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Tu tem força, menina! 
 
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A Deus, pela linda missão, 
À Santa Dulce, por nunca soltar minha mão, 
A meu doador, uma imensa gratidão, 
A mim, uma salva de palmas pela lição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Tu tem força, menina! 
 
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10 COISAS QUE O CÂNCER ME ENSINOU 
 
1. VALORIZE CADA PLAQUETA, HEMÁCIAS E LEUCÓCITO 
QUE VOCÊ TEM 
2. AGRADEÇA CADA DIA O QUE LHE É DADO 
3. CABELO NÃO SERVE PRA NADA 
4. TEM DIAS QUE UM HAMBURGER MELHORA SUA VIDA 
5. NÃO ESPERE O AMANHÃ, ELE PODE NÃO CHEGAR 
6. É MELHOR VIVER QUE SE MANTER VIVO 
7. UMA FASE RUIM É UMA FASE DE PURO APRENDIZADO 
8. FORÇA + FÉ + OTIMISMO + BOM HUMOR + ESPERANÇA = 
RECEITA DA VIDA 
9. RECLAMAR NÃO É A MELHOR OPÇÃO 
10. - ISSO TAMBÉM PASSA 
 
 
 
 
 
 
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ÍNDICE 
 
INTRODUÇÃO 5 
EM TEMPOS DE PAZ DE ESPÍRITO (ou não) 8 
O COMEÇO DO FIM 30 
PAIXÃO FULMINANTE 52 
NÃO É DOENÇA, É BÊNÇÃO 64 
REDENÇÃO 92 
QUIMIO E SEUS EFEITOS TERAPÊUTICOS 106 
A CARECA DO AMOR 120 
REMISSÃO 128 
A VIDA CONTINUA 138 
O TEMIDO TRANSPLANTE 154 
MEU FINAL RENASCIMENTO FELIZ 168 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Tu tem força, menina! 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Existem dias, muitos deles, que nos perguntamos por 
que existimos. Uma espécie de “qual a minha finalidade 
em um mundo que já tem tanta gente?”. Bem, nada é 
tão grande que não tenha espaço pra mais um. Só que, 
às vezes, a gente se questiona por que acontecem coisas 
ruins com quem não merece. Certamente, existe algum 
motivo além do qual podemos imaginar. Não é falta de 
merecimento, é luta. Cada ser humano tem uma luta in-
dividual, e é normal a gente se revoltar quando algumas 
coisas não vão bem, ou quando alguma coisa acontece 
e você não estava preparada para enfrentar. Sofremos 
com banalidades e nos revoltamos com futilidades. Eu 
era muito assim. Isso mudou. 
Eu sempre achei que, depois do meu término com 
o Bernardo, eu teria aprendido muito sobre força, resiliên-
cia e determinação. Tolice. Também achava que, por ter 
sofrido além da conta e ter vivido a depressão pós fim de 
namoro, nada mais tiraria tanto minha paz e me deixaria 
tão triste como aquele momento. 
Ao descobrir um câncer aos vinte e quatro anos, sua 
vida muda do avesso. Gritei, chorei, me revoltei, pergun-
tei o que isso queria me ensinar, o porquê de ser comigo... 
por fim, aceitei. Não restava nada além de aceitar. Nesse 
milésimo de segundo onde a notícia chega como uma 
bomba em seu coração, o mundo não gira, e sim 
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capota. Um 360 de tudo que aconteceu desde o dia 1 
até o momento quando recebe o laudo médico, en-
quanto se encontra deitada e apreensiva em uma cama 
de hospital. “Você está com leucemia”. E eu que achei 
que já sabia ser forte descobri que minha busca por essa 
batalha estaria apenas começando. “Tu tem força, me-
nina”, eu repetia baixinho enquanto ouvia minha mãe 
aos berros, chorando, ao meu lado. 
Existiam milhares de perguntas que eu gostaria de 
fazer a Deus naquele momento, mas não deveria pergun-
tar. Eu apenas precisava entender que teria que ser forte, 
encarar da melhor forma e entregar na mão Dele porque 
minha fé não iria acabar, e isso seria apenas, mais uma 
vez, uma prova de que nada é tão ruim que não possa 
melhorar. Se é sobre força que vamos falar, eu vou te 
mostrar o poder da força que eu tenho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EM TEMPOS DE PAZ DE ESPÍRITO (ou não) 
 
Eu me questiono sempre sobre quanto tempo eu tive e quanto tempo 
terei. Sei que terei mais tempo pra evoluir do que tive até aqui, tenho 
fé. Mas também sei que desperdiçamos tempo. Tempo esse que não 
volta. Por isso, que se viva o hoje, que se ame hoje e que se perdoe 
hoje. Queria eu reaproveitar todas as vezes que gastei meu tempo com 
coisas que não me mereciam. Então, já que passei tanto tempo sem 
aproveitar o tempo que me foi dado, hoje - enquanto luto contra ele 
pra me curar o mais rápido possível - eu gastei meu lindo tempo cal-
culando se dará tempo de fazer tudo que sonhei. Enfim, o tempo é re-
lativo, já dizia a ciência, mas a única relação de que temos certeza é 
que o tempo não volta, por isso, seja grato ao tempo que lhe foi dado e 
reduza seu desperdício com futilidades. 
 
