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Por: Elaine Miranda Flavio Sanctum Marcelo Magano Renato Penco Viviane Martins Yann Nunes Índice Módulo I - História e Cultura Brasileira.........................................................02 Módulo II - História da Arte............................................................................38 Referências bibliográficas.................................................................................68 2 Módulo 1 - História, cultura e Universo do Carnaval 1. A origem do Carnaval. O Carnaval brasileiro relacionado com as manifestações populares do Brasil Colônia: o entrudo. A ORIGEM DO CARNAVAL As primeiras informações seguras acerca de manifestações festivas “carnavalizadas” (ou seja, com excessos, mascaradas, pessoas fantasiadas e bebedeiras) provêm das antigas civilizações, como a greco-romana e a mesopotâmica. Como por exemplo, o ritual da iniciação de jovens para a integração com a vida adulta na Grécia Antiga, que incluíam pessoas mascaradas. Outros exemplos de festas greco-romanas que podemos citar são:as festas dionisíacas, que ocorriam em março e festejava o deus Dionísio(deus do vinho também denominado Baco),estas festas eram marcadas por procissões de pessoas mascaradas cobertas de peles e galhos, disfarçadas de animais; as lupercais, que ocorriam no mês de fevereiro em homenagem ao deus Pã (ou Luperco), protetor dos rebanhos, que também tinham pessoas mascaradas, charretes enfeitadas e sacerdotes que corriam seminus pelas ruas açoitando com galhos de árvores quem passasse pelo caminho acreditando que este gesto trazia fecundidade às mulheres jovens e facilitaria o parto das grávidas e; as festas saturnais que celebrava o fim do ano lunar, ocorriam perto de Roma em meados do mês de dezembro, em homenagem à Saturno, deus da agricultura e das sementes. Nos primeiros séculos da Era Cristã aparecem relatos mais detalhados de divertimentos populares que utilizavam mascaradas, fantasias e desfiles processionais. Podemos utilizar como exemplo uma festa que acontecia no Antigo Egito em homenagem à Ísis, deusa da castidade, que era “chamada” para ajudar a superar grandes e pequenas tragédias da vida. A festividade não tinha o objetivo de se apresentar como uma orgia descontrolada, e sim como um ato piedoso. De acordo com relatos do evento no livro O asno de ouro, uma numerosa multidão enchia as ruas da cidade desde o início da manhã para assistir ou participar da procissão em honra à deusa, onde o objetivo da festividade era levar até a praia um pequenino navio sobre rodas e lançá-lo ao mar como oferenda à deusa, que também era protetora dos navegadores. Este 3 costume de colocar pequenos navios sobre rodas para lançá-los ao mar era comum em algumas comemorações da época, por isso, alguns pesquisadores consideraram que estas festas eram um exemplo de carnaval da Antiguidade, pois, imaginavam que o nome carnaval provinha de carrus navalis, ou seja, carro em forma de navio.Teoria esta que caiu por terra ao ser criada outra teoria onde a palavra carnaval foi associada à carne vale, isto é, “adeus à carne”. Todas essas celebrações tinham como principais características o fato de especificarem momentos especiais do ano marcados pelo exagero no consumo de comidas e bebidas, pelo uso de máscaras e disfarces, pela presença de desfiles e patuscadas (reunião de um grupo de pessoas para uma festividade) e também pela sensação de que “tudo era permitido”. Não podemos afirmar que estas festas eram carnavalescas, mas, admitimos queeram bem carnavalizadas. Se atualmente fossemos definir estes eventos que aconteciam antigamente diríamos, não muito precisamente, que seria um folguedo, uma bagunça festiva ou um carnaval. Muitas vezes, quando presenciamos uma festa muito animada para comemorar o campeonato de um time ou até mesmo em um chá de panela, dizemos que as pessoas “fizeram o maior carnaval”, não é mesmo? Neste sentido, a palavra carnaval não se refere a um tipo específico de festa, mas, sim a uma festa alegre, uma algazarra ou uma farra. O Carnaval com o formato que conhecemos atualmente, só passou a existir muitos séculos depois das celebrações das festas dionisíacas, do boi Ápis, da deusa Ísis entre outras. A história começou no ano de 604 quando o papa Gregório I determinou que os fiéis,durante um determinado número de dias, teriam que deixar de lado a vida cotidiana para se dedicarem exclusivamente às questões espirituais. Este período de abstinência durava em torno de quarenta dias, se referindo aos quarenta dias de jejum e provações passadas por Jesus no deserto. Desta forma, o período ficou conhecido como “quaresma”. Isto virou um costume, foi se espalhando até que no ano de 1901, o então papa Urbano II realizou uma reunião com representantes da igreja onde decidiu, dentre tantas outras coisas, que deveria ser escolhida uma data oficial para o período da Quaresma, onde o primeiro desta sequência de dias seria chamado de Quarta-feira de Cinzas, costume que se pratica até hoje. Desde então, legalmente decretado, os fiéis se privavam dos prazeres da vida material e se dedicavam a elevar seus espíritos a Deus e meditar sobre Cristo e sua ressurreição, que seria festejada no fim da Quaresma, no domingo de Páscoa.É válido ressaltar que nesta 4 época (alta Idade Média) o poder da igreja era muito grande e seus dogmas não admitiam nenhum tipo de discussão. As pessoas, principalmente os mais pobres, aderiam à proibição de comer carnes e consumir bebidas alcoólicas. Com o passar do tempo, as pessoas criaram o costume de fazer muitas festas nos dias anteriores a esse longo período de abstinência e, já que ficariam tantos dias privados dos prazeres materiais, todos aproveitavam para exagerar, principalmente no consumo de comida e bebida.Os últimos dias de fartura antes dos quarenta dias de “recesso” começaram a ser chamados de dias do “adeus à carne”, que, em italiano, se fala dias da “carne vale” ou do “carnevale”. O CARNAVAL BRASILEIRO RELACIONADO COM AS MANIFESTAÇÕES POPULARES DO BRASIL COLÔNIA: O ENTRUDO O Brasil é uma das maiores referências da festança de carnaval, a manifestação surgiu aqui através de influências externas. Foi através da chegada dos portugueses em terras brasileiras, que chegaram com seus pertences e com sua cultura, trazendo na bagagem uma brincadeira onde um jogava limões de cera com perfume ou água no outro, que ao tocar no corpo estourava e molhava aquele que foi alvejado e,até mesmo pós,parecidos com talcos,eram lançados. Esta brincadeira se denominava ENTRUDO. Este costume logo foi inserido na prática dos escravos que, diferentemente dos senhores, não tinham como jogar bolinhas de cheiro, então, jogavam água, farinha, restos de alimentos e até mesmo as fezes e urinas que carregavam nos baldes para serem jogados fora, eram lançados uns sobre os outros, ou em quem passasse por eles. Desta forma, fica caracterizada como ENTRUDO FAMILIAR a brincadeira considerada civilizada e, que ocorria nas casas dos senhores (que também lançavam pela janela as bolinhas nos transeuntes) e ENTRUDO POPULAR a brincadeira considerada agressiva e desregrada que era realizada nas ruas pelos escravos. É interessante citar que esta brincadeira muita das vezes causava confusão, conforme citado em relatos de jornais da época, segue abaixo um exemplo: - Periódico O Mágico, Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 1852: “Um senhor, ao receber um banho de água cheirosa, subiu à casa do agressor e quebrou, com a sua bengala, tudo que encontrou pela frente.” 5 O entrudo popular não era bem visto pela elite e, por conta dos desentendimentos, como os acima citados, iniciaram as condenações à brincadeira criando-se ofícios com punições para aqueles que a praticasse.Estas punições eram mais graves para o Entrudo Popular, mais especificamente para os escravos, pois, a intenção era acabar com a festa agressiva do povo na rua, mas, permitir a festa “inocente” que aconteciam nas casas, onde a elite pudesse brincar e se distrair, e o povo seria apenas espectador ou alvo dos “ataques” sem direito a revide. Mas, não era o que acontecia quanto mais a elite tentava reprimir o povo, mais ele adaptava a brincadeira à sua realidade e, desta forma, continuava brincando. Tudo era válido para conter a confusão, como por exemplo, em 1831 a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro fez uma pesquisa falando das possíveis doenças que a brincadeira poderia trazer o Poder Público não ficava para trás e, ano após ano, recriava normas municipais ameaçando os entrudistas com penas de prisões ou açoitamentos, os jornais cada vez mais falavam mal do Entrudo e a elite queria acabar com ele de uma vez por todas. Esta situação se agravou mais, gerando um estado de alerta na primeira metade da década de 1840. 