissi-
onais nos encontros da Equipe de Humanização [e7]; abrir
um espaço para reflexões e expressão de sentimentos
[e8]; contribuir com novas idéias e iniciativas [e9] e desen-
volver oficinas de integração entre os profissionais [e10].
Houve manifestações explícitas do grande desejo de vi-
rem a integrar a Equipe de Humanização para, assim, auxiliá-
la no desencadeamento da proposta, pelo entendimento de
que é preciso divulgar as ações de humanização [e2]; esti-
mular os profissionais a rever certos comportamentos nas
O termo humanização
suscita no ambiente
hospitalar diversos
entendimentos e, com
eles, a multiplicidade
do seu real significado.
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O processo de humanização do ambiente
hospitalarcentrado no trabalhador
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relações interpessoais [e6] e contribuir com um conheci-
mento específico [e11]. O comportamento refere-se à manei-
ra de agir de um indivíduo em um momento específico, no
qual reage a uma dada situação, em que outras pessoas ou
objetos estão envolvidos.
Os profissionais concluíram que é possível contribuir
com o processo de humanização, construindo, no coletivo,
um ambiente favorável para o trabalho e que todos têm po-
tencial para essa construção. Portanto, a humanização não
deve ser de um grupo, mas de todos os envolvidos no traba-
lho [e12] e, para isso, urge despertar e sensibilizar o lado
humano dos trabalhadores [e14].
Na verdade, ninguém humaniza ninguém. São as pesso-
as, através da sua inserção na realidade concreta, que pro-
põem uma mudança, modificando-se e provocando trans-
formações, através da reflexão, do diálogo, da escuta e da
auto-sensibilização. Assim, mostra-se fundamental que os
administradores de hospitais desenvolvam um estilo de ad-
ministração dinâmico e aberto, capaz de criar oportunida-
des, liberar potencialidades, remover obstáculos, encorajar
iniciativas individuais e promover o desenvolvimento pes-
soal e profissional, ou seja, que adotem estilos de direção
democráticos e participativos, baseados nos valores huma-
nos e sociais(12-13).
É preciso alertar para a valorização profissional como
premissa básica para o desencadeamento de qualquer pro-
cesso de trabalho que se pretende humanizar, lembrando
que pessoas competentes desejam trabalhar em organiza-
ções que lhes dêem retorno pela dedicação(14), pois nin-
guém pode agir humanamente, se não tiver tratamento
humano e reconhecido [e12]. Para isso, é preciso tornar
conhecido o trabalho de humanização como sendo um es-
paço de transformação da cultura organizacional [e10].
Portanto, o programa de humanização de qualquer hospital
ou empresa necessita reconhecer e valorizar a individualida-
de e singularidade de cada um dos seus trabalhadores.
Em suma, a humanização, mais do que o cumprimento de
uma determinação legal, uma lei, norma e/ou medida, precisa
ser e estabelecer continuamente relações horizontais. Os
gestores necessitam manifestar interesse pela equipe de tra-
balho, conhecer seu grau de satisfação e reconhecer os re-
ais motivos de satisfação e insatisfação pessoal e profissio-
nal. Assim, para desenvolver a humanização, o profissional
demanda reconhecimento de suas necessidades e a atenção
necessária para desenvolver as habilidades humanitárias(8).
Nesse sentido, a partir do desvelamento do significado da
humanização, procedeu-se ao resgate de vivências anterio-
res dos trabalhadores participantes do grupo que lhes ti-
vessem representado sinais de humanização.
RESGATANDO SINAIS E/OU INICIATIVAS
ANTERIORES DE HUMANIZAÇÃO
A humanização do ambiente hospitalar requer, além da
valorização do pensar coletivo acerca da temática, também,
a valorização e reconhecimento de iniciativas anteriores, si-
nais, projetos e/ou programas já existentes na instituição,
tendo presente um dos objetivos do Programa Nacional de
Humanização - fortalecer e articular todas as iniciativas de
humanização já existentes nos serviços de saúde(15).
Portanto, o reconhecimento de iniciativas de huma-
nização já existentes na instituição, culturalmente, favorece
o desencadeamento do processo(6). Nesse sentido, cada in-
tegrante da Equipe de Humanização foi convidado a parti-
lhar, com os demais, os sinais de humanização já evidencia-
dos no seu círculo de trabalho, reforçando a importância
das pequenas conquistas e avanços como fatores
motivacionais e de diferenciação, dentre os quais, por exem-
plo, o estímulo e a criatividade dos profissionais [e5] que
representam algo aparentemente simples, mas de grande sig-
nificação para os trabalhadores.