Eu estava vivendo a melhor fase da minha vida, ou 
pelo menos acreditava nisso. Solteira, livre do meu ex-na-
morado (não me lembrava mais dele) e seguia minha 
vida feliz. Embustes? De vez em quando, aparecia uns, 
era bom pra dar risada, mas não tirava mais o meu sos-
sego como antes. A verdade é que eu estava em paz 
com tudo que vinha acontecendo, exceto por um mo-
tivo. Eu estava trabalhando em uma loja como vende-
dora pra dar conta da quantidade de boletos que tinha 
diariamente pra pagar. O estresse acumulava, e a escala 
de trabalhar seis vezes na semana, algumas vezes inclu-
sive aos domingos, me desgastava profundamente. Du-
rante o trabalho, tudo ocorria bem: sorriso no rosto, algu-
mas clientes mal educadas – não podemos negar –, 
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salário na conta no final do mês, uma vidinha mais ou me-
nos, mas nada pra reclamar, certo? 
Errado. 
Eu reclamava muito. Reclamava que estava dor-
mindo pouco, que não gostava do trabalho, que isso es-
tava me tirando do sério e que eu estava completa e to-
talmente infeliz com o que fazia. Mas óbvio que eu não 
compartilhava isso com quase ninguém. Nossa socie-
dade é toda doente, ninguém pode demonstrar fra-
queza e tampouco infelicidade. No instagram? Rindo hor-
rores para todos os lados. Mas, como eu sempre digo, 
você pode sorrir o quanto quiser com os dentes, mas 
quem dita sua felicidade é seu brilho no olhar. Infeliz-
mente, minha luz estava apagada. Apagada, quebrada, 
desligada e sem perspectiva de volta. 
Não sei se, em algum momento, você se sentiu ape-
nas sobrevivendo em vez de vivendo, pois era assim que 
eu me sentia, e te explico agora o enorme abismo entre 
esses doisverbos. Viver é maravilhoso, dá gosto, dá pra-
zer, dá satisfação e, principalmente, dá vontade de con-
tinuar vivendo, pois, como diria Gonzaguinha, “a vida é 
bonita, é bonita e é bonita”. A vida não é feita apenas 
de viver e morrer. Todos nós temos um propósito, mas, al-
gumas vezes, com o passar do tempo, nós cansamos de 
buscar esse bendito e apenas nos deixamos levar. E isso é 
sobreviver, apenas levar os dias para tapar o buraco que 
a vida tem, cumprindo tabela. 
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Duda Riedel 
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E, no meio dessa sobrevivência – pela qual muitos 
passam e sequer se dão conta –, a gente começa um 
ciclo vicioso de reclamações, apego a futilidades, inves-
tidas em banalidades, brigas desnecessárias e, pra piorar, 
perda da essência da vida. Sobreviver, meus amigos, é a 
pior coisa que você pode fazer por você. Tem gente que 
morre aos vinte e cinco anos e só é enterrado aos oitenta, 
não faça isso contigo. 
Eu estava fazendo cada vez mais comigo. Lembra 
quando eu disse que estava na melhor fase da minha 
vida? Mentira. Eu achava que estava porque me enga-
nava com as aparências que criava para tentar canalizar 
o que vinha passando. Eu estava, na verdade, sobrevi-
vendo e me enganando. 
Ao chegar do trabalho depois de mais um dia can-
sativo, eu tinha preguiça de cozinhar qualquer coisa e es-
tava estressada pra falar com quem quer que fosse. O te-
lefone tocou, era minha mãe querendo saber se eu já ti-
nha me alimentado. 
— Oi, Zi, já jantou? 
“Zi” era um apelido carinhoso pelo qual meus pais 
me chamavam. 
— Oi, mãe. Ainda não, devo pedir qualquer coisa 
no iFood. Muita preguiça de fazer algo — respondi, rís-
pida, enquanto colocava o celular no viva voz e caçava 
alguma promoção pelo aplicativo. 
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— Eita, que bicho te mordeu pra tá tão azeda? Chu-
pou limão? — falou, tentando fazer graça. Mães sempre 
são fofas. 
— Devo ter chupado o limoeiro inteiro, tô zero na 
vibe de conversar, mãe. Nos falamos outra hora, tá? — 
novamente uma cortada. 
— Espera, Duda! Você e seu pai não se falam há 
mais de um mês. Ele está aqui do meu lado, posso passar 
o telefone? 
— Não, mãe! Saco! Já disse que hoje eu tô sem pa-
ciência. Manda um beijo e fala que amo ele. 
Ah, claro, amava tanto que nem nos falávamos. Mi-
nha relação com meu pai nunca tinha sido essas maravi-
lhas que muita gente transmite. Meu pai era extrema-
mente frio e acreditava em uma educação – como ele 
mesmo dizia – pro mundo. Isso quer dizer, em poucas pa-
lavras: “eu crio meu filho até certa idade, depois ele se 
vira e vive do jeito que ele quiser, já fiz minha parte”. Bem, 
depois que me tornei oficialmente adulta e não preci-
sava mais de 50% das coisas que ele me dava, eu fui me 
afastando. Falta de maturidade de lidar com nossas dife-
renças, eu não concordava em muito com o que ele 
pensava, mas existia uma diferença entre não concordar 
e não concordar, porém respeitar. A verdade era que es-
távamos cada vez mais distantes, e eu não fazia a mínima 
questão de me reaproximar. 
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Com o tempo, nossa relação foi amornando de tal 
forma que nos falávamos uma vez por mês, e isso já era 
considerado o suficiente. E o pior disso tudo era que eu 
tinha convicção de que não sentia a menor falta do meu 
pai. Ele não me dava nenhum pingo de saudades, e eu 
conseguia viver tranquilamente sem o carinho e o amor 
dele, afinal, me sentia muito autossuficiente para precisar 
de alguém que ia contra muito do que eu pensava. 
O modo como lidamos com as pessoas que estão 
ao nosso redor diz muito sobre como nós lidamos com a 
nossa vida. A ideia de ignorar a presença e a falta que 
meu pai me fazia era basicamente o que eu fazia com as 
minhas emoções: não as ouvia. Nossas escolhas nada 
mais são do que o reflexo do que se passa dentro da 
gente e elas se tornam consequências naturais do acú-
mulo de sentimentos que guardamos. 
Desliguei o telefone e rodei o aplicativo inteiro em 
busca de algo pra comer. Pedi hamburger e fritas, algo 
bem leve, não é? Plena terça-feira, e eu já me entupia 
de comida processada. Abri o whatsapp e mais de 200 
mensagens. Grupos de festa, amigos marcando bar em 
plena terça-feira, amigas pedindo conselhos, amigas fa-
lando mal de outras meninas. Ótima distração pra 
quando se está estressada, com fome e esperando o mo-
toboy trazer um quilo de óleo puro. 
Uma mensagem chegou no meu celular, era meu 
melhor amigo, Vicente, e ele me chamava para um 
grupo de divulgação de festas. 
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“Fala, mané! Sabe aquela empresa de festas? Eles estão escolhendo 
novos promoters, e, já que agora você é blogueiríssima, pensei que se-
ria uma boa entrar. Quer ir na reunião comigo amanhã?” 
 
