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HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ Reitor Prof. Dr. Júlio Santiago Prates Filho Vice-Reitor Profa. Dra. Neusa Altoé Diretor da Eduem Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini Editor-Chefe da Eduem Profa. Dra. Terezinha Oliveira CONSELHO EDITORIAL Presidente Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini Editores Científicos Prof. Dr. Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues Profa. Dra. Angela Mara de Barros Lar Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva Profa. Dra. Cecília Edna Mareze da Costa Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Profa. Dra. Larissa Michelle Lara Prof. Dr. Luiz Roberto Evangelista Profa. Dra.Luzia Marta Bellini Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima Prof. Dr. Raymundo de Lima Profa. Dra. Regina Lúcia Mesti Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias Profa. Dra. Rozilda das Neves Alves Prof. Dr. Sezinando Luis Menezes Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco Profa. Dra. Valéria Soares de Assis EQUIPE TÉCNICA Fluxo Editorial Edilson Damasio Edneire Franciscon Jacob Mônica Tanati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Projeto Gráfico e Design Marcos Kazuyoshi Sassaka Artes Gráficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercialização Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima Maringá 2012 Maringá 2012 FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - EAD Histologia e Embriologia Humana e Comparada 14 Elaine Rosely Lepri (organizadora) Histologia e embriologia humana e comparada / Elaine Rosely Lepri, organizadora. -- Maringá: Eduem, 2012. 184p. : il. color. fot. 22cm. (Coleção formação de professores em Ciências Biológicas; n. 14) ISBN: 978-85-7628-485-7 1. Histologia – Estudo e ensino. 2. Embriologia humana – Estudo e ensino. I. Lepri, Elaine Rosely. CDD 21.ed. 574.07 H673 Copyright © 2012 para o autor Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta edição 2012 para Eduem. Endereço para correspondência: Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário 87020-900 - Maringá - Paraná Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392 http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br Formação de Professores em Ciências Biológicas - EAD Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese Luciana de Araújo Nascimento Normalização e catalogação: Ivani Baptista - CRB 9/331 Revisão Gramatical: Aparecida de Fátima Peres Projeto Gráfico: Carlos Alexandre Venancio Edição e Diagramação: Jeferson Gonçalves de Lima Tatiana Ferreira Cerqueira Capa: Jeferson Gonçalves de Lima Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ivani Baptista –Bibliotecária CRB-9/331 5 umárioS Sobre as autoras Apresentação da coleção Apresentação do livro CAPÍTULO 1 Embriologia Humana: desenvolvimento humano normal Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 2 Gametogênese Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 3 Fecundação Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 4 Segmentação ou clivagem: primeira semana de desenvolvimento Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 5 Implantação ou nidação: segunda semana de desenvolvimento Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 6 Terceira semana de desenvolvimento Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 7 Neurulação Luzmarina Hernandes > 7 > 9 > 11 > 13 > 17 > 31 > 37 > 41 > 47 > 55 HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 6 CAPÍTULO 8 Dobramento embrionário: estabelecimento da forma externa do embrião Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 9 Anexos embrionários Luzmarina Hernandes CAPÍTULO 10 Embriologia Comparada Elaine Rosely Lepri CAPÍTULO 11 Tecido epitelial Elaine Rosely Lepri Eneri Vieira de Souza Leite Mello CAPÍTULO 12 Tecido conjuntivo Elaine Rosely Lepri CAPÍTULO 13 Células do sangue Elaine Rosely Lepri CAPÍTULO 14 Tecido cartilaginoso Eneri Vieira de Souza Leite Mello CAPÍTULO 15 Tecido ósseo Elaine Rosely Lepri Eneri Vieira de Souza Leite Mello CAPÍTULO 16 Tecido muscular Elaine Rosely Lepri Eneri Vieira de Souza Leite Mello CAPÍTULO 17 Tecido nervoso Elaine Rosely Lepri CAPÍTULO 18 Parede de vasos sanguíneos Elaine Rosely Lepri CAPÍTULO 19 Plano geral de construção dos órgãos do aparelho digestório Elaine Rosely Lepri > 59 > 65 > 75 > 113 > 125 > 137 > 145 > 151 > 159 > 169 > 181 > 177 7 ELAINE ROSELY LEPRI Professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduada em Biomedicina (UEL). Mestre em Morfologia (UFPr). Doutora em Biologia Celular e Molecular (FMRP-USP-RP). ENERI VIEIRA DE SOUZA LEITE MELLO Professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduada em Fármacia (UEM). Mestre em Biologia Celular (UEM). Doutora em Biologia Celular e Molecular (FMRP-USP-RP). LUZMARINA HERNANDES Professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Graduada em Ciências Biológicas (UEM). Mestre em Biologia Celular (UEM). Doutora em Biologia Celular e Tecidual (USP-SP). Pós-doutorado no Grupo de Estudos em Fissura Palatina da Universidad Complutense de Madrid (UCM-ES). obre as autorasS HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 8 9 Este livro integra a coleção Formação de Professores de Ciências Biológicas – EAD, como parte do material didático produzido para o Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, na Modalidade de Educação a Distância, vinculado ao Departamento de Biologia (DBI), do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), ofertado no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB). Esta é uma coleção de livros para a formação de professores que traz a marca da tradição e da força. A tradição vem da experiência no ensino e na pesquisa dos autores, vinculados aos departamentos da Universidade Estadual de Maringá. A força, por sua vez, está relacionada ao conteúdo diversificado e atualizado, bem como à metodologia baseada na comunicação, em linguagem acessível e objetiva, e nas atividades e leituras complementares propostas. Numa coleção destinada à formação de professores de Ciências Biológicas, acredi- tamos que a melhor opção é a adoção de uma sequência de conteúdos que permite o contato com os níveis crescentes de complexidade, nos quais o mundo vivo se orga- niza. Essa organização, desde o nível molecular até os princípios da hereditariedade e evolução das espécies, culmina com as relações dos seres vivos entre si e com o ambiente. Além disso, o ensino atualizado não pode ficar indiferente às conquistas de uma ci- ência dinâmica, que se renova a cada geração, na busca de respostas para as inúmeras indagações existentes e para aquelas que surgirão, proporcionando o aumento notável dos conhecimentos adquiridos. Portanto, serão abordados, em todos os volumes, co- nhecimentos recentes, que focalizem temas de repercussão na atualidade vinculados às pesquisas relacionadas às áreas da Biologia, como a ecologia, a genética, a biotec- nologia e a saúde, entre outras. Nessa perspectiva, cada livro da coleção foi pensado e elaborado para uma disciplina específica do curso, buscando a leitura, a reflexão e o aprofundamento do conteúdo fundamental para a formação de professores nessa área de conhecimento. A conclusão dos trabalhos deverá ocorrer somente no ano de 2013. Deve-se con- siderar que o financiamento para a edição dos volumes da coleção será liberado gra- dativamente, de acordo com o cronograma estabelecido pela Diretoria de Educação a Distância (DED) da Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), responsável pelo programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). presentação da ColeçãoA HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 10 Agradecemos aos professores da Universidade Estadual de Maringá que organiza- ram os livros ou escreveram capítulos para os diversos volumes dessa coleção. Tam- bém ressaltamos o apoio do Departamento de Biologia, do Centro de Ciências Bioló- gicas, da reitoria e diversos órgãos da Universidade Estadual de Maringá, em especial do Núcleo de Educação a Distância. Esperamos que a coleção tenha novas edições, destinadas a novos alunos da UEM e de outras instituições públicas de ensino superior vinculadas ao sistema UAB. Celso João Rubin Filho Organizador da Coleção 11 As disciplinas “Embriologia” e “Histologia” integram os currículos dos cursos das áreas de Ciências Biológicas, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias como grade básica mínima exigida pelo MEC. Sempre foi uma expectativa das autoras, reunir os conteúdos da disciplina em um único livro, visto que eles são encontrados separa- damente. A disciplina “Embriologia e Histologia Humana e Comparada”, ofertada ao curso de Ciências Biológicas – EAD, une os dois conteúdos – Embriologia e Histologia – e adiciona ainda um conteúdo específico – a Embriologia Comparada – dirigido ao curso no que se refere às abordagens comparativas entre as espécies animais. Assim, este livro está dividido em três partes – Embriologia Humana Geral, Embriologia Com- parada e Histologia Geral. Todos os três assuntos são partes de uma área maior – a Morfologia. Nos seus aspectos práticos, tanto a Embriologia como a Histologia são estudadas por meio de microscopia óptica. A utilização de imagens, fotomicrografias e desenhos ilustrativos são fundamentais para a compreensão das aulas. Na Embriologia Humana Geral, a professora Luzmarina aborda os aspectos do desenvolvimento embrionário, partindo da formação dos gametas, passando pela fertilização, que é o marco inicial do desenvolvimento, a