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1 GESTÃO DO ORÇAMENTO CONVERSA INICIAL No Brasil, de acordo com os dados fornecidos pelo “impostômetro”, em 2019 foram arrecadados mais de R$ 2 trilhões. O próprio site sugere que, com esse valor, seria possível comprar 2,6 milhões de apartamentos de três quartos no centro de Osasco, São Paulo; ter um rendimento de R$ 276 mil por minuto em poupança; ou até mesmo comprar 5,7 milhões de BMW M2 2.0. Obviamente, essa destinação tem um caráter meramente exemplificativo, já que não teria a potencialidade de atingir o bem comum. Mas como então o governo poderia destinar essa vultuosa arrecadação tributária às diversas frentes, como educação, segurança pública e saúde, que representam os anseios da população? Para tentar responder essa a questão, durante esta aula vamos trabalhar com uma abordagem teórica de orçamento público, que ao longo das últimas décadas vem sendo aprimorada, o que viabilizou a maximização do uso do recurso público, atendendo aos anseios populacionais. Também falaremos do orçamento como é vigente no Brasil, dando ênfase às regras norteadoras do direito financeiro, com um apanhado geral das leis orçamentárias, no quesito de classificação jurídica e das fases de elaboração, aprovação e controle. TEMA 1 – ESPÉCIES DE ORÇAMENTO Ao longo das últimas décadas, vários estudos e discussões sobre metodologias orçamentárias vêm sendo desenvolvidos na área governamental (Pyhrr, 1977; Silva, 1996). O objetivo é encontrar propostas que auxiliem gestores em certos aspectos do gerenciamento do recurso público, como previsão de receitas e fixação de despesas; controle de gastos, evitando que o dinheiro público seja empregado de maneira descontrolada; e eficiência na empregabilidade dos recursos financeiros. A seguir, debateremos sobre as principais abordagens orçamentárias, discutidas no âmbito da administração pública 1.1 ORÇAMENTO CLÁSSICO O orçamento surgiu na nossa cultura como uma forma de controlar os gastos realizados pelo poder executivo. É o que explica Giacomoni (2017), autor que traz evidências históricas sobre a utilização de mecanismos orçamentários. Na norma francesa sobre contabilidade, por exemplo, o orçamento era classificado simplesmente como uma lei para fixar despesas e estimar receitas. Silva (1996) aponta que o orçamento foi introduzido como alternativa parlamentar para reduzir os poderes do rei, que até então 2 tinha liberdade para gastar de maneira desenfreada. O objetivo, portanto, era controlar os gastos, evitando expansões desproporcionais nos níveis de arrecadação. Dessa forma, podemos considerar que o orçamento clássico foi um ponto de partida para a introdução da cultura orçamentária na gestão pública, principalmente no quesito de controle de gastos. Posteriormente, novas metodologias foram implantadas, buscando uma aplicabilidade mais efetiva desse instrumento, principalmente para a tomada de decisão. 1.2 ORÇAMENTO DE DESEMPENHO Enquanto o orçamento clássico trabalha com controle do gasto público, o orçamento de desempenho preocupa-se com o resultado da aplicação desse recurso. Em outras palavras, Crepaldi (2013) enfatiza que esse tipo de orçamento prioriza a eficácia e a eficiência da despesa, em uma visão direcionada para a gestão de resultados. Em uma retomada histórica, esse tipo de abordagem orçamentária nasceu nos Estados Unidos da América (EUA), na década de 1960, com o desenvolvimento do modelo Planning Programming and Budgeting Systems (PPBS). Segundo Osborne e Hutchinson (2004), o foco no resultado desse programa, bem como de outros que seguiram moldes parecidos, foi uma resposta aos anseios da população, que exigiram maximização dos resultados da aplicação de recursos em bens e serviços públicos. De forma exemplificativa, a despeito da aplicabilidade do orçamento de desempenho, temos o estudo de Diaz (2012), que buscou verificar a qualidade do gasto público municipal em educação. Após aplicar metodologias quantitativas, a autora percebeu que estatisticamente não havia evidências de que um aumento dos gastos públicos em educação estaria relacionado a melhoras na qualidade do ensino. A autora salienta, contudo, que isso não seria uma prova de que, para melhorar a educação no Brasil, não é preciso incremento de recursos para essa finalidade. Sublinha no estudo a necessidade de acompanhar os resultados, identificando onde poderiam ser aportadas novas despesas. Assim, verifica-se que o orçamento de desempenho traz benefícios na gestão de recursos públicos, inclusive influenciando a legislação brasileira. Conforme Crepaldi (2013), de alguma forma o orçamento de desempenho inspirou o legislador brasileiro na elaboração da Lei n. 4.320/64, considerada marco regulatório do orçamento brasileiro. 1.3 ORÇAMENTO DE BASE ZERO O orçamento base zero foi abordado incialmente por Peter A. Pyhrr, em estudos derivados de experimentações realizadas na empresa Texas Instruments, em 1969 (Pyhrr, 1977). Posteriormente, essa prática foi aplicada no governo da Geórgia, nos Estados Unidos, quando foram empregadas as principais ideias do orçamento base zero. Pyhrr (1977) sugere que os governos deveriam avaliar cada atividade que consome recursos públicos, julgando-as pelos critérios de eficiência e eficácia, bem como avaliando 3 maneiras de redução ou eliminação de gastos, para que seja possível dispender recursos em outros programas, considerados de maior relevância. Assim, o orçamento seria empregado como um mecanismo de gestão da utilização do recurso público, agregando novos propósitos em comparação à forma tradicional. Embora teoricamente a implantação do orçamento base zero evidencie uma série de benefícios, principalmente relacionados a aspectos de gestão dos recursos públicos, na prática o método se mostra de difícil aplicabilidade. Conforme destaca Giacomoni (2017), em situações reais, a revisão frequente do orçamento, desconsiderando-se uma base histórica, é quase impossível. Sobre o orçamento base zero, há desvantagem nos custos para implantação, pois, diferentemente dos orçamentos tradicionais, que partem de dados históricos, o orçamento base zero acaba sendo reconstruído integralmente, gerando morosidade no processo (Zero-based..., 2019). 1.4 ORÇAMENTO PROGRAMA Robinson (2007) esclarece que o orçamento programa tem como base a classificação das despesas em função dos objetivos traçados pela administração pública. A ideia seria agregar programas do governo com pretensões similares, como segurança pública e educação, trazendo maior eficiência na utilização dos recursos. O autor ainda lembra que, com base na implantação dessa metodologia nos Estados Unidos na década de 1960, a distribuição de recursos para determinados programas demonstrou maior eficiência alocativa, em comparação a orçamentos anteriores. Uma das vantagens apresentadas foi a identificação de programas que notadamente não eram eficientes, mesmo com substanciais aportes financeiros. No Brasil, a Lei n. 4.320, de 1964, instaurou a Lei Orçamentária Anual (tema que será discutido em outra aula), que um típico orçamento programa. No art. 7º do Decreto Lei n. 200, de 1967, há menção literal da obrigatoriedade da adoção desse tipo orçamentário: “compreenderá a elaboração e atualização dos seguintes instrumentos básicos: orçamento-programa anual” (Brasil, 1967). Após a constituição de 1988, outras normas também mencionaram o orçamento programa, como a Portaria n. 117 de 1998, e a n. 51 de 1998. Os referidos instrumentos consolidaram a opção brasileira por essa forma de programar os gastos públicos. Não obstante a decisão de Brasil e EUA, bem como de outras economias mundiais, por essa metodologia orçamentária, há de se lembrar de algumas limitações e críticas.Giacomoni (2017) destaca a dificuldade que o orçamento programa encontrou na medição do resultado de algumas ações governamentais. Notadamente, essa abordagem orçamentária tem um viés quantitativo de avaliação de desempenho, o que acaba resultando na penalização de programas importantes para o país, que apresentam resultados intangíveis, como é o caso de algumas pesquisas científicas e de bolsas estudantis. Em outras palavras, poderia fazer com que o governo deixasse de alocar recursos em alguns projetos públicos relevantes para a sociedade, mas que não 4 produzissem resultados tangíveis ou alcançáveis pela métricas de avaliação de desempenho. 1.5 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO No orçamento participativo, como o próprio nome sugere, existe a pretensão de inserir a população em decisões sobre alocação do recurso público. Nesse caso, esse tipo de participação não seria somente de forma indireta, por meio de representantes eleitos de forma democrática, mas por meio de consulta direta ao cidadão. Essa possibilidade de participação direta está prevista no ordenamento legal brasileiro. No inciso XII do art. 29 da Constituição Federal de 1988, que trata sobre os municípios, estabelece como preceito a “cooperação das associações representativas no planejamento municipal” (Brasil, 1988). Alguns munícipios brasileiros, com base nessa regra constitucional, já possuem previsão legal para participação popular na elaboração da lei orçamentária. É o caso do município do Rio de Janeiro, que no art. 255 da Lei Orgânica estabeleceu o orçamento participativo, inserido a população na elaboração do projeto de lei que versa sobre a previsão de receitas e a fixação de despesas. Vale ressaltar que essa participação popular tem caráter meramente consultivo. O poder executivo, que é o responsável por elaborar a proposta orçamentária, estaria obrigado a ouvir a população, mas teria a discricionariedade de aceitar ou não as opiniões. TEMA 2 – FUNÇÕES ORÇAMENTÁRIAS A elaboração do orçamento público, conforme vimos anteriormente, foi inicialmente implantada na sociedade como forma de controle dos gastos públicos. Essa pretensão, embora ainda presente nas funções clássicas orçamentárias, foi deixada em segundo plano, dando espaço para atribuições intervencionistas do governo, realizadas por meio do orçamento. Os estudos de Musgrave (1974) tiveram uma repercussão expressiva nessa discussão. Segundo o autor, o orçamento público teria três importantes funções: alocativa, distributiva e estabilizadora. 