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Bancos de dados e cadastros de consumidores APRESENTAÇÃO O Código de Defesa do Consumidor, nos seus artigos 43 e 44, versa sobre bancos de dados e cadastros de consumidores. Este assunto é muitas vezes causador de polêmicas nas relações entre consumidores e fornecedores, não é mesmo? Muito embora seja permitida a existência de arquivos de consumo que visam proteger a economia do país dos inadimplentes, foi preciso que a lei estabelecesse limites, tendo em vista que informações pessoais são privadas. Nesta unidade de aprendizagem, você vai ver a distinção entre banco de dados e cadastros e sua importância, o caráter público das entidades mantenedoras das informações dos consumidores, danos morais, danos materiais e a Lei 12.414/11 que disciplina a formação e a consulta a bancos de dados com informações de adimplemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar banco de dados de cadastros.• Aplicar os artigos 43 e 44 do Código de Defesa do Consumidor ao caso concreto.• Utilizar a Lei 12.414/11 em combinação com os preceitos do Código de Defesa do Consumidor. • DESAFIO A negativação é sinônimo de registro ou de inscrição em banco de dados frente a uma inadimplência. Para que haja a negativação é necessário que o consumidor não tenha pago uma dívida vencida e de valor líquido e certo. A A súmula 323 do STJ diz que a inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos Serviços de Proteção ao Crédito (SPC) até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução. A partir disso, clique na seguinte situação: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! INFOGRÁFICO No infográfico a seguir, clique nos itens e veja as principais diferenças entre Bancos de Dados e Cadastros, incluindo alguns exemplos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO O cadastro de inadimplentes e o direito do consumidor sofreu uma grande evolução nos últimos anos. Com isso, foram necessárias várias atualizações em todas as partes envolvidas. Para conhecer mais sobre o assunto, leia o capítulo Banco de Dados e Cadastros de Consumidores do livro "Direito do Consumidor". Boa Leitura! Conteúdo: DIREITO DO CONSUMIDOR Gustavo Santanna 4 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Diferenciar banco de dados de cadastros. • Aplicar os artigos 43 e 44 do Código de Defesa do Consumidor ao caso concreto. • Utilizar a Lei 12.414/11 em combinação com os preceitos do Código de Defesa do Consumidor. INTRODUÇÃO O Código de Defesa do Consumidor, nos seus artigos 43 e 44, versa sobre bancos de dados e cadastros de consumidores. Este assunto é muitas vezes causador de polêmicas nas relações entre consumidores e fornecedores, não é mesmo? Muito embora seja permitida a existência de arquivos de consumo que visam proteger a economia do país dos inadimplentes, foi preciso que a lei estabelecesse limites, tendo em vista que informações pessoais são privadas. A DISTINÇÃO ENTRE BANCOS DE DADOS E CADASTRO DE CONSUMIDORES A seção VI do capítulo III do CDC aborda o tema dos bancos de dados e cadastros de consumidores. Nesse particular, o artigo 43 coloca que o consumidor tem acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes. Os parágrafos deste artigo são esclarecedores quanto à matéria, e assim expõe: § 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos. § 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele. 5 § 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas. § 4° Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público. § 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores. § 6º Todas as informações de que trata o caput deste artigo devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis, inclusive para a pessoa com deficiência, mediante solicitação do consumidor Os bancos de dados são uma imposição do mercado e servem como fonte de consulta para os fornecedores no que diz respeito à concessão de créditos. Inicialmente, os bancos de dados eram individualizados por empresa ou grupo de empresas. Posteriormente, com a informatização e a necessidade de compilar essas informações (dados) em um só sistema, foram criadas entidades especificamente para essa finalidade e com o fito exatamente de centralizar essas informações, como só SPC – Serviço de Proteção ao Crédito – por exemplo. Junto às instituições financeiras, principalmente, temos a SERASA – Centralização de Serviços dos Bancos – que tem, fundamentalmente, o mesmo objetivo do SPC. Como bem afirma Leonardo Garcia (2015, p. 43): “o armazenamento de dados sobre consumidores é uma atividade lícita e permitida pelo CDC, devendo somente respeitar os preceitos legais, a fim de evitar abusos”. Este mesmo autor diferencia, didaticamente, os bancos de dados de cadastro de consumidores da seguinte forma (GARCIA, 2015, p. 345): 6 BANCO DE DADOS CADASTRO DE CONSUMIDORES Aleatoriedade da coleta (arquivista e fornecedor não são a mesma