implantação na segunda se- mana, com ênfase, neste capítulo, aos tecidos que darão origem à placenta e à forma- ção inicial do saco vitelínico e âmnio, seguindo com os eventos mais importantes da terceira semana, como a formação do terceiro folheto germinativo e a neurulação, até o início do período embrionário, na quarta semana, quando ocorre o estabelecimento da forma externa do embrião. Esta parte conta ainda, como novidade, com ilustrações inéditas produzidas pela autora dos capítulos, proporcionando ao aluno a possibilida- de de colorir os desenhos e acompanhar o desenvolvimento do embrião em todas as suas fases. Na segunda parte do livro – Embriologia Comparada – a professora Elaine reúne informações sobre o desenvolvimento inicial de várias espécies animais. Procura correlacionar os diferentes tipos de ovos com o ambiente onde se desenvolvem, passa pelo Anfioxo (Anphioxus), cujo interesse está voltado ao fato de que apresenta caracte- rísticas de desenvolvimento dos vertebrados, porém mais simples. O tema segue com presentação do livroA a abordagem de ovos com muito vitelo (peixes, anfíbios e aves), onde o desenvolvi- mento se dá de forma autosuficiente. Conclui-se, desta análise, que os mamíferos que possuem ovos oligolécitos substituem o vitelo pela placenta. As formas de variação das placentas nos animais também são abordadas em estudo comparativo. Na terceira parte, o conteúdo de Histologia foi dividido entre as professoras Elaine e Eneri. Um texto didático, claro e atualizado com informações fundamentais para um perfeito aprendizado da matéria. O foco para a descrição dos tecidos foi base- ado na caracterização de seus aspectos morfológicos e organizacionais com sua origem embrionária. Transcrever de forma simplificada as principais características dos teci- dos, sempre associando-as a suas funções básicas, foi uma preocupação frequente das autoras. As relações funcionais, ou interações, entre os tecidos também são passadas nos capítulos de parede de vasos sanguíneos e paredes de órgãos. Todos os capítulos foram cuidadosamente revisados, e as imagens foram adequadas ao conteúdo abor- dado. Conclui-se, assim, o conteúdo proposto para o livro, que deve contribuir para o conhecimento atualizado dos alunos do curso de Ciências Biológicas no Ensino a Distância. Elaine Rosely Lepri Organizadora 13 Embriologia Humana: desenvolvimento humano normal 1 Luzmarina Hernandes OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá entender: • O que consiste o estudo da embriologia; • Os termos descritivos de posição, direção e planos do corpo do embrião. Embriologia (do grego ἔμβρυον, embryon, “não nascido, unborn, embryo”; e -λογία, -logia) é a ciência que estuda o desenvolvimento de um embrião, desde a fertilização até o estágio fetal. A embriologia integra o desenvolvimento pré-natal com a obstetrícia, a medicina perinatal, a pediatria e a anatomia clínica. Desenvolve o conhecimento relativo ao início da vida humana e às mudanças que ocorrem durante o desenvolvimento pré-natal. Possibillita o entendimento das causas da alteração na estrutura humana e explica a anatomia e como se desenvolvem as relações normais e anormais. Há grandes variações no desenvolvimento embrionário, visto que os animais invertebrados e vertebrados apresentam aspectos muitos diferentes e níveis evolutivos. O desenvolvimento envolve diversos aspectos: (a) multiplicação de células, por meio de mitoses sucessivas; (b) crescimento, devido ao aumento do número de células e das modificações volumétricas em cada uma delas; (c) diferenciação ou especialização celular, com modificações no tamanho e na forma das células que compõem os tecidos. Essas alterações é que tornam as células capazes de cumprir suas funções biológicas. TERMOS DESCRITIVOS EM EMBRIOLOGIA Na embriologia, são usados vários termos relacionados à posição e à direção e se faz referência a vários planos do corpo. Todas as descrições do adulto são baseadas na suposição de que o corpo esteja ereto, com os membros superiores ao lado do corpo e as palmas direcionadas para frente. Esta é a posição anatômica. Os termos anterior ou ventral e posterior ou dorsal são usados, respectivamente, para descrever adiante a atrás do corpo ou dos membros e as http://en.wikipedia.org/wiki/-logy HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 14 relações entre estruturas internas. Os termos dorsal e ventral são usados quando se descrevem embriões. Os termos superior e inferior são usados para indicar os níveis relativos de diferentes estruturas. Para embriões, os termos cranial e caudal são usados, respectivamente, para indicar a cabeça e a extremidade caudal. Os termos proximal e distal são utilizados para designar as distâncias do local de inserção de uma estrutura, por exemplo, no membro inferior, o joelho é proximal ao tornozelo, e o tornozelo é distal ao joelho. O plano mediano é um plano de corte vertical imaginário que passa longitudinalmente pelo corpo. Os cortes medianos dividem o corpo em metades direita e esquerda. Os termos lateral e medial se referem a estruturas que estão, respectivamente, mais afastadas ou mais próximas ao plano mediano do corpo. Um plano sagital é qualquer plano vertical que passa pelo corpo e que é paralelo ao plano mediano. Os planos sagitais são denominados segundo a sutura sagital do crânio aos quais são paralelos. Um plano transverso se refere a qualquer plano que esteja em ângulo reto, tanto com o plano mediano quanto com o coronal. Um plano frontal (coronal) é qualquer plano vertical que intercepta o plano mediano em um ângulo reto e divide o corpo em partes anterior ou ventral e posterior ou dorsal (Figura 1). Figura 1 - Representação esquemática dos vários planos de posição e direção corporal. 15 Embriologia Humana:desenvolvimento humano normal Anotações HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 16 Anotações 17 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá entender: • A constituição dos aparelhos reprodutores masculino e feminino; • As etapas da gametogênese masculina e feminina; • O ciclo reprodutivo feminino. Os gametas são os veículos de transferência dos genes para as próximas gerações. A gametogênese é o processo de formação dos gametas masculino (espermatogênese) e feminino (ovogênese ou ovulogênese) e pode ser caracterizada por três etapas distintas, denominadas (1) multiplicação, (2) crescimento e (3) maturação, as quais se diferenciam em vários aspectos na espermatogênese e na ovogênese. A gametogênese ocorre nas gônadas – os ovários, no sexo feminino, ou os testículos, no sexo masculino. Nesse local, as células germinativas masculina e feminina devem passar por sucessivas divisões mitóticas e meióticas para formar um gameta maduro (óvulo e espermatozoide), ambos com a metade do número de cromossomos da espécie. Aparelho reprodutor masculino e gametogênese masculina (espermatogênese) O aparelho reprodutor masculino é constituído pelos (a) testículos, (b) vias genitais e (c) glândulas acessórias (Figura 2.1). Gametogênese2 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 18 Figura 2.1 - Esquema representando (a) o aparelho reprodutor masculino; (b) o testículo em corte longitudinal e (c) o espermatozóide humano. Ilustração: Luzmarina Hernandes. As gônadas masculinas, os testículos, são em número de dois e se localizam no interior do escroto. Cada testículo é constituído por uma cápsula de tecido conjuntivo, a túnica albugínea, da qual partem septos que dividem o órgão em compartimentos menores – os lóbulos testiculares. Cada lóbulo contém de um a três túbulos enovelados – os túbulos seminíferos (Figura 2.1b). No interior dos túbulos, localizam-se as células da linhagem germinativa em diversos estágios de maturação: espermatogônias, espermatócitos primários, espermatócitos secundários, espermátides e espermatozoides e as células de Sertoli, que sustentam fisicamente, nutrem as células da linhagem germinativa e fagocitam restos celulares resultantes da espermatogênese. As células de Sertoli são as únicas células somáticas do epitélio dos túbulos seminíferos. Encontram-se apoiadas na lâmina basal junto com as espermatogônias (Figura 2.2). 