2.1 FUNÇÃO ALOCATIVA A função alocativa, para Musgrave (1974), representa a necessidade de intervenção do poder público, em situações em que o mercado não realiza aporte financeiro suficiente. Seria o caso, por exemplo, observado em investimentos em infraestrutura e nas demandas sociais. 5 No caso dos aportes governamentais em infraestrutura, observa-se que, por vezes, o setor privado, em função de vultuosos investimentos, bem como de externalidades negativas prováveis, acaba deixando de realizar determinados investimentos. É o que ocorre, citando caso análogo, com a construção de novos portos e ferrovias: por vezes, observa-se a necessidade intervencionista estatal para mobilizar investimentos, de forma indireta, por meio de benefícios, ou até mesmo diretamente. Nesses casos, o setor público atua em frentes essenciais para o desenvolvimento econômico nacional, que não seriam ativas sem a participação do Estado. Essa função também é percebida há atuação do governo nas necessidades sociais. Musgrave (1974) cita como exemplo desse tipo de demanda os investimentos no controle de enchentes, ou as campanhas sanitárias para melhorar a saúde pública. Nessas situações, os montantes despendidos pelo poder público acabam por beneficiar uma parcela da população residente em determinada região. O autor esclarece que as contrapartidas financeiras dadas pelo cidadão beneficiado, em caráter tributário, usualmente não são suficientes para cobrir os benefícios recebidos por meio da ação pública. Em outras palavras, o governo teria despesas maiores que receitas nesse tipo de atuação, que também é classificada como função alocativa. 2.2 FUNÇÃO DISTRIBUTIVA A distribuição de renda é empregada nas políticas nacionais para corrigir falhas de mercado (Giacomoni, 2017). Seria basicamente uma prerrogativa para a busca de equidade na distribuição da riqueza gerada em uma economia. Uma forma citada por Musgrave (1974) para viabilizar essa repartição seria a combinação de orçamento público com arrecadação de recursos pelo mecanismo fiscal. No caso da legislação brasileira, há o exemplo clássico do Imposto de Renda progressivo. Esse tributo tem como característica alíquotas diferenciadas em função do nível de renda. Dessa forma, pessoas com os maiores salários realizariam contribuições maiores para esse imposto. Para que esse recurso arrecadado cumpra com essa finalidade distributiva, o orçamento público poderia prever a destinação dessas receitas para programas de alimentação de pessoas de baixa renda, melhorias em sistemas de educação pública, dentre outras finalidades que possibilitam uma redução nas diferenças econômicas. 2.3 FUNÇÃO ESTABILIZADORA A última função do orçamento público está relacionada com políticas públicas de estabilização econômica. Giacomoni (2017) cita que o ajustamento se daria principalmente pela intervenção estatal no nível de emprego, com variabilidade nos preços praticados. Musgrave (1974) lembra que as receitas arrecadadas, bem como os gastos previstos no orçamento, têm a potencialidade de interferir tanto no nível de emprego como nos 6 preços praticados em uma economia. Por exemplo, imagine que o governo promove a construção de uma usina hidrelétrica. Certamente, esse gasto influenciaria o nível de emprego na região, elevando a renda agregada da economia. Em relação à influência nos preços, caso observe um aumento na taxa de inflação, o governo poderia adotar uma política fiscal, reduzindo o consumo para controlar a alta dos preços. Nos dois exemplos citados, temos situações em que o poder público poderia utilizar a programação das despesas previstas no orçamento para influenciar a economia nacional. TEMA 3 – NORMAS DO DIREITO FINANCEIRO Como vimos, o orçamento público tem a potencialidade de influenciar uma economia, trazendo benefícios para toda sociedade. No entanto, para que esses efeitos do orçamento sejam possíveis no Brasil, é necessário que existam normas para disciplinar tanto a realização como a obrigatoriedade de execução. No âmbito normativo, esse assunto é tratado no direito financeiro. Nesse contexto, conceitua-se como direito financeiro o ramo das ciências jurídicas que tem como propósito disciplinar as atividades financeiras desenvolvidas pelo governo. Squizzato (2013) explica que, por atividade financeira, entende-se a obtenção, o gerenciamento e a aplicação do recurso público. A autora ainda salienta que a arrecadação é matéria disciplinada pelo direito administrativo e tributário, enquanto a gestão é tratada no direito financeiro. Esse dinamismo de gerenciamento do dinheiro público, matéria de nosso estudo, somente passa a ser válido e obrigatório, para ação pública, mediante a existência de normas. Considerando essa realidade, o art. 24 da CF de 1988 estabelece que a competência para legislar sobre o direito financeiro, no Brasil, é da União, dos estados e do Distrito Federal. Trata-se, portanto, de competência concorrente, quando há mais de um ente empossado da prerrogativa de legislar a respeito dessa temática. Não obstante,ressalta-se também que a CF, ao deliberar sobre essa capacidade legislativa, também deixou expressa uma divisão de funções. De acordo com os parágrafos 1º e 2º do art. 24 dessa Lei suprema, a União fica encarregada de legislar sobre normas gerais, enquanto os estados e o DF atuam de maneira suplementar. Quanto aos critérios de rigidez, o art. 165 expressa que alguns assuntos devem ser tratados por Lei Complementar, ou seja, devem ser aprovados por maioria absoluta das duas Casas do Congresso Nacional. É o caso, conforme disposto no parágrafo 9º do mesmo artigo, dos assuntos do direito financeiro, que versam sobre “exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização” das leis orçamentárias e “normas de gestão financeira e patrimonial da administração” (Brasil, 1988). Em outras palavras, tais tópicos constituem a norma geral do direito financeiro, que, como vimos, devem ser editadas por meio de lei complementar. No Brasil, alguns dispositivos legais trazem esse conteúdo que norteia o direito financeiro. É o caso da Lei n. 4.320, de 1964: “estatui normas gerais de direito financeiro 7 para elaboração e controle dos orçamentos e balanços” (Brasil, 1964). Também temos a Lei Complementar n. 101, de 2000, que versa sobre a responsabilização na gestão fiscal (falaremos mais sobre esse assunto em outra aula). Essas leis, juntamente com a CF, representam importantes fontes do direito financeiro brasileiro, dando suporte para grande parte do conteúdo de nossas aulas. TEMA 4 – NATUREZA JURÍDICA DO ORÇAMENTO BRASILEIRO No tema anterior, discutimos as normas de efeito geral que regem o direito financeiro. Essas regras dão suporte para a edição de leis orçamentárias, ou seja, dispositivos normativos capazes de gerenciar os recursos públicos em um determinado espaço temporal. No Brasil, há três importantes leis com esse conteúdo: Plano Plurianual (PPA), Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). A forma como devemos encarar essas leis orçamentárias, em termos de quórum de aprovação e obrigatoriedade, depende de sua classificação em relação à natureza. No caso brasileiro, Crepaldi (2013) classifica a lei orçamentária como ordinária e formal de efeito concreto. O art. 166 da CF de 1988, ao tratar sobre aprovação das leis orçamentárias no Brasil, dispõe: “serão apreciadas pelas duas Casas do Congresso nacional, na forma do regimento comum” (Brasil, 1988). Perceba que não há menção de quórum necessário para a aprovação das leis, ficando implícito que se trata de lei ordinária. Esse tipo de lei, diferentemente da lei complementar, exige apenas maioria simples para aprovação. Dito isso, passamos para outro classificação da lei orçamentária no quesito de obrigatoriedade. As leis que tratam sobre orçamento no Brasil são tidas tradicionalmente como formais, já que não impõem ao poder executivo a obrigatoriedade de gastar nos moldes aprovados pelo poder Legislativo. No entanto, há correntes no meio jurídico que ainda questionam essa classificação, contrapondo algumas obrigatoriedades trazidas pelo orçamento, como a vinculação da administração público a essa lei, tendo em vista as finalidades do gasto público. Ainda no âmbito dos debates quanto à obrigatoriedade da lei orçamentária, o STF manifestou-se no sentido de considerar a lei como formal. Esse entendimento pode ser visto na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1640 de 1998, cujo texto, ao referir-se à lei orçamentária, a trata como “lei formal, mas de natureza e efeito político administrativos concretos”. Dessa forma, podemos considerar que o orçamento público não teria um caráter impositivo, mas autorizativo para os gastos públicos. TEMA 5 – CICLO ORÇAMENTÁRIO A lei orçamentária, no Brasil, passa por um processo que inclui: elaboração do projeto de lei; discussão no legislativo para posterior aprovação; execução das previsões; e por fim controle do que foi realizado. Essas etapas ocorrem de maneira dinâmica, passando 8 por processos já previamente determinados pela legislação vigente. A seguir, vamos trabalhar em detalhes cada uma dessas fases. 