pessoa. Ex.: SPC e Serasa.) TNão é aleatório. É particularizado no interesse da atividade comercial (arquivista e fornecedor são a mesma pessoa.) Organização permanente das informações (fim em si mesmo. Quanto maior o banco, maior a credibilidade.) A permanência das informações é acessória (o registro não é um fim em si mesmo, está vinculado à relação entre consumidor e fornecedor.) Transmissibilidade externa (benefício de terceiros.) Transmissibilidade interna (circula e beneficia somente o fornecedor, e não terceiro.) Inexistência de autorização ou conhecimento do consumidor. Geralmente, há o conhecimento e anuência do consumidor. Também faz a distinção entre banco de dados e cadastro de consumo, Leonardo Roscoe Bessa (BENJAMIN, MARQUES, BESSA, 2014, p. 326-327), que, em síntese, aponta como principais critérios diferenciadores a origem da informação e o seu destino. No cadastro de consumo (consumidores), os estabelecimentos coletam dados pessoais para seus arquivos com o objetivo básico de se aproximar do consumidor (oferecer promoções, informações, etc., ou seja, a fonte é o próprio consumidor e o destino é o fornecedor específico. Já os bancos de dados, “cuja principal espécie são justamente as entidades de proteção ao crédito”, a informação é proveniente e tem como destino final os próprios fornecedores. Instrumento processual de acesso às informações De acordo com o artigo 43 “caput” do Código de Defesa do Consumidor, o consumidor tem acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais, sem prejuízo do artigo 86 do mesmo Código. Contudo, o artigo 86 foi vetado e fazia expressa menção de aplicabilidade do habeas data para tutelar os direitos e interesses dos consumidores. Ainda que vetado, a aplicabilidade deste instrumento processual não foi retirada dos consumidores (GARCIA, 2015, p. 346), afinal, conforme previsto no art. 5º, LXXII, da Constituição Federal de 1988 o habeas dataé o meio constitucional posto à disposição de pessoa física ou jurídica para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, bem 7 como para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. Serve também para proceder à anotação nos assentamentos do interessado, contestando ou explicando possível pendência sobre o fato objeto do dado. Esta garantia constitucional foi regulamentada pela Lei nº 9.507/97. De acordo com essa norma, artigo 7°, conceder-se-á habeas data: para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público; para a retificação de dados, quando não se prefira fazê- lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo ou para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável. Só tem cabimento a impetração do habeas data quando a informação, retificação ou anotação for negada ou pelo decurso do período constante no art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.507/97 (decurso de mais de dez dias sem decisão quanto ao acesso à informação; decurso de mais de quinze dias sem realizar a retificação ou decurso de mais de quinze dias sem decisão quanto à anotação). Logo, deve haver a provocação da instância administrativa, mas não necessariamente o seu esgotamento (SANTANNA, 2015, p. 403). Para Leonardo Roscoe Bessa (2014, p. 356), o prazo de retificação nos dados do requerido que, de acordo com a Lei 9.507/97, era de 10 dias, foi diminuído para 7 com a publicação da Lei nº 12.414/11 (artigo 5º, III). Não pode ser confundido com o direito de obter certidões (art. 5º, XXXIV, “b” da CF/88) ou informações de interesse particular, coletivo ou geral (art. 5º, XXXIII da CF/88), pois, havendo recusa no fornecimento da certidão ou informações de terceiros, o remédio constitucional disponibilizado é o mandado de segurança, e não o habeas data. Se o pedido efetuado for no sentido de assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, como visto, o remédio, aí sim, será o habeas data. As regras de competência originária estão previstas na Constituição Federal: • Artigo 102, I “d” – compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal. 8 • Artigo 105, I, “b” – compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar originariamente o habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal. • Artigo 108, I, “c” – compete aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar originariamente o habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal. • Artigo 109, VIII – compete aos juízes federais processar e julgar o habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais. Aponta James Marins (2011, p. 1.035) que, para que se afigure útil a ação de habeas data, deve-se requerer pedido de tutela provisória (artigo 294 a 311 do Código de Processo Civil), como determina, também, o artigo 84, §3º do CDC, uma vez que a efetivação do acesso, retificação ou anotação da informação, somente após a conclusão do processo pode se apresentar totalmente ineficaz. A responsabilidade pelas informações constantes nos bancos