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Pandemia e crises percepções jurídicas e sociais

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1ª Edição
AU TOR E S (A S):
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes – Ana Beliza Vasconcelos
Andreza Garcia da Rocha – Arethusa Baroni – Camila Rodrigues Espelho de Souza 
Elisa Sá Bartzen – Fábio Augusto de Souza – Fernanda Slowik Gomes dos Santos 
Francielli Piva Maciel – Henrique Marlon Lino dos Santos – Jaqueline Rosário Santana 
João Pedro Pereira de Queiroz – Jorge de Faria Neves Filho – Kelly Campos dos Santos 
Lígia Verônica Ferreira da Silva – Maria Aurora Medeiros de Lucena Costa
 Nathalya Dhervellyn Rabelo de Barros Araujo – Orlando Gomes da Silva
Raquel Bartholo – Regina Alice Rodrigues Araujo Costa
Romulo Rhemo Palitot Braga – Sérgio da Silva Pessoa
 Talitha Dias Martins Leite – Tatiana Lima Silva – Tatiana Sampaio Luna
Thaís Campolina Martins – Victor Sugamosto Romfeld
PR E FÁCIO:
Jailton Macena de Araújo
Recife-PE
2020
ORG A N I Z A D OR E S:
Regina Alice Rodrigues Araujo Costa
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes
Sérgio da Silva Pessoa
PANDEMIA E CRISES:
PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
Pandemia e Crises: Percepções Jurídicas e Sociais
ISBN: 978-65-882-4317-6
DOI: 10.29327/519418
Os(as) autores(as) desta obra gozam da mais ampla liberdade de opinião e de crítica, 
cabendo-lhes a responsabilidade das ideias e conceitos emitidos em seu trabalho.
Coordenação:
Regina Alice Rodrigues Araujo Costa
Organização:
Regina Alice Rodrigues Araujo Costa
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes
Sérgio da Silva Pessoa
Ilustração: Anna Bandeira
Diagramação: Vivianne Queiroz
Edição finalizada em 30 de julho de 2020.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Even3 Publicações, PE, Brasil)
P189 Pandemia e Crises: Percepções Jurídicas e Sociais. /
 Organizadores: Regina Alice Rodrigues Araujo Costa,
 Adrian Gabriel Serbim de Lima e Sérgio da Silva Pessoa. –
 1. ed. – Recife: Even3 Publicações, 2020.
 1 livro digital ; 257 p.
 Modo de acesso: Internet.
 DOI: 10.29327/519418
 ISBN: 978-65-88243-17-6
 1. Direito. 2. Sociedade. 3. Pandemia. I. COSTA, 
 Regina Alice Rodrigues Araujo. II. LIMA, Adrian Gabriel 
 Serbim de. III. PESSOA, Sérgio da Silva. IV. Título.
CDD 340
CDU 340
AU TOR E S E AU TOR A S
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes 
Advogado. Pesquisador independente de gênero. Membro da Comissão de Diversidade 
Sexual e Gênero da OAB/PE. Militante de direitos humanos. Colaborador no projeto 
es(trans)geiros - aulas de inglês para pessoas trans. Pós-graduando em Direito Médico e 
Direito Empresarial.
Ana Beliza Vasconcelos
Advogada, Mediadora, Mestranda pela Universidade Federal de Pernambuco, pesquisadora 
bolsista CAPES. Integrante do grupo de pesquisa Integração regional, globalização e direito 
internacional, da Universidade Federal de Pernambuco e do grupo de pesquisa Direito, 
contemporaneidade e transformações sociais, do Centro Universitário CESMAC.
Andreza Garcia da Rocha
Advogada. Especialista em Direito Homoafetivo e de Gênero pela Universidade de Santa 
Cecília (UNISANTA). Pós-graduanda em Direito Público pela Faculdade Legale. Pós-
graduanda em Direito Previdenciário pela Faculdade Legale. Bacharela em Direito pela 
Universidade Feevale.
Arethusa Baroni 
Especialista em Direito Homoafetivo e de Gênero – Unisanta. Especialista em Direito das 
Famílias e Sucessões pela Associação Brasileira de Direito Constitucional – ABDCONST. 
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Unicuritiba. Servidora pública junto ao 
Ministério Público do Estado do Paraná.
Camila Rodrigues Espelho de Souza 
Mestranda em Direito Civil pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da 
Universidade de São Paulo. Especialista em Direito Civil – LLM pela Faculdade de Direito 
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Especialista em Direito Processual Civil 
pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Especialista 
em Direito Homoafetivo e de Gênero pela Unisanta. Bacharel em Direito pela Faculdade 
de Direito do Centro Universitário Padre Albino - Catanduva, SP. Advogada inscrita na 
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP).
Elisa Sá Bartzen
Advogada. Pós-graduanda em Direito Empresarial pela Faculdade Legale. Bacharela em 
Direito pela Universidade Feevale.
Fábio Augusto de Souza
Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná; Pós-graduando em 
Filosofia Crítica do Direito pela UNIBRASIL; Pós-graduando em Filosofia e Teoria 
do Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Especialista 
em Direito Homoafetivo e de Gênero pela Universidade Santa Cecília, Santos/
SP; Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pelas Faculdades 
Integradas Curitiba; Especialista em Direito e Processo Civil pelo Pontifícia 
Universidade Católica de Curitiba, Graduado em Direito pelas Faculdades Integradas 
Curitiba/PR. Advogado. Membro do Grupo de Estudos em Trabalho, Economia e 
Políticas Públicas - TRAEPP/UFPR. 
Fernanda Slowik Gomes dos Santos
Pós-graduanda em Direito das Famílias e Sucessões pela Academia Brasileira de Direito 
Constitucional (ABDCONST), Curitiba/PR; graduada em Direito pelo Centro 
Universitário Curitiba/PR. Advogada.
Francielli Piva Maciel
Especialista em Sociologia Política pela Universidade Federal do Paraná; Especialista 
em Direito Tributário pela Academia Brasileira de Direito Constitucional 
(ABDCONST), Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do 
Paraná; Advogada.
Henrique Marlon Lino dos Santos
Discente do curso de Direito pela Universidade Federal da Paraíba, extensionista 
voluntário no grupo de extensão ‘Cadê a leitura? Ações e diálogos entre Direito e 
Literatura’ da Universidade Federal da Paraíba.
Jaqueline Rosário Santana
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da Universidade 
Federal da Paraíba, bolsista CAPES, Especialista em Direito Penal e Processo Penal e 
Graduada em Direito pela Universidade Federal de Campina Grande.
João Pedro Pereira de Queiroz
Bacharel em Serviço Social. Mestre em Política Social pela Universidade de Brasília. 
Especialista em Direito Homoafetivo e de Gênero pela Universidade Santa Cecília - 
UNISANTA
Jorge de Faria Neves Filho
Bacharel em Turismo pela Faculdade Integrada do Recife –FIR (2003), realizou a 
especialização em Gestão da Qualidade de Serviços pela Universidade de Pernambuco - 
UPE (2005), bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP 
(2010), advogado militante em direito consumerista.
Kelly Campos dos Santos
Especialista em Direito Previdenciário e do Trabalho pela Universidade Vale do Paraíba 
– UNIVAP. Especialista em Direito Homoafetivo e de Gênero pela Universidade Santa 
Cecília - Unisanta. Bacharel em Direito - Universidade Braz Cubas.
Lígia Verônica Ferreira da Silva
Especialista em Direito Administrativo pela UFPE; Bacharela em Direito; Advogada inscrita 
na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PE); Advogada/Chefa do Centro Municipal de 
Referência em Cidadania LGBT da Prefeitura do Recife; Membra da Comissão de Diversidade 
Sexual e de Gênero, da Comissão de Igualdade Racial e da Comissão da Mulher Advogada 
da OAB/PE; Membra da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Olinda; Cofundadora 
e Codiretora da Abayomi Juristas Negras; Professora; Pesquisadora e Produtora Cultural.
Maria Aurora Medeiros de Lucena Costa
Mestranda em Ciências Jurídicas no Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da 
Universidade Federal da Paraíba. Bolsista CAPES Graduada em Direito pela Universidade 
Federal de Campina Grande.
Nathalya D’Hervellyn Rabelo de Barros Araujo
Graduanda em Arquivologia pela Universidade Estadual da Paraiba. Atua como Diretora do 
departamento de política, comunicação e turismo da IDEPEC - BRA.
Orlando Gomes da Silva
Mestre em Engenharia de Produção (UFPB), graduado em Administração Hospitalar 
(IESP), professor da Universidade Federal de Campina Grande. Estuda as relações entre 
Teorias de Organização, Ciência, Tecnologia e Sociedade.
Raquel Bartholo
Advogada popular na Candanga AssessoriaPopular, Membro da Associação de Advogadas 
pela Igualdade de Gênero e Raça, graduada em direito, especialista em Políticas Públicas 
para Igualdade na América Latina.
Regina Alice Rodrigues Araujo Costa 
Mestra em Direitos Humanos pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da 
Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Direito Civil – UNIBF. Especialista 
em Direito Homoafetivo e de Gênero – Unisanta. Bacharel em Direito – Universidade 
Federal da Paraíba. Advogada inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PE). 
Membra da Comissão de Diversidade Sexual de Gênero – OAB/PE.
Romulo Rhemo Palitot Braga
Doutor e Mestre em Direito Penal pela Universitat de València - Espanha (2002-2006); Professor 
de Direito Penal da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Professor Permanente do Programa 
de Mestrado e Doutorado em Direito da mesma instituição PPGCJ/UFPB; Professor Permanente 
do Programa em Direito e Desenvolvimento do Centro Universitário de João Pessoa - PPGD/
UNIPÊ; Advogado e sócio do Escritório Rabay, Palitot & Cunha Lima - Advogados; Presidente 
da Associação Nacional da Advocacia Criminal - PB; Presidente do Superior Tribunal de Justiça 
Desportiva - STJD, da Confederação Brasileira de Automobilismo – CBA.