Por sua vez, o trabalho interdisciplinar cada vez mais
integrado [e9] retrata a importância do espírito de equipe e
do envolvimento de cada um e do seu saber fazer com a
assistência e com os clientes(16). Em suma, os profissionais,
mais do que grandes investimentos, que geram altos custos
para a instituição, valorizam relações pessoais mais próxi-
mas expressas em relações humanizadas, como um atendi-
mento cortês e respeitoso ao telefone, momentos de confra-
ternizações, como no final de ano, celebração de datas co-
memorativas, dentre outros. Para obter resultados de quali-
dade e relações humanas favoráveis entre os trabalhadores,
é preciso que haja qualidade nas condições e no ambiente
de trabalho, respeito ao ser humano, atendimento às neces-
sidades humanas básicas, atenção às opiniões, honestida-
de e clareza na definição de papéis. Sendo valorizado como
pessoa, o profissional reconhecerá a importância do seu
desempenho não apenas para a instituição, mas também para
o seu próprio crescimento e sua auto-realização. Terá condi-
ções de, como sujeito, ver, no doente, um sujeito e, através
desta ótica, nortear a sua conduta profissional(12,17).
Identificadas experiências anteriores que expressavam
humanização, emergiram, no grupo, novas propostas a se-
rem coletivamente construídas, como a criação de um banco
de idéias, a partir da problematização da realidade do traba-
lho e da ênfase em relações dialógicas, horizontais e reflexi-
vas, da necessidade de uma tomada de consciência e de
modificação de si próprio e da equipe, tendo em vista sua
humanização e a humanização do meio em torno de si.
O processo de humanização do ambiente
hospitalar centrado no trabalhador 225Backes DS, Lunardi Filho WD, Lunardi VL.
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O BANCO DE IDÉIAS COMO UM ESPAÇO
PARA A EMERSÃO DA SUBJETIVIDADE
A criação do Banco de Idéias(a) foi uma iniciativa pro-
posta pela Equipe de Humanização, com o objetivo de esti-
mular a participação dos demais trabalhadores da institui-
ção no processo de humanização, através da possibilidade
de canalizar e expressar sugestões, idéias e questionamentos.
No entanto, em vez de idéias e sugestões, o espaço foi
ocupado, inicialmente, para desabafos e queixas pessoais e/
ou coletivas, ou seja, constituiu-se em um espaço de reivin-
dicações. Contudo, manifestações dessa natureza eram,
também, esperadas, pela compreensão de ser esse um pro-
cesso que pressupunha rupturas pessoais internas, rompi-
mento de barreiras setoriais e profissionais, bem como o
desvendamento da cultura do silêncio, presente em muitas
situações e relações no ambiente de trabalho.
As manifestações recolhidas da urna semanalmente fo-
ram detalhadas, relacionadas e, posteriormente, analisadas
e discutidas nos encontros da Equipe de Humanização. Sem-
pre que possível, o encaminhamento das sugestões, idéias
e/ou reivindicações aos órgãos competentes da instituição
foi imediato. Na ocorrência de manifestações
nominais, as mesmas foram encaminhadas aos
profissionais diretamente envolvidos, tendo-
se como premissa que todo o programa que
pressupõe um compromisso autêntico com a
humanização implica um processo de
dialetização dos atos de denunciar e anunciar
as verdades desveladas, isto é, denunciar a
estrutura desumanizante e anunciar a estru-
tura humanizante(7).
Mesmo no anonimato, o Banco de Idéias representou
um espaço privilegiado de trocas, vivências e reivindica-
ções. Foi motivo, também, de crescimento pessoal e coleti-
vo, pela possibilidade de problematizar e expressar ques-
tões latentes, provocar reflexões coletivas, além de questio-
nar condutas ético-profissionais. Mais do que novas idéias,
os trabalhadores destacaram a importância do clima favorá-
vel nas relações de trabalho, lembrando que humanizar é
ter um ambiente de trabalho agradável! Que lhe valori-
zem! Que falem contigo como gente! É colocar o respeito
sempre em primeiro lugar [e15].
O ser humano se movimenta nos espaços organi-
zacionais, construindo oportunidades de relações e viven-
ciando o cuidado na ordem do seu potencial para demarca-
ção e utilização desse espaço/direito, ou seja, de dependên-
cia e interdependência(18).Desse modo, o desvelamento de
questões latentes expresso no Banco de Idéias possibilitou
aos trabalhadores saírem da neutralidade e do silêncio, as-
sumindo sua condição de sujeitos, o que representa um ato
corajoso, decidido e consciente. O medo, entretanto, pode
resultar de um compromisso contra a humanização, por par-
te dos que se dizem neutros. Assim, o verdadeiro compro-
misso com a humanização impele o ser humano para uma
leitura cada vez mais crítica da realidade, a partir de uma
nova práxis humana e ética(7), na tentativa de construir um
ambiente humanizado.
