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Livro de Revisão 2 Literatura Vanessa de Paula Hey ©Editora Positivo Ltda., 2017 Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora. Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil) H615 Hey, Vanessa de Paula. Literatura : livro de revisão / Vanessa de Paula Hey . – Curitiba : Positivo, 2017. v. 2 : il. ISBN 978-85-467-1703-3 (aluno) ISBN 978-85-467-1692-0 (professor) 1. Ensino médio. 2. Literatura – Estudo e ensino. I. Título. CDD 373.33 Livro do ProfessorLivro do Professor Ensino Médio 1. Romantismo 1.1 Contexto histórico O Romantismo surgiu no fim do século XVIII e defendia valores e estética que se contrapunham aos do período anterior – Neoclássico. Os principais acontecimentos históricos dessa época são: Revolução Francesa, que derrubou o Antigo Regime e ins- taurou um Estado democrático que procurava representar todos os cidadãos e assegurar seus direitos; e Revolução Indus- trial, que promoveu uma verdadeira transformação não apenas na maneira como os produtos passaram a ser produzidos, mas também no modo como eram comercializados e bem como nas relações entre patrões e empregados. Características fundamentais do Romantismo O movimento romântico tinha uma visão de mundo centrada no indivíduo e algumas de suas principais características são: • Liberdade de criação – valorização de formas mais livres em relação às formas fixas dos modelos clássicos; utiliza- ção de versos brancos (versos não rimados) e de uma linguagem mais próxima à coloquial. • Subjetividade – a arte romântica valoriza a emoção e a imaginação, enfatizando o indivíduo, o “eu”. • Sentimentalismo – supervalorização dos sentimentos (o artista romântico se expressa de maneira sentimental). • Religiosidade – de natureza sentimental e intuitiva, a expressão da religiosidade, grande parte das vezes, se dá sem a mediação do sacerdote (sem o formalismo dos ritos). 1.2 Romantismo em Portugal Em Portugal, a ascensão da burguesia e a Revolução Industrial ocorreram com atraso, em relação a outros países europeus. Devido a isso, o início do Romantismo em Portugal se deu em 1825 com a publicação do poema “Camões”, de Almeida Garrett, obra escrita no período em que Portugal se encontrava sob domínio inglês e passava por graves proble- mas políticos. GERAÇÕES DO ROMANTISMO PORTUGUÊS Primeira geração do Romantismo português (1825-1840) Introduziu a estética romântica no país e aderiu às ideias iluministas de igualdade, liberdade e fraternidade. Principais características: nacionalismo, personagens do passado histórico representados como heróis da nação, historicismo, narrativas ficcionais do tempo do surgimento de Portugal. Principais representantes: Almeida Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877). Segunda geração do Romantismo português (1840-1860) Apresentou duas tendências distintas: uma explorando as relações entre literatura e história, resgatando as origens medievais de Portugal; outra de caráter ultrarromântico. Principais características: excesso de sentimentalismo e subjetivismo, mal do século, escapismo, irracionalismo, pessimismo e fantasia. Principal representante: Camilo Castelo Branco (1825-1890). Terceira geração do Romantismo português (1860) Anunciou as últimas obras do Romantismo e a passagem para estética realista. Principais características: valorização de um trabalho mais apurado com a linguagem; retomada de formas mais clássicas da linguagem literária. Principais representantes: João de Deus (1830-1896) e Júlio Dinis (1839-1871). 2 Livro de Revisão 2 1.3 Romantismo no Brasil A proclamação da Independência política brasileira em relação a Portugal, em 1822, criou um grande desejo de inde- pendência cultural. Os anseios de liberdade, sufocados pelo fracasso da Inconfidência Mineira (33 anos antes), brotam de maneira enérgica e vão se expressar por meio de um nacionalismo mais radical. Desenvolve-se um forte sentimento ufanista (orgulho patriótico), com a valorização das origens, do folclore e das lendas do país. Esse sentimento se manifesta ainda pelo culto à natureza e pelo indianismo. Poesia romântica A diversidade de tendências, de maneiras de se expressar e de temas permite que a poesia romântica seja dividida, didaticamente, em três gerações: • Primeira geração (1836-1850) – Predomínio do nacionalismo e do patriotismo – exaltação e idealização dos elementos tipicamente nacionais (índios, natureza, passado histórico, etc.). – Indianismo – o indígena, representante genuinamente brasileiro, foi promovido à categoria de herói nacional (modelo equivalente ao cavaleiro medieval europeu: valoroso, nobre, cortês, defensor e servidor da mulher amada). – Exaltação da natureza – destaque para as belezas naturais do país, idealizadas por sua exuberância, grandiosi- dade e exotismo, são motivo de orgulho, fonte de inspiração, refúgio, e, por vezes, expressão da força divina. – Forte religiosidade – identificação com o sentimento cristão, em oposição ao “paganismo” neoclássico; ligada à tradição greco-latina. – Poesia amorosa, idealizante e sentimental – influência da lírica medieval portuguesa. Principais representantes Gonçalves de Magalhães (1811-1882) – iniciou o Romantismo no Brasil (Suspiros poéticos e saudades). Autor de importância mais histórica que artística. Principal obra: A confederação dos tamoios. Gonçalves Dias (1823-1864) – representou de maneira idealizada o índio, a natureza e a mulher amada. Principais obras: Primeiros cantos, Segundo cantos, Últimos cantos e Os timbiras. • Segunda geração (1850-1860) Também conhecida como ultrarromântica ou byroniana é marcada por uma acentuadíssima subjetividade melancó- lica e pessimista. Entre as características marcantes dessa geração estão: – Extremo subjetivismo centrado na temática emotiva de amor e morte, que, por vezes, revela um verdadeiro egocentrismo. – Atitude escapista – fuga da realidade por meio da idealização da infância, da pessoa amada e exaltação da morte. – Impossibilidade de concretização das paixões amorosas – os poetas cantam amores impossíveis, seja pela morte da amada, seja pela rejeição dela ou seja por que os poetas a idealizam a ponto de considerá-las inacessíveis. – Spleen – tédio e insatisfação constante. 3Literatura Principais representantes Álvares de Azevedo (1831-1852) – seus poemas falam de morte e amor idealizado e são marcados pela ironia, frus- tração, sofrimento e dor. Principais obras: Lira dos vinte anos, Noite na taverna. Junqueira Freire (1832-1855) – os temas abordados em sua obra são: a vida religiosa em contraste com a vida mun- dana, obsessão pela morte e paixão exacerbada. Principais obras: Inspirações do claustro e Contradições poéticas. Casimiro de Abreu (1839-1860) – os temas recorrentes em sua poesia são: saudades da infância e da terra natal; religiosidade; tristeza e melancolia causadas pela proximidade da morte; exaltação da natureza e medo de amar. Principal obra: As primaveras. Fagundes Varela (1841-1875) – poeta que marcou a transição da segunda para a terceira geração romântica brasileira. Suas obras abrangem todos os principais temas das gerações românticas. Principal obra: Cântico do calvário. • Terceira geração (1860-1880) Conhecida também como Condoreirismo (termo que faz alusão ao condor, ave símbolo da liberdade e da grandio- sidade), a terceira geração romântica deixou de lado a preocupação exclusiva com o mundo interior e passou a prestar atenção aos problemas humanos e universais do mundo exterior. Entre suas características estão: – Produção de uma poesia mais social e política. – Concepção menos platônica do amor – surgem manifestações mais eróticas e sensuais e a mulher passa ser um elemento atingível. Principal representante Castro Alves (1847-1871) – poeta dos escravos e dos amores; produziu versos repletos de hipérboles, alusões a fenômenosvisuais e utilizou-se de contrastes e outros recursos retóricos; cantou a causa abolicionista e versou sobre o amor, tratando-o, diferentemente das gerações anteriores, de maneira palpável e sensual. Principais obras: Espumas flutuantes, O navio negreiro, Os escravos e Tragédias no mar. Prosa romântica A ficção romântica teve grande aceitação por parte do público leitor, e entre os fatores que contribuíram para o seu sucesso estão: – Urbanização do Rio de Janeiro – com a chegada da Família Real Portuguesa, a cidade foi transformada em Corte e apresentava um público leitor formado por aristocratas rurais, profissionais liberais, jovens estudantes e moças de “boa família”). – Ascensão do jornalismo e publicação dos romances sob a forma de folhetim – partes dos romances eram publicadas periodicamente nos jornais. – Sentimento nacionalista que fez com a literatura se voltasse para assuntos relacionados ao Brasil (em oposição aos romances europeus). Entre os primeiros romances românticos publicados no Brasil estão O filho do pescador (1843), de Teixeira e Sousa; A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo; e Memórias de um sargento de milícias (entre 1852 e 1853), de Manuel Antônio de Almeida. 