2. O carnaval europeu. Os bailes burgueses e populares; as sociedades; as grandes sociedades; o Zé Pereira; os cordões; os corsos; os ranchos e os blocos. O CARNAVAL EUROPEU Na Europa, no final da Idade Média e início do Renascimento (período compreendido entre os sécs. XV e XVI), tinham muitas variedades de brincadeiras que comemoravam os festejos do adeus à carne. Cada lugar comemorava os dias de carnaval de seu modo. Neste período, as festas que aconteciam pelas cidades europeias nos dias de carnaval incorporaram os bailes de máscaras, com suas ricas fantasias e carros alegóricos. Ao caráter de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemoração e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.Como por exemplo, foi na Itália, principalmente nas cidades da região da Toscana (região central da Itália), no início do séc. XV que ocorreram grandes e valiosas transformações nas artes, onde pintores, escultores e arquitetos trabalharam na construção e embelezamento dos palácios, igrejas e prédios públicos.Uma grande novidade na época foi o 6 crescimento dos centros urbanos, tudo isso interferiu nos costumes e, acabou influenciando na forma como as pessoas se relacionavam (incluindo a relação elite X povo), no comércio, como se locomoviam e até a forma como festejavam, pois, as festas fazem parte de uma sociedade e refletem o modo de vida de cada uma delas. Estes movimentos são os que dariam início ao que mais tarde seria conhecido como Renascimento. Nas cidades da Toscana, destacando Florença, neste período renascentista, foi aprimorado um tipo de festejo chamado triunfo, onde se comemorava as grandes datas das dinastias que estavam no poder e, se baseava em desfiles pelas ruas da cidade, onde grupos a pé e alegorias sobre rodas se alternavam num verdadeiro desfile de roupas e carros enfeitados, ao som de cornetas e tambores. Estes triunfos eram apresentados em várias comemorações nas cidades da Toscana e, logo encontraram espaço nos dias de Carnaval se tornando em pouco tempo o principal evento carnavalesco. Nos séculos que se seguiram ao período do Renascimento, as grandes festas oficiais do carnaval se tornaram cada vez mais sofisticadas e elitistas.A nova forma de brincar foi bem ilustrada em Veneza a partir do século XVII, principalmente com a “comercialização” que ocorreu nas festas, por conta do aumento do número de visitantes interessados em participar das comemorações. Majestosos bailes e óperas eram organizados, mostrando bem o luxo da nobreza que dominava a cidade e, por causa de interesse financeiro, as festas deixam de acontecer apenas no Carnaval e passam a durar de janeiro até a chegada da Quaresma. Durante todo este período, grupos mascarados, fantasiados de dominós ou batutas caminhavam pelas ruas e vias aquáticas do centro urbano veneziano, marcando aelegância e urbanidade da festa.Um dos chamarizes da festa era a garantia do anonimato total do mascarado, possibilitando que as pessoas fizessem muitas estripulias. O sucesso destes eventos serviu de incentivo para que as principais cortes europeias decidissem organizar esse tipo de comemoração durante os dias de Carnaval. . Na França, por exemplo, nos finais do séc. XVII, o rei Luís XIV estimulou a propagação dos bailes quando ele pessoalmente comandou festas mascaradas realizadas nos salões reais. As comemorações carnavalescas tinham suas inspirações baseadas em óperas, pequenos trechos de espetáculos de balé e fantasias inspiradas no imaginário das festas e costumes do povo. As mais famosas máscaras são as confeccionadas em Veneza e Florença, muito utilizadas pelas damas da nobreza no século XVIII como símbolo máximo da sedução. 7 Datam dessa época três grandes personagens do Carnaval:a Colombina, o Pierrô e o Arlequim, que tem origem na Comédia Italiana, companhia de atores que se instalou na França pra difundir a Commedia Dell’arte. O Pierrô é uma figura ingênua, sentimental e romântica. É apaixonado pela Colombina, que era uma caricatura das antigas criadas de quarto, sedutoras e volúveis. Mas ela é a amante de Arlequim, rival do Pierrô, que representa o palhaço farsante e cômico. OS BAILES BURGUESES E POPULARES; AS SOCIEDADES; AS GRANDES SOCIEDADES; O ZÉ PEREIRA; OS CORDÕES; OS CORSOS; OS RANCHOS E OS BLOCOS Como vimos no anteriormente, a elite tentava o tempo todo acabar com a desordem que ocorria nas ruas, e na tentativa de organizar a bagunça, copiou os costumes europeus acreditando que o povo ficaria admirado e desistiria daquela arruaça. Desta maneira, o Brasil utilizou como referência Paris, que era considerada o polo cultural da época. Em Paris, no séc. XIX era costume a realização de bailes, e foi isto que a elite carioca importou para o Brasil, mais precisamente para o Rio de Janeiro. O primeiro baile à fantasia ocorrido no Brasil foi em 1840 no Hotel Itália no Largo do Rócio (atual Praça Tiradentes) no Rio de Janeiro. Estes bailes eram inspirados nas associações e nos clubes franceses e ingleses que eram chamados de sociedade, e estes estabeleciam suas atividades pelo prazer dos encontros sociais (saraus, tertúlias, leituras, entre outros), e eram realizados para as pessoas confraternizarem, tomarem chás, ouvirem músicas, dançarem, etc. Muitos bailes foram realizados pelas sociedades carnavalescas e a receptividade foi muito positiva, estes aconteciam nas principais capitais do Brasil. Realmente era muito civilizado, pois, as pessoas precisavam comprar ingressos, se fantasiar, havia apresentações de grupos de danças e orquestras e, além disso, logo após aconteciam a divulgação e os comentários sobre o evento. Com os bailes ocorre o interesse pelas confecções de fantasias, porque as pessoas precisavam estar bem fantasiadas para participar, e na época em que o entrudo era a principal brincadeira, as pessoas precisavam se vestir o mais simplório possível, porque, a qualquer momento podia receber um balde de água ou sujeiras. Inicialmente os bailes eram realizados apenas pela elite, porém, passam a ser incorporadas pelas camadas menos favorecidas e no ano de 1850 se estabelecem como 8 brincadeiras e diversões onde as pessoas se fantasiavam, cantavam e dançavam alegremente. O fato da grande aceitação expandiu a quantidade de bailes, amenizou a situação do entrudo, mas, não acabou com o mesmo, pois, para participar de um baile havia um mínimo de gasto com fantasias, perucas e maquiagens e nem todos tinham dinheiro para isto. Aqueles que investiam nestes apetrechos queriam ser vistos, sendo assim, as sociedades organizadoras de bailes carnavalescos decidiram reunir seus sócios em suas sedes para seguirem juntos aos locais das festas, este trajeto possuía um simples roteiro que era fixado antecipadamente com o intuito de manter alguma ordem no deslocamento,facilitar o trabalho da polícia e evitar a dispersão dos sócios, pois, em conjunto corriam menos risco de serem alvejados por aqueles que ainda se divertiam com o entrudo nas ruas. Para estes passeios as pessoas alugavam até carruagens abertas para serem vistas. Este passeio era apenas um deslocamento das sedes das sociedades até os bailes, porém, esta iniciativa se torna o início de um novo tipo de diversão carnavalesca, onde o passeio por si só bastava, deixava de ser apenas um deslocamento passando a ser um evento, que era realizado por grupos que se denominavam Sociedades Carnavalescas. Os principais objetivos do passeio eram: acabar com o entrudo e ensinar as pessoas a brincarem o carnaval, porém, a ideia era as sociedades desfilarem e o povo assistir. O povo assistiu, gostou, mas, mesmo que em menor proporção, continuou brincando do entrudo. As outras sociedades adotaram esta iniciativa e começaram a ser definidos os roteiros por onde elas passariam, quem quisesse assistir deveria se deslocar para estes locais. Com isto aumentou a quantidade de sociedades, o espaço ficou pequeno e as sociedades começaram a se cruzar pelo caminho, pois, tudo acontecia nas ruas do centro do Rio de Janeiro. Com isso, iniciou um processo de organização onde seriam definidos os roteiros e os dias que ocorreriam os passeios. Alguns desfiles dos principais clubes tiveram proporções descomunais com quantidades exorbitantes de carros na rua, e de acordo com Ferreira (2004), esta imponência fazia com que estas sociedades se destacassem e passassem a ser denominadas de Grandes Sociedades, que no final de 1860 já eram a principal atração do carnaval. As Grandes Sociedades mais conhecidas são Tenentes do Diabo (1855), Os Democráticos (1867) Os Fenianos (1870). A Grande Sociedade Os Democráticos fica localizado na Rua Riachuelo na Lapa e, até hoje mantém atividades com bailes de forró, serestas e outras atividades culturais. 9 Com esta difusão o povo na rua observava as fantasias e criou as fantasias populares, reproduzindo com material mais barato e mais rústico as fantasias luxuosas utilizadas pela elite nestes passeios. Paralelamente a estes acontecimentos, surge o Zé Pereira 1 , existem divergências entre os autores quanto ao verdadeiro ano de surgimento (1846/1848/1850), porém, não vem muito ao caso, o que importa é que dentre esta movimentação de entrudo, bailes e passeios das sociedades surge pelas ruas do Rio de Janeiro o Zé Pereira, que era um sapateiro português muito bonachão chamado José Nogueira, ele saía pelas ruas do centro do Rio de Janeiro tocando zabumbas, bombos e tambores junto com alguns outros amigos portugueses e, muitas pessoas que passavam pelas ruas se juntavam à eles para cantar, tocar e dançar. No meio destas transformações, no final do séc. XIX, com a abolição da escravatura, a cultura negra se funde com estes grupos misturados, começam a se dividir, surgindo então, os grupos selvagens e os grupos civilizados. Os grupos selvagens eram os considerados perigosos, vistos como assustadores, faziam batuques com instrumentos primitivos, eram compostos por ex-escravos e, por isso, as pessoas tinham um pouco de receio, porém, eram reconhecidos e atraentes. Os cordões se formaram a partir destes grupos selvagens.Estes grupos possuíam personagens específicos, como o velho (geralmente eram jovens capoeiristas que representavam os velhos e que utilizavam a luta para fazerem passos de dança específicos chamados de letras) e o índio (homens que vinham caminhando com bichos vivos – jacaré, cobra, etc. – que passaram a ser bichos empalhados e depois de material sintético). Os grupos civilizados eram os considerados mais harmônicos, até utilizavam instrumentos primitivos, mas, associados a instrumentos de corda e de sopro, as pessoas não eram ricas, mas, possuíam um comportamento mais adequado para a elite, os grupos eram compostos de negros e mulatos, utilizavam fantasias simples, mas, bem elaboradas, com o tempo estes grupos passaram a ser denominados de ranchos. De acordo com Araújo (2003), paralelamente a estes cordões havia os ranchos e os blocos: “Com o desaparecimento dos cordões, outros foliões que não haviam aderido aos ranchos carnavalescos se juntam a 1 José Nogueira de Azevedo Paredes – nome verdadeiro do sapateiro lusitano, criador do Zé Pereira. 