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Sociolinguística (1)

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Prévia do material em texto

2011
SociolinguíStica
Prof.ª Fabíola Sucupira Ferreira Sell
Prof. Alberto Gonçalves
Copyright © UNIASSELVI 2011
Elaboração:
Prof.ª Fabíola Sucupira Ferreira Sell
Prof. Alberto Gonçalves
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
 
306.44
S4671s Sell, Fabíola Sucupira Ferreira.
 Sociolinguística / Fabíola Sucupira Ferreira 
 Sell [e] Alberto Gonçalves. Centro
 Universitário Leonardo da Vinci –: Indaial, Grupo 
 UNIASSELVI, 2011.x ; 201.p.: il
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-317-4
 1. Sociolinguística 2. Etnografia – Etnologia Cultural 
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
 
III
apreSentação
Prezado aluno!
Este Caderno de Estudos traz a você um panorama dos estudos da 
Sociolinguística. A questão principal que nos ajudou a organizar a estrutura 
deste caderno é como o profissional de Letras pode lidar com a diversidade 
linguística. E aqui estamos pensando a diversidade linguística a partir da 
variação que se estabelece entre línguas diferentes, bem como a variação que 
se percebe dentro de uma mesma língua. 
Antes de explicar a você como este Caderno de Estudos está 
organizado, gostaríamos de agradecer às professoras Edair Görski e Izete L. 
Coelho, da Universidade Federal de Santa Catarina, que deram muitas dicas 
e sugestões para a organização deste material.
Nosso Livro de Estudos está, pois, organizado da seguinte forma: 
na primeira unidade estudaremos as relações entre língua e sociedade, 
viajaremos por uma breve história da Sociolinguística e teremos um 
primeiro contato com suas áreas de estudo: a Dialetologia, a Sociolinguística 
Variacionista, o Sociointeracionismo, a Análise da Conversação, a Etnografia 
da Fala, a Política Linguística e os conceitos de Bilinguismo, Diglossia e 
Multilinguismo. 
Na segunda unidade estudaremos mais detalhadamente a 
Sociolinguística Variacionista, a partir de seus principais conceitos e de um 
estudo de caso variacionista. Na terceira unidade vamos estudar questões 
atuais em Sociolinguística, as quais levam em conta as definições de língua, 
língua padrão e dialeto, comportamentos e atitudes linguísticos, preconceito 
linguístico, bem como ensino de línguas e suas possíveis relações com a 
Sociolinguística.
Ao final de cada unidade propusemos para você uma atividade de 
autoavaliação, que o ajudará a se apropriar dos conteúdos deste campo de 
estudo.
Você está convidado a entrar agora neste estudo sobre Sociolinguística. 
Boa leitura, bons estudos!
Prof.ª Fabíola Sucupira Ferreira Sell
Prof. Alberto Gonçalves
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
VII
UNIDADE 1 – SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS ................................................... 1
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA .............................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 3
2 A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE ......................................................................... 4
3 HISTÓRICO DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS ........................................................... 6
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 10
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 11
TÓPICO 2 – ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS ............................................... 13
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 13
2 DIALETOLOGIA .............................................................................................................................. 14
3 SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA .................................................................................. 18
4 SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL ................................................................................... 20
4.1 ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO .............................................................................................. 23
4.2 ETNOGRAFIA DA COMUNICAÇÃO .................................................................................... 30
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 33
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 34
TÓPICO 3 – BILINGUISMO, MULTILINGUISMO E DIGLOSSIA: AS LÍNGUAS EM 
 CONTATO ...................................................................................................................... 35
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 35
2 BILINGUISMO E MULTILINGUISMO ...................................................................................... 35
3 LÍNGUAS EM CONTATO .............................................................................................................. 37
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 44
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................45
TÓPICO 4 – POLÍTICA LINGUÍSTICA E O MULTILINGUISMO .......................................... 47
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 47
2 MULTILINGUISMO ........................................................................................................................ 47
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 50
RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 55
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 56
UNIDADE 2 – A SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA ...................................................... 57
TÓPICO 1 – TIPOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA .................................................................. 59
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 59
2 VARIAÇÃO DIACRÔNICA ........................................................................................................... 60
3 VARIAÇÃO DIATÓPICA ............................................................................................................... 64
4 VARIAÇÃO DIASTRÁTICA .......................................................................................................... 67
5 VARIAÇÃO DIAMÉSICA .............................................................................................................. 72
Sumário
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 75
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 77
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 78
TÓPICO 2 – VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ... 79
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 79
2 A VARIÁVEL E AS VARIANTES LINGUÍSTICAS ................................................................... 79
3 LEVANTAMENTO/COLETA DE DADOS .................................................................................. 83
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 90
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 91
TÓPICO 3 – AS VARIÁVEIS SOCIAIS ........................................................................................... 93
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 93
2 GÊNERO/SEXO ................................................................................................................................. 93
3 IDADE/FAIXA ETÁRIA .................................................................................................................. 94
4 ESCOLARIDADE ............................................................................................................................. 97
5 CONTEXTO DE INTERAÇÃO SOCIAL ..................................................................................... 99
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 101
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 102
TÓPICO 4 – AS VARIÁVEIS LINGUÍSTICAS .............................................................................. 103
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 103
2 AS VARIÁVEIS FONOLÓGICAS E MORFOSSINTÁTICAS ................................................. 103
3 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: EXEMPLO DE ANÁLISE ........................................................... 106
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 121
RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 126
UNIDADE 3 – QUESTÕES ATUAIS EM SOCIOLINGUÍSTICA .............................................. 127
TÓPICO 1 – LÍNGUA E DIALETO .................................................................................................. 129
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 129
2 LÍNGUA E DIALETO ...................................................................................................................... 130
RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 139
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 140
TÓPICO 2 – NORMA PADRÃO, NORMA CULTA, NORMA POPULAR 
OU VERNACULAR ............................................................................................................................. 141
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 141
2 NORMA PADRÃO, NORMA CULTA, NORMA POPULAR OU VERNACULAR ............. 141
RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 153
TÓPICO 3 – COMPORTAMENTOS E ATITUDES LINGUÍSTICOS ....................................... 155
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 155
2 PRECONCEITO LINGUÍSTICO ................................................................................................... 155
3 O CÍRCULO VICIOSO E A DESCONSTRUÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO . 161
4 ESTRANGEIRISMOS ...................................................................................................................... 164
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 169
RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 173
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 174
IX
TÓPICO 4 – ENSINO DE LÍNGUA E SOCIOLINGUÍSTICA ................................................... 175
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 175
2 SOCIOLINGUÍSTICA E LÍNGUA MATERNA .......................................................................... 176
3 SOCIOLINGUÍSTICA E ENSINO: TEXTOS PARA REFLEXÃO E DEBATE ....................... 185
LEITURA COMPLEMENTAR ...........................................................................................................188
RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 194
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 195
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 197
X
1
UNIDADE 1
SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS 
GERAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• refletir e discutir sobre as relações entre língua e sociedade, a partir dos 
estudos sociolinguísticos;
• identificar e discutir os vários campos de investigação dos estudos socio-
linguísticos.
Esta primeira unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada 
tópico, você encontrará atividades que possibilitarão a apropriação de 
conhecimentos na área.
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
TÓPICO 2 – ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS 
TÓPICO 3 – BILINGUISMO, MULTILINGUISMO E DIGLOSSIA: 
 AS LÍNGUAS EM CONTATO
TÓPICO 4 – POLÍTICA LINGUÍSTICA E O MULTILINGUISMO
Assista ao vídeo 
desta unidade.
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
1 INTRODUÇÃO
“Toda ordem tende a ser ‘desordem’ ou ‘simplicidade’ aos olhos 
dos portadores de uma ordem diferente”. (José Carlos Rodrigues, 
Antropologia da comunicação: princípios radicais)
Nesta unidade você tomará contato com os principais conceitos e as 
principais correntes da sociolinguística. A primeira pergunta que você deve estar 
se fazendo é: o que é a sociolinguística? Vejamos uma definição: 
A sociolinguística é uma área que estuda a língua em seu uso real, 
levando em consideração as relações entre a estrutura linguística e os 
aspectos sociais e culturais da produção linguística. Para esta corrente, 
a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada 
como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, 
da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de 
comunicação. (CEZARIO; VOTRE, 2009, p. 141).
Em outras palavras, a sociolinguística preocupa-se com a língua falada 
em contextos socialmente construídos. Tais contextos estão relacionados com 
outro conceito importante para esta área, o conceito de comunidade de fala ou 
linguística, a qual pode ser definida como um “[...] conjunto de pessoas que 
interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de normas com respeito 
aos usos linguísticos”. (ALKMIM, 2005, p. 31). Entretanto, isso não significa dizer 
que em uma comunidade de fala todos falam da mesma maneira. O que veremos 
é que os indivíduos de uma mesma comunidade linguística vão escolhendo, 
de acordo com cada situação comunicativa, maneiras diferentes de interagir e 
essas escolhas não são aleatórias, elas dependem de fatores sociais e culturais 
previamente colocados. 