4 Livro de Revisão 2 Algumas das características presentes nos romances românticos nacionais são: caráter maniqueísta (disputa entre o bem e o mal); literatura exercendo papel moralizante (influenciando o comportamento de época); idealização dos senti- mentos e das situações vivenciadas pelos personagens; valorização do passado histórico e pesquisa das raízes nacionais; destaque para a cor local (costumes, lendas e paisagem); e o objetivo de servir como entretenimento. O romance romântico pode ser dividido da seguinte maneira: – urbanos ou de costumes (retrato da vida na Corte carioca); – regionalistas (retrata-se a vida no campo); – indianistas (o indígena, suas terras e costumes são os protagonistas dessas histórias); – históricos (a ação é ambientada no passado, misturam-se fatos históricos e ficcionais e a história é contada de forma idealizada). Principais representantes José de Alencar (1829-1877) – grande nome do romance romântico brasileiro; consolidador do gênero, procu- rou valorizar a nação por meio de seus romances; traçou um amplo painel que permitiu uma visão panorâmica da terra, do povo, da história e da cultura nacional; com um estilo poético, criou símbolos marcantes para nossa cultura (Iracema, o sertanejo, Peri), analisou e criticou certos comportamentos (casamento por interesse, prostituição) e ampliou os limites da língua portuguesa, criando uma língua literária do Brasil. – Romances urbanos – formação e amadurecimento da sociedade urbana, em especial a carioca, sobretudo por meio dos perfis femininos criados pelo autor. Entre eles: Senhora, Diva e A pata da gazela. – Romances sertanistas ou regionalistas – retrato da vida simples do interior e de sua cor local, tradições e costu- mes. São eles: O tronco do ipê, O sertanejo, O gaúcho e Til. – Romances históricos – pintura idealizada do passado, busca de uma identidade nacional, retrato da mistura da cultura europeia com a natureza e terras do continente americano. São eles: As minas de prata, O guarani e A Guerra dos Mascates. – Romances indianistas ou primitivistas – recontam-se lendas e mitos das terras ainda não habitadas pelos por- tugueses, tradição e costumes dos índios, e os primeiros contatos com o branco colonizador. São eles: Iracema, O guarani e Ubirajara. Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) – conquistou popularidade com a publicação de seu primeiro romance, A Moreninha. Porém, seus romances seguintes repetiam uma fórmula semelhante à do seu primeiro sucesso, sem evolu- ção de estilo. Com uma linguagem simples, retratou costumes e tradições da sociedade carioca. Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) – considerado uma exceção entre os românticos, publicou um único romance, Memórias de um sargento de milícias, em que mostrou não estar preocupado com o estilo de época vigente. Pois, apre- sentou em sua obra a figura de Leonardinho (anti-herói, malandro com vícios e virtudes). Bernardo Guimarães (1825-1884) – popular pela consolidação do romance regionalista, descreveu em suas obras as paisagens e costumes das regiões de Minas Gerais e Goiás. Seus dois romances mais representativos foram: A escrava Isaura (final feliz), e O seminarista (final trágico). Visconde de Taunay (1843-1899) – trabalhou com o romance regionalista, e entre suas obras destacam-se: Inocência (trágico triângulo amoroso entre Inocência, Manecão e Cirino) e A retirada da Laguna, que conta o fracasso brasileiro na Guerra do Paraguai. Franklin Távora (1842-1888) – escritor regionalista nordestino, defensor da “literatura do Norte”. Principal obra: O Cabeleira. 5Literatura 1. (UNIFOR – CE) O estilo acadêmico e rígido do Neoclassicismo começa a declinar e vem uma reação às regras e modelos clássicos greco-romanos. Há necessidade de expressão, de emoção, de paixão. O equilíbrio e a simplicidade deixam de ser os objetivos do artista. Ele quer demonstrar outros interesses, quer buscar as raízes da nacionalidade, quer enaltecer a natureza tropical, quer voltar ao passado histórico, quer abandonar os mitos gregos e aprofundar sua própria religiosidade, quer viver o amor imensamente. GARCEZ, Lucília; OLIVEIRA, Jô. Explicando a arte brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004, p. 80. O texto aponta um estilo na literatura denominado: a) Realismo. b) Naturalismo. X c) Romantismo. d) Barroco. e) Modernismo. 2. (UPE) O Romantismo, materializado no Brasil, subdivide- -se em três gerações; caracteriza-se por pressupostos e princípios que não devem ser confundidos com os pressupostos e os princípios que fundamentam outras escolas literárias. Considerando o que se afirma, assinale a alternativa correta. X a) Na opinião de alguns críticos, Gonçalves de Magalhães não possui a liberdade intrínseca ao Romantismo, embora seja considerado o introdutor do Romantismo no Brasil (1836). Alcântara Machado teria dito que Gonçalves de Magalhães é um “Romântico Arrependido”. Teatro romântico Muitos autores românticos também escreveram peças teatrais. Era, para a época, uma forma rápida de se tornar conhe- cido e de conseguir leitores para as suas obras. Durante o Romantismo o drama se tornou popular, misturando elementos da tragédia com os da comédia clássica. O grande nome do teatro romântico foi Martins Pena (1815-1848), autor que ganhou reconhecimento por escrever comédias de costumes (satirizava os costumes da sociedade brasileira do século XIX). Principais obras: O juiz de paz na roça, O noviço, Judas em sábado de aleluia, Os três médicos, Quem casa quer casa, O inglês maquinista. Algumas de suas peças, por abordarem questões relevantes para a sociedade atual, ainda são encenadas. b) Assim como Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias foi um escritor sem muita expressividade. Seus textos, de modo geral, não conseguem traduzir a esté- tica romântica, visto que recebem muita influência de autores meramente comerciais. c) A segunda geração do Romantismo no Brasil, assim como a primeira geração, baseou suas obras no pen- samento de Byron e no de Musset. Foi uma geração que cultivou as camadas mais extremas da subjetivi- dade e deflagrou a criação de textos que evocavam o amor e a dor como caminhos possíveis para a morte. d) Os romances românticos brasileiros foram escritos sob a regência de ideias conservadoras. É comum encontrarmos em textos de José de Alencar expres- sões que exortam o escravismo e a natureza estran- geira, a opressão de ideias libertárias e a crítica ao que é nacional. e) Castro Alves assim como Joaquim Manoel de Macedo tinham como seus leitores mais assíduos grupos de pessoas acima de sessenta anos e que possuíam vin- culações fortes com ideias retrógradas da época, as quais se aproximavam do feudalismo medievo. 3. (ITA – SP) O texto reproduzalguns trechos do poema “Leito de folhas verdes”, do escritor romântico Gonçalves Dias, que consta do livro Últimos cantos (1851). Nesse longo poema, o poeta dá voz a uma índia que dirige um apelo emocionado e sensual ao seu amado, o índio Jatir, e que permanece na expectativa da chegada do homem amado para um encontro sexual. Ao final, o encontro erótico-amo- roso acaba não se concretizando, pois Jatir não chega ao local em que a índia o aguarda. Por que tardas, Jatir, que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração, movendo as folhas, 6 Livro de Revisão 2 Já nos cimos do bosque rumoreja. [...] Sejam vales ou montes, lago ou terra, Onde quer que tu vás, ou dia ou noite, Vai seguindo após ti meu pensamento: Outro amor nunca tive: és meu, sou tua! [...] Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes À voz do meu amor, que em vão te chama! [...] Sobre esse poema é incorreto afirmar que: X a) Há no poema a presença explícita da natureza como cenário perfeito para a realização do ato amoroso, o que costuma ser uma marca da poesia romântica. b) A emoção do sujeito lírico feminino é notória pelo tom com que a índia apela ao amado para que ele venha ao seu encontro; daí a presença dos pontos de excla- mação no poema. c) A emoção do sujeito lírico feminino deriva do amor da índia por Jatir, amor que é sentimental e erótico (amor da alma e amor do corpo). d) O texto é uma versão romântica das cantigas de amigo medievais, nas quais o trovador reproduzia a fala feminina que manifestava o desejo de encontro com o seu “amigo” (amado). e) Não se trata de um poema romântico típico, pois o amor romântico é sempre pautado pelo sentimento platônico e pelo ideal do amor irrealizável no plano corpóreo. 4. (UCS – RS) José de Alencar, um dos mais importantes ficcionistas brasileiros do século XIX, escreveu romances históricos, regionais, urbanos e indianistas. Leia o frag- mento do romance O guarani, de José de Alencar. Caía a tarde. No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça se embalançava indolentemente numa rede de palha presa aos ramos de uma acácia silvestre [...]. Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam languidamente como para se embeberem de luz [...]. Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor da gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da noite [...]. Os longos cabelos louros, enrolados negligentemente em ricas tranças, descobriam a fronte alva, e caíam em volta do pescoço presos por uma rendinha finíssima de fios de palha cor de ouro. [...] Esta moça era Cecília. (ALENCAR, José de. O guarani. 25. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 32.) Em relação à obra O guarani, ou ao fragmento acima descrito, assinale a alternativa correta. a) Neste trecho, a descrição de Cecília revela um ideal de beleza típico da sociedade do Brasil colonial. b) A visão de mundo realista está posta no retrato harmonioso entre a beleza da jovem e a beleza da natureza brasileira. c) No romance, um dos triângulos amorosos é formado por Cecília, Loredano e Isabel. d) No fragmento, a languidez dos olhos de Cecília sugere um certo erotismo, desvinculando a obra do movi- mento romântico. X e) Na obra, além da idealização da mulher, há elementos da idealização do índio, personificado na figura de Peri. 5. (UERJ) Iracema (1881), de José Maria de Medeiros. www.itaucultural.org.br O romance Iracema, de José de Alencar, publicado em 1865, influenciou artistas, como José Maria de Medeiros, que nele encontraram inspiração para representar ima- gens do Brasil e do povo brasileiro no período imperial (1822-1889). Na construção da identidade nacional durante o Império do Brasil, identifica-se a valorização dos seguintes aspectos: a) clima ameno / índole guerreira dos ameríndios b) grandeza territorial / integração racial das etnias c) extensão litorânea / sincretismo religioso do povo X d) natureza tropical / herança cultural dos grupos nativos 7Literatura 6. (ITA – SP) Acerca da protagonista do romance Iracema, de José de Alencar, pode-se dizer que I. é uma heroína romântica, tanto por sua proximidade com a natureza, quanto por agir em nome do amor, a ponto de romper com a sua própria tribo e se entregar a Martim. II. é uma personagem integrada à natureza, mas que se corrompe moralmente depois que se apaixona por um homem branco civilizado e se entrega a ele. III. possui grande beleza física, descrita com elementos da natureza, o que faz da personagem uma represen- tação do Brasil pré-colonizado. Está(ão) correta(s) a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas II e III. X e) todas. 