Sérgio da Silva Pessoa 
Advogado. Especialista em Direito Do Trabalho, Direito Público e Direito Previdenciário. 
Coordenador Municipal em Recife da Aliança Nacional LGBTI. Vice-Presidente da 
Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/PE.
Talitha Dias Martins Leite
Advogada, Mestranda pela Universidade Federal de Pernambuco, pesquisadora bolsista 
CAPES. integrante do grupo de pesquisa Integração regional, globalização e direito 
internacional, da Universidade Federal de Pernambuco e do grupo de pesquisa Direito,
contemporaneidade e transformações sociais, do Centro Universitário CESMAC.
Tatiana Lima Silva
Bacharela em Direito - Universidade Federal da Paraíba. Advogada inscrita na Ordem dos Advogados 
do Brasil (OAB/PB). Pós-graduanda em Advocacia Extrajudicial pela Faculdade Legale.
Tatiana Sampaio Luna
Bacharel em Turismo pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP (2003), 
também bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP (2007), 
realizou a especialização em Direito Judiciário e Magistratura do Trabalho pela ESMATRA 
6o Região em conjunto com a Faculdade Boa Viagem (2013) e Direito do Trabalho e Processo 
do Trabalho pela Escola Superior de Advocacia da OAB-PE em conjunto com a Faculdade 
Joaquim Nabuco (2014), advogada militante na área trabalhista, administrativista e sindical.
Thaís Campolina Martins
Graduada em Direito pela Faculdade Pitágoras - Campus Divinópolis e escritora.
Victor Sugamosto Romfeld
Doutorando e Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná 
(UFPR). Especialista em Direito Homoafetivo e Gênero pela Universidade Santa 
Cecília (UNISANTA). Especialista em Direito Penal e Criminologia pelo Instituto de 
Criminologia e Política Criminal (ICPC). Pesquisador na área das ciências criminais. 
Autor do livro “Inimigas da moral sexual e dos bons costumes: um estudo dos discursos 
jurídico-criminológicos sobre as prostitutas”.
Ao Demétrio Campos, Miguel Santana, Igor Potêncio, Jhonny 
Ferreira, João Pedro, Aline Gonzales, Leandra Jennifer, 
George Gomes, Fábio Alcântara, Moisé Santos e as mais de 
100.000 vidas inumeráveis, vítimas do coronavírus no Brasil.
“Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.”
Nada é impossível de mudar, Bertolt Brecht
S U M Á R IO
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6
Precarização do trabalho ‘uberizado’ em tempos de pandemia:
entre o vírus e a fome, uma análise da linha de frente invisibilizada
Apresentação
Prefácio
Prostituição brasileira e Covid-19: a difícil “vida fácil”
das prostitutas em tempos de pandemia
A transexistência e o mercado de trabalho no cenário urbano
em meio à pandemia do novo coronavírus
A importancia dos movimentos sindicais no combate a pandemia
“Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”: 
como a necropolítica atua a partir da ausência do estado na proteção de 
trabalhadoras e trabalhadores vulnerabilizados durante a pandemia
A suspensão do contrato de emprego da mulher vítima de 
violência doméstica em tempos de Covid-19 e a imputação da sua 
responsabilidade à luz da eficácia máxima dos princípios
e garantias fundamentais: quem paga esta conta?
O acesso ao emprego formal à luz do princípio da dignidade
da pessoa humana e o estabelecimento de cotas sociais para a 
inclusão de pessoas travestis e transexuais: uma urgência em
meio à pandemia gerada pelo Covid-19
Regina Alice Rodrigues Araujo Costa e Nathalya Rabelo Araujo
Victor Sugamosto Romfeld
Ana Beliza Gomes Lima Vasconcelos e Henrique Marlon Lino dos Santos
Sérgio da Silva Pessoa e Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes
Raquel Bartholo
Fábio Augusto de Souza, Fernanda Slowik Gomes dos Santos e Francielli Piva Maciel
Fábio Augusto de Souza e Francielli Piva Maciel
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Feminismo, desigualdade e pandemia: como a crise
da Covid-19 afeta a vida das mulheres?
‘E daí, quer que eu faça o quê?’: ref lexões sobre necropolítica
e grupos vulneráveis no contexto da pandemia
Guarda, convivência e alimentos em tempos de coronavírus: 
principais repercussões jurídico-sociais
Ação médico-humanitária em estados colapsados: a necessidade de 
uma abordagem transjurídica em tempos de Covid-19
Lacrimosa: o ritual de despedida e o direito ao luto
em tempos de pandemia
Entre letalidades contemporâneas:
se ficar o vírus come, se correr a polícia pega
Thaís Campolina Martins
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes
Arethusa Baroni, Camila Rodrigues Espelho de Souza e Regina Alice Araujo Rodrigues Costa
Maria Aurora Medeiros de Lucena Costa
Kelly Campos dos Santos
Tatiana Lima Silva
9 Os dados sociais sobre violência intrafamiliar contra pessoas LGBT+
Auxílio emergencial: “nunca vi, nem comi, eu só ouço falar”
João Pedro Pereira de Queiroz
Andreza Garcia da Rocha e Elisa Sá Bartzen
O direito à existência digna da criança autista em meio à
pandemia do Covid-19 sob o prisma da convenção da ONU
sobre os direitos das pessoas com deficiência
Ana Beliza Gomes Lima Vasconcelos e Talitha Dias Martins Leite
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Sistema de integridade pública e responsabilidade penal corporativa 
frente à flexibilização de contratos e licitações com a administração 
pública em contexto de pandemia
Jaqueline Rosário Santana, Romulo Rhemo Palitot Braga e Orlando Gomes da Silva
Direito administrativo: ref lexões sobre a crucialidade das decisões
político-administrativas no contexto das desigualdades no Brasil, 
realidades em calamidades de saúde pública históricas, Covid-19, 
agravamento da pobreza e morte
Lígia Verônica Ferreira da Silva
19
20
O acesso à seguridade social no Brasil durante a pandemia
do coronavírus: teoria vs. prática
O direito à desconexão: uma análise a partir da
pandemia do coronavírus
Andreza Garcia da Rocha
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes, Jorge de Faria Neves Filho e Tatiana Sampaio Luna
 Pandemia e crises, esse é o cenário em que o Brasil se apresenta no ano de 2020. 
Para além dos reflexos políticos, econômicos e sociais das medidas neoliberais adotadas 
com maior intensidade desde o Governo Temer, nosso país experimenta, desde o ano de 
2019, um ataque aos Direitos Humanos jamais visto, sob a dirigência do Presidente Jair 
Bolsonaro. 
 Há mais de três meses sem um titular para conduzir o Ministério da Saúde, a crise 
sanitária, provocada pela pandemia da Covid-19, doença causadapelo vírus Sars-CoV-2, 
desvelou a cruel realidade do país: déficit na saúde pública, precariedade do saneamento 
básico, falta de investimento em pesquisas e educação, altos índices de violência contra 
a mulher, negros(as), indígenas e LGBTI’s; marginalização dos grupos socialmente 
vulneráveis, despreparo governamental, ausência de respeitabilidade internacional, 
desvalorização dos(as) profissionais de saúde, precarização dos(as) trabalhadores(as) 
informais, desigualdade, necropolítica, desprezo pelo luto, insuficiência do acesso à 
seguridade social e ineficácia do sistema de integridade pública.
 O Brasil é o segundo país com maior mortalidade pela Covid-19¹, são mais de cem 
mil vidas perdidas, fora os casos subnotificados. Apesar da alta letalidade do coronavírus, os 
impactantes números aqui registrados são, também, reverberações das crises ora vivenciadas: 
econômica, política, sanitária e social. No espectro econômico, a adoção de uma agenda 
neoliberal impactou diretamente na flexibilização e precarização do trabalho (reforma 
trabalhista), redução dos investimentos públicos em educação e saúde pública (emenda 
constitucional do teto dos gastos), políticas públicas relacionadas à cidadania e igualdade, 
dentre outros direitos sociais. No político, o menosprezo do Presidente da República foi do 
discurso de: “É só uma gripezinha” até “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”, mesclado 
com propagação de notícias falsas, desvalorização da ciência, supremacia da economia em 
prol da vida, descumprimento de recomendações das autoridades sanitárias e divulgação 
de medicamentos sem devida comprovação de eficácia clínica; somado as denúncias de 
interferência na Polícia Federal e envolvimento de seus familiares em esquemas de corrupção, 
além das mazelas causadas por um governo que compactua com extermínio dos grupos 
vulneráveis e dita as regras de quem vive e quem morre. No sanitário, a falta de investimentos 
em saneamento básico e em saúde têm exposto problemas que, há tanto tempo, urgiam por 
mudanças — cerca de 20% da população vive em grandes vilas e favelas com deficiência 
de saneamento; no SUS temos falta de profissionais da área, de estrutura e equipamentos 
de alta complexidade nos hospitais, superlotação, tecnologia de baixa qualidade e baixo 
investimento em pesquisas. No social, as notícias que tomamos conhecimento todos os dias 
são um termômetro que revelam o estado de pirexia em que o país se encontra: LGBTfobia, 
A PR E SE N TAÇ ÃO
¹ Dado atualizado em 18/08/2020.
feminicídio, racismo, violência policial, violência contra crianças, idosos, índios, omissão 
daqueles que têm por obrigação assistir indivíduos em situação de vulnerabilidade.