Isso acontece porque as línguas variam em muitos aspectos: as línguas 
variam de região para região, as línguas variam de acordo com a idade, o sexo, 
e a posição social dos falantes, as línguas variam de acordo com a situação 
sociocomunicativa, as línguas variam historicamente. Durante nossos estudos, 
faremos um passeio por várias abordagens sociolinguísticas que procuram 
mostrar como e por que essas variações ocorrem e os conflitos que podem estar 
envolvidos na diversidade linguística. 
E para começar nossa conversa, na próxima seção estudaremos um pouco 
desta relação entre língua e sociedade que norteia os estudos sociolinguísticos.
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
4
FIGURA 1 – TORRE DE BABEL
FONTE: Disponível em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/
imagens/portugues/babel.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
Você conhece a história da Torre de Babel e sua relação com as línguas 
do mundo? Faça uma pesquisa sobre este tema.
AUTOATIVIDADE
2 A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E SOCIEDADE
A relação existente entre língua e sociedade tem interessado muitos 
autores – filósofos e linguistas, uma vez que é a partir dessa relação que a 
humanidade vem se constituindo. Segundo Alkmim (2005, p. 21), “[...] a história 
da humanidade é a história de seres organizados em sociedade e detentores de 
um sistema de comunicação oral, ou seja, uma língua”.
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
5
Embora essa relação entre língua e sociedade seja inegável, ela não é tão 
óbvia e pode ser compreendida sob diversos pontos de vista. Assim, a maneira 
como cada estudo da linguagem vê a relação entre língua e sociedade depende 
de diversos fatores sócio-históricos, decorrentes do tempo-espaço em que cada 
estudioso se insere.
A constituição das nações do mundo como tal teve como um dos pontos 
principais a ideia de uma língua nacional, a qual identifica um determinado povo. 
Essa ideia dá origem também à ilusão de que as línguas são uniformes e de cada 
nação tem sua única e soberana língua. Ocorre que é só olhar mais demoradamente 
para as nações e perceberemos que essa ideia da homogeneidade é apenas uma 
abstração. Assim, se pedirmos para você dizer qual é a língua falada no Brasil, 
prontamente você responderá: é o português! 
Bom, mas sabemos que no Brasil coexistem muitas línguas indígenas, 
línguas dos nossos colonizadores e ainda muitas variedades do próprio 
português, não é mesmo? É aqui que entra a ideia de dialeto. De modo geral, 
para a sociolinguística, as variações regionais são dialetos. No senso comum, esta 
palavra expressa uma língua de menor prestígio, se comparada com a língua 
oficial da nação. Para a sociolinguística, por outro lado, veremos que não há 
língua, ou dialeto, mais importante que o outro. 
O que há são variedades diferentes, cada qual com suas características 
próprias, que precisam ser descritas e analisadas. É claro que esta questão não é 
tão simples assim. Se pensarmos, por exemplo, nos dialetos do Sul e do Norte do 
país, teremos diferenças marcantes entre eles que sustentam a classificação em 
dois dialetos distintos. Entretanto, pode acontecer de termos falares com menos 
diferenças entre regiões contíguas, e aí talvez tenhamos um problema em separar 
estes falares em dois dialetos distintos, não é verdade?
Você pode estar se perguntando: mas então qual é a diferença entre uma 
língua e um dialeto? Vejamos o que nos diz McCleary (2008, p. 7): 
Os dialetos são idênticos às línguas, do ponto de vista linguístico. 
Eles têm tudo o que as línguas têm. Não são menores ou mais simples 
ou menos perfeitos. Os dialetos, do ponto de vista linguístico, são 
línguas. Mas do ponto de vista da sociolinguística, são línguas que não 
atingiram a autonomia na imaginação popular.
UNI
Durante nossos estudos de sociolinguística, voltaremos a essas questões 
novamente sob vários pontos de vista, como, por exemplo, a questão do preconceito 
linguístico envolvido na definição de dialeto e de língua padrão. Na Unidade 3 deste caderno 
discutiremos em mais detalhes os conceitos de língua e dialeto.
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
6
Para obter informações sobre as línguas no mundo, acesse o site: 
<www.ethnologue.com>. Você pode pesquisar sobre a língua portuguesa 
e descobrir que países falam português no mundo. Segundo o Ethnologue, 
existem cerca de 6.900 línguas catalogadas no mundo.
AUTOATIVIDADE
3 HISTÓRICO DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
Antes de a sociolinguística se estabelecer como área de estudo da 
linguística, já havia pesquisadores preocupados com a questão da diversidade 
linguística. Um destes autores foi Antoine Meillet (1866-1936).
FIGURA 2 – ANTOINE MEILLET (1866-1936)
FONTE: Disponível em: <http://titus.uni-frankfurt.de/personal/
galeria/meillet.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
Meillet estudoua mudança linguística na França a partir da relação entre a 
estrutura social e as relações nas quais a linguagem se desenvolve, afirmando assim 
a forte ligação entre língua, cultura e sociedade. Calvet (2002) observa que, embora 
Meillet tenha ficado conhecido como discípulo de Saussure, após a publicação 
póstuma do Curso de linguística geral deste, os estudos sobre a linguagem feitos 
por Meillet podem ser considerados como opostos ao que Saussure propunha 
para o entendimento de língua como fato social: “[...] enquanto Saussure busca 
elaborar um modelo abstrato de língua, Meillet se vê em conflito com o fato social 
e o sistema que tudo contém: para ele não se chega a compreender os fatos da 
língua sem fazer referência à diacronia, à história.” (CALVET, 2002, p. 15).
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
7
Ainda como precursores da sociolinguística, temos os dialetólogos que 
na década de 1930 trabalharam no Atlas Linguístico dos Estados Unidos e do 
Canadá, buscando associar informações sociais e geográficas na descrição dos 
dialetos. (CEZARIO; VOTRE, 2009). Na próxima seção abordaremos em mais 
detalhes a dialetologia como uma subárea da sociolinguística.
De fato a sociolinguística surge como uma área da linguística, e sob tal 
termo, em 1964, a partir de um congresso organizado pelo linguista William 
Bright (1928-2006), na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), em 
oposição aos estudos gerativistas de Noam Chomsky, os quais se encontravam 
em plena ascensão.
FIGURA 3 – WILLIAM BRIGHT
FONTE: Disponível em: <http://www.ncidc.org/bright/bill.jpg >. 
Acesso em: 24 jul. 2010.
Os estudos apresentados nesse congresso foram posteriormente 
organizados e publicados em 1966 sob o título Sociolinguistics, no qual consta o 
clássico trabalho de Bright intitulado As dimensões da sociolinguística, publicado no 
Brasil pela Editora Eldorado, Rio de Janeiro, em 1974, e no qual o autor define e 
caracteriza esta nova área de estudo. (ALKMIM, 2005; CALVET, 2002).
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
8
Nesse trabalho clássico e introdutório, Bright procura definir o campo 
da sociolinguística, tarefa que ele mesmo considera nada fácil de definir com 
precisão (CALVET, 2002), e propõe que o objeto de estudo da sociolinguística 
seja a diversidade linguística, devendo demonstrar as variações linguísticas em 
uma comunidade e correlacioná-las com as diferenças na estrutura social dessa 
mesma comunidade. O conjunto de fatores sociais que podem estar relacionados 
com a diversidade linguística são definidos por Bright da seguinte maneira, nas 
palavras de Alkmim (2005, p. 28-29):
a) Identidade social do emissor ou do falante – relevante, por exemplo, 
em estudos dos dialetos de classes sociais e das diferenças entre falas 
femininas e masculinas;
b) identidade social do receptor ou ouvinte – relevante, por exemplo, 
no estudo das formas de tratamento, da baby talk (fala utilizada por 
adultos para se dirigirem aos bebês);
c) o contexto social – relevante, por exemplo, no estudo das diferenças 
entre a forma e a função dos estilos formal e informal, existentes na 
grande maioria das línguas; 
d) o julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio 
comportamento linguístico e sobre o dos outros, isto é, as atitudes 
linguísticas. 
Alkmim (2005) ressalta também que os estudos sociolinguísticos 
inaugurados em 1964 são na verdade uma continuação dos estudos tradicionais 
da chamada Antropologia Linguística, que teve início no começo do século XX 
com pesquisadores como Franz Boas (1911) e seus discípulos Edward Sapir (1921) 
e Benjamin Lee Whorf (1941). Esses estudos tradicionais consideram linguagem, 
cultura e sociedade como fenômenos inseparáveis, por isso o trabalho conjunto 
entre Antropologia e Linguística. 
Além disso observa que a sociolinguistica surge, portanto, como uma área 
de estudos interdisciplinares, a partir das pesquisas de vários autores que buscavam 
explicar as relações existentes entre a linguagem e os aspectos de ordem sociocultural. 