7. (UFGD – MS) — Quem é esta senhora? – Perguntei a Sá. A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais. — Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la?... Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão devia-me ter feito suspeitar a verdade. Depois de algumas voltas descobrimos ao longe a ondulação do seu vestido, e fomos encontrá-la, retirada a um canto, distribuindo algumas pequenas moedas de prata à multidão de pobres que a cercava. Voltou-se confusa ouvindo Sá pronunciar o seu nome: — Lúcia! — Não há modos de livrar-se uma pessoa desta gente! São de uma impertinência! disse ela mostrando os pobres e esquivando-se aos seus agradecimentos. Feita a apresentação no tom desdenhoso e altivo com que um moço distinto se dirige a essas sultanas do ouro, e trocadas algumas palavras triviais, meu amigo perguntou-lhe: — Vieste só? — Em corpo e alma. — E não tens companhia para a volta? Ela fez um gesto negativo. — Neste caso ofereço-te a minha, ou antes a nossa. — Em qualquer outra ocasião aceitaria com muito prazer; hoje não posso. — Já vejo que não foste franca! — Não acredita?... Se eu viesse por passeio! — E qual é o outro motivo que te pode trazer à festa da Glória? — A senhora veio talvez por devoção? disse eu. — A Lúcia devota!.. . Bem se vê que a não conheces. — Um dia no ano não é muito, respondeu ela sorrindo ALENCAR, José de. Lucíola. 12ª ed., São Paulo: Ática, 1988, capítulo II O fragmento, retirado do início do romance Lucíola, de José de Alencar, representa o momento em que Paulo é apresentado a Lúcia. Com base na leitura da obra, é possível afirmar que: a) a narrativa rompe com o ideal de mulher do século XIX, sugerindo que até mesmo uma prostituta pode se sentir amada e realizada. b) a obra estabelece um confronto com o Romantismo. Em Lucíola, José de Alencar recusa a ideia do amor pla- tônico e permite que Paulo e Lúcia vivam intensamente seu relacionamento, até a morte da protagonista. c) o livro tece uma crítica à hipocrisia social. Lucíola é fruto de uma sociedade desigual, capaz de provocar a transformação de Maria da Glória em Lúcia. O auge dessa crítica está na morte da protagonista. d) o romance é fortemente marcado por traços realistas, que fazem de José de Alencar um dos precursores do realismo brasileiro. X e) o romance urbano não se limita a descrever apenas o amor entre Paulo e a prostituta Lúcia. A narrativa é uma forte crítica à sociedade de sua época, movida pelo poder econômico e pelo status social. A persona- gem Couto, nesse sentido, exemplifica a crítica. 8 Livro de Revisão 2 8. (UCS – RS) Castro Alves, poeta baiano, procurou enfa- tizar em suas obras as temáticas sociais, dando aten- ção especial à causa abolicionista. Leia o fragmento do poema “Navio Negreiro”. Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus... Ó mar! por que não apagas Co’a esponjade tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noite! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! ... (ALVES, C. Esteira de espumas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 52.) Assinale a alternativa correta em relação ao fragmento acima. a) A referência aos desgraçados simboliza a tragédia vivida pelos escravos nas fazendas de café, no século XVI. b) O uso excessivo de exclamações sugere a passividade do eu lírico com a atrocidade desferida aos escravos. c) O tom de denúncia da crueldade da escravidão está direcionado à Igreja, que apoiava essa prática no Brasil. d) Castro Alves, poeta da segunda geração romântica, caracteriza o terror da escravidão com elementos góticos. X e) O poeta apela ao poder dos elementos da natureza para que acabem com a insanidade da escravidão. 9. (UEM – PR) Leia o fragmento abaixo. A seguir, aponte, nomeando e dando exemplo, ou seja, mostrando onde e/ ou como aparecem no texto: Na Minha Terra Amo o vento da noite sussurrante A tremer nos pinheiros E a cantiga do pobre caminhante No rancho dos tropeiros; E os monótonos sons de uma viola No tardio verão, E a estrada que além se desenrola No véu da escuridão; A restinga d’areia onde rebenta O oceano a bramir, Onde a lua na praia macilenta Vem pálida luzir (...) E o longo vale de florinhas cheio E a névoa que desceu, Como véu de donzela em branco seio, As estrelas do céu. Álvares de Azevedo a) uma figura de linguagem utilizada; O poema faz uso de prosopopeia, ou personificação (figura de linguagem que confere emoções ou ações próprias dos seres humanos a outros seres, entes ou objetos). Esta pode ser encontrada nos seguintes trechos: “noite sussurrante”, “a tremer nos pinheiros”, “o oceano a bramir”. b) um recurso sonoro empregado; Quanto aos exemplos de sonoridade, o poema apresenta rimas bem marcadas, a aliteração pelo uso recorrente da letra “s”, a assonância pela presença das vogais “a” e “e”. c) uma característica que indique ser este um poema do Romantismo. Entre as características do Romantismo, pode ser citada a exaltação da natureza e da terra natal. 9Literatura 2. Realismo 2.1 Contexto histórico A partir da segunda metade do século XIX, a Europa passou por grandes transformações nos campos político, econô- mico e social. A segunda fase da Revolução Industrial demandava um novo olhar para a realidade, devido aos avanços da tecnologia e os progressos científicos, o que refletia no pensamento e na produção artística do período. Como resultado, as pessoas passaram a ter uma visão mais materialista da realidade: em vez de idealizá-la, a realidade passou a ser retratada de modo mais crítico e racional. A emoção, a espiritualidade e a subjetividade, características do período romântico, dão lugar à razão e ao cientificismo, e surgem assim, com base nesses pressupostos, as seguintes correntes de pensamento: • Positivismo – aceitava apenas verdades científicas embasadas no experimentalismo (observação e análise). • Determinismo – afirmava que o comportamento humano era condicionado pelo meio, contexto histórico e raça. • Darwinismo ou Evolucionismo – propagava a teoria da seleção natural, para a qual apenas os indivíduos que melhor se adaptassem seriam capazes de sobreviver e gerar descendentes. • Socialismo – procurou despertar a consciência de classes e lançou ideias contrárias ao capitalismo. No Brasil, a independência não trouxe o progresso político, social e econômico esperados. O surto ufanista começava a desaparecer e, em seu lugar, surgia o desejo de reformas profundas. Entre os acontecimentos políticos e sociais do período, destacam-se: a Abolição da Escravatura, o término da Monarquia, e o início da República. Características gerais do Realismo • Racionalidade – ao contrário dos artistas românticos, que se deixavam levar pela emoção, os escritores realistas valorizavam o conhecimento racional, a observação da realidade e a pesquisa. • Impessoalidade – distanciamento entre autor e temas por ele discutidos e retratados; distinção entre os sentimen- tos do autor e do personagem. • Objetividade – não mais idealizada, a realidade é vista como algo concreto e palpável. Os personagens devem existir e agir como seres comuns, com virtudes e vícios. • Contemporaneidade – ao contrário do romântico que, não satisfeito com a realidade presente, cria novos mundos e foge para um passado idealizado, o realista toma para si o contexto que o cerca e a partir dele tece análises e interpretações. Os escritos se voltavam contra os valores da burguesia, a falsa moralidade do clero, os costumes das classes sociais menos favorecidas e a moralidade decadente da sociedade burguesa. 2.2 Realismo em Portugal O Realismo português tem como marco inicial a década de 1860, quando um grupo de jovens, a par do contexto his- tórico europeu, decidiu repensar a política, a economia e a sociedade portuguesa. Esses jovens responsabilizaram a Igreja e a Monarquia pela situação econômica ainda ruralista do país. Seus ideais contribuíram para a implantação da República em Portugal, em 1910. Durante esse processo de renovação, vários artistas produziram obras que se propunham a analisar a realidade de maneira crítica e racional. Na poesia, destacam-se Antero de Quental e Cesário Verde, que tinham um olhar científico sobre o universo e as classes populares, além de defenderem reformas políticas, sociais e econômicas. Na prosa, seu mais 10 Livro de Revisão 2 significativo representante foi Eça de Queirós, com uma vasta produção de contos e romances. O escritor defendia a tese de que a literatura deveria ser um “espelho da sociedade” e se basear nas ciências que estudavam o comportamento humano. Em seu primeiro romance, O crime do padre Amaro, há uma postura claramente anticlerical, que denuncia certos desvios de comportamento de homens da Igreja. Em A cidade e as serras, expõe uma visão política segundo a qual a eman- cipação de classes menos abastadas depende da boa vontade de classes mais elevadas. 