 A combinação da pandemia com as crises ressentidas pelos(as) brasileiros(as), 
especialmente após as eleições de 2018, escancarou a realidade que já estávamos gritando 
aos quatro ventos, porém sem que fôssemos escutados(as), ou pior: fomos escutados(as), 
porém ignorados(as). Uma doença que transformou vidas em números, que mudou, 
talvez por completo, uma realidade que outrora conhecemos, exigiu que alguns outros 
questionamentos fossem feitos e novos direcionamentos apontados, no sentido de melhor 
compreender as condições que estruturam nossa realidade. 
 Foi assim que surgiu a ideia de organizar uma coletânea de artigos voltados aos 
aspectos jurídicos e sociais que se desenrolaram no atual contexto de excepcionalidade que 
vivenciamos, cientes do compromisso de que esses questionamentos não poderiam ficar 
apenas dentro de nós. Por isso, nesta obra, reunimos olhares críticos para as mais diversas 
situações jurídicas, sociais e de vulnerabilidade. Desejamos que a partir da leitura das 
diversas análises aqui abordadas, uma mudança dentro de nós seja provocada, e que essa se 
traduza no desejo de lutar por um futuro com menos desigualdades, em todos os aspectos.
Regina Alice Rodrigues Araujo Costa
Mestra em Direitos Humanos, Especialista em Direito Civil
e em Direito Homoafetivo e de Gênero. Advogada.
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes
Advogado. Pesquisador independente de gênero. Militante de direitos humanos.
Pós-graduando em Direito Médico e em Direito Empresarial.
Sérgio da Silva Pessoa
Advogado. Especialista em Direito Do Trabalho, Direito Público e Direito
Previdenciário. Coordenador Municipal em Recife da Aliança Nacional LGBTI.
Vice-Presidente da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/PE.
 Interessante a sensação de construir as linhas gerais que abrem uma obra. Introduzir 
primeiras falas sobre um conjunto tão amplo de temas, todos igualmente urgentes e 
essenciais, não é uma tarefa exatamente fácil; mais parece ser um lugar instigante, do qual, 
desafiado, eu ouso caminhar...
 Nessa trilha generosamente aberta por Regina (coorganizadora e autora de um dos 
textos), tento estabelecer um caminhar sereno, mas atento à profundidade de cada um dos 
trabalhos abrigados nesta obra tão vigorosa e necessária para os nossos dias, nos quais as 
violações aos direitos e as vulnerabilidades humanas são amplificadas pela pandemia da 
COVID-19. As mais variegadas facetas da questão social, dramaticamente afetada pelo 
“agora-persistente” da pandemia, está presente e é discutida ao longo dos textos.
 As formulações críticas de um tempo muito recente que pautavam discussões 
sobre direitos humanos e, mais propriamente, sobre violações e invisibilização de sujeitos 
subalternizados acabaram ainda mais expostas. A tarefa, entrementes, não se ocupa de um 
voo panorâmico, que, por definição, alarga o espectro de visão imagética do observador, 
ao tempo em que negligencia os detalhes presentes numa paisagem, feia ou bonita, mas 
sempre dinâmica e fértil à pesquisa do alcance e sentido das coisas que são vistas, ao 
longe. Dito de outro modo, as reflexões escritas na presente obra não se contentam com o 
“bibliografismo” descritivo e asséptico. Pelo contrário, busca-se “lupar”, sempre, a seiva e 
as raízes de cada concausa responsável pela tragédia humanitária por que passamos. 
 É assim que a belíssima obra reflete sobre as nuances da realidade social tensionada 
pelas diversas crises: trabalho, gênero, diversidade e relações familiares, proteção e 
assistência sociais, tecnologia e desconexão, poder e atuação do Estado no enfrentamento 
deste inimigo microscópico. Estamos vivendo tempos loucos, quarentenados e afastados 
das nossas realidades habituais, curvados ante a descoberta atrasada de que nossas 
responsabilidades são maiores do que imaginávamos... e que nossas preocupações 
cotidianas, dantes ignoradas, são lugar propício para construções metanoias que gerem 
efetividade e mudança... 
 O momento anterior, tão autofágico quanto ao uso do nosso tempo e à percepção 
de nossas necessidades parece não ter acabado. Estamos apenas experimentando a 
“desplatonização” de uma distopia, ainda mais cruel por não termos nos desincumbido 
do dever de transformar a realidade anterior. Os contornos graves do presente 
revelam, de forma impactante, que, agora, a autofagia mira nossa própria sanidade 
PR E FÁCIO
A previsão do tempo diz que o céu fechou... 
O poder da vitória vai curar a dor
O temporal agora vai cair em mim 
A chuva da vitória vai reinar no fim
(Rajadão, interpretada por Pabllo Vittar)
mental. Socialmente distanciados, tecnologicamente ultrapassados, substancialmente 
revoltados e intransigentemente ignorados, somos diuturnamente postos de joelhos, 
“no olho do furacão” dessa pandemia, e colocados à prova quanto a nossa capacidade 
solidária e de resiliência. 
 Fico a pensar se a previsão do tempo, que me diz que o céu fechou, encontra 
ressonância no que os antigos diziam a Zé, meu conterrâneo, quando vaticinou a crua 
verdade de que “na tortura, toda carne se trai”... e mais do que isso: que “normalmente, 
comumente, fatalmente felizmente, displicentemente o nervo se contrai... com precisão.” 
Inspirados por essa precisão do verso, o nervo contraído – e sujeito a tanto sofrimento– nos 
entrega raciocínios muito conectados ao propósito de avançar em busca de diagnósticos, 
mas também de emancipação crítica para evoluirmos na relação com o mundo do ser, do 
dever ser, do dever saber. 
 Na mesma medida em que os problemas sociais se impõem, invisibilizando sujeitos 
sociais hipervulnerabilizados pela multifacetada imposição de limites, revela-se também, 
ante os olhos de todos, os meios para a superação da crise pandêmica (também cíclica no 
capitalismo): solidariedade, empatia, organização social, construção de consensos e inclusão.
 As transformações anunciadas nas mais variadas distopias se colocam hoje presentes 
e nos atingem em cheio; mas a cura dos males (e do vírus) parece ser possível apenas com 
humanidade. E é o que esta obra descortina: a união de forças, a integração de planos, 
o lançamento à luz de todas as questões sociais que afetam as pessoas, tornando visível 
aquilo que é mais belo: a diversidade humana e a sua capacidade de resistir e reunir forças 
para enfrentar o inimigo (o vírus, o autoritarismo, a violência e o desgoverno).
 É a solidariedade, a empatia e a diversidade que formarão as cores do arco-íris que 
se acende e ilumina a caminhada na transição. Trazer à luz os temas aqui tratados permite 
que se ponha em xeque as políticas discriminatórias que impedem o acesso aos direitos 
pelas pessoas trans, mais pobres, precarizadas, sem acesso à educação. Revelar e questionar 
o que está posto permite que o elo da reprodução social dos preconceitos seja quebrado. É 
um processo longo, mas que já foi iniciado faz um tempo. 
 À custa de muita luta, suor e sangue, as organizações de trabalhadores, o movimento 
feminista, o movimento antirracista e os inúmeros coletivos capilarizados em defesa das 
populações LGBTQIA+ têm contribuído para aliviar o cheiro de mofo daquele repositório 
de ideias condenadas à reformulação eterna. Cada artigo aqui presente, cada palavra 
questionadora aqui incluída, cada tema enfrentado e denunciado impõem uma inflexão, 
que nos retira do curso normal das nossas rotas, muda nossas direções e nos retira do nosso 
caminho de acomodação. 
 A pandemia acabou servindo para isso: obrigar-nos a criar um desvio de rota que, 
como temporal, atingiu a todos – de modos bem distintos, é verdade, mas que nos convoca 
ao compromisso mútuo e solidário de destruir as barreiras que impedem o acesso amplo e 
irrestrito à própria humanidade. Essas reflexões, tão brilhantemente apresentadas, já são 
em si, pelo que representam – e representatividade importa! –, uma grande vitória! 
Eu me sinto muito honrado e lisonjeado por fazer parte, de alguma maneira, desta obra e 
desta comunidade tão plural e colorida. Que as próximas páginas nos acompanhem com 
a potência de um verdadeiro manifesto, fazendo-nos companhia e nos provocando nesses 
dias de quarentena que ainda nos restam até a vacina (contra o corona e contra todos os 
tipos de preconceito). 
Avante! O caminho está à frente. As inquietações são parte desta jornada!
Mais uma vez, aos organizadores, Regina, Adrian e Sérgio, minha eterna gratidão 
pela oportunidade! Aos autores minhas congratulações pela coragem e força em conduzir 
os debates com tamanha profundidade e comprometimento! E aos estimados leitores, 
ávidos e curiosos, uma excelente leitura... o caminho apenas inicia!
João Pessoa-PB, 16 de agosto de 2020.
Jailton Macena de Araújo
Doutor em Ciências Jurídicas
Professor do Curso de Direito e do PPGCJ/UFPB
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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Fonte: Reprodução/Instagram @leve.mente.insana - https://www.instagram.com/p/CCH9REJnKqk/
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO 
‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE 
PANDEMIA: ENTRE O VÍRUS E A 
FOME, UMA ANÁLISE DA LINHA
DE FRENTE INVISIBILIZADA
Regina Alice Rodrigues Araujo Costa¹
Nathalya Rabelo Araujo²
“Não recebi álcool em gel de nenhuma das empresas para as quais trabalho, nem mesmo 
mensagens dizendo que eu poderia retirar o produto em algum lugar. A gente passa 
fome. Você imagina a tortura que é andar com fome carregando comida nas costas?.”