5.1 ELABORAÇÃO O processo de elaboração das leis orçamentárias deve primeiramente obedecer a autonomia administrativa e financeira de cada poder. Isso implica dizer que executivo, judiciário e legislativo, bem como Ministério Público, serão responsáveis pela elaboração de suas respectivas propostas orçamentárias. Esse direito tem previsão constitucional (art. 99 e 127), materializando a independência dos poderes, prevista no art. 2º da CF de 1988. Vale ressaltar que, embora exista essa participação na elaboração das propostas orçamentárias, deve existir um único projeto de lei a ser enviado ao Congresso Nacional. Para tanto, cada poder deverá elaborar sua proposta e encaminhá-la ao executivo, que tem a incumbência legal de enviar um único projeto orçamentário para a apreciação do poder legislativo. A lei também estipula critérios a serem adotados pelo executivo, nos casos de inércia dos demais poderes. No parágrafo 3º do art. 99 da CF, fica estabelecido que, no caso de o poder judiciário não apresentar proposta orçamentária, o poder executivo irá considerar o orçamento vigente, com os devidos ajustes estabelecidos pela LDO. Dessa forma, fica estabelecida a garantia de que o poder executivo terá conteúdo para deliberar, mesmo nos casos em que os outros poderes não se manifestem. O último passo desse processo de elaboração corresponde ao envio do projeto de lei para o Congresso Nacional. É o que prevê o art. 84 da CF. Ao listar atribuições privativas do Presidente da República, em seu inciso XXIII, inclui a função de “enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento” (Brasil, 1988). Squizzato (2013) esclarece que, embora o texto constitucional traga competência privativa na forma literal, trata-se de competência exclusiva. O parágrafo único do mesmo dispositivo constitucional reforça essa ideia, ao limitar algumas funções presidenciáveis passiveis de delegação, deixando implícito que as demais atribuições, incluindo as relacionadas ao orçamento, devem ser exercidas privativamente pelo presidente. 5.2 DISCUSSÃO E APROVAÇÃO O projeto de lei orçamentário, ao chegar no Congresso Nacional, deverá cumprir algumas etapas até que seja devolvido, até ser sancionado pelo presidente da República. Esse rito envolve apreciação do projeto de lei por uma comissão mista; emendas parlamentares, em caso de necessidade; votação no Congresso Nacional; e finalmente devolução ao executivo para sanção e produção de efeitos. A Comissão do Congresso é responsável por examinar o projeto de lei e emitir parecer a respeito do seu conteúdo. No caso da União, será denominada comissão mista, por ser 9 composta por deputados e senadores. Nos estados e municípios, onde há somente uma casa no congresso, será de formação comum. Outro detalhe importante sobre o período de permanência da proposta na comissão é a possibilidade de modificações. Segundo o parágrafo 5º do art. 166 da CF, até que determinado assunto seja votado nessa comissão, poderá receber solicitação do Presidente da República, para eventuais alterações. Para a Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira (CONOF), é nesse período que os congressistas, em atendimento às necessidades de determinadas localidades ou comunidades, podem inserir propostas, tidas como emendas ao orçamento público originário. As emendas propostas por esses congressistas deverão seguir algumas regras.De acordo com o art. 63 da CF, não seria possível acatar propostas do legislativo que elevem as despesas previstas no PPA. Para o CONOF, em observância à Lei n. 4320/64, bem como à Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei complementar n. 101/2000), as emendas também deveriam respeitar os limites de gastos com pessoal; equilíbrio orçamentário; cuidado em manter as finalidade de interesse público; bem como demais regras implícitas e explicitas nas fontes do direito financeiro. Perceba, portanto, que a prerrogativa de emendas não é ilimitada, mas deve atender aos limitantes legais. Após a inserção das emendas, a comissão votará e emitirá um parecer que será apreciado pelo congresso. Em consonância com o art. 166 da CF, o orçamento passa então a ser votado pelas duas casas do Congresso Nacional. Será considerado aprovado se a maioria simples (50% dos presentes) manifestar concordância, já que o projeto corresponde a uma lei ordinária. Em caso de aprovação, o projeto de lei segue para sua última fase. Trata-se da manifestação do chefe do poder executivo. Nesse caso, o presidente terá a possibilidade de aprovar, ou vetar, parcial ou integralmente. Na primeira situação, a projeto é sancionado pelo presidente, sendo enviado para publicação. Por outro lado, nas duas últimas situações, a proposta volta para apreciação do congresso, que irá deliberar sobre o veto presidencial 5.3 EXECUÇÃO A execução do orçamento público é a fase em que a proposta aprovada pelo legislativo passa a ter efeitos na realidade concreta. Nessa situação, as receitas previstas e as despesas fixadas passam pela fase de implantação, gerando, como consequência, impactos nas finanças públicas. Além disso, nesse período também é possível que emendas sejam encaminhadas ao congresso, com a solicitação de alterações na lei orçamentária. Crepaldi (2013) explica que as execuções orçamentária e financeira ocorrem de forma concomitante. Havendo dotação orçamentária nas previsões da lei, há precedente para 10 empregar recursos financeiros públicos para a realização da despesa. Em aulas futuras, debateremos as fases da despesa pública. Em adição a isso, tem-se que, durante a vigência e execução da lei orçamentária, existe a possibilidade de que emendas sejam encaminhadas ao congresso, com vistas a aprimorar o orçamento as novas realidades e necessidades. De acordo com os parágrafos 11 e 12 do art. 166 da CF, essas alterações devem respeitar limites legais. No caso da União, as emendas não podem ultrapassar 1,2% da receita corrente líquida; desse montante, tendente a elevar a despesa pública, 50% deverá ser gasto com ações de saúde. No caso de estados e Distrito Federal, a elevação das despesas originariamente aprovadas ficam limitadas a 1% da receita corrente líquida. 5.4 CONTROLE Durante o período de vigência da Lei Orçamentária, o poder público deverá desenvolver ações que visam controlar os conteúdos dispostos nessa norma. A Lei n. 4320, de 1964, prevê que esse controle seja executado por órgãos de controle interno e externo. O controle interno, nas palavras de Squizzato (2013), representa o poder de autocontrole, de existência obrigatória no executivo, legislativo e judiciário. Por meio do controle interno, os diversos órgãos poderiam revisar seus atos, buscando garantir o devido cumprimento das leis. Para o art. 74 da Lei n. 4.320/64, o controle interno também teria a responsabilidade de: verificar se as metas estabelecidas pelo PPA estão sendo atendidas; testificar sobre a legalidade, a eficácia e a eficiência da administração orçamentária; controlar operações contratadas pelo governo; e, por último, apoiar o controle externo. Também temos as ações desempenhadas pelo controle externo, ou seja, pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelos Tribunais de Contas estaduais e municipais. O art. 75 da Lei n. 4.320/75 versa sobre a responsabilidade desse órgão, que inclui a verificação de legalidade dos atos relacionados à execução orçamentária, com o atendimento de programas de trabalho. Essas ações são relevantes para possibilitar que a legalidade, inerente à ação pública, seja garantida na gestão dos recursos públicos. NA PRÁTICA O orçamento participativo, conforme vimos, tem previsão na Constituição Federal, sendo uma maneira de consultar a população para a realização do projeto de lei orçamentária. O maior entrave dessa dinâmica encontra-se no caráter meramente opinativo, pois o executivo não precisa acatar as propostas. Considerando essa realidade, seria possível que essa previsão constitucional surtisse algum efeito real na gestão dos municípios brasileiros? 11 Para responder a essa questão de aplicação da norma em situações reais, utilizaremos como exemplo a experiência vivenciada pelo município de Porto Alegre. Essa capital do Rio Grande do Sul adota o orçamento participativo desde 1989. De acordo com informações disponíveis no portal do município, são realizadas assembleias, nas quais a população tem a possibilidade de eleger os projetos que são considerados de maior relevância. Essas reuniões também funcionam como prestação de contas aos cidadãos, que tomam conhecimento das obras concluídas e daquelas que ainda estão em andamento. Dessa forma, o orçamento também acaba viabilizando o controle das ações públicas. Para verificar a efetividade dessas consultas realizadas pela população, faremos uso de estudos desenvolvidos por Fedozzi e Martins (2015). Os autores, em uma pesquisa de opinião pública, questionaram uma amostra representativa dos cidadãos de Porto Alegre a respeito do retorno das reinvindicações populacionais, que foram objeto das consultas públicas para realização do orçamento. Na percepção de 9,7% das pessoas consultadas, nunca se tem um retorno; 28,2% responderam que poucas vezes; 33,8% e 28,3% responderam, respectivamente, que os retornos ocorrem na maioria dos casos e sempre. Percebe-se que, de forma geral, a população acredita que existe resposta aos anseios manifestados nas reuniões de consulta à população, trazendo evidências positivas do orçamento participativo. FINALIZANDO Nesta aula, fizemos um apanhado conceitual das principais espécies de orçamento público. Falamos sobre o orçamento clássico, de desempenho, orçamento de base zero, orçamento programa e orçamento