2.3 Realismo no Brasil O grande nome do Realismo brasileiro é Machado de Assis (1839-1908), autor que escreveu poemas, teatro, contos e crônicas. O início de sua carreira é marcado pela publicação de obras com tendências românticas. Trata-se de uma fase de amadurecimento ou preparação e contempla as produções da década de 1850 até 1870. Entre essas obras estão os romances: Ressureição, A mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia. Sua segunda fase, que reúne o melhor da produção do autor, é denominada realista, e inicia com a publicação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas – marco do realismo bra- sileiro. Outras obras que também merecem destaque são: Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires. Entre os traços mais marcantes do seu estilo estão: uso de linguagem elegante, concisa, objetiva e com presença de metalinguagem; uso de digressões – suas narrativas são constantemente interrompidas por reflexões, retrospectivas e comentários sobre o próprio texto; intertextualidade – alusão a outras obras, textos e autores; representação de tempo e espaço contemporâneos ao autor – os enredos tinham como plano de fundo as paisagens físicas e sociais do Rio de Janeiro do final do século XIX; pessimismo – visão de mundo pessimista e amarga (uso de humor e ironia como contra- ponto desse negativismo); ironia – a ironia machadiana tinha como alvo alguns dos costumes e valores de sua época, dando aos seus enredos maior profundidade e senso crítico; crítica a determinados comportamentos humanos e à burguesia – os valores sustentados pelo Romantismo, como amizade, amor, casamento, religião, são por vezes desacre- ditados ou mesmo ridicularizados (adultério, hipocrisia, segundas intenções e vaidade são os grandes corruptores das relações humanas); e análise psicológica – seus personagens, em geral, são redondos e apresentam grande profundidade psicológica, são fortes, repletos de contradições e podemser considerados imprevisíveis. Outro autor realista brasileiro de destaque é Raul Pompeia (1863-1895). Escreveu poemas, crônicas e outras narrativas mais curtas. Tornou-se conhecido pela publicação de seu romance O Ateneu, em que, em um tom confes- sional, o narrador conta as experiências amargas e suas recordações da vida no internato; é uma narrativa que recria artisticamente, com uma mentalidade adulta, as vivências infantojuvenis do autor. 1. (UNIFESP) O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na sala, ao piano. — Está ali o sujeito do costume – foi dizer Juliana. Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão: — Ah! meu primo Basílio? Mande entrar. E chamando-a: — Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre. Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo! Subiu à cozinha, devagar, – lograda. — Temos grande novidade, Sra. Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio. E com um risinho: 11Literatura — É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça! — Então que havia de o homem ser se não parente? – observou Joana. Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou- se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trêmulo. — É o primo! – refletia ela. — E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipoia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família! Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda. Havia ali muito “para ver e para escutar”. E o ferro estava pronto? Mas a campainha, embaixo, tocou. (Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.) Quando é avisada de que Basílio estava em sua casa, Luísa escandaliza-se com a forma de expressão de sua criada Juliana. A reação de Luísa decorre a) da linguagem descuidada com que a criada se refere a seu primo Basílio, rapaz cortês e de família aristocrática. b) da intimidade que a criada revela ter com o Basílio, o que deixa a patroa enciumada com o comentário. c) do comentário malicioso que a criada faz à presença de Basílio, sugerindo à patroa que deveria envolver-se com o rapaz. d) da indiscrição da criada ao referir-se ao rapaz, o qual, apesar do vínculo familiar, não era visita frequente na casa da patroa. X e) da ambiguidade que se pode entrever nas palavras da criada, referindo-se com ironia às frequentes visitas de Basílio à patroa. 2. (UCS – RS) Sobre o Realismo é incorreto afirmar que a) propõe uma análise objetiva da realidade, tentando retratá-la como uma fotografia. b) se opõe ao Romantismo, pois o idealismo deste não permite olhar a vida com olhos de um observador impiedoso. c) Flaubert, na França, e Machado de Assis, no Brasil, são dois grandes nomes do Realismo. d) O Ateneu, uma das importantes obras do Realismo brasileiro, possui um tom introspectivo, pois nela Raul Pompeia desenvolve uma análise psicológica dos personagens. X e) Dom Casmurro, de Machado de Assis, marca o início do Realismo no Brasil. 3. (UEL – PR) Sobre o Realismo brasileiro, é correto afirmar: a) Foi uma estética pouco significativa no painel literário brasileiro, pois ficou afastado dos problemas nacionais, questão bastante trabalhada pelo Romantismo. b) Teve grande influência do Iluminismo francês, daí o aspecto libertário de alguns romances de nossos escritores realis- tas, como Machado de Assis e Raul Pompeia. c) Deu especial importância à questão cultural, buscando as raízes da cultura brasileira no folclore e nos costumes do povo. X d) Sua tendência a retratar a realidade com objetividade e imparcialidade está pautada nos postulados filosóficos e cien- tíficos que alcançaram grande popularidade no final do século XIX, com o Positivismo e o Darwinismo. e) Embora na prosa houvesse um afastamento dos ideais estéticos do movimento romântico, que o antecedeu, o Parnasianismo, contraparte poética do Realismo no contexto brasileiro, não conseguiu se desvencilhar do sentimenta- lismo e de alguns temas preferidos do Romantismo, como o índio e o escravo, explorando-os com frequência. 12 Livro de Revisão 2 4. (FUVEST – SP) Os momentos históricos em que se desenvolvem os enredos de Viagens na minha terra, Memórias de um sargento de milícias e Memórias póstumas de Brás Cubas (quanto a este último, em particular no que se refere à primeira juventude do narrador) são, todos, determinados de modo decisivo por um antecedente histórico comum – menos ou mais imediato, conforme o caso. Trata-se da X a) invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas. b) turbulência social causada pelas revoltas regenciais. c) volta de D. Pedro I a Portugal. d) proclamação da independência do Brasil. e) antecipação da maioridade de D. Pedro II. 5. (FUVEST – SP) Em quatro das alternativas abaixo, registram-se alguns dos aspectos que, para bem caracterizar o gênero e o estilo das Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico J. G. Merquior pôs em relevo nessa obra de Machado de Assis. A única alternativa que, invertendo, aliás, o juízo do mencionado crítico, aponta uma característica que não se aplica à obra em questão é: a) ausência praticamente completa de distanciamento enobrecedor na figuração das personagens e de suas ações. b) mistura do sério e do cômico, de que resulta uma abordagem humorística das questões mais cruciais. c) ampla liberdade do texto em relação aos ditames da verossimilhança. X d) emprego de uma linguagem que evita chamar a atenção sobre si mesma, apagando-se, assim, por detrás da coisa narrada. e) uso frequente de gêneros intercalados – por exemplo, cartas ou bilhetes, historietas, etc. – embutidos no conjunto da obra global. 6. (UEA – AM) Leia o trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis. Queres o avesso disso, leitor curioso? Vê este outro convidado para o almoço, Carlos Maria. Se aquele tem os modos “expansivos e francos” – no bom sentido laudatório –, claro é que ele os tem contrários. Assim, não te custará nada vê-lo entrar na sala, lento, frio e superior, ser apresentado ao Freitas, olhando para outra parte. Freitas, que já o mandou cordialmente ao diabo por causa da demora (é perto do meio- -dia), corteja-o agora rasgadamente, com grandes aleluias íntimas. Também podes ver por ti mesmo que o nosso Rubião, se gosta mais do Freitas, tem o outro em maior consideração; esperou-o até agora, e esperá-lo-ia até amanhã. Carlos Maria é que não tem consideração a nenhum deles. Examinai-o bem; é um galhardo rapaz de olhos grandes e plácidos, muito senhor de si, ainda mais senhor dos outros. Olha de cima; não tem o riso jovial, mas escarninho¹. Agora, ao sentar-se à mesa, ao pegar no talher, ao abrir o guardanapo, em tudo se vê que ele está fazendo um insigne² favor ao dono da casa – talvez dois –, o de lhe comer o almoço, e o de lhe não chamar pascácio³. E, malgrado essa disparidade de caracteres, o almoço foi alegre. (Quincas Borba, 2008.) No trecho, é evidente uma característica presente em algumas narrativas de Machado de Assis: X a) um narrador que emite opiniões ao longo da narrativa e que conversa com o leitor. b) uma perspectiva positiva a respeito da humanidade, visto que, no convívio social, poucos personagens apresentam falhas morais. c) personagens idealizados, éticos e cordiais que, apesar das adversidades, frequentemente se impõem. d) retrato de uma sociedade rural, tranquila, com personagens nada maliciosos, às vezes até ingênuos. e) retrato de um mundo austero, masculino, em que as personagens femininas não têm relevância. ¹escarninho: que zomba de algo. ²insigne: notável, significativo. ³pascácio: tolo, simplório. 13Literatura 7. (FGV – SP) Capítulo IV /um dever amaríssimo! José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as havendo, servia a prolongar as frases. Levantou- -se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez neste mundo. Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um aro de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não aquele vagar arrastado dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo! Machado de Assis, Dom Casmurro. Consideradas no contexto da obra, as características da personagem José Dias apresentadas no excerto – o amor dos superlativos, o figurino engomado e a soleni- dade deliberada – a) tornam-no o representante, no livro, do grupo dos passadistas, atados ainda aos costumes introduzidos na Corte durante o período joanino. b) demonstram, nele, a impregnação da retórica român- tica, cujo abuso dos superlativos e exageros senti- mentais o narrador expõe ao ridículo. c) denunciam que a hipocrisia, por constituir o funda- mento inato do seu caráter, manifesta-se em todas suas atitudes: vestimentais, corporais e linguísticas. d) revelam, nele, o antigo homeopata, pejado ainda de todas as afetações próprias de sua sexualidade dúbia e recalcada. X e) servem de compensação imaginária e de auto- defesa, em vista da vulnerabilidade da sua condi- ção de agregado, sujeito, como tal, ao arbítrio dos proprietários. 8. (FGV – SP) Depois de uma parte de concerto, que foi como descanso reparador, seguiu-se a oferta do busto. Teve a palavra o Professor Venâncio. (...) O orador acumulou paciente todos os epítetos de engrandecimento, desde o raro metal da sinceridade até o cobre dúctil, cantante das adulações. Fundiu a mistura numa fogueira de calorosas ênfases, e sobre a massa bateu como um ciclope, longamente, até acentuar a imagem monumental do diretor. Aristarco depois do primeiro receio esquecia- -se na delícia de uma metamorfose. Venâncio era o seu escultor. A estátua não era mais uma aspiração: batiam- -na ali. Ele sentia metalizar-se a carne à medida que o Venâncio falava. Compreendia inversamente o prazer de transmutação da matéria bruta que a alma artística penetra e anima: congelava-lhe os membros uma frialdade de ferro; à epiderme, nas mãos, na face, via, adivinhava reflexos desconhecidos de polimento. Consolidavam-se as dobras das roupas em modelagem resistente e fixa. Sentia-se estranhamente maciço por dentro, como se houvera bebido gesso. Parava- lhe o sangue nas artérias comprimidas. Perdia a sensação da roupa; empedernia-se, mineralizava- se todo. Não era um ser humano: era um corpo inorgânico, rochedo inerte, bloco metálico, escória de fundição, forma de bronze, vivendo a vida exterior das esculturas, sem consciência, sem individualidade, morto sobre a cadeira, oh, glória! Mas feito estátua. “Coroemo-lo!” bradou de súbito Venâncio. Raul Pompeia, O Ateneu. Considerada no contexto de O Ateneu, a cena em que Aristarco se vê, simbolicamente, convertido em estátua de metal representa o resultado ou a consumação das motivações principais da personagem, a saber, a a) autoglorificação e a vocação científica. b) inveja e o sonho de invulnerabilidade. X c) vaidade e a sede de lucro. d) luxúria e o desejo de santificação. e) gula e a ganância. 14 Livro de Revisão 2 3. Naturalismo 3.1 Contexto histórico O termo que designa essa estética literária, “Naturalismo”, não corresponde à descrição ou à exaltação da Natureza (aspectos caros ao Romantismo), mas, sim, faz referência a uma doutrina filosófica que considera apenas as leis da natureza como verdadeiras – o que significa dizer que não aceita pensamentos transcendentais ou religiosos. O Naturalismo, movimento que surgiu na Europa com Émile Zola (1840-1902), divide com o Realismo o mesmo con- texto histórico. Essas estéticas apresentam alguns elementos em comum, como a aversão ao Romantismo e a maneira objetiva de retratar a realidade. O que as diferencia é o enfoque cientificista que os autores naturalistas assumem. Entre as principais linhas de pensamento que influenciaram o Naturalismo estão: Determinismo Corrente de pensamento desenvolvida por Hippolyte Taine (1828-1893), segundo a qual, o comportamento humano era condicionado pelas influências hereditárias, do momento histórico e do meio onde o homem convivia. Assim, o comportamento do ser humano seria absolutamente previsível, pois todas as atitudes humanas seriam causadas pelos fatores raça, meio e contexto histórico. Os autores naturalistas foram amplamente influenciados por essa corrente de pensamento, fazendo com que muitas de suas obras se valessem desses pressupostos deterministas. Amoralismo O texto naturalista procurou apresentar a realidade dos fatos, se isentando de emitir juízos de valor. Assim, o papel do autor era apenas descrever, narrar e mostrar os personagens e as situações a que estavam submetidos. Patologismo O espírito cientificista dos escritores naturalistas levava-os a se interessar pelas distorções de comportamento, da personalidade e dos grupos sociais. Isso faz com que suas obras estejam repletas de cenas de adultério, miséria, criminalidade, desequilíbrio de diversas ordens, etc. Animalização do homem O homem é visto como um ser guiado bem mais pelos seus instintos do que por sua razão, e seus comportamentos são, por vezes, associados aos de animais. 3.2 Naturalismo no Brasil O principal representante do Naturalismo brasileiro foi Aluísio Azevedo (1857-1913), iniciador dessa estética no país com a publicação da obra O mulato, em 1881. O autor, por meio de suas obras, procurou retratar os tipos humanos mar- ginalizados – escravizados, ex-escravizados, população que vivia na miséria, trabalhadores explorados –, fazendo deles instrumento de denúncia social, combatendo a hipocrisia e a exploração dos mais fracos. O Cortiço Obra publicada em 1890, é considerada a mais importante da estética naturalista. O enredo, narrado em terceira pes- soa, mostra o ambiente de corrupção da habitação coletiva, como uma espécie de exemplificação da tese determinista que afirma que o homem é produto do meio. Nesse romance, os personagens são apenas figurantes: vão e vêm, leva- dos pelas circunstâncias, enquanto o cortiço (verdadeiro protagonista do romance) continua corrompendo, nivelando e embrutecendo as pessoas. Outros autores e obras naturalistas Adolfo Caminha – autor de romances que apresentavam temas fortes que causavam escândalos na época. Obras: O normalista (cenas de estupro) e O Bom-Crioulo (triângulo amoroso, relações homossexuais). Júlio Ribeiro – conhecido pela publicação de A carne – obra que mostra o poder do instinto sobre a razão e que causou escândalo em sua época por mostrar uma mulher (Lenita) dando vazão aos seus desejos sexuais. Domingos Olímpio – autor de Luzia-Homem – romance regionalista que conta a história de uma retirante, cuja sensibi- lidade feminina era revestida de modos bastante brutais, resultado da influência do ambiente de seca e miséria em que a personagem estava inserida. 15Literatura Inglês Sousa – escritor do romance de tese O missionário, que conta com detalhes aspectos da “evolução” moral do Padre Antônio Morais, sua ascensão e, principalmente, seu declínio em um ambiente que o condiciona e que o leva a cometer atos depravados em meio a selva amazônica. 1. (UEL – PR) Bom-Crioulo não pensou em dormir, cheio, como estava, de ódio e desespero. Ecoavam-lheainda no ouvido, como um dobre fúnebre, aquelas palavras de uma veracidade brutal, e de uma rudez pungente: “Dizem até que está amigado!” Amigado, o Aleixo! Amigado, ele que era todo seu, que lhe pertencia como o seu próprio coração: ele, que nunca lhe falara em mulheres, que dantes era tão ingênuo, tão dedicado, tão bom!... Amigar-se, viver com uma mulher, sentir o contacto de outro corpo que não o seu, deixar-se beijar, morder, nas ânsias do gozo, por outra pessoa que não ele, Bom-Crioulo!... Agora é que tinha um desejo enorme, uma sofreguidão louca de vê-lo, rendido, a seus pés, como um animalzinho; agora é que lhe renasciam ímpetos vorazes de novilho solto, incongruências de macho em cio, nostalgias de libertino fogoso... As palavras de Herculano (aquela história do grumete com uma rapariga) tinham-lhe despertado o sangue, fora como uma espécie de urtiga brava arranhando-lhe a pele, excitando-o, enfurecendo-o de desejo. Agora sim, fazia questão! E não era somente questão de possuir o grumete, de gozá-lo como outrora, lá cima, no quartinho da Rua da Misericórdia: – era questão de gozá- -lo, maltratando-o, vendo-o sofrer, ouvindo-o gemer... Não, não era somente o gozo comum, a sensação ordinária, o que ele queria depois das palavras de Herculano: era o prazer brutal, doloroso, fora de todas as leis, de todas as normas... E havia de tê-lo, custasse o que custasse! Decididamente ia realizar o seu plano de fuga essa noite, ia desertar pelo mundo à procura de Aleixo. Inquieto, sobre excitado, nervoso, pôs-se a meditar. O grumete aparecia-lhe com uma feição nova, transfigurado pelos excessos do amor, degenerado, sem aquele arzinho bisonho que todos lhe admiravam, o rosto áspero, crivado de espinhas, magro, sem cor, sem sangue nos lábios... Pudera! Um homem não resiste, quanto mais uma criança! Aleixo devia de estar muito acabado; via-o nos braços da amante, da tal rapariga – ele novo, ela mocinha, na flor dos vinte anos –, via-o rolar em espasmos luxuriosos, grudado à mulher, sobre uma cama fresca e alva – rolar e cair extenuado, crucificado, morto de fraqueza... Depois a rapariga debruçava-se sobre ele, juntava boca à boca num grande beijo de reconhecimento. E no dia seguinte, na noite seguinte, a mesma cousa. (CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. São Paulo: Ediouro, s/d. p. 73-74.) Quanto à frase: “Um homem não resiste, quanto mais uma criança!”, assinale a alternativa correta. a) Corresponde à dificuldade que o próprio Amaro sentia de resistir às constantes investidas femininas sobre ele. b) Antecipa a inclinação de Amaro para perdoar o amante, conflito que se estende até o desfecho do romance. c) Sugere que uma criança tem maior capacidade de resistir às tentações mundanas do que um adulto. d) Indica que um homem é desprovido de forças para resistir aos apelos sexuais de uma menina insinuante. X e) Revela que Amaro considerava o amante como alguém suscetível a tentações sexuais irresistíveis. 