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0 Universidade Federal do Pará Faculdade de Engenharia Civil Instituto Tecnológico Curso de Engenharia Civil ANÁLISE DE VARIABILIDADE NO PROCESSO CONSTRUTIVO DA ALVENARIA ESTRUTURAL – ESTUDO DE CASO NOADSON GOMES MONTEIRO ANTÔNIO MARCOS CORRÊA DE JESUS Belém do Pará 2010 0 NOADSON GOMES MONTEIRO ANTÔNIO MARCOS CORRÊA DE JESUS ANÁLISE DE VARIABILIDADE NO PROCESSO DE EXECUÇÃO DA ALVENARIA ESTRUTURAL - UM ESTUDO DE CASO Prof. Dr. André Luiz Guerreiro da Cruz Engenheiro Civil Professor-Orientador – FEC/ITEC – UFPA Nilton Guilherme dos Santos Batista Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPA (PPGEC-UFPA) Co-orientador Belém - PA 2010 Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado a Faculdade de Engenharia civil da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para obtenção do título de graduação em Engenharia Civil. 1 NOADSON GOMES MONTEIRO ANTÔNIO MARCOS CORRÊA DE JESUS ANÁLISE DE VARIABILIDADE NO PROCESSO DE EXECUÇÃO DA ALVENARIA ESTRUTURAL - UM ESTUDO DE CASO Este Trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Graduação em Engenharia Civil, no Curso de Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará Belém, XX de XXXX de 2010. BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr. André Luiz Guerreiro da Cruz Engenheiro Civil Professor-Orientador – FEC/ITEC – UFPA _____________________________________ Prof. Dr. Renato Martins das Neves Engenheiro Civil Professor – FEC/ITEC – UFPA ______________________________________ Prof. Msc. Luiz Maurício Furtado Maués Engenheiro Civil Professor – FEC/ITEC – UFPA 2 DEDICATÓRIA Aos nossos pais, avós, irmãos, tios, tias, namoradas e amigos; 3 AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, por toda a saúde e sucesso ao longo dessa caminhada, por todos os amigos e pessoas importantes que sempre estiveram conosco, dentre estes estão o nosso orientador Profº André Luiz Guerreiro da Cruz e o Engº Nilton Batista, pessoas que contribuíram significantemente para nossa formação profissional. Agradecemos as nossas namoradas por toda dedicação e apoio nos momentos que mais precisamos. Aos grandes amigos que conhecemos durante a vida acadêmica, presenças constantes tanto nos bons quanto nos maus momentos. E acima de tudo, agradecemos aos nossos pais (Antonia e Nonato/Eduardo; Socorro e Gilberto/João), por nos proporcionar uma educação de qualidade capaz de nos levar a uma universidade pública e conseqüentemente a nossa formação, que mesmo com dificuldades, nunca mediram esforços em investir em nosso conhecimento. Aos nossos tios e tias, por todo apoio sempre que necessário. Sobretudo, agradecemos a todos que estiveram conosco ao longo dessa árdua caminhada e que mesmo direta ou indiretamente nos ajudaram em mais essa conquista em nossas vidas. 4 SUMÁRIO Lista de Figuras _____________________________________________________ 06 Lista de Tabelas _____________________________________________________ 06 Lista de Planilhas ___________________________________________________ 06 Lista de gráficos _____________________________________________________ 07 Resumo ___________________________________________________________ 08 Capitulo 1 – Introdução 1.1 - Introdução ______________________________________________________ 09 1.2 - Justificativa ____________________________________________________ 10 1.3 - Objetivos _______________________________________________________ 10 1.3.1 - Objetivo Geral do trabalho __________________________________ 10 1.3.2 - Objetivos específicos _______________________________________ 10 1.4 – Estrutura dos capítulos ____________________________________________ 11 Capitulo 2 – Revisão Bibliográfica 2.1 – A Produtividade _________________________________________________ 22 2.1.1 – Conceito de produtividade Perdas na construção civil ______________________________________________ 12 2.1.1 – Indicadores de Perdas ______________________________________ 14 2.2 – Varibilidade ____________________________________________________ 23 2.2.1 – Variabilidade nos processos __________________________________ 25 2.2.2 – Variabilidade nos índices de produtividade ______________________ 25 2.2.3 – Variabilidade da produtividade média __________________________ 26 2.2.4 – Variabilidade dos valores individuais da produtividade ____________ 27 2.2.5 – Parâmetros de análise da variabilidade _________________________ 28 2.3 - Avaliação de produtividade na mão-de-obra 2.4 – Logística _______________________________________________________ 30 2.4.1 – Conceitos e abordagens de logística ___________________________ 30 2.4.2 – Objetivo da gestão da logística _______________________________ 31 2.4.3 – A gestão de logística na empresa de construção __________________ 32 2.4.4 – Logística no canteiro _______________________________________ 33 2.4.5 – Atividades da cadeia logística no canteiro de obras _______________ 34 2.4.6 – Os estudos de preparação no processo de produção de edifícios______ 34 2.5 – Projetos de canteiro 2.6 – Controle _______________________________________________________ 16 2.6.1 – Definição de controle _______________________________________ 16 2.6.2 – Objetivo do controle _______________________________________ 16 2.6.3 – Controle de mão de obra ____________________________________ 16 2.7 - Construção Enxuta _______________________________________________ 37 2.7.1 – Conceitos ________________________________________________ 37 2.7.2 – Desperdicio ______________________________________________ 39 2.7.3 – Foco no cliente ____________________________________________ 39 2.7.4 – Mão de obra ______________________________________________ 39 2.7.5 – Estrutura do Sistema de Construção Enxuta _____________________ 40 5 2.7.6 – Identificação das perdas _____________________________________ 40 2.8.6 – Simplificar através da redução do número de passos ou partes _______ 41 2.8.7 – Introduzir melhoria continua no processo _______________________ 41 2.8.8 – Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões ___ 42 ___________________________________________________________________ 2.8 – Alvenaria Estrutural __________________________________________________ 17 2.8.1 – Histórico _________________________________________________ 17 2.8.2 – Definição 2.8.4 – Unidades ________________________________________________ 20 2.8.5 – Argamassa _______________________________________________ 21 2.8.6 – Grout ___________________________________________________ 21 2.8.7 – Armadura ________________________________________________ 21 2.8.8 – Modulação _______________________________________________ 21 Capitulo 3 – Metodologia 3.1 – Metodologia de Pesquisa __________________________________________ 43 3.1.1 – Fase de Apresentação _______________________________________ 43 3.1.2 – Método da coleta de dados ___________________________________ 45 3.2 – Procedimento de execução de serviço ________________________________ 50 3.2.1 – Documentos de referência 3.2.2 - Itens de análise de projeto 3.2.3 - Marcação ________________________________________________ 51 3.2.4 – Primeira elevação __________________________________________53 3.2.5 – Segunda elevação __________________________________________ 59 3.2.6 – Preservação dos serviços acabados ____________________________ 59 Capitulo 4 – Resultados 4.1 – Apresentação de Resultados ________________________________________ 65 4.1.1 – 1º pavimento 4.1.2 – 2º pavimento 4.1.3 – 3º pavimento 4.1.4 – 4º pavimento 4.1.5 – 5º pavimento 4.1.6 – 6º pavimento 4.1.7 – 7º pavimento 4.1.8 – 8º pavimento 4.2 – Analise da Variabilidade __________________________________________ Capitulo 5 – Conclusão _______________________________________________ Referências Bibliográficas ____________________________________________ Lista de Figuras 6 Capítulo 02 Figura 01 - Tipos de Blocos _______________________________________________ Figura 02 - Diferentes abrangências do estudo da produtividade ___________________ Figura 03 - Nomes de departamentos para funções relacionadas com a logística_ _____ Figura 04 - Exemplo de situação na qual se eliminou uma atividade que não agrega Valor _________________________________________________________________ Figura 06 - Minimização no número de passos na execução de alvenaria ____________ Figura 05 – Duas formas de planejar uma mesma obra (hipotética _________________ Figura 07 - Exemplo de aplicação do princípio da transparência dos processos _______ Capítulo 03 Figura 08 – Conferência do eixo de referência _________________________________ 54 Figura 09 – Assentamento dos primeiros blocos________________________________ 54 Figura 10 – Tela Eletrosoldada p/ amarração de paredes _________________________ 56 Figura 11 - Detalhe do furo de inspeção do graute _____________________________ 59 Figura 12 – Gabarito limitador de vão _______________________________________ 60 Figura 13 – Detalhe da utilização da linha de nylon _____________________________ 61 Figura 14 – Fluxograma do processo da alvenaria estrutural ______________________ 62 Lista de Tabelas Capítulo 02 Tabela 01 – Características das estruturas organizacionais _______________________ 34 Capítulo 03 Tabela 02 – Ficha de Verificação de Serviço da Alvenaria estrutural _______________ 57 Lista de Planilhas Capítulo 03 Planilha 01 – Perímetro de cada elevação _____________________________________ 50 Planilha 02 – Área das elevações x Porcentagens equivalentes ____________________ 52 Planilha 03 – Acompanhamento diário no campo_______________________________ 