participativo. Com essa gama de possibilidades em vista, conhecemos as correntes teóricas que influenciaram o legislador brasileiro no estabelecimento da lei orçamentária. Dito isso, partimos para uma verificação das funções clássicas do orçamento público. Para tanto, empregamos os estudos de Musgrave (1974), que divide essas atribuições em: alocativa, distributiva e estabilizadora. Em seguida, fizemos uma análise jurídica das leis orçamentárias, considerando as regras que norteiam a sua elaboração. Para tanto, debatemos os temas rigidez, quórum de aprovação e obrigatoriedade. Essa análise prévia favoreceu a discriminação das etapas do orçamento público, que, conforme vimos, passa por um processo de elaboração, aprovação, execução e controle. CONVERSA INICIAL 12 Já estudamos sobre algumas questões teóricas e normativas que embasam a adoção do orçamento público. Agora falaremos de maneira mais detalhada a respeito dos principais instrumentos legais que direcionam as finanças públicas brasileiras. Conforme será mais bem detalhado no decorrer desta aula, a forma de exteriorização das intenções orçamentárias no Brasil está prevista na Constituição Federal de 1988. De acordo com esse dispositivo, o orçamento será elaborado por meio de leis de iniciativa do Poder Executivo, a saber: Plano Plurianual, Lei das Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual. Cada instrumento desses possui um propósito específico, integrando a base legal para nortear as previsões de arrecadação e destinação dos recursos. Acompanhe a seguir o detalhamento dessas leis, bem como algumas exceções que estão previstas no ordenamento legal, também mencionadas nesta aula. TEMA 1 – PLANOPLURIANUAL O Plano Plurianual de Ação, que é comumente evidenciado na literatura pela sigla PPA, tem o propósito de direcionar as ações do poder público no médio prazo (quatro anos). Trata-se, portanto, da lei orçamentária de maior validade, cuja validade, processo legal para elaboração, bem como o seu conteúdo, possuem previsões normativas, de cunho obrigatório. No que tange à vigência dessa lei, ressalta-se que, embora tenha uma duração de 4 anos, não coincide com o mandato do chefe do Poder Executivo. Conforme previsto no art. 35 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) (Brasil, 1988), o PPA será elaborado no primeiro ano de mandato do governante, sendo que, nesse período, valerá o PPA do governo anterior. O mesmo dispositivo normativo, no seu primeiro inciso, estipula que esse projeto de lei deverá ser encaminhado para votação no Congresso até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício. O Congresso, por sua vez, deverá apreciar e votar o projeto até o encerramento da sessão legislativa, ou seja, 22 de dezembro. Em relação ao conteúdo, existe previsão na Magna Carta. De acordo com o parágrafo 1º do art. 165 da Constituição Federal (CF), essa lei: estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. (Brasil, 1988) Em referência a esse conteúdo constitucional, infere-se que o PPA deverá conter diretrizes, objetivos e metas da administração pública. Squizzato (2013) explica que, nesse contexto, diretrizes são orientações que irão direcionar o orçamento público, por exemplo, o melhoramento da educação brasileira e a segurança pública. Os objetivos, por outro lado, seriam os resultados desejáveis, mediante a aplicação das ações públicas, tais como combate ao analfabetismo e redução dos homicídios. Por último, as metas seriam uma quantificação dos objetivos, como promover a construção de 100 novas escolas e 13 contratação de 1000 polícias. Em outras palavras, seriam norteadores das políticas públicas, a serem desenvolvidas no período de sua validade. Esse direcionamento, conforme previsto no fragmento apresentado, também necessitam considerar as diferenças regionais existentes no território brasileiro. Não há uma previsão de como essa divisão deveria ocorrer, mas em nível nacional, os governantes costumam considerar as cinco regiões geográficas do país, estabelecidas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Giacomoni (2017) lembra casos específicos estaduais, por exemplo, do Ceará, onde se optou por uma divisão administrativa das regiões, bem como o PPA da Bahia, onde a estratificação ocorreu por núcleos de desenvolvimento. De qualquer forma, a pretensão é que o orçamento considere as diferenças regionais, deixando implícita a necessidade de tratar as desigualdades existentes em nosso território. Não obstante, nessa Lei orçamentária deverá obrigatoriamente constar a previsão de alguns tipos de gastos públicos. É o caso da despesa de capital, por exemplo, os investimentos realizados na construção de escolas, hospitais e ferrovias, e daquelas de duração continuada, ou seja, cujos aportes ultrapassam um exercício financeiro. O PPA paranaense, previsto na Lei n. 20.077/2019, cita como uma das aplicações de despesa a previsão de integralização de capital em empresas públicas, como Companhia Paranaense de Securitização e na Agência de Fomento do Paraná S/A (Paraná, 2020). Em relação às despesas de duração continuada, há uma responsabilização para a execução desse tipo de gastos sem a devida previsão legal. Conforme descrito no parágrafo 1º da CF de 1988, execução de despesa que ultrapassa um exercício financeiro, sem previsão no PPA ou lei posterior que autorize, ficará sujeito à pena de crime de responsabilidade (Brasil, 1988). Com isso, o legislador procura estabelecer critérios mais rígidos para o controle desse tipo de despesa, evitando gastos sem o devido processo legislativo. TEMA 2 – LDO A Lei de Diretrizes Orçamentárias, de elaboração também obrigatória, tem previsão constitucional. Essa lei deve abranger determinados assuntos que acabam funcionando como um elo entre o PPA e a LOA. O rito de elaboração, apreciação e votação pelo Poder Legislativo, também já está previamente determinado pelo poder legal. Dito isso, partimos primeiramente para uma verificação do conteúdo dessa lei orçamentária, cuja previsão encontra-se no parágrafo 2º do art. 165 da CF: A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. (Brasil, 1988) 14 Conforme relatado no dispositivo legal precedente, constata-se a existência de orientações do legislador, para que essa lei orçamentária cumpra o papel de mediação entre o PPA e a LOA. Crepaldi (2013) elucida essa relação por meio de um exemplo, em que estabelece a hipótese de que o governo definiria como meta no PPA a construção de três escolas. Nesse caso, na LDO deverá constar se essa construção terá prioridade em relação a outros investimentos de capital para o exercício subsequente. Ou seja, enquanto o PPA estabelece metas de médio prazo, a LDO prioriza essas metas no curto prazo, orientando a elaboração da LOA. Além disso, também deverá ser prevista a LDO aspectos atinentes às alterações na legislação tributária. Torres (2018) pontua que tal prerrogativa não representa a possibilidade de inovação em matéria de tributos, tendo em vista que seria uma afronta aos demais dispositivos legais que estabelecem o processo legislativo próprio para tratar sobre essa temática. Esse caráter preditivo de alterações no âmbito tributário tem como propósito estimar as mudanças na arrecadação pretendidas pelo governo e, por consequência, na utilização desses recursos. A LDO também deverá prever a aplicação de recursos das agências oficiais de fomento. No caso da União, são exemplos de instituições de fomento a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. A LDO de 2020 (Lei n. 13.898/2019) determinou que, nesses casos, a Caixa Econômica Federal deveria priorizar a redução do déficit habitacional e o Banco do Brasil aumentar a oferta de alimento interno (Brasil, 2019). Perceba que existem direcionadores para aplicação de recursos dessas instituições, servindo como norteadores para o próximo exercício. Concernente aos prazos de encaminhamento e aprovação, o parágrafo 2 do art. 35 da ADCT determina que esse projeto de lei deverá ser encaminhado ao Congresso até “oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro” (Brasil, 1988). A devolução para sanção do presidente, conforme previsto no mesmo dispositivo normativo, ocorrerá até o encerramento da primeira sessão legislativa, ou seja, 17 de julho. Por último, destacamos as inovações trazidas pela Lei Complementar n. 101/2000, conhecida como a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Com base nessa norma, juntamente com a lei, deverão ser encaminhados relatórios onde conste um acompanhamento das metas fiscais e dos riscos fiscais. Giacomoni (2017) explica que, no primeiro anexo, o de metas fiscais, dentre outros pontos, será abordado o cumprimento das metas do exercício anterior; previsão sobre arrecadação, gastos públicos, dívida pública e resultado nominal para o exercício corrente e estimativa para os próximos dois anos. Em relação ao anexo dos riscos fiscais, conterá a identificação de riscos que possuem a probabilidade de afetar as metas estabelecidas. Com isso, a Lei acaba trazendo anexos de conteúdo financeiro, que possibilita justificar, controlar e acompanhar o orçamento público. TEMA 3 – LOA 15 A Lei OrçamentáriaAnual (LOA), na perspectiva do ciclo orçamentário até agora estudado, representa a concretização das metas e objetivos estabelecidos no PPA e na LDO. Nas palavras de Silva, Guerra e Cassin (2017), seria uma evidenciação do programa de trabalho do governo, fixando despesas e prevendo receitas. No que tange ao ciclo de envio para votação e devolução para o presidente, há previsão legal no art. 35 da ADCT. De acordo com o parágrafo 2º dessa norma, o projeto de lei deverá ser encaminhado para o congresso até quatro meses antes do encerramento do exercício (31 de agosto) (Brasil, 1988). A votação e posterior envio para sanção presidencial não poderá ultrapassar o encerramento da segunda sessão legislativa (22 de dezembro). Concernente ao conteúdo desse instrumento orçamentário, encontramos orientações legais no parágrafo 5º do art. 165 da CF, prevendo uma amplitude em que abarca três eixos: orçamento fiscal, orçamento de investimento das empresas públicas e orçamento da seguridade social (Brasil, 1988). Cada uma dessas partes possui suas particularidades, atentando finalidades específicas, conforme detalhado nos tópicos a seguir. 