10 conjuntos mais simples, não dramatizados, sem fantasias elaboradas e sem alegorias, que existiam em paralelos aos cordões. Eram os blocos carnavalescos de rua (sujos) que, com o desaparecimento dos cordões, cresceram em número.” (p. 119) Os blocos se organizavam espacialmente com linha de frente, pastoras, baianas de linha (formadas em sua maioria por homens, que tinham a função de defesa do bloco), mestre de canto, e bateria formada apenas por instrumentos de percussão. Embora mais civilizados, os blocos carnavalescos, semelhantes aos cordões, não conseguiram evitar os conflitos quando encontravam os seus rivais. (ARAÚJO, 2003) Os ranchos eram grupos organizados por mestiços, tinham instrumentos de sopro e percussivos, porém, tinham um ritmo harmonioso e muito melódico mostrava bem a fusão da cultura europeia com a negra, continham linha de frente, orquestra, carros alegóricos, pastoras, baianas, cantores, baliza e porta-estandarte, estrutura semelhante a das nossas escolas de samba atuais.Em meados do séc. XIX já existiam grupos que se denominavam ranchos, que eram grupos de pessoas que se reuniam em cortejo cantando e dançando, há autores que dizem ter vindo com o baiano Hilário Jovino Ferreira (Reis de Ouro – 1893), mas, o próprio Hilário em entrevista disse que quando chegou no Rio de Janeiro em 1872, já existia o rancho Dois de Ouro. De acordo com Gonçalves (apud Cunha 2001), os ranchos e os cordões possuíam muitas características em comum quanto à origem social dos componentes, os dois eram compostos de negros em sua grande maioria, oriundos dos morros, dos subúrbios e dos trabalhos braçais. No final do séc. XIX, com tanta movimentação cultural nas ruas a elite percebeu que a ideia inicial de “civilizar” o carnaval não havia funcionado da maneira que se esperava, e com esta aparente desorganização acreditou que o entrudo havia retornado e que era o fim do carnaval carioca. Porém, esta desorganização não era como a do entrudo anteriormente relatado, pois, não havia ninguém jogando água ou sujeira nos outros, era apenas uma grande mistura de variadas manifestações. Neste misto de manifestações acontecendo simultaneamente ainda tinham os foliões avulsos e os Cucumbis 2 , e em 1907 surgiram os corsos, que era um momento de 2 Grupos de negros que dançavam recordando as festas africanas. Estes grupos saiam durante o ano todo, mas, no carnaval conseguiam autorização com mais facilidade e assim, saiam em maior quantidade. 11 socialização para a burguesia, permitindo o contato entre famílias, mas, mantendo a separação física entre os grupos envolvidos.Os corsos eram desfiles na Avenida Central (atual Av. Rio Branco) de carros da elite, onde os burgueses fantasiados passavam em filas de carro, acenando uns aos outros e jogando confetes e serpentinas. Esta manifestação durou pouquíssimos anos. Uma outra brincadeira importada da Europa foi a batalha de flores, onde no Carnaval de Nice era praticado como uma festa elegante e delicada que substituiu a guerra de grão-de-bico e outros objetos sólidos que as pessoas jogavam umas nas outras, muito semelhante ao Brasil, não é mesmo? A primeira batalha de flores que se tem notícia no Brasil foi realizada em 1888 em Petrópolis, organizada pela Princesa Isabel.Têm-se notícias de que no Rio de Janeiro no ano de 1901 (Jornal do Commercio) famílias ricas quemoravam no Alto da Boa Vista realizaram uma batalha de flores para comemoração do Carnaval. E em 1904 ocorreu na Praça da República uma batalha de flores oficial com direito a carruagens enfeitadas. Porém, no primeiro Carnaval em 1906 após a inauguração das novas avenidas que surgiram com a reforma urbana, o jornal Gazeta de Notícias organizou uma batalha de confete na segunda-feira de Carnaval na Avenida Beira-Mar, pois, pelo que parece, as flores não fizeram o mesmo sucesso que fizeram em Nice, pois, as flores encareceriam o evento. Desta maneira, as flores foram substituídas pelos confetes. No início do séc. XX uma nova camada da elite carioca pensa em resolver o problema da desorganização e muda a ideia sobre “povo”, pensando em preservar a cultura destas pessoas, começa a tentar entender este movimento e dar uma denominação para cada manifestação, que inicialmente eram chamadas indistintamente de grupos, blocos, cordões, ranchos, sociedades ou clubes. Desta forma, inicia a organização dos costumes deste povo, e isto acontece gradativamente. Os jornais muito contribuíram para esta organização, pois, começaram a elogiar as brincadeiras do povo mostrando que não eram tão apavorantes como aparentavam, com isso, surge alguns estudiosos e pesquisadores interessados em carnaval que começam a organizar, esclarecer e fornecer informações para as pessoas. Outra iniciativa desta mídia foi a organização de concursos para eleger a melhor música, o melhor estandarte, etc. 12 Com isso, os grupos começaram a se organizar, e os que já eram organizados começam a ser incentivados a criar e incrementar os estandartes 3 , ter um estandarte era sinônimo de ser um grupo organizado e respeitado. Os jornais organizavam eventos antes do carnaval, onde cada grupo deveria expor seu estandarte no hall dos jornais, depois os grupos tinham que ir um outro dia recolher o estandarte e levá-lo de volta para sua sede, desta forma, todos os grupos tinham que obrigatoriamente se organizar (designar o responsável por levar o estandarte, quem iria comandar o canto, que itinerário utilizariam, etc.). Nos anos 20 surge em Paris a valorização da cultura negra, se tornando referência para o Brasil, principalmente, para o Rio de Janeiro. Com isso o espaço do morro passa a ser reconhecido e os batuques que ocorrem no morro passam a ser valorizados, iniciando os grupos de samba de morro. Com esta valorização da cultura popular negra iniciam as críticas de que os ranchos, que entre 1910 e 1930 foram a principal atração carnavalesca do Rio de Janeiro, estavam muito sofisticados e espetacularizados e que a população sentia necessidade de algo mais singelo, que não fosse tão agressivo quanto o cordão nem tão sofisticado quanto o rancho. A esta altura, os grupos já estavam com suas “categorias” classificadas e com um perfil determinando o que caracterizava um rancho, um cordão, um bloco, uma sociedade ou um clube. 3. A evolução da cidade: a reforma urbana; a nova França brasileira; a abertura da Av. Central e a influência no Carnaval. O Pequeno e o Grande Carnaval. Como vimos no texto acima, muitas manifestações surgiram da fusão de um tipo de festejo com outro e percebemos que não terminava uma manifestação para iniciar outra, elas surgiam simultaneamente e muitas vezes uma influenciando no surgimento da outra. Percebemos também que o processo de transformação urbana contribui bastante para o surgimento de novas formas de brincar. 3 Bandeira de identificação de um grupo; são muito comuns nas procissões religiosas, nos cucumbis, nos frevos, maracatus, etc. 13 Esta reformulação foi mais impactante no início do séc. XX, mas, entendemos que o planejamento se iniciou bem antes, pois, no final do séc.XIX e início do século XX, após a abolição dos escravos em 1888 e a proclamação da República em 1889, o Rio de Janeiro passava por graves problemas sociais decorrentes, em grande parte de seu rápido e desordenado crescimento, alavancado pela imigração européia e pela transição do trabalho escravo para o trabalho livre. No centro e adjacências surgiam habitações coletivas insalubres (cortiços), epidemias de febre amarela, varíola, cólera, atribuindo à cidade a fama internacional de porto sujo ou "cidade da morte", como se tornou conhecida. As reformas urbanas realizadas por Pereira Passos no Rio de Janeiro no período de 1903 a 1906 estavam de acordo com o processo de europeização da sociedade brasileira e, desmonta o sistema habitacional do centro da cidade. Período conhecido popularmente como “Bota-abaixo”, visando o saneamento, o urbanismo e o embelezamento, dando ao Rio de Janeiro ares de cidade moderna. O objetivo era transformá-la numa capital aos moldes franceses, inspirando-se nas reformas urbanísticas de Haussmann (1809 -1891) realizadas em Paris. Dessa forma, o plano de modernização da sociedade brasileira, que sentia necessidade de copiar o que era europeu, se baseou, sobretudo, na reconstrução dos principais centros urbanos do país. Na condição de capital do país e configurada como centro político e econômico do Brasil, foi natural que o Rio de Janeiro se tornasse os primeiros canteiros de obras do projeto modernizador do país, transformando-se em seguida no modelo brasileiro de cidade moderna. A intenção da elite era, através das reformas urbanas, reorganizar espacialmente a então capital da República, e com isso ansiavam pela anulação das reminiscências dos modelos coloniais de comportamento e produção, projeto esse que passava, além da remodelação das estruturas físicas da cidade, pela tentativa de definição dos espaços de cada grupamento étnico, cultural e/ou social. Com a reforma urbana uma parte da população pobre, que não seria bem quista na “cidade higienizada”, é por consequência, deportada para o bairro mais próximo, a Cidade Nova, cuja densidade populacional cresce assustadoramente com a presença dos migrantes negros, provindos da Bahia, que para lá se transferem. E, a outra,vai juntar-se aos soldados vindos de Canudos em barracos no Morro da Providência (1ª favela e que leva este nome por causada da espera dos soldados pela providência que o governo iria http://pt.wikipedia.org/wiki/Corti%C3%A7o http://pt.wikipedia.org/wiki/Febre_amarela http://pt.wikipedia.org/wiki/Var%C3%ADola http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3lera http://mpbantiga.blogspot.com.br/2007/05/cidade-nova-o-bero-do-samba.