53 Capítulo 04 Planilha 04 – Controle de produção diária de marcação da alvenaria________________ 65 Planilha 05 – Acompanhamento diário de produção das elevações da alv ____________ 68 Planilha 15 - Índices de Produtividade _______________________________________ 73 Lista de Gráficos Capítulo 04 Gráfico 01 _____________________________________________________________ 66 7 Gráfico 02 _____________________________________________________________ 71 Gráfico 03 _____________________________________________________________ 72 Gráfico 04 _____________________________________________________________ 74 Gráfico 05 _____________________________________________________________ 75 Gráfico 06 _____________________________________________________________ 76 8 RESUMO Com o crescimento do mercado imobiliário a industria da construção civil teve que renovar seus métodos construtivos de modo a agregar menor tempo e custos, dessa forma várias filosofias construtivas começaram a ser empregadas nos canteiros de obras com muito mais forca. Um dos métodos mais utilizados pelas construtoras e o da construção enxuta, o qual preza o mínimo de perdas possíveis, tanto de materiais quanto de mao de obra. De modo que um projeto seja executado da forma mais racional e sustentável possível. A indústria da construção civil vem aperfeiçoando cada vez mais seus métodos construtivos, de acordo com os avanços tecnológicos na área. Este trabalho tem como principal objetivo mostrar o processo executivo da alvenaria estrutural em blocos de concreto e suas variabilidades, através da coleta de dados para obter os índices de produtividade. Os dados foram coletados na execução de cada pavimento para que as analises de variabilidades fossem compreendidas. 9 - CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 – Introdução O setor da construção civil no Brasil vem sofrendo crescimentos consideráveis, devido à grande demanda nos últimos anos para este mercado. Com a concorrência cada vez mais equilibrada entre grandes e pequenos empreendedores, o setor estratégico destas empresas passou a dar uma maior importância para as técnicas de planejamento, controle da produção e também a qualidade dos bens e serviços oferecidos. “As atuações na área de controle da produção vem exigindo mudanças estruturais e de comportamento, tanto nos processos de produção como nos procedimentos administrativos e gerenciais, como modo de alcançar soluções para modernizar processos, melhorar a qualidade e reduzir o preço os produtos” (ASSUMPÇÃO, 1996; TRIGUNARSYAH e ABIDIN, 1997). Tornou-se, então, imprescindível o gerenciamento total dos recursos empregados em uma obra, seja ela grande ou pequena, visando aperfeiçoar todos os processos. “Neste contexto, o setor da construção civil tem procurado adaptar conceitos, métodos e técnicas desenvolvidas para ambientes de produção industrial que, em geral são implementados através de procedimentos administrativos, como também de sistemas de planejamento e controle da produção. Entretanto estes sistemas desenvolvidos para o ambiente industrial nem sempre conseguem adaptar-se às situações que ocorrem na construção civil, fazendo com que se acabem gerando sistemas inadequados e de baixa ineficiência” (ASSUMPÇÃO, 1996). Porém o que mostram as bibliografias e dados referentes a este assunto, é que os profissionais nos níveis táticos e operacionais destas empresas não possuem a mesma visão e, portanto, não dão a mesma importância ao assunto. A intenção é propor para os profissionais da gestão da construção civil uma solução que atenderá as expectativas na concepção do projeto e na execução da obra em diversos aspectos, tais como: Viabilidade técnica do projeto; Gerencia do projeto, Analise de investimento; Planejamento das atividades e etc, tornando a obra um negócio rentável e promissor. A lean construction, também conhecida como construção enxuta, direciona suas ações para “enxugar” a obra de todas as atividades que não agregam valor. A proposta é reduzir custos sem necessidade de investimentos, somente através de uma melhor organização 10 do processo, eliminando reservas de mão-de-obra ociosa e otimizando cada recurso disponível. Neste cenário, ganha importância o crescimento da produtividade da equipe em detrimento da produtividade individual. É neste contexto que baseia-se este trabalho para analisar o sistema de alvenaria estrutural de uma determinada obra, desde o início da sua execução e propor melhoria para a diminuição da variabilidade neste processo construtivo. Para suprir às novas dificuldades as empresas buscam diferenciais, (Santiago Jr. 2002). Esse diferencial entre as empresas evolui, necessariamente a melhoria dos sistemas de gestão da engenharia, de tecnologias de projetos e etc. Ele ainda destaca que o setor da construção é o mais atrasado em termos de gestão empresarial com relação aos outros segmentos produtivos. Embora existam diferenças significativas entre as idéias de diversos autores, a maioria converge para fins comuns como estabilizar e garantir o fluxo de trabalho contínuo, ganhando velocidade para obter como resultado o término da obra dentro das projeçõesde prazo e custo. Nesse trabalho será demonstrado o acompanhamento diário das atividades de forma a entender a importância efetiva tanto do planejamento, como também do controle dessa variabilidade 1.2 – Justificativa Nos últimos anos, o interesse pela alvenaria estrutural cresceu de forma notável, em função disso, optou-se pelo desenvolvimento de um trabalho no qual será feito o acompanhamento do processo construtivo da alvenaria estrutural, voltado para o controle da variabilidade no sistema de construção, demonstrando fatores que mais influenciam para a melhoria significativa da produtividade ao longo do tempo, a dificuldade de se conseguir alcançar prazo estipulado para a execução da mesma, dentre outros problemas como o pouco conhecimento da técnica na região. Outro fator determinante foi que, durante o curso de graduação, o processo executivo da alvenaria estrutural não foi abordado de forma completa, apenas superficialmente, devido Ao pouco tempo reservado ao assunto na grade curricular do curso. Sendo assim este trabalho servirá para o fortalecimento e ampliação do conhecimento adquirido pelo aluno na área de alvenaria estrutural. 11 1.3 – Objetivos 1.3.1 – Objetivo geral Analisar a variabilidade na execução da alvenaria estrutural, analisando a oscilação dos índices de produtividade desta no decorrer da obra. 1.3.2 – Objetivos específicos: a) Documentar a execução do processo em uma obra de alvenaria estrutural; b) Realizar uma análise crítica da variabilidade; c) Analisar a variabilidade de produtividade considerando todos os aspectos relevantes na execução da alvenaria estrutural. 1.4 – Estrutura dos capítulos No capítulo 01 são demonstradas as contextualizações do tema a ser apresentado e as considerações iniciais sobre o assunto tratado no trabalho. Além de apresentar a justificativa da pesquisa e seus objetivos gerais e específicos. No capítulo 02, é apresentada a revisão bibliográfica do processo construtivo, a partir do contexto de temas como: produtividade, variabilidade, logística, planejamento e controle da produção e construção enxuta. No capítulo 03, é apresentada a metodologia de pesquisa e de coleta de dados, são exemplificados os processos de acompanhamento, as etapas para realização de um processo construtivo em alvenaria estrutural, também aborda – se como houve a estruturação da pesquisa, realizando as descrições dos fatores que intervieram. No capítulo 04, são apresentados os resultados obtidos no estudo, as planilhas que foram utilizadas nas coletas dos dados, e os índices obtidos. No capítulo 05, são feitas as conclusões a respeito da análise do estudo de caso realizado. 12 - CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 – A Produtividade 2.1.1- Conceitos de Produtividade “Produtividade é minimizar cientificamente o uso de recursos materiais, mão-de- obra, máquinas, equipamentos etc., para reduzir custos de produção, expandir mercados, aumentar o número de empregados, lutar por aumentos reais de salários e pela melhoria do padrão de vida, no interesse comum do capital, do trabalho e dos consumidores”. (Japan Productivity Center for Social – Economics Development). A produtividade se refere à relação entre os recursos aplicados na entrada de um sistema de produção e as respectivas saídas de bens ou serviços (SOUZA, 1996; LOPES, 2001). Assim o estudo da produtividade, em função do tipo de entrada (recursos), com pontos de vista: Físico, em relação aos materiais utilizados, equipamentos ou mão-de-obra; Financeiro, em relação à quantidade de dinheiro demandada; ou Social, quando o esforço da sociedade como um todo é encarado como recurso inicial do processo. Thomas e Mathews (1985) citam que o modelo mais adequado para medições de produtividade da mão-de-obra é aquele que se refere à razão entre resultado da produção obtida em um serviço e o consumo de mão-de-obra, que é expresso pela quantidade de homens-hora necessários para executá- lo. Esta relação pode ser expressa da seguinte forma: Os índices de produtividade são utilizados para o controle de eficiência, através da comparação de valores referenciais (índices históricos do setor, índices históricos da empresa, índices objetivos do projeto). Na construção civil estes índices são medidos normalmente através do inverso do mencionado acima, ou seja, homens-hora gastos na execução de um serviço - tais como homens-hora por m² de alvenaria - ou no produto como um todo - tais como homens hora por m² de obra. 13 CARRARO (1998) aponta que, dentre os benefícios possíveis de serem alcançados com o estudo da produtividade da mão-de-obra, merecem destaque: a) Previsão do consumo da mão-de-obra; b) Previsão de duração dos serviços; c) Avaliação e comparação de resultados; d) Desenvolvimento / aperfeiçoamento de métodos construtivos. Segundo (PÓVOAS; SOUZA; JOHN, 1999), a produtividade pode ser reduzida pela mão-de-obra inexperiente, falta de planejamento administrativo e falta de motivação da equipe. Isso é verificado numa mesma obra em dias distintos de serviço. Inúmeros fatores aleatórios podem influir na produtividade, como anormalidades climáticas e o aprendizado, que podem retardar o andamento de uma obra (THOMAS; YAKOUMIS, 1987). 