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PERSUAÇÃO (PSICOLOGIA SOCIAL) PERSUAÇÃO=O processo pelo qual uma mensagem induz mudança de crenças, atitudes ou comportamentos. Os esforços para persuadir são às vezes diabólicos, às vezes controversos e às vezes benéficos. A persuasão não é intrinsecamente boa ou ruim. É o propósito e o conteúdo de uma mensagem que provocam julgamentos de bom ou ruim. O ruim chamamos “propaganda”. O bom chamamos “educação”. A educação é mais baseada em fatos e menos coercitiva que a propaganda. No entanto, em geral chamamos de “educação” quando acreditamos e de “propaganda” quando não acreditamos QUE CAMINHOS LEVAM A PERSUAÇÃO? Se uma mensagem é clara, mas não convincente, você pode facilmente contra-argumentar e não será persuadido. Se a mensagem oferece argumentos convincentes, seus pensamentos serão mais favoráveis e você provavelmente será persuadido. Essa abordagem da “resposta cognitiva” nos ajuda a entender por que a persuasão ocorre mais em algumas situações do que em outras. A persuasão envolve a remoção de vários obstáculos. Quaisquer fatores que ajudem as pessoas a remover os obstáculos no processo de persuasão aumentam a probabilidade de persuasão. ROTA CENTRAL Ocorre quando as pessoas interessadas se concentram nos argumentos e respondem com pensamentos favoráveis. Eles teorizaram que a persuasão tende a ocorrer em uma de duas rotas. Quando as pessoas estão motivadas e são capazes de pensar sobre um assunto, estão propensas a tomar a rota central para a persuasão – focando nos argumentos. Se esses argumentos são fortes e convincentes, a persuasão é provável. Se a mensagem oferece apenas argumentos fracos, pessoas atentas notarão que os argumentos não são muito convincentes e contra-argumentarão. ROTA PERIFÉRICA Às vezes não estamos motivados o suficiente ou pensamos com cuidado. Se estivermos distraídos, sem envolvimento ou simplesmente ocupados, podemos não parar para refletir sobre o conteúdo da mensagem. Em vez de perceber se os argumentos são particularmente convincentes, podemos seguir a rota periférica à persuasão – com foco em indicadores que desencadeiam aceitação automática, sem pensar muito. Nessas situações, declarações familiares de fácil compreensão são mais convincentes do que novas declarações com o mesmo significado Outdoors e comerciais de televisão – mídias que os consumidores são capazes de absorver apenas por breves quantidades de tempo – utilizam, portanto, a via periférica, com imagens visuais como estímulos periféricos. Essas duas rotas para a persuasão – uma explícita e reflexiva, outra mais implícita e automática – foram um precursor dos atuais modelos de “duplo processamento” da mente humana. O processamento pela rota central muitas vezes muda rapidamente atitudes explícitas. O processamento pela rota periférica constrói atitudes implícitas mais lentamente, por meio de repetidas associações entre um objeto de atitude e uma emoção VIAS DIFERENTES PARA PROPÓSITOS DIFERENTES O objetivo final do anunciante, do pregador e até mesmo do professor não é apenas fazer as pessoas prestarem atenção à mensagem e avançarem. Geralmente, a meta é a mudança de comportamento (comprar um produto, amar ao próximo ou estudar de forma mais eficaz). São as duas rotas para a persuasão igualmente propensas a alcançar esse objetivo? Petty e colaboradores (1995) observam como o processamento de rota central pode levar a uma mudança mais duradoura do que a rota periférica. Quando as pessoas estão pensando com cuidado e elaborando mentalmente as questões, elas não se fiam apenas na força dos apelos persuasivos, mas também em seus próprios pensamentos em resposta. A persuasão pela via periférica muitas vezes produz uma mudança de atitude superficial e temporária. Como os educadores sexuais sabem, mudar as atitudes é mais fácil do que mudar o comportamento. QUAIS SÃO OS ELEMENTOS DA PERSUAÇÃO? Os ingredientes de persuasão explorados pelos psicólogos sociais incluem. 