16 Livro de Revisão 2 2. (FUVEST – SP) O autor pensava estar romanceando o processo brasileiro de guerra e acomodação entre as raças, em conformidade com as teorias racistas da época, mas, na verdade, conduzido pela lógica da ficção, mostrava um processo primitivo de exploração econômica e formação de classes, que se encaminhava de um modo passavelmente bárbaro e desmentia as ilusões do romancista. Roberto Schwarz. Adaptado. Esse texto crítico refere-se ao livro a) Memórias de um sargento de milícias. b) Til. X c) O cortiço. d) Vidas secas. e) Capitães da areia. Textos para as questões de 3 a 5. Texto I Capítulo III O zunzum chegava ao seu apogeu. A fábrica de massas italianas, ali mesmo da vizinhança, começou a trabalhar, engrossando o barulho com o seu arfar monótono de máquina a vapor. As corridas até à venda reproduziam-se, transformando-se num verminar constante de formigueiro assanhado. Agora, no lugar das bicas apinhavam-se latas de todos os feitios, sobressaindo as de querosene com um braço de madeira em cima; sentia-se o trapejar da água caindo na folha. Algumas lavadeiras enchiam já as suas tinas; outras estendiam nos coradouros a roupa que ficara de molho. Principiava o trabalho. Rompiam das gargantas os fados portugueses e as modinhas brasileiras. Um carroção de lixo entrou com grande barulho de rodas na pedra, seguido de uma algazarra medonha algaraviada pelo carroceiro contra o burro. Aluísio Azevedo, O Cortiço, 1890 Texto II Zaga Brandão, 1992. 3. (MACKENZIE – SP) Sobre o Naturalismo, movimento ao qual é vinculado o autor brasileiro Aluísio Azevedo, é incorreto afirmar que a) o ser humano está condicionado à sua hereditariedade. b) a violência, a miséria, a exploração social estão entre seus principais temas. X c) os sentimentos pessoais dos autores e as canções populares eram utilizados como inspiração temática. d) as descrições detalhadas de pessoas e ambientes e a linguagem coloquial são uma constante. e) o ser humano está condicionado ao meio social em que vive. 4. (MACKENZIE – SP) A partir do fragmento de O cortiço, de Aluísio Azevedo, é correto afirmar que a) o autor tenta provar como o meio, a raça e as situa- ções sociais determinam a conduta do homem e o levam à condição plena de cidadão. X b) a existência humana é abordada de forma materialista e o homem é encarado como um produto biológico. c) as personagens são dotadas de livre-arbítrio que as auxiliam a enfrentar as situações externas a elas. d) a obra é composta sob a influência das ideias da Revolução Constitucionalista. e) ao ser composta por um ambiente ficcional degra- dado, a obra perde seu prestígio literário. 17Literatura 5. (MACKENZIE – SP) Ao descrever o ambiente, Aluísio Azevedo a) contextualiza historicamente o leitor no reformulado e asseado cenário arquitetônico carioca do final do século XIX. b) utiliza características do editorial jornalístico para dar credibilidade à sua narrativa. c) aproxima-se de uma estética clássica, formada essencialmente por uma descrição de paisagens bucólicas nacionais. d) antecipa a subjetividade que será elemento característico das composições parnasianas. X e) aproxima o leitor do ambiente sem privacidade em que se miscigena uma galeria de tipos sociais. 6. (UNICAMP – SP) Quase sempre levava-lhe presentes (...) e perguntava-lhe se precisava de roupa ou de calçado. Mas um belo dia, apresentou-se tão ébrio, que a diretora lhe negou a entrada. (...) Tempos depois, Senhorinha entregou à mãe uma conta de seis meses de pensão do colégio, com uma carta em que a diretora negava- -se a conservar a menina (...). Foi à procura do marido; (...) Jerônimo apareceu afinal, com um ar triste de vicioso envergonhado que não tem ânimo de deixar o vício (...). — Eu não vim cá por passeio! prosseguiu Piedade entre lágrimas! Vim cá para saber da conta do colégio!... — Pague-a você!, que tem lá o dinheiro que lhe deixei! Eu é que não tenho nenhum! (...) E as duas, mãe e filha, desapareceram; enquanto Jerônimo (...) monologava, furioso (...). A mulata então aproximou-se dele, por detrás; segurou-lhe a cabeça entre as mãos e beijou-o na boca... Jerônimo voltou- -se para a amante... E abraçaram-se com ímpeto, como se o breve tempo roubado pelas visitas fosse uma interrupção nos seus amores. Aluísio de Azevedo, O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983, p. 137 e 139. O cortiço não dava ideia do seu antigo caráter. (...) e, com imenso pasmo, viram que a venda, a sebosa bodega, onde João Romão se fez gente, ia também entrar em obras. (...) levantaria um sobrado, mais alto que o do Miranda (...). E a crioula? Como havia de ser? (...) Como poderia agora mandá-la passear assim, de um momento para outro, se o demônio da crioula o acompanhava já havia tanto tempo e toda a gente na estalagem sabia disso? (...) Mas, só com lembrar-se da sua união com aquela brasileirinha fina e aristocrática, um largo quadro de vitórias rasgava-se defronte da desensofrida avidez de sua vaidade. (...) caber-lhe-iamais tarde tudo o que o Miranda possuía... Idem, p. 133 e 145. a) Considerando-se a pirâmide social representada na obra, em que medida as personagens Rita Baiana e Bertoleza, referidas nos excertos, poderiam ser aproximadas? Tanto Bertoleza quanto Rita Baiana estão na base da pirâmide social, isso porque ambas mantêm uma relação de dependência com os homens com os quais se envolvem: Bertoleza tem sua força de trabalho explorada por João Romão (vivendo na condição de escrava); Rita Baiana faz com que Jerônimo dependa sexualmente dela. b) Levando em conta a relação das personagens com o meio, compare o final das trajetórias do português Jerônimo e do português João Romão. Jerônimo, apesar de ser empregado da pedreira de João Romão, vivia bem, tinha família, era um homem honesto. Porém, sua vivência no cortiço e sua aproximação com Rita Baiana fazem com que ele se degenere – o meio o corrompe. Seu desfecho no romance foi matar o rival e abandonar sua família. João Romão é descrito como um homem desonesto e imoral. Ele consegue enriquecer e prosperar à custa da pobreza alheia, e de Bertoleza – que mantém em condição de escrava. Além de conviver com os habitantes do cortiço, ele mantém relações com pessoas que pertencem a um nível social mais elevado, o que lhe proporciona o tão sonhado prestígio. Ao final da obra, ele se casa com Zulmira, transforma o cortiço em Avenida São Romão, e finalmente passa a ocupar um patamar mais elevado na pirâmide social. 18 Livro de Revisão 2 4. Parnasianismo 4.1 Contexto histórico O Parnasianismo é, por vezes, chamado de poesia do Realismo, isso porque apresenta traços característicos dessa esté- tica, tais como: objetividade – como reação aos excessos sentimentais românticos – e descritivismo. Essa corrente literária surgiu na França, em antologias poéticas chamadas Le Parnasse Contemporain, publicadas a partir da década de 1860. A poesia produzida pelo Parnasianismo é produto da época que ficou conhecida como Belle Époque (“época bela”), uma Era marcada pelo otimismo e pelo aumento do conforto material – graças às riquezas surgidas com a industrialização. Esse contexto histórico e cultural deu origem à Art Nouveau, movimento artístico que cultivava o gosto pela ornamentação. Características do Parnasianismo • Objetividade, impessoalidade – a poesia parnasiana apresenta uma reação contra o excesso de sentimentalismo romântico. O eu lírico, como em uma espécie de contenção, deixa de expressar as suas emoções e mostra-se impas- sível diante da realidade – embora nem sempre consiga. • Apego à tradição clássica – a poesia parnasiana alude constantemente a elementos da cultura greco-romana, por considerá-los exemplos supremos do belo e do universal. Essa característica ajuda a conferir ares de sofisticação e erudição a essa estética, e ao mesmo tempo a afasta de tendências românticas (lembrando que os românticos assumiram uma postura de anticlassicismo). • Esteticismo – a poesia se distancia de temas cotidianos e se volta para a produção da “arte pela arte”. Como efeito dessa postura, percebe-se um traço de alienação social nessa estética, pois a poesia não retratará temas sociais mais profundos ou delicados. • Busca da perfeição formal – promove-se um intenso “artesanato poético”: buscam-se rimas raras, correção grama- tical, beleza estilística, sintaxes complexas, métrica perfeita e vocabulário sofisticado. Muitas de suas composições obedecem à forma fixa do soneto. • Intenso descritivismo – as obras parnasianas descrevem objetos clássicos, paisagens, cenas estáticas, etc. Essa característica de ser uma arte descritiva demonstra sua tendência à objetividade. • Aproximação entre as artes literárias e as artes plásticas – ao projetar a poesia como um verdadeiro ofício, o poeta torna-se um artesão da palavra, um ourives dos versos. 4.2 Parnasianismo no Brasil Os fatos históricos que marcaram o Brasil, no final do século XIX foram: Abolição da Escravatura (1888) e Proclamação da República (1889). Estes, aliados à produção cafeeira – que trouxe melhoras socioeconômicas e fez com que o capital fosse investido em outras áreas –, contribuíram para a valorização do luxo e do requinte por parte da elite econômica brasileira. Os artistas da época deixaram-se levar pelo esnobismo artístico e pelo exibicionismo cultural. O Rio de Janeiro “afrancesou-se”, e os poetas que circularam por esse meio produziram uma poesia bastante distante da realidade nacional. O que não os impediu de se tornarem ídolos populares, soberanos até a primeira década do século XX (quando passaram a ser alvo de fortes críticas por parte dos modernistas). A estreia do Parnasianismo no Brasil foi marcada pela publicação do livro Fanfarras, de Teófilo Dias, em 1882. 