2.2 - Variabilidade 2.2.1 - Variabilidade nos Processos Os processos produtivos apresentam variabilidade. Nota-se que um processo não produz sempre com os mesmos resultados. Mesmo um processo automatizado possui oscilações inerentes a ele. Essas variações são inevitáveis. Técnicas como o Controle Estatístico de Processos (CEP) tem sido usado em várias indústrias, como forma de detectar e controlar a variação de características de produtos (CARVALHO, 1991). Para controle da produção, utilizam-se gráficos de controle, montados a partir de dados de avaliação de características de amostras coletadas periodicamente, ao longo da fabricação dos produtos. Estes gráficos podem ser usados para distinguir-se as causas especiais de variação da produção das causas crônicas. Quando há muita instabilidade dos processos, ela é refletida na variabilidade dos dados. Contudo, com eles podem-se estabelecer valores de referência para avaliação do desempenho atual ou de alternativas de produção. Os fatos esporádicos que causam grandes variações devem ser devidamente anotados, servindo como subsídios para futuras investigações a fim de eliminar as suas causas (SANTOS, 1995). 2.2.2 – Variabilidade nos índices de produtividade Heineck (2002) apresenta estudos sobre produtividade visando obter intervalos para o consumo global de mão-de-obra por metro quadrado de área construída. Para edifícios de 10 andares, o autor chega nos índices 18,60 Hh/m2, 30,90 Hh/m² e 46,30 Hh/m², representando as produtividades máxima, média e mínima, respectivamente. 14 BISHOP (1966) já se referia às variações possíveis de serem encontradas ao se comparar o desempenho entre empresas. Segundo este mesmo autor, estas variações resultam da ausência de normatização de procedimentos. Assim, qualquer variação, por exemplo, na equipe de trabalho, resulta em grandes diferenças na produtividade. Da mesma forma Clapp (1965) e Piggot (1974) mencionam que a grande variação do consumo de homens-hora é justificada por uma série de fatores, dentre eles os de ordem gerencial e de ambiente de trabalho. Quanto aos índices de produtividade na construção civil há constatação de intensa variabilidade nos indicadores. Alguns autores têm abordado que os valores de consumo de mão-de-obra apresentam variações da ordem +/- 20% (Heineck; Panzeter,1989). Apesar de haver indicações de uso de gráficos de controle para a produtividade (Santos, 1995), até o momento não se observa uma metodologia completa de levantamento e análise de dados da produtividade, adequadaàs características do setor. Thomas e Yakoumis (1987) desenvolveram um modelo para mensurar e analisar a produtividade da mão-de-obra na construção civil levando em consideração uma série de fatores que poderiam intervir na mesma. O modelo denominado como Modelo de Fatores tem como principal filosofia a idéia de que a adequação da produtividade não tem sentido se não estiver atrelada ao estudo da situação que a gerou. Existem características que diferenciam um canteiro de obras, mesmo se tratando de uma mesma empresa, em relação ao outro. Isso porque os fatores como projeto, clima, prazo, preço e cliente já são suficientes para conferir características diferentes a obras semelhantes. Isso também justifica a variação de produtividade de uma obra para outra (JONSSON, 1996). Estas variabilidades são apresentadas por MARCHIORI (1998) como a maior dificuldade em se entender o desempenho da mão-de-obra. Há uma grande dificuldade em se explicar a produtividade da mão-de-obra, pois há um grande número de fatores que a influenciam. Assim a quantificação da mão-de-obra torna- se uma tarefa que se resume em obter aproximações dos consumos reais da obra (Thomas e Smith, 1990). Segundo Picchi 1993, os principais fatores responsáveis pela variação da produtividade são os gerenciais, de projeto e os fatores relacionados aos recursos, de trabalho e ambiente. 2.2.3 – Variabilidade da produtividade média RYSER (1999) define como produtividade cumulativa a relação entre horas trabalhadas ou Homens-hora (Hh) gastos, divididos por Homens-hora estimado, onde os 15 gastos são de fato a quantidade de horas consumidas e o estimado, a quantidade contida no orçamento para a execução do serviço. Ryser (1999) considera ainda, que a variabilidade dos índices de produtividade na construção é normal, se estiver situada na faixa de 0,80 a 1,20 da produtividade prevista. Caso os valores da produtividade média fiquem fora de faixa, para ele há problemas na condução do serviço e ocorreram situações que devem ser investigadas, pois interferiram na produtividade. Apresenta-se um gráfico ilustrando-se estes conceitos na Figura 3. Figura 01 – Variabilidade na produtividade média 2.3 – Logística 2.3.1 - Conceito e abordagens de logística Vários autores oferecem contribuições sobre a definição do conceito de logística. Para BALLOU (1999), “a logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável”. A origem do termo logística vem do grego logistiké, estando associada à lógica, sendo a denominação dada na Grécia Antiga à parte da aritmética e da álgebra relativa às quatro operações fundamentais. Em 1999, tivemos o conhecimento do seguinte conceito: É à parte do processo de gestão da cadeia de suprimentos, que trata do planejamento, implementação e controle eficiente e eficaz do fluxo e armazenagem de bens, serviços e informações relacionadas, do 16 seu ponto de origem até o seu ponto de consumo, de maneira a satisfazer plenamente as necessidades dos clientes". Council of Logistics Management (CLM). LAMBERT et alli (1998) chamam a atenção para o fato de que “sendo a logística um componente significante para a economia dos países, é importante definir, especificamente, o que o termo significa. No passado o meio empresarial e publicações acadêmicas tinham uma variedade de nomes para logística”: • Distribuição física • Distribuição • Engenharia de distribuição • Negócios logísticos • Marketing logístico • Distribuição logística • Gerenciamento de materiais • Gerenciamento logístico de materiais • Logística • Sistema de respostas rápidas • Gerenciamento da cadeia de fornecedores • Logística industrial Ainda segundo os autores citados acima “todos esses termos têm sido referidos à essencialmente a mesma coisa: O gerenciamento do fluxo de produtos do ponto de origem ao ponto de consumo. Porém o termo mais amplamente aceito pelos profissionais da área e sugerido pelo Conselho de Gerenciamento Logístico (CLM) é Gerenciamento Logístico”. 2.3.2 - Objetivos da gestão da logística Temos como os principais objetivos da gestão da logística, proporcionar o desenvolvimento simultâneo, do máximo nível de serviço e o menor custo possível nos serviços a ela inerentes. O fator chave dos valores logísticos que as empresas devem oferecer, para assegurar sua fidelidade, e algumas das principais formas de medir o nível de serviço são através do tempo de ciclo de pedido, dos índices de erros dos documentos de compra, da disponibilidade 17 de estoque, do tempo de transporte do material para o determinado lugar onde o serviço está sendo executado, da confiabilidade do transporte e das alternativas empregadas para esse transporte. Para que se tenha uma logística satisfatória de modo que o serviço executado tenha ótimos resultados, tanto no âmbito da qualidade, quanto na redução do custo da produção, deve-se acompanhar os serviços in loco, de forma a verificar se a decisão tomada a respeito da disposição do canteiro de obras está de acordo com o desempenho almejado. 2.4.3 - A gestão da logística na empresa de construção O modelo de processo da construção enxuta assume que um processo consiste em um fluxo de materiais, desde a matéria prima até o produto final, sendo o mesmo constituído por atividades de transporte, espera processamento (ou conversão) e inspeção. A atividade de “transporte”, “espera” e “inspeção” não agregam valor ao produto final, sendo por esta razão denominadas atividades de fluxo. A geração de valor é outro aspecto que caracteriza os processos na construção enxuta. O conceito de valor está diretamente vinculado à satisfação do cliente, não sendo inerente à execução de um processo. Assim, um processo só gera valor quando as atividades de processamento transformam as matérias primas ou componentes nos produtos requeridos pelos clientes, sejam eles internos ou externos. Segundo Simeray (1978), um grupamento de atividades torna-se uma função quando seu responsável tiver recebido delegação de autoridade sobre uma determinada área. Ela resulta concomitantemente das afinidades naturais destas atividades e das necessidades concretas da empresa. A logística na construção trata-se de um processo multidisciplinar aplicado a determinada obra que visa garantir o abastecimento, armazenagem, processamento e disponibilização de recursos materiais nas frentes de trabalho, bem como o dimensionamento das equipes de produção e a gestão dos fluxos físicos de produção. Tal processo se dá através das atividades de planejamento, organização, direção e controle, tendo como principal suporte o fluxo de informações, antes e durante o processo produtivo (SILVA e CARDOSO, 1998). A logística de canteiro trata da gestão dos fluxos físicos e dos fluxos de informações associados à execução de atividades no canteiro. As atividades mais importantes são: gestão dos fluxos físicos ligados a execução (planejamento detalhado dos fluxos de execução dos serviços e dos seus mecanismos de controle), gestão da interface entre os agentes que interagem no processo de produção de uma edificação (informações e interferência entre os 18 serviços) e gestão física da praça de trabalho (implantação do canteiro, movimentação interna, zonas de estocagem, zonas de pré-fabricação e atendimento aos requisitos de segurança). 