Dentre tais pesquisadores, a autora destaca dois: Dell Hathaway Hymes, que, em 
1962, propõe em um artigo a Etnografia da Fala, hoje conhecida como Etnografia 
da Comunicação; e William Labov que, em meados de 1960, publica suas pesquisas 
clássicas em que demonstra o papel decisivo dos fatores sociais como idade, sexo, 
ocupação, origem étnica e atitude na diversidade linguística estabelecida em cada 
comunidade. A metodologia utilizada por Labov dá origem à sociolinguística 
variacionista, a qual veremos em mais detalhes adiante.
O autor lembra também que nesse mesmo ano em que a sociolinguística 
surge como uma nova área da linguística, acontece em Bloomington, Indiana, um 
outro congresso que reúne linguistas e cientistas sociais os quais debatem sobre 
questões relacionadas à dialetologia social, à escolarização de camadas pobres 
e de origem estrangeira da sociedade. Dessas pesquisas surgem obras como 
Directions in Sociolinguistics: report on a interdisciplinar seminar, de Ferguson (1965), 
Explorations in Sociolinguistics, editado por Lieberson (1966), e Social dialects and 
language learning, editado por Shuy (1964). 
TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À SOCIOLINGUÍSTICA
9
Calvet (2002) observa que, enquanto Bright em seus estudos via a 
sociolinguística como subordinada às grandes áreas como a linguística, a 
antropologia e a sociologia, para Labov a sociolinguística é a própria linguística, 
como mostra o extrato do capítulo 8 de seu livro Sociolinguistic Patterns: 
Para nós nosso objeto de estudo é a estrutura e a evolução da linguagem 
no seio do contexto social formado pela comunidade linguística. Os 
assuntos considerados provêm do campo normalmente chamado 
“linguística geral”: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica […]. Se 
não fosse necessário destacar o contraste entre este trabalho e o estudo 
da linguagem fora de todo contexto social,eu diria de bom grado que 
se trata simplesmente de linguística. (LABOV citado por CALVET, 
2002, p. 32).
ATENCAO
Para saber mais, leia o capítulo 1, intitulado “A luta por uma concepção social da 
língua”, da obra Sociolinguística: uma introdução crítica, de Louis-Jean Calvet.
10
Neste tópico nós vimos que a Sociolinguística surgiu como uma área 
interdisciplinar, levando em conta estudos sociológicos, antropológicos e 
linguísticos. Vimos também seus principais expoentes, como Antoine Meillet e 
William Bright, que contribuíram para a constituição da área, já delineando as 
relações entre língua e sociedade. 
No próximo tópico, faremos uma breve exposição das áreas de estudos 
sociolinguísticos para que você tenha contato com os fundamentos de cada uma delas. 
Chamamos de breve exposição porque cada uma destas áreas tem se desenvolvido 
de forma surpreendente, com excelentes trabalhos, e certamente um estudo mais 
aprofundado daria um Caderno de Estudos como este para cada uma delas.
RESUMO DO TÓPICO 1
11
Escreva um texto de 5 a 10 linhas colocando nele o que você entendeu 
sobre a relação entre língua e sociedade.
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução desta questão
12
13
TÓPICO 2
 ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Os estudos sociolinguísticos podem abordar a diversidade linguística a 
partir de uma macroanálise das variedades linguísticas ou ainda a partir de uma 
microanálise dessas variedades. Para Calvet esta distinção não é imediatamente 
visível e nem tampouco elas são opostas. Isso porque, na verdade, dizer que uma 
análise é macro ou micro depende do ponto sob o qual a estamos encarando, já 
que não há um binarismo tão evidente entre elas. O que Calvet pretende mostrar 
é que a primeira abordagem é inseparável da segunda: 
A análise da comunicação em uma família, por exemplo, parece mais 
‘macro’ que do idioleto de umfalante e mais micro que a de um bairro 
ou de uma cidade, que por sua vez é mais ‘micro’ que a análise da 
situação sociolinguística de uma região ou de um país. Aqui o que está 
posto é o problema da comunidade linguística e sociológica estudada, 
mas não se pode esquecer que se, entre a análise de uma conversação 
e a de uma cidade, por exemplo, existe uma escala contínua que vai da 
atenção dispensada ao pormenor à atenção dispensada aos conjuntos, 
essas duas abordagens ainda estão ligadas. (CALVET, 2002, p. 123-124).
ESTUDOS FU
TUROS
Nas próximas seções veremos as principais correntes da sociolinguística: 
a dialetologia, a sociolinguística variacionista e o sociointeracionismo, o qual tem como 
desdobramento a análise da conversação e a etnografia da comunicação.
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
14
2 DIALETOLOGIA
Uma das áreas dos estudos sociolinguísticos que estuda os efeitos entre 
língua e sociedade é a Dialetologia, a qual tem como foco de estudo a variação 
linguística que surge em regiões geográficas diferentes. 
Já mencionamos que as línguas variam no tempo, ou seja, diacronicamente. 
Essas variações acabam por constituir as mudanças linguísticas. Vejamos um 
exemplo disso:
No português arcaico (entre os séculos XII e XVI), ocorriam construções 
impessoais em que a indeterminação do sujeito era indicada pelo 
vocábulo “homem”, com o mesmo sentido que, atualmente, usamos 
o pronome “se”. Por exemplo: E pode homem hyr de Santarem a Beia 
[Beja] em quatro dias“, que corresponde, modernamente, a “E pode-se 
ir da Santarém a Beja em quatro dias”. (ALKMIM, 2005, p. 34). 
Além da variação diacrônica, temos a variação sincrônica, a qual pode 
ser determinada por diferentes fatores tais como idade, sexo, região geográfica 
etc. Esse tipo de variação pode ser descrito diatopicamente, ou seja, de acordo 
com a região geográfica em que ocorre, e diastraticamente, isto é, em relação à 
variação social, a qual tem relação com um conjunto de fatores que identificam 
o falante em uma determinada comunidade de fala: classe social, sexo, idade, 
situação ou contexto social.
FIGURA 4 – VARIAÇÃO DIATÓPICA E DIASTRÁTICA
FONTE: Os autores
A dialetologia tem por objetivo principal estudar a variação linguística 
diatópica. Se pensarmos nas variações regionais que podemos encontrar num 
país de dimensões continentais como o Brasil, podemos ter uma ideia do campo 
de estudo que se abre para a dialetologia. Com o intuito de descrever e analisar a 
diversidade linguística brasileira é que surgiram tantos estudos dialetológicos no 
Brasil, os quais formam o Projeto do Atlas Linguístico Brasileiro (ALiB).
No Brasil, uma das obras que dá início aos estudos dialetais é a publicação 
do livro O Dialeto Caipira, de Amadeu Amaral, na década de 1920, bem como O 
linguajar carioca, de Antenor Nascentes (1922).
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
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FIGURA 5 – O DIALETO CAIPIRA, DE AMADEU AMARAL (1920), 
MARCO DOS ESTUDOS DIALETAIS NO BRASIL
FONTE: Disponível em: <http://www.seboantigo.com.br/
livraria%20site/mostrafoto.php?idfoto=857>. Acesso em: 24 
jul. 2010.
FIGURA 6 – AMADEU ATALIBA ARRUDA AMARAL LEITE 
PENTEADO (1875-1929)
FONTE: Disponível em: <www.capivari.sp.gov.br/.../amadeu_
amaral.jpg>. Acesso em: 24 jul. 2010.
FIGURA 7 – ANTUNES NASCENTES 
FONTE: O linguajar carioca, 1953, p. 25. Disponível em: <http://www.alib.ufba.br/
grandesnomes.asp>. Acesso em: 1 jun. 2010.
Dividi o falar brasileiro em seis subfalares que reuni em 
dois grupos a que chamei de norte e sul. O que caracteriza estes 
dois grupos é a cadência e a existência de pretônicas abertas 
em vocábulos que não sejam diminutivos, nem advérbios em 
mente. [...] Eles estão separados por uma zona que ocupa uma 
posição mais ou menos equidistante dos extremos setentrional 
e meridional do país.
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
16
Há ainda O vocabulário pernambucano, de Pereira da Costa (1937), A língua do 
Brasil, de Gladstone Chaves de Melo (1934), dentre outros, trabalhos de abordagem 
essencialmente gramaticais, mas que já pesquisavam aspectos lexicais.