3.1 ORÇAMENTO FISCAL Esse fragmento é considerado o de maior relevância de todos os orçamentos que compõe a LOA (Giacomoni, 2017). Isso deve-se ao fato de abarcar grande parte das receitas arrecadas e despesas empregadas para o funcionamento da máquina pública, bem como para aqueles gastos destinados aos investimentos em capital físico. Para se ter uma ideia, na Lei n. 13.978/2020, que representou a LOA para o exercício de 2020, foram fixados R$ 3,68 trilhões de despesas, sendo que desse montante, R$ 2,37 bilhões foram destinados para o orçamento fiscal (Brasil, 2020a). O restante do orçamento foi relacionado, em linhas gerais, para o orçamento de seguridade (R$ 905 bilhões) e investimento (121 bilhões) Além dessa relevância no âmbito da arrecadação, há ainda a abrangência de obrigatoriedade de aplicação. No texto constitucional, mais precisamente no parágrafo 5º do art. 165, determina-se que o orçamento fiscal compreenderá “os Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público” (Brasil, 1988). Giacomoni (2017) lembra que empresas públicas, quando não são autossuficientes, também devem integrar o orçamento fiscal. Dessa forma, percebe-se a pretensão do legislador em incluir todos os gastos públicos classificados como fiscais Essa previsão legislativa foi uma inovação trazida pela Constituição Federal de 1988, alterando a forma pretérita de tratar algumas previsões orçamentárias. Afonso (2016) lembra que, até a publicação da Magna Carta, o orçamento abrangia somente parte das despesas públicas. No governo militar, por exemplo, o autor descreve que existia a possibilidade de não computar no orçamento a emissão de papéis da dívida pública ou até mesmo a compra de determinados bens. Obviamente que o resultado dessa 16 fragmentação ou não inclusão de importantes desembolsos governamentais acabava por dar menor efetividade à lei orçamentária vigente na época. Por essa razão, a amplitude dada pela Constituição Federal, no que tange aos gastos classificados como fiscais, é considerada relevante para o orçamento público. 3.2 ORÇAMENTO DE INVESTIMENTO DAS EMPRESAS PÚBLICAS O orçamento de investimento das empresas públicas, como o próprio nome sugere, é a parte da LOA destinada para prever gastos com a compra de ativos classificados contabilmente como de investimento. Seria o caso, por exemplo, da compra de máquinas, veículos, construção de edifícios, bem como demais aportes em bens corpóreos, necessários para manutenção da atividade empresarial. Para se ter uma ideia sobre esse tópico, tem-se o orçamento de investimento de 2018, cujo conteúdo e aplicação foram verificados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2019. Essa entidade controladora verificou, a título de exemplo, que as empresas estatais teriam investido R$ 84 bilhões em 2018, sendo que parte da origem desse recurso foi representado por elevação do patrimônio líquido das entidades estatais, com recursos da União (R$ 1 bilhão). Esse conteúdo, conforme visto anteriormente, deverá integrar o orçamento de investimentos. Não obstante essas informações, é preciso distinguir o que a lei considera como estatal, para efeito de inclusão dos investimentos na Lei Orçamentária. Nesse sentido, o parágrafo 5º do art. 165 da CF deixa claro que, para fazer parte da lei que prevê as despesas com investimentos, a empresa deve ser controlada direta ou indiretamente pelo poder público (Brasil, 1988). 3.3 ORÇAMENTO DE SEGURIDADE SOCIAL O orçamento de seguridade social é o terceiro eixo de fragmentação da LOA, cuja previsão também se encontra no parágrafo 5º do art. 165 da CF (Brasil, 1988). Diante do texto literal desse dispositivo, dois pontos são destacados: o significado da terminologia seguridades social, bem como as entidades que integrariam essa fragmentação da LOA. Crepaldi (2013) explica que as atividades que estariam incluídas no orçamento de seguridade social seriam as relativas a saúde, previdência e assistência social. Essa explanação encontra respaldo literal no art. 1º da Lei n. 8.212, cujo texto menciona que a seguridade social seria destinada para “assegurar o direito relativo a saúde, previdência e à assistência social” (Brasil, 1991). Dessa forma, fica claro qual seria a destinação desse fragmento da lei orçamentária. No que tange às instituições incluídas nessa parte do orçamento, o art. 165 da CF menciona que tanto as entidades da administração direta quanto as indiretas estariam incluídas. Giacomoni (2017), em referência a essa constatação, destaca que mesmo as entidades não ligadas diretamente à seguridade social participariam desse eixo 17 orçamentário, quando, por exemplo, realizam assistência à saúde de servidores, pagamento de previdência, dentre outras despesas relacionadas à seguridade social. TEMA 4 – CRÉDITOS ADICIONAIS No tópico precedente foi apresentada a lei orçamentária, cujo conteúdo abarca a previsão das receitas e fixação das despesas. Acontece que, em alguns cenários hipotéticos, situações imprevistas podem ocorrer, fazendo com que essa dotação orçamentária não seja suficiente para amparar algumas despesas não previstas na lei. De maneira exemplificativa, podemos citar as fortes chuvas que atingiram o estado de Minas Gerais no início de 2020. Nessa situação, por mais qualificada que fosse a equipe técnica que contribuiu para a formulação do orçamento, seria difícil estimar a queda da arrecadação e necessidade de novas despesas em função desse desastre natural. Diante dessas intempéries, bem como do lapso temporal existente entre a aprovação da lei e a sua vigência, a legislação possibilita que alterações sejam realizadas na lei orçamentária. Trata-se dos créditos adicionais, cujo objetivo, de acordo com o art. 40 da Lei n. 4.320/64, é suprir dotações inexistentes ou insuficiente, destinadas a cobrir determinadas despesas (Brasil, 1964). Esses créditos adicionais, conforme prevê o art. 41 da Lei n. 4.320/64, são divididos em três categorias: suplementares, especiais e extraordinários (Brasil, 1964). A seguir detalharemos cada uma dessas espécies. 4.1 CRÉDITOS SUPLEMENTARES Os créditos suplementares reforçam a dotação originária prevista na LOA, permitindo a realização de gastos não previstos na lei. Para tanto, será necessário que o poder público atenda a alguns critérios legais relacionados ao rito de autorização, existência de fundos para serem utilizados (falaremos sobre no próximo tópico), bem como exposição de justificativa. Em relação ao instrumento de abertura dos créditos suplementares, o art. 42 da Lei n. 4.320 de 1964 prevê que o mecanismo hábil para realização de tal procedimento é o decreto executivo, desde que previamente autorizado por lei (Brasil, 1964). Essa lei autorizativa pode ser a própriaLOA, ou também outra lei específica, conforme explica Squizzato (2013). Nesse último caso, a lei deverá ser apreciada pelo congresso e sancionada pelo presidente, para então viabilizar a emissão de decreto executivo. Outro ponto destacado pela lei é a validade dos créditos adicionais. Em observância ao contido no art. 45 da Lei n. 4.320/64, os créditos suplementares terão vigência durante o exercício em que forem abertos (Brasil, 1964). Portanto, os créditos que foram autorizados na LOA 2020 poderão ser utilizados somente até 31 de dezembro de 2020. 18 Não obstante, a abertura desses créditos também deverá ser precedida de justificativa para realização. Embora não exista uma regra para julgar a plausibilidade das razões expostas pelo Executivo, a referida limitação legal acaba por dar publicidade aos créditos julgados necessitários, após aprovação da lei orçamentária. Por último, é relevante citar algumas constatações em relação a essa possibilidade de créditos suplementares. Nos estudos de Baldissera et. al. (2019), por exemplo, verificou-se que esses créditos teriam uma relação estatística positiva nos anos eleitorais, sugerindo que nesse período os políticos estariam mais propensos a empregar essa prerrogativa. Kimura (2014) percebeu em seus estudos que esse tipo de crédito estaria sendo utilizado para sanar insuficiências orçamentárias. Os casos relatados chamam atenção sobre as reais empregabilidades dessa possibilidade leal de modificação da lei orçamentária. 4.2 CRÉDITOS ESPECIAIS Diferentemente do que ocorre com os créditos suplementares, os incrementos realizados por meio de créditos especiais servem para amparar despesas que não possuem dotação na lei orçamentária. É o caso, por exemplo, em que o governo decida promover uma ação de saneamento básico não prevista na LOA. Nesse caso, para que essa ação seja possível, o poder público deverá seguir regras relacionadas a previsão de fundos, mecanismo legal para inserção das novas despesas, bem como validade. No que tange à previsão de fundos e justificativa para implantação, os créditos especiais seguem as mesmas regras dos suplementares. Também é necessário que exista lei prévia que autorize a abertura desses créditos, no entanto, diferentemente do que ocorre com os suplementares, é vedada a inclusão de créditos especiais na LOA. Ou seja, caso necessário, o poder público deverá enviar proposta de lei ao congresso para abertura desse tipo de crédito adicional. Outra peculiaridade dos créditos especiais é a possibilidade de sua utilização, que pode ultrapassar um exercício financeiro. Em observância ao parágrafo 2º do art. 167 da CF de 1988, verifica-se que, nos casos em que esse tipo de crédito for autorizado nos últimos quatro meses do exercício financeiro e não utilizados, será incorporado no orçamento do exercício subsequente (Brasil, 1988). 