2.4.4 - Logística de Canteiro Para que se obtenha uma logística de canteiro eficiente, deve se atentar para algumas atividades, como: • Controle dos fluxos físicos ligados à execução;• Gestão das interfaces entre os agentes; • Gestão da praça de trabalho. Segundo Cardoso (1996), essas são as atividades essenciais numa logística de canteiro. A logística de canteiro deve ser preparada antes do começo da obra, devem ser levados em consideração no “layout” do canteiro locais para descargas, zonas de estocagem, zonas para pré-fabricação se for o caso, entre outros. E ainda o “layout” deverá facilitar o fluxo dos materiais e dos trabalhadores. Outro aspecto importante é que na obra, na maioria das vezes, existem dois ou mais empreiteiros além da equipe da empresa. Assim, as atividades devem ser bem planejadas de modo que uma equipe não atrapalhe o serviço das outras, nem que haja o favorecimento do trabalho de uma equipe em relação às outras. A equipe da obra (engenheiro, mestre, técnico) desempenhará um papel importante na organização e na gestão da mão-de-obra, essa equipe deverá observar como a obra está transcorrendo, coletar dados que possam ser aproveitados para melhorar tanto o “layout” do canteiro, a gestão das interfaces e o controle dos fluxos físicos ligados à execução. O lugar dos estudos de preparação no processo de produção e sua interface com a logística. Nas empresas que são incorporadoras e construtoras, que, portanto, detêm o domínio sobre a etapa de concepção, nada impede que a fase dos estudos de preparação na verdade se antecipe para um momento mais próximo da fase de concepção do empreendimento. 2.4.5 - Atividades da Cadeia Logística no Canteiro de Obra O projeto logístico de um canteiro tem grande influência na movimentação de materiais, no tempo de deslocamento e interfere na produtividade. Apesar de exercer toda essa influência na execução de uma obra, ainda existe pouca preocupação das empresas brasileiras com a definição de um layout bem planejado. Um canteiro de obras mal planejado ou sem infra-estrutura adequada gera problemas tais como a falta de espaços físicos, levando a uma excessiva movimentação de materiais, equipamentos e pessoas, provocando perda de tempo e 19 desnecessárias perdas de suprimentos, mal planejamento de estoques, quebras, e deterioração de materiais por armazenagem imprópria e inadequada. Um bom planejamento de canteiro é um fator fundamental, ou seja, condição “sine qua non” para se obter um desempenho de produtividade adequado, cumprimento de prazos, minimizar custos além de atingir uma excelência na qualidade da construção. Contudo, a implantação de um canteiro dentro desses aspectos e princípios, ainda depende de criatividade e bom senso com base em experiências técnicas anteriores, ou até por tentativas e erros. Não existe ainda um modelo específico ou até mesmo padronizado que possa servir como base para o planejamento de um canteiro adequado, portanto, surge a conclusão lógica e objetiva da necessidade imediata de planejamento logístico para a melhor eficiência no computo final da construção. Tal processo se dá através de atividades de planejamento, organização, direção e controle, tendo como principal suporte o fluxo de informações, sendo que estas atividades podem se passar tanto antes do início da execução em si, quanto ao longo dela. Atividades Primárias: As atividades primárias são o transporte, a manutenção de estoques e o processamento de pedidos. Estas possuem a importância para o alcance dos objetivos logísticos de custo e nível de serviço. Atividades de Apoio: Estas atividades dão apoio às atividades primárias da cadeia. As atividades de apoio estão intimamente ligadas à logística no canteiro de obras: a). Armazenagem: Administra o espaço físico disponível para recebimento e estoques de materiais no canteiro. Esta atividade esta ligada a questões relativas à configuração do arranjo físico do canteiro e posicionamento racional das várias instalações provisórias necessárias. Considerando as características mutantes do canteiro ao longo do tempo de preparação do produto (edificação), a atividade de armazenagem deve se antecipar às mudanças do canteiro. O planejamento do recebimento de materiais no canteiro de forma a racionalizar o fluxo material destes materiais é também preocupação da armazenagem. São também ações da armazenagem o fluxo de entrada e saída de caminhões no canteiro. b). Manuseio de Materiais: Atividade ligada à movimentação de materiais ao longo de todas as etapas de produção no canteiro de obras. Seus principais problemas logísticos são seleção de equipamentos de movimentação (guinchos, gruas, carrinhos especiais para transporte de materiais como argamassa, concreto e blocos) e adequação de vias internas de transporte no canteiro. A atividade de manuseio de materiais esta diretamente ligada ao atendimento dos objetivos de um sistema logístico que é disponibilizar o produto certo, no local certo, no instante correto e na condição desejada pelo cliente interno, tudo isto ao menor custo possível, objetivando um menor tempo de movimentação destes materiais. 20 c). Obtenção: No âmbito da logística interna, a atividade obtenção está na interface do canteiro com a área de suprimentos, seja ele proveniente do almoxarifado central ou das centrais de produção, bem como dos fornecedores de materiais e serviços. Trata do fluxo de entrada de suprimentos na obra, e apóia outras atividades como selecionar fornecedores, quantidades a adquirir e programação de compras. d). Programação do produto: Na logística interna a atividade de programação do produto esta preocupada em fornecer as informações necessárias para a programação da obra e decidir que quantidades produzir, quando e onde produzir. e). Manutenção da informação: Fornecem ao sistema informações relativas as necessidades dos clientes internos da cadeia logística como: que materiais, quantidades necessárias, em que posto de trabalho, a que horas do dia, em que condições requeridas. A atividade de manutenção da informação pode contribuir para o objetivo de redução de custos para a empresa e aumento de desempenho do cliente interno (operários). 2.4.6 - Os estudos de preparação no processo de produção de edifícios Existem alguns entraves na preparação do processo de produção, evidenciado devido à ausência de cultura de se reservar um tempo mínimo antes do inicio da obra para tomada de decisões coletivas. Este problema é observado com maior freqüência nas obras de caráter público, onde o tempo de planejamento não é remunerado, e os prazos para execução das mesmas são muito curtos, ou seja, o planejamento de obras públicas é realizado concomitantemente com sua execução. Para exemplificar a idéia da criação da etapa de preparação, Cardoso (1996) propôs uma dinâmica de atividades seqüenciais para um caso de uma obra genérica e uma empresa que trabalha como empreiteira, sintetizado em 11 atividades principais que são: 1. Constituição da equipe de preparação e acompanhamento, de seus coordenadores e colaboradores; 2. Compreensão e revisão da estrutura do empreendimento - revisão dos cadernos de encargos e especificações, definição das fases de execução, avaliação das condições de início da obra e pedido de ligações com redes concessionárias; 3. Elaboração de um macro-planejamento de execução e de um planejamento detalhado; 4. Definição dos princípios de organização e dos mecanismos de troca de informações que funcionarão tanto durante a fase de preparação quanto da de execução da obra; 21 5. Revisão dos projetos e identificação dos pontos críticos - revisão dos projetos e memoriais existentes, identificação de projetos e especificações não disponíveis, identificação da interface entre projetos; 6. Síntese dos pontos críticos e das atividades e momentos de controle externos ou internos; 7. Levantamento das interfaces técnicas e organizacionais entre serviços; 8. Elaboração do projeto do canteiro - execução de suas instalações; 9. Diretrizespara os tratamentos das interfaces técnicas e organizacionais – elaboração dos projetos para produção; 10. Desenvolvimento de documentação de suporte e planejamento da execução; 11. Aprovação dos estudos realizados, divulgação e treinamento da mão-de-obra. 2.4 - Projeto de canteiro O canteiro de obras é definido pela NR-18 (FUNDACENTRO, 1996), como: "área de trabalho fixa e temporária, onde se desenvolvem operações de apoio e execução de uma obra." A NB-1367 (ABNT, 1991), define canteiro de obras como: "áreas