AMBIENTES COLETIVOS ACOLHEDORES
O hospital, por se tratar de um local onde os funcionári-
os permanecem e dedicam a cada dia grande parte do seu
tempo, passa a ser considerado por muitos, como a sua se-
gunda casa/família. Logo, quanto mais aconchegantes e
acolhedores os múltiplos ambientes coletivos se constituí-
rem, tanto mais próximas poderão ser as relações afetivas e
humanas.
A instituição hospitalar se constitui em
um ambiente onde o ser humano trabalhador
libera suas potencialidades e compartilha
uma meta coletiva. Nesta, as pessoas dão
algo de si mesmas e esperam algo em troca. A
maneira pela qual esse espaço é moldado e
estruturado influencia significativamente a
qualidade de vida e a satisfação dos traba-
lhadores. Influencia o próprio comportamen-
to e os objetivos pessoais de cada profissio-
nal e esse modo de ser do profissional pode afetar direta-
mente o modo de prestar assistência ao paciente(13).
Entre as inúmeras manifestações proferidas pelos traba-
lhadores, algumas alertam que humanização significa me-
lhorar a aparência do refeitório, do vestiário e da sala de
descanso dos trabalhadores, para tornar o ambiente mais
descontraído e agradável [e16] também e, ainda, humanizar
significa colocar uma estante de livros na sala de descan-
so [e17]. A humanização assume o caráter de um ambiente de
cuidado, através da capacidade de combinar o valor técnico
e estrutural com o valor ético e estético, no sentido de forta-
lecer os laços e as qualidades humanas e melhorar a qualida-
de de vida(18).
Quando o profissional compreende a sua realidade, sen-
do ela pessoal, ética, estética e/ou cultural, torna-se capaz
de levantar hipóteses, de forma consciente, sobre o desafio
dessa realidade e, desse modo, buscar soluções concretas
e/ou apontar indicativos de mudança(2). A conscientização
resulta, nesse contexto, em inserção crítica na história, na
realidade concreta, no sentido de que sempre mais assuma o
papel de sujeito na construção de mudanças estruturais e
culturais.
(a) O Banco de Idéias, nada mais é, que uma URNA devidamente identificada
com o nome e seus objetivos, exposta no corredor de entrada dos
funcionários, próxima ao cartão ponto, no espaço reservado para as
manifestações relacionadas à humanização, a fim de estimular a participação
coletiva através da expressão de sugestões, idéias e questionamentos.
Mesmo no anonimato,
o Banco de Idéias
representou um
espaço privilegiado
de trocas, vivências
e reivindicações.
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O processo de humanização do ambiente
hospitalar centrado no trabalhador
Backes DS, Lunardi Filho WD, Lunardi VL.
Convivemos, com freqüência, em ambientes tensos e pouco
humanizados, cujo funcionamento pode ser quase perfeito
quanto à técnica, porém desprovidos de afeto, atenção e so-
lidariedade(17). Para tornar o clima de trabalho mais prazeroso
e mais humano, é fundamental estimular e atentar para atos
significativos, isto é, de descontração e integração manifes-
tados pelos trabalhadores, como forma de resgatar a sua sub-
jetividade e minimizar as relações de estresse e tensão.
A humanização possibilita ao ser humano exercer suas
potencialidades criativas, desde que as condições
ambientais e profissionais sejam facilitadoras(19). A huma-
nização significa conciliar o trabalho com a vida pessoal e a
felicidade coletiva. Humanizar significa, ainda, ser capaz de
identificar e valorizar, na prática, o que é importante e funda-
mental aos olhos de quem convive e estabelece as relações
de trabalho no coletivo, como ter sua condição de sujeito
trabalhador reconhecida.
MAIOR APROXIMAÇÃO ENTRE
DIREÇÃO E TRABALHADORES
Ser lembrado, ouvido, valorizado e reconhecido pelos
gestores representa, para a Equipe de Humanização, um
dos fatores mais satisfatórios, em termos de humanização,
pois, em suma, humanização é ser reconhecido e ouvido
pela administração [e4], ou seja, humanização é a admi-
nistração estar próxima dos funcionários, para conhecer
as suas angústias e necessidades [e18]. Estas, entre ou-
tras, foram algumas das manifestações mencionadas em
relação à administração. Assim, não basta, no entender
dos profissionais, ser trabalhador na instituição; importa
sim, participar efetivamente do seu processo de desenvol-
vimento, ser reconhecido, ouvido e respeitado, a partir de
sua leitura da realidade.
Ser ouvido representa, nesse processo, algo que ultra-
passa a possibilidade auditiva de cada um. Escutar significa,
por parte dos dirigentes, a disponibilidade permanente em
ouvir e acolher a expressão de anseios, expectativas e angús-
tias dos trabalhadores. A verdadeira escuta, ou seja, a prática
democrática de escutar, confere o direito de discordar, de con-
trapor idéias e de se posicionar como sujeito do processo(2).