4.3 CRÉDITOS EXTRAORDINÁRIOS Os créditos extraordinários, como o próprio nome sugere, são recursos destinados para amparar despesas urgentes e imprevistas. São os casos elencados no parágrafo 3º do art. 167 da CF de 1988, que, de maneira exemplificativa, cita como possíveis justificativas as guerras, a comoção interna e a calamidade pública (Brasil, 1988). Frente a essas situações, há maior flexibilidade para incrementar a dotação orçamentária inicial, em comparação com as duas hipóteses apresentadas anteriormente. No que tange ao dispositivo legal que insere esses créditos no orçamento público, o art. 44 da Lei n. 4.320/64 menciona que isso deverá ser realizado por meio de decreto executivo, devendo ser comunicado imediatamente ao Poder Legislativo (Brasil, 1964). Na 19 União, em observância ao art. 62 da CF de 1988, os créditos extraordinários também poderão ser incluídos por meio de medida provisória, devendo, da mesma forma, ser submetidos ao Congresso Nacional para posterior aprovação (Brasil, 1988). Nos dois casos, a inserção desses créditos extraordinários antecede a lei autorizativa. Em relação ao prazo, os créditos extraordinários, assim como ocorre com os especiais, podem ser utilizados por mais de um exercício financeiro. Para tanto, conforme determinado pelo parágrafo 2º do art. 167 da CF de 1988, a aprovação desses créditos deverá ocorrer nos últimos quatro meses do exercício financeiro (Brasil, 1988). Nesse caso, o saldo remanesceste poderá ser incrementado no orçamento do exercício subsequente. Em adição a isso, também é relevante lembrar que, por mais que a situação seja difícil para determinada região ou até mesmo de maneira geral para uma nação, não há que se falar em créditos indefinidos. No inciso VII do art. 167 da CF de 1988, há uma vedação em relação à hipótese de conceder dotação orçamentária de maneira ilimitada (Brasil, 1988). Ou seja, nos casos classificados como extraordinários, o poder público poderá abrir créditos adicionais, mas deverá estabelecer valores monetários. Caso esse montante demonstre-se insuficiente, novos créditos poderão ser abertos. Não obstante, ressalta-se uma importante discussão sobre créditos extraordinários, promovida na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n. 4.048/2007. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal suspendeu medida provisória que abria créditos extraordinários. O ministro Celso de Melo, nos argumentos sobre a ilegalidade, lembrou que as medidas provisórias que elevaram a dotação orçamentária, representaram mais de 10% do orçamento anual. Nas palavras do ministro, “Tem-se na prática, em razão do notório abuso de créditos ditos extraordinários, um verdadeiro orçamento paralelo” (Supremo..., 2008). Essa empregabilidade dos créditos adicionais, de maneira desenfreada, acaba por desvirtuar o processo legislativo, o qual prevê que esse tipo de crédito seja disponibilizado somente em casos urgentes. Dessa forma, infere-se com isso que os créditos extraordinários, assim como ocorre com os especiais e suplementares, acabam servindo como prerrogativa governamental para sanar situações não previstas na dotação original. Obviamente que o desvio dessa excepcionalidade acaba por deturpar o processo legislativo. TEMA 5 – FONTES PARA ABERTURA DOS CRÉDITOS ADICIONAIS Conforme vimos anteriormente, a lei permite a abertura de crédito suplementares e especiais, desde que existam justificativas e recursos disponíveis. Em relação a essa disponibilidade de montantes para abertura de créditos adicionais, o art. 43 da Lei n. 4.320/64 menciona que será composto por: I – o superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do exercício anterior; II – os provenientes de excesso de arrecadação; 20 III – os resultantes de anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou de créditos adicionais, autorizados em Lei; IV – o produto de operação de crédito autorizadas, em forma que juridicamente possibilite ao poder executivo realizá-lo. (Brasil, 1964) Superávit financeiro, nesse caso, é calculado com a empregabilidade de informações contábeis, disponibilizadas pelo poder público. Giacomoni (2017) explica que isso representa diferença entre o ativo financeiro e o passivo financeiro, considerando ainda os créditos adicionais e as operações de crédito a eles vinculados. O excesso de arrecadação representa a diferença entre os montantes que preteritamente foram orçados e aqueles que efetivamente foram arrecadados. Conforme vimos anteriormente, uma das funções do orçamento é prever o quantitativo de recursos que irão incorporar as finanças públicas. Assim como ocorre com as despesas, os valores representam apenas uma estimativa, podendo apresentar variabilidade positiva ou negativa. Nos casos em que se observe uma variação positiva, tem-se excesso de arrecadação. Giacomoni (2017) lembra que algumas das receitas que compõem o orçamento possuem destinação vinculada, ou seja, existe uma norma que já determina a sua utilização. É o caso dos tributos vinculados (taxas, contribuição de melhora, contribuições sociais e empréstimos compulsórios), cuja aplicação de recursosjá tem amparo legal. Nesses casos específicos, os créditos adicionais não poderão desvirtuar a sua destinação. Ou seja, o excesso de arrecadação dessas receitas deverá obrigatoriamente ser destinada para sua finalidade legal. Outra fonte passível de utilização na abertura de créditos adicionais é a anulação total ou parcial de dotações orçamentárias. Nesse caso, a inserção de créditos adicionais não iria representar uma elevação das despesas orçadas, pois uma despesa estaria sendo substituída por outra. Crepaldi (2013) cita como exemplo as reservas de contingência, que, quando introduzidas no orçamento, possuem natureza geral, empregadas para amparar despesas extraordinárias. Caso essas despesas não sejam concretizadas, os valores dotados a título de reserva de contingência poderão servir como fundo para créditos adicionais. Por último, temos o caso das operações de crédito, que integram a possibilidade de abertura de créditos adicionais. Giacomoni (2017) lembra que essa possibilidade está condicionada ao atendimento de dois critérios: autorização para realização da operação e que existam situações viáveis no mercado, condizentes com os interesses públicos. Diante dessa situação, a operação poderia ser contratada, integrandos o fundo para amparar os créditos adicionais. NA PRÁTICA 21 O ano de 2020 foi marcado pelo enfrentamento ao coronavírus, inclusive com ações governamentais. Dentre as mobilizações promovidas pela União, Estados e municípios, verificou-se o pagamento de subsídios para milhares de brasileiros que perderam seus empregos, além da criação de novos leitos hospitalares e aquisição de respiradores, necessários para recuperação de pacientes infectados. De acordo com o Portal da Transparência do governo federal, de janeiro a 26 de junho de 2020, já teria sido executado um montante de R$ 13,98 bilhões de despesas emergências para combater o coronavírus. Será que esse montante já estaria previsto na lei orçamentária de 2020? Conforme vimos nesta aula, é possível concluir que a LOA de 2020 foi elaborada e votada no exercício de 2019, ou seja, sem a possibilidade de prever os vultuosos gastos observados em decorrência da pandemia. É nessa circunstância que surge a possibilidade de inserir crédito adicionais na dotação originária No caso em questão, uma das ações adotadas pelo Poder Executivo, por meio da Medida Provisória n. 929 de 25 de março de 2020, foi a abertura de crédito extraordinário para enfrentamento das emergências decorrentes do coronavírus (Brasil, 2020b). Esse tipo de crédito, conforme visto, não necessita de previsão de fontes. FINALIZANDO Durante esta aula, falamos sobre os instrumentos orçamentários empregados no Brasil para gestão do recurso público. Nesse sentido, trouxemos características relacionadas à validade, processo de inserção em situações fáticas, bem como o conteúdo abordado pelas leis orçamentárias. Por último, demonstramos as possibilidades inerentes às alterações possíveis dessas leis, assim como os fundos empregados para amparar créditos adicionais. No caso do Plano Plurianual, vimos que se trata de uma lei de médio prazo, empregada para estabelecimentos, de forma regionalizada, das diretrizes, objetivos e metas. Dessa maneira, esse dispositivo legal poderá possibilitar o direcionamento das demais leis orçamentárias. Em relação ao LDO, estudamos que é uma lei de ligação do PPA e LOA. Para tanto, no seu conteúdo deverá versar sobre as prioridades do governo, despesas de capital e alterações na legislação tributária. Já na LOA há a previsão de receitas e fixação de despesas, válidas para um exercício financeiro. Nesse caso, a dotação contida na lei acaba servindo como norteadora dos gastos públicos. Nas situações em que essas previsões não sejam suficientes para amparar os gastos públicos, existe a possibilidade de inserção, no orçamento, dos créditos adicionais. Para tanto, a legislação prevê três modalidade: créditos suplementares, especiais e 22 extraordinários. Nos dois primeiros casos, a lei determina que o poder público possua fontes de recursos. PRINCÍPIOS DO ORÇAMENTO PÚBLICO Durante esta aula, debateremos sobre os princípios que regem o orçamento público brasileiro. Para tanto, primeiramente devemos entender o que são princípios nesse contexto. Nas palavras do célebre jurista brasileiro Celso Antônio Bandeira de Melo, princípio, no âmbito jurídico, seria um “mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas” (Melo, 2014, p. 54). Portanto, ao falarmos de princípios no orçamento público, estamos trazendo premissas em torno das quais serão dispostas as leis que irão versar sobre as receitas e despesas no país. Partindo dessas considerações, abordaremos princípios explícitos na Lei n. 4.320/1964, bem como outros que adentraram em nosso ordenamento jurídico de maneira não expressa, mas produzindo os efeitos mencionados pela teoria. TEMA 1 – PRINCÍPIOS EXPLÍCITOS NA LEI N. 4.320/1964 A Lei n. 4.320 de 1964, no seu art. 2º, traz princípios explícitos na sua literalidade, mencionando que: A Lei Do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade a anualidade. Nos próximos tópicos, debateremos as características desses princípios norteadores do orçamento público brasileiro. 