destinadas à execução e apoio dos trabalhos da indústria da construção, dividindo-se em áreas operacionais e áreas de vivência." TOMMELEIN; LEVITT; HAYES-ROTH (1992a), consideram o processo de planejamento do canteiro de obras, como sendo: “identificar os recursos auxiliares necessários para as operações da construção, o tamanho e a forma, e posicioná-los com limites definidos... dependem do projeto, localização, organização e forma de produção...” Bons canteiros devem atender a múltiplos objetivos, classificados em de alto e baixo nível, segundo TOMMELEIN; LEVITT; HAYES-ROTH (1992a): “Alto nível: • Operações seguras e eficientes; • Boa moral dos trabalhadores; Baixo nível: • Minimizar distâncias e tempo para movimentação de pessoal e material; • Reduzir tempo de movimentação de material; • Aumentar tempo produtivo; 22 • Evitar obstrução da movimentação de material e equipamentos.” FRANCO (1992) considera importante que se dedique atenção especial à elaboração do projeto do canteiro, para conseguir atingir os resultados desejados de funcionamento: "para tanto, é essencial que o arranjo do canteiro de obra seja feito através de um projeto cuidadosamente elaborado que contemple a execução do empreendimento como um todo, prevendo as diferentes fases da obra e as necessidades e condicionantes para cada uma delas". A aplicação dos princípios, de racionalização construtiva, ao projeto e à construção do edifício, que incluem construtibilidade e organização entre outros, aliados à utilização das ferramentas da qualidade e ao gerenciamento por processos, seguindo os onze princípios propostos por KOSKELA (1992), relativos à nova filosofia de produção, são alguns dos pré- requisitos para a elaboração do projeto do canteiro. A partir das definições apresentadas pelas normas, e procurando incorporar os princípios mais importantes que devem ser observados no projeto do canteiro de obras, relativos à movimentação de materiais, ao projeto de produção, e às condições de trabalho, é adotada a seguinte definição: "O projeto do canteiro de obras é o serviço integrante do processo de construção, responsável pela definição do tamanho, forma e localização das áreas de trabalho, fixas e temporárias, e das vias de circulação, necessárias ao desenvolvimento das operações de apoio e execução, durante cada fase da obra, de forma integrada e evolutiva, de acordo com o projeto de produção do empreendimento, oferecendo condições de segurança, saúde e motivação aos trabalhadores e, execução racionalizada dos serviços." Analisando as diversas propostas existentes na literatura pesquisada, relacionadas ao canteiro de obras, pode-se identificar as principais características de cada uma. SANTOS (1995) recomenda para análise do arranjo físico, a utilização de um diagrama de fluxo, ou de um "mapofluxograma", que consiste no desenho das linhas de fluxo sobre a planta da obra, com vistas a identificar as circulações de materiais e pessoas, além da análise baseada em uma série de princípios. HANDA; LANG (1988) apresenta uma relação de elementos considerados necessários ao funcionamento do canteiro, e com base nestes elementos desenvolvem uma lista de verificação, para avaliação dos projetos dos canteiros de obras, contendo pesos para cada item a ser avaliado. 23 2.5 - Perdas Na Construção Civil O conceito de perdas na construção civil é com freqüência, associado unicamente aos desperdícios de materiais. No entanto, as perdas estendem-se além desse conceito e devem ser entendidas como qualquer ineficiência que se reflita nos usos dos equipamentos, mateirais, mão de obra e capital em quantidades superiores a aquelas necessárias à produção da edificação. Neste caso, as perdas englobam tanto a ocorrência de desperdícios de materiais quanto a execução de tarefas desnecessárias que geram custos adicionais e não agregam valor. Segundo Koskela – (1992) perda pode ser definido como tudo aquilo que consome recursos, mas não agrega valor. Ainda conforme Koskela – (1992) grandes falhas eram a desconsideração das atividades de fluxo inerentes ao processo e a ausência de uma correta especificação do produto segundo as necessidades dos clientes, levando a um grande número de retrabalhos. Pois se considerava somente as atividades de conversão de uma entrada (imput) em uma saída (output). Assim surge a divisão de atividades que agregam e que não agregam valor ao produto, do ponto de vista de satisfação do cliente. As atividades de fluxo (o material é inspecionado, transportado e armazenado) e de conversão (processamento do material) consomem tempo e recursos, entretanto, só a ultima agrega valor ao produto. Ainda segundo Koskela – (1992), apenas cerca de 20% das atividades do processo construtivo são de conversão. Figura 2 – Etapas do processo de produção (Koskela, 1992) De acordo com Alarcon – (1997), seguindo as novas filosofias de produção, são consideradas perdas todas as atividades que exigem tempo e dinheiro sem agregar valor ao produto e, estas, devem ser eliminadas ou reduzidas ao máximo. Segundo Serpell et al – (1997), na maioria dos casos os engenheiros responsáveis por gerenciar as obras não conseguem reconhecer nem os fatores que geram as perdas. Deve-se reconhecer, entretanto, que estes fatores não são visualizados com facilidade. 24 Segundo Bornia [02] “perda é o valor dos bens e serviços consumidos de forma anormal ou involuntária”. O autor ainda coloca que “do ponto de vista da contabilidade de custos, um termo mais correto para as atividades que não agregam valor seria desperdício” e conceitua desperdício como sendo “[...] o esforço monetário que não agrega valor ao produto da empresa e nem serve para suportar diretamente o trabalho efetivo.” Segundo Shingo - (1981), as perdas na construção civil podem ser classificadas sob três aspectos: Quanto ao seu controle, quanto a sua natureza e quanto a sua origem. As perdas podem ocorrer durante todas as etapas do processo construtivo, desde a concepção do projeto (superdimensionamento), o processo construtivo em si e até na manutenção (reformas e patologias). • Quanto ao seu controle A figura 3 compara duas situações de um mesmo processo. Na primeira, a perda total, que englobam as atividades que não agregam valor, é elevada. Na situação desejada, melhora- se a eficiência das atividades que agregam valor, elimina-se uma parcela das atividades que não agregam valor, e reduz-se as demais perdas. Contudo, pode-se admitir que exista um nível aceitável de perdas (perda inevitável) que só pode ser reduzido através de uma mudança significativa no patamar do desenvolvimento tecnológico e gerencial da empresa. Por sua vez estas podem ser subdivididas de duas formas: • Perdas inevitáveis: correspondem a um nível aceitável de perdas, que é identificado quando o investimento necessário para sua redução é maior que a economia gerada. O nível de perdas inevitáveis varia de obra para obra, dependendo do patamar de desenvolvimento da mesma. • Perdas evitáveis: ocorrem quando os custos da ocorrência são substancialmente maiores que os custos da prevenção. São conseqüência de um processo de baixa qualidade, no qual os recursos são aplicados inadequadamente. 25 Figura 3 – As perdas segundoseu controle • Quanto a sua natureza A classificação adotada neste trabalho partiu do conceito das sete perdas de Shingo (1981), adaptando-o para a construção civil. Nove categorias de perdas são definidas: Ainda segundo Shingo – (1981), perdas quanto a sua natureza podem ser subdivididas de nove formas: • Perdas por superprodução – refere-se a perdas que ocorrem devido à produção de quantidades maiores de material do que realmente é necessário. Exemplo: produção de argamassa a mais do que será usado em um dia de trabalho. • Perdas por substituição – decorrem da utilização de um material de valor ou características de desempenho superiores ao especificado, tais como: utilização de argamassas com traço de maior resistência que a especificada, utilização de tijolos maciços no lugar de blocos cerâmicos furados. • Perda por espera – relacionadas com a sincronização e o nivelamento dos fluxos de materias e as atividades dos trabalhadores. Podem envolver tanto perdas de mão de obra quanto equipamentos, como por exemplo, paradas nos serviços originadas por faltas de disponibilidade de equipamentos ou materiais. • Perdas por transporte – estão associadas ao manuseio excessivo ou inadequado dos materiais e componentes, em função, de uma má programação das atividades ou de um layout ineficiente, como por exemplo: tempo excessivo no transporte devido a grandes distâncias entre estoques e o guincho, quebra de materiais devido ao seu duplo manuseio ou ao uso de equipamento de transporte inadequado. • Perdas no processamento em si – têm origem na própria natureza das atividades do processo ou na execução inadequada dos mesmos. Decorrem da falta de procedimento 26 padronizados e ineficiência nos métodos de trabalho, da falta de treinamento de mão de obra ou de deficiências no detalhamento e construtividades dos projetos. São exemplos deste tipos de perdas : quebras de paredes rebocadas para viabilizar a execução das instalações.. • Perdas nos estoques – estão associados à existência de estoques excessivos, em função da programação inadequada na entrega dos materiais ou erros na orçamentação, podendo gerar situações de falta de locais adequados para a deposição dos mesmos. Podem resultar tanto em perdas de material quanto de capital. Exemplo: deterioração do cimento devido ao armazenamento em contato com o solo ou em pilhas muito altas. • Perdas pela elaboração de produtos defeituosos – ocorrem quando são fabricados produtos que não atendem aos requisitos de qualidade especificados. Resultam em redução do desempenho do produto final. Exemplo: falhas nas impermeabilizações e pinturas, descolamento de azulejos. • Perdas no movimento – decorrem da realização de movimentos desnecessários por parte dos trabalhadores, durante a execução de suas atividades e podem ser geradas por frentes de trabalho afastadas e de difícil acesso, falta de estudo de lay out de canteiro e de posto de trabalho. Exemplo: tempo excessivo de movimentação entre postos de trabalho devido a falta de programação de uma seqüência adequada de atividades. 