1. o comunicador; 2. a mensagem, 3. Como a mensagem é comunicada; 4. o público. QUEM DIZ? O COMUNICADOR Os psicólogos sociais constataram que quem está dizendo algo afeta o modo como o público o recebe. CREDIBILIDADE: Qualquer um de nós poderia considerar uma declaração sobre os benefícios do exercício mais crível se ela viesse da Sociedade Real de Londres ou da Academia Nacional de Ciências, e não de um jornal da imprensa marrom. Mas os efeitos dão credibilidade da fonte (experiência e confiabilidade percebidas) diminuem depois de um mês ou algo assim. Se a mensagem de uma pessoa confiável é persuasiva, seu impacto pode desaparecer quando sua fonte é esquecida ou dissociada da mensagem. Essa persuasão retardada, depois que as pessoas esquecem a fonte ou sua ligação com a mensagem, é denominada efeito dorminhoco. PERÍCIA PERCEBIDA= Uma maneira é começar dizendo coisas com as quais o público concorda, o que nos faz parecer inteligentes. Outra é ser apresentado como alguém que é conhecedor do tema. “Podem desempenhar um papel importante na redução. do uso de drogas”. Outra maneira de parecer confiável é falar com confiança. CONFIABILIDADE PERCEBIDA: O estilo da fala também afeta a aparente credibilidade de um orador. Gordon Hemsley e Anthony Doob (1978) descobriram que se as testemunhas filmadas olhavam seu inquiridor diretamente nos olhos, em vez de olharem para baixo, elas passavam a impressão de serem mais confiáveis. A confiabilidade também é maior se as pessoas acreditam que o comunicador não está tentando persuadi-las. CONFIABILIDADE PERCEBIDA: Estar disposto a sofrer por nossas crenças – com fizeram Gandhi, Martin Luther King e outros grandes líderes – também ajuda a convencer as pessoas de nossa sinceridade Norman Miller e colaboradores (1976), da University of Southern California, descobriram que as percepções de confiabilidade e credibilidade também aumentam quando as pessoas falam rápido. Sem dúvida, os comunicadores ganham credibilidade quando parecem ser peritos e de confiança ATRATIVIDADE E GOSTAR ATRATIVIDADE: Ter qualidades que atraem o público. Um comunicador atraente (muitas vezes alguém parecido com o público) é mais persuasivo em questões de preferência subjetiva. Podemos pensar que não somos influenciados pela atratividade ou simpatia, mas os pesquisadores descobriram o contrário. Somos mais propensos a responder àqueles de quem gostamos, um fenômeno bem conhecido para quem organiza solicitações de caridade e vendas de doces. Nosso gostar pode nos abrir aos argumentos do comunicador (persuasão por via central) ou pode desencadear associações positivas quando vemos o produto posteriormente (persuasão por via periférica). A atratividade ocorre de várias formas. A atratividade física é uma delas. Argumentos, especialmente os emotivos, muitas vezes são mais influentes quando vêm de pessoas que consideramos bonitas. Similaridade, tendemos a gostar de pessoas parecidas conosco. Como regra geral, as pessoas respondem melhor a uma mensagem que vem de alguém em seu grupo O QUE SE DIZ? O CONTEÚDO DA MENSAGEM RAZÃO VERSUS EMOÇÃO Pessoas mais instruídas ou analíticas são sensíveis a um apelo racional (Cacioppo et al., 1983, 1996; Hovland et al., 1949). Públicos ponderados e envolvidos costumam tomar a rota central, pois são mais sensíveis aos argumentos fundamentados. Públicos mais desinteressados costumam tomar a via periférica; são mais afetados por seu apreço pelo comunicador Também importa como se formaram as atitudes das pessoas. Quando as atitudes iniciais das pessoas se formam sobretudo por meio da emoção, posteriormente elas são mais persuadidas por apelos emocionais; quando suas atitudes iniciais se formam sobretudo por meio da razão, elas posteriormente são mais persuadidas por argumentos intelectuais EFEITOS DE BONS SENTIMENTOS:Mensagens também se tornam mais convincentes pela associação a bons sentimentos. Bons sentimentos muitas vezes aumentam a persuasão, em parte por aumentarem o pensamento positivo e em parte por ligarem sentimentos bons à mensagem Assim, se você não puder apresentar uma boa argumentação, você pode querer deixar o público de bom humor e esperar que ele se sinta bem a respeito de sua mensagem, sem pensar muito sobre ela. EFEITO DE DESPERTAR MEDO: Mensagens também pode ser eficaz por evocarem emoções