19Literatura Principais representantes Quando se fala de Parnasianismo no Brasil, é muito comum citar o termo “tríade parnasiana” ou “a santíssima trindade parnasiana brasileira”, formada pelos seguintes poetas: Olavo Bilac (1865-1918) – demonstrou a impassibilidade formal parnasiana em vários de seus poemas. Contudo, em relação ao conteúdo de sua obra, nota-se certa aproximação com o Romantismo, isso por conta de seu lirismo, ora mais intimista, ora de tendência mais reflexiva e um pouco filosófica. Outros traços, presentes na poesia de Bilac, são: erotismo e sensualismo, principalmente em suas primeiras obras. Alberto de Oliveira (1857-1937) – foi o poeta mais parnasiano da tríade, uma espécie de líder do movimento. Sua poesia é essencialmente descritiva, repleta de alusões aos moldes clássicos, e não demostrava preocupação com os fatos que aconteciam no país. Raimundo Correia (1859-1911) – é considerado parnasiano mais pela forma que pelo conteúdo de seus poemas. Por vezes, seus versos trazem reflexões filosóficas e lições de vida, além de heranças românticas, há traços descritivistas e grande profundidade filosófica, evidenciando certo pessimismo. 1. (UFRR) Já disse que eu estava com 39 anos e era um homem alto, meio curvado e estava usando uma barbicha e um bigode pontudo. Usava também óculos de aros dourados e redondos e meu nariz era afilado. Sou do tipo mediterrâneo e minha pele estava queimada pelo sol. Era um homem atraente e, naquele momento, notei que Trucco me olhava incrédulo. — Obrigado por me salvar do assalto – disse Trucco um tanto inseguro com a minha figura semidespida que, convenhamos, não devia ser um primor de elegância. Eu respondi que ele não me devia agradecimentos que tudo não passara de uma série de equívocos, aliás, o corolário da minha existência. Disse a ele que quem estava sendo assaltado era eu por um marido armado de terçado, e ele me disse seu nome (dele): Luiz Trucco, o cônsul-geral da Bolívia. Respondi estendendo a minha mão e informando que eu era um jornalista e me chamava Galvez, Luiz Galvez. Trucco tornou a agradecer e insistiu que eu o havia livrado de um vexame, coisa da qual não consegui me furtar. Perguntou se eu aceitaria uma bebida e entramos no animado cabaré. Era o Cabaré Juno e Flora e oferecia como atração os encantos de “Lili, Invencível Armada”, grande dançarina e diseuse cubana, contorcionista da metrificação parnasiana e dos ritmos tropicais. SOUZA, Márcio. Galvez: Imperador do Acre. 18 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 18-19. No último período do texto, o narrador define “Lili, invencível armada” como “contorcionista da metrificação parnasiana”. Considerando-se as características do Parnasianismo, pode-se afirmar que: X a) os movimentos da dançarina, assim como o Parnasianismo, imprimem valorização da estética e busca da perfeição; b) há excessivo subjetivismo nos movimentos da dançarina, assim como na descrição da realidade pelo Parnasianismo; c) a estética parnasiana aproxima-se dos movimentos de dança de Lili pois ambos se baseiam na hipervalorização dos sentimentos e das emoções; d) a dança de Lili expressa sua liberdade de criação, assim como o poeta parnasiano era livre para expressarsua individualidade; e) a estética da dança era fruto da espontaneidade, da emotividade da bailarina, como os poemas dos parnasianos. 20 Livro de Revisão 2 2. (UFAM) Pode-se descrever o Parnasianismo como um movimento ( F ) cujo conteúdo é mais importante que a forma de seus textos. ( V ) que trabalha com temas greco-latinos e prefere for- mas fixas, como o soneto. ( F ) que legou obras de cunho social, preocupado com a situação do país em seu tempo. ( F ) cujo descritivismo dos poemas se iguala ao Roman- tismo, ambos preocupados com o ambiente político de seus respectivos momentos históricos. ( F ) em que a mulher é apresentada como a musa inspi- radora, situada em meio à natureza brasileira. a) F – V – F – V – F d) V – V – F – F – V X c) F – V – F – F – F d) F – F – F – V – V e) V – F – F – F – V 3. (UFRN) Leia a seguir o trecho do poema “Os sapos” de Manuel Bandeira: O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: — “Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. (Disponível em: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/sapos. htm.) É possível identificar uma crítica intensa à (ao) X a) poesia parnasiana. b) realismo exagerado. 1Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo. 2Bizantina: referente ao Império Romano do Oriente (330-1453) e às manifestações culturais desse império. 3Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que resulta da aplicação de cores diluídas em água sobre um revestimento ainda fresco de argamassa, para facilitar a absorção da tinta. 4Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de 460 d.C., em Roma, em homenagem a Santo Estêvão (Stefano, em italiano), mártir do cristianismo. 5Anátema: reprovação enérgica, sentença de maldição que expulsa da Igreja, excomunhão. c) linguagem coloquial. d) Semana de Arte Moderna. 4. (UNESP – SP) Jesus Pantocrátor1 Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na igreja De Monreale, feita em mosaico, a divina Figura de Jesus Pantocrátor: domina Aquela face austera, aquele olhar troveja. Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina. À árida pupila a doce, a benfazeja Lágrima falta, e o peito enorme não arqueja À dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina2. Este criou o inferno, e o espetáculo hediondo Que há nos frescos3 de Santo Stefano Rotondo4; Este do mundo antigo espedaçado assoma... Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o: Tem o anátema5 à boca, às duas mãos o raio, E em vez do espinho à fronte as três coroas de Roma. (Luís Delfino. Rosas negras, 1938.) A leitura do soneto revela que o poeta seguiu o preceito parnasiano de só fazer rimar em seus versos palavras pertencentes a classes gramaticais diferentes, como se observa, por exemplo, nas palavras que encerram os quatro versos da primeira quadra, que rimam conforme o esquema ABBA. Consideradas em sua sequência do primeiro ao quarto verso, tais palavras surgem, respecti- vamente, como a) adjetivo, verbo, substantivo, adjetivo. X b) substantivo, adjetivo, verbo, verbo. c) substantivo, adjetivo, substantivo, advérbio. d) verbo, adjetivo, verbo, adjetivo. e) substantivo, substantivo, verbo, verbo. 21Literatura 5. (IFMG) Plena Nudez Eu amo os gregos tipos de escultura; Pagãs nuas no mármore entalhadas; Não essas produções que a estufa escura Das modas cria, tortas e enfezadas. Quero em pleno esplendor, viço e frescura Os corpos nus; as linhas onduladas Livres: da carne exuberante e pura Todas as saliências destacadas… Não quero, a Vênus opulenta e bela De luxuriantes formas, entrevê-la Da transparente túnica através: Quero vê-la, sem pejo, sem receios, Os braços nus, o dorso nu, os seios Nus… toda nua, da cabeça aos pés! CORREIA, Raimundo. Plena Nudez. In: Poesia. 4. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1976. p. 24. (Col. Nossos Clássicos) Analisando o poema de Raimundo Correia, podem-se encontrar algumas características da escola parnasiana, como a) abstração, misticismo, evocação à natureza. X b) alusão à mitologia, busca da perfeição formal, visão carnal da mulher. c) linguagem rebuscada, cultismo, engajamento com o social. d) linguagem coloquial, versos livres, liberdade de expressão. 6. (UEA – AM) Não sei que jornal, há algum tempo, noticiou que a polícia ia tomar sob a sua proteção as crianças que aí vivem, às dezenas, exploradas por meia dúzia de bandidos. Quando li a notícia, rejubilei. Porque, há longo tempo, desde que comecei a escrever, venho repisando este assunto, pedindo piedade para essas crianças e cadeia para esses patifes. Mas os dias correram. As providências anunciadas não vieram. Parece que a piedade policial não se estende às crianças, e que a cadeia não foi feita para dar agasalho aos que prostituem corpos de sete a oito anos… E a cidade, à noite, continua a encher-se de bandos de meninas, que vagam de teatro em teatro e de hotel em hotel, vendendo flores e aprendendo a vender beijos. Anteontem, por horas mortas, quando saía de um teatro na rua central da cidade, vi sentada uma menina, a uma soleira de porta. Ao lado, a sua cesta de flores murchas estava atirada sobre a calçada. Pediu-me dez tostões, chorando. Perdera toda a féria. Só conseguira obter, ao cabo de toda uma tarde de caminhadas e de pena, esses dez tostões – perdidos ou furtados. E pelos seus olhos molhados passava o terror das bordoadas que a esperavam em casa… Fiquei parado, longo tempo, a olhá-la. O seu vulto fugia já, pequenino, quase invisível na escuridão. Ainda de longe o vi, fracamente alumiado por um lampião, sumir-se, dobrando uma esquina. Segui o meu caminho, com a morte na alma. Ora – nestes tempos singulares em que a gente já se habituou a ouvir sem espanto coisas capazes de horrorizar a alma de Deiber –, é possível que alguém, encolhendo os ombros diante disto, me pergunte o que é que eu tenho com a vida das crianças que vendem flores e são amassadas a sopapos, quando não levam para casa uma certa e determinada quantia. Tenho tudo, amigos meus! Não penseis que me iluda sobre a eficácia das providências que possa a polícia tomar, a fim de salvar das pancadas o corpo e da devassidão a alma de qualquer dessas meninas. Bem sei que, enquanto o mundo for mundo e enquanto houver meninas – proteja-as ou não as proteja a polícia –, haverá pais que as esbordoem, mães que as vendam, cadelas que as industriem, cães que as deflorem! (Olavo Bilac [Gazeta de Notícias, 14.08.1894]. www.consciencia.org. Adaptado.) Olavo Bilac, autor da crônica, é bastante conhecido no contexto da literatura brasileira como poeta do a) Romantismo, período do império da razão. X b) Parnasianismo, escola literária que buscava a perfei- ção formal. c) Arcadismo, que aprofundou as características do Barroco. d) Modernismo, responsável pela volta dos valores clássicos. e) Simbolismo, estilo marcado pela experimentação. 