de dados É possível que algum registro constante em bancos de dados seja indevido. O Código de Defesa do Consumidor, nesses casos, excluiu a discussão acerca do dolo ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia) na realização da inscrição, imputando responsabilidade objetiva para fins de responsabilização civil. Para tanto, basta que o consumidor comprove o dano causado, a conduta (registro indevido) e o nexo causal entre estes. De acordo com a Súmula 404 do Superior Tribunal de Justiça, “É dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros”. São solidariamente responsáveis para fins de pagamento de indenização (moral ou material), tanto o fornecedor das informações quanto o banco de dados negativo. É o que se extrai da leitura do artigo 7º, parágrafo único, do CDC (LIMBERGER, 2011, p. 1128). De acordo com o artigo 43, §1º do CDC, as informações “negativas” a respeito do consumidor devem constar em um prazo máximo de 5 anos. Mas quando seria o início da contagem desse prazo? O STJ fixou como “data do fato gerador da informação depreciadora”, senão vejamos: RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. PRAZO 9 DE PERMANÊNCIA. ART. 43, §1º, DO CDC. CINCO ANOS. TERMO INICIAL. DATA DO FATO GERADOR DO REGISTRO. INTERPRETAÇÃO LITERAL, LÓGICA, SISTEMÁTICA E TELEOLÓGICA DO ENUNCIADO NORMATIVO. 1. Pacificidade do entendimento, no âmbito deste Superior Tribunal de Justiça, de que podem permanecer por até 5 (cinco) anos em cadastros restritivos informações relativas a créditos cujos meios judiciais de cobrança ainda não tenham prescrito. 2. Controvérsia que remanesce quanto ao termo inicial desse prazo de permanência: (a) a partir da data da inscrição ou (b) do dia subsequente ao vencimento da obrigação, quando torna-se possível a efetivação do apontamento, respeitada, em ambas as hipóteses, a prescrição. 3. Interpretação literal, lógica, sistemática e teleológica do enunciado normativo do §1º, do art. 43, do CDC, conduzindo à conclusão de que o termo ‘a quo’ do quinquênio deve tomar por base a data do fato gerador da informação depreciadora. 4. Vencida e não paga a obrigação, inicia-se, no dia seguinte, a contagem do prazo, independentemente da efetivação da inscrição pelo credor. Doutrina acerca do tema. 5. Caso concreto em que o apontamento fora providenciado pelo credor após o decurso de mais de dez anos do vencimento da dívida, em que pese não prescrita a pretensão de cobrança, ensejando o reconhecimento, inclusive, de danos morais sofridos pelo consumidor. 5. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (RESP. nº1.316.117/SC, Ministro João Otávio de Noronha, julgado em 26/04/2016) Quanto aos cuidados com relação aos dados cadastrados dos consumidores, a Corte da Cidadania já se manifestou magistralmente: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA. CADASTRO DE INADIMPLENTES. HOMÔNIMO. FALTA DE QUALIFICAÇÃO MÍNIMA DO INSCRITO. VIOLAÇÃO AO DIREITO À PRIVACIDADE. DEVER DE CUIDADO. INOBSERVÂNCIA. NEGLIGÊNCIA NA DIVULGAÇÃO DO NOME. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. 1. O Código do Consumidor disciplinou em uma única seção “os bancos de dados e cadastros de consumidores”, estabelecendo limites e critérios aos quais, na seara do mercado de consumo, podem ser desenvolvidos 10 e utilizados, sempre visando respaldar em específico a dignidade dos consumidores. 2. No tocante ao conteúdo dos dados arquivados, dispôs no § 1° do art. 43 que “Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos”. 3. Portanto, o ato registral, além da linguagem de fácil compreensão, com dados objetivos, deve ser claro - sem deixar dúvida, contradição - e, principalmente, verdadeiro - isto é, exato, completo, reproduzindo os fatos fielmente como são. 4. No caso em comento, acabou a recorrida construindo um perfil da recorrente que simplesmente não corresponde à realidade, atribuindo-lhe a pecha de má pagadora sem que houvesse razão para tanto. É que a faltade uma qualificação mínima (nome e CPF ou RG, ou nome e ascendência, dentre tantos outros critérios) demonstra que a recorrida não observou o básico para atender ao atributo da precisão na elaboração do cadastro. 5. É que da mesma forma que se proíbe as anotações de informações excessivas (art. 3°, § 3°, da Lei nº 12.414/2011), deve ser vedado o tratamento de informações módicas, escassas, insuficientes, sob pena de não se preservar o núcleo essencial do direito à privacidade. 6. De fato, na qualidade de administradora do banco de dados de proteção ao crédito, conforme impõe o CDC, deve ter total controle da informação que dissemina, inclusive para retificá-la ou excluí-la, sendo que a omissão de informação basilar na divulgação acaba por violar, além do princípio da veracidade, o princípio da boa-fé objetiva, haja vista a potencialidade danosa dessa conduta, configurando falha na prestação do serviço. 