negativas. Ao persuadir as pessoas a reduzirem o fumo, tomarem a vacina contra o tétano ou dirigirem com cuidado, uma mensagem que provoque medo pode ser potente Mostram que, com frequência, quanto mais vulneráveis e assustadas as pessoas se sentem, mais elas respondem. Comunicações que despertam medo também têm sido utilizadas para aumentar o comportamento de detecção das pessoas, tais como fazer mamografias, realizar autoexames das mamas ou dos testículos e verificar a presença de sinais de câncer de pele. Mensagens de saúde geradoras de ansiedade sobre, digamos, os riscos do colesterol alto podem aumentar as intenções das pessoas de ingerirem uma dieta com baixo teor de gordura e colesterol Mensagens enquadradas no medo funcionam melhor ao tentar impedir um mau desfecho (como câncer) do que ao tentar promover um bom desfecho (como boa forma física). Contudo, jogar com o medo nem sempre torna uma mensagem mais potente. Quando o medo se refere a uma atividade prazerosa, observa Elliot Aronson (1997), o resultado muitas vezes não é mudança de comportamento, mas negação. As pessoas podem adotar a negação porque, quando não foram informadas sobre como evitar o perigo, mensagens assustadoras podem ser esmagadoras Propagandas vívidas muitas vezes exploram medos. Ao sentirem- se amedrontadas ou ameaçadas, as pessoas tendem a se tornar mais responsivas a um líder carismático controvérsia DISCREPÂNCIIA O desacordo produz desconforto, e o desconforto leva as pessoas a mudarem suas opiniões. Assim, talvez maior discordância venha produzir mais mudança. E, maior discordância talvez produza menos mudança. Argumentaram que uma fonte confiável – ou seja, difícil de desconsiderar– provocaria mais mudança de opinião quando defendesse uma posição muito discrepante da do destinatário. A discrepância e a credibilidade interagem: o efeito de uma grande discrepância comparado com o de pequena discrepância depende de o comunicador ser confiável. Assim, se você é uma autoridade de prestígio e seu público não está muito preocupado com o problema, vá em frente: defenda uma visão discrepante. APELOS UNILATERAIS VERSUS BILATERAIS Reconhecer os argumentos contrários pode confundir o público e enfraquecer a argumentação. Em contrapartida, uma mensagem pode parecer mais justa e ser mais persuasiva se reconhecer os argumentos da oposição. Ambos argumentavam que a guerra no Pacífico iria durar pelo menos mais dois anos. Uma transmissão era unilateral, não reconhecendo argumentos contraditórios, tais como a vantagem de lutar contra apenas um inimigo em vez de dois. A outra transmissão era bilateral, mencionando e respondendo aos argumentos opostos. A eficácia da mensagem depende do ouvinte. O apelo unilateral foi mais eficiente com aqueles que já concordavam. O apelo que reconhecia argumentos contrários funcionou melhor com aqueles que discordavam . Experimentos também revelam que uma apresentação bilateral é mais persuasiva e duradoura se as pessoas estão (ou se tornarão) cientes dos argumentos opostos Para os otimistas, a persuasão positiva funciona melhor (“O novo plano reduz os custos de educação em troca de serviço universitário de meio expediente”). Para os pessimistas, a persuasão negativa é mais eficaz PRIMAZIA VERSUS RECENTIDADE Sua primeira linha de raciocínio prevê o que é mais comum, um efeito de primazia: informações apresentadas no início são mais persuasivas. Primeiras impressões são importantes. interrogue”. Sabemos de nossa experiência (bem como de experiências de memória) que os eventos de hoje podem sobrepujar temporariamente eventos passados significativos. O esquecimento cria o efeito de recentidade: (1) quando tempo suficiente separa as duas mensagens; (2) quando o público se compromete logo após a segunda mensagem.; Quando as duas mensagens são apresentadas uma logo após a outra, seguidas por um intervalo de tempo, normalmente ocorre o efeito Descobriram que a ordem também pode afetar preferências simples. COMO SE DIZ? O CANAL DA COMUNICAÇÃO Para haver persuasão, deve haver comunicação. E para a comunicação, deve haver um canal: um apelo face a face, um sinal ou documento escrito, uma