Grupo de divulgação de festas... Então, quer dizer 
que eu ganho VIP pras festas? Ahhhhhhh! SIM, SIM, SIM! 
Tudo que eu queria e precisava, já que meu salário de 
vendedora não conseguia pagar quase nenhum baile 
que eu ia no final de semana. 
 
“O QUÊ? Quero entrar! NECESSÁRIO. Amanhã então me avisa. Te 
amo, beijo”. 
 
Era meio de março, duas semanas depois de um 
carnaval que tinha tirado boa parte da minha saúde. Eu 
me sentia fraca, mas também quem não estaria depois 
de passar cinco dias bebendo e indo para blocos e fes-
tas? Eu estava em um momento frenético de saídas e 
aproveitando bem minha liberdade emocional. 
Sabe aquela fase da solteirice quando finalmente 
vamos pra algum lugar única e exclusivamente porque 
queremos? A gente não vai pra procurar ninguém, a 
gente sequer está querendo achar, só quer mesmo um 
bom drink na mão, um grupo de amigas pra rebolar a 
bunda, um óculos de sol pra colocar a partir das seis da 
manhã e uma disposição pra sair de lá só quando o se-
gurança expulsar. 
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Fato era que esse momento era ótimo, viver para fa-
zer sentido a você! Incrível como o efeito “término de na-
moro” traz um pouco disso na nossa vida, não é? De tanto 
levar porrada, você aprende a se defender, e – muitas 
vezes – os socos que os embustes dão na nossa autoes-
tima, na realidade, transformam-se em pequenos belis-
cões. Por um lado, é bom, te deixa mais forte e faz você 
reconquistar seu amor próprio, mas, por outro lado – mais 
sombrio ainda - se torna péssimo, já que você se torna um 
tanto quanto desacreditada no quesito relacionamentos. 
Os anticorpos do amor entram em ação e, quando a 
gente avista a decepção, já fala logo assim: 
 
QUERIDA, PODE VIR QUE JÁ ME ACOSTUMEI! 
 