19 Figura 2.2 - (a) Esquema representativo das células do túbulo seminífero. Espermatogônias e esper- mátides iniciais ocupam depressões nas faces basais da célula de Sertoli; espermátides avançadas encontram-se nos recessos profundos próximos ao ápice; (b) fotomicrografia do corte transversal dos túbulos seminíferos, com as células da linhagem germinativa e células de Sertoli. O tecido conjuntivo localizado entre os túbulos contem as células intersticiais, produtoras de testosterona. O espaço existente entre os tubulos seminíferos é preenchido por tecido conjuntivo propriamente dito, rico em vasos sanguíneos, e aí estão localizadas as células intersticiais ou de Leydig, que são células endócrinas diferenciadas, responsáveis pela produção de testosterona. A maturidade fisiológica dessas células só ocorre na puberdade, quando iniciam a produção de testosterona, que é lançada nos capilares circundantes. A testosterona atua como principal estímulo na diferenciação das células germinativas durante a espermatogênese. Sua produção é regulada pela hipófise pelo hormônio luteinizante (LH). Vias genitais masculinas e glândulas anexas Os túbulos seminíferos são contínuos com um sistema de canalículos – as vias genitais masculinas – que transportam os espermatozoides. As vias compreendem os tubulos retos, a rede testicular, os ductos eferentes, o epidídimo, o canal deferente e a uretra, conforme ilustrado nas figuras 2.1. As glândulas anexas compreendem um par de vesículas seminais, a próstata e duas glândulas bulbo uretrais. As gândulas acessórias se abrem no caminho das vias genitais e produzem líquido seminal, que é acrescido aos espermatozoides, constituindo o sêmen. Uma vez formados durante o processo de espermatogênese, os espermatozoides são destacados das paredes dos túbulos seminíferos e liberados na Gametogênese HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 20 luz do órgão. Dos túbulos seminíferos, são deslocados por movimentos peristálticos até o epidídimo, um canal longo e espiralado que armazena os espermatozoides e os torna aptos a fertilizar. Durante a ejaculação são liberados do epidídimo e seguem pelo canal deferente que é ascendente e liga o epidídimo à uretra. Nesse percurso, desembocam os ductos de glândulas que produzem o líquido seminal que é acrescido aos espermatozoides. Na uretra percorrem o interior do pênis (uretra peniana) e são lançados para fora do corpo masculino. Espermatozoide O espermatozoide é uma célula móvel, especializada no transporte da informação genética paterna. É formado por três partes: (1) cabeça, (2) região intermediária (o colo) e (3) cauda ou flagelo (Figura 2.1). A cabeça tem o núcleo haploide e o acrossoma, uma organela derivada do Complexo de Golgi, em forma de capuz, que armazena enzimas importantes para a fertilização. O flagelo é formado por três segmentos: a peça intermediária, a peça principal e a peça terminal. A peça intermediária contém mitocôndrias que fornecem a energia necessária para a motilidade do espermatozoide. Espermatogênese No embrião masculino, as células germinativas primordiais são provenien- tes do endoderma do saco vitelínico e deste local migram para os testículos em desenvolvimento onde se diferenciam em espermatogônias diplóides que perma- necem quiescentes até a puberdade, quando proliferam por mitose. Algumas das células resultantes servem como uma fonte de reserva das células proliferativas, enquanto outras começam a espermatogênese na puberdade. A espermatogênese inclui todos os eventos por meio dos quais espermato- gônias são transformadas em espermatozoides. Inicia-se na puberdade e continua até a velhice. Cada espermatogônia diploide dará origem, ao final do processo, que demora cerca de dois meses, a quatro espermatozoides haploides (Figura 2.3) . 21 Figura 2.3 - Esquema representando a espermatogênese. Fase de multiplicação: as células germinativas formam espermatogônias tipo A que sofrem um numero limitado de mitoses para formar um clone de células. A última divisão produz espermatogônias tipo B, que darão origem aos espermatócitos I. Fase de crescimento: Um pequeno aumento no volume do citoplasma das espermatogônias diplóides as converte em espermatócitos primários (ou espermatócitos I), também diplóides. Fase de maturação: corresponde ao período de ocorrência da meiose. Depois da primeira divisão meiótica, cada espermatócito primário origina dois espermatócitos secundários (ou espermatócitos II). Como resultam da primeira divisão da meiose, já são haplóides, embora possuam cromossomos duplicados. Com a ocorrência da segunda divisão meiótica, os dois espermatócitos de segunda ordem originam quatro espermátides haplóides. Espermiogênese: É o processo que converte as espermátides em espermatozóides, perdendo quase todo o citoplasma. As vesículas do complexo de Golgi fundem-se, formando o acrossomo, localizado na extremidade anterior dos espermatozóides. O acrossomo contém enzimas que perfuram as membranas do óvócito, na fecundação. Os centríolos migram para a região imediatamente posterior ao núcleo da espermátide e participam da formação do flagelo, estrutura responsável pela movimentaçãodos espermatozóides. Grande quantidade de mitocôndrias, responsáveis pela respiração celular e pela produção de energia (ATP), concentram-se na região entre a cabeça e o flagelo, conhecida como peça intermediária. Gametogênese HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 22 Aparelho reprodutor feminino e gametogênese feminina (ovogênese) O sistema reprodutor feminino é formado por dois ovários e pelas vias genitais, constituídas por tubas uterinas, útero e vagina (Figura 2.4). Os ovários são as gônadas femininas, responsáveis pela produção dos gametas e dos hormônios sexuais estrógeno e progesterona. O parênquima ovariano se divide em duas regiões: uma zona periférica, a cortical, que contém os folículos ovarianos, e uma zona central, a medular, rica em tecido conjuntivo frouxo, onde encontram-se nervos, vasos sanguíneos e linfáticos. A maturação dos gametas femininos ocorre no córtex ovariano, nos folículos ovarianos. Cada folículo é constituído por um gameta (ovócito) envolvido por células foliculares. A maturação folicular se dá de modo cíclico e representa o ciclo folicular ou ovariano. Figura 2.4 - Esquema representando o aparelho reprodutor feminino. A seta indica um detalhe do ovário com os folículos ovarianos, localizados no córtex ovariano, em vários estágios de maturação. A ovogênese é a sequência de eventos pelos quais as ovogônias são transformadas em ovócitos maduros. Inicia-se antes do nascimento e é completada depois da puberdade, continuando até a menopausa (Figura 2.5). Ovogênese No sexo feminino, a gametogênese é denominada ovogênese ou ovulogênese. Inicia-se antes do nascimento e completa-se após o início da puberdade. 23 Figura 2.5 - Esquema representando o processo de gametogênese feminina, a ovogênese. Fase de multiplicação: As células germinativas, derivadas do embrião feminino, passam pela fase de multiplicação até aproximadamente a 15ª semana da vida fetal2, sofrendo divisões mitóticas dando origem às oogônias. Fase de crescimento: As oogônias a seguir passam por uma fase de crescimento dando origem aos oócitos primários. Fase de maturação: os oócitos primários (oocito I) passarão plas fases de maturação que correspondem às divisões meióticas. Maturação pré-natal: Depois de chegarem à gônada, provenientes do endoderma do saco vitelínico, as células germinativas primordiais se diferenciam em ovogônias. Ao alcançarem a região cortical do parênquima ovariano, essas células sofrem algumas divisões mitóticas e, ao final do terceiro mês, arranjam-se em grupos, circundadas por uma camada de células epiteliais, as células foliculares, provenientes do epitélio ovariano. A maioria das ovogônias (2n) continua a se multiplicar, porém algumas delas se diferenciam em ovócitos primários. Imediatamente após a diferenciação, os ovócitos primários duplicam seu DNA e entram em prófase da primeira meiose. Os ovócitos primários permanecem em prófase e só terminam sua primeira divisão meiótica depois do início da puberdade. As ovogônias atingem seu número máximo, de cerca de 7 milhões, no quinto mês do desenvolvimento pré-natal. Nessa época, tem início a morte celular e ocorre atresia de muitas ovogônias e ovócitos primários. No sétimo mês, a maioria das ovogônias sofreu atresia e todos os ovócitos primários já passaram à prófase I. Tão logo o ovócito primário se forma, cada célula é circundada Gametogênese HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 24 por uma única camada de células foliculares achatadas. Essa estrutura se chama folículo primordial (Figura 2.6). Portanto, ao nascerem, as meninas apresentam em seus ovários somente folículos primordiais com ovócitos primários bloqueados em prófase da meiose 1. Maturação pós-natal: completa-se após a puberdade e vai até a menopausa. A partir da puberdade, as mulheres começam a apresentar ciclos reprodutivos mensais regulares. Esses ciclos sexuais são controlados pelo hipotálamo. O hormônio de liberação da gonadotrofina (GnRH, gonadotripin-realising hormone), produzido por neurônios hipotalâmicos, é o principal mediador do processo reprodutivo. O GnRH é levado via sistema porta hipotálamo-hipofisário até a hipófise anterior, onde se liga aos receptores específicos da membrana de células produtoras de dois hormônios gonadotróficos, o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo-estimulante (FSH). Essas gonadotrofinas são liberadas pela hipófise anterior, na circulação sistêmica, e alcançarão as gônadas, onde estimularão a continuidade do processo de produção de gametas, que se iniciou na fase pré-natal, e também estimularão a produção de hormônios gonadais (estrógeno e progesterona). No início de cada ciclo reprodutivo mensal, o FSH estimula o desenvolvimento do folículo ovariano, e, no meio do ciclo, o FSH junto com o LH estimulam a ovulação e o desenvolvimento do corpo lúteo. Morfologia dos folículos ovarianos Folículos primordiais: medem cerca de 50µm de diâmetro. São constituídos por um ovócito bloqueado na prófase da primeira divisão meiótica e por uma camada única de 3 a 4 células foliculares achatadas (Figura 2.6). Folículos primários: medem de 60 a 80µm. O ovócito central (bloqueado em prófase 1) está envolvido por uma membrana hialina, a zona pelúcida, e por uma camada de células foliculares cúbicas (Figura 2.6). Folículos secundários: medem de 80 a 180µm. O ovócito I central é envolvido por 3 a 4 camadas de células foliculares (granulosa). O conjunto do folículo está envolvido pela teca interna, que resulta de modificações do estroma ovariano circundante. A teca interna é um tecido ricamemente vascularizado e contém células cúbicas produtoras de esteroides (Figura 2.6). Folículos antrais: entre as células foliculares formam-se cavidades contendo líquido. Essas cavidades confluem, dando origem a uma cavidade única, o antro, que é uma cavidade assimétrica e, portanto, desloca o ovócito