No Brasil os estudos dialetológicos têm sido desenvolvidos a partir 
do Atlas Linguístico do Brasil – ALiB – coordenado pelos professores: Suzana 
Cardoso (UFBA) que preside o Comitê, Jacyra Andrade Mota (UFBA), Maria do 
Socorro Silva de Aragão (UFPB), Mário Roberto Lobuglio Zágari (UFJF), Vanderci 
de Andrade Aguilera (UEL) e Walter Koch, representando os atlas em andamento:
O Projeto ALiB – Empreendimento de grande amplitude, de caráter 
nacional, em desenvolvimento, o Projeto Atlas Linguístico do Brasil 
(Projeto ALiB) tem por meta a realização de um atlas geral no Brasil no 
que diz respeito à língua portuguesa. Desejo que permeia a atividade 
dialetal no Brasil, durante todo o desenvolvimento dos estudos 
linguísticos e filológicos, ganha corpo nesse final/começo de milênio, 
a partir de iniciativa de um grupo de pesquisadores do Instituto de 
Letras. Mais uma vez a UFBA assume atitude pioneira ao empreender 
a concretização dessa proposta que se realiza como projeto conjunto 
que envolve hoje doze Universidades. (PROJETO ALIB, 2010).
FIGURA 8 – ATLAS LINGUÍSTICO DO BRASIL
FONTE: Disponível em: <http://www.alib.ufba.br/images/Jovens%20
pesquisadores.gif>. Acesso em: 2 jun. 2010.
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
17
As pesquisas realizadas pelo ALiB possuem uma metodologia própria, a 
qual segue as seguintes orientações, apresentadas em Aragão (2005 apud SOUSA; 
CHAVES, 2007, p. 5):
a) perfil dos informantes (faixa etária e sexo): 18 a 30 anos e 45 a 60 
anos, homens e mulheres.
b) nível de instrução: no máximo a 4ª série (Ensino Fundamental), e 
superior, nas capitais.
c) localidades e número de pontos: Região Norte: 23 pontos; Região 
Nordeste: 71 pontos; Região Sudeste: 79 pontos; Região Sul: 41 pontos; 
Região Centro-Oeste: 21 pontos.
d) tipos de questionário e quantidade de questões: Semântico-
Lexical, com 15 áreas semânticas e 207 questões; Morfossintático, com 
121 questões; Fonético-fonológico, com 159 questões; Pragmático, 
com 5 questões; Prosódico, com 4 questões; Temas para discursos 
semidirigidos, 4 temas.
Além disso, a pesquisa dialetal deve seguir determinadas etapas de 
realização, descritas da seguinte forma: 
Etapas principais que devem observadas na pesquisa dialetal:
1) preparação da pesquisa;
2) execução dos inquéritos;
3) exegese e análise dos materiais recolhidos; e
4) divulgação dos resultados obtidos. (FERREIRA; CARDOSO,1994, p. 
23-36 apud SOUSA; CHAVES, 2007, p. 8).
Vejamos alguns dos atlas regionais em andamento em várias regiões do 
país, sobre os quais você pode conhecer mais no site da ALiB:
• Projeto Atlas Linguístico do Acre - ALAC.
• Atlas Linguístico do Ceará - ALECE.
• Projeto Atlas Linguístico do Maranhão - AliMA.
• Atlas Linguístico do Rio Grande do Norte – AliRN.
• Atlas Linguístico do Estado de São Paulo – ALESPO.
• Atlas Geossociolinguístico do Pará – ALIPA.
• Atlas Linguístico de Mato Grosso – ALiMAT.
• Atlas Linguístico do Espírito Santo – ALES.
• Atlas Linguístico da Rondônia – AliRO.
• Atlas Linguístico contactual das minorias alemãs na Bacia do Prata (ALMA-H): 
Hunnsruckisch.
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
18
DICAS
Consultando o site do projeto (http://www.alib.ufba.br/index.asp), você 
poderá obter informações sobre o seu funcionamento, seus objetivos, histórico, bem como 
terá acesso às publicações relacionadas ao Atlas Linguístico Brasileiro e aos eventos que 
acontecem em torno do tema. 
Recomendamos também a leitura do Atlas Linguístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil 
(ALERS), organizado por Walter Koch, Mário Silfredo Klassmann e Cléo Vilson Altenhofen. 
Coeditado pelas editoras da UFRGS, UFSC e UFPR e dividido em 2 volumes(Introdução e 
Cartas fonéticas e morfossintáticas), o ALERS apresenta a diversidade linguística dos três 
estados da Região Sul do Brasil. Para maiores informações sobre o ALERS, consulte: <http://
www.alers.ufsc.br/projeto_alers.htm>.
FIGURA 9 – ALERS
FONTE: Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/letras/index.php?option=com_
content&view=article&id=72:alers&catid=43:padrao&Itemid=83>. Acesso em: 
24 jun. 2010.
3 SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
A sociolinguística variacionista, a qual veremos em mais detalhes na 
Unidade 2, tem como enfoque o exame da linguagem no contexto social a fim de 
encontrar no uso social da linguagem as explicações para as variedades inerentes 
aos sistemas linguísticos. Surgiu a partir dos estudos de William Labov, nos 
Estados Unidos, a partir da década de 1960.
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
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FIGURA 10 – WILLIAM LABOV
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/__
BgJTIcm_qg/SNAzd-J_GFI/AAAAAAAADrI/rkqHd-nT5mQ/
s200/William+Labov.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2010.
Essa corrente da sociolinguística apresenta uma metodologia específica 
de coleta e codificação dos dados que permitem ao pesquisador analisar a 
diversidade linguística, aparentemente caótica na comunicação do dia a dia. 
Trabalha a partir de dois conceitos principais: variação e mudança. Em termos 
gerais, podemos definir variação o conjunto de variantes que coexistem numa 
dada comunidade de fala para um mesmo significado. As variantes podem 
aparecer nos níveis sintático, morfológico, fonológico, ou ainda pode ter uma 
caracterização regional e/ou social: já a mudança linguística está associada à ideia 
de que as línguas variam no tempo e no espaço. 
Os estudos de Labov sobre a variação fonológica na pronúncia das 
semivogais na população da ilha de Martha’s Vineyard, Massachusetts, é que dão 
início aos trabalhos voltados para a explicação das variantes. (CALVET, 2002).
Como bem colocam Cezario e Votre (2009, p. 142):
Uma das contribuições da pesquisa sociolinguística [variacionista] foi 
a constatação de que muitas formas não-padrão também ocorrem na 
fala de pessoas com nível superior, principalmente em momentos mais 
informais. Graças à sua metodologia de análise da língua em situação 
real de comunicação, a sociolinguística consegue medir o número de 
ocorrências de uso em relação a essa variante. Assim, por exemplo, 
num estudo sobre a concordância verbal que se iniciou com a fala de 
analfabetos adultos do Rio de Janeiro na década de 1970, constatou-
se que, ao lado da variante “As meninas brincam no quintal”, os 
analfabetos privilegiaram o uso de “As menina brinca no quintal”. 
No Brasil as pesquisas de cunho variacionista começaram a se desenvolver 
a partir da década de 1970, com os projetos Mobral Central, o Projeto da Norma 
Urbana Culta (NURC) e o Projeto Censo de Variação Linguística no Estado do 
Rio de Janeiro (CENSO), coordenados, respectivamente por Miriam Lemle, 
Celso Cunha e Anthony Naro. Esses projetos tiveram continuidade em diversas 
universidades do Brasil, dando origem ao Programa de Estudos sobre o Uso 
(Peul); à continuidade do NURC (UFRJ) e ao projeto Variação Linguística da 
Região Sul (Varsul - UFSC/UFRGS) (conforme CEZARIO; VOTRE, 2009).
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
20
Uma das obras de leitura obrigatória no curso de Letras é A Pesquisa 
sociolinguística, do linguista Fernando Tarallo, obra que retomaremos na Unidade 2:
FIGURA 11 – A PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA, DE 
FERNANDO TARALLO
FONTE: Disponível em: <http://i.s8.com.br/images/books/
cover/img8/50618.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2010.
ESTUDOS FU
TUROS
Caro acadêmico, na Unidade 2 estudaremos em mais detalhes os pressupostos 
teóricos e a metodologia própria da sociolinguística variacionista.
A sociolinguística interacional foi proposta por Gumperz na década de 1970 
e tem uma base interdisciplinar apoiada nas áreas da linguística, da antropologia 
e da sociologia. Tem, é claro, como objeto de estudo enunciados produzidos em 
situações reais de interação e investiga a relação entre as interações linguístico-
sociais e as interpretações resultantes dessa relação. Oliveira (2003) observa que a 
base teórica da sociolinguística interacional foi formulada por John J. Gumperz e 
Erving Goffman em seus primeiros trabalhos. 
Segundo Figueroa (1994 apud OLIVEIRA; SILVA, 2003, p. 25-26), podemos 
definir a teoria de Gumperz por três palavras-chave: 
(a) intencionalidade – de natureza racional, baseada em regras e 
convenções sociais; 
(b) interpretação – relacionada com a negociação de significados, com 
a partilha de conhecimento e de intenções entre os falantes; 
(c) significado social – pertinente ao sentido da comunicação, 
alcançado pelo participante do processo interacional por meio de 
seus conhecimentos socioculturais.