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Saneamento http://pt.wikipedia.org/wiki/Urbanismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Haussmann http://pt.wikipedia.org/wiki/1809 http://pt.wikipedia.org/wiki/1891 14 tomar em relação à situação deles), além da grande massa que migra para os subúrbios, enquanto a elite se interessa pela zona sul da cidade. Mesmo diante da decisão das autoridades no sentido de depreciar a liberdade de expressão das camadas populares em todas as esferas, fosse ela cultural, social ou política, supõe-se que a reorganização espacial da capital da República acabou por delimitar novas formas de sociabilidade, onde se pôde constatar, com bastante evidência, o contrário do que desejavam as iniciativas políticas impostas pela elite. Os indivíduos dos grupos populares utilizavam o transporte que também foi introduzido junto ao processo de reurbanização e com isso, em muitos casos, interferiu ou teve acesso ao ambiente privado dos novos espaços destinados às elites, que surgiram com a reconstrução do centro da cidade, já que todo este processo visava atender às necessidades das camadas sociais mais favorecidas. Visto isto no próprio processo de surgimento das manifestações carnavalescas, onde o povo adaptava à sua realidade aquilo que via e, de alguma maneira admirava, nas práticas da elite. A Avenida Central (atual Av. Rio Branco) foi inaugurada em 7 de setembrode 1904 e, sua construção foi baseada nos moldes dos boulevards parisienses, com ruas largas e canteiros centrais arborizados, atraindo o interesse da população, que costumava passear lentamente pelas ruas da cidade, imitando o costume da França. A folia carioca rapidamente se aproveitou desta nova forma de viver. A busca de uma identidade nacional para o país aproveitando os novos espaços que surgiram, seria essencial para a formação do novo carnaval carioca e, por consequência, brasileiro. Desta maneira, surge uma organização da “bagunça” que tinha no carnaval e este processo se daria não só sobre as várias formas assumidas pelas brincadeiras até então, mas, também através da reordenação do espaço festivo, com imposições de regulamentações cada vez mais precisas. O interesse dos grupos em desfilar nos locais importantes da cidade fazia com que eles buscassem se adaptar cada vez mais à regulamentações, reais e simbólicas, impostas pela elite que, em última instância, detinha o controle dos processos de legitimação do carnaval, ou seja, a elite ditava as regras. O que já era uma tentativa de organização do carnaval brasileiro na segunda metade do séc. XIX determinando que existisse um Pequeno Carnaval, popular, e um Grande Carnaval, de elite, ficaria mais encampada na virada do séc. XX. O Grande Carnaval era composto das Grandes Sociedades, das batalhas de confete e do corso, que eram as manifestações mais burguesas da festa. Já o Pequeno 15 Carnaval era composto dos grupos mais populares que eram as sociedades, grupos, clubes, blocos, ranchos ou cordões. Todas estas brincadeiras disputavam o mesmo espaço e formava o Carnaval, aquelas brincadeiras que não se incluíam em nenhuma das duas categorias eram chamadas de... Entrudo! Outros locais com festas carnavalescas começaram a surgir e, bairros como Tijuca e Catete continham sociedades que desfilavam pelas ruas e os moradores se juntavam, passando a participar das brincadeiras. Com isso ocorreu a migração das pessoas para o subúrbio devido à Reforma Urbana de Pereira Passos, os sambistas tinham o costume de fazer festas com muito jongo e roda de samba nos quintais das casas de alguns festeiros, como é o caso da D. Esther, mais popular festeira da região de Osvaldo Cruz e Madureira, pra onde iam sambistas como Ismael Silva, Donga, entre outros. Estes festeiros acabavam realizando um intercâmbio sociocultural e colaboraram muito para o surgimento de algumas escolas de samba. Enquanto isso, a Praça Onze se conservava e se consagrava como um espaço específico da folia carioca. Outra obra que também abriu espaço para os festejos carnavalescos foi a construção da Avenida Presidente Vargas, inaugurada em 07 de setembro de 1944. A construção da Avenida Presidente Vargas surgiu com objetivo de ligar pontos extremos do centro carioca e foi considerada uma obra muito grande, pois, derrubou quadras inteiras para a passagem de suas largas pistas, sumiu com ruas, foi radical. Destruiu, inclusive, a original Praça Onze que, até então, sediava os novatos desfiles das escolas de samba do Rio, o antigo reduto do samba iria sofrer uma grande reforma perdendo sua antiga característica, tanto que Herivelto Martins e Grande Otelo em 1941 protestavam a situação com o samba “Vão acabar com a Praça Onze. Não vai haver mais escola de samba, não vai.” Durante as obras de abertura da grande avenida carioca o carnaval utilizou as instalações do estádio de São Januário, do Vasco da Gama, para realizar os desfiles carnavalescos. Após a migração das pessoas para o subúrbio devido à Reforma Urbana de Pereira Passos, os sambistas tinham o costume de fazer festas com muito jongo e roda de samba nos quintais das casas de alguns festeiros, como é o caso da D. Esther, mais popular festeira da região de Osvaldo Cruz e Madureira, pra onde iam sambistas como Ismael Silva, Donga, entre outros. Estes festeiros acabavam realizando um intercâmbio sociocultural e colaboraram muito para o surgimento de algumas escolas de samba. 16 4. O carnaval de rua: o carnaval do bonde e as marchinhas. O CARNAVAL DO BONDE Os bondes e o carnaval têm uma história longa de parceria por mais de 35 anos. No início eram puxados a burro, mas foram instalados os elétricos no Rio de Janeiro em 1910, pela Light. Os bondes se tornaram o principal meio de transporte coletivo da cidade e de alta confiabilidade nos seus horários, por isso, tanto eles, quanto seus funcionários eram homenageados e enaltecidos nas marchinhas. Alvarenga e Ranchinho compuseram a marchinha “Seu Condutor”, por exemplo, e a marchinha “Salve a Malandragem (e o Trabalhador”), que falava do horário certinho dos bondes. SEU CONDUTOR (http://www.youtube.com/watch?v=xNJ3UqXnAww) Seu condutor Dim, dim Seu condutor Dim, dim Pára o bonde Pra descer o meu amor. O bonde da Lapa É cem réis na chapa O bonde Uruguai É duzentos que vai O bonde Tijuca Me deixa em sinuca E o Praça Tiradente Não serve pra gente Durante o carnaval os foliões usavam os bondes para irem aos clubes, para o centro do Rio de Janeiro ou de um bairro a outro e, obviamente, iam fantasiados e carregando todo tipo de instrumento musical. Aproveitavam a ocasião e batucavam nos bondes, fazendo uma grande arruaça. Mesmo se chovesse a batucada não parava!Muita gente dizia que já havia pagado a passagem, e o condutor ou fazia estripulias, dando piruetas nos estribos e balaústres pra cobrar a passagem ou, pra não apanhar engolia as desculpas esfarrapadas. Em 1928 os passageiros do bonde São Januário fizeram uma batalha de confetes em homenagem ao veterano motorneiro Ivo Costa, no início dos anos trinta a brincadeira se espalhou por outras linhas e, os passageiros começaram a enfeitar os http://www.youtube.com/watch?v=xNJ3UqXnAww 17 bondes: máscaras gigantes de papelão, cortinas de serpentinas, faixas e estandartes continham o nome dos organizadores das “batalhas de confetes itinerantes”, homenageavam os condutores, os motorneiros, a Light, a Imprensa e saudavam o povo carioca. Na década de 40, mais precisamente em 1942, o bonde aumenta a popularidade nas marchinhas de carnaval, por causa do crescimento da cidade devido à 2ª Guerra Mundial e pelo racionamento de gasolina ocorrido na época. Já na década de 50 os bondes iniciam um processo de decadência. Com o crescimento da população e do número de carros particulares, a cidade tornou-se pequena e apertada. Aos poucos os bondes foram perdendo a confiabilidade nos horários e a expressão “bonde do horário” foi perdendo a força.Os compositores foram perdendo o interesse pelo bonde, mas, ainda assim, em 1951 compuseram “O Motorneiro Chapa 13” e em 1955 foram compostas “Marcha do Condutor” e “Conduta do Taioba”. Na década de 60 durante o Governo Carlos Lacerda os bondes passaram para o controle do Estado e aos poucos foram sendo desativados. Mesmo assim ainda apareceram algumas marchinhas como a "Um Pra Light e Dois Pra Mim" e "Não Pago o Bonde". Os bondes foram vendidos a museus norte americanos por valores muito baixos. Hoje bondes no Rio, só os de Santa Teresa e ainda assim, apenas como referência, pois estão desativados desde 2011.Existe um projeto de reforma e reativação dos mesmos, pelo menos nesta região, mas, ainda não saiu do papel. O Governo do Estado disse ter encomendado 14 novos bondes e que até 2014 os mesmos estarão ativados. AS MARCHINHAS DE CARNAVAL As marchinhas de Carnaval misturam humor, crítica dos costumes e invenção de moda com letras debochadas, irônicas, ambíguas ou sensuais. Muita das vezes se caracterizando como crônicas. A primeira marchinha que se tem conhecimento foi “Ó Abre-alas” composta em 1899 pela compositora Chiquinha Gonzaga, esta foi encomendada por foliões carnavalescos do cordão Rosas de Ouro.Com o tempo recebeu a influênciado samba e 18 até do jazz através de pessoas como Lamartine Babo, João de Barro, Nássara e todo um grupo de compositores. As marchinhas não eram politicamente