2.5.1 – Indicadores de perdas Trata-se do resultado de levantamentos realizados dentro do processo construtivo, onde são feitas comparações entre situações previstas e ocorridas. Os indicadores de perdas podem ser compostos de diversas maneiras. Na maior parte das vezes se definirá uma situação de referência (prevista), se quantificará a situação real (ocorrida), e o indicador será constituído por uma relação percentual da discrepância da situação real com relação à de referência (Souza,1997): I(%) = [ (SREAL – SREF) / SREF] x 100 Onde: I = Indicador de perda SREAL = Situação real 27 SREF = Situação de referência Segundo Formoso et al (1996), os índices de perdas cumprem importante papel de indicadores de desempenho dos processos e, como tais, podem ser empregados para diferentes finalidades. Principalmente fornecer dados confiáveis para a discussão da gestão de materiais e planejamento do canteiro de obras. Abaixo segue uma tabela de indicadores globais de perdas de materiais de acordo com o projeto de pesquisa “Alternativas para a redução do desperdício de materiais no canteiro de obras” do Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade na Construção Civil (ITQC): Materiais Básicos Média Mediana Mínimo Máximo Nº obras Areia 76 44 7 311 28 Cimento 95 56 6 638 44 Pedra 75 38 9 294 6 Cal 97 36 6 638 12 Estrutura e Alvenaria Concreto usinado 9 9 2 23 35 Concreto produzido em obra 6 6 6 6 1 Aço 10 11 4 16 12 Blocos e tijolos 17 13 3 48 37 Arg. Produzida para alvenaria 116 116 26 205 2 Tabela 01 - INDICADORES GLOBAIS DE PERDAS DE MATERIAIS Fonte: ITQC Os indicadores de perdas demonstram as perdas relacionadas às atividades de conversão, principalmente por superprodução. Vale ressaltar que não há índices de perdas com relação às atividades de fluxo, ou seja, as atividades que são feitas mais que não agregam valor. Sendo essas atividades responsáveis por uma boa parcela de perdas, principalmente financeiras, de tempo e de energia. Os dados são alarmantes quanto às perdas na construção civil. A área perde em qualidade e eficiência, além de financeiramente com isso. E as causas são várias, como transporte, espera, mas a principal é a superprodução. A falta de planejamento no inicio também é um fator agravante. Porém estudando com afinco, percebe-se que a maior parte das perdas são evitáveis, e com algumas medidas pode-se reduzi-las. Como por exemplo, um cuidado e atenção maior no canteiro de obras, projetos compatibilizados e bem especificados. 28 2.6 – Planejamento e controle da produção na construção civil O processo produtivo é a transformação de insumos em produtos, no entanto o resultado final nem sempre é igual ao que foi projetado. Isso ocorre porque, em todo processo produtivo, existe uma série de condições necessárias para o alcance das características especificadas, as quais podem variar desde temperaturas, umidade, especificações de matérias-primas, tempo de processamento, tipo de equipamento, qualidade da mão-de-obra, entre outras, até o fornecimento em tempo hábil destas condições. Planejar a produção pode ser entendido como a antecipação de todos os fatores que concorrem à transformação intencional de insumos em produtos, assim como das conseqüências deste processo. O processo produtivo na construção civil transforma insumos como mão-de-obra, cimento, areia, cal, brita, aço, tijolos, asfalto, tintas, madeira, telhas, equipamentos, ferramentas e máquinas, entre outros tantos, em apartamentos, casas, prédios industriais, estradas, pontes, escolas, etc. Em um processo construtivo, são envolvidos inúmeros fatores que precisam ser administrados da mesma forma que qualquer outro tipo de produção, utilizando o planejamento e controle da produção para que as metas da empresa sejam atingidas. No entanto, em muitos casos, as ferramentas do PCP são mal utilizadas ou ineficientes, desperdiçando o potencial produtivo das empresas. Para Marchesan (2001), o processo produtivo na construção civil acaba sendo conduzido por planos informais, elaborados pelos executores da obra que, muitas vezes, são diferentes dos planos formais. Este autor mostra uma inquietação quanto às situações que favorecem a irregularidade na execução de obras civis. Observa-se que existe um descompasso entre os encarregados pelo planejamento e os responsáveis pela execução da obra; então os planos podem apresentar incompatibilidades com a situação real da execução; outro fato é que quando os planos não são controlados, terminam como entulho no escritório da obra. Mesmo que as preocupações principais das empresas da construção civil sejam o cumprimento de prazos e orçamentos, se não houver um planejamento e controle da produçãoeficiente, torna-se muito difícil cumprir tais contratos, porque certamente as condições previstas não ocorrerão. Todo resultado proveniente do sistema de planejamento e controle da produção se transforma em conhecimento, quando é avaliado corretamente; caso contrário, não proporciona o diagnóstico da real condição da produção. 29 De acordo com SYAL et alii (1992), planejamento é um processo de tomadas de decisões resultantes de ações necessárias para transformar o projeto inicial de um empreendimento executável da melhor maneira, fixando padrões de modo a representar o progresso do empreendimento mensurando-o e analisando-o durante a fase de controle da produção. Todavia, esse conceito não se alude ao controle como parte do processo de planejamento. 2.6.1- Conceito de controle Segundo LIMMER (1996), o conceito de controle era o de uma ação a posterior de verificação da regularidade de execução de um projeto, combinada com uma eventual providência para a correção ou eliminação de resultados negativos. O uso do controle assegura conformidade a um plano, mas o mais importante é começar um plano certo e formular objetivos corretos. Existem duas formas de controle: operacional e gerencial. O primeiro trata-se do controle direto, sob a responsabilidade de mestres e encarregados. Estes têm que manter as atividades programadas conforme o prazo estipulado, dentro de uma produtividade prevista (uso de insumos) e uma qualidade pré-estabelecida para o serviço. Neste controle tem apontamentos constantes em formulários de coleta de dados, exige análise e decisões rápidas. Já o controle gerencial apóia-se em relatórios periódicos (semanal, quinzenal ou mensal, dependendo do empreendimento). Compara o previsto com o realizado para detectar anomalias. Pode-se propor alternativas para corrigir os problemas que venham a aparecer. 2.6.2 – objetivo do controle Seu objetivo é acompanhar a execução de determinado produto ou processo e dar suporte ao sistema construtivo no sentido de garantir que as atividades planejadas sejam cumpridas. Isto é feito ao comparar os resultados contra um padrão, para que medidas de correções de desvios possam ser tomadas em tempo hábil e para fornecer meios para correções de ações. 2.6.3 – controle de mão-de-obra É feito em cima do cronograma de mão-de-obra, com freqüência mensal, contendo as quantidades de mão-de-obra por categoria. Nisto se comparam as quantidades planejadas e realizadas. As falhas na mão-de-obra aparecem como absenteísmo, (voluntário ou não), rotatividade, baixa produtividade e baixa qualidade. Tudo isto pode ser devido à falta de motivação, remuneração inadequada, tarefas mal delineadas, falta de treinamento, alto índice de acidentes, chefia intolerável e falha na comunicação. 30 2.7 - Custos O processo de produção envolve o consumo de recursos, com materiais e mão-de- obra, além de envolver outras atividades de apoio, que, indiretamente colaboram com a produção, como transporte, marketing, vendas, manutenção, etc. Todos estes insumos implicam em recursos financeiros que podem ser aplicados direta ou indiretamente na produção. Logo, os custos são decorrentes das atividades necessárias para a materialização do projeto. Já para Shank (1997), a globalização da economia e a expansão das grandes empresas fereceram ao mercado muitas alternativas de preços, fazendo com que os consumidores possam escolher os mais convenientes. Por isso, as empresas que não despertarem para este fato correm o risco de perderem a participação no mercado que atuam. Nos tempos atuais, com a concorrência globalizada, manter informações sobre os custos de produção é cada vez mais necessário para definir as estratégias da empresa. Atkinson et al. (2000) advogam que hoje em dia as informações sobre custo servem aos vários níveis da empresa, para nortear as decisões táticas e operacionais. Estes autores visualizam as informações sobre custos como um sistema que envolve toda a organização. A partir dos conceitos estudados neste trabalho, nota-se que a definição dos custos de produção iniciam no planejamento do produto e no planejamento da produção. Logicamente que, por questões de modificações de preços de insumos, os custos também poderão sofrer alterações, mas isolando-se esta variável, julga-se que é a forma de produção que definira o custo final. Desta forma, pode-se unir o planejamento da produção com a definição e garantia do custo final do produto. Ressaltando o relacionamento entre o PCP e o sistema de custeio. Na visão de Shank & Golvindarajam (1997, p. 21) “no gerenciamento estratégico de custos sabe-se que o custo é causado, ou direcionado por muitos fatores que se inter- relacionam de formas complexas. Compreender o comportamento dos custos significa complexa interação do conjunto de direcionadores de custo em ação em uma determinada situação”. Este conceito destaca a importância do conhecimento e do gerenciamento de todos os fatores que interferem no custo final de um produto, principalmente neste novo modelo de concorrência, com margens de lucro reduzidas, onde o custo de produção define o resultado da empresa. 