propaganda na mídia. EXPERIÊNCIA ATIVA OU RECEPÇÃO PASSIVA? Quando você pensa sobre isso, um pregador eficiente tem muitos obstáculos a superar. Como a mostrou, um orador persuasivo deve transmitir uma mensagem não apenas que chame atenção, mas também que seja compreensível, convincente, memorável e cativante. Um apelo cuidadosamente elaborado deve considerar cada um desses passos no processo de persuasão. Contudo, apelos passivamente recebidos nem sempre são inúteis. À medida que esquecem a desconsideração, sua persistente familiaridade com a alegação pode fazê-la parecer crível. A simples repetição de uma declaração também serve para aumentar sua fluência – a facilidade com que ela escorrega de nossa língua –, o que aumenta sua credibilidade outros fatores, como a rima, também aumentam a fluência e credibilidade. Tudo que contribui para a fluência (familiaridade, rima) também contribui para a credibilidade. A persuasão diminui à medida que o significado e a familiaridade da questão aumentam. A experiência ativa também fortalece as atitudes. Quando agimos, ampliamos a ideia por trás do que fizemos, sobretudo quando nos sentimos responsáveis. Além disso, as atitudes mais frequentemente resistem e influenciam nosso comportamento quando enraizadas em nossa própria experiência. Comparadas a atitudes formadas passivamente, as atitudes baseadas na experiência são mais confiantes, mais estáveis e menos vulneráveis a ataques. INFLUÊNCIS PESSOAL VERSUS DA MÍDIA Estudos da persuasão demonstram que a maior influência sobre nós não é a mídia, mas nosso contato com as pessoas. As estratégias de venda modernas buscam aproveitar o poder da influência pessoal do boca-a-boca por meio do “marketing viral”, “criação de um rumor” e “semeadura” de vendas INFLUÊNCI DA MÍDIA: O FLUXO EM DUAS ETAPAS: Embora a influência face a face geralmente seja maior do que a influência da mídia, não se deve subestimar o poder desta. Aqueles que influenciam pessoalmente nossas opiniões devem obter suas ideias de alguma fonte, e muitas vezes suas fontes são os meios de comunicação. Elihu Katz (1957) observou que muitos dos efeitos da mídia operam em um fluxo de comunicação em duas etapas: da mídia para os líderes de opinião e destes para as pessoas comuns. Em qualquer grande grupo, são esses líderes de opinião e formadores de opinião – “os influentes”, que os especialistas em marketing e os políticos buscam conquistar. Os líderes de opinião são indivíduos percebidos como especialistas. O modelo de fluxo em duas etapas nos lembra de que as influências da mídia penetram na cultura de maneiras sutis. Mesmo que a mídia tenha pouco efeito direto sobre as atitudes das pessoas, ela ainda assim pode ter um grande efeito indireto. COMPARANDO A MÍDIIA: Estudos comparando meios diferentes constatam que quanto mais realista é o meio, mais persuasiva é sua mensagem. Para aumentar a complexidade, as mensagens são melhor compreendidas e recordadas quando escritas. A compreensão é um dos primeiros passos no processo de persuasão argumentaram que, se uma mensagem é difícil de compreender, apersuasão será maior quando o comunicado for escrito, porque os leitores serão capazes de trabalhar com a mensagem em seu próprio ritmo. Os pesquisadores apresentaram a alunos da University of Massachusetts mensagens fáceis ou difíceis Mensagens difíceis foram de fato mais convincentes quando escritas, e as fáceis, quando filmadas. PARA QUEM SE DIZ? O PÚBLICO As características das pessoas muitas vezes não preveem suas respostas à influência social. Uma determinada característica pode aumentar uma etapa no processo de persuasão, mas funcionar contra outra. Tomemos a autoestima. Pessoas com baixa autoestimasão. Vamos considerar também duas outras características do público: idade e capacidade de reflexão. QUANTOS ANOS ELES TÊM? Os psicólogos sociais oferecem duas explicações possíveis para as diferenças de idade. Uma delas é uma explicação do ciclo de vida: atitudes mudam (p. ex., tornam-se mais conservadoras) à medida que as pessoas envelhecem. A outra é uma explicação geracional: as atitudes não mudam; as pessoas mais velhas costumam se agarrar às