Paulo Roberto da Silva, motoboy em vídeo disponível no canal Jornalistas Livres
¹ Mestra em Direitos Humanos pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade Federal de Pernambuco. 
Especialista em Direito Civil - UNIBF. Especialista em Direito Homoafetivo e de Gênero - Unisanta. Bacharel em Direito 
- Universidade Federal da Paraíba. Advogada inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PE). Membra da Comissão de 
Diversidade Sexual de Gênero - OAB/PE. E-mail: re.rodrigues.araujo@gmail.com.
² Graduanda em Arquivologia pela Universidade Estadual da Paraiba. Atua como Diretora do departamento de política, comunicação 
e turismo da IDEPEC - BRA. E-mail: rabelonathalya@gmail.com.
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE PANDEMIA:
ENTRE O VÍRUS E A FOME, UMA ANÁLISE DA LINHA DE FRENTE INVISIBILIZADA 
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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 A fala do motoboy Paulo Roberto da Silva repercutiu nas redes sociais, junto ao 
anúncio da primeira paralisação nacional dos entregadores de aplicativos (app’s), que ocorreu 
no dia 1º de julho de 2020, em meio a pandemia. Esse relato retrata só mais uma situação de 
exploração, dentre tantas outras sofridas pelos(as) entregadores(as) de plataformas, também 
chamados pelas empresas de ‘parceiros’ e ‘colaboradores’.
 O mito da parceria, vendido por empresas como Uber, iFood, Rappi, 99, Cabify, 
dentre outros aplicativos, para encobrir a exploração de uma relação de trabalho precária, 
não é nenhuma novidade. Diversas pesquisas tratam do assunto desde o surgimento dessas 
empresas, tanto no Brasil, como em diversos países, conforme podemos observar em 
Sahuquillo (2015), Sundararajan (2015), Mena (2016), Woodcock (2016), Costa (2017), 
Abílio (2017), Antunes (2018), Abílio (2019), Franco e Ferraz (2019), Abílio (2020) e etc.
 A proposta deste ensaio reside em tratar da vulnerabilidade dos(as) trabalhadores(as) de 
app’s em tempos de pandemia, mais especificamente os(as) subordinados³(as) as plataformas 
digitais de delivery. Para além da adoção de uma perspectiva crítica sobre a exploração e 
flexibilização do trabalho uberizado, com base em uma revisão bibliográfica e em uma pesquisa 
documental, subsidiada por uma análise qualitativa (MINAYO, 2009), também abordaremos 
sobre a invisibilidade desses atores enquanto uma parcela da linha de frente do atual cenário 
brasileiro de pandemia e crises (sanitária, comportamental, política e econômica).
MUNDO DO TRABALHO UBERIZADO
 Dentre as correntes sociológicas de análise do mundo do labor, diversos conceitos 
são abordados, com algumas diferenciações, para tratar da uberização do trabalho, que se 
capilariza cada vez mais na nossa sociedade capitalista globalizada, marcada pelos altos 
índices de desemprego em diversos países, além da corrosão dos direitos sociais e de suas 
conquistas históricas (ANTUNES, 2018).
 Expressões como ‘trabalhador(a) zero horas’, ‘nanoempreendedor-de-si’, 
‘colaborador(a)’, ‘trabalhador(a) just-in-time’, ‘trabalho sob demanda’, ‘trabalho ultra 
flexível’, ‘economia de plataforma’, ‘economia compartilhada’, aplicadas ao contexto de 
precarização, são termos muitas vezes sinônimos, com pequenas diferenciações práticas a 
partir da perspectiva teórico-crítica adotada por seus defensores. 
 Para fins deste trabalho, utilizaremos o termo ‘uberização’ como uma expressão 
guarda-chuva, sem adentrar nas diferenciações práticas e/ou teóricas apresentadas nas 
expressões similares acima mencionadas. Abílio (2017, 2019) demonstra que a ‘uberização’ 
não se inicia com a atuação da empresa Uber, tampouco se restringe a ela, a autora observa 
que o processo de uberização possui raízes históricas com o processo de flexibilização 
do trabalho forjadas no contexto das políticas neoliberais, de modo que a uberização do 
I N T RODUÇ ÃO
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ENTRE O VÍRUS E A FOME, UMA ANÁLISE DA LINHADE FRENTE INVISIBILIZADA 
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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trabalho se refere a uma nova forma de gestão, organização e controle do trabalho.
 Abílio (2019) também analisa que o trabalhador uberizado encontra-se inteiramente 
desprovido de garantias, direitos ou segurança associados ao trabalho; arca com riscos e custos 
de sua atividade; está disponível ao trabalho e é recrutado e remunerado sob novas lógicas. 
Assim, a uberização conta com um gerenciamento de si que, entretanto, é subordinado e 
controlado por novos meios, que hoje operam pela automatização em dimensões gigantescas 
de extração e processamento de dados; estão em jogo novas formas de gerenciamento, controle 
e vigilância do trabalho, por meio das programações algorítmicas. 
 Nessa modalidade de trabalho, a predominância da natureza flexível que beneficia 
o contratante de serviços, pois as empresas-aplicativos só pagam aos contratados quando o 
trabalho está disponível, quando se precisa da execução dos serviços, de maneira que não 
há custos de pessoal quando a demanda não existe.
 Trata-se muito mais de um contrato independente que de uma relação de trabalho, 
visto que não há qualquer proteção trabalhista ou direito humana do trabalhador envolvido 
nesse tipo de relação, ou seja, não se tem proteção contra demissão injusta, direito aos 
pagamentos por despedimento, direito ao salário mínimo ou direito às férias.
 Sob o mito da parceria, as plataformas de serviços intitulam as atividades prestadas 
pelos profissionais a ela vinculadas como uma relação de ‘parceria’ ou ‘colaboração’. A 
relação de parceria, a bem da verdade, é apenas uma falácia, há um rígido controle 
das plataformas digitais em relação à qualidade do serviço prestado, com sistemas de 
avaliações por parte dos usuários, que podem gerar, em casos negativos, a expulsão da 
plataforma, de modo a impedir qualquer prestação de serviço posterior, além de uma 
exploração econômica percentual sob todas as atividades realizadas sob a supervisão 
das plataformas.
 Essa nova modalidade de exploração do trabalho é chamada por Santana e Braga 
(2020) de uberismo, um regime que, conforme os autores, representa a mobilização e 
controle da força de trabalho que se apoia na espoliação radical dos direitos trabalhistas 
via a ‘plataformização’ do trabalho, ou seja, uma submissão dos trabalhadores ao 
despotismo da ‘nuvem algorítmica’ monopolizada por startups capitalizadas por fundos 
de investimentos de risco.
³ Adotamos aqui o entendimento de subordinação, por avaliarmos que na uberização há sempre uma posição de supremacia das 
empresas-aplicativos em relação aos(as) trabalhadores(as) uberizados, pois estes(as) não possuem a possibilidade de determinar seus 
preços, suas corridas/entregas ou ainda os perfis de usuários que serão atendidos, os preços são pré-definidos pela empresa, além de 
haver umrigoroso controle das plataformas através de sistemas de avaliação, dentre outras formas de monitoramento.
BREQUE DOS APP’S, INVISIBILIDADE E LINHA DE FRENTE
 Diversos serviços foram enquadrados como atividades essenciais no contexto de 
pandemia, conforme o art. 3º do Decreto nº 10.282/2020, para subsidiar toda a engrenagem 
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE PANDEMIA:
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de distanciamento social, protocolos de segurança, lockdown e etc. O mesmo artigo do 
referido decreto, em seu inciso XXII inclui os serviços de transporte, armazenamento, 
entrega e logística de cargas em geral, no rol das atividades essenciais. 
 Dentro do espectro de trabalhadores(as) da economia de aplicativo, os(as) 
entregadores(as) são os(as) mais facilmente identificáveis: transitam por toda a cidade com 
suas mochilas estampando as cores e logomarcas das principais empresas – UberEats, Rappi, 
iFood, Loggi, James, dentre outras de atuação local. 
 Aplicativos como Rappi, James e iFood já disponibilizavam, antes mesmo da pandemia, 
a possibilidade de efetuar compras em farmácias, supermercados, além dos tradicionais 
estabelecimentos de comida. Essa facilidade de compras sem deslocamento e/ou contato 
físico, fez com que as empresas-aplicativos aumentassem significativamente seus pedidos, 
como o caso da Rappi, que, conforme dados divulgados em abril, registrou aumento de 30% 
nos pedidos, em virtude da crise sanitária (FILGUEIRAS, 2020). 
 Apesar disso, sua atuação na linha de frente da pandemia é invisibilizada e cada vez 
mais precarizada. Recentemente, o caso do entregador Mateus, que foi vítima de agressões 
verbais e racismo por um cliente, viralizou na internet4. As condições aviltantes que os(as) 
profissionais se submetem, intensificaram-se ainda mais no cenário de pandemia, de acordo 
com a pesquisa realizada por Abílio et al (2020), intitulada “As condições de trabalho de 
entregadores(as) via plataforma digital durante a Covid-19”, demonstra que: 62% trabalham 
mais de nove horas por dia, 51,9% trabalham os sete dias da semana, enquanto 26,3% deles(as), 
seis dias, além disso, apesar do aumento de pedidos, a maioria dos(as) entrevistados (58,9%) 
relatou queda remuneratória durante a pandemia da COVID-19, quando comparado com o 
momento anterior4; a maioria dos (as) entrevistados(as) (57,7%) afirmaram não ter recebido 
nenhum apoio das empresas para diminuir os riscos de contaminação existente durante a 
realização do seu trabalho e 42,3% disseram ter recebido insumos de proteção das empresas 
ou orientações de como trabalhar de forma mais segura e, por fim, que 83,2% dos(as) 
entrevistados(as) relataram que têm medo de serem contaminados(as) durante a prestação 
dos serviços em tais condições, o que demonstra a tensão, receio e a ansiedade que gira em 
torno da atividade por eles(as) exercida.