para um dos polos do folículo. As células foliculares granulosas que permanecem circundando o ovócito constituem a corona radiata. Em torno da teca interna, forma-se a teca externa, rica em tecido conjuntivo e vasos sanguíneos. O desenvolvimento do folículo ovariano até o estágio antral ocorre em um conjunto de folículos, cerca de 65 dias antes do início do ciclo 25 ovariano. No transcorrer do ciclo, apenas um desses folículos alcançará a maturidade e será ovulado. O tamanho dos folículos varia de 80µm a 5mm (Figura 2.6). Folículos selecionados e folículo dominante: Vários folículos em cada um dos ovários são selecionados para continuar o desenvolvimento. Após a menstruação, o folículo maior se torna dominante e inibe o crescimento dos demais selecionados anteriormente. A seleção dos folículos corresponde ao início do ciclo mensal e coincide com o primeiro dia de menstruação (Figura 2.6). Figura 2.6. - Representação fotográfica e esquemática da morfologia dos folículos ovarianos nos diferentes estágios de maturação. Gametogênese HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 26 Fases de maturação dos folículos A partir da puberdade, e subsequentemente até a menopausa, os folículos primordiais entram na (a) fase de iniciação ou recrutamento. Nesse período, o folículo primordial se diferencia em folículo primário e a seguir em folículo secundário. Essa etapa demora vários meses. Os folículos secundários entram, então, na (b) fase de crescimento folicular basal, na qual passam por graus de maturação que vão desde o folículo classe 1 (pré-antral) até folículos classe 4. Esse estágio demora cerca de 70 dias. A (c) fase de seleção ocorre a cada mês, com 3 a 11 folículos em crescimento basal por ovário. Corresponde ao início do ciclo mensal. Na (d) fase de dominânia, um dos folículosse torna dominante e o desenvolvimento dos outros é interrompido. O folículo dominante (folículo maduro ou de Graaf ) aumenta de tamanho até a fase ovulatória (Figura 2.7). Figura 2.7. - Esquema das fases de maturação dos folículos ovarianos. Ciclo sexual Compreende alterações cíclicas, mensais, que ocorrem nos ovários e no útero feminino. As alterações no ovário correspondem ao ciclo ovariano e são mediadas pelos hormônios hipofisários, FSH e LH. O ciclo uterino corresponde às alterações cíclicas que ocorrem no endométrio uterino e são mediadas pelos hormônios ovarianos: estrógeno e progesterona. 27 Ciclo ovariano: Os eventos do ciclo ovariano estão descritos abaixo. a) Crescimento e desenvolvimento dos folículos ovariano. Compreende o crescimento e o desenvolvimento dos folículos ovarianos, anteriormente descritos. b) Ovulação Ocorre por volta da metade do ciclo e corresponde ao processo de expulsão do ovócito II, promovido por um aumento da pressão interna folicular. Vários folículos em cada um dos ovários são selecionados para se desenvolverem. Após a menstruação, o folículo maior se torna dominante e inibe o crescimento dos demais selecionados anteriormente. No 12º dia do ciclo, as células foliculares começam expressar o receptor de membrana para o LH. A ovulação ocorre até 36 horas após o pico de LH, e o ovócito I retoma a meiose bloqueada, concluindo a primeira divisão meiótica. O ovócito II inicia a segunda divisão meiótica que novamente fica bloqueada na fase de metáfase II. A secreção de prostaglandinas pelas células foliculares possibilita a rotura do folículo e do epitélio ovariano. O ovócito II é expelido juntamente com a zona pelúcida e as células da corona radiata. c) Formação do corpo lúteo Todo o restante do folículo (células foliculares e tecas) permanece no ovário e sofre a ação do LH. Esse hormônio estimula e mantém a secreção das células das tecas que formam agora uma glândula temporária denominada corpo lúteo e que secretam os hormônios ovarianos: estrógeno e progesterona. Na ausência da gravidez, ao fim do ciclo, o corpo lúteo se atrofia e dá lugar a uma cicatriz fibrosa, o corpo albicans (Figura 2.8). Gametogênese HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 28 Figura 2.8 - Esquema ilustrativo do ciclo ovariano e ciclo uterino. Ciclo uterino O endométrio é constituído de três camadas: (a) compacta, que consiste em tecido conjuntivo densamente compactado em torno do colo das glândulas uterinas; (b) esponjosa, espessa, composta de tecido conjuntivo edematoso, contendo os corpos dilatados e retorcidos das glândulas uterinas; (c) basal, delgada, contendo a extremidade em fundo de saco das glândulas uterinas. A camada basal tem seu próprio suprimento sanguíneo e não descama durante a menstruação. As camadas compacta e esponjosa, denominadas em conjunto de camada funcional, desintegram-se e descamam durante a menstruação e após o parto (Figura 2. 9). Figura 2.9 - Esquema representando as camadas no endométrio uterino, com seus vasos e glândulas. 29 As mudanças cíclicas no trato reprodutor feminino, particularmente no endométrio, dependem das alterações nos níveis de estrógeno e progesterona produzidos pelos ovários. Fase menstrual: o ciclo uterino se inicia no primeiro dia da menstruação. A camada funcional do útero descama e é eliminada com o fluxo menstrual. Esse período dura de 4 a 5 dias. Fase de crescimento, proliferativa ou estrogênica: dura cerca de 9 dias. Esse período caracteriza-se pela ocorrência de regeneração do endométrio descamado na fase menstrual. O epitélio superficial se refaz, as glândulas uterinas aumentam de número e comprimento e as artérias espiraladas se alongam. Esse processo depende da secreção de estrógeno no ovário e coincide com o crescimento dos folículos ovarianos. Fase secretora ou progestacional: dura cerca de 13 dias. Depende da progesterona secretada pelo corpo lúteo. A progesterona estimula o aumento da secreção de glicogênio pelas glândulas uterinas, as glândulas se tornam largas, retorcidas e saculares; o endométrio se torna espesso e edemaciado. As artérias espiraladas se tornam cada vez mais sinuosas (Figura 2.8). Quando ocorre fertilização, ocorre formação do blastocisto, que começa a implantar-se no endométrio por volta do sexto dia da fase secretora. O hCG (Gonadotrofina Coriônica Humana), hormônio produzido pelo córion (futura placenta) em desenvolvimento, mantém o corpo líuteo secretando estrógeno e progesterona. Portanto, a fase secretora continua e a menstruação não ocorre. Quando não ocorre fertilização, o corpo lúteo degenera, os níveis de estrógeno e progesterona caem e o endométrio secretor entra em uma fase isquêmica durante o último dia da fase secretora. Ocorre então a menstruação, reiniciando-se o ciclo. Proposta de Atividades 1) Faça um quadro comparativo entre a gametogênese feminina e a masculina. 2) Na figura 2.6, pinte cada estágio de maturação folicular como se pede: ovócito em amarelo; zona pelúcida em azul; células foliculares em amarelo; tecas foliculares em verde. 3) Enumere as fases dos ciclos ovariano e uterino. 4) Cite o local de produção e de ação dos hormônios hipofisários e ovarianos. Gametogênese HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 30 Anotações 31 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá entender: • O processo de capacitação dos espermatozoides; • O processo de reação acrossômica; • As fases da fecundação; • A importância da zona pelúcida para evitar a fertilização entre espécies e a poliespermia; • Os resultados da fecundação. Local da fecundação: O ovócito é capturado pelo movimento de varredura das fimbrias da tuba uterina, logo após sua expulsão do ovário. Comumente, o encontro com o gameta masculino ocorre na parte mais dilatada da tuba, no terço distal, a ampola. Capacitação dos espermatozoides: Os espermatozoides dos mamíferos são incapazes de fertilizar o ovócito imediatamente após a ejaculação. Eles requerem um período de incubação no trato reprodutor feminino para adquirirem a capacidade de fertilizar. Esse processo denomina-se capacitação e demora cerca de sete horas na espécie humana. A capacitação implica alterações epiteliais entre o espermatozoide e a superfície da mucosa da tuba. Durante esse período, ocorre a remoção de uma capa glicoproteica e proteínas do plasma seminal da superfície do espermatozoide na região do acrossoma. Algumas das mudanças intracelulares que ocorrem na capacitação incluem: o aumento na fluidez da membrana plasmática e no efluxo de colesterol; aumento nas concentrações de Ca++, bicarbonato e peróxido de hidrogênio, os quais coletivamente ativam a enzima adenilato ciclase para produzir AMP cíclico (AMPc) que, por sua vez, ativa a proteína quinase A para fosforilar. Tais mudanças alteram o padrão de motilidade dos espermatozoides que se tornam mais ágeis e rápidos. O ponto final da capacitação Fecundação3 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 32 é a capacidade dos receptores de superfície dos espermatozoides se ligarem a seus ligantes complementares sobre a zona pelúcida. São considerados como fatores do trato reprodutor feminino, capazes de capacitar espermatozoides: enzimas, glicosaminoglicanas, catecolaminas, taurina e hipotaurina. Admite-se que a hiperativação do espermatozoide é necessária para sua progressão e penetração no ovócito. Tais movimentos são importantes também para que o espermatozoide capacitado se liberte dos componentes mucosos dos reservatórios do trato reprodutor feminino. Há uma opinião corrente de que o início da capacitação varia entre as espécies e dependeria do local onde ocorre a ejaculação.Em animais onde a deposição do sêmen se faz na vagina (coelhos e humanos), a capacitação inicia-se na cérvice ou no muco cervical e completa-se no