corretas, pois, faziam brincadeiras com gagos e carecas, negros e índios, homossexuais masculinos e femininos. Eram impiedosas, mas, acredite existia certa sensibilidade. As canções possuíam melodias simples, fáceis de entender e memorizar, às vezes exageradas, mas, sempre com muita graça e malícia. De acordo com o escritor Ruy Castro em Carnaval no Fogo, os autores das marchinhas eram homens inteligentes e abençoados com uma inesgotável veia melódica e humorística. “Graças a eles, o carioca refinou seu jeito de criticar tudo na base da brincadeira - e também de aceitar a crítica”. Lamartine Babo (1904-1963) foi (e é) um dos compositores mais conhecidos e renomados neste segmento de marchinhas, é o equivalente a Picasso sem tinta, compôs marchinhas conhecidas como, por exemplo, Linda Morena (1932), Teu cabelo não nega (em parceria com os irmãos Valença).Além de compor marchinhas, também foi responsável pela composição dos hinos dos times de futebol carioca que, inicialmente eram não oficiais e tinham ritmo de marchinhas de carnaval. Houve outros grandes compositores que também se dedicaram ao sagrado meio carnavalesco, como Noel Rosa, Ary Barroso e Herivelto Martins. Todo fim de ano,compositores, intérpretes e músicos invadiam os estúdios cariocas pensando em fevereiro, mês do carnaval. Intérpretes e instrumentistas acumulados no mesmo ambiente gravavam um pequeno disco. O rádio tinha um papel fundamental no ciclo de vida das marchinhas recém- nascidas, através da adesão (ou não) dos programas mais ouvidos que as canções ganhavam as ruas e,depois, na data apropriada eram tocadas nos bailes. No caso das que realmente caiam nas graças do povo, eram tocadas no ano seguinte (e são executadas até os dias de hoje). A partir dos anos 1960, essa produção começou a murchar gradativamente, pois, com o surgimento do samba elas já começaram a entrar em declínio. Atribui-se ao Carnaval oficial do Rio de Janeiro, o do samba-enredo, e, mais recentemente, ao axé dos trios elétricos a função de enterrar as marchinhas. Nos tempos atuais, fazer piadinhas consideradas inapropriadas pode render atos violentos ou processuais, em alguns casos pode caracterizar bullying. Pode-se considerar que são várias as razões para o gênero definhar. Alguns compositores 19 contemporâneos tentaram revitalizá-lo, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Moraes Moreira. A grande era das marchinhas, porém, pertence ao passado.Hoje as marchinhas fazem parte do inconsciente coletivo brasileiro, tanto que até hoje escutamos em festas e eventos as clássicas:Cabeleira do Zezé (João Roberto Kelly e Roberto Faissal – 1964), Mamãe eu quero (Jararaca e Vicente Paiva – 1937), Ô balance (Braguinha e Alberto Ribeiro – 1936), Taí (Joubert Carvalho – 1930), Sassaricando (Oldemar Magalhães, Luís Antônio e Zé Mário – 1951), A jardineira (Benedito Lacerda e Humberto Porto – 1938), entre muitas outras. Atualmente ocorre concurso de marchinhas de carnaval no Circo Voador com prêmio para o vencedor, mas, a divulgação do evento não é tão eficiente, as marchinhas não tocam nas rádios e o público em geral, não tem acesso as músicas. 5. Jongo, Lundu, Maxixe, os ritmos que influenciaram o Samba. O surgimento do samba. JONGO, LUNDU, MAXIXE, OS RITMOS QUE INFLUENCIARAM O SAMBA Pode-se considerar do conhecimento de todos que o samba surgiu através do batuque realizado nas senzalas pelos negros africanos como resistência à escravidão. Eles eram tratados como máquinas, considerados objetos que produziam mão de obra barata e os escravocratas reprimiam e ignoravam a cultura africana. O negro sempre foi caracterizado como um povo alegre e festeiro. De acordo com Sodré (1998), na Bahia em 1807 o Conde da Ponte se queixava: “Os escravos nesta cidade não tinham sujeição alguma em consequência de ordens ou providências do governo; juntavam-se quando e onde queriam; dançavam e tocavam os estrondosos e dissonoros batuques por toda cidade e a toda hora; nos arraiais e festas eram eles só os que se assenhoreavam do terreno, interrompendo quaisquer outros toques ou cantos”. (p.12) Para que suas manifestações culturais fossem aceitas pela sociedade os batuques eram modificados para que os negros pudessem preservar e dar continuidade à sua cultura, desta forma eles os adaptavam para incorporarem às festas populares de origem 20 branca e à vida urbana. Estas modificações são bem explicitadas por Sodré (1998) no trecho a seguir: “As músicas e danças africanas transformavam-se, perdendo alguns elementos e adquirindo outros, em função do ambiente social. Deste modo, desde a segunda metade do séc. XIX, começaram a aparecer no Rio de Janeiro, sede da Corte Imperial, os traços de uma música urbana brasileira – a modinha, o maxixe, o lundu, o samba. Apesar das suas características mestiças (misto de influências africanas e europeias), essa música fermentava-se realmente no seio da população negra, especialmente depois da Abolição, quando os negros passaram a buscar novos modos de comunicação adaptáveis a um quadro urbano hostil”. (p. 13) O lundu foi a primeira música negra aceita pelos brancos no séc. XVIII, seguindo as adaptações para ser incorporado à sociedade. Segundo Maynard (2004): “Ele veio provavelmente da classe inferior do batuque do escravo, passou pelos espanhóis e portugueses, que o aperfeiçoaram a seu modo, não escondendo nunca sua origem vibrante, convulsiva...” (p. 225) Desta maneira, o lundu tinha uma forma mais “branda”, que era aceita pela sociedade branca e uma forma mais “selvagem”, onde existe o rebolado acentuado dos quadris, movimentos sensuais das mãos e um jogo de corpo típico das danças africanas. Acompanhando este mesmo processo surge o maxixe no séc. XIX que foi a junção do lundu com outros ritmos europeus (como a polca e a habanera), ele surge a partir de 1880 acompanhando a maneira exageradamente requebrada de dançar e com estilo malandro de polca-tango.Da mesma maneira que o lundu tinha uma forma aceitável de dançar nos salões (a mais “branda”) e outra forma repudiada pela sociedade (a mais “selvagem”). O maxixe foi um gênero discriminado por ter surgido em um nível social baixo (bailes populares), mas, foi cultivado até inícios do século XX, muitas das vezes com o nome de tango ou tanguinho. Entra em decadência na década de 1920/30perdendo espaço para o samba, que surge desta articulação lundu-maxixe-samba. O jongo, ou caxambu, é um ritmo que também influenciou no surgimento do samba e teve suas origens na região africana do Congo-Angola. Chegou ao Brasil colônia com os negros de origem banto que vieram no navio negreiro trazidos como 21 escravos para o trabalho forçado nas fazendas de café do Vale do Rio Paraíba, no interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, a influência da nação banto foi fundamental na formação da cultura brasileira. Uma das características dos negros africanos era cantar para acalmar a revolta e o sofrimento dos negros e distrair o tédio dos brancos, os donos das isoladas fazendas de café permitiam que seus escravos dançassem o jongo nos dias dos santos católicos. No início do século 20 o jongo era o ritmo mais tocado nos morros e nas favelas pelos fundadores das escolas de samba, antes mesmo de o samba nascer e se popularizar. Os antigos sambistas da velha guarda das escolas de samba realizavam rodas de jongo em suas casas. Nessas festas visitavam-se uns aos outros, recebendo também jongueiros do interior. Até hoje, alguns núcleos familiares de afrodescendentes persistem em manter viva a bela e misteriosa tradição do jongo. Nas rodas de jongo o improviso para cantar os versos era uma práticacomum e, se analisarmos, os versos do partido-alto e do samba de terreiro são inventados na hora pelo improvisador. Outro ponto que evidencia esta influência é a umbigada, que na língua quimbundo se chama "semba", que originou o termo samba e faz parte do samba primitivo. A "mpwita", instrumento congo-angolano presente no jongo, é a avó africana das cuícas das baterias das escolas de samba. O jongo influenciou decisivamente o nascimento do samba no Rio de Janeiro. O SURGIMENTO DO SAMBA O samba começou sua difusão nos redutos negros no bairro da Saúde e da Praça Onze, onde era tocado e dançado em seus diversos estilos nas festas familiares sem preocupação, visando apenas a diversão dos presentes, e através dos ranchos – que se formavam e ensaiavam naquelas casas – começou a ter contato com a sociedade branca. A junção dos africanos com os recém-chegados baianos deu música naturalmente. Lima Barreto em seu livro Feiras e Mafuás acrescenta ainda a presença de imigrantes italianos, que ele situa em patamar socioeconômico mais baixo ainda, mas, que devem com certeza ter contribuído com sua cultura nas festas e cantorias que o povo humilde fazia para esquecer a tristeza. http://mpbantiga.blogspot.com.br/2007/05/cidade-nova-o-bero-do-samba.html 22 “No começo do século era comum vê-la (a Cidade Nova) representada nas revistas teatrais do Rocio como sendo habitada, sobretudo por pobre, gente de cor na maioria dada a malandragem. Mas era um exagero (...)”, dizia Lima Barreto. Quando iniciava a tarde, as moças iam para a janela, e então as festinhas caseiras, típicas da época, não tardavam a começar, animadas pelos pianistas amadores, que sabiam de cor o ‘shotish’, a valsa e a polca da moda, e aos domingos brilhavam nos salões do Clube dos Aristocratas da Cidade Nova. Este era o ambiente onde o samba carioca começava a nascer, processo que teria continuação com os habitantes das favelas e, posteriormente com os compositores chamados urbanos, que conheceram o samba através do Carnaval que se festejava na Praça Onze (de Junho), domínio da Cidade Nova. "Senhor, recebemos a denúncia de que aqui se canta