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10/09/2018 1 SÍNTESE DE FÁRMACOS PROFESSORA: JOYCE LIMA HISTÓRICO A síntese Orgânica é o ramo da química que estuda a criação e/ou a transformação de substâncias orgânicas, através de alterações químicas lógicas e racionais em um determinado substrato. Através destas transformações lógicas, muitos químicos desenvolveram pura arte no manejo das reações para criarem estruturas moleculares complexas. Estas verdadeiras obras-sintéticas podem ser comparadas na sua beleza com famosas pinturas e esculturas expostas nos museus de arte. 10/09/2018 2 HISTÓRICO Como em outras áreas das ciências naturais, a síntese orgânica nasceu da combinação entre a oportunidade e a necessidade. A síntese da uréia por F. Wöhler, em 1828, foi uma grande oportunidade para a modificação dos conceitos vigentes (postulado da força vital). Já a síntese do corante Púrpura de Mauve (mauveína e pseudomalveína) em 1856, desenvolvida por W. H. Perkin3 , considerada a primeira síntese industrial, nasceu da necessidade de substituição de um corante natural de custo muito elevado (Púrpura de Tyrian), mas que era economicamente atrativo HISTÓRICO 10/09/2018 3 HISTÓRICO A síntese orgânica se desenvolveu mais rapidamente na segunda metade do século 20, pois além das necessidades das sociedades modernas serem maiores, houve também a descoberta de muitas novas reações, principalmente nas reações de formação da ligação C-C e no maior entendimento da química dos compostos organometálicos de transição. Pode-se dividir a segunda metade do século em eras: i. Década de 50: era das sínteses totais orientadas pelas estruturas; ii. Década de 60: era das metodologias sintéticas (ex. reações de Wittig, organocupratos, etc). Moléculas mais complexas, como por exemplo, prostaglandinas e esteróides são sintetizadas; iii. Década de 70: continua a ênfase em metodologia e estratégia biomiméticas e novas sínteses utilizando organometálicos; HISTÓRICO iv. Década de 80: ênfase no desenvolvimento de reações enantiosseletivas envolvendo catalisadores quirais, tais como a epoxidação de Sharpless, reação aldólica, a hidrogenação catalítica empregada na síntese da L-DOPA pela Monsanto e dos catalisadores quirais contendo o ligante BINAP, desenvolvido por R. Noyori. O prêmio Nobel de Química de 2001 faz justiça ao enorme avanço científico proporcionado por essas tecnologias, agraciando os químicos William S. Knowles, R. Noyori e K. Barry Sharpless, pioneiros no uso da catálise assimétrica; v. Decada de 90: continua a ênfase em síntese assimétrica, moléculas com maior números de estereocentros são preparadas em menor número de etapas. Catalisadores quirais são desenvolvidos para um grande número de reações. 10/09/2018 4 HISTÓRICO Ao longo da história, muitas sínteses totais de substâncias desafiadoras marcaram a evolução da síntese orgânica, principalmente porque estas sínteses trouxeram novas metodologias de construção dos fragmentos carbônicos das moléculas. Por exemplo, já em 1904 a síntese do α-terpineol e em 1917 a síntese da tropinona trouxeram uma sofisticada abordagem retrossintética. SÍNTESE DE FÁRMACOS A síntese de fármacos é um importante capítulo da química orgânica, uma vez que permite a construção de moléculas, em seus diversos níveis de complexidade. Esse desdobramento da síntese orgânica, apresenta características particulares, pois além de racionalizar uma sequência de etapas sintéticas visando obter os melhores rendimentos possíveis, é necessário também dispensar atenção ao grau de pureza e à escala da reação. 10/09/2018 5 SÍNTESE DE FÁRMACOS Os fármacos de origem sintética representam significativa parcela do mercado farmacêutico, estimado, em 2000, em 390 bilhões de dólares. Até 1991, entre 866 fármacos usados na terapêutica, 680 (79%) eram de origem sintética. Os restantes 186 (21%), correspondiam àqueles de origem natural ou semi-sintética. Quando observamos a estrutura dos fármacos empregados na terapêutica, constata-se que 62% deles são heterociclícos, ou seja, possuem átomos de elementos distintos do carbono (heteroátomos) envolvidos em ciclos (heterociclícos) dentre os quais ca. 95% apresentamse nitrogenados. SÍNTESE DE FÁRMACOS Adicionalmente, ca. 28% dos fármacos de estrutura heterocíclica apresentam átomos de enxofre e ca. 18% apresentam átomos de oxigênio. Os valores expostos assinalam a importância da química dos heterociclos, demonstrando que muitas vezes pode ocorrer a presença de mais de um heteroátomo no mesmo sistema heterocíclico. 