Eu via que o crush iria despedaçar meu coração, e 
isso nem me doía mais, era apenas mais um na fila de de-
cepções da vida amorosa de Maria Eduarda Riedel. A 
gente quebra a cara hoje e amanhã já marca na 
agenda quando vai ser o próximo toco. Você chama isso 
de ansiedade? Eu preferia chamar de planejamento de 
desamores mal sucedidos. 
E eu sempre fui uma pessoa muito planejada, não 
só no amor, mas em todos os aspectos da minha vida. 
Naquele dia, vi no jornal que o dia seguinte estaria ótimo 
para ir à praia, já que o sol não estaria tão quente. Me 
programei pra ir, levar um livro comigo e aproveitar essa 
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folguinha no meio da semana. Mas não foi assim que 
aconteceu. Acordei, abri o olho, e um filme de terror se 
instalava em meu travesseiro: sangue. 
Era quase uma cena de crime dentro do meu 
quarto. A princípio, me assustei, olhei pra aquilo e fiquei 
pensando de onde teria saído tanto sangue. Senti um 
gosto ruim na boca e corri para o banheiro. Ao me olhar 
no espelho, eu enxergavameus lábios ressecados e mi-
nha gengiva inchada, vermelha e com bolhas de pus. 
Como era possível? Ontem eu estava bem. Teria sido o 
hamburger? Não podia ser. 
Peguei o telefone e ameacei ligar pra minha mãe, 
já que ela era dentista e saberia o que fazer. Não, era 
melhor não. Eu iria levar uma bronca, ela iria falar que eu 
não estava escovando meus dentes direito e iria fazer um 
enorme discurso da importância da saúde bucal. Eu não 
estava nenhum pouco disposta a ter que passar por isso, 
então liguei para a primeira emergência de odontologia 
que aparecia no Google e que era perto de mim. 
— Bom dia, eu gostaria de marcar uma consulta 
com urgência, vocês tem vaga err... sei lá... pra agora? 
Eu precisava urgentemente, estava parecendo um 
vampiro que tinha acabado de chupar o pescoço de al-
guém. 
— Temos, sim, você consegue vir às onze horas? — 
respondeu a atendente, bem solícita. 
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— Consigo! Muitíssimo obrigada. — Desliguei, ainda 
meio atordoada. 
Fui até a cozinha e esquentei um pouco de água 
com sal na tentativa de conter aquela cachoeira verme-
lha que saía pelas minhas gengivas. Nada fazia parar! 
Mas que droga, o que estava acontecendo comigo? Me 
arrumei para ir à consulta e, no meio do caminho, fui 
orando para ser algo solucionável, afinal, eu iria viajar 
com minha mãe em duas semanas, e ela não podia ima-
ginar que eu estava com algum problema dentário. 
Cheguei no dentista, olhei ao redor e ouvi aquela 
musiquinha de fundo de sala de espera. Impaciente, fi-
quei batendo o pezinho no canto do sofá enquanto 
aguardava chamarem meu nome. 
— Maria Eduarda? — gritaram, e eu me levantei ra-
pidamente. 
— Eu mesma! — respondi com um sorriso fechado. 
— Pode me acompanhar, por favor? 
Entrei no consultório e vi que estava passando Glo-
bonews, mostrava a tragédia de Brumadinho e, dentro 
de mim, eu só conseguia imaginar “que ano é esse que 
só catástrofe acontece?”. No final de 2018, eu havia lido 
um texto – de mais um daqueles videntes – sobre o fatí-
dico ano que se aproximava. Lembro que, assustada, eu 
encaminhei para todas as minhas amigas, e nós debate-
mos o assunto. 
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Um tempo depois, recebi da minha mãe uma repor-
tagem que falava sobre “A data limite”, um termo usado 
por Chico Xavier para alertar sobre o “fim do mundo” em 
2019. Diferente daqueles “fins de mundo” que víamos em 
filmes em que uma bomba nuclear destrói tudo de uma 
só vez, nesta carta ele deixava muito claro que a socie-
dade estava morrendo aos poucos e que, se individual-
mente nós não entendêssemos a beleza da vida e a gra-
tidão pelo que realmente importava, o mundo acabaria 
naquele ano. Essa era a tal “data limite” que os seres ce-
lestiais haviam estipulado para nossa evolução humani-
tária. Realmente, 2019 não estava sendo um ano fácil em 
um aspecto geral. 
— Então, Eduarda... Você entendeu o que eu disse? 
— perguntou a doutora, claramente notando que eu não 
tinha entendido nada. 
— Sim, entendi perfeitamente. Mas, afinal, o que eu 
tenho mesmo? — perguntei, assustada. 
— É basicamente um caso de gengivite que pode-
ria se agravar muito se você não se cuidasse. Você têm 
costume de usar fio dental? 
Agora vou jogar um questionamento pra vocês, 
queridos leitores, pra quem se mente mais: recrutador de 
emprego ou dentista? 
— Uso, claro! Isso foi apenas uma fatalidade — res-
pondi com deboche. — Mas vou ficar bem até semana 
que vem? 
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18 
 
— Ao que tudo indica, sim! Vamos começar o pro-
cedimento agora. 
Enquanto ela começava a limpeza para tirar o que 
fosse necessário da minha boca, eu tinha a sensação de 
que sangrava mais que o normal. O sangue escorria pela 
minha boca e chegava ao meu queixo, manchava mi-
nha blusa bege clara e deixava um gosto horrível na 
boca. Seria mesmo apenas uma gengivite? E como era 
possível, com tamanha quantidade de pus, que meu sor-
riso voltasse ao normal em cinco dias úteis? 
— Nossa, tá sangrando bem — falou a doutora en-
quanto pegava mais uma gaze para conter o sangra-
mento. 
— Eu também acho. Isso é normal mesmo? — Eu es-
tava muito apreensiva. 
— É, sim, fica tranquila! Ela estava bem irritado, mas 
vai ficar ótima, você vai ver. 
— Assim espero. 
Depois que o procedimento acabou, olhei no espe-
lho e tomei um susto. Minha boca estava nova, porém 
muito debilitada. A doutora me passou alguns remédios 
para tomar durante alguns dias e pediu repouso total. Pe-
guei um atestado e fui andando pra casa ouvindo uma 
música do Shawn Mendes no Spotify. No meio do cami-
nho, notei que minha boca sangrava mais um pouco. 
Mas que raios! Eu tinha acabado de sair do consultório. 
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Tu tem força, menina! 
 