31 2.7.1 - Gerenciamento de custos na construção civil As modificações no mercado global também se refletiram na indústria da construção civil. A redução das margens de lucro e a conseqüente reestruturação dos custos de planejamento e produção fizeram com que as empresas da construção civil sofressem modificações em seus sistemas gerenciais, pois conforme Rocha (2001), até aproximadamente 10 anos, uma confortável margem de lucro absorvia quaisquer perdas originadas por uma inadequada gestão econômica; no entanto, hoje, estas margens não podem absorver mais nada, pois estão no limite da viabilidade econômica do negócio construção. As construtoras eram acostumadas a atribuir uma grande margem de segurança que, caso não fosse utilizada, transformava-se em lucro. Este método permitia a ocorrência de erros de planejamento, orçamento e até mesmo de execução, todos eram cobertos pela margem de segurança. Ao encontro de Shank (1997); Tubino (1999) afirma que no Brasil este fato também é realidade. Ele afirma que, até o início dos anos 90, as empresas brasileiras eram acostumadas a estabelecer o preço dos seus produtos apenas acrescentando uma margem de lucro sobre os custos. Conforme a equação: Preço = Custo + Lucro Dentro desta prática, conforme Tubino (1999), cada vez que ocorria alguma suba de algum insumo, o aumento do preço era justificado pelos produtores e aceito pelo mercado. No entanto, por advento da globalização da economia, a equação se alterou para: Lucro = Preço – Custo Conforme Lima (2000), todo estudo e planejamento de custos sobre atividades envolvidas em uma obra de construção civil está ligada diretamente ao orçamento completo com a identificação de todos os produtos e serviços que compões a obra. Por outro lado, Rocha (2001) afirma que o êxito de um orçamento está relacionado com o planejamento da obra, pois uma obra sem um planejamento adequado dificilmente conseguirá produzir informações acuradas de custos, pois é preciso saber onde, como, quando e por que os custos ocorrem. Percebe-se, então, as relações dependentes entre gestão de custos, orçamento e planejamento da produção para garantir um bom desempenho para a construtora. Cada ponto depende do outro, o processo de gestão de custos depende do orçamento, que por sua vez, 32 depende de um planejamento eficiente que, dando seqüência, depende das informações da gestão de custos para se realimentar e continuar eficiente através da aprendizagem. O processo de gestão de custos, em boa parte das obras brasileiras, pode ser descrito como um vôo cego em nuvens de números, conforme Rocha, (2001),pois devido as deficiências nos sistemas de gestão de custos, o que se julgava lucro, desaparece ao longo da obra. Na concepção de Marchesan (2001), as deficiências nos sistemas de gestão de custos iniciam na orçamentação, com o emprego de composições unitárias incompatíveis com a realidade da empresa, onde utilizam coeficientes de consumo de materiais e mão-de-obra de origem desconhecida. Este autor corrobora o pensamento de que o planejamento da produção necessita ser alimentado por dados que reflitam a capacidade operacional da empresa, assim como o real consumo de recursos requeridos pelo método utilizado no processo produtivo. No entanto, Porrino (2001) lembra que a execução também é determinante no cumprimento dos custos. Exemplificando que os índices de produção e consumo determinados no planejamento devem ser aceitos pela equipe de obra, assim como enfatiza a necessidade da participação desta equipe na elaboração do orçamento, identificando-se com Atkinson (2000). Porrino (2001) também defende a medição diária da produção na obra, porque julga que seja a forma mais fácil de identificar e corrigir distorções na execução, minimizando e/ou evitando variações nos custos estimados. Dessas afirmações, pode-se entender que o controle da execução da obra, assim como o comprometimento da equipe de produção são tão importantes quanto o planejamento e a orçamentação para a gestão de custos do empreendimento. O gerenciamento eficiente dos custos em obras da construção civil precisa englobar desde o planejamento e orçamento até a execução da obra, sendo fundamental para o retorno positivo do investimento financeiro. 2.8 - Construção Enxuta 2.8.1 – Conceitos Na Construção Enxuta, um processo consiste em um fluxo de materiais, desde a matéria-prima até o produto final, sendo o mesmo constituído por atividades de transporte, espera, processamento e inspeção. Tais atividades, com exceção do processamento, não agregam valor ao produto final, sendo por esta razão denominadas atividades de fluxo (FORMOSO, 2002). Este conceito tem os seguintes desdobramentos. 33 2.8.2 - Desperdício A idéia da Construção Enxuta vem da aplicação do conceito de Produção Enxuta que é baseada no Sistema Toyota de Produção, que tem como objetivo aumentar a eficiência da produção pela eliminação consistente e completa de desperdícios. O que se procura fazer é olhar a linha do processo produtivo desde o momento em que o cliente solicita um a produto, que gera uma ordem de serviço até o ponto em que o cliente paga e recebe o bem. Desta feita, o objetivo central deste sistema é reduzir drasticamente o tempo de produção e os desperdícios oriundos de um processo produtivo inadequado e que não agrega valor. Considera-se que a capacidade de produção seja igual ao trabalho real necessário para executar a atividade, acrescido do desperdício que ocorre durante a execução da atividade, ou seja, Capacidade de Produção = Trabalho + Desperdício. Logo, para que se obtenha uma melhoria na eficiência deve-se produzir zero desperdício. Para que isso ocorra é preciso identificar-se completamente os desperdícios. Entre os tipos mais comuns destacam-se, segundo Ohno (1997): • Desperdício de superprodução; • Desperdício de tempo disponível (espera); • Desperdício em transporte; • Desperdício do processo em si; • Desperdício de estoque disponível (estoque); • Desperdício de movimento; • Desperdício de produzir produtos defeituosos. A eliminação completa desses desperdícios pode aumentar a eficiência consideravelmente. 2.10.3 - Foco no Cliente De nada adianta produzir, se o que for produzido não interessar e satisfizer o cliente. Deve se pensar num elo de ligação entre a produção e o cliente, procurar desenvolver uma relação de longo prazo e ainda um sistema de informações pró-ativo que auxilie no processo 34 decisório de produção e que contenha informações precisas sobre os atuais e os prováveis clientes da empresa, detalhando de forma clara suas necessidades e expectativas. Complementarmente, pode-se ainda realizar A.P.O. (Avaliação Pós-Ocupacional) nas edificações entregues aos clientes, para que sejam detectados não apenas os principais problemas que surgiram com o uso, para que sejam solucionadas suas causas nas próximas edificações a serem construídas, mas também deve-se detectar os aspectos positivos, para que possam ser aprimorados e se tornem vantagens competitivas. 2.8.4 Mão-de-obra Uma empresa que utiliza a filosofia da construção enxuta transfere o máximo de tarefas e responsabilidades para os trabalhadores que realmente agregam valor ao produto. E possui um sistema de detecção de defeitos que rapidamente relaciona cada problema, utilizando-se de técnicas analíticas que auxiliem aos gestores promoverem ações de soluções de problemas, tornando o processo produtivo robusto em sua ação de negócio. Dentro desta filosofia é imperioso que o processo de trabalho deva ser feito por equipes. Para isso, é necessário que os trabalhadores tenham várias qualificações, podendo realizar qualquer tarefa em sua equipe, permitindo assim a rotatividade das tarefas e a substituição de um companheiro que por ventura se ausentar. É necessário ainda que esses trabalhadores desenvolvam qualificações adicionais para que possam realizar reparos simples, controle de qualidade, limpeza e solicitação de materiais. Ou seja, os trabalhadores devem ser utilizados ao máximo e incentivados a introduzir melhorias em vez de solucionar problemas. Para que se tenha uma mão-de-obra qualificada, ela deve ser bem remunerada, assim sugere-se pagamentos gradualmente crescentes, conforme o tempo de serviço e a capacidade de introduzir melhorias. A Construção Enxuta apresenta um conjunto de princípios para a gestão de processos, nos quais podemos destacar (Koskela, 1992): • Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor: melhorar a eficiência dos processos e reduzir as perdas; • Aumentar o valor do produto através das considerações das necessidades dosclientes: processo como gerador de valor; • Reduzir a variabilidade: a variabilidade tende a aumentar a parcela de atividades que não agregam valor e o tempo necessário para executar um produto; • Reduzir o tempo de ciclo: a soma de todos os tempos (transporte, espera, processamento e inspeção) para produzir um determinado produto; 35 • Simplificar reduzindo o número de passos ou partes: quanto maior o número de componentes maior tende a ser o número de atividades que não agregam valor; • Aumentar a flexibilidade de saída: refere-se à possibilidade de alterar as características dos produtos entregues aos clientes sem aumentar os custos; • Aumentar a transparência do processo: facilita a identificação dos erros e aumenta a disponibilidade de informações necessárias para a execução das tarefas; • Focar o controle no processo global: o processo deve ser controlado como um todo, devendo haver um responsável por este controle; • Introduzir melhoria contínua no processo: o esforço de redução de perdas e aumento do valor na gestão de processos deve ser conduzido continuamente; • Manter um equilíbrio entre melhoria nos fluxos e nas conversões: fluxos melhores reduzem a necessidade de investimentos, mas por outro lado, novas tecnologias reduzem a variabilidade. • Fazer benchmarking: processo de aprendizado a partir das práticas adotadas em outras empresas. 