22 Livro de Revisão 2 5. Simbolismo 5.1 Contexto histórico As últimas décadas do século XIX foram marcadas por uma visão materialista, racional e cientificista da realidade. Embora predominante, esse não foi o único pensamento da época. Nas artes, em especial, na literatura, surgiram alguns artistas insatisfeitos com a mentalidade de que tudo no mundo poderia ser explicado por um viés lógico e científico. Esses artistas consideravam que o discurso racional não era suficiente para explicar todas as questões relacionadas à existência humana. No Brasil, o marco inicial do Simbolismo é a publicação de Missal e Broquéis, em 1893, de Cruz e Sousa. Contemporâneo ao Realismo e ao Naturalismo, o Simbolismo significou uma dupla reação: – Reação estética contra a objetividade e a impessoalidade descritiva da poesia parnasiana, e a consequente proposta a um retorno as origens subjetivistas da poesia. – Reação ideológica contra o materialismo positivista e cientificista do século XIX. A poesia simbolista se colocou a favor da metafísica e da espiritualidade. Características do Simbolismo • Predomínioda sugestão sobre a descrição – as imagens dos poemas simbolistas são, geralmente, vagas, diluídas, suaves; um registro impressionista do real, ou seja, não importa como a realidade é, mas sim, os efeitos que ela causa nos artistas. • Misticismo – há uma atitude mística perante a vida; tenta-se atingir o inatingível, o oculto e o misterioso em uma tentativa de desvendar os sentidos da existência e a transcendência a outro plano. • Musicalidade – há uma relação fundamental entre música e poesia; os efeitos sonoros são amplamente explorados pelo poema, por exemplo com o uso de aliterações e assonâncias. • Hermetismo – refere-se ao caráter complexo, “fechado” e de difícil compreensão da poesia simbolista, o que exige maior sensibilidade, intuição e abstração por parte do leitor. • Presença de símbolos cósmicos e religiosos tais como: altares, incensos, sinos, nuvens, estrelas, etc. Esses símbo- los são normalmente utilizados para sugerir os estados da alma humana. • Sinestesia – imagens que relacionam dois ou mais sentidos (audição, tato, gustação, olfato e visão). • Desejo de transcendência e integração cósmica em oposição aos limites físicos e materiais, os simbolistas apre- ciam situações de viagem interior ou cósmica, o extravasamento e a transcendência do mundo real. Por adotarem essa postura, eram chamados de nefelibatas (aqueles que vivem nas nuvens). • Atração pela morte e elementos decadentes da existência humana – exploração de temas macabros e satâni- cos, ambientes noturnos e misteriosos. • Interesse pelas zonas profundas da mente – exploração das zonas até então inexploradas da mente humana (sonhos e alucinações). Principais representantes Cruz e Sousa (1861-1898) – entre as principais caracte- rísticas do poeta estão: espiritualidade, também denomi- nada poesia de sublimação; erotismo sensual e espiritual, que acaba por demostrar certa angústia sexual; misti- cismo indefinido, de um lado versos repletos de símbolos religiosos, de outro, a menção constante a trevas, demô- nios e inferno; obsessão pela cor branca, símbolo da sín- tese de todas as cores; e grande adjetivação, abundância de versos nominais, isto é, versos sem verbos. Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) – demons- trou em seus versos as principais características sim- bolistas: a sugestão, a musicalidade e o desejo de transcender. Os temas frequentes em suas obras são: amor, religiosidade e escapismo. Um dos traços mar- cantes em seus versos é a descrição idealizada da mulher – normalmente uma virgem inacessível que está absorvida pela morte – e a redenção à fé e aos motivos católicos. 23Literatura 1. Marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. a) ( F ) O Simbolismo, por seu caráter obscuro, é um movimento exclusivamente literário, não sendo possível de serem aplicadas suas características a outras manifestações artísticas. b) ( F ) Os poemas simbolistas apresentam dificuldade para o leitor de hoje por causa de seu vocabulário hermético, no entanto, o leitor contemporâneo do movimento estava habituado ao vocabulário usado pelo Simbolismo, visto que o uso de palavras eruditas era comum à pessoas da época. c) ( V ) A estética simbolista, surgida na França, no século XIX, tem como um de seus precursores o poeta Charles Baude- laire. d) ( F ) O Simbolismo aboliu o uso de formas fixas em seu poemas, visto que elas eram um entrave para a imaginação, e o movimento tinha como um de seus objetivos justamente dar vazão à expressão do que havia de mais profundo da consciência do homem. 2. (UCS – RS) Sobre o Simbolismo, é correto afirmar que X a) a sinestesia é um recurso de linguagem característico desse período, centrado em sensações. b) o sonho, a nebulosidade, o mistério dão a esse movimento literário um aspecto de cientificidade. c) viajar em direção ao desconhecido é uma forma de os simbolistas negarem a intuição como guia e também como parte do processo de criação dos poemas. d) a forma do poema é valorizada pelos poetas, possibilitando-lhes o trânsito com o Parnasianismo. e) os simbolistas, retomando as propostas do Romantismo, procuram preencher o poema com ambientação mística. 3. (ESPM – SP) Do léxico de Cruz e Sousa, especialmente o dos primeiros livros, já se disse que, além da presença explicável de termos litúrgicos, traía a obsessão do branco, fator comum a tantas de suas metáforas (...) Ao que se pode acrescer a não menor frequência de objetos luminosos ou translúcidos. Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira Os versos que confirmam de modo mais preciso as características apontadas no texto são: X a) Ó Formas alvas, brancas. Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... (“Antífona”) b) Para as Estrelas de cristais gelados As ânsias e os desejos vão subindo, Galgando azuis e siderais noivados De nuvens brancas a amplidão vestindo. (“Siderações”) c) Nesse lábio mordente e convulsivo, Ri, ri risadas de expressão violenta O Amor, trágico e triste, e passa, lenta, A morte, o espasmo gélido, aflitivo... (“Lésbia”) 24 Livro de Revisão 2 d) Alma! Que tu não chores e não gemas, Teu amor voltou agora. Ei-lo que chega das mansões extremas, Lá onde a loucura mora! (“Ressurreição”) e) As minhas carnes se dilaceraram E vão, das llusões que flamejaram, Com o próprio sangue fecundando as terras... (“Clamando”) 4. (UEFS – BA) Paisagem noturna A sombra imensa, a noite infinita enche o vale... E lá do fundo vem a voz Humilde e lamentosa Dos pássaros da treva. Em nós, – Em noss’alma criminosa, O pavor se insinua... Um carneiro bale. Ouvem-se pios funerais. Um como grande e doloroso arquejo Corta a amplidão que a amplidão continua... E cadentes, metálicos, pontuais, Os tanoeiros do brejo, Os vigias da noite silenciosa, Malham nos aguaçais. Pouco a pouco, porém, a muralha de treva Vai perdendo a espessura, e em breve se adelgaça Como um diáfano crepe, atrás do qual se eleva A sombria massa Das serranias. [...] BANDEIRA, Manuel. Paisagem noturna. Disponível em: <http:// www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira01.html>. Acesso em: 9 nov. 2014. Embora Manuel Bandeira seja autor da primeira geração modernista, propondo uma poética libertadora e transgressora, muitas vezes, retoma perfis poéticos de outras tradições literárias, como ocorre em relação ao X a) Simbolismo, através de versos que reproduzem a atmosfera crepuscular e obscura, como em “A sombra imensa, a noite infinita enche o vale.../ E lá do fundo vem a voz/ Humilde e lamentosa/ Dos pássaros da treva.” (v. 1-4). b) Realismo, pois, ainda que em versos, o eu poético assume postura crítica e niilista diante da estrutura social, metafo- rizada através da paisagem noturna: “Em nós,/ – Em noss’alma criminosa,/ O pavor se insinua...” (v. 4-6). c) Arcadismo, diante da valorização de elementos da natureza e da preferência por imagens bucólicas, como em “Um carneiro bale/ Ouvem-se pios funerais.” (v. 7-8). d) Romantismo, por meio de versos que reproduzem a idealização dos sentimentos e evasão através da morte, represen- tados por “Os vigias da noite silenciosa,/ Malham nos aguaçais.” (v. 13-14). e) Parnasianismo, na medida em que apresenta uma preocupação formal, através de métricas regulares, seleção voca- bular e temática voltada para a reflexão sobre um elemento da natureza, como em “Pouco a pouco, porém, a muralha de treva/ Vai perdendo a espessura, e em breve se adelgaça/ Como um diáfano crepe, atrás do qual se eleva/ A som- bria massa/ Das serranias.” (v. 15-19). 25Literatura Texto para as questões 5 e 6. Texto I Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava… Na dolência velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas em lânguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas… Tanta harmonia melancolizava. Cruz e Sousa Observação – volatas: progressão de notas musicais dolência: sofrimento 5. (MACKENZIE
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