atitudes que adotaram quando eram jovens. As evidências geralmente apoiam a explicação geracional. As atitudes das pessoas mais velhas geralmente apresentam menos alterações do que as dos jovens. Poucos de nós são totalmente não influenciados pelas mudanças das normas culturais. Além disso, perto do fim de suas vidas, adultos mais velhos podem novamente se tornar mais suscetíveis à mudança de atitude, talvez devido a um declínio na força de suas atitudes O QUE ELES ESTÃO PENSANDO? O aspecto crucial da persuasão pela rota central não é a mensagem, mas as respostas que ela evoca na mente de uma pessoa. Nossas mentes não são esponjas que absorvem tudo o que se derrama sobre elas. Se a mensagem provoca pensamentos favoráveis, ela nos convence. Se ela nos faz pensar em argumentos contrários, continuamos não persuadidos. DISTRAÇÃO DESARMA A CONTRA-ARGUMENTAÇÃO: A persuasão também é reforçada por uma distração que inibe a contra-argumentação A distração é especialmente eficaz quando a mensagem é simples. PÚBLICOS NÃO ENVOLVIDOS USAM SUGESTÕES PERIFÉRICAS: Lembre-se das duas rotas da persuasão – a via central do pensamento sistemático e a via periférica das sugestões heurísticas. Pessoas analíticas – aquelas que têm alta necessidade de cognição – gostam de pensar com cuidado e preferem vias centrais Pessoas que gostam de conservar seus recursos mentais – aquelas com baixa necessidade de cognição – são mais rápidas para responder a estímulos periféricos, tais como atratividade do comunicador e aprazibilidade do ambiente. Muitos experimentos exploraram maneiras de estimular o pensamento das pessoas: • utilizando perguntas de efeito; • apresentando múltiplos falantes (p. ex., fazendo cada um de três falantes apresentar um • argumento em vez de um falante apresentar os três); • fazendo as pessoas se sentirem responsáveis pela avaliação ou repasse da mensagem; • repetindo a mensagem; • obtendo a atenção das pessoas sem distrações. Estimular o pensamento torna mensagens fortes mais persuasivas e (por causa da contra-argumentação) mensagens fracas menos persuasivas. PERSUASÃO EXTREMA: COMO OS CULTOS DOUTRINAM? Mantenha duas coisas em mente. Primeiro, esta é uma análise retrospectiva. Ela utiliza princípios de persuasão para explicar, após o fato, um fenômeno social preocupante. Nas últimas décadas, vários cultos – que alguns cientistas sociais preferem chamar de novos movimentos religiosos – ganharam muita publicidade: ATITUDES DECORREM DO COMPORTAMENTO As pessoas geralmente internalizam compromissos assumidos de forma voluntária, pública e repetida. AQUISCÊNCIA GERA ACEITAÇÃO Novos convertidos logo aprendem que a adesão não é um assunto trivial. Quanto maior o compromisso pessoal, maior a necessidade de justificá-lo. FENÔMENO PÉ NA PORTA Em vez disso, a estratégia de recrutamento explora o princípio do pé na porta. Depois de entrarem no culto, os convertidos descobrem que, inicialmente, as ofertas monetárias são voluntárias, depois obrigatórias. MENSAGEM As mensagens vívidas e emotivas e o calor e a aceitação com que o grupo inunda pessoas solitárias ou deprimidas pode ser muito atraente. A mensagem ecoa pelos mais variados canais, tais como palestras, discussões em pequenos grupos e pressão social direta. PÚBLICO Recrutas com frequência são jovens de menos de 25 anos, idade relativamente aberta antes de atitudes e valores se estabilizarem. Mas a maioria são pessoas instruídas de classe média que, tomada por ideais, ignoram as contradições daqueles que professam o altruísmo e praticam a ganância, que fingem preocupação e se comportam com indiferença. Adeptos potenciais muitas vezes se encontram em pontos de virada em suas vidas, enfrentando Épocas de turbulência social e econômica são especialmente propícias para alguém que dê um aparente sentido simples para sair da confusão EFEITOS DE GRUPO O culto geralmente separa os seus membros de seus sistemas de apoio social anteriores e os isola com outros membros do culto. “implosão social”: os laços externos enfraquecem até que ocorra um colapso social interno, de modo que cada pessoa se envolve apenas com outros membros do grupo. Isolados das