2.8.5 - Estrutura do Sistema da Construção Enxuta Existem diferentes formas de representar a estrutura do Sistema Toyota de Produção (STP). A figura 1 apresenta o STP com seus dois pilares –JIT e Jidoka – e outros componentes essenciais do sistema. Segundo este modelo, o objetivo é atender da melhor maneira as necessidades do cliente, fornecendo produtos e serviços damais alta qualidade, ao mais baixo custo e no menor tempo (lead time) possível. Tudo isso, enquanto assegura um ambiente de trabalho onde segurança e moral dos trabalhadores constitua-se em preocupação fundamental da gerência (GHINATO, 2000). 36 (Fonte: Ghinato,2000) Figura 4 – A Estrutura do Sistema Toyota de Produção Segundo Anumba & Ruikar (2001), o setor da construção civil é importante demais para ficar estagnado. Assim, o modelo teórico proposto visa adaptar os componentes do STP às peculiaridades do setor da construção de edificações residenciais verticais, com o intuito de aumentar sua competitividade, permitindo que as empresas tenham um melhor aproveitamento dos seus recursos internos. A estrutura é composta por dois pilares, pela base e no topo o cliente. Primeiro Pilar: JIT Conforme visto anteriormente a viabilização do JIT depende de três fatores intrinsecamente relacionados: fluxo contínuo, takt time e produção puxada (GHINATO, 2000). O fluxo contínuo, referente aos recursos, é a resposta à necessidade de utilização do menor tempo possível para a execução das atividades. Uma vez que na construção civil, os recursos transformadores se movimentam e o recurso transformado é fixo, torna-se necessária a verificação do layout da obra, pela sua grande influência nas perdas de materiais e na incidência de tempos improdutivos da mão-de-obra. A elaboração de fluxogramas de processos, relativos ao uso de materiais em obra, é extremamente importante enquanto instrumento para a análise da dinâmica do sistema, gerando um melhor entendimento de todas as etapas pelas quais os materiais passam até se tornarem parte do serviço final. Dessa forma, o fluxo contínuo poderia ser assegurado através do mapeamento e eliminação de atividades que não agregam valor, através da adoção da quantidade de 37 equipamentos e processos que maximizem o fluxo e da confiabilidade nos equipamentos assegurada com a prática da manutenção produtiva total. Picchi (2001) cita que os fluxos na construção podem ser identificados como fluxo de negócio - englobando os fluxos de projeto, de obra e de suprimentos - e fluxo de uso e manutenção. No primeiro, o ciclo é liderado pelo contratante (incorporador) e envolve desde a identificação de necessidades, planejamento geral do empreendimento, contratação e monitoramento do projeto e construção, recebimento da construção, até a entrega da mesma ao usuário final. O segundo começa logo após a entrega do imóvel, compreendendo uso, operação e manutenção, assim como reparo, reforma, remodelagem e demolição. O takt time para a construção é o ritmo para a execução das atividades, segundo o planejamento das ações futuras a serem realizadas no processo de produção. O conceito de takt time poderia ser usado também para estabelecer o ritmo das atividades a partir da demanda real do cliente em toda a cadeia de fornecedores. A produção puxada pode ser efetuada através da entrega da construção em pequenas áreas, conforme a necessidade, através da eliminação da produção empurrada e adotando sistemas puxados entre equipes e entre estas e fornecedores (PICCHI, 2001). Ela equivale à execução dos serviços certos na hora certa, ou seja, um serviço só seria liberado após a liberação do anterior, e as equipes de trabalho já estariam devidamente preparadas com o material para o início do serviço. Segundo Pilar: Jidoka O Jidoka consiste em assegurar, ao responsável pela obra em questão, a autonomia para interromper o serviço sempre que for detectada qualquer anormalidade. A idéia central é impedir a geração e propagação de defeitos e eliminar qualquer anormalidade no processamento e fluxo de produção (GHINATO, 2000). A viabilização do Jidoka depende de dois fatores: separação entre a máquina e o homem e poka-yoke. Serviços que necessitam da permanência do operador junto à máquina durante a sua execução, caracterizam a relação entre a máquina e o homem. A separação que ocorre é entre a detecção da anormalidade e a solução do problema. A detecção pode ser uma função da máquina, pois é técnica e economicamente viável, enquanto a solução ou correção do problema continua como responsabilidade do homem (GHINATO, 2000). Existem dispositivos utilizados na construção que detectam a existência de anormalidades em equipamentos, imperceptíveis pelo seu operador. No caso da produção de concreto ou argamassa em betoneira, por exemplo, havendo qualquer diferença de tensão, fuga de corrente ou algum material condutor de energia encostado a ela, o dispositivo empregado interromperá 38 o fornecimento de energia, impedindo a deterioração do equipamento ou o acidente com o operador. Esse dispositivo é conhecido por DR, dispositivo diferencial residual. O poka-yoke é uma forma de bloquear as principais interferências na execução da operação (GHINATO, 2000). Uma das formas empregadas é a ação preventiva, cujo objetivo é atuar com ações que evitem erros já verificados em processos anteriores. Outra forma é a inspeção dos materiais durante o seu recebimento, verificando se estão de acordo com as suas especificações e a inspeção dos serviços durante a sua execução, que devem atender às tolerâncias especificadas na sua ficha de registro. Base: Kaizen, Operações Padronizadas, Estabilidade. É importante ressaltar que os pilares JIT e Jidoka estão assentados sobre uma base formada pelo heijunka (nivelamento da produção), operações padronizadas e kaizen (melhoria contínua) (GHINATO, 2000). Na indústria da construção civil, a padronização investe-se de especial importância como elemento redutor das improvisações, regulador das relações de interdependência entre serviços e otimizador das atividades desenvolvidas, impactando diretamente na redução de desperdícios. É através da padronização que os projetistas podem definir, em projeto, um aproveitamento “máximo” através da modularização do ambiente em função das dimensões dos materiais a serem empregados. Os fabricantes, por sua vez, podem alinhar os seus processos de fabricação definindo um padrão para o seu produto que siga as disposições das normas técnicas, assegurando ao construtor que os produtos especificados no projeto podem ser efetivamente encontrados no mercado. Os responsáveis pela execução de serviços na obra necessitam da padronização das atividades alinhadas com as diversas etapas construtivas e com o projeto. Na definição desses padrões para a execução de cada atividade pertencente a uma obra, é essencial que haja a indicação dos equipamentos necessários à execução de cada uma delas e da seqüência de ações para a realização das mesmas. A padronização leva a uma maior disciplina na execução de atividades, com a eliminação das improvisações e uma conseqüente redução da variabilidade em relação ao projeto, resultando em uma obra com maior nível de precisão e menor nível de desperdícios. Santos et al. (2002) afirmam que o crescimento da padronização proporcionado pela certificação ISO 9000 tem contribuído sistematicamente no esforço para a redução da variabilidade dentro do setor da construção. Koskela (1992) enfatiza que a forma mais utilizada de redução de variabilidade, tanto de atividades de conversão como das atividades de fluxo, é a padronização de procedimentos e seu controle estatístico. 39 O kaizen está fortemente relacionado à operação padronizada. A sua prática depende do contínuo monitoramento dos processos através do controle do ciclo PDCA (planejar, fazer, checar, agir). Trata-se de um instrumento valioso de controle e melhoria dos processos que precisa ser de domínio de todos os funcionários da empresa. Dando prosseguimento à elaboração dos padrões administrativos, técnicos e operacionais da empresa, passa-se por uma etapa de educação e treinamento de pessoal para aplicação desses padrões. Fecha-se o ciclo
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