 Essa pesquisa também demonstrou que apenas 5,4% das pessoas respondentes não se 
identificaram como homens6, o próprio iFood informou que dos 170 mil cadastros ativos na 
plataforma, apenas 1,8% são mulheres (SOUPIN, 2020). Todavia, apesar da predominância 
de homens, não podemos invisibilizar as demandas e relatos específicos das mulheres nessa 
4 Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/08/07/entregador-e-vitima-de-agressoes-verbais-e-racismo-
em-valinhossp.ghtml. Acesso: 09 ago. 2020.
5 Sobre o assunto, Abílio et al (2020) observa que “é possível, então, aventar a possibilidade de que as empresas estejam promovendo 
o rebaixamento do valor da força de trabalho daqueles que já se encontravam nesta atividade antes da pandemia, prática que seria 
amparada pelo aumento do contingente de trabalhadores de reserva e adoção de forma nociva de uma política de aumento do 
número de entregadores.”
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE PANDEMIA:
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6 O questionário apresentou as seguintes opções: sexo feminino, masculino, outro. A pesquisa não detalhou o percentual específico 
para feminino e outros, apenas demonstrou que 94,6% declararam ser do sexo masculino. Também enfatizamos que o critério sexo, 
ao invés de gênero, foi adotado pelos(as) pesquisadores(as) Abílio et al (2020).
7 No ano de 2016, em Londres, entregadores(as) da Deliveroo, uma das maiores plataformas digitais de entregas terceirizadas, com 
milhares de ciclistas e motociclistas, organizaram um protesto em frente à sede da empresa, o ato agrupou centenas de motociclistas e 
posteriormente tomou as ruas, esbravejando suas reivindicações, inclusive em português, devido ao grande número de trabalhadores 
brasileiros. Após a manifestação, foi estabelecida uma greve onde os trabalhadores deixaram de aceitar os pedidos do aplicativo e 
passaram a realizar atos todos os dias na porta da sede da empresa além de saírem dirigindo em grandes grupos pela cidade – tanto 
no intuito de mobilizar mais trabalhadores como para visitarrestaurantes que usam o serviço. A mobilização também abrangeu 
trabalhadores de outras plataformas com serviços similares, como a UberEATS. O Tribunal de Trabalho Britânico, também em 2016 
determinou no caso de um grupo de motoristas da Uber que esses não figuravam como autônomos, mas sim como trabalhadores que 
necessitam dos direitos trabalhistas essenciais, incluindo o pagamento do salário mínimo nacional e férias remuneradas.
atividade. Soupin (2020), em reportagem elaborada para a Uol, reuniu as dificuldades 
específicas enfrentadas pelas mulheres: boicote ao trabalho feminino (aplicativos enviam 
mensagens informado que determinadas entregas só podem ser feitas por homens), menor 
disponibilização de corridas, bolsa de entrega com alças que machucam os seios, assédio de 
clientes na entrega dos pedidos, dentre outras. 
 Nesse aspecto, as condições já existentes de precarização, reflexos da crise econômica e 
social brasileira, somadas ao cenário de crise sanitária, culminou na organização da paralisação 
dos(as) entregadores(as) de aplicativos, autodenominada #BrequeDosApp’s, que, até o 
momento, ocorreram nos dias 01 e 25 de julho. A inicativa foi a primeira greve de articulação 
nacional7 dos(as) trabalhadores(as) de plataforma. Dentre as principais reivindicações do 
grupo, temos: reajuste das taxas de entrega (criação de uma tabela mínima para o serviço e o 
reajuste do percentual de entrega que é repassado para os(as) entregadores(as), seguro contra 
acidente, distribuição de EPI’s (máscaras e álcool em gel), licença remunerada em caso de 
doença, acesso a banheiro e água potável e o fim dos bloqueios injustificados dos aplicativos.
 Observa-se que a pauta do movimento tem como reivindicações questões essenciais 
relacionadas às condições de trabalho e a dignidade da pessoa humana, ou seja, os direitos 
humanos do trabalhador, entendidos como todos aqueles que promovem sua dignidade 
e que garantem condições para realização do trabalho, tais como salário digno, jornada 
limitada, condições razoáveis de higiene e segurança etc. Como pode um(a) trabalhador(a) 
não ter um ponto de apoio com água potável e banheiro? Ou ainda, em meio ao cenário 
de pandemia, ao ter contato com diversos estabelecimentos (supermercados, restaurantes, 
lojas, farmácias) e ambientes (entrada dos prédios, elevadores, etc.), não ter o mínimo de 
equipamentos necessários – álcool em gel, máscaras - para garantir a própria proteção e a 
das demais pessoas envolvidas na cadeia de compra das empresas-aplicativos (consumidores, 
funcionários(as) dos estabelecimentos parceiros e etc.)? São exigências atreladas ao mínimo 
de garantia para o exercício da atividade laboral, bem como de direitos relacionados 
à saúde, pois, até mesmo a utilização de máscaras é fator obrigatório para ingresso em 
estabelecimento comercial em diversos estados8. 
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PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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 Uma interessante verificação de Woodcock (2016), ao analisar o movimento grevista 
formado em 2016 pelos(as) entregadores(as) da Deliveroo, e que se aplica a organização 
adotada no Brasil é de que:
Os contratos de trabalho como autônomos permitiram que os trabalhadores pudessem entrar em greve 
muito mais rapidamente do que poderiam com os sindicatos tradicionais. Ao invés de entrar com uma 
notificação formal, fazer assembleias e navegar a reboque da burocrática legislação sindical, os trabalhadores 
puderam simplesmente parar os pedidos de entrega – é só desligar o aplicativo e entrar em ação. Ao retirar 
os direitos garantidos em lei a esses trabalhadores através do falso contrato como autônomo, essas empresas 
da economia dos bicos acabaram retirando também a proteção legal aos empregadores que restringia a 
organização por local de trabalho, transformando a fraqueza da precariedade numa força.
 Na mesma linha, Antunes (2018) observa que a precarização não é algo estático, 
mas um modo de ser intrínseco ao capitalismo, um processo que pode tanto se ampliar 
como se reduzir, dependendo diretamente da capacidade de resistência, organização e 
confrontação da classe trabalhadora.
 Por isso, os movimentos organizados nos dias 01 e 25 de julho representam uma 
importante iniciativa de organização e mobilização dos(as) entregadores(as), além disso, sua 
visibilidade tomou proporções gigantescas: a hashtag #BrequeDosApps se tornou um dos 
assuntos mais falados no twitter por 5h e contabilizou mais de 37 mil postagens (MDADOS, 
2020). No dia 25 de julho, apesar da menor visibilidade nas redes sociais, a paralisação 
ocorreu em diversas capitais do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, 
São Luiz, Curitiba, Fortaleza, Piauí e Belo Horizonte.
 Além disso, a articulação grevista também atuou de modo a mobilizar os(as) usuários(as) 
dos aplicativos, através das seguintes medidas: a utilização de hashtags nas redes sociais, como 
por exemplo ‘#BrequeDosApps’, ‘#ApoioBrequeDosApps’, ‘#1DiaSemApp’, inutilização das 
plataformas de delivery no dia da paralisação, avaliação negativa dos aplicativos.
8 Decreto Estadual 64.959/2020 - SP; Lei nº 8.859/2020 - RJ; Decreto 40.242/2020 - PB; Decreto n° 40.648/2020 - DF; Decreto 
55.240/2020 - RS; Decreto nº 49.055/2020 – PE, dentre outros. Além disso, a Portaria nº 1.565/2020 do Ministério da Saúde, que 
estabelece orientações gerais visando à prevenção, ao controle e à mitigação da transmissão da COVID-19, determina como uma 
das medidas a utilização de máscaras em todos os ambientes, incluindo lugares públicos e de convívio social. A nível nacional, a Lei 
14.019/2020, que alterou a Lei nº 13.979/2020, dispõe em seu art. 3º-A que "é obrigatório manter boca e nariz cobertos por máscara 
de proteção individual, conforme a legislação sanitária e na forma de regulamentação estabelecida pelo Poder Executivo federal, para 
circulação em espaços públicos e privados acessíveis ao público, em vias públicas e em transportes públicos coletivos.", o dispositivo 
tinha previsão específica da obrigatoriedade de utilização de máscara em estabelecimentos comerciais, mas tal disposição foi vetada 
pelo Presidente Jair Bolsonaro.
POSICIONAMENTO DAS EMPRESAS APÓS OS
MOVIMENTOS GREVISTAS
 Diversos canais de comunicação cobriram os movimentos grevistas do dia 01 e 25 
de julho, e, com o compromisso de verificação jornalística, entraram em contato com as 
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE PANDEMIA:
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PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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principais empresas para conferir seu posicionamento e averiguar as principais mudanças 
realizadas para atender as pautas de reivindicação dos(as) trabalhadores(as).