samba". Essa frase partiu de um policial, nos primeiros anos do século 20, dirigida a um dos pioneiros do samba carioca, João da Baiana (João Machado Guedes, 1887-1974). A perseguição aos primeiros sambistas era herança da discriminação contra os negros, libertados da escravidão poucos anos antes. Foi assim, perseguido e marginalizado, que o samba cresceu na chamada "Pequena África" — o apelido foi dado por Heitor dos Prazeres (1898-1966). Essa região localizada entre os bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo, Cidade Nova e a Pedra do Sal, abrigava terreiros de candomblé, onde depois dos cultos eram formadas rodas de samba. A região da Praça Onze também era marcada por reuniões de músicos como Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos,1890-1974) e Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho, 1897-1973). Lá ficava a casa de Tia Ciata, considerada uma das matriarcas do samba. Mais tarde, no Estácio, um bairro popular e com grande contingente de negros e mulatos, era criado o chamado "samba de sambar", por Ismael Silva(Mílton de Oliveira Ismael Silva,1905 -1978). Foi nesse bairro que surgiria o novo e definitivo samba urbano carioca, com a chamada "Turma do Estácio".Nascia a semente da primeira escola de samba, a Deixa Falar. Formada por alguns compositores do bairro do Estácio, entre os quais Alcebíades Barcellos (o Bide), Armando Marçal, Ismael Silva, Nilton Bastos e mais os malandros-sambistasBaiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem, a "Turma do Estácio" marcaria a história do samba brasileiro por injetar ao gênero uma cadência mais picotada, que teve apoio de filhos da classe média, como o ex-estudante de direitoAry Barroso e o ex-estudante de medicinaNoel Rosa. Este conjunto instrumental http://pt.wikipedia.org/wiki/1887 http://pt.wikipedia.org/wiki/1974 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ernesto_Joaquim_Maria_dos_Santos http://pt.wikipedia.org/wiki/1897 http://pt.wikipedia.org/wiki/1973 http://pt.wikipedia.org/wiki/Turma_do_Est%C3%A1cio http://pt.wikipedia.org/wiki/Alceb%C3%ADades_Barcellos http://pt.wikipedia.org/wiki/Armando_Mar%C3%A7al http://pt.wikipedia.org/wiki/Ismael_Silva http://pt.wikipedia.org/wiki/Nilton_Bastos http://pt.wikipedia.org/wiki/Malandro http://pt.wikipedia.org/wiki/Sambista http://pt.wikipedia.org/wiki/Sambista http://pt.wikipedia.org/wiki/Brancura http://pt.wikipedia.org/wiki/Mano_Edgar http://pt.wikipedia.org/wiki/Mano_Rubem http://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_m%C3%A9dia http://pt.wikipedia.org/wiki/Estudante http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito http://pt.wikipedia.org/wiki/Direito http://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina http://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina 23 foi chamado de "bateria" e prestava-se ao acompanhamento de um tipo de samba que já era bem diferente dos de Donga, Sinhô e Pixinguinha, ou seja, um samba que adquiria uma característica de música mais "marchada" e que fosse devidamente ritmado de forma que pudesse ser acompanhado no desfile de carnaval. A diversão do povo estava nos cordões e, principalmente, nos ranchos. A música que embalava os desfiles era a marcha-rancho, acompanhada de instrumentos de sopro e de corda, num ritmo mais pausado que o samba. Os ranchos ganharam popularidade nos primeiros anos do século XX. Entre os mais famosos, estavam o Ameno Resedá, o Rei de Ouros e o Flor do Abacate. Após a migração das pessoas para o subúrbio devido à Reforma Urbana de Pereira Passos, os sambistas tinham o costume de fazer festas com muito jongo e roda de samba nos quintais das casas de alguns festeiros, como é o caso da D. Esther, mais popular festeira da região de Osvaldo Cruz e Madureira, pra onde iam sambistas como Ismael Silva, Donga, entre outros. Estes festeiros acabavam realizando um intercâmbio sociocultural e colaboraram muito para o surgimento de algumas escolas de samba. Como já mencionado acima, ao falar de samba não se pode ignorar o surgimento das escolas de samba carioca. De acordo com Bernard (2001) as escolas de samba surgiram diretamente dos ranchos 4 : “Herdeiras, em linha direta, dos ranchos e ternos de reis nordestinos, assim como de outras tradições advindas dos tempos coloniais, das quais copiaram suas formas de desfilar e ritmos dos passos. Foi o nome que Ismael Silva sugeriu pelo fato de haver, em frente do local onde se reuniam, o funcionamento de uma Escola Normal nas proximidades do Largo do Estácio”. (p. 84) 4 Rancho: grupo de homens e mulheres que cantam e dançam na época de Natal e nos Dias de Reis representando pastores e pastoras. Foi muito popular no estado da Bahia, mas, foi no Rio de Janeiro que se incorporou ao carnaval; Ranchos: manifestação cultural surgida em fins do séc. XIX, um modo de brincar carnaval em grupo, passando a ser, com o decorrer do tempo, uma reconhecida forma de manifestação popular, infelizmente extinta. Os ranchos saíam com pandeiros, castanholas, flautas, cavacos, portas-machado, lanceiros e pastoras. Possuíam organização fixa e, em seus desfiles, contavam com abre-alas, comissão de frente, figurantes, alegorias, mestre de manobra, mestre-sala, porta-estandarte, 2º mestre de cantos, corpo coral e orquestra, estrutura esta que foi integralmente transportada para as escolas de samba posteriormente. (p. 217) http://pt.wikipedia.org/wiki/Bateria_(grupo) http://pt.wikipedia.org/wiki/Donga_(m%C3%BAsico) http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinh%C3%B4 http://pt.wikipedia.org/wiki/Pixinguinha http://pt.wikipedia.org/wiki/Desfile_de_carnaval 24 Anos depois, Joãozinho Trinta (1933 -2011) disse que as escolas de samba eram o terceiro elemento da "santíssima trindade", formada pelos ranchos e pelas grandes sociedades. Mas o que não havia nessas outras manifestações carnavalescasera o ritmo contagiante do samba. Antes, marginalizado; mais tarde, consagrado o gênero musical mais popular do Brasil. 6. As primeiras escolas de samba. A marginalização do sambista. A Era Vargas. AS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SAMBA Podemos perceber que as três décadas iniciais do séc. XX foi um período de organização dos grupos carnavalescos existentes, quando se categorizou e foi se definindo os grupos de acordo com suas características, como Eneida de Moraes citou em seu livro, foi o ensaio de uma pesquisa que requeria mais estudos. Neste contexto, quando se pensava que tudo já estava organizado e no seu devido lugar, surge uma nova forma carnavalesca e que despertou a curiosidade de todos, as escolas de samba. Em 1928 surge misteriosamente o termo Escola de Samba. A maioria dos estudiosos usa a história de que foi Ismael Silva quem criou esta nomenclatura baseado em uma escola de formação de professores próximo ao local onde Ismael e alguns amigos do morro do Estácio se reuniam, para formar uma agremiação de negros sambistas que pudesse desfilar no Carnaval e tivesse o mesmo respeito que outros grupos carnavalescos já obtinham. Por isso o termo escola, que denota ensino, conhecimento, sabedoria.Porém, há indícios de que antes deste ano já havia surgido o termo. As escolas de samba despertam o interesse dos jornais, mas, ainda não ganham o respeito que gostariam e, muito menos os direitos que os outros grupos já haviam conquistado. Tanto que o espaço que tinha que utilizar para desfilar era apenas o da Praça Onze. Entre 1928 e 1932 o governo percebe que o carnaval está organizado e visa o carnaval oficial, pensando em vender o evento que possui as características do país. As escolas de samba surgiram como uma “necessidade”, pois, os ranchos eram muito sofisticados, suas músicas eram muito melódicas e tudo era muito luxuoso, desta 25 forma, a intelectualidade sentia que era necessário algo mais singelo, mais popular, que caracterizasse mais o povo negro. A primeira escola de samba que, segundo os pesquisadores, foi fundada é a Deixa Falar atual Estácio de Sá, que surgiu no dia 12 de agosto de 1928. Mas, o GRES Estação Primeira de Mangueira surgiu também em 1928, no dia28 de abril e, o GRES Portela no dia 11 de abril de 1923, mas, não ainda como escola de samba, era um bloco chamado “Baianinhas de Oswaldo Cruz” que surgiu para disputar com o bloco "Quem fala de nós come mosca" criado por D. Esther, que era festeira do bairro e seu bloco era muito famoso. Após um desentendimento entre os integrantes do bloco “Baianinhas de Oswaldo Cruz”, Paulo da Portela, Antônio Caetano e Antônio Rufino fundam a agremiação conhecida como "Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz", que mais tarde, em 1929, ganhou o primeiro concurso de samba e passou a ser chamado de “Quem nos faz é o capricho”,em 1931 após muitas dificuldades para desfilar, seus integrantes mudam o nome para “Vai como pode”. Em 1935, após uma determinação onde o delegado Dulcídio Gonçalves colocou a regra de que todas as escolas de samba deveriam conter antes o Grêmio Recreativo, o tal delegado disse que o nome “Vai como pode” deveria ser trocado, pois, não era um nome muito bom para uma escola de samba e, daí, surge o nome GRES Portela, devido à localização da agremiação. As escolas de samba já surgiram com tradição: não podiam ter instrumentos de sopro e tinham que ter baianas. Possuíam uma estrutura semelhante com a dos ranchos possuindo a seguinte estrutura: pede passagem (abre-alas); comissão de frente (linha de frente); primeiro mestre-sala e primeira porta-bandeira; primeiro puxador e primeiro versador; caramanchão; o coro; segundo puxador e segundo versador; bateria e baianas de linha. (ARAÚJO, 2003). Obviamente que ocorreram muitas transformações nesta estrutura, mas, ainda é visto a maioria destes quesitos