1.1 PRINCÍPIO DA UNIDADE O princípio da unidade, ou da totalidade, preconiza que as finanças públicas deverão ser regidas por um único orçamento. Silva (1962) lembra que essa exigência partiu da necessidade de que todas as ações financeiras do executivo fossem previamente apreciadas pelo parlamento. Em um ambiente de múltiplas peças orçamentárias, dada a extensão, dificultaria ou impossibilitaria esse tipo de controle. No Brasil, embora esse princípio tenha adentrado em nosso ordenamento jurídico ainda em 1964 com a Lei n. 4.320/1964, somente tornou-se efetivo com a Constituição Federal de 1988. Na década de 1980, conforme lembrado por Giacomoni (2017), existiam múltiplos orçamentos: fiscal, monetário e das estatais. 23 Na ocasião, somente o orçamento fiscal passava pela aprovação do congresso, sendo que os demais eram totalmente deliberados pelo poder executivo. Como resultado, observa-se um orçamento fiscal usualmente controlado e o déficit público concentrando-se principalmente nas ações amparadas pelos outros orçamentos. Com a constituição de 1988, mais precisamente no parágrafo 5º do art. 165, o constituinte passou a determinar que o orçamento anual iria deliberar sobre assuntos relacionados ao orçamento fiscal; de investimento das empresas controladas pela União; e da seguridade social. Com essa alteração, o orçamento passou a ser constituído por um único documento. Assim, embora existam múltiplos orçamentos, tratando de diversos assuntos, há uma consolidação das peças orçamentárias, que passam a constituir um único documento aprovado pelo poder Legislativo: a Lei Orçamentária Anual. 1.2 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE Esse princípio está relacionado à abrangência do orçamento público, que deverá conter todas as receitas e despesas. É o que determina a literalidade dos arts. 2º e 3º da Lei n. 4.320/1964, que, ao mencionarem a Lei Orçamentária Anual, versam sobre o seu conteúdo, que obrigatoriamente deverá conter previsões acerca da arrecadação, incluindo operações de crédito, bem como os gastos para investimento e manutenção da máquina pública. Não obstante a isso, salienta-se que uma das razões da existência desse princípio em nossas regras orçamentárias está relacionada à necessidade de controle legislativo. Silva (1962) explica que esse princípio surgiu na França no século XIX, como condição necessária para que efetivamente ocorresse um controle parlamentar dos gastos financeiros do governo. Isso seria possível em função do congresso ter o conhecimentode todas as receitas e despesas públicas, bem como ter a possibilidade de impedir que gastos fossem realizados pelo executivo, sem o seu prévio conhecimento. Diante dessa realidade, é importante frisar que as despesas realizadas por empresas públicas e de economia mista não necessitam ser incluídas no orçamento público. De acordo com o parágrafo 5º da CF de 1988, somente o orçamento de investimento dessas empresas deverão possuir previsão da Lei Orçamentária Anual. Giacomoni (2017) elucida que os gastos operacionais dessas empresas não são considerados, em uma ótica mercadológica, como despesas públicas. Sendo assim, a exclusão dessas despesas no orçamento anual não fere o princípio da universalidade. 1.3 PRINCÍPIO DA ANUALIDADE O princípio da anualidade, ou periodicidade, prevê que o orçamento das receitas e despesas deverá ser elaborado e aprovado por um prazo específico. No caso brasileiro, em conformidade com o art. 34 da Lei n. 4.320/1964, deverá coincidir com o ano civil, ou seja, terá validade de 1º de janeiro até 31 de dezembro. Vale destacar que essa temporalidade definida possui respaldos teóricos para existência. Esse princípio surgiu originariamente com a pretensão de conferir maior controle do poder 24 legislativo, em relação às finanças públicas. Pactuando dessa ideia, Giacomoni (2017) cita o momento histórico do surgimento desse princípio, que adentrou no direito financeiro na Inglaterra, exigindo que o monarca recorresse anualmente ao Parlamento, a fim de aprovar os impostos, que teriam validade de um ano. Posteriormente, a preocupação também passou a incluir os gastos públicos, que também deveriam ser previamente apreciados pelo Parlamento. Com isso, o poder legislativo tinha maior controle das arrecadações e gastos públicos. Ao longo da história, o princípio da anualidade, além de representar esse periódico controle legislativo, também significou um mecanismo de gerenciamento orçamentário. Silva (1962) recorda que as estimativas anuais permitiam que o governo pudesse verificar a adequação da aplicação dos recursos públicos. Com isso, os serviços públicos que demonstrassem ineficiência, a título de exemplo, por inadequação da dotação orçamentária, poderiam ser analisados pelo executivo, nessa necessária revisão anual. Em razão dessa importância, bem como da determinação legal da Lei n. 4.320/1964, esse princípio é aplicado na Lei Orçamentária Anual e na Lei de Diretrizes orçamentárias. No caso do Plano Plurianual (PPA), conforme visto anteriormente, a validade ultrapassa um exercício financeiro, mas não é considerado uma exceção a esse princípio. Conforme destacado por Piscitelli (2018), o PPA deve prever as despesas de capital e aquelas com duração continuada, no entanto, para que essa aplicação de recurso ocorra efetivamente, deverá estar prevista na LOA. Portanto, as leis orçamentárias que estimam as receita e despesas obedecem a esse princípio. As únicas exceções previstas constitucionalmente a essa regra são os créditos especiais e extraordinários. De acordo com o parágrafo 2º do art. 167 da CF, quando esses créditos forem autorizados nos últimos quatro meses do exercício, não sendo integralmente utilizados, serão incorporados no orçamento do ano subsequente. Tem-se, nesse caso, uma ressalva ao princípio da anualidade, necessária em função de situações excepcionais. TEMA 2 – PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO E DA DISCRIMINAÇÃO Nesse tópico da nossa aula, iremos debater sobre os princípios do orçamento bruto e da discriminação. Esses dois princípios, embora possuam suas especificidades, assemelham-se por impor a necessidade de que o orçamento pública possua determinado nível de detalhamento. A seguir, daremos maiores detalhes sobre esses norteadores do direito financeiro. 2.1 PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO De acordo com o princípio do orçamento bruto, as receitas e despesas deverão constar no orçamento anual pelo montante integral. Essa prerrogativa está contida no art. 6º da Lei n. 4.320/1964, cujo texto menciona que “todas as receitas e despesas constarão na Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções”. Embora esse texto não traga explicitamente, trata-se de um princípio do orçamento público, infere-se, com base nas 25 teorias do direito financeiro, que a norma estaria fazendo menção ao princípio do orçamento bruto. Ainda no campo conceitual desse princípio, podemos elucidar suas implicações nas finanças públicas de modo exemplificativo. Imagine o caso do reconhecimento das despesas com servidores públicos da União. É sabido que dependendo do montante dos proventos, há incidência do imposto de renda. Dessa forma, o governo teria uma despesa com salários e, ao mesmo tempo, uma receita com tributos. Para o princípio do orçamento bruto, seria vedado apresentar somente a despesa líquida, descontando as receitas atreladas à sua ocorrência. O poder público deverá, nesse caso, estimar tanto as despesas como as receitas, muito embora a ocorrência das duas estejam intimamente relacionadas. Frente a essa realidade de abrangência orçamentária, o poder legislativo teria maior controle em relação às receitas e despesas públicas. É o que sugere Jèze (1922, citado por Silva, 1962), ressaltando a relevância do orçamento bruto, como medida imprescindível para o controle financeiro, já que, para o autor, não existiriam razões para que alguma receita ou despesa fosse subtraída do controle parlamentar. Não obstante a essa realidade, constata-se que as atividades empresariais desenvolvidas pelo Estado acabam por trazer uma exceção a esse princípio orçamentário. Giacomoni (2017), ao fortalecer essa ideia, lembra do florescimento das atividades econômicas desenvolvidas pelo poder público, como a construção de estradas de ferro, mineração, correio, dentre outras situações em que foram empregados recursos públicos, obtendo algum tipo de receita. Nesses casos, como destaca o autor, seria inviável a evidenciação de todas as receitas e despesas públicas nessas atividades empresariais do Estado. No Brasil, frente a essa realidade e complexidade, os recursos provenientes das atividades empresariais são evidenciados de forma líquida. No projeto de Lei n. 22, de 2019, o Orçamento da União estava prevendo receitas com participação em empresas públicas em um montante de R$ 13,5 bilhões, ou seja, observa-se uma evidenciação líquida da participação governamental em empresas. No demais casos, há observância do princípio do orçamento bruto. 