4 SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
21
Já a noção de contexto aparece nas análises de Gumperz associado às 
inferências que os interlocutores fazem quando interpretam os enunciados, 
sejam inferências ligadas a traços línguísticos, sejam a traços não-linguísticos, 
tais como gestos, expressões faciais, pausas etc. Veja como começa seu clássico 
artigo Convenções de contextualização, em que o autor deixa claro como as pistas de 
contextualização entram nas análises sociointeracionais:
Tenho defendido a ideia de que a diversidade linguística é mais do 
que uma questão de comportamento. (GUMPERZ, 1982, capítulo 1-5). 
A diversidade linguística funciona como um recurso comunicativo 
nas interações verbais do dia a dia no sentido de que, numa conversa, 
os interlocutores – para categorizar os eventos, inferir intenções e 
apreender expectativas sobre o que poderá ocorrer em seguida – se 
baseiam em conhecimentos e estereótipos relativos às diferentes 
maneiras de falar. Esse conjunto de informações internalizadas é crucial 
para a manutenção do envolvimento conversacional e para o uso eficaz 
de estratégias persuasivas. Apresentando o problema desta maneira, 
podemos evitar o dilema inerente às abordagens tradicionais da 
sociolinguística, que veem os fenômenos sociais como generalizações a 
respeito de grupos precisamente isolados por critérios não-linguísticos, 
tais como residência, classe, profissão, etnia e aspectos semelhantes, 
e que, então, usam tais fenômenos para explicar comportamentos 
individuais. Esperamos poder encontrar um meio de lidar com aquilo 
que normalmente se denomina fenômenos sociolinguísticos, um 
meio tal que se baseie em evidências empíricas de cooperação social 
e não dependa da identificação a priori de categorias sociais. Para 
tanto, estenderemos os métodos linguísticos tradicionais, de testagem 
criteriosa e recursiva de hipóteses com informantes representativos, à 
análise dos processos interativos pelos quais os participantes negociam 
as interpretações. (GUMPERZ, 1982, tradução de J. L. Meurer e V. 
Heberle apud RIBEIRO; GARCEZ, 2002, p. 150-151).
Repare também que Gumperz aponta nesse trecho para a diferença entre a 
análise sociointeracional e as análises sociolinguísticas tradicionais. A esse respeito, 
no clássico artigo de Goffman A situação negligenciada, o autor discute a ideia de 
que o estudo da situação social no que diz respeito à comunicação face a face tem 
sido fator negligenciado pelos estudos sociolinguistas. Neste trabalho, Goffman 
define situação social como “[...] um ambiente que proporciona possibilidades 
mútuas de monitoramento, qualquer lugar em que um indivíduo se encontra 
acessível aos sentidos nus de todos os outros que estão ‘presentes’, e para quem 
os outros indivíduos estão acessíveis de forma semelhante”. (GOFFMAN, 1964, 
tradução de Pedro Garcez apud RIBEIRO; GARCEZ, 2002, p. 17).
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
22
UNI
Nas próximas seções, veremos desdobramentosdestas ideias apresentadas pelos 
fundamentos da sociolinguística interacional quando estudarmos a análise da conversação 
e a etnografia da comunicação, correntes abrigadas nos pressupostos teóricos dos estudos 
sociointeracionistas.
DICAS
Você poderá ler traduções dos textos clássicos Convenções da 
contextualização, de Gumperz, e A situação negligenciada, de Goffman, bem como outros 
trabalhos escritos entre 1960 e 1980, que apresentam os fundamentos da sociolinguística 
interacional, no livro Sociolinguística Interacional, organizado por Bianca T. Ribeiro e Pedro 
M. Garcez (2002), Edições Loyola.
FIGURA 12 – SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL, 
ORGANIZADO POR BIANCA T. RIBEIRO E PEDRO M. GARCEZ 
(2002), EDIÇÕES LOYOLA
FONTE: Disponível em: <https://www.livrarialoyola.com.br/
images/produtosg/8515025167.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2010.
Nesta obra você encontrará também um glossário conciso da 
sociolinguística interacional, organizado por Pedro Garcez e Ana Cristina 
Ostermann. Caso você queira ter acesso a textos clássicos da sociolinguística 
interacional em inglês, há o livro intitulado Language and social context, 
organizado por Pier Paolo Giglioli (1972). Nessa edição você encontrará o texto 
original de Goffman, The negliected situation, bem como trabalhos de outros 
autores como Gumperz, Fishman, Hymes, Labov, e outros.
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
23
Na próxima seção, veremos dois desdobramentos da sociolinguística 
interacional: a análise da conversação e a etnografia da comunicação.
4.1 ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
Dentro dos estudos sociolinguistas há uma área de estudo chamada Análise 
da Conversação que parte da constatação de que a língua é nada mais do que um 
conjunto que se forma a partir de atos individuais de interação entre falantes/
ouvintes, escritores/leitores que realizam ações individuais e sociais. Essa área 
de estudo teve sua origem na década de 1960, a partir de estudos sociológicos de 
Harold Garfinkel, Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jefferson (DIONÍSIO, 
2003). O primeiro livro lançado no Brasil sob esta perspectiva foi Análise da 
conversação, de Luiz Antônio Marcuschi:
FIGURA 13 – LIVRO ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO, DE LUIZ 
ANTÔNIO MARCUSCHI 
FONTE: Disponível em: <http://www.livrariaresposta.com.
br/tbs/sp/9788508107872.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2010.
FIGURA 14 – PROFESSOR LUIZ ANTÔNIO MARCUSCHI
FONTE: Disponível em: <http://img.submarino.com.br/img/
artistas/88019.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2010.
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
24
Dionísio (2003) observa que o trabalho conjunto de sociólogos e linguistas 
parte de duas perguntas básicas: como nós conversamos? e como a linguagem é estruturada 
para favorecer a conversação?. A partir dessas questões, sociólogos e linguistas buscam 
mostrar o que a conversação pode nos dizer sobre a relação entre língua e sociedade. 
Utilizam a Etnometodologia, termo cunhado por Harold Garfinkel 
(sociólogo norte-americano, Studies in Ethnomethodology, 1967), e que pode 
ser definida como “[...] a abordagem que procura descrever os processos que 
caracterizam ou constituem a comunicação interpessoal, analisando o modo como 
os indivíduos interagem e se comportam em meio a diferentes situações específicas 
da vida cotidiana.” (MORATO, 2004, p. 320). A estrutura conversacional pode ser 
estudada a partir de três níveis: o macronível (fases conversacionais, tema central 
e subtemas), o nível médio (turnos e sequências conversacionais, atos de fala e 
marcadores conversacionais) e o micronível (elementos internos dos atos de fala).
Dionísio (2003) elenca as razões que justificam o estudo da conversação:
1) é a prática social mais comum do ser humano;
2) desempenha um papel privilegiado na construção de identidades 
sociais e relações interpessoais;
3) ‘exige uma enorme coordenação de ações que exorbitam em muito 
a simples habilidade linguística dos falantes’ (MARCUSCHI, 1996, p. 
5) apud DIONÍSIO, 2003, p. 71);
4) permite que se abordem questões envolvendo ‘a sistematicidade da 
língua presente em seu uso e a construção das teorias para enfrentar 
essas questões’. (MARCUSCHI, 1998, p. 6 apud DIONÍSIO, 2003, p. 71).
A análise da conversação vai trabalhar com a ideia de tópico discursivo, 
ou seja, os assuntos que vão se encadeando durante a conversação e que podem 
estar relacionados ou não. O encadeamento destes tópicos é que vai constituir 
o texto oral. Nesse sentido, Dionísio (2003) nos chama a atenção para o fato de 
que a análise da conversação tem como objeto de estudo a conversação natural 
que vai acontecendo entre dois ou mais interlocutores em situação de interação. 
A autora nos dá dois exemplos que mostram claramente a diferença entre uma 
conversação natural e uma conversação artificial. Vejamos os exemplos para 
depois delinearmos as diferenças entre ambos:
Exemplo 1: conversação artificial
Josué: Eu vou sozinho.
Dora: Eu já disse que eu vou com você.
Josué: Eu não quero ir com você.
Dora: E por quê?
Josué: Porque eu não gosto de você.
Dora (aflita): E por quê?
Josué: Já te falei. Porque você não vale nada.
Dora: Como é que você vai chegar lá, quer me explicar?
Josué: Deixa um pouco de dinheiro pra eu comer.
FONTE: Central do Brasil (1998, p. 44-45 apud DIONÍSIO, 2003, p. 73)
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
25
Exemplo 2: conversação natural
Contexto: Três alunos (duas mulheres (M33 e M34) e um homem (H28)) 
universitários do Curso de Letras conversando em uma sala, esperando 
começar a aula. Sabem da gravação.
01 H28 bora gente...tenho aula... ( ) daqui a ( ) minutos
02 M33 sinceramente... se fosse uma oculta era muito melhor
03 H28 não... isso é besteira... o papo rola... a gente já falou aqui quem
04 é feminista...[M.H.