7. Saliente-se que, no caso, se trata de inscrição sponte própria, na qual o arquivista retira informações de domínio público, sem o dever de notificar o devedor, tão somente para abastecer o seu banco de dados com a finalidade precípua de auferir lucros, devendo, por isso, assumir os riscos e cuidados de sua atividade. 8. É pacífica a jurisprudência desta Corte “no sentido de que a ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição de seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, § 2º, do CDC, não dá ensejo à reparação de danos morais quando oriunda de informações contidas em assentamentos provenientes de serviços notariais e de registros, bem como de distribuição de processos judiciais, por serem de domínio público” 11 (Recl. n. 6.173/SP, 2ª Seção, Rel. Min. Raul Araújo, DJe de 15/3/2012). 9. Tal entendimento, contudo, só vem a reforçar o fato de que, como não há obrigação de notificação - oportunidade em que o devedor inscrito poderia solicitar a correção ou a exclusão -, o dever de zelo do arquivista deve ser muito maior. Deveras, justamente por estar isento do dever de notificação é que, nesses casos, o mínimo possível de informações para a identificação da pessoa que será registrada deverá ser respeitada, principalmente porque a finalidade do banco de dados é justamente prestar informações mais relevantes para a decisão de concessão de crédito. 10. Recurso especial provido. (RESP. nº 1.297.044/SP, Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 20/08/2015) Percebe-se que a Corte entende que não dá ensejo à reparação de danos morais a ausência de prévia comunicação ao consumidor da inscrição de seu nome em cadastros de proteção ao crédito, prevista no art. 43, §2º, do CDC, quando oriunda de informações contidas em assentamentos provenientes de serviços notariais e de registros, bem como de distribuição de processos judiciais, por já serem de domínio público. Pela leitura da Súmula 385 do Superior Tribunal de Justiça, não cabe indenização por dano moral da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. Além disso, é do credor, e não do devedor, o ônus da baixa da inscrição no cadastro de inadimplentes, como já decidiu o STJ: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL - DECISÃO MONOCRÁTICA NEGANDO PROVIMENTO AO RECURSO - INSURGÊNCIA DA RÉ. 1. É do credor, e não do devedor, o ônus da baixa da indicação do nome do consumidor em cadastro de inadimplentes. 2. As entidades mantenedoras de cadastros de crédito devem responder solidariamente pela exatidão das informações constantes em seus arquivos, excetuados dessa obrigação, apenas, os dados detidos exclusivamente pelo consumidor, como alteração de endereço residencial, por exemplo. Ademais, carece de razoabilidade a manutenção, por período superior a 3 anos, de notícia desabonadora extemporânea, o que revela grande desatualização do banco de dados, em afronta ao disposto no artigo 43, § 1º, do CDC. 12 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp nº 415.022/SC, Ministro Marco Buzz, julgado em 08/04/2014). Segundo a Súmula 359 do STJ: Cabe ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição. FIQUE ATENTO AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC NÃO VERIFICADA MANUTENÇÃO INDEVIDA DE NOME DE CONSUMIDOR EM CADASTROS DE INADIMPLENTES. ÔNUS DO CREDOR EM PROCEDER À BAIXA DEPOIS DO PAGAMENTO. QUANTUM FIXADO A TÍTULO DE DANOS MORAIS. RAZOABILIDADE. RECURSO MANIFESTAMENTE INFUNDADO E PROCRASTINATÓRIO. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 557, § 2º, CPC. 1. Não há falar em violação ao art. 535 do Código de Processo Civil quando o Tribunal de origem resolve as questões pertinentes ao litígio, afigurando-se dispensável que venha examinar uma a uma as alegações e fundamentos expendidos pelas partes. 2. É do credor, e não do devedor, o ônus da baixa da indicação do nome do consumidor em cadastro de proteção ao crédito, em virtude do que dispõe o art. 43, § 3º, combinado com o art. 73, ambos do CDC. A propósito, este último, pertencente às disposições penais, tipifica como crime a não correção imediata de informações inexatas acerca de consumidores constantes em bancos de dados. 3. Nos termos da jurisprudência consolidada neste Superior Tribunal de Justiça, a revisão de indenização por danos morais é possível em recurso especial quando o valor fixado nas instâncias locais for exorbitante, circunstância não observada na espécie, em que o Tribunal de origem fixou o valor da reparação em R$ 5.000,00. 