útero. Se a ejaculação for intrauterina (roedores, porca), o local mais provável seria o oviduto. Entretanto, foi observado que em coelhos e em hamsters as células epiteliais do istmo do oviduto têm papel importante na capacitação dos espermatozoides. Etapas da fecundação: A sequência da fecundação inclui (Figura 3.1): (a) penetração na corona radiata: os espermatozoides capacitados passam livremente pela corona radiata; (b) penetração na zona pelúcida: a zona pelúcida é uma camada glicoproteica que circunda o ovócito, facilita e mantém a ligação do espermatozoide e induz a reação acrossômica, que será descrita a seguir. Somente os espermatozoides capacitados podem ligar-se à zona pelúcida e sofrer a reação acrossômica, que é necessária para a fertilização em todas as espécies que possuem um acrossoma. O acrossoma pode ser considerado um grânulo secretório que contém uma variedade de enzimas, incluindo proteases (ex: proacrosina), glicosidases, fosfatases e fosfolipases. A reação do acrossoma se processa quando receptores, localizados na membrana plasmática do espermatozoide, unem-se a outros receptores, localizados na zona pelúcida. A reação acrossômica consiste em um processo de exocitose que resulta na liberação/exposição de enzimas e outras proteínas que residem dentro da vesícula acrossomica. Envolve as seguintes etapas: a) fusão da membrana acrossômica externa com a membrana plasmática do espermatozoide; b) fenestração e vesiculação das membranas; c) liberação do conteúdo acrossômico e exposição, ao meio ambiente, das proteínas ligadas à membrana acrossômica; d) fusão da membrana plasmática e membrana acrossômica interna no limite anterior do segmento equatorial; e) perda das membranas que reagiram. As enzimas liberadas na reação acrossômica incluem acrosina e substancias semelhantes à tripsina. 33 A matriz da zona pelúcida de camundongos é composta de 3 glicoproteínas designadas ZP1 com 623 resíduos de aminoácidos (aa), ZP2 (713 aa) e ZP3 (424 aa). Os estudos têm sugerido que, em camundongos, a ZP3 atua como um receptor primário dos espermatozoides (liga o espermatozoide capacitado) e também é responsável por induzir exocitose acrossomal. ZP2 atua como um receptor secundário do espermatozoide e mantém a ligação entre o espermatozoide e ZP3. A glicoproteína ZP1 mantém a ligação entre ZP2–ZP3, promovendo estabilidade e integridade estrutural à matriz da zona pelúcida. Entretanto, recentes observações em varias espécies sugerem que o papel das glicoproteínas ZP de camundongos diferem de outras espécies como aves, macacos (Macaca radiata) e humanos. Em humanos, a matriz da zona pelúcida é composta de 4 glicoproteínas designadas ZP1, ZP2, ZP3 e ZP4. A zona pelúcida tem um importante papel em restringir a fertilização entre espécies diferentes em mamíferos. A fertilização entre espécies só ocorre se a zona pelúcida for removida. A liberação das enzimas acrossômicas possibilita a penetração dos espermatozoides na zona pelúcida, entrando, assim, em contato com a membrana plasmática do ovócito. (c) fusão entre as membranas plasmáticas do ovócito e do espermatozoide: a aderência inicial do espermatozoide ao ovócito é mediada em parte pela interação de integrinas no ovócito e seus ligantes, desintegrinas, no espermatozoide. Após a aderência, a membrana plasmática do ovócito e a membrana remanescente do espermatozoide se fundem (o espermatozoide perdeu parte de sua membrana durante a reação acrossômica). Na espécie humana, tanto a cabeça como a cauda do espermatozoide penetram no citoplasma do ovócito, mas a membrana plasmática do espermatozoide fica presa na superfície do ovócito. Reação cortical: Logo que o espermatozoide penetra o ovócito, os grânulos corticais liberam seu conteúdo no espaço perivitelínico em um evento chamado reação cortical. Os exudatos dos grânulos alteram as propriedades da zona pelúcida (reação de zona) e assim ocorre o bloqueio da poliespermia. Em ouriço do mar e camundongos, a exocitose dos grânulos é um processo dependente de cálcio. Nesta última espécie, a exocitose leva para a superfície da membrana do ovócito enzimas proteinases ou glicosidases que hidrolizam a ZP3. A inativação de ZP impede que novos espermatozoides se prendam à zona pelúcida, evitando a poliespermia. Retomada da segunda divisão meiótica: Imediatamente após a entrada do espermatozoide, o ovócito completa sua segunda divisão meiótica. Uma das células- filhas, que recebe pouco citoplasma, é denominada segundo corpo polar; a outra célula-filha é o ovócito definitivo, chamado agora de óvulo. Seus cromossomos (22 + X) se dispõem em um núcleo chamado pró-núcleo feminino. Fecundação HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 34 Ao penetrar no ovócito, o núcleo do espermatozoide perde a membrana nuclear, o que expõe a sua cromatina às substâncias contidas no ovócito e que, de certa forma, influi no processo de descondensação do núcleo do espermatozoide, processo que o transforma no pró-núcleo masculino. Com a contribuição de microtúbulos e microfilamentos, ocorre a formação da placa equatorial e a mistura dos cromossomos maternos e paternos, dando início a um novo indivíduo. A união dos pró-núcleos é denominada de singamia ou anfimixia. Com a anfimixia, encerra-se o processo de fertilização, forma-se um zigoto e inícia-se a embriogênese. Como resultado deste processo de mistura dos cromossomos maternos e paternos, podem-se relacionar: • o restabelecimento do número diploide de cromossomos da espécie; • a variabilidade da espécie; • a determinação do sexo genético; • a perpetuação da espécie; • a ativação metabólica do zigoto para iniciar a segmentação. Figura 3.1 - Esquema representativo das principais etapas da fertilização em humanos. 35 Anotações Fecundação HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 36 Anotações 37 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá: • Identificar o local onde ocorre o processo de segmentação; • Entender o processo de segmentação do zigoto; • Entender a importância da compactação; • Identificar cada estágio da segmentação de acordo com a morfologia. O tipo de segmentação é determinado, entre outros fatores, pela quantidade de vitelo existente no zigoto. Sendo substância inerte, o vitelo, quando em grande quantidade, pode dificultar ou mesmo impedir a segmentação total do zigoto. SEGMENTAÇÃO HOLOBLÁSTICA OU TOTAL Ocorre nos ovos do tipo oligolécito (gr. oligos= pouco, pequeno) ou heterolécito onde a pequena quantidade de vitelo permite a segmentação completa do ovo. Pode ser: igual ou desigual. - TOTAL IGUAL É próprio dos oligolécitos, onde a distribuição uniforme de vitelo permite a divisão em blastômeros de mesmo tamanho. Serve como exemplo a segmentação do ovo do anfioxo e dos mamíferos. A segmentação consiste em repetidas divisões mitóticas do zigoto que se ini- ciam cerca de 30 horas após a fertilização, e resultam no rápido aumento do número de células, agora denominadas blastômeros, que se tornam menores a cada divisão (Figura 4.1.). Na espécie humana, a segmentação ocorre no interior e ao longo da tuba uterina e leva cerca de 5 a 6 dias, ou seja, corresponde à primeira semana do desen- volvimento embrionário. A contratilidade das fibras musculares lisas da tuba uterina é importante para a progressão do pré-embrião até o útero. O zigoto dá origem, inicialmente, a dois blastômeros que se dividem em qua- tro, oito, dezesseis e assim sucessivamente. Durante as clivagens, os blastômeros se en- Segmentação ou cliva- gem: primeira semana de desenvolvimento4 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 38 contram envolvidos pela zona pelúcida. Após a terceira divisão, os blastômeros inter- nos mudam sua forma e se agrupam firmemente uns com os outros para formar uma bola compacta de células. A compactação é um fenômeno provavelmente mediado por glicoproteínas de adesão de superfície celular. Permite uma maior interação célula a célula e é um pré-requisito para a segregação de células internas que darão origem ao embrioblasto ou massa celular interna. Formação da mórula: Cerca de 3 dias após a fertililzação, no estágio entre 12 a 32 blastômeros, a estrutura toda é caracterizada, fundamentalmente, pela forma esférica e por apresentar-se maciça, recebendo o nome de mórula (do latim morus = amora) devido à sua semelhança com a amora. A mórula só ocorre no tipo de segmentação holoblástica igual. As células internas da mórula (massa celular interna) são rodeadas por uma camada de células que formam a camada celular externa. Formação do blastocisto: Cerca de 4 dias após a fertilização, a mórula entra no útero e forma-se em seu interior um espaço, a cavidade blastocística ou blastocele, cheia de fluido derivado da cavidade uterina. A entrada de líquido que leva à formação da cavidade pode ser explicada pela atividade da enzima Na+/K+ ATPase. A atividade enzimática é responsável pelo movimento de íons sódio em direção à blastocele. Essa corrente de sódio induz, por ação osmótica, um fluxo de líquido que leva à distensão da cavidade do blastocisto. Essa cavidade aumenta progressivamente porque esse fluido viscoso absorve grande quantidade de água do meio por osmose. O volume de líquido exerce pressão sobre os blastômeros, deslocando-os para a periferia e dividindo-os em duas partes: (a) uma camada celular externa, delgada, denominada trofoblasto (do Gr. trophe, nutrição), que dará origem à parte embrionária da placenta; (b) um grupo de blastômeros, localizados no centro, denominados de massa celular interna ou embrioblasto, que dará origem ao embrião. Nesse estágio do desenvolvimento, o