 Reunimos os principais pontos da matéria realizada em 01 de julho de 2020 pelo 
site Repórter Brasil:
Pronunciamento da Loggi - a empresa informou que só se cadastra na 
plataforma quem for Microempreendedor Individual (MEI), de maneira 
que, na condição de MEI, os(as) trabalhadores(as) têm acesso à cobertura 
da seguridade social oferecida pelo INSS, como o auxílio-doença ou ainda 
a renda básica emergencial oferecida pelo governo. Afirmou que todos 
os(as) entregadores(as) também contam com: disponibilização de kits de 
proteção e prevenção com álcool em gel, luvas e máscara, comunicações 
diárias sobre métodos de prevenção, monitoramento diário de sintomas 
via formulário e aferição de temperatura nas agências Loggi, oferta de 
vouchers para consultas online caso o(a) entregador(a) apresente sintomas 
de Covid-19 (REPÓRTER BRASIL, 2020);
Pronunciamento da Uber - a empresa comunicou que implementou uma 
política onde qualquer motorista ou entregador(a) que for diagnosticado(a) 
com a COVID-19, ou tiver quarentena individual solicitada por uma 
autoridade de saúde ou por um(a) médico(a) pelo risco de disseminar a 
COVID-19, recebe assistência financeirapor até 14 dias, enquanto estiver 
impossibilitado de usar a plataforma. O valor da assistência financeira 
é baseado na média diária de ganhos nos três meses anteriores ao pedido. 
Também relatou que desde o início da pandemia, motoristas e entregadores(as) 
podem solicitar, por meio do próprio aplicativo, reembolso para itens de 
proteção, como álcool em gel e máscaras. Que a Uber possui Centro de 
Higienização voltado a motoristas e entregadores parceiros no Brasil como 
uma iniciativa adicional para proporcionar acesso a esses itens. Observou 
que possui uma parceria que oferece descontos em consultas médicas na rede 
de atendimento privada. Por fim, disse que em todas as entregas efetuadas pela 
plataforma estão cobertas por um seguro para acidentes pessoais, sem nenhum 
ônus aos(as) ‘parceiros(as)’ e usuários(as) (REPÓRTER BRASIL, 2020);
Pronunciamento do iFood - A empresa afirmou que iniciou em abril a 
distribuição de EPIs (álcool em gel e máscaras reutilizáveis) em kits com 
duração de pelo menos um mês, com uma logística específica para retirada 
desses materiais, para evitar aglomerações. Além disso, que oferece, desde o 
fim de 2019, a todos os(as) entregadores(as) cadastrados(as) em sua plataforma 
a)
b)
c)
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE PANDEMIA:
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PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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o Seguro de Acidente Pessoal. Pontua também que respeita a liberdade de 
manifestação e que em nenhuma hipótese entregadores(as) são desativados(as) 
por participar de movimentos, sendo tal medida tomada somente quando há 
um descumprimento dos Termos & Condições para utilização da plataforma. 
Sobre os preços, observa que todas as rotas têm um valor mínimo de R$5,00 
por pedido, mesmo que seja para curta distância. Por fim, alegaram que 
durante a pandemia criaram dois fundos solidários voltados a entregadores(as). 
O primeiro dá suporte aos(as) profissionais que necessitem permanecer 
em quarentena por conta da doença. Com ele, o(a) entregador(a) recebe do 
fundo solidário um valor baseado na média dos seus repasses nos últimos 30 
dias, proporcional a 28 dias de quarentena. Já o segundo fundo apoia os(as) 
‘parceiros’ que fazem parte de grupos de risco, para que eles(as) possam 
permanecer em isolamento (pessoas com mais de 65 anos ou em condições de 
risco pré-existentes), os(as) trabalhadores(as) permanecem em isolamento até 
o final de dezembro, recebendo do fundo um valor baseado na média dos seus 
repasses nos últimos 30 dias ativos (REPÓRTER BRASIL, 2020);
Pronunciamento da Rappi - a empresa pontuou que já oferece, desde o ano passado, 
seguro para acidente pessoal, invalidez permanente e morte acidental. Que estão 
intensivamente distribuindo álcool em gel e máscaras para os(as) entregadores(as), 
assim como os(as) orientando quanto aos procedimentos de uso. Alertou que 
disponibiliza no aplicativo do(a) entregador(a) um botão específico para que ele(a) 
notifique a Rappi caso apresente sintomas compatíveis com Covid-19 ou confirme 
o diagnóstico, e assim, deixe de prestar serviços no aplicativo e seja imediatamente 
orientado(a). Afirmou que criaram um fundo que apoiará financeiramente 
‘parceiros(as)’ com sintomas ou confirmação da COVID-19 pelo período de 15 
dias em que eles(as) precisarão cumprir a quarentena. Que há total liberdade 
dos(as) trabalhadores(as) para se conectar ao aplicativo sem restrições de tempo 
e sem exclusividade, e que não há bloqueios em decorrência de participação em 
manifestações no exercício de seus direitos. Por fim, destacou que o sistema de 
pontos é uma forma de melhoria do serviço, onde há reconhecimento dos(as) 
entregadores(as) de melhor nível (REPÓRTER BRASIL, 2020);
d)
 Frisamos que os posicionamentos proferidos pelas empresas após o segundo dia de 
paralisações (25 de julho) não trouxeram pontos diferentes dos acima mencionados.
 Queremos aqui contrapor algumas declarações das principais empresas-aplicativos, 
todavia, primeiro ressaltamos que não é a finalidade deste trabalho fazer uma análise 
comparativa entre as demandas dos(as) trabalhadores(as) e a efetividade das políticas e 
termos e condições das plataformas digitais.
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9 Disponível em: http://www.dmtemdebate.com.br/entregadores-e-motoristas-de-apps-denunciam-falhas-no-pagamento-de-licenca
s-por-covid-19/. Acesso em: 29 jul. 2020.
10 Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2020/07/entregadores-e-motoristas-de-apps-denunciam-falhas-no-pagamento-de-lice
ncas-por-covid-19/. Acesso em: 29 jul. 2020.
11 Disponível em: https://uber.uhuu.com/. Acesso em : 29 jul. 2020.
12 Disponível em: https://esquerdaonline.com.br/2020/06/27/sete-motivos-para-apoiar-a-paralisacao-nacional-dos-entregadores-de-
apps-breque/. Acesso em: 26 jul. 2020.
Não consegui pegar as máscaras que o iFood liberou, tinha que passar em um lugar específico para retirar e 
era bastante longe para mim. Eu trabalho de bicicleta. Agora, preciso pagar as contas, ficar em casa não dá. 
Se eu paro, não tem sobrevivência em casa e a gente morre de outra forma.
 Dito isto, cabe observamos os seguintes pontos: 
 Em termos gerais, a maioria das plataformas afirma que possuem canal de 
comunicação onde disponibilizam medidas preventivas todos os dias, além de políticas de 
auxílio para o caso de profissionais que comprovem o diagnóstico. Porém, os relatos das 
pessoas que tentaram solicitar o auxílio, demonstram uma falta de retorno da plataforma9, 
além da dificuldade de contatar o suporte para tirar dúvidas ou até mesmo estabelecer 
uma comunicação direta. Os app's também afirmam que só há bloqueio quando os(as) 
entregadores(as) violam os termos e condições da plataforma, mas, Paulo Lima, conhecido 
como ‘o galo’, um dos líderes do movimento ‘Entregadores antifascistas’, que auxiliou na 
organização dos protestos, além de ter sido bloqueado na plataforma uber, informou que 
suas demandas diminuíram no Rappi e no iFood após suas denúncias10 contra as empresas. 
 Em termos específicos, temos que: A Uber informou que disponibilizou centros de 
higienização e retirada de equipamentos de proteção, porém, ao acessarmos o site destinado 
para agendamentos11, verificamos que o serviço só está disponível em Porto Alegre, 
Florianópolis, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. A Rappi, ao 
afirmar que o sistema de pontos, uma das pautas de reivindicação do movimento (cabe frisar 
que até o momento, apenas a Rappi adota essa política), é um reconhecimento para os(as) 
melhores entregadores(as), negligencia as denúncias de que esse sistema força que as pessoas 
trabalhem todos os dias, impedindo o descanso e o convívio com seus familiares, para poder 
juntar os pontos, pois a pontuação abaixo da meta impede que recebam pedidos de segunda 
a sexta. O iFood, que informou ter iniciado a distribuição de álcool em gel e máscaras desde 
abril, desconsiderou a localização dos pontos de distribuição, Valdir Camargo, em entrevista 
para a Uol, com cobertura de Vespa (2020) relata que:
 Desse modo, devemos ter a clareza de que ofertar EPI’s; estabelecer uma política 
de auxílio para os(as) trabalhadores(as) que estão ativos(as), atuando na linha de frente; 
remunerar devidamente as corridas e manter um seguro para os(as) entregadores, não se 
trata de boa vontade ou de mera benesse, mas, representa sim uma obrigação de assegurar as 
condições mínimas para exercício de uma atividade laboral tão precarizada e de alto risco.
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CONSI DE R AÇÕE S PA RCI A I S
 O uberismo e seus impactos no mundo do labor possuem diversos desdobramentos 
nocivos navida dos(as) trabalhadores(as) uberizados(as), que são banidos de seus 
direitos sociais, de seus direitos humanos do trabalho, quais sejam, limitação de 
jornada de trabalho, salário mínimo, descanso semanal remunerado, EPI’s, dentre 
outros. Além disso, exercem atividade subordinada, mas não possuem reconhecimento 
de vínculo, sendo caracterizados pelas empresas-aplicativos como ‘colaboradores(as)’ e 
‘parceiros(as)’.
 Esse cenário de exploração se intensificou ainda mais no contexto de pandemia, 
onde esses(as) trabalhadores(as) assumiram uma das facetas da linha de frente, cruzando 
ruas, lojas, supermercados, restaurantes, farmácias e vários outros estabelecimentos 
comerciais para garantir o distanciamento social e a segurança de muitos(as) 
brasileiros(as). Assombrados(as) pelo risco de contaminação, desamparados(as) quanto 
ao fornecimento dos devidos equipamentos de segurança, eles(as) ainda são mal 
remunerados(as), o que implica, cada vez mais, no aumento da carga horária de trabalho.