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Abri a porta de casa e já recebi uma mensagem do Vi-
cente falando sobre a reunião daquela noite: 
 
“Não esquece que temos reunião no Humaitá às 20h. Te encontro na 
porta, pode ser?” 
 
Ah, gente! Eu tinha esquecido da reunião e teria 
que ficar de repouso absoluto. Mas, se eu não fosse, seria 
obrigada a perder todos os meus futuros VIPs e, com isso, 
meu amor, não se brinca. Eu ia pra esse encontro nem 
que minha boca estivesse coberta de sanguessugas. 
Dormi a tarde inteira, uma fadiga fora do normal do-
minava meu corpo, devia ter sido alguma anestesia que 
a dentista tinha passado ou apenas estresse de tanto tra-
balho e sono acumulado, que aproveitei pra pôr em dia 
enquanto esperava a hora de me arrumar e ir pra reu-
nião. 
Acordei atordoada, já eram seis horas, e o trânsito 
no Rio de Janeiro não era brincadeira, meu irmão. To-
mando banho, senti uma dormência no braço esquerdo. 
Me enxuguei e segui sentindo aquela dor como se eu ti-
vesse dormido por cima do meu corpo. Abri a gaveta de 
remédios e notei o quanto eles aumentaram nos últimos 
meses. Eu poderia te garantir que nem a farmácia mais 
preparada do seu bairro tinha tantas opções de anti-in-
flamatórios e antibióticos como minha casa. De fato, mi-
nha saúde não era mais a mesma. Engoli um dorflex e 
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enfiei qualquer roupa, fiz uma maquiagem básica, passei 
perfume, pedi um UBER e segui para a reunião, tudo isso 
em um total de vinte e cinco minutos. 
Durante o trajeto, me comuniquei com o Vicente 
pra saber onde ele estava. Eu não queria de maneira al-
guma entrar naquela sala sozinha. Pode não aparentar, 
mas sou extremamente tímida pra conhecer pessoas que 
já conheço, porém não tenho afinidade. 
Meu telefone tocou, era minha irmã mais velha, ela 
tinha acabado de voltar de uma temporada de um mês 
pelo sul da Ásia. Uma daquelas viagens que a gente só 
via no feed do instagram das blogueiras com mais de um 
milhão de seguidores ou daquela amiga rica que passa 
final de semana em Miami achando que isso é a coisa 
mais normal do mundo. As fotos? De causar inveja em 
nós, meros emergentes que andam de metrô às sete da 
manhã e rezam para não sair com cheiro de mortadela. 
— Duda, adivinha só? Fechamos o buffet do casa-
mento, tô muito animada! 
Minha irmã ia casar no final de outubro e estava ra-
diando de felicidade, o maior sonho da vida dela era isso. 
— Legal, Natty! — respondi sem muito entusiasmo. 
— Custa ficar feliz? — alfinetou. 
— Eu estou feliz por você. É só que não me empolgo 
muito com essas coisas de casamento, você sabe... — Eu 
realmente não tinha paciência pra isso e, pra completar, 
meu braço e minha boca doíam. 
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Tu tem força, menina! 
 
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— Bem, pois comece a se animar, afinal, sou sua 
irmã e é o primeiro casamento da nossa família.Ah, tam-
bém depositei um dinheiro pra te ajudar, preciso desligar 
que tô indo pra uma reunião, acho que vou criar uma 
marca de jalecos fashion. 
— Uol! Mais um super empreendedorismo de Natty. 
Boa sorte, também tô indo pra uma reunião pra ganhar 
ingresso grátis pras festas. — Dou risada e desligamos. 
Eu tinha três meias-irmãs mais velhas, mas convivia 
mais com a Nathália por ser minha meia-irmã por parte 
de mãe e ter morado a vida inteira comigo. Ela era dez 
anos mais velha e era superprotetora comigo, já que eu 
era a caçula. Isso foi motivo de muitas brigas entre nós 
duas porque imagine ter, além da sua mãe, uma mãe-
postiça querendo te controlar. Por outro lado, eu tinha 
uma enorme admiração sobre ela, mas, enraizada den-
tro de mim, existia uma cobrança excessiva e estressante 
para chegar onde ela tinha chegado e conquistar o que 
ela tinha. Irmãs mais velhas causam isso na gente. 
Imaginem desde pequena ter um espelho à sua 
frente e que você quer ser o total reflexo dele, porém sua 
imagem nunca é tão nítida ou clara. Minha irmã sempre 
foi primeiro lugar da turma, eu ficava de recuperação em 
física todo ano. Ela era dentista, assim como minha mãe, 
eu não conseguia ver sangue sem desmaiar e o optei 
pelo teatro. A Natty já ganhou prêmio de melhor profissi-
onal de ortodontia da cidade por três anos consecutivos, 
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e eu não conseguia pagar o condomínio do meu apar-
tamento sem pedir ajuda aos meus pais. 
Por um lado, tê-la como espelho me dava garra e 
força pra me tornar tão incrível quanto ela, mas isso tam-
bém me dava uma puta pressão psicológica que me fa-
zia pensar que eu era a fracassada da família enquanto 
ela tinha dado certo na vida. E sabemos bem que no jan-
tar de natal sempre existe aquela tia que vive com os ga-
tos e sobrevive com uma pensão, e a outra que viaja três 
vezes por ano com as crianças pra Disney. Eu sabia que 
não seria a tia dos gatos por um único motivo: rinite alér-
gica, mas, com certeza, eu também não seria a tia amiga 
íntima do Mickey Mouse. 
Sabe a tal crise dos vinte anos? Aquela sensação de 
sair da faculdade e ter um abismo em seus pés? Olhar na 
revista e ver que Kylie Jenner é bilionária aos dezenove 
anos, Marina Ruy Barbosa é casada aos vinte e três e Ney-
mar Jr. é eleito melhor jogador do mundo aos vinte e seis 
anos? Isso causa pânico. Agora idealize você tendo refe-
rência dentro da sua própria casa. Isso me atormentava 
diariamente, porque, além de ter a minha família me co-
brando sempre um futuro promissor, eu via na minha irmã 
um futuro que eu não acreditava que conseguiria ter. Isso 
me causava pânico. O fracasso era meu codinome. 
Cheguei antes do Vicente na reunião e o esperei na 
porta do local, olhei pro lado, vi um semi conhecido an-
dando na minha direção e me escondi atrás de uma ár-
vore. Me dá uma vontade absurda de rir. Quantos anos 
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Tu tem força, menina! 
 