famílias e dos amigos anteriores, eles perdem o acesso a contra-argumentos. O grupo agora oferece identidade e define a realidade. Contudo, essas técnicas – aumentar o comprometimento comportamental, a persuasão e o isolamento do grupo – não tem poder ilimitado. Jerome Frank (1974, 1982) reconheceu anos atrás que é preciso persuasão para mudar atitudes e comportamentos autodestrutivos. Frank observou que o ambiente de psicoterapia, como os cultos e os grupos de autoajuda, fornece (1) um relacionamento social de confiança e apoio, (2) uma oferta de perícia e de esperança, (3) uma fundamentação ou mito especial que explica as dificuldades e oferece uma nova perspectiva e (4) um conjunto de rituais e experiências de aprendizagem que promete um novo sentido de paz e felicidade. COMO É POSSÍVEL RESISTIR À PERSUASÃO? Ser persuadido ocorre naturalmente, relata Daniel Gilbert e colaboradores (1990, 1993). É mais fácil aceitar mensagens persuasivas do que duvidar delas. Entender uma afirmação (p. ex., que os lápis de chumbo são um perigo para a saúde) é acreditar nela – pelo menos temporariamente, até que a aceitação automática inicial se desfaça ativamente. Se um evento de distração impede isso, a aceitação persiste. Ainda assim, abençoados com lógica, informação e motivação, resistimos às falsidades. Se o uniforme do mecânico e o título do médico de aparência confiável nos intimidaram para uma concordância irrefletida, podemos repensar nossas respostas habituais à autoridade. FORTALECIMENTO DO COMPROMISSO PESSOAL Antes de se deparar com os julgamentos dos outros, comprometa-se publicamente com sua posição. Tendo defendido suas convicções, você se tornará menos suscetível (ou, deveríamos dizer, menos “aberto”) ao que os outros têm a dizer. CRENÇAS DESAFIADORAS Quando pessoas comprometidas foram atacadas com força suficiente para levá-las a reagir, mas não tão forte ao ponto de subjugá-las, elas se tornaram ainda mais comprometidas. Kiesler explicou: “quando você ataca pessoas comprometidas e seu ataque é de força insuficiente, você as leva a comportamentos mais extremos em defesa de seu comprometimento anterior” DESENVOLVENDO CONTRA-ARGUMENTOS Lembre-se de que a inoculação eficaz estimula, mas não sobrecarrega nossas defesas. A resistência à persuasão também drena a energia de nosso sistema de autocontrole. Assim, logo depois de resistir, ou enquanto enfraquecidos pelo cansaço ou por outros esforços de autocontrole, como fazer uma dieta, podemos ficar desgastados e mais suscetíveis à persuasãoRobert Cialdini e colaboradores (2003) concordam que contra- argumentos apropriados são uma ótima maneira de resistir à persuasão. APLICAÇÕES NA VIDA REAL: PROGRAMAS DE INOCULAÇÃO INOCULAÇÃO DE CRIANÇAS CONTRA A PRESSÃO DOS COLEGAS PARA FUMAR Outras equipes de pesquisa confirmaram que os procedimentos de inoculação, às vezes complementados por outro treinamento de competência de vida, reduzem o fumo entre adolescentes Programas contra o fumo e de educação sobre drogas aplicam também outros os princípios de persuasão. Eles usam pares atraentes para comunicar informações, acionam o processamento cognitivo dos próprios alunos INOLUCAÇÃO DAS CRIANÇAS CONTRA A INFLUÊNCIA DA PUBLICIDADE Bélgica, Dinamarca, Grécia, Irlanda, Itália e Suécia restringem a publicidade dirigida às crianças. Na esperança de conter a influência da publicidade, pesquisadores estudaram como imunizar as crianças contra os efeitos dos comerciais de televisão. Suas pesquisas foram motivadas em parte por estudos que indicam que as crianças, especialmente de 8 anos: (1) têm problemas para distinguir comerciais de programas e não conseguem captar sua intenção persuasiva, ( (2) confiam na publicidade televisiva de maneira meio indiscriminada e (3) desejam e atormentam seus pais por causa dos produtos anunciados Enquanto isso, pesquisadores descobriram que estudantes de 7a série de áreas urbanas centrais que são capazes de pensar criticamente sobre os anúncios – que possuem “habilidades de resistência à mídia” – também resistem melhor à pressão dos colegas na 8a série e são menos propensos a consumir bebidas alcoólicas na série seguinte