concepto é chamado blastocisto. O blastocisto flutua nas secreções uterinas por cerca de dois dias, quando a zona pelúcida degenera gradualmente e desaparece, possibilitando seu rápido crescimento e o início da implantação. Na espécie humana, as células do trofoblasto começam a penetrar entre as células epiteliais da mucosa uterina por volta do sexto dia. 39 Figura 4.1 - Esquema da primeira semana de desenvolvimento. A partir da extremidade distal da tuba, observar: (a) ovócito II ovulado, (b, c) fertilização, (d) zigoto, (e) estágio de 2 blastômeros, (f) 4 blastômeros, (g) mórula, (h) blastocisto. Segmentação ou clivagem: primeira semana de desenvolvimento Anotações HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 40 Anotações 41 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá entender: • O desenvolvimento inicial da placenta, a partir do trofoblasto; • Como se dá a formação das cavidades amniótica e vitelínica; • A organização inicial do pré-embrião, como disco bilaminar achatado; • Como se dá o início da circulação materno-fetal. A implantação do blastocisto começa no fim da primeira semana e termina no fim da segunda. Cerca de seis dias após a fertilização, a zona pelúcida começa a ser dissolvida a partir do polo embrionário e inicia o processo de implantação nas paredes do útero, que sofrem profundas modificações, particularmente no endométrio, que se encontra edemaciado, muito vascularizado, com glândulas tortuosas e volumosas secretando glicogênio e muco em abundância. Esse endométrio se denomina decídua (Figura 5.1). Figura 5.1 - Representação de um blastocisto no início da implantação no endométrio uterino. Observar as glândulas uterinas tortuosas, secretoras de glicogênio, com a luz ampla. Implantação ou nidação: segunda semana de desenvolvimento 5 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 42 Nesse momento, os hormônios produzidos pelos ovários modulam o estado de receptividade da mucosa uterina. Nos mamíferos, a nidação é fundamental para dar prosseguimento à gestação, uma vez que o embrião estabelecerá contato com sua fonte nutridora, ou seja, o organismo materno. As interações teciduais entre a mucosa uterina e o blastocisto ocorrem devido à secreção de fatores que se ligam aos receptores de membrana específicos. É necessário que um dos dois tecidos expresse o receptor. Várias famílias de moléculas estão potencialmente implicadas nessas interações: interleucinas (IL1), fator inibitório de leucemias (LIF), fator estimulador de colônias (CSF1) e fator de crescimento epidérmico (epidermal growth factor - EGF). Decorrente dessa troca de informação molecular, o blastocisto se encosta e adere à mucosa uterina. Em condições normais, o blastocisto humano se implanta no endométrio, nas paredes posterior e superior do corpo do útero, onde se fixa entre os orifícios das glândulas. Em ratos, camundongos e hamsters, a implantação dos blastocistos ocorre ao longo dos cornos uterinos, entre o quarto e o sétimo dias do desenvolvimento. Em humanos, ao término da primeira semana, oitavo dia do desenvolvimento, o blastocisto se encontra parcialmente incluído no estroma endometrial, completando a implantação no final da segunda semana. Desenvolvimento do citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto: cerca de 6 dias após a fertilização, o blastocisto se fixa ao epitélio do endométrio, geralmente do lado adjacente à massa celular interna (embrioblasto). A princípio, há uma adesão das células do pré-embrião às células do epitélio endometrial. Esse contato desencadeia uma reação que leva a camada trofoblástica do blastocisto a proliferar rapidamente e a diferenciar-se gradualmente em duas camadas: em uma camada interna, denominada citotrofoblasto; e uma camada externa, o sinciciotrofoblasto, que consiste em uma massa protoplasmática multinucleada, na qual não se observam limites celulares. As células do citotrofoblasto se dividem e migram para o sinciciotrofoblasto, onde se fundem e perdem a membrana plasmática (Figura 5.2). O sinciciotrofoblasto produz enzimas que erodem os tecidos maternos, permitindo ao blastocisto penetrar no endométrio. No fim da primeira semana, o blastocisto está implantado superficialmente na camada compacta do endométrio e nutre-se dos tecidos maternos erodidos. As células do estroma uterino, situadas em torno do local da implantação, tornam-se carregadas de glicogênio e lipídeos e ganham um aspecto poliédrico. Algumas dessas novas células – células da decídua – degeneram e são englobadas pelo sinciciotrofoblasto, criando uma rica fonte de nutrição para o embrião. As células do trofoblasto, logo após a nidação, começam a sintetizar o hormônio coriônico gonadotrófico (hCG), que garante a continuidade da gestação, devido à manutenção do corpo lúteo gravídico para a continuação de sua atividade de 43 secreção de esteroides. As células do embrioblasto também se diferenciam em duas camadas: (a) uma camada de pequenas células cuboides, o hipoblasto, que formam o teto da cavidade blastocística; (b) uma camada de células colunares altas adjacentes à cavidade amniótica, o epiblasto. Juntos, epiblasto e hipoblasto contituem o disco germinativo bidérmico (Figura 5.2). Figura 5.2 - Representa o blastocisto com cerca de (a) 5 dias e (b) 7,5 dias de desenvolvimento. Formação da cavidade amniótica: entre o citotrofoblasto e o epiblasto aparecem pequenos espaços que confluem, formando uma cavidade única, a cavidade amniótica. Esta é, inicialmente, delimitada em seu assoalho pelas células do epiblasto e em seu teto por uma camada de células derivadas do citotrofoblasto, os amnioblastos, que se dispõemcomo um epitélio plano (Figura 5.2). Formação do saco vitelínico: células do hipoblasto formam uma fina membrana, a membrana de Heuser, que reveste toda a cavidade blastocística ou blastocele, que agora é denominada saco vitelino primário. Ao redor do nono dia de desenvolvimento, o blastocisto se apresenta quase completamente implantado no endométrio e revestido por cito e sinciciotrofoblasto. O local de implantação é fechado por um coágulo de fibrina. Figura 5.3 - A figura (a) representa o blastocisto aos 9 dias de desenvolvimento; em (b), a sequência do final da primeira e início da segunda semana de desenvolvimento: (a) mórula, (b) blastocisto livre no útero e (c e d) blastocisto em implantação no endométrio uterino. Implantação ou nidação: segunda semana de desenvolvimento HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 44 Estabelecimento da futura circulação útero-placentária: Mediante a expansão do trofoblasto, surgem lacunas no sinciciotrofoblasto que alojam o sangue materno extravasado de capilares também erodidos pelo sincício. Esse contato do sangue materno com o sincicitrofoblasto representa o início da futura circulação útero-placentária. Desenvolvimento do mesoderma e do celoma extraembrionário: Com o crescimento acentuado do citotrofoblasto, uma nova camada de células se diferencia na sua superfície interna – o mesoderma extraembrionário, constituído por células separadas por uma matriz mesenquimatosa. O mesoderma extraembrionário sofre uma delaminação quase integral que origina um amplo espaço denominado celoma extraembrionário. O único ponto onde a delaminação não se completa origina o pedúnculo do embrião, que dará origem ao cordão umbilical que comunica o blastocisto com a futura placenta. A camada de mesoderma extraembrionário, que fica junto ao citotrofoblasto e ao âmino, recebe o nome de mesoderma somático ou somatopleura (relativo ao corpo do embrião). A outra parte que acompanha o saco vitelino é denominada mesoderma esplâncnico ou esplancnopleura (relativo às vísceras embrionárias). O celoma extraembrionário se expande, formando uma grande cavidade – a cavidade coriônica, ou saco gestacional – espaço destinado ao crescimento do embrião e seus anexos. Formação do saco vitelínico secundário: por volta do 12º dia de desenvolvi- mento, forma-se o saco vitelínico secundáario, que difere do anterior por ser menor e por se apresentar completamente revestido por céllulas endodérmicas. Desenvolvimento das vilosidades: o trofoblasto do polo embrionário, por aumento em número e volume das lacunas, assume aspecto trabecular. As trabéculas têm inicialmente distribuição irregular, mas logo se organizam formando vilosidades. Tais vilosidades, constituídas por um eixo de citotrofoblasto revestido por sinciciotrofoblasto, são denominadas vilosidades primárias. Posteriormente, as vilosidades são invadidas pelo mesoderma extraembrionário, formando as vilosidades secundárias do espaço viloso da futura placenta. As células mesodérmicas da região central das vilosidades diferenciam-se em células sanguíneas e pequenos vasos sanguíneos comunicantes com o pedúnculo do embrião e passam a ser chamadas vilosidades terciárias ou coriônicas (Figura 5.3). 