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eu tinha? Por que eu não conseguia ser civilizada e dar 
um singelo “oi”? Não existe nada de mais magnífico que 
duas pessoas que se conhecem e fingem não se conhe-
cer pra não ter que enfrentar a dura barra de se cumpri-
mentar. 
Já havia se passado quarenta e cinco minutos e 
nada daquele menino chegar, até a reunião devia ter 
começado. Vicente era daqueles que marca contigo 
com duas semanas de antecedência e só aparece um 
mês depois. Atrasado demais. Enquanto gravava um áu-
dio bem descabido reclamando da falta de comprome-
timento dele, ouvi um grito na rua: 
— FALA TU, MANÉ! Cheguei, cheguei! — Correu em 
minha direção com uma cara de “não me mate por fa-
vor”. 
— Olha, eu não estou acreditando até agora que o 
senhorzinho me fez esperar 45 minutos! A reunião já inclu-
sive deve ter acabado. 
— Só começa quando a gente chegar, vamos, já tá 
todo mundo lá em cima — falou afobado enquanto su-
bia as escadas. 
— Vai na frente! 
— Qual seu problema, Eduarda? Fala pra 100 mil 
pessoas no instagram e é incapaz de conversar com doze 
moleques que fazem festas no Rio de Janeiro. Franca-
mente... — prosseguiu com ar de desprezo. 
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— Francamente o caramba! Você tá atrasado e 
não tem direito de falar nada. 
— Vem cá, por que você tá falando meio estranho? 
— Eu fui na dentista hoje, acho que tô com uma 
bactéria na boca... 
— O QUÊ? Eduarda, esse carnaval te rendeu, hein 
bebê? 
— Sem brincadeiras, Vicente! Tô aqui me segu-
rando. 
Entramos na sala e estava um frio estrondoso, me 
tremi inteira e um calafrio me subiu pela espinha das cos-
tas. Comecei a cumprimentar todas aquelas pessoas que 
eu já via fatalmente todo final de semana, mas fingi que 
era a primeira vez que os conhecia. Olhei pra frente e vi 
o Henrique. Ele era mais um daqueles que eu via em to-
dos os lugares. A diferença era que eu o chamava de “Sr. 
prazer” pra todos meus amigos. A história era até um 
pouco engraçada. 
O Henrique trabalhava com a publicidade das cer-
vejas de agências de evento. Tinha vinte e cinco anos e 
trabalhava com cerveja, um sonho de profissão. Eu sem-
pre achei incrível a maneira como ele montava tudo e 
me dava uma grande admiração. Mas ele devia conhe-
cer muita gente, certo? Então, sempre que ele me en-
contrava nos lugares com pessoas que ele conhecia, ele 
se apresentava e falava: “Prazer, Henrique!”. Eu poderia 
contar nas mãos quantas vezes ele tinha se apresentado, 
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mas acho que faltariam dedos. Vou na direção dele, es-
perando que, no mínimo, daquela vez, ele se lembrasse 
de mim. 
— Oi, prazer! Henrique — respondeu entusiasmado. 
— Oi, prazer... Duda — respondi, sem mostrar muito 
os dentes para ele não ver que eu estava parecendo o 
Edward depois de chupar todo o sangue do pescoço da 
Bella. 
Acho que mais uma vez o Sr. Prazer fez questão de 
se apresentar... Como era educado esse menino. Será 
que ele fazia pra me sacanear ou realmente minha cara 
era tão comum e insignificante para que ele não guar-
dasse na memória? 
A reunião começou, e eu não dei um pio. Algumas 
vezes, me sentia tonta a ponto de desmaiar, então fixei 
minha visão em um ponto. Ele. Durante todo o tempo, eu 
olhava pra aquele menino, fascinada. A forma como ele 
amava o trabalho dele me inspirava. Dá uma certa inveja 
quando vemos pessoas felizes na profissão. Existem pes-
quisas que dizem que mais de 70% da população brasi-
leira não gosta do que faz, eu queria estar naqueles 30% 
de que ele fazia parte, porque claramente ele amava 
aquele emprego. 
Eu trabalhava em uma loja como vendedora, rece-
bendo R$ 1500 por mês e detestando o que fazia. Esse 
dinheiro pagava algumas contas, o que era ótimo, mas 
me dava dor de cabeça, tirava meu sono e não me 
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satisfazia. Eu não gostava de ser vendedora, mas resolvi 
aceitar apenas por precisar muito do dinheiro. No co-
meço, prometi que seria apenas por dois meses até en-
contrar algo na minha área, mas, depois que os meses 
foram passando e nada surgia, fui me conformando com 
a realidade em que havia me metido. 
Atualmente, é difícil arranjar qualquer trabalho, ima-
gine um trabalho que te deixe completamente realizada 
profissionalmente, na sua área, recebendo o que você 
almeja e com a saúde mental intacta. Por isso, nós nos 
conformamos com nossa realidade e tentamos não 
mudá-la, temos medo do que poderá substituir. Um con-
formismo banal e coberto de inseguranças. Eu era extre-
mamente insegura. 
Quantas vezes você esteve apenas “satisfeito” ao 
invés de realizado e não fez nada para trocar essa situa-
ção? É difícil mudarmos nossa realidade, vivemos com 
medode perder o que já temos. Sentir-se satisfeito é uma 
droga, pois a satisfação não te dá margem pra mudan-
ças reais. Eu estava satisfeita, mas estava muito longe de 
ser feliz. 
A reunião continuava, e eu não conseguia tirar Hen-
rique do meu campo de visão por um minuto sequer. Eu 
respirava um pouco mais fundo, bebia uma água, ten-
tava olhar pro lado contrário, mas sentia que ele estava 
me observando também. Durante uma fração de segun-
dos, nossos olhares se cruzaram, e eu timidamente desviei 
olhando pra baixo. 
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EDUARDA, para agora com isso! Esse menino namora. 
Foca unicamente nos seus ingressos VIPs. 
 