10/09/2018 6 CLASSIFICAÇÃO Os fármacos de origem sintética podem ser obtidos em dois tipos de escala: de bancada: é aquela empregada na definição da rota sintética, para se ter acesso ao composto planejado, em pequenas quantidades, mas suficientes para investigar o seu perfil farmacológico. semi-industrial: é uma adaptação da primeira rota sintética visando a obtenção do fármaco em maior escala. De maneira geral, a escala de bancada não se estende à escala industrial, havendo necessidade de se buscarem rotas alternativas que contemplem a adequação da escala. CLASSIFICAÇÃO A Figura 2 descreve a rota sintética do composto SK&F 8600029, descoberto no laboratório Smith Klyne & French (SK&F), em 1987. O composto (9), é um heterociclo da classe das imidazolotiazolidinas, que demonstrou um interessante perfil inibitório das enzimas ciclooxigenase e 5-lipoxigenase, sendo útil para o tratamento da asma. 10/09/2018 7 CLASSIFICAÇÃO AAS A Aspirina® (15), como é conhecido o ácido acetil salicílico (AAS), é o analgésico mais consumido e vendido no mundo. Em 1994, somente nos E.U.A., foram vendidos cerca de 80 bilhões de comprimidos. O AAS (15) pode ser considerado como um fármaco pioneiro sob vários aspectos. Muito embora derive do produto natural salicina (14) (Esquema 1), foi o primeiro fármaco sintético empregado na terapêutica, tendo sua síntese concluída em 1897, pelo químico alemão Felix Hoffman, do laboratório Bayer (está relatado na história que o pai de Hoffman sofria de reumatismo crônico e não suportando mais o desconforto causado pelo tratamento com salicina (14), incentivou o filho a preparar derivados que pudessem ser mais tolerados). 10/09/2018 8 AAS CLOROQUINA A malária é uma doença parasitária, causada pelo protozoário do gênero Plasmodium, que incide principalmente em áreas de clima tropical. Muito embora seja uma doença bastante antiga, relatada desde a época de Alexandre o Grande, 335-323 a.C., ainda hoje constitui um grave problema de saúde pública. O primeiro fármaco empregado no tratamento da malária foi a quinina (17) (Esquema 2), que é um alcaloide quinolínico presente em árvores nativas da América Central e do Sul, do gênero Cinchona, responsável pela atividade anti-malarial. 10/09/2018 9 CLOROQUINA A origem do nome Cinchona deve-se a um episódio que teria ocorrido em 1638, no Perú, quando a esposa do vice-rei, condessa Ana del Cinchon, contraiu malária. A Condessa teve a melhora do seu quadro de saúde, após sua febre ter sido tratada por um Xamã, que lhe indicou uma infusão à base de casca da árvore que Lineu, anos mais tarde, batizaria de Cinchona officinalis em homenagem à condessa. CLOROQUINA A síntese da cloroquina (22), descrita na Figura 5, dá-se inicialmente pela reação clássica de condensação da 3-cloroanilina (18) e dietil-2-cetobutirato, para a obtenção da imina (19). A imina (19), quando aquecida em solvente de alto ponto de ebulição, leva ao deslocamento do grupamento etoxila, com conseqüente ciclização. Ainda na mesma etapa, com o emprego de condições de saponificação, é obtido o intermediário ácido (20). A descarboxilação e conversão do grupamento enol de (20) é feita pelo seu aquecimentona presença de oxicloreto defósforo. Na última etapa, o halogênio(21) é deslocado, via reação de substituição nucleofílica aromática (SNAr), por uma amina primária, para a obtenção da cloroquina (22). 10/09/2018 10 CLOROQUINA OBJETIVOS SÍNTESE i. Ter rendimento total elevado; ii. Utilizar material de partida de baixo custo e disponível em grandes quantidades (carboidratos, terpenos, aminoácidos, intermediários abundantes oriundos das indústrias de química fina, etc); iii. Ser operacionalmente simples; iv. Etapas envolvendo multicomponentes; v. Ser segura e sem sub-produtos agressivos ao meio ambiente. 10/09/2018 11 EFICIÊNCIA DA SÍNTESE A eficiência em uma síntese está baseada na importância de se formarem ligações C-C ou na possibilidade de formarem anéis, e envolve os seguintes aspectos: número de reações/etapas, rendimento global, reagentes, rendimentos individuais, matérias primas e condições experimentais. EFICIÊNCIA DA SÍNTESE Por um conceito empírico de Hendricson, a eficiência poderia levar apenas em consideração o número de reações construtivas para formar o esqueleto da molécula. Qualquer outro tipo de reação na síntese que não fosse dessa classe seriam reações complementares e, então, diminuiriam a eficiência da síntese, como proteção e desproteção. 10/09/2018 12 ANÁLISE RETROSSINTÉTICA No início do século (até o início da década de 50) as reações eram classificadas de acordo com o tipo de substrato no qual ocorriam as transformações, ou seja, reações do tipo substituição eletrofílica aromática, condensação envolvendo ésteres, adição à carbonila, etc. Identificar o material de partida adequado se constituía uma das maiores dificuldades dos projetos sintéticos antes da introdução do conceito de retrossíntese. ANÁLISE RETROSSINTÉTICA A retrossíntese, visando ao uso de matériasprimas quirais e abundantes (síntese assimétrica), foi sistematizado por S. Hannessian que introduziu o conceito de retrossíntese via chiron (Chiral synthon). O chiron é um fragmento quiral derivado de fonte natural ou intermediário quiral facilmente disponível. Diferentemente da abordagem via sinton, o chiron deve ser escolhido pela similaridade com a molécula-alvo e com o reagente, de modo a se utilizar o maio número de centros quirais deste, como nos casos das sínteses da biotina e da cefalosporina a partir do aminoácido L-cisteína (Figura 12). A seta dupla indica que se estátrabalhando de trás para frente. 10/09/2018 13 ANÁLISE RETROSSINTÉTICA
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