45 Figura 5.4 - Desenho ilustrando uma vilosidade primária, secundária e terciária do trofoblasto. (Fonte: Langman, 2004). Implantação ou nidação: segunda semana de desenvolvimento Anotações HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 46 Anotações 47 DESENVOLVIMENTO E DIFERENCIAÇÃO DO MESODERMA INTRAEM- BRIONÁRIO DESENVOLVIMENTO DA NOTOCORDA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá entender: • A organização do disco germinativo no início da terceira semana; • A importância da linha primitiva na formação do mesoderma intraem- brionário; • A diferenciação do mesoderma intraembrionário, dando origem a vá- rios tecidos do corpo; • O desenvolvimento e a importância da notocorda. Na terceira semana ocorre a gastrulação, que é o processo pelo qual as três camadas germinativas (ectoderma, mesoderma e endoderma), que são precursoras de todos os tecidos embrionários, são formadas. Nesse período, a orientação axial do embrião é estabelecida. A gastrulação representa o início da morfogênese (desenvolvimento da forma do corpo). No início da terceira semana, o disco germinativo bidérmico tem uma forma discoidal, sendo mais largo na região cefálica do que na caudal. Nas regiões cefálica e caudal, é possível identificar duas áreas circulares onde ectoderma e endoderma se encontram firmemente aderidos. Essas áreas são as membranas bucofaríngea e cloacal, respectivamente (Figura 6.1) que aparecem na terceira semana como duas depressões no ectoderma. Uma na porção cranial, e a outra na porção caudal. Nessas áreas o epiblasto e o hipoblasto se fundem, excluindo o mesoderma e formando uma membrana bilaminar. A membrana bucofaríngea se rompe na quarta semana para formar a abertura da cavidade oral. A membrana cloacal se desintegra na sétima semana e dará origem às aberturas do ânus, trato genital e urinário. Terceira semana de desenvolvimento 6 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 48 Figura 6.1 - Esquema representativo de uma vista dorsal do disco germinativo bidérmico. Observar a localização das membranas bucofaríngea e cloacal e o desenvolvimento da linha primitiva. Formação da linha primitiva A formação da linha primitiva, a partir do epiblasto, caracteriza o início da gastrulação. A linha corresponde a um acúmulo de células que migram a partir do epiblasto em direção à linha média caudal do disco germinativo. A partir da linha, as células migram para a região entre o epiblasto e o hipoblasto para formar o terceiro folheto germinativo, o mesoderma intraembrionário, de maneira que no 15º dia após a fertilização a linha é vista como um sulco (sulco primitivo) longitudinal na região média caudal do epiblasto. No 16º dia, o sulco se torna profundo e se alonga, ocupando cerca de metade do comprimento do embrião. Na extremidade cranial do sulco, há uma área discretamente elevada, o nó primitivo, circundando uma depressão, a fosseta primitiva (Figura 6.2). A linha primitiva estabelece o eixo longitudinal do disco germinativo e, dessa forma, a simetria bilateral do futuro adulto: os tecidos à direita da linha originarão o lado direito do corpo, e aqueles da esquerda dão origem, em geral, ao lado esquerdo do corpo. Nó Sulco primitivo Fosseta primitiva Processo notocordal Figura 6.2 - Vista dorsal do disco germinativo bidérmico por volta do 15º dia de desenvolvimento indicando o sulco primitivo e o desenvolvimento do processo notocordal a partir do nó primitivo. 49 No 16º dia, as células do epiblasto próximas à linha primitiva começam a proliferar, achatar e perder suas conexões umas com as outras. Desenvolvem pseudópodes, os quais permitem que elas migrem da linha primitiva para o interior do espaço entre o epiblasto e o hipoblasto, dando origem a uma terceira camada ou folheto, denominada mesoderma intraembrionário (Figura 6.3). As células que originam o mesoderma se espalham para formar uma malha frouxa que permanece distinta do epiblasto e do hipoblasto. Algumas destas células migram lateralmente ou cranialmente, enquanto outras são depositadas sobre a linha média, próximo ao seu sítio de entrada. Esse processo de invaginação é denominado gastrulação. Figura 6.3 - (A) Vista dorsal do embrião de 16 dias, indicando o movimento das células epiblásticas (linhas pontilhadas) a partir da linha primitiva e do nó primitivo; (B) corte transversal do disco germinativo ilustrando o sentido de migração das células a partir da linha primitiva, para a formação do mesodermaintraembrionário. Algumas células do epiblasto invadem o hipoblasto e as deslocam, de forma que o hipoblasto eventualmente é substituído por uma nova camada de células, e o endoderma definitivo. Também ocorre a migração de células a partir da fosseta primitiva. Estas células migram através do epiblasto e hipoblasto para formar o processo notocordal, um tubo denso, na linha média. DESENVOLVIMENTO DA NOTOCORDA No dia 20 do desenvolvimento, o processo notocordal está completamente formado. A partir daí, algumas transformações estruturais ocorrem e o convertem em um tubo sólido: Terceira semana de desenvolvimento HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 50 1º) o assoalho ventral do tubo se funde com o endoderma subjacente; 2º) o tubo se fecha ventralmente, começando na região da fosseta primitiva; 3º) o colabamento do assoalho do tubo converte o processo notocordal em uma barra achatada de mesoderma, denominada placa notocordal (Figura 6.4). Esse evento faz que o saco vitelínico se comunique temporariamente com a cavidade amniótica por uma abertura denominada canal neuroentérico. 4º) a placa notocordal se separa do endoderma e se recolhe em um espaço do mesoderma entre o ectoderma e o endoderma, convertendo-se em um cilindro sólido denominado notocorda. Nos embriões, nos fetos e na criança, a notocorda forma o núcleo pulposo. Na criança jovem, as células de origem notocordal, do núcleo pulposo, degeneram e são substituídas por células mesodérmicas. Funções da notocorda: 1) induzir o espessamento do ectoderma sobrejacente a ela para formar a placa neural, primórdio do SNC; 2) definir o eixo primitivo do embrião, dando-lhe uma certa rigidez; 3) fornecer os sinais necessários para o desenvolvimento do esqueleto axial (ossos da cabeça e da coluna vertebral); 4) contribuir na formação dos discos inervertebrais. Quando o mesoderma intraembrionário e o endoderma definitivo estão formados, o epiblasto passa a se chamar ectoderma. Assim, as três camadas germinativas são derivadas do epiblasto. Destino da linha primitiva: dia 16: linha primitiva ocupa cerca da metade do comprimento do embrião; dia 22: a linha representa de 10 a 20% do comprimento do disco; dia 26: a linha desaparece. 51 Figura 6.4 - (A) Corte longitudinal do disco germinativo, ilustrando a formação do processo notocordal. A seta indica o local de formação do canal neuroentérico. (B) Corte transversal do disco germinativo tridérmico, mostrando a sequência de formação da notocorda definitiva. Organização do mesoderma As células que migraram para formar o mesoderma se condensam em estruturas com forma de bastão e folha de cada lado da notocorda. Este processo se inicia na porção cranial do embrião e prossegue posteriormente, durante a 3ª e 4ª semanas. O mesoderma se organiza em: mesoderma paraxial (forma de bastão, imediatamente lateral à notocorda); mesoderma intermediário (forma de folha, ao lado do paraxial); mesoderma lateral (restante do mesoderma, em folha) (Figura 6.5). O mesoderma paraxial se organiza em uma série de estruturas arredondadas denominadas somitômeros, cuja formação segue a 3ª e a 4ª semanas, começando Terceira semana de desenvolvimento HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 52 com alguns pares na região cranial e prosseguindo craniocaudalmente diretamente nas regiões cervical, torácica, lombar, sacral e coccígeana. A maioria dos somitômeros se desenvolve para formar blocos de mesoderma denominados somitos, contudo os 7 primeiros pares de somitômeros não formam somitos. Assim, o 8º, o 9º e o 10º pares de somitômeros se diferenciam no 1º, 2º e 3º pares de somitos no dia 20 do desenvolvimento. Os somitos se formam em uma progressão craniocaudal em uma velocidade de cerca de 3 ou 4 dias, terminando aproximadamente no dia 30. Figura 6.5 - Corte transversal do disco germinativo tridérmico com cerca de 20 dias. O mesoderma intraembrionário se encontra organizado em três partes: paraxial (paralelo à notocorda), intermediário e lateral. Em humanos, formam-se aproximadamente 42 a 44 pares de somitos, flanqueando a notocorda a partir da região occipital para a cauda do embrião. Alguns somitos caudais desaparecem, finalizando uma contagem de 37 somitos (Tabela 1). Membrana cloacal e membrana bucofaríngea Durante a terceira semana, aparecem como duas depressões no ectoderma. Uma na porção cranial, adjacente à placa precordal, e a outra na porção caudal, atrás da linha primitiva. No final da terceira semana, o ectoderma dessas áreas se funde com o endoderma subjacente, excluindo o mesoderma e formando uma membrana bilaminar. A membrana bucofaríngea se rompe na quarta semana para formar a abertura da cavidade oral. A membrana cloacal se desintegra na sétima semana e dará origem às aberturas do ânus, trato genital e urinário. 