 Essa intensificação culminou na organização do #BrequeDosApps, 
primeira paralisação de abrangência nacional contra as empresas-aplicativos, sob 
a reivindicação de melhores condições de trabalho. As manifestações, que até 
o momento ocorreram nos dias 01 e 25 de julho, alcançaram grande repercussão 
nacional e chamaram atenção da sociedade para as condições de precarização 
enfrentadas pelos entregadores(as). 
 Apesar das manifestações públicas das empresas, com a demonstração de que 
algumas pautas do movimento já haviam sido atendidas, verificamos a partir dos relatos 
e de pesquisas já realizadas que não há a devida efetividade quanto a distribuição dos 
EPI’s, tampouco quanto a disponibilização do auxílio para aqueles(as) com suspeita ou 
confirmação de COVID-19, além de um péssimo canal específico para contato direto 
com as empresas e falta de transparência quanto aos pagamentos das corridas.
 Dessa maneira, constatamos, dentro dos limites teóricos que o ensaio comporta, 
bem como do objetivo aqui proposto, que o cenário de crise sanitária agravou ainda mais 
as condições já existentes de vulnerabilidade econômica e social dos(as) entregadores(as). 
Todavia, a capacidade de mobilização foi capaz de escancarar para toda a sociedade 
a exploração articulada pelo uberismo. Por isso, esperamos que a potencialidade do 
movimento que atingiu a marca de assunto mais falado do twitter por algumas horas, 
possa repercutir em melhorias efetivas para todos(as) esses(as) profissionais. 
 Por fim, registramos que apoiamos o #BrequeDosApps e dedicamos este 
ensaio para todos(as) trabalhadores(as) uberizados. Trabalhadores(as) do mundo: nos 
apoiemos, nos solidarizemos. A luta da classe trabalhadora é de todos(as) nós.
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE PANDEMIA:
ENTRE O VÍRUS E A FOME, UMA ANÁLISE DA LINHA DE FRENTE INVISIBILIZADA 
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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R E F E R Ê NCI A S
ABÍLIO, Ludmila Costhek; ALMEIDA, Paulo Freitas; AMORIM, Henrique; CARDOSO, 
Ana Claudia Moreira; FONSECA, Vanessa Patriota da; KALIL, Renan Bernardi; MACHADO, 
Sidnei. Condições de trabalho de entregadores via plataforma digital durante a Covid-19. Revista 
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PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO ‘UBERIZADO’ EM TEMPOS DE PANDEMIA:
ENTRE O VÍRUS E A FOME, UMA ANÁLISE DA LINHA DE FRENTE INVISIBILIZADA 
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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“ELES COMBINARAM DE NOS MATAR, MAS 
NÓS COMBINAMOS DE NÃO MORRER”:
COMO A NECROPOLÍTICA ATUA A PARTIR 
DA AUSÊNCIA DO ESTADO NA PROTEÇÃO 
DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES 
VULNERABILIZADOS DURANTE
A PANDEMIA
Raquel Bartholo¹
 A pandemia provocada pelo COVID-19 colocou em evidência a reiterada distribuição 
desigual da vulnerabilidade. Por esta razão, em qualquer campo que se pretenda discutir a 
atual crise política, social e sanitária, não se pode negligenciar a necessidade de adoção de 
uma perspectiva insterseccional, levando em conta como as crisesafetam de forma desigual 
a população, considerando os lugares de raça, gênero e classe que ocupam.
 Analisar o fenômeno a partir de uma perspectiva interseccional também é necessário 
porque o Direito, por si só, não é capaz de explicar ou resolver estas questões sociais que, já 
antes da crise sanitária, se impunham. Nesta mesma perspectiva, é necessário ter em conta 
a regulação das relações sociais por meio do Direito é conformada por valores morais e 
ideológicos, oriundos tanto do processo legislativo quanto do processo de interpretação da 
lei pelos indivíduos que disputam o Poder Judiciário. 
 Conforme nos ensina Roberto Lyra Filho, é imprescindível diferenciar o que é o 
Direito e o que é a lei (Direito positivado). Ter em conta que essas categorias expressam 
condições diferentes, é necessário para que o debate sobre o Direito não se restrinja ao Direito 
positivado, notadamente quando a ausência de regulação estatal sobre determinadas relações 
são, também, uma forma de controle e exclusão de acesso a direitos, positivados ou não.
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE PENSAR O DIREITO
A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA INTERSECCIONAL
A lei sempre emana do Estado e permanece, em última análise, ligada à classe dominante, pois o 
Estado, como sistema de órgãos que rege a sociedade politicamente organizada, fica sob o controle 
daqueles que comandam o processo econômico, na qualidade de proprietários dos meios de 
produção (LYRA FILHO, p. 24, 1993).
¹ Advogada popular na Candanga Assessoria Popular, Membro da Associacao de Advogadas pela Igualdade de Genero e Raca, graduada 
em direito, especialista em Politicas Publicas para Igualdade na America Latina.
“ELES COMBINARAM DE NOS MATAR, MAS NÓS COMBINAMOS DE NÃO MORRER”: COMO A NECROPOLÍTICA ATUA A PARTIR DA AUSÊNCIA
DO ESTADO NA PROTEÇÃO DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES VULNERABILIZADOS DURANTE A PANDEMIA
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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 O trabalho exerce função central para a conformação de identidades na sociedade 
capitalista. Sinal claro desta constatação é a resposta à pergunta “O que você é?”, que 
normalmente é respondida pelo cargo/ocupação laboral do indivíduo que a responde. 
Decerto, outros marcadores fazem parte da identidade, mas a centralidade do trabalho como 
forma de se estabelecer “um lugar no mundo” é inegável.
 As relações de trabalho foram profundamente impactadas pela pandemia mundial e 
pelas ações institucionais (ou falta delas) para proteção, regulação e preservação dos cargos 
de trabalho. Duas categorias chamam especial atenção nesse cenário: a das trabalhadoras 
domésticas e a dos entregadores de aplicativos. Em ambos casos, guardadas as 
peculiaridades de cada um, a distribuição desigual da vulnerabilidade se agrava frente à 
crise sanitária, mas não pode ser explicada por ela. 
 Em verdade, a crise sanitária se soma a uma conjuntura de crise política, social e 
econômica, em que se espera muito pouco dos poderes públicos na construção de respostas 
institucionais adequadas à preservação da vida e da saúde das pessoas. A crise política 
estabelece-se de forma tão acirrada que o Brasil tenta sobreviver à pandemia com dois 
Ministros da Saúde demitidos
 O projeto político que já vinha sendo implementado é um projeto da necropolítica, é 
por meio dela que opera. Achille Mbembe (2016) nos ensina que a necropolítica é explicada 
pelo poder e capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer: “Exercitar a soberania 
é exercer controle sobre a mortalidade e definir a vida como a implantação e manifestação de 
poder”. A pandemia e as consequências das ações e omissões do Estado na sua gestão são uma 
cruel ilustração de como a necropolítica atua como política de Estado.
 Olhar para as categorias das trabalhadoras domésticas e dos entregadores de 
aplicativo impõe reconhecer que são trabalhos de natureza distintas e que vivem momentos 
de articulação jurídica e legislativa também distintos. Porém, é imprescindível reconhecer 
 Assim, é importante pensar o Direito como práxis, não como mera positivação. 
A análise histórico-dialética do Direito, daquilo que por ele é produzido – seja por meio 
dos poderes institucionalizados, seja por meio de sua representação mais legítima, as ruas 
– nos permite uma abordagem crítica, imprescindível a qualquer concepção pluralista e 
emancipadora do fenômeno jurídico. 
 Estas considerações iniciais são necessárias para que se entenda que a resposta dos 
poderes institucionalizados frente à crise sanitária provocada pelo coronavírus é marcada 
pelas relações desiguais que os regem, expressando valores morais e ideológicos próprios, mas 
também para que se tenha em conta os espaços de disputa e construção do Direito a partir de 
uma práxis emancipadora.
O TRABALHO DOMÉSTICO DE CUIDADO E O TRABALHO 
UBERIZADO DOS ENTREGADORES DE APLICATIVO
“ELES COMBINARAM DE NOS MATAR, MAS NÓS COMBINAMOS DE NÃO MORRER”: COMO A NECROPOLÍTICA ATUA A PARTIR DA AUSÊNCIA
DO ESTADO NA PROTEÇÃO DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES VULNERABILIZADOS DURANTE A PANDEMIA
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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a centralidade destes trabalhadores(as) na reprodução e sustentação do sistema capitalista, 
na produção e maximização dos lucros dos ditos “detentores de poder”. Analisar as ações e 
omissões do poder público em relação a esta população impõe o reconhecimento de que estes 
são os corpos descartáveis pelo Estado na implementação da agenda baseada na necropolítica. 
 O acirramento das políticas neoliberais, que não pode ser atribuída exclusivamente 
à gestão que compõe o atual governo, mas que decerto se demonstrou como uma pauta de 
governo assumida pela gestão do presidente Jair Bolsonaro e de seu Ministro da Economia, 
Paulo Guedes, atingem especialmente os setores da população racializados e feminilizados, 
principais destinatários das políticas de flexibilização de renda e emprego. 
 Ainda que de forma mitigada e insuficiente, o governo brasileiro adotou medidas 
visando o controle da pandemia, ressalta-se a edição da Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 
2020, que confia ao Ministério da Saúde poder central na regulamentação e operacionalização 
das medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública. Necessário pontuar que, no 
momento em que escrevo este ensaio, o Brasil encontra-se sem Ministro da Saúde há mais de 
dois meses e batendo tristes recordes de número de mortes diárias. 