Estabelecer relações humanas próximas entre gestores e
trabalhadores significa realizar uma leitura reflexiva da par-
cela de mundo que tem significação para os trabalhadores.
Respeitar a leitura de mundo dos trabalhadores, portanto,
pressupõe um diálogo horizontal e uma atitude de humilda-
de crítica, por parte dos dirigentes, o que
exprime uma das raras certezas de que ninguém é supe-
rior a ninguém, assim como a falta de humildade se ex-
pressa na arrogância e na falsa superioridade de uma
pessoa sobre a outra, o que representa uma transgres-
são da vocação humana do ser mais(2).
Um número incalculável de ressentimentos, frustrações
e descontentamentos, de atitudes de oposição e descom-
prometimento ocorre, muitas vezes,
porque os profissionais são colocados à beira da estrada,
porque não são chamados a participar do equacionamento
de problemas que, direta ou indiretamente, lhes dizem
respeito(20).
Nessa perspectiva, quanto mais os trabalhadores se afir-
marem como sujeitos ativos e dinâmicos nas relações com
os seus superiores tanto melhor irão desenvolver as suas
aptidões, em favor do crescimento e desenvolvimento pes-
soal e institucional. O trabalhador valorizado profissional-
mente pode articular e harmonizar seu ambiente de trabalho
e produzir o máximo de rendimento, com prazer e realização.
A manifestação relacionada à necessidade de proximida-
de entre gestores e trabalhadores pressupõe, no contexto
da humanização, a valorização da vida, acima de qualquer
processo estrutural e/ou técnico-científico. São os profissi-
onais, através do seu trabalho e das relações que estabele-
cem, que determinam e retratam se o atendimento ao usuário
é ou não é humanizado. Todo processo de humanização,
para ser efetivo e transformador, necessita estreitar os laços
de comunicação, na tentativa de desvendar e respeitar a
leitura de mundo dos trabalhadores, favorecendo a compre-
ensão contínua da realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desencadear um processo de humanização, no âmbito
hospitalar, não resulta de uma percepção isolada, mas cons-
titui uma síntese de muitas percepções, vivências e inter-
venções pautadas em valores e princípios humanos e éti-
cos. Resulta, sobretudo, do encontro com a realidade con-
creta, com quem a constitui, pacientes, familiares, trabalha-
dores, administração, num vai-e-vem incessante de novas
descobertas, questionamentos e respostas para as necessi-
dades emergentes. Processo, portanto, que permite cons-
truir e/ou desconstruir representações recebidas da socie-
dade ou da educação. Assim, este trabalho teve como obje-
tivo explicitar como se desencadeou um processo de
humanização, numainstituição hospitalar, centrando-o, ini-
cialmente, na humanização do trabalhador.
Oportunizar ao trabalhador a expressão e participação
nesse processo, de forma comprometida, foi de fundamental
importância para o desvelamento do significado da
humanização, o que implica no surgimento mento de um
clima organizacional favorável à humanização, pautado pela
horizontalidade, pela construção de espaços dialógicos-re-
flexivos, com possibilidades de mudanças nos gestores e
nos profissionais.
O próprio processo de desvendamento da proposta in-
fundiu, nos integrantes da Equipe de Humanização, o colo-
O processo de humanização do ambiente
hospitalar centrado no trabalhador 227Backes DS, Lunardi Filho WD, Lunardi VL.
Rev Esc Enferm USP
2006; 40(2):221-7.
 www.ee.usp.br/reeusp/
car-se em uma atitude ativa de participação, já que quanto
mais adentramos a realidade histórico-social, tanto mais nos
tornamos comprometidos com a mudança, isto é, com a
humanização institucional. Assim, se deu o resgate de inici-
ativas prévias de humanização vivenciadas, como de moti-
vação para o trabalho, de integração no trabalho em equipe,
com a proposição de novas iniciativas, como um banco de
idéias, ambientes coletivos mais acolhedores e o reconheci-
mento do trabalhador como sujeito, mediante maior aproxi-
mação com a direção institucional.
Para os profissionais, o programa de humanização pare-
ce constituir-se na oportunidade de resgatar o verdadeiro
sentido de sua prática, o valor do seu trabalho e do trabalhar
em equipe e a busca pelo aprimoramento das relações que
estabelecem entre si, com os usuários, com a administração,
bem como do hospital com a comunidade, de modo que seja
valorizada a dimensão humana e subjetiva dos sujeitos
envolvidos.
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Correspondência: Dirce Stein Backes
Rua Marechal Deodoro, 855
CEP 96020-220 -Pelotas - RS
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