53 Tabela 6.1. Derivados dos somitos Somitos Derivados 1º ao 4º par de somitos Parte do occipital, ossos ao redor do nariz, olhos e ouvido interno, músculos oculares extrínsecos e músculos da língua. Próximos 8 pares Parte do occipital, vértebras cervicais e músculos associados, parte da derme do pescoço. Próximos 12 pares Vértebras torácicas, músculos e ossos da parede torácica, parte da derme torácica, parte da parede abdominal e músculos dos membros superiores. Somitos coccigeanos Formam o cóccix. Terceira semana de desenvolvimento Anotações HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 54 Anotações 55 OBJETIVO DE APRENDIZAGEM • Você deverá entender o processo de neurulação, a formação e o destino das células das cristas neurais. A neurulação é um evento fundamental da embriogênese que culmina com a formação do tubo neural, o precursor do cérebro e da medula espinhal. Em humanos, esse processo se inicia na terceira semana e termina na quarta semana. Nesse período, o embrião é, algumas vezes, denominado nêurula A neurulação começa com a formação da placa neural, que resulta de um espessamento do ectoderma, que passa de cúbico a colunar, induzido pela notocorda. O ectoderma da placa neural (neuroectoderma) dá origem ao SNC – encéfalo e medula espinhal. Figura 7.1 - Disco tridérmico em corte transversal. Observar o espessamento do ectoderma formando a placa neural, primórdio do sistema nervoso central. Inicialmente, a placa neural corresponde, em comprimento, à notocorda subjacente. Enquanto a notocorda se alonga, a placa neural se alarga e se estende cefalicamente até a membrana bucofaríngea. Finalmente, a placa neural ultrapassa a notocorda. Por volta do 18º dia, as bordas laterais da placa neural se tornam mais elevadas e formam as pregas neurais. A placa se invagina ao longo do seu eixo central, formando um sulco neural mediano, com pregas neurais em ambos os lados. As pregas se tornam particularmente proeminentes na extremidade cefálica do embrião Neurulação7 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 56 e constituem os primeiros sinais do desenvolvimento do encéfalo. As pregas neurais se aproximam gradativamente uma da outra na linha média, onde se fundem. A fusão tem início na região cervical (quarto somito) e prossegue em sentido cefálico (cranial) e caudal. No fim da terceira semana, as pregas já começaram a se fundir, convertendo a placa neural em tubo neural, o primórdio do SNC. O tubo logo se separa do ectoderma da superfície, assim que as pregas se encontram. Figura 7.2 - Esquema representando o processo de neurulação e a formação das cristas neurais. Até que a fusão se complete, as extremidades cefálica e caudal do tubo neural se comunicam com a cavidade amniótica por meio dos neuróporos anterior (cranial ou cefálico) e posterior (caudal), respectivamente. O neuróporo cranial se fecha por volta do 25º dia de desenvolvimento. Então,a neurulação está completa, e o sistema 57 nervoso central é representado por um estrutura tubular fechada com a parte caudal estreita (medula espinhal) e a parte cefálica bem mais larga, as vesículas encefálicas ou cerebrais. Enquanto as pregas neurais se elevam e se fundem, as células da borda lateral ou crista do neuroectoderma começam a dissociar-se de suas células vizinhas. Essa população é denominada crista neural. As células da crista neural sofrem uma transição: de epiteliais, tornam-se mesenquimais, afastam-se e tornam-se uma camada contínua sobre o tubo neural e o dorso do embrião, à medida que as pregas neurais se encontram e as bordas livres do ectoderma se fundem. As células da crista neural dão origem a vários tipos celulares importantes (Tabela 7.1). A neurulação é completada durante a quarta semana. Tabela 7.1. Derivados da crista neural Tecido conjuntivo e ossos da face e do crânio Gânglios dos nervos cranianos Células C (parafoliculares) da tireoide Septo conotruncal do coração Odontoblastos Derme da face e do pescoço Gânglios espinhais (da raiz dorsal) Gânglios da cadeia simpática e pré-aórticos Gânglios do sistema nervoso entérico Medula da suprarrenal Células de Schwann Células gliais Aracnoide e pia-máter Melanócitos Fonte: Moore, 2008. Neurulação HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 58 Anotações 59 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá entender: • Os fatores que levam ao dobramento embrionário; • As consequências do dobramento embrionário. O desenvolvimento intrauterino é frequentemente dividido em três períodos: o pré-embrionário, que se estende até a terceira semana; o embrionário, da quarta à oitava semana; e o fetal, do terceiro mês até o final da gestação (38 semanas). No período embrionário, todas as principais estruturas externas e internas do embrião são estabelecidas. Nesse período desenvolvem-se os somitos. Essas estruturas fazem saliência na superfície dorsal do embrião, constituindo a característica mais marcante do embrião durante o início do período embrionário. No curso desse estágio somítico (do vigésimo ao trigésimo dia), comumente a idade do embrião é determinada pelo número de pares de somitos que ele apresenta. À medida que os tecidos e o órgão se desenvolvem, a forma do embrião se modifica, de modo que, na oitava semana, ele apresenta um aspecto distintamente humano. O dobramento embrionário é um evento importante no estabelecimento da forma do corpo. O embrião deixará de apresentar uma estrutura trilaminar plana para ser cilíndrico. O dobramento ocorre no plano mediano e longitudinal simultaneamente e resulta principalmente do rápido crescimento do embrião, especialmente do tubo neural e do mesoderma paraxial. A velocidade de crescimento lateral não acompanha a velocidade de crescimento longitudinal, resultando então no dobramento do embrião. O dobramento produz pregas no âmnio: as pregas cefálica e caudal provocam o encurvamento no eixo céfalo-caudal, provocando o encurvamento do embrião em “C”; e as pregas laterais, que resultam no deslocamento ventral das bordas laterais, fazem que o embrião assuma o formato cilíndrico. Dobramento embrionário: estabelecimento da forma externa do embrião 8 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 60 As principais consequências do dobramento incluem: • a área cardiogênica, que era cefálica em relação à membrana bucofaríngea, passa a se localizar ventralmente e em uma posição caudal em relação à membrana bucofaríngea; • a alantoide e o pedúnculo do embrião, que eram caudais em relação à membrana cloacal, são deslocados ventralmente e ocupam uma posição cefálica em relação à membrana cloacal; • a alantoide + o pedúnculo do saco vitelínico + o pedúnculo do embrião formam o cordão umbilical; • o saco vitelínico é parcialmente incorporado ao embrião, dando origem ao intestino primitivo; • o celoma intraembrionário e o celoma extraembrionário, que antes eram contínuos, agora se separam. O celoma intraembrionário dá origem às cavidades do corpo: pericárdica, pleurais e peritoneal; • o mesoderma intraembrionário, que era contínuo com o mesoderma extraembrionário que envolve o saco vitelínico e o saco amniótico, separa do extraembrionário. O mesoderma intraembrionário lateral será deslocado ventralmente. A somatopleura dará origem à parede ventrolateral do corpo, e a esplancnopleura junto com o endoderma do saco vitelínico dão origem à parede do tubo digestivo; • a cavidade amniótica se expande, passando a envolver todo o embrião. 61 Figura 8.1 - Esquema representando o encurvamento lateral do embrião. Dobramento embrionário: estabelecimento da forma externa do embrião HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 62 Figura 8.2 - Esquema representando o encurvamento no eixo céfalo-caudal do embrião. Em A e B, detalhes das regiões anterior e posterior. 63 Anotações Dobramento embrionário: estabelecimento da forma externa do embrião HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 64 Anotações 65 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Você deverá ser capaz de: • Identificar a origem de cada anexo embrionário; • Conhecer o destino de cada anexo; • Reconhecer as funções de cada anexo. 1 PLACENTA Conceito: a placenta é um órgão materno-fetal responsável pelas trocas de substâncias e gases entre a mãe e o feto. Componentes: a) porção fetal: que se origina do saco coriônico; b) porção materna: derivada da região do endométrio denominada decídua basal. Decídua basal A decídua (L. deciduus, desprender-se) se refere à camada funcional do endométrio de uma mulher grávida (endométrio gravídico). Recebe esse nome porque essa parte do endométrio de desprende do útero após o parto. No útero gravídico, podem ser reconhecidas três regiões da decídua, que são denominadas de acordo com sua relação com o local de implantação (Figura 9.1). a) decídua basal: é a parte da decídua que dará origem à parte fetal da placenta. Se localiza do lado oposto ao feto; b) decídua capsular: é a parte da decídua que cobre o concepto. À medida que ocorre o crescimento do concepto, a decídua capsular faz saliência na cavidade uterina e fica muito delgada. Quando encontra a decídua parietal, acaba por obliterar a cavidade uterina. Com 22-24 semanas, o reduzido suprimento sanguíneo da decídua capsular causa sua degeneração e seu Anexos embrionários9 Luzmarina Hernandes HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA HUMANA E COMPARADA 66 desaparecimento. Com o desaparecimento da decídua capsular, a parte lisa do saco coriônico (corion liso) se encosta na decídua parietal; c) decídua parietal: é a parte restante da decídua. As células do estroma do endométrio uterino, em resposta aos níveis crescentes de progesterona no sangue materno, aumentam de tamanho. São então denominadas células deciduais e, nos cortes histológicos, aparecem pouco coradas. Seu aumento de tamanho se deve ao acúmulo de glicogênio e lipídeo em seu interior. Essa modificação das células deciduais, associada às mudanças na vascularização do endométrio em função da implantação do blastocisto, constituem a reação da decídua ou reação decidual. No início da gestação, quando ainda não é possível haver trocas de substâncias entre o sangue materno e os tecidos da placenta em desenvolvimento, muitas células deciduais degeneram e, juntamente com o sangue materno e secreções uterinas, proporcionam uma fonte de nutrição para o embrião. Desenvolvimento da placenta Figura 9.1 - Estágios de desenvolvimento da placenta. Observar a relação do trofoblasto com as decíduas parietal, capsular e basal. Na segunda semana de desenvolvimento, ocorre uma rápida proliferação do trofoblasto e o desenvolvimento do saco coriônico e das vilosidades coriônicas.
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