05 M33 [M.H.... é ((rindo))
06 H28 é você
07 M34 não tem nada a ver
08 H28 [do-minadora
09 M34 [dominadora não... é o seguinte... eu acho que...é um assunto
10 que não se entra em discussão porque são direitos iguais e
11 acabou-se se... então não tem o que discutir...
12 H28 mas... mas eu noto assim...
13 M33 [[mas eu garanto que muita coisa
14 H28 [[eu acho eu acho é a autoridade
15 M33 você você você é a favor do machismo
16 por isso eu digo por isso eu digo que eu sou meio feminista
17 H28 você é uma feminista machista
18 M34 isso não existe
19 H28 é... existe... [você ( ) do homem
20 M33 [pera aí... você acha... pera aí... pera aí
21 H28 você acha machismo do homem... mas você é assim...veja
22 bem... você acha assim o machismo do homem... mas você tem que analisar
23 assim a mulher pode ser machista pelo lado dela [tá entendendo?
24 M34 [lógico... admito
25 ser que a mulher pode machista só que eu tô querendo dizer é o 
26 seguinte que [eu não sou feminista
27 M33 [mas ela é contra a mulher machista... sabia?
28 M34 eu sou a favor de direitos iguais... com isso eu não tô querendo
29 é dizer que... é: o homem num deva... num possa ser cavalheiro [porque...
30 M33 [mas
31 M34 isso aí ele tá deixando... tá... não....
32 M33 isso faz parte do machismo...
33 M34 o cavalheirismo num faz parte do machismo
FONTE: Projeto linguagem da mulher. Elisabeth Marcuschi e Judith Hoffnagel (apud DIONÍSIO, 
2003, p. 74-75)
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
26
Você reparou na diferença entre as duas conversas do exemplo 1 e 
do exemplo 2? Faça uma listinha em suas anotações das diferenças que você 
consegue perceber antes de continuar a leitura.
AUTOATIVIDADE
Agora que você já parou para pensar nos doisexemplos, repare que é 
justamente para essas diferenças entre as duas conversações que Dionísio (2003) 
nos chama a atenção: na conversa do exemplo 1 cada falante fala no seu turno, 
não há sobreposição de vozes, o diálogo corre dentro de uma simetria que nem 
sempre é obedecida na conversação do exemplo 2. Isso porque o exemplo 1 é uma 
conversa montada, é artificial.
NOTA
Turno conversacional é a intervenção que cada um dos interlocutores faz na 
conversação. Mais adiante veremos em mais detalhes como os interlocutores podem tomar 
o turno conversacional.
Já no exemplo 2, a conversação ocorre de maneira natural entre as pessoas 
envolvidas nela e a interação vai sendo planejada a cada momento de acordo com o 
rumo que a conversa toma. Você deve ter percebido que nesta conversação natural 
houve interrupções, sobreposições de vozes, lacunas não preenchidas nas falas etc.
Você deve ter percebido também que o diálogo do exemplo 2 está transcrito 
de maneira diferenciada, não é verdade? Como a análise da conversação analisa 
textos orais, de conversações naturais, faz-se necessário utilizar uma metodologia 
apropriada de transcrições desses dados que seja capaz de preservar certos 
aspectos próprios das situações naturais de interação, procurando ser o mais fiel 
possível no que de fato ocorreu durante a interação. Dessa metodologia constam a 
gravação ou filmagem dos dados e a posterior transcrição, a partir de um sistema 
de transcrição para textos falados, que em geral seguem as orientações do Projeto 
de Estudo Coordenado da Norma Urbana Culta (Projeto NURC) (DIONÍSIO, 
2003, p. 75). No quadro a seguir, retirado de Dionísio (2003), você encontra uma 
síntese dessas regras de transcrição:
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
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QUADRO 1 – NORMAS PARA TRANSCRIÇÃO EM ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
Ocorrências Sinais Exemplificação
1. Indicação dos falantes
Os falantes devem ser 
indicados em linhas, 
com letras ou alguma 
sigla convencional
H28
M33
Doc.
Inf.
2. Pausas ... Não... isso é besteira...
3. Ênfase MAIÚSCULAS Ela comprou um OSSO
4. Aglomeramento de vogal
: (pequeno)
:: (médio)
::: (grande)
Eu não to querendo é dizer que... é: o 
eu fico :: o: tempo todo
5. Silabação - do-minadora
6. Interrogação ? Ela é contra a mulher machista... sabia?
7. Segmentos 
incompreensíveis ou 
ininteligíveis
( )
(ininteligível) Boa gente... tenho aula... ( ) daqui
8. Truncamento de palavras 
ou desvio sintático
/ eu... pre/ pretendo comprar 
9. Comentário do transcritor (( )) M. H.... é ((rindo))
10. Citações “ ”
“mai Jandira Ru vô dizê a Anja agora 
que ela vai a apanhá a profissão de 
madrinha agora mesmo”
11. Superposição de vozes [
H28. É... existe... [você ( ) do homem... 
M33. [pera aí... você acha... 
pera aí... pera aí
12. Simultaneidade de vozes [[
M33. [[mas eu garanto que muita coisa
H28. [[eu acho eu acho é a autoridade 
13. Ortografia tô, tá, vô, ahã, mhm 
FONTE: Dionísio (2003, p. 76)
Repare que a transcrição dos dados de fala na análise da conversação 
deve levar em conta não somente o que é dito de fato, mas outras nuanças da 
comunicação, como gestos, expressões faciais e corporais, as entonações e 
inclusive o silêncio. Esses recursos não-verbais podem ser sistematizados da 
seguinte maneira, conforme apresentado em Dionísio (2003):
a) paralinguagem: sons emitidos pelo aparelho fonador, mas que não 
fazem parte do sistema sonoro na língua usada;
b) cinésica: movimentos do corpo como gestos, postura, expressão 
facial, olhar e riso;
c) proxêmica: a distância mantida entre os interlocutores;
d) tacêsica: o uso de toques durante a interação;
e) silêncio: a ausência de construções linguísticas e de recursos de 
paralinguagem. (STEINBERG, 1988, p. 3 apud DIONÍSIO, 2003, p. 77).
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
28
 Agora voltemos a falar de turnos conversacionais. Marcuschi (1986 apud 
DIONÍSIO, 2003, p. 79) define turno como “[...] a produção de um falante enquanto 
ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio”, mas exclui desta 
definição a intervenção que o ouvinte faz no turno do falante. Dionísio observa 
que no exemplo 2, apresentado anteriormente, temos 22 turnos, os quais podem 
ser nucleares (turnos 02, 03, 07, 08, 11-15, 17-21), pois dão continuidade ao tópico, 
ou inseridos (turnos 04, 05, 06, 09, 10 e 16), pois são intervenções marginais ao 
tópico conversacional e podem ser de esclarecimento, de concordância, de 
discordância, de avaliação etc.
QUADRO 2 – TURNOS CONVERSACIONAIS
01 H28 bora gente...tenho aula... ( ) daqui a ( ) minutos → turno 01
02 M33 sinceramente... se fosse uma oculta era muito melhor → turno 02
03 H28 não... isso é besteira... o papo rola... a gente já falou aqui quem → turno 03
04 é feminista...[M.H.
05 M33 [M.H.... é ((rindo)) → turno 04
06 H28 é você → turno 05
07 M34 não tem nada a ver → turno 06
08 H28 [do-minadora → turno 07
09 M34 [dominadora não... é o seguinte... eu acho que...é um assunto → turno 08
10 que não se entra em discussão porque são direitos iguais e
11 acabou-se se... então não tem o que discutir...
12 H28 mas... mas eu noto assim... → turno 09
13 M33 [[mas eu garanto que muita coisa → turno 10
14 H28 [[eu acho eu acho é a autoridade → turno 11
15 M33 você você você é a favor do machismo → turno 12
16 por isso eu digo por isso eu digo que eu sou meio feminista
17 H28 você é uma feminista machista → turno 13
18 M34 isso não existe → turno 14
19 H28 é... existe... [você ( ) do homem → turno 15
20 M33 [pera aí... você acha... pera aí... pera aí → turno 16
21 H28 você acha machismo do homem... mas você é assim...veja → turno 17
22 bem... você acha assim o machismo do homem... mas você tem que analisar
23 assim a mulher pode ser machista pelo lado dela [tá entendendo?
24 M34 [lógico... admito → turno 18
25 ser que a mulher pode machista só que eu tô querendo dizer é o 
26 seguinte que [eu não sou feminista
27 M33 [mas ela é contra a mulher machista... sabia? → turno 19
28 M34 eu sou a favor de direitos iguais... com isso eu não tô querendo → turno 20
29
é dizer que... é: o homem num deva... num possa ser cavalheiro 
[porque...
