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A Relíquia - Eça de Queirós

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Romance do Realismo. Narrador irônico, sarcástico e severo em 1ª pessoa, em relação aos moldes sociais determinados por valores católicos, em seu tempo. Espaço é em varias cidades de Portugal. Tempo é sex 19, do nascimento a maturidade do protagonista.
RESUMO:
O livro narra a história de Teodorico, um jovem que almeja uma vida sexualizada, com festas e muita futilidade em geral, cujo avô era um padre e o pai, tendo se beneficiado dessa influência, conseguira um bom emprego, o que lhe possibilitou transitar em um meio social endinheirado e casar-se com uma das filhas do comendador Godinho. No entanto, a mãe de Teodorico morre logo após o parto, seguida pelo avô e pelo seu pai. O menino fica totalmente órfão aos sete anos de idade. Vai morar com a tia, Dona Maria do Patrocínio, mulher muito devota. Passa a ter uma educação religiosa, que nada se coaduna com sua personalidade. Ele tenta ser bom aos olhos da Titi, uma vez que ela tem uma grande herança que pode ser passada a ele, mas isso só aconteceria se ele mostrasse muito religioso, beato e correto (aqui o autor faz uma crítica ao mundo das APARÊNCIAS - a dicotomia e à vida dupla).
Teodorico sonha em conhecer Paris, porém, sua tia considerava aquela cidade como um lugar de perdição. “Para conseguir maior liberdade, resolve propor que a tia, ou Titi, financiasse uma peregrinação para Jerusalém. A beata consente e lhe pede para que traga uma relíquia”. Nessa viagem, conhece a inglesa Miss Mary, com quem tem um caso. Quando se separam, ainda no meio da viagem, ela lhe dá de presente sua camisola embrulhada em um pacote.
A peregrinação continua. “Teodorico faz uma falsa coroa de espinhos para entregar como relíquia à tia. No meio do caminho, uma mendiga pede uma esmola e o rapaz entrega a camisola. Mas, quando chega em Portugal, há uma grande cerimônia pública para a entrega da coroa de espinhos. Porém, a tia, ao abrir o pacote, se depara com a camisola. Titi fica humilhada e rompe relações com o sobrinho, deserdando-o de toda a fortuna da família. O protagonista aprende o valor de uma coroa de espinhos. Mas nem tanto. Lamenta por não ter dito que a camisola era de Maria Madalena. Teodoro chega à conclusão de que, se tivesse afirmado a mentira com a devida convicção, todos acreditariam nele, pois as verdades são feitas somente de convicções fortes e nada mais. Com isso, suprime a ética como um bem social, ou seja, a necessidade de um conjunto de valores, regras, preceitos, importantes para se viver bem e em paz na sociedade. Só que a herança no final fica com o Padre Negrão, o qual tinha um caso com uma mulher (novamente crítica à igreja – corrupção do clero). No final, é de se imaginar que Raposão, na hora de sua reflexão, tenha remorsos e reconsidere a ser mais honesto. Mas na verdade, ele pensa que devia ter sido ainda mais hipócrita, falando que aquela camisola era de Maria Madalena (crítica realista)
Análise:
Na parte do sonho de Raposão com a “verdadeira” história de Jesus, onde ele só teria morrido e não ressuscitado, serve claramente como uma critica à Igreja e seu hábito de criar fantasias e ilusões. Obra extremamente marcada pelo pessimismo
Eça obviamente não concorda nem um pouco com o ponto de vista do protagonista no final da história. Se o leitor tiver ética, ele vai perceber a ironia ao personagem falar que seu único erro foi não mentir mais e vai achar aquilo um absurdo também (crítica à crença na mentira, fazendo uma sociedade decadente). O autor que dizer que o que precisamos é de gente comprometida com as coisas, não apenas pessoas querendo ganhar dinheiro a qualquer custo e não importa o resto (crítica à ganância pelo dinheiro).
o romance é marcado por uma linguagem e ações realistas, trazendo a realidade com um pouco de fantasia, mas mesmo assim ainda de maneira forte, com críticas severas à Igreja, à corrupção, à manipulação da boa-fé dos indivíduos, à desfaçatez do homem capitalista do século 19, que não valoriza mais nada além de dinheiro e prestígio social, sem qualquer princípio ético. O autor narra em um tom muito leve e divertido, que ganha facilmente a simpatia do leitor, tem como tema central a questão da construção de verdades religiosas, sociais e políticas, que estão na pauta do nosso dia a dia.
Tem relação direta com temas como as fake news, os processos de corrupção que temos visto ocorrer no Brasil, onde cada um procura provar sua verdade, deixando de lado qualquer princípio ético, além do crescimento exponencial de religiões que manipulam seus fiéis da forma mais abjeta
Teodorico conduz uma alma jovem e vibrante, fascinado pelo amor que, oposto aos requintes das letras românticas, mostra-se carnal, instintivo, aguçado, mas estará sob os cuidados das carolas e inflexíveis regras de Dona Patrocínio. Com o desenrolar dos fios de um enredo em que lemos o olhar crítico do autor português, a denunciar as hipocrisias dos moralistas jogos de cena, lemos a astúcia de Raposão, rápido e cuidadoso a administrar seus movimentos para atender aos apelos de sua idade e, ao mesmo tempo, mostrar-se casto aos olhos de sua tutora. A esperar a morte breve da tia, todos os sacrifícios para ocultar seus verdadeiros desejos somam-se como um amoral e perverso investimento do protagonista. Titi era o recato encarnado, Raposão, uma fera enjaulada em suas próprias interpretações de um devoto Teodorico. Titi era o olhar severo da censura aos amores e desejos da carne (que chamava de "relaxação"). Raposão era o impulso e o instinto. Titi era o sacrifício vestido de devoção. Raposão era a entrega à vida mais mundana, física e cotidiana. Ele busca a mentira autêntica, ela espera a coroa de espinhos. Reprimido, Teodorico Raposo entrega aos leitores suas estratégias, visões, conflitos de um flaneur oprimido e acanhado.
É preciso tomar cuidado para não aderir às teses do protagonista, todas elas de alguém que não tem a menor consideração por valores sociais e coletivos

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