Ao acabar a reunião, todos continuaram sentados 
conversando sobre assuntos variados, mas eu não tinha 
assunto com ninguém ali e me contentei em pedir meu 
UBER para voltar pra casa quando escutei um dos garotos 
falar sobre o Henrique. 
— É o mais novo solteiro do Brasil. Mulherada vai cair 
em cima, parceiro! — Então, eu não tava maluca, ele re-
almente havia trocado olhares comigo. 
— Como assim, Henrique? Você acabou? Eu tô cho-
cada, achei que vocês fossem se casar! — completou 
uma das meninas. Assuntos como aquele eu dominava 
bem, e essa história de que ia se casar? Essa era minha 
tour. 
— Acabou, acontece. Mas tira isso do foco de vo-
cês fazendo favor. 
Já tava vendo tudo, ele era do tipo que não gos-
tava de ninguém dando conta da vida dele. Meu UBER 
chegou e fui direto pra casa. Que cansaço era aquele 
que me dominava tanto? Deitei na traseira do carro e ar-
ranquei um cochilo enquanto via meu celular tocar com 
várias notificações do novo grupo de festas que agora 
fazia parte. Todos entusiasmados e felizes em conhecer 
uns aos outros. Eu me contentei em apenas mandar uma 
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figurinha e silenciar o grupo por um ano. Quem nunca, 
não é mesmo? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O COMEÇO DO FIM 
 
Sabe, menina, eu aprendi que o meio do caminho é um pouco esqui-
sito mesmo. É aquele momento entre a partida e a chegada que parece 
eterno. Na partida, a gente vai com todo o gás, sem medo do que vem 
por aí; quando a gente vê a reta final, acelera, sabe que falta pouco 
pra conseguir. Mas, no meio, tudo parece monótono, desafiador e pre-
ocupante. Falta força pra continuar e sobra vontade de desistir. São 
nessas horas que temos que ter paciência e fé. Paciência pra saber que 
a Terra gira igual pra todos e que, uma hora, a SUA hora vai chegar. 
E é preciso - mais ainda - ter fé. Eu tive fé e, por isso, não sofri tanto. 
O recomeço será ainda mais lindo. Não tema a vida, pois ela merece 
ser vivida. E, quando pensar em desistir, olhe pra trás e veja o tanto 
que já percorreu. O começo do fim nada mais é que um novo recomeço 
que está por vir. 
 