30 M33 [mas → turno 21
31 M34 isso aí ele tá deixando... tá... não...
32 M33 isso faz parte do machismo...
33 M34 o cavalheirismo num faz parte do machismo → turno 22
FONTE: Dionísio (2003, p. 79-80)
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
29
Durante uma conversa, os interlocutores precisam utilizar estratégias de 
gestão de turnos, ou seja, precisam de algum modo tomar a palavra para que 
a interação se concretize através das trocas de turno e da sustentação da fala. 
Dionísio (2003) observa que há duas maneiras de tomar a palavra nas trocas de 
turno: passagem de turno e assalto ao turno. Na passagem de turno, pode ou não 
haver a indicação à entrega explícita do turno pelo falante: este pode passar o 
turno ou simplesmente consentir na passagem. 
Já o assalto ao turno acontece quando o ouvinte toma a palavra, invadindo 
o turno do falante e desrespeitando, assim, a regra básica da conversação que 
implica cada qual falar no seu turno. O assalto ao turno pode se dar com deixa 
ou sem deixa. O assalto com deixa ocorre quando o interlocutor invade o turno 
nas pausas, hesitações, alongamentos, entonação descendente etc. Você pode 
encontrar este tipo de assalto ao turno com deixa em entrevistas no rádio e na 
televisão, quando os repórteres invadem o turno do entrevistado a fim de dar 
continuidadeà entrevista ou para evitar que esse último se alongue demasiado 
em sua exposição, por exemplo. Por outro lado, o assalto sem deixa vai se 
caracterizar essencialmente pela sobreposição de vozes e pela intervenção brusca.
DICAS
Caro acadêmico: volte ao nosso exemplo 2 e observe que nas linhas 13 e 14 há 
assalto de turno sem deixa, com a sobreposição de vozes, transcrita com o símbolo [[.
Dionísio (2003) observa que no assalto sem deixa pode acontecer: 
a) de o falante abandonar o turno para o interlocutor assaltante; 
b) de o interlocutor assaltado não abandonar o turno e continuar no comando; 
c) de o interlocutor perder o turno e recuperá-lo em seguida. 
Quanto à segunda estratégia de gestão de turnos, a sustentação da fala, o 
interlocutor vai sinalizar de alguma maneira que deseja continuar comandando o 
turno. Para isso, utilizará marcadores conversacionais, alongamentos, repetições 
e elevação da voz, dentre outros. No final desta seção você encontrará exemplos 
de trabalhos realizados no Brasil a partir de abordagens que levam em conta as 
estratégias de trocas de turnos. 
Os marcadores conversacionais linguísticos, por exemplo, são expressões 
estereotipadas, sinalizadoras de conversa, tais como uhm, sabe?, certo?, ok?, 
entendeu?, não é?, ahã..., ah sim, mhm, peraí, aí etc. Há também os marcadores 
conversacionais paralinguísticos que utilizamos para manter e regular a interação, 
tais como gestos, risos, olhares, maneios de cabeça etc.
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
30
Para que você tenha uma ideia mais clara da abordagem utilizada 
pela análise da conversação, sugerimos que você grave/filme (pode ser 
com o seu celular) ou salve uma conversa pelo MSN e transcreva a partir 
do sistema de transcrição apresentado no Quadro 2 anterior. Procure 
transcrever a conversa o mais fiel possível e você terá uma ideia mais clara 
do quão complexa é uma conversação. 
AUTOATIVIDADE
4.2 ETNOGRAFIA DA COMUNICAÇÃO
Em linhas gerais, podemos dizer que a etnografia da comunicação estuda 
a linguagem a partir dos comportamentos culturais:
A etnografia da comunicação interessa-se em descrever e analisar as 
formas dos ‘eventos de fala’, especificamente, as regras que dirigem 
a seleção que o falante opera em função dos dados contextuais 
relativamente estáveis, como a relação que ele contrai com o 
interlocutor, com o assunto da conversa, e outras circunstâncias do 
processo de comunicação, como espaço e tempo e, sobretudo, as regras 
que dirigem o modo como cada participante sustenta a interação 
verbal em curso. (CAMACHO, 2005, p. 49-50). 
Os estudos desta corrente têm início com os trabalhos de Dell Hymes 
(sociolinguista e antropólogo), das décadas de 1960 e 1970, inspirados nas 
abordagens socioculturais de Edward Sapir, na década de 1930. Boa parte dos 
trabalhos de Hymes foram reunidos no livro Foundations in Sociolinguistics: an 
Ethnographic Approach, lançado em 1974 (OLIVEIRA E SILVA, 2003).
FIGURA 15 – FOUNDATIONS IN SOCIOLINGUISTICS: AN 
ETHNOGRAPHIC APPROACH, DE DELL HYMES
FONTE: Disponível em: <http://www.upenn.edu/pennpress/
img/covers/934.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2010.
TÓPICO 2 | ÁREAS DOS ESTUDOS SOCIOLINGUÍSTICOS
31
FIGURA 16 – DELL HYMES
FONTE: Disponível em: <http://mi-cache.legacy.com/legacy/
images/Cobrands/DailyProgress/Photos/0001673139-01-
1_20091116.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2010.
Oliveira e Silva (2003) observa que a metodologia de pesquisa dos estudos 
etnográficos pressupõe que o pesquisado participe intensamente da comunidade 
pesquisada, que faça um registro cuidadoso sobre o que acontece a partir de 
anotações ou documentação audiovisual, e que proceda na reflexão analítica e na 
descrição detalhada sobre os dados coletados, levando em conta ‘os significados 
imediatos ou locais das ações sociais do ponto de vista dos interagentes’. 
(OLIVEIRA E SILVA, 2003, p. 28).
Como exemplos de estudos sociointeracionistas no Brasil, temos os 
trabalhos de Dino Preti, alguns reunidos na obra Estudos de língua oral e escrita (2004). 
Nessa obra, há trabalhos do autor com a fala dos idosos em que ele leva em conta 
para a análise dos dados fatores psicofísicos decorrentes do processo natural de 
envelhecimento e as condições socioculturais em que estes falantes se encontram. 
A partir da análise qualitativa de dados de conversação dos idosos, o autor observa, 
dentre outras coisas, que as repetições, os gaguejamentos, as autocorreções que 
aparecem como características de suas falas podem estar vinculadas à situação 
psicofísica dos idosos, bem como a determinadas estratégias interacionais. 
Trabalhos de Deborah Tannen, por exemplo, também indicam que a 
repetição na conversação pode ser usada como uma estratégia de interação que 
cria um envolvimento interpessoal, passando a ideia de que o ritmo conversacional 
está sendo compartilhado e estabelecido sem esforço. (BARROS, 2003, p. 45).
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
32
ATENCAO
Caro acadêmico, abordamos brevemente nesta seção alguns dos principais 
aspectos dos estudos em sociolinguística interacional. A partir do que vimos aqui, essa é 
uma área de estudos que procura explicar a diversidade linguística a partir da análise de 
conversações reais, levando em conta aspectos sociais e culturais envolvidos na interação. Se 
você se interessou por esta área de estudos sociolinguísticos e deseja continuar conhecendo 
mais, poderá começar com as indicações de leitura que demos aqui, que certamente o 
levarão a outras e outras leituras.
33
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos as principais correntes da sociolinguística e suas 
maneiras particulares em abordar a diversidade linguística: a dialetologia, 
a sociolinguística variacionista e o sociointeracionismo, o qual tem como 
desdobramento a análise da conversação e a etnografia da comunicação.
A primeira área dos estudos sociolinguísticos que estudamos foi a 
Dialetologia, que estuda a variação linguística que surge em regiões geográficas 
diferentes, tendo por objetivo principal estudar a variação linguística diatópica. 
Vimos também que no Brasil os estudos dialetológicos têm sido desenvolvidos a 
partir do Atlas Linguístico do Brasil – ALiB.
Já a sociolinguística variacionista, cujo fundador é o linguista William 
Labov, tem como enfoque o exame da linguagem no contexto social a fim de 
encontrar no uso social da linguagem as explicações para as variedades inerentes 
aos sistemas linguísticos. Voltaremos a estudar em mais detalhes este ramo da 
sociolinguística na Unidade 2.
A sociolinguística interacional, proposta por Gumperz na década de 1970, 
tem uma base interdisciplinar apoiada nas áreas da linguística, da antropologia 
e da sociologia. Seu objeto de estudo são os enunciados produzidos em situações 
reais de interação e investiga a relação entre as interações linguístico-sociais e 
as interpretações resultantes dessa relação. Como desdobramento dos estudos 
sociointeracionistas, vimos a análise da conversação e a etnografia da comunicação.
A análise da conversação parte da constatação de que a língua nada mais 
é do que um conjunto que se forma a partir de atos individuais de interação entre 
falantes/ouvintes, escritores/leitores que realizam ações individuais e sociais. 
Estes estudos partem de duas perguntas básicas: como nós conversamos? e como 
a linguagem é estruturada para favorecer a conversação?. A partir dessas questões, 
buscam mostrar o que a conversação pode nos dizer sobre a relação entre língua 
e sociedade. Já a etnografia da comunicação estuda a linguagem a partir dos 
comportamentos culturais.