2.2 PRINCÍPIO DA DISCRIMINAÇÃO Orienta que o orçamento público deverá conter detalhamento das despesas e receitas públicas. Essa prerrogativa clássica do orçamento é verificada na norma brasileira, no art. 5º da Lei n. 4.320/1964, cujo texto dispõe que: A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, materioal, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no art. 20 e seu parágrafo único. 26 Perceba que o legislador, ao proibir dotações globais, traz o nítido reconhecimento do princípio da discriminação. As despesas e receitas deverão ser dispostas pormenorizadas para apreciação e aprovação do parlamento. Nesse contexto, Silva (1962) adverte que o nível desse detalhamento poderá representar um limite a eficiência na gestão governamental. A autora embasa o referido argumento com as características preditivas do orçamento, que por vezes não são exatas, em função das oscilações mercadológicas que podem alterar os preços de produtos e serviços previstos, ou até mesmo mudanças nas necessidades populacionais. Dessa forma, sugere-se que o poder público deverá encontrar um nível adequado de especificidade, de maneira que não anule a ação executória dos gastos previstos. Giacomoni (2017), diante desse fato, cita que o nível de profundidade das informações presentes no orçamento, deve ser adequado ao atendimento dos seus diferentes papéis, como administrativo, econômicoe contábil. No capítulo 4 do Manual Técnico de Orçamento (2020), por exemplo, em observância ao princípio da discriminação, determina que as despesas públicas deverão possuir uma classificação qualitativa (com uma estratificação for esfera, institucional, funcional, programática e com outras informações sobre a ação do governo) e quantitativa. Para Silva (1962), a adoção desse princípio é tida como um reforço ao controle exercido pelo poder legislativo, em relação as atividades do executivo. Condizente com essa realidade, a parte final do art. 5º da Lei n. 4.320/1964 traz ressalvas a obrigatoriedade de adoção do princípio da discriminação. O referido dispositivo remete ao art. 20 da mesma lei, o qual traz uma exceção em relação aos programas especiais, que, nesse caso, estariam liberados para receber dotações globais. Seria o caso, a título de exemplo, dos programas de proteção à testemunha. Nessa hipótese, o detalhamento dos beneficiários poderia comprometer a finalidade do programa. A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101 de 2000), no inciso III do art. 5º, também traz uma ressalva ao princípio da discriminação. Trata-se da necessidade de previsão, no orçamento anual, de uma reserva de contingência, constituída para atender a despesas derivadas de eventos indefinidos. Nesse caso, podemos citar de maneira exemplificativa as possibilidades de enchentes, vendavais, bem como outras calamidades públicas em que o governo não possui estimativas precisas, para realizar um detalhamento das dotações orçamentárias que serão necessárias. TEMA 3 – PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE De acordo com o princípio da exclusividade, a Lei do Orçamento Anual não poderá versar sobre assunto que não esteja relacionado a previsão da receita e fixação da despesa. É o que estabelece o parágrafo 8º do art. 165 da CF 88, cujo texto literal é expresso a seguir: 27 A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Com essa limitação prevista nesse dispositivo constitucional, tem-se como objetivo evitar que a simplificação do processo legislativo da LOA, seja empregado para deliberar assuntos não relacionados ao direito financeiro. Em outras palavras, o executivo não poderia propor, na lei orçamentária, alterações como no código tributário nacional ou penal. Diante dessa realidade, Giacomoni (2017) comenta que, durante a Primeira República, a lei orçamentária trazia dispositivos estranhos, denominados caudas orçamentárias, por serem acoplados ao conteúdo financeiro. Silva (1962), transcrevendo sobre os abusos dessa época, lembra que o processo de desquite já chegou a ser alterado pela lei orçamentária. Essas distorções foram findadas com a Reforma Constitucional de 1962, em que se inclui os fundamentos do princípio da exclusividade. Apesar dessas restrições sobre o conteúdo da lei orçamentária, o constituinte deixou expressa algumas flexibilizações. É o caso da autorização para abertura de créditos suplementares e a contratação de operações de créditos, que poderão estar contidas na LOA. Outros países dispõem de outras ressalvas relacionadas ao conteúdo permitido para a lei financeira. De acordo com Silva (1962), na França e Inglaterra, esse tipo de norma permite a introdução de inovações na área fiscal. A autora ressalta que essa prerrogativa dá maior amplitude à empregabilidade das leis financeiras, que deixam de unicamente dispor sobre previsão de receitas e fixação de despesas. TEMA 4 – PRINCÍPIO DA NÃO AFETAÇÃO DA RECEITA Esse princípio propõe que a arrecadação pública não seja vinculada a determinadas despesas. Em uma abordagem similar, Silva (1962) descreve que esse princípio traz a orientação de que todas as receitas públicas sejam direcionadas para uma conta única, para, então, serem empregadas para a realização dos gastos públicos. A autora, no entanto, ressalta que ao longo da história a aplicabilidade dessa orientação foi ressalvada em diversos dispositivos legais. A taxa, por exemplo, que é um tipo de tributo e, consequentemente, implica em uma receita pública, possui grande parte da sua arrecadação vinculada. Lembrando que esse tributo, conforme explicado Alexandre (2019), é divido em taxa de polícia e taxa de serviço. No primeiro caso, há o exercício da função administrativa do poder público para fiscalização, como é o caso da taxa de bombeiros. Na segunda hipótese, ocorre a cobrança do poder público para realização de determinado serviço, como coleta pública de lixo. 28 Nessas situações, os valores cobrados são direcionados para o financiamento da própria atividade pública, que originou a cobrança da taxa. Não obstante a isso, nota-se que, no próprio texto constitucional, que traz implicitamente o princípio da não vinculação, menciona algumas exceções ao atrelamento das receitas com impostos. De acordo com o inciso IV do art. 167 da Constituição Federal de 1988, seria vedada a “vinculação de receita de impostos a órgãos, fundo ou despesa”. No entanto, constata-se que no próprio disposto legal são mencionadas ressalvas, como destinação de recursos para saúde e educação. No caso da educação, somente a título de exemplo, o art. 212 da CF de 1988 determina que os Estados, Distrito Federal e Municípios devem destinar no mínimo 25% das receitas provenientes de impostos para educação. Nesse caso, observa-se nitidamente uma vinculação da receita pública a determinadas despesas. Essa destinação prévia do produto da arrecadação pública pode representar um empecilho para uma gestão eficaz dos recursos. Para Laufenburger (1948, citado por Silva, 1962), ao destinar dotações mínimas de repasse para determinados setores, poderia exceder o que de fato é preciso, gerando consequentemente desperdícios. Outrossim, essa redução da discricionariedade de empregabilidade da arrecadação pública acaba por limitar o montante que o governante poderia destinar para atividades que notadamente demonstram maior carência de recurso público. Silva (1962) ainda ressalta que a vinculação das receitas públicas também seria um obstáculo para o enfrentamento de crises econômicas. No caso da necessidade de encarar períodos inflacionários, por exemplo, as políticas fiscais de redução do gasto público para melhoramento da liquidez do mercado teriam uma redução da eficiência, tendo em vista que parte da arrecadação já é previamente “carimbada” para uma destinação específica. É importante lembrar que estamos fazendo somente menção às consequências da não observância do princípio da não afetação da receita. Desconsideramos, nesse caso, as questões ideológicas relacionadas as motivações legislativas para exigir que o governo direcione parte dos recursos público para despesas que são notadamente relevantes para o desenvolvimento nacional, como saúde e educação. TEMA 5 – OUTROS PRINCÍPIOS Além dos princípios vistos até agora, constam na literatura, bem como implicitamente na CF de 1988, outras premissas norteadoras do orçamento brasileiro. Neste último tema, falaremos sobre o princípio da legalidade, do equilíbrio, da programação, da publicidade e clareza, e da proibição do estorno. 5.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 29 Não é algo exclusivo do direito financeiro, já que embasa todas as ações do poder público. Essa orientação tem origem na literatura constitucional, mais precisamente no inciso II do art. 5 da CF de 1988, cujo texto determina que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Dessa forma, infere-se que o orçamento somente trará algum tipo de obrigação, caso seja realizado por lei. Em função da observação desse preceito fundamental, bem como do art. 165 da CF de 1988, é que o PPA, LDO e LOA são editados em forma de lei ordinária. Decretos e medida provisória também
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