nas escolas de samba atuais. A MARGINALIZAÇÃO DOS SAMBISTAS “Os negros, sempre na rua, limitavam-se a uma participação como assistentes vigiados, sendo praticamente impedidos de se reunir e se divertir nas ruas e avenidas do Centro, o que por vezes era transgredido por grupos de jovens favelados,como os Arengueiros da Mangueira, que desafiavam a sociedade e a polícia desfilando com 26 música, cachaça e pancada”. Este trecho retirado da página 19 do Dossiê das Matrizes do Samba caracteriza a discriminação sofrida pelos negros nas ruas da cidade. O primeiro samba foi gravado em 1917 por Donga, o clássico Pelo Telefone retrata justamente o preconceito e a vigília sofrida pelos negros, leia no trecho a seguir: PELO TELEFONE (Link: http://www.vagalume.com.br/donga/pelotelefone.html#ixzz2lVS2UmM1) Em porta e janela Fica a sentinela De noite e de dia; Com as arma embalada Proibindo a entrada Das moça vadia A lei da polícia Tem certa malícia Bastante brejeira; O chefe é ranzinza No dia de \"cinza\" Não quer zé-pereira! Coro (civis) Me dá licença, não dou, não dou Faça favô, não dou, não dou Pra residença, não dou, não dou Com pressa vou, não dou, não dou O título surgiu depois de uma campanha feita pelo chefe da polícia da época contra o jogo, pois na época se falava que havia até uma roleta dentro da redação do “A noite”, no Largo da Carioca. A discriminação era clara e objetiva, como no episódio ocorrido com João da Baiana: "Senhor, recebemos a denúncia de que aqui se canta samba".Essa frase foi dita por um policial nos primeiros anos do século XX. Esta perseguição aos primeiros sambistas foi herança da discriminação contra os negros, libertados da escravidão poucos anos antes. E a história das escolas de samba começa assim, através de perseguição e marginalização que o samba cresceu na chamada "Pequena África", apelido dado por Heitor dos Prazeres à região localizada entre os bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo e a Pedra do Sal. Esta região abrigava terreiros de candomblé, onde depois dos cultos eram formadas rodas de samba. A região da Praça Onze também era marcada por reuniões de músicos como Donga e Pixinguinha, lá ficava a casa de Tia Ciata, considerada uma das “tias” do http://www.vagalume.com.br/donga/pelo-telefone.html#ixzz2lVS2UmM1 27 samba, vinda da Bahia, fazia reuniões na sua casa onde Donga, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres e outros sambistas participavam. A ERA VARGAS Com o Golpe de Estado de Getúlio Vargas e início de seu governo, o Carnaval do Brasil começa a ganhar um novo formato.O então presidente decidiu criar algumas “regras carnavalescas”, instituiu-se que todos os sambas-enredos teriam letras em homenagem à história do Brasil. Em sua política do carnaval, Vargas institucionaliza os desfiles das escolas de samba, deixando-lhes a salvo da repressão, alvo de benefícios do Estado e regulamenta detalhadamente tudo o que tem a ver com a festa carnavalesca, dos quesitos do samba aos banhos de mar à fantasia. Lamartine Babo, compositor carioca de marchinhas irreverentes e satíricas, foi censurado pelo Estado Novo juntamente com outros compositores. É possível perceber o tom de deboche de Lamartine na letra da marchinha “Parei Contigo”, onde ele dizia: “Tu és o tipo do sujeito indefinido, carcomido que só quer tirar partido Meu Deus, mas é isto que se chama ser amigo? Parei contigo! Parei contigo! Nas eleições foi o diabo pois tu eras o meu cabo e votaste no inimigo (…) Já vou-me embora, cruz! Vou disparando Se não tu furtas a canção que eu estou cantando”. 28 Apesar da censura das marchinhas, Getúlio utilizava-as para seu benefício também. Mas, nenhuma marchinha ou letra a favor Getúlio simbolizam tanto a influência político-ideológico nas composições da época como o samba-enredo da escola de samba Deixa Falar, conhecida como a primeira do Brasil. Além de desfilarem, no ano de 1929, utilizandocavalos da Polícia Militar do Rio de Janeiro em sua comissão de frente, seu título de samba-enredo era nada menos que “A Primavera e a Revolução de Outubro”, uma homenagem à tomada do poder getulista em 1930. Esta postura de Vargas ocorreu por influência de costumes e governos fascistas e, por conta disto, a festa se aproximou de um desfile patriótico, com regras, jurados e horários marcados. 7. Os primeiros concursos e os primeiros desfiles das escolas de samba. Os Bailes do Teatro Municipal. A contribuição do teatro de revista e da era do rádio para o carnaval. OS PRIMEIROS CONCURSOS E OS PRIMEIROS DESFILES Em 1929 ocorreu a considerada primeira disputa de samba organizada por Zé Espinguela (jornalista, escritor e sambista), no Engenho de Dentro, onde se reuniram integrantes da Portela (então Conjunto Carnavalesco Oswaldo Cruz), da Mangueira e da Deixa Falar. O samba vencedor foi o da Portela (Zé Espinguela era o único jurado). O primeiro desfile oficial das escolas de samba foi realizado no dia 07 de fevereiro 1932, o palco foi a Praça Onze, considerada até os dias atuais como berço do samba, situado na “Pequena África”, lugar onde tudo começou. Por ali passaram (e passam até hoje) os sambistas que construíram essa história, em décadas e décadas de uma história que transformou nossa manifestação cultural no maior espetáculo da Terra. Foi escolhido este dia, pois, as escolas de samba ainda não tinham a importância de ranchos, cordões e grandes sociedades, as manifestações carnavalescas predominantes da época. A disputa foi organizada pelo jornal “O Mundo Sportivo”, naquela época os jornais promoviam as disputas carnavalescas dos diversos grupos carnavalescos buscando, além da premiação e divulgação do evento, estimular que os grupos se organizassem cada vez mais. Neste primeiro concurso, 19 escolas competiram entre si. 29 Para o concurso existiam pré-requisitos para entrar no concurso como ter mais de 100 participantes em suas fileiras, ter samba inédito, não utilizar instrumentos de sopro, e ter ala de baianas entre outros requisitos. O vencedor do primeiro concurso foi a Estação Primeira de Mangueira, ficando em segundo lugar a Portela, que na época chamava-se Osvaldo Cruz. Em 1933, com o fim do jornal ”O Mundo Sportivo” teve uma grande disputa entre a imprensa da época e, o jornal “O Globo” ganhou a disputa, e entrou para história como organizadora do segundo desfile das escolas de samba, que aconteceu no dia 26 de fevereiro. Em 1934 o prefeito Pedro Ernesto oficializa as escolas de samba como pertencentes ao carnaval carioca e reconhece a União das Escolas de Samba como representante das mesmas, em 1935 o desfile das escolas de samba passa a ter o apoio da prefeitura. OS BAILES DO TEATRO MUNICIPAL Com tantas manifestações populares ocorrendo pelas ruas da cidade, acontece em 1932 pela primeira vez o chamado Baile do Municipal, realizado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Este baile ocorreu através da parceria do poder público com a elite da, então, capital brasileira, indicando que a classe dominante também possuía uma diversão pertencente à festa carnavalesca, mostrando que a mesma não pertencia somente ao povo. Em 1936 surgem os concursos de fantasias do Baile do Municipal, que era o ápice do baile, o Teatro lotava e os trajes eram a rigor para os homens, que usavam black-tie e as mulheres usavam fantasias ostentosas. As pessoas desfilavam não somente pelo prêmio em dinheiro, mas, também pela possibilidade da fama e a oportunidade de aparecer na mídia. Artistas como Roberto Burle Marx, Arlindo Rodrigues (o carnavalesco) e Nilton Sá eram responsáveis pela decoração do Teatro. Clóvis Bornay, Zacharias do Rego Monteiro (conhecido pelas suas fantasias de Pierrô), Paulo Varelli, Evandro de Castro Lima, Marlene Paiva e Wilza Carla ficaram conhecidos e comentados, importante destacar que Clóvis Bornay ganhou tantos concursos que passou a ser considerado Hours Concours. No concurso de 1964, Isabel Valença ganhou com a fantasia “Rainha Rita de Vila Rica” que havia desfilado no dia anterior no GRES Acadêmicos do Salgueiro, este fato marcou o contato entre a sofisticação dos bailes com os populares desfiles de rua. 30 O Baile do Municipal ocorreu até o ano de 1975, quando este era o baile mais disputado pela alta sociedade e famosos. Atualmente, não se tem notícias de muitos bailes, ainda existem alguns em sedes sociais de clubes, caros como o do Hotel Copacabana Palace e o Scala Rio. Alguns bailes populares também têm sido organizados pela Prefeitura do Rio, como na Cinelândia. Entretanto, desde 2011 a grande novidade fica por conta dos bailes da zona portuária sob o apoio da Prefeitura. A CONTRIBUIÇÃO DO TEATRO DE REVISTA E DA ERA DO RÁDIO PARA O CARNAVAL As revistas teatrais foi um dos espaços que colaborou para divulgação da música popular na virada para o século XX, pode-se dizer sem exagero, que a revista foi uma das vias em que caminharam as nossas formas de divertimento, a música, a dança, o carnaval, integrados com os gostos e os costumes de toda uma sociedade. Esses espetáculos surgiram no final do século XIX e eram o grande sucesso dos teatros da capital federal, com textos em versos que buscavam agradar a todos os segmentos da sociedade, por isso, abrangia a presença da opereta, da comédia musicada, das representações folclóricas, sempre contendo a crítica de costumes. Havia uma preocupação com o visual no teatro de revista, pois, era considerado importante manter um ambiente alegre e descontraído, mesmo que no último momento revelasse a hipocrisia da sociedade. No entanto, após a crise causada pela Primeira Guerra Mundial, a maioria das casas teatrais foram obrigadas a encerrar suas atividades e com isso, os artistas estrangeiros deixaram de vir ao nosso país, abrindo espaço para os artistas nacionais, surgindo as estrelas nacionais. Desta maneira, as revistas se modificam e dão mais espaço à música popular e aos personagens brasileiros como a mulata e o malandro, mas, apesar do sucesso, as revistas não atingiam o grande público. Outro espaço que colaborou para difusão da música popular, principalmente as marchinhas e o samba foi o rádio. A primeira emissora brasileira de rádio foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro inaugurada em 1923, um ano depois surge a Rádio Clube do Brasil, porém, inicialmente ambas só ofereciam programas voltados para cultura elitista, a cultura popular ficava totalmente esquecida. 