34
Faça uma pesquisa na internet sobre o método da Etnografia. Você 
pode começar dando uma olhada na Wikipédia.
AUTOATIVIDADE
Assista ao vídeo de
resolução desta questão
35
TÓPICO 3
BILINGUISMO, MULTILINGUISMO E DIGLOSSIA:AS LÍNGUAS EM CONTATO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico vamos estudar o contato entre línguas a partir dos fenômenos de 
bilinguismo/multilinguismo, diglossia e também veremos uma introdução à questão 
de política linguística, à qual voltaremos na Unidade 3 deste caderno. Vamos lá!
2 BILINGUISMO E MULTILINGUISMO
O conceito de bilinguismo tem como base a ideia de um indivíduo que 
fala duas línguas. No entanto, chamar de bilíngue uma pessoa que fala duas 
línguas pode estar associado a diversas situações de aquisição/aprendizagem 
dessas duas línguas. Por exemplo, podemos estar falando de uma criança que 
adquiriu duas línguas simultaneamente durante a primeira infância; podemos 
ainda estar falando de uma pessoa que aprendeu a falar uma segunda língua em 
um processo de imigração, ou, ainda, através de ensino formal.
Além disso, quando falamos de bilinguismo também temos que pensar na 
questão dos graus de conhecimento que o indivíduo bilíngue tem em cada uma 
das línguas que adquiriu/aprendeu, já que são situações diferentes se pensarmos 
em um indivíduo que adquiriu duas línguas maternas ou ainda um indivíduo 
que aprendeu outra língua depois de adquirir sua língua materna. 
Para você ter uma ideia da abrangência que pode alcançar o conceito de 
bilinguismo entre os estudiosos, vejamos os conceitos de bilinguismo em vários 
autores discutidos em Megale (2005):
‘Ser capaz de falar duas línguas igualmente bem porque as utiliza 
desde muito jovem’. Na visão popular, ser bilíngue é o mesmo 
que ser capaz de falar duas línguas perfeitamente; esta é também a 
definição empregada por Bloomfield que define bilinguismo como 
“[...] o controle nativo de duas línguas”. (BLOOMFIELD, 1935 apud 
HARMERS e BLANC, 2000, p. 6 apud MEGALE, 2005, p. 27).
36
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
Segundo a autora, esta visão de bilíngue perfeito se opõe à visão de 
Macnamara, citada a seguir: 
[...] um indivíduo bilíngue é alguém que possui competência mínima 
em uma das quatro habilidades linguísticas (falar, ouvir, ler e escrever) 
em uma língua diferente de sua língua nativa. (MACNAMARA, 1967 
apud HARMERS e BLANC, 2000, p. 6 apud MEGALE, 2005, p. 28).
Repare que os conceitos de bilinguismo vão desde aquele que considera 
bilíngue apenas o indivíduo que tem fluência completa em duas línguas, até aquele 
em que bilíngue é qualquer pessoa que possua alguma habilidade linguística em 
outra língua que não a sua língua materna.
O bilinguismo pode ser individual ou social. O primeiro se refere a 
pessoas que falam duas línguas porque aprenderam/adquiriram em condições 
individuais e particulares. Por exemplo, quando um brasileiro aprende inglês em 
uma escola de idiomas com vistas a fazer uma viagem a um país de língua inglesa 
ou ainda por motivos profissionais etc.
Já o bilinguismo social é aquele que envolve uma determinada 
comunidade em que duas ou mais línguas estão em contato. Segundo Appel e 
Muysken (1996, p. 10), quase todas as sociedades são bilíngues, embora existam 
diferenças quanto ao grau ou à forma de bilinguismo. O bilinguismo social pode 
ser reconhecido ou não. Por exemplo, há países que têm duas (ou mais) línguas 
oficiais, como o Paraguai, por exemplo, onde se fala espanhol e guarani. Por outro 
lado, existem comunidades bilíngues que não são reconhecidas oficialmente, 
como, por exemplo, as comunidades de imigrantes que falam português/alemão, 
português/italiano, português/japonês etc.
Segundo Appel e Muysken (1996, p. 10), é possível distinguir três situações 
de bilinguismo social, como mostra o gráfico a seguir:
GRÁFICO 1 – SITUAÇÕES DE BILINGUISMO
FONTE: Appel e Muysken (1996, p. 10)
A partir do gráfico anterior, os autores mostram que na situação I as duas 
línguas são faladas por grupos diferentes e cada grupo é monolíngue. Nesse caso, 
a comunicação entre os grupos é feita por alguns falantes bilíngues. Na situação II 
TÓPICO 3 | BILINGUISMO, MULTILINGUISMO E DIGLOSSIA: AS LÍNGUAS EM CONTATO
37
DICAS
A Comunidade Surda brasileira é considerada bilíngue (LIBRAS/português) e 
muitos surdos têm a LIBRAS como sua primeira língua e o português falado/escrito como sua 
segunda língua. Existem ouvintes que também são sinalizantes de LIBRAS, como os familiares 
e amigos de surdos e os intérpretes de Língua de Sinais, mas há uma boa parte da população 
brasileira que não sinaliza (incluindo ouvintes e surdos). Pensando no gráfico anterior, em qual 
situação de bilinguismo social LIBRAS e português se encaixam melhor?
Um outro conceito ligado ao de bilinguismo é o de multilinguismo, 
o qual abrange, de modo geral, as pessoas que falam três ou mais línguas. O 
multilinguismo pode ser estudado sob vários enfoques, mas é importante destacar 
que estamos vivendo o desabrochar de uma consciência acerca do multilinguismo 
no mundo e suas consequências. Sobre esta questão, veja o que nos diz Orlandi:
O Brasil é um país multilíngue como acontece com os países em geral. 
Também como todo país, o Brasil tem a sua língua oficial, ao lado das 
muitas línguas indígenas, falares regionais, línguas de imigração, etc. Isso 
porque ao lado da multiplicidade concreta de línguas há, nos Estados, a 
necessidade da construção de uma unidade imaginária. A língua oficial é 
um dos lugares de representação de nossa unidade e soberania em relação 
a outras nações. Isso acontece mesmo em um momento como o atual em 
que a questão da mundialização, das nacionalidades e do multilinguismo 
está posta enfaticamente. O modo de refletir sobre estas questões é que 
pode diferir teórica e politicamente. (ORLANDI, 2007, p. 59).
Voltaremos às questões políticas envolvidas no multilinguismo na 
próxima seção. Por ora, nos concentremos no fato de que os fenômenos do 
bilinguismo/multilinguismo podem gerar o contato entre as línguas envolvidas, 
como veremos na próxima seção.
3 LÍNGUAS EM CONTATO
O contato entre as línguas produzirá, inevitavelmente, empréstimos 
e interferências. No livro Languages in contact, Uriel Weinrich (apud CALVET, 
2002, p. 35) define interferência como “[...] um remanejamento de estruturas 
resultante da introdução de elementos estrangeiros nos campos mais fortemente 
estruturados da língua, como o conjunto do sistema fonológico, uma grande 
parte da morfologia e da sintaxe e algumas áreas do vocabulário (parentesco, cor, 
tempo, etc.)”. (WEINRICH apud CALVET, 2002, p. 35).
todos os falantes são bilíngues. Já na situação III um grupo é monolíngue e outro 
grupo é bilíngue; em geral este último é o grupo minoritário na comunidade.
38
UNIDADE 1 | SOCIOLINGUÍSTICA: ASPECTOS GERAIS
FIGURA 17 – INTERFERÊNCIA LINGUÍSTICA
FONTE: Os autores
Calvet (2002) distingue três tipos de interferência: as interferências 
fonológicas, as interferências sintáticas e as interferências lexicais. Um exemplo de 
interferência fonológica é a distinção entre o /i:/ longo e o /i/ breve do inglês, em 
palavras como ship (navio) e sheep (ovelha), respectivamente, cuja diferenciação 
é em geral difícil para brasileiros, uma vez que não há em português essa 
distinção longo-breve no sistema vocálico. Não realizar essa distinção pode trazer 
problemas de interpretação para os enunciados.
Já as interferências sintáticas consistem em transferir para a língua B 
alguma estrutura sintática da língua A. Em geral isso pode acontecer em falantes 
aprendendo uma segunda língua. Assim, transfere-se a estrutura da língua 
materna para a segunda língua, por desconhecimento da daquela estrutura na 
segunda língua. Por exemplo, imaginemos um americano aprendiz de português 
brasileiro que queira fazer uma pergunta do tipo Can you help me?; se ele não 
souber como produzir essa pergunta em português brasileiro, provavelmente 
produzirá uma pergunta como Pode você me ajudar?, ou seja, uma pergunta 
com inversão verbo-sujeito, estrutura que não é comum

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