4. O recurso revela-se manifestamente infundado e procrastinatório, devendo ser aplicada a multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC. 13 5. Agravo regimental não provido, com aplicação de multa. (AgRg no AREsp nº 307.336/RS, Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 22/10/2013) De acordo com a súmula 323 do STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos Serviços de Proteção ao Crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução. FIQUE ATENTO A Lei nº 12.414/2011 e o cadastro positivo de consumidores A lei publicada em 09 de junho de 2011 (12.414) disciplinou a formação e consulta a bancos de dados com informações de adimplemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito. Importante salientar que o compartilhamento de informação de adimplemento só é permitido se autorizado expressamente pelo cadastrado por meio de assinatura em instrumento específico ou em cláusula apartada e as informações não poderão constar de bancos de dados por período superior a 15 (quinze) anos Essa norma apresenta em seus artigos 2º e 3º, § 2º, uma série de conceitos como: I - banco de dados: conjunto de dados relativo a pessoa natural ou jurídica armazenados com a finalidade de subsidiar a concessão de crédito, a realização de venda a prazo ou de outras transações comerciais e empresariais que impliquem risco financeiro; II - gestor: pessoa jurídica responsável pela administração de banco de dados, bem como pela coleta, armazenamento, análise e acesso de terceiros aos dados armazenados; III - cadastrado: pessoa natural ou jurídica que tenha autorizado inclusão de suas informações no banco de dados; 14 IV - fonte: pessoa natural ou jurídica que conceda crédito ou realize venda a prazo ou outras transações comerciais e empresariais que lhe impliquem risco financeiro; V - consulente: pessoa natural ou jurídica que acesse informações em bancos de dados para qualquer finalidade permitida por esta Lei; VI - anotação: ação ou efeito de anotar, assinalar, averbar, incluir, inscrever ou registrar informação relativa ao histórico de crédito em banco de dados; e VII - histórico de crédito: conjunto de dados financeiros e de pagamentos relativos às operações de crédito e obrigações de pagamento adimplidas ou em andamento por pessoanatural ou jurídica. § 2º Para os fins do disposto no § 1º, consideram-se informações: I - objetivas: aquelas descritivas dos fatos e que não envolvam juízo de valor; II - claras: aquelas que possibilitem o imediato entendimento do cadastrado, independentemente de remissão a anexos, fórmulas, siglas, símbolos, termos técnicos ou nomenclatura específica; III - verdadeiras: aquelas exatas, completas e sujeitas à comprovação nos termos desta Lei; e IV - de fácil compreensão: aquelas em sentido comum que assegurem ao cadastrado o pleno conhecimento do conteúdo, do sentido e do alcance dos dados sobre ele anotados. De acordo com o artigo 8º da norma, são obrigações das fontes: manter os registros adequados para demonstrar que a pessoa natural ou jurídica autorizou o envio e a anotação de informações em bancos de dados; comunicar os gestores de bancos de dados acerca de eventual exclusão ou revogação de autorização do cadastrado; verificar e confirmar, ou corrigir, em prazo não superior a 2 (dois) dias úteis, informação impugnada, sempre que solicitado por gestor de banco de dados ou diretamente pelo cadastrado; atualizar e corrigir informações enviadas aos gestores de bancos de dados, em prazo não superior a 7 (sete) dias; manter os registros adequados para verificar informações enviadas aos gestores de bancos de dados; e fornecer informações sobre o cadastrado, em bases não discriminatórias, a todos 15 os gestores de bancos de dados que as solicitarem, no mesmo formato e contendo as mesmas informações fornecidas a outros bancos de dados. É vedado às fontes estabelecerem políticas ou realizarem operações que impeçam, limitem ou dificultem a transmissão a banco de dados de informações de cadastrados que tenham autorizado a anotação de seus dados em bancos de dados. FIQUE ATENTO As informações disponibilizadas nos bancos de dados somente poderão ser utilizadas para realização de análise de risco de crédito do cadastrado, bem como para subsidiar a concessão ou extensão de crédito e a realização de venda a prazo ou outras transações comerciais e empresariais que impliquem risco financeiro ao consulente. Atenção: o banco de dados, a fonte e o consulente são responsáveis objetiva e solidariamente pelos danos materiais e morais que causarem ao cadastrado. o banco de dados, a fonte e o consulente são responsáveis objetiva e solidariamente pelos danos materiais e morais que causarem ao cadastrado. ATENÇÃO 16 REFERÊNCIAS BENJAMIN, Antonio Herman; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 6.ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do consumidor: código comentado e jurisprudência. 11.ed., Bahia: JusPodivum, 2015. LIMBERGER, Temis. As informações armazenadas pela instituição bancária e o direito à intimidade do cliente. In: MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno (orgs.). Direito do consumidor: proteção da confiança e práticas comerciais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 1.107-1.136). MARINS, James. Habeas Data, antecipação de tutela e cadastros financeiros à luz do código de defesa do consumidor. In: MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno (orgs.). Direito do consumidor: proteção da confiança e práticas comerciais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 1.025- 1.037). MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 5.ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. SANTANNA, Gustavo da Silva. Direito administrativo. 4.ed., Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2015. Conteúdo: DICA DO PROFESSOR A lei 12.414/11 inovou o sistema legal brasileiro disciplinando o chamado cadastro positivo. Veja algumas de suas regulamentações no video a seguir, com a dica do professor. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Nos Serviços de Proteção ao Crédito, a inscrição de inadimplentes pode ser mantida: A) Por qualquer que seja o prazo, da prescrição relativa à cobrança do débito. B) Por, no máximo, três anos, salvo se maior o prazo de prescrição relativo à cobrança do débito, o qual prevalecerá sobre o triênio. C) Até que a dívida seja paga. D) Por, no máximo, dez anos e, consumada a prescrição relativa à cobrança do débito do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito com os fornecedores. E) Por, no máximo, cinco anos e, consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito com os fornecedores. 2) Sobre Banco de Dados, o CDC estabelece que: Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão A) fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito com os fornecedores. B) A abertura de cadastro, de ficha, de registro e de dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada ao consumidor por telefone ou por escrito, quando não solicitada por ele. C) Os órgãos públicos de defesa do consumidor manterão cadastros atualizados de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e de serviços, devendo divulgá-los pública e semestralmente. A divulgação indicará se a reclamação foi atendida ou não pelo fornecedor. D) Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores e os Serviços de Proteção ao Crédito e congêneres são considerados entidades de caráter privado. E) Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a três anos. 3) Sobre Banco de Dados e Cadastros pode afirmar que: A) Compete ao credor ou à instituição financeira a notificação do devedor antes de se proceder à inscrição no cadastro de proteção ao crédito. B) A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos cadastros de inadimplentes pelo prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução ou da ação de conhecimento para cobrança da dívida. C) Na comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros de inadimplentes é dispensável o aviso de recepção. O consumidor, que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua D) correção em até 10 dias, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas. E) O devedor não pode se ofender pela inscrição de seu nome nos cadastros de proteção ao crédito, mesmo sem a prévia notificação de sua inscrição. 4) Nos termos do parágrafo 2o do artigo 43 do CDC, a notificação da inscrição do nome do consumidor no Cadastro de Proteção ao Crédito cabe: A) Ao credor e ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito. B) Ao credor, exigindo-se o Aviso de Recebimento na carta de comunicação ao consumidor. C) Somente o órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito. D) Somente o credor deve notificar. E) Ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito sendo indispensável o Aviso de Recebimento na carta de comunicação ao consumidor. 5) Pedro teve seu nome inscrito no cadastro de proteção ao crédito por uma dívida, porém ao receber a notificação percebeu que o valor não estava correto. Sobre esta situação, qual das afirmações a seguir está de acordo? A) O direito de retificação de informações equívocadas prescreve em cinco dias da data de conhecimento do erro. B) Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. C) Os bancos de dados e o consulente são responsáveis objetiva e solidariamente pelos danos materiaise morais que causarem ao cadastrado. D) O direito brasileiro não admite o cadastro positivo de consumidores que permita a avaliação do risco na concessão de crédito, por ferir as normas protetivas do CDC. E) No cadastro positivo a fonte de informação provém do próprio consumidor. NA PRÁTICA Diz o artigo 43, § 3°: O consumidor sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas. Quer dizer que o consumidor ao identificar qualquer erro nos seus dados e cadastros deve imediatamente solicitar a correção. Com base nisso, clique no caso concreto sobre o tema. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Direito do Consumidor - Banco de Dados e Cadastro de Consumidores Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Banco de Dados e Cadastros de Consumidores. Entenda! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Lei nº 12.414, de 9 de junho de 2011. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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