 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal medida de controle da 
contaminação do coronavírus é o isolamento social. No mundo inteiro foram estabelecidas 
políticas de isolamento, em quarentenas mais ou menos rígidas a depender do lugar. O sucesso 
dessa política é demonstrado pelo número de casos e mortes em cada país, demonstrando que 
países que adotaram medidas rígidas tiveram maior controle dos efeitos da pandemia.
 A adoção das medidas de isolamento explicita a distribuição desigual da vulnerabilidade: 
o risco de contágio impõe que trabalhadores e trabalhadoras das mais diversas atividades fiquem 
isolados, seja por meio da suspensão das atividades ou pelo trabalho remoto. Contudo, uma 
parcela da população, aquela engajada nos trabalhos ditos essenciais não detém o privilégio de 
cumprir as medidas de isolamento, expondo-se a maior risco de contágio. 
 É certo que as medidas de isolamento social atingem de forma desigual a população, 
uma vez que as possibilidades cumpri-las são marcadas por privilégios de classe, raça e gênero. 
Este é fator importante para se entender como categorias aparentemente tão distintas – uma 
engajada nos trabalhos domésticos de cuidado e outra fortemente marcada pelo discurso do 
empreendedorismo – se relacionam e dialogam neste cenário em que se discute o poder de 
deixar morrer ou viver. 
 Nesse contexto, evidencia-se a desproteção das trabalhadoras domésticas e cuidadoras, 
uma vez que poucas foram dispensadas do trabalho com manutenção do salário. A maioria 
delas foi dispensada sem salário (39% das diaristas) ou recrutadas a continuartrabalhando 
durante a pandemia (23% das diaristas e 39% daquelas com vínculo de emprego), estando 
expostas ao risco de contágio, seja no contato com a família empregadora, seja no percurso 
casa-trabalho (DELGADO; DUTRA; SANTANA, 2020).
 Legitimando tal situação, alguns estados incluíram a atividade de trabalho doméstico 
“ELES COMBINARAM DE NOS MATAR, MAS NÓS COMBINAMOS DE NÃO MORRER”: COMO A NECROPOLÍTICA ATUA A PARTIR DA AUSÊNCIA
DO ESTADO NA PROTEÇÃO DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES VULNERABILIZADOS DURANTE A PANDEMIA
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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no rol de atividades essenciais, como ocorreu no Maranhão, Ceará, Pará, Amazonas e Rio 
Grande do Sul. A declaração do trabalho doméstico como serviço essencial por alguns 
estados não é descolada de outros fatos simbólicos que marcaram a agenda pública nesses 
dias de isolamento.
 O primeiro deles é relativo à primeira morte por coronavírus no estado Rio de 
Janeiro: uma empregada doméstica de 63 anos que foi infectada por seus patrões, que tinham 
retornado de visita à Europa (SIMÕES, 2020). Embora o Brasil tenha registrado as primeiras 
infecções nas classes mais altas, especialmente de pessoas que tinham visitados outros países 
no início do ano, a mortalidade no país pela doença é extremamente vinculada à classe social. 
A mortalidade maior entre as classes sociais mais baixas é explicada tanto pelas barreiras ao 
isolamento (medida que previne a infecção), quanto pela ausência de equipamentos públicos 
para atenção e tratamento das pessoas infectadas.
Deve ser considerado o modo como as instituições de saúde processam os indivíduos de diferentes 
grupos. Neste aspecto, três questões devem ser levadas em conta. A questão do diagnóstico e acesso 
a tratamento, a presteza do início do tratamento e o acesso a procedimentos de maior complexidade, 
por vezes requerendo cuidados em uma unidade de terapia intensiva (UTI). O fato de a pandemia 
ter ficado relativamente mais controlada entre estratos mais privilegiados, que possuem planos de 
saúde de ampla cobertura, gerou, em várias áreas, uma situação de sobra de leitos na rede privada, 
mas de falta de leitos na rede pública, em particular para tratamento dos casos mais graves da 
Covid-19, na medida em que o número de casos vem aumentando muito nos estratos populares. 
Numa situação, existem mais leitos para menos pessoas, e, na outra, menos para mais. Além disso, 
a observação clínica parece revelar que a presteza no tratamento tem implicações na progressão da 
doença. O referido estudo inglês demonstrou que 17% dos internados em hospital necessitaram 
de cuidados críticos. A mortalidade é maior em pacientes que estão em leitos gerais, e que não 
tiveram acesso à UTI. Na comparação com a pandemia de influenza de 2009, considerando os 
pacientes que receberam ventilação em UTI, as taxas de mortalidade dos pacientes de Covid-19 são 
extremamente altas (Docherty, 2020). Diferenças no processamento das pessoas pelas instituições 
de saúde afetam bastante a progressão e o desenlace final da doença (SANTOS, 2020).
 O segundo diz respeito à morte do menino Miguel, de 5 anos, no estado de 
Pernambuco. Com as escolas fechadas e não tendo sido dispensada de seu trabalho para 
cumprir as medidas de isolamento social, a mãe de Miguel, Mirtes Renata Santana de Souza, 
empregada doméstica, precisou que o filho a acompanhasse enquanto prestava os serviços 
na casa dos patrões. Por negligência da patroa, no momento em que Mirtes passeava com 
os cachorros da família, o menino caiu do nono andar e faleceu (DELGADO; DUTRA; 
SANTANA, 2020). 
 A patroa, esposa do Prefeito de Tamandaré, responde em liberdade após pagar uma 
fiança de R$20.000,00. Mirtes, que estava contratada irregularmente como funcionária da 
prefeitura, deixou de trabalhar para a família, para a qual tinham também prestado serviços 
sua mãe e sua avó. 
 A trágica história é uma ilustração cruel da operacionalização do racismo estrutural 
“ELES COMBINARAM DE NOS MATAR, MAS NÓS COMBINAMOS DE NÃO MORRER”: COMO A NECROPOLÍTICA ATUA A PARTIR DA AUSÊNCIA
DO ESTADO NA PROTEÇÃO DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES VULNERABILIZADOS DURANTE A PANDEMIA
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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e dos limites do republicanismo brasileiro, marcado por uma constante e histórica confusão 
entre o público e privado e manutenção das posições de privilégio e vulnerabilidade social 
nas mesmas famílias por gerações. 
 Quem cuida de quem cuida? Esta pergunta ressoa sem resposta quando olhamos as 
condições de vulnerabilidade das pessoas engajadas nas relações de cuidado, assinaladas por 
recortes explícitos de gênero, raça e classe social. São as mulheres negras as que se encontram 
em maior vulnerabilidade no mercado de trabalho, embora sejam justamente elas que 
sustentam o trabalho de cuidado – trabalho produtivo.
 De outro lado, a desregulamentação das relações de trabalho e completa desproteção 
trabalhista dos entregadores de comida por aplicativo, demonstram o novo projeto do capital 
para a classe trabalhadora como um todo. A necessidade de isolamento social impôs que o 
serviço prestado por estes trabalhadores passasse a ser entendido como essencial.
A forma de organização dos trabalhadores vinculados às plataformas de entrega de comida é o 
que se tem chamado no Direito do Trabalho de uberização, relação tal que retira a centralidade 
do sujeito “trabalhador” na relação capital-trabalho, tornando-o um ser despersonalizado 
e diluído, descartável, substituível e sem garantias mínimas de sobrevivência. Conforme 
explicam Davi Franco e Deise Ferraz (2019):
A uberização do trabalho representa um modo particular de acumulação capitalista, ao produzir 
uma nova forma de mediação da subsunção do trabalhador, o qual assume a responsabilidade pelos 
principais meios de produção da atividade produtiva.
Essas certificações informais operam não só do lado do consumo: também se fazem nas mudanças 
da identidade do trabalhador, que adere a um trabalho que por vezes nem tem um estatuto claro 
de trabalho, em um vínculo informal com empresas que promovem uma batalha gigantesca e bem 
sucedida para operar acima das regulações estatais do trabalho, das tributações, da fiscalização, 
entre outras disputas em ato. O motorista da Uber, por exemplo, não tem uma identidade 
profissional como a do taxista, que passou por certificações públicas que lhe conferem o estatuto de 
taxista. O motorista da Uber é um trabalhador amador que aderiu a uma atividade informal, sem 
regulamentações, à qual praticamente qualquer um pode aderir; não há licenças limitadas, não há 
determinação sobre o tamanho do contingente de trabalhadores. A qualidade de seu trabalho será 
certificada pelo mundo das avaliações; seu reconhecimento profissional, se é que se pode denominá-
lo assim, virá informalmente de seu sucesso em permanecer naquela atividade ao longo do tempo e 
de seus ranqueamentos (ABILIO, 2019).
 Esta forma de organização do sistema de produção tem suas raízes nas contratações via 
empresas terceirizadas, que somente há pouco tempo passaram a ser objeto de regulamentação 
legislativa, mas a aprofunda e sofistica, de modo a dispersão e desregulamentação das relações 
trabalhistas se concretiza por meio uma multidão de trabalhadores subordinados a uma única 
empresa. Ludmila Abilio (2019), do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, 
identifica que “tal processo atualmente consolida o trabalhador como um autogerente-
subordinado que já não é contratado, mas se engaja no trabalho via a adesão às plataformas”.
“ELES COMBINARAM DE NOS MATAR, MAS NÓS COMBINAMOS DE NÃO MORRER”: COMO A NECROPOLÍTICA ATUA A PARTIR DA AUSÊNCIA
DO ESTADO NA PROTEÇÃO DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES VULNERABILIZADOS DURANTE A PANDEMIA
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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 A forma de organização do trabalho dos entregadores de comida por aplicativo 
demonstra como há uma reinvenção sistemática dos mecanismos jurídicos de exclusão 
social

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