31 Na década de 30 a rádio vira mania nacional e se torna um grande veículo de divulgação das músicas carnavalescas atingindo um enorme público que queria sempre novidades. Desta forma, o samba e as marchinhas passam a ser conhecidas e fazer parte das festas nas ruas e nos salões. Compositores como Lamartine Babo e Braguinha passam a fazer parte do cenário da música nacional junto com artistas da cultura elitista e compõem obras especialmente para o carnaval. Atualmente não percebemos esta grande difusão das músicas carnavalescas nas rádios, algumas emissoras possuem programas específicos falando sobre samba e carnaval (Roquette Pinto, Tupi e Rádio Globo), mas, geralmente são programas de madrugada e pouco divulgados. 8. A transformação do palco do espetáculo: da Praça XI à Passarela do Samba Como já é de nosso conhecimento, a Praça XI é conhecida como o “berço do samba”, reduto dos sambistas desde as mais longínquas épocas. Foi lá que ocorreu o primeiro desfile oficial das escolas de samba carioca. Com as obras para a criação da Av. Presidente Vargas, em 1945 o desfile ocorreu no campo do Vasco da Gama, em 1946 no obelisco do final da Av. Rio Branco. No ano de 1947 após a inauguração da Avenida Presidente Vargas os desfiles, que a esta altura já tinha aumentado de tamanho e importância, foram transferidos paralá e permanecem até o ano de 1956. Em 1957 o desfile é transferido para a tão sonhada Av. Rio Branco, que por muitos anos foi palco apenas dos grupos carnavalescos mais elitizados, permanecendo por lá até 1962, esta transferência ocorreu devido à quantidade de público que se interessava pela apresentação das escolas de samba. De 1963 até 1973 as escolas de samba desfilaram na Candelária Nos anos de 1974 e 1975 uma nova obra faz com que os desfiles das escolas de samba fossem transferidas, as instalações do metrô, então, as escolas foram desfilar na Av. Presidente Antônio Carlos. Em 1976 as escolas se apresentaram no Mangue (próximo à Avenida Presidente Vargas). No ano seguinte, em 1977, desfilaram na Avenida Presidente Vargas, sentido Campo de Santana Rua Machado Coelho. 32 A partir de 1978 as escolas se mudam para um local definitivo, Av. Marquês de Sapucaí, ainda com arquibancadas desmontáveis, mas, pelo menos conseguiram um local fixo. O então governador Leonel Brizola não queria mais este monta e desmonta de arquibancadas (que além de dispendioso era desgastante) e, solicita um projeto de uma passarela fixa, nascendo a conhecida Passarela do Samba Darcy Ribeiro, mais conhecida como Sambódromo inaugurada em 1984. O nome veio em homenagem àquele com o qual ele montou o projeto que incluía a transformação das salas posicionadas embaixo das arquibancadas fixas (hoje os camarotes) em salas de aula no 1997). Em 1934 algumas escolas de samba se reuniram para fundar a União das Escolas de Samba, em 1947 é fundada a Federação das Escolas de Samba e ficam duas instituições responsáveis pela organização das escolas de samba, em 1952 ocorre a fusão das duas instituições surgindo a Associação das Escolas de Samba. Após o primeiro carnaval na nova Marquês de Sapucaí, em julho é fundada a LIESA – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio com a responsabilidade de organizar os desfiles das escolas de samba. Atualmente existem quatro entidades que administram as escolas de samba carioca: - LIESA – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, responsável pela parte artística e organizacional do desfile das escolas de samba do grupo especial carioca (a parte estrutural é de responsabilidade da RIOTUR). - LIERJ – Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, responsável pela parte artística e organizacional do desfile das escolas de samba da Série A. - AESCRJ – Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro, responsável pela organização dos desfiles das escolas de samba dos grupos de acesso B, C e D do Rio de Janeiro. 9. A era de ouro dos desfiles: a influência do jogo do bicho As informações sobre o início da influência do jogo do bicho em algumas agremiações não são tão vastas, porém, encontramos algumas informações acerca do início desta interação no livro Carnaval carioca: Dos bastidores ao desfile de Maria Laura Cavalcanti e, de acordo com Luiz Antônio Machado da Silva, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e coautor, junto com 33 Fillipina Chinelli, do estudo “O vazio da ordem: relações políticas e organizacionais entre as escolas de samba e o jogo do bicho”, houve uma relação mutuamente vantajosa entre as escolas de samba e o jogo do bicho. Em entrevista à Revista História, Luiz Antônio diz não sabe precisar bem a data em que iniciou a interação do jogo do bicho com as escolas de samba, mas, diz que muitos bicheiros gostavam de samba. Explica que havia uma espécie de proximidade cultural entre o samba e o bicho, que ambos eram perfeitamente legítimos em termos morais, pelo menos para os segmentos populares. Com o tempo, essas manifestações culturais passaram a se apresentar cada vez mais em termos capitalistas, como empresas; este processo se desenrolou mais ou menos na mesma medida em que se reduziu a perseguição a ambas. Uma data precisa talvez não tenha, mas, se pensarmos em Natal da Portela, pode-se alegar que esta relação iniciou bem antes do que imaginamos, entre a década de 30 e 40. Os bicheiros começaram a investir nas escolas de samba porque havia vantagens econômicas e políticas em manterem uma atividade que não era “totalmente clandestina” como o jogo do bicho, especialmente quando ela, mesmo sendo juridicamente ilícita, é moralmente aceita. Se envolvendo com as escolas de samba, os banqueiros do bicho (ou seja, os donos das bancas) ganhavam o que precisavam para desenvolver seus negócios com pouca repressão e com capacidade de negociação política, além de manter uma boa relação com a comunidade. O jogo do bicho se aproveitou do prestígio das escolas de samba, pois, se não fosse desta forma, os banqueiros do bicho seriam mais econômicos em seus investimentos. Mas, as escolas de samba também tiraram vantagens, pois, as mesmas usaram o jogo do bicho para crescer e se aproximar do Estado e das camadas sociais mais abastadas. O processo de universalização da aceitação política, moral e cultural do bicho e do samba, que acompanha o desenvolvimento do populismo, implicou uma relação de mão dupla, privilegiando ambas as partes. Os bicheiros também aproveitavam para aparecer no jornal na parte social e não nas páginas policiais. Atualmente ainda encontramos agremiações ligadas aos banqueiros do bicho, mas, o jogo do bicho está muito esvaziado, hoje existem outras modalidades de jogos legais e ilegais que também oferecem inúmeras vantagens. 34 Além disso, as escolas de samba do Rio de Janeiro movimentam cerca de bilhões por ano somente em gastos de turistas e por isso, conseguiu angariar vários elementos positivos do mundo dos negócios, como os patrocínios e o merchandising de empresas que tenham o desejo de associar suas marcas ao carnaval. 10. Super Escolas de Samba S.A. O maior espetáculo a terra: bem cultural ou mercadoria? A estrutura da escola de samba, os quesitos e a evolução dos quesitos. Quando comparamos as escolas de samba em sua fase inicial com as escolas de samba da atualidade, obviamente nos deparamos com muitas diferenças em todos os setores, a diferença no ritmo da bateria, na coreografia da comissão de frente, na evolução das alas, no bailado do casal de mestre-sala e porta-bandeira, nas fantasias, alegorias, no “samba no pé” dos passistas dentre outras modificações. É importante citar que quando as escolas de samba surgiram elas possuíam características marcantes referentes ao costume daquela comunidade, os hábitos cotidianos se inseriam nas práticas e no desenvolvimento daquela escola, refletindo nos seus símbolos e gerando uma identidade para cada uma como por exemplo: a maneira de sambar dos passistas, as batidas da bateria, o estilo das fantasias, características nas letras do samba enredo, entre outros. As bandeiras das escolas de samba possuem estes símbolos e costumes impregnados nos seus pavilhões, por isto, o casal de mestre-sala e porta-bandeira precisa ser majestoso, educado, elegante e gentil, pois, é responsável por conduzir o pavilhão da escola de samba, ele representa a comunidade, por isto, sua conduta precisa condizer com sua função. Muitas escolas ainda mantêm algumas destas tradições, principalmente nas baterias, mas, alguns hábitos se perderam. Interessante que em 1982 o samba do Império Serrano já retratava claramente este processo de profissionalização, comercialização e transformação das escolas de samba. 35 ENREDO: Bumbum, Paticumbum Prugurundum IMPÉRIO SERRANO - 1982 Compositores: Aluísio Machado e Beto sem Braço Bumbum paticumbumprugurundum, o nosso samba minha gente é isso aí, é isso aí. Bumbum paticumbumprugurundum, Contagiando a Marquês de Sapucaí (Eu enfeitei) En-fei-tei meu coração (enfeitei meu coração) de confete e serpentina Minha mente se fez menina, num mundo de recordação Abracei
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