Os dias passavam cada vez mais rápidos; o traba-
lho, uma droga; vida amorosa (que vida?), festinhas em 
dia, e uma fadiga que se instalava cada vez mais no meu 
corpo. Eu realmente não estava feliz com a vida que le-
vava, mas precisava daquele emprego a qualquer custo, 
prometi que iria aguentar mais um mês, mas a verdade 
era que não dava pra aguentar mais nenhum dia. 
— Você gosta mais de blusa de alcinha ou prefere 
com uma manga mais curta, sem manga? — questionei 
enquanto via a cliente dando uma olhada geral na loja. 
— Gosto de algo que me deixe bem e que você me 
traga rápido, pois tenho horário no dentista — respondeu 
seca. 
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— Você está ótima. Vou pegar alguns modelos pra 
você, aceita uma água? 
Ela olhou pra mim com desdém e continuou dando 
uma olhada na loja. Subi as escadas correndo, procurei 
todas as blusas com alças, sem alças, manga longa, 
manga curta e tamanho M. Enquanto me abaixava pra 
pegar a última peça, desequilibrei e caí sentada no 
chão. O estoquista – que é muito meu amigo – pronta-
mente pegou uma água e completou: 
— Duda, você está branca feito uma parede, o que 
houve? — Ele me abanava com um pedaço de papelão. 
— Dia difícil, Lu, mais uma daquelas clientes que não 
dão bom dia. — Me levantei rapidamente e peguei todas 
as blusas. 
Enquanto descia as escadas com rapidez e mais de 
vinte peças na mão para não perder mais nenhum se-
gundo, ouvi minha gerente me chamar baixinho: 
— Que cara pálida é essa? Passa uma maquiagem, 
você está com cara de doente. — Ela riu e me entregou 
um batom vermelho. 
— Tô com pressa, essa cliente vai me matar se eu 
não descer agora e ainda faltam R$ 1500 reais para eu 
bater minha cota do dia. — O valor que eu precisava 
vender em um dia de trabalho era o que eu ganhava em 
um mês todo. O capitalismo é realmente frustrante. 
— Ok, mas não posso deixar você descer assim pro 
salão. Passa rápido o batom. — Passei e conferi no 
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espelho pra ver se não tinha manchado meu dente. 
Desci as escadas na maior velocidade possível e, quando 
cheguei lá, a cliente simplesmente havia sumido. 
— Onde ela está? — perguntei à caixa. 
— Ela disse que tinha horário e que você estava de-
morando muito... — A bendita tinha ido embora. — Mas 
pode ser que ela volte, Duda. Se acalma. 
— Não vou bater a cota esse mês de novo. — En-
quanto eu dobrava as roupas, a cliente surgiu. 
— Meu dentista está atrasado, vou dar uma olhada 
enquanto não me chamam. — Mais uma vez sem ne-
nhum sorriso. 
— Olha, ela voltou! Vai rápido! — Suspirou minha 
amiga baixinho 
— Oi, trouxe essas peças pra você. — Sorri e come-
cei a mostrar delicadamente, só então notei que, ao in-
vés de blusas, eu tinha pegado shorts da mesma es-
tampa. Minha cabeça estava um caos. 
— Menina, você não ouviu que eu queria blusa? 
Como que você me desce tudo isso de short, não tenho 
mais idade pra usar short. E cade a água que você disse 
que iria trazer? — Grosseria a gente vê por aqui. 
— Peço desculpas, eu confundi porque estamos 
mudando as peças de lugar no estoque. Mas já trago sua 
água. 
— Não precisa mais, já vou indo. — E saiu sem agra-
decer ou ao menos se desculpar. 
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Liguei aos prantos pra minha mãe como um pedido 
de socorro. Nessas horas, conselho de mãe é conselho di-
vino e só ela poderia acalmar meu coração. Alguma vez 
na sua vida você sentiu como se estivesse encurralada 
em uma situação e não enxergava nenhuma saída para 
aquele momento? Você olhava pra frente e apenas via 
uma nuvem tapando qualquer perspectiva a que você 
pudesse se agarrar? Era assim que eu me sentia. Sem for-
ças para dominar meu estresse emocional, sem brilho pra 
buscar meus sonhos e sem esperança para mudar minha 
perspectiva.— Então pede demissão agora, eu não gosto de te 
ver assim, Zizi. — Era o aval de que eu precisava para se-
guir em frente, eu sempre precisei muito de uma libera-
ção externa pra tomar decisões importantes da minha 
própria vida. 
— Mas eu vou viver de que, mãe? Fotossíntese? — 
Como sempre, pensando em dinheiro, a gente se apega 
a isso de tal forma... 
— Não, você vai economizar o dinheiro que ga-
nhou, já vai lançar seu primeiro livro e tudo bem. Vai ser 
apenas um mês sem trabalhar. Você foca em coisas no-
vas, Duda. — A voz dela parecia trêmula e abalada. 
— Ok, então eu peço demissão amanhã, mas com 
medo do futuro que me espera. — Eu estava apavorada. 
— Do futuro, ninguém tem domínio, mas seu pre-
sente é você quem faz! Sai logo disso e vai viver. 
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Era isso que eu precisava ouvir, sabe? Tem horas que 
o conforto e a palavra de quem te botou nesse mundão 
soa como um abrigo pro coração e um sorriso pra alma. 
E aí você respira mais aliviado por saber que não está e 
nunca estará sozinho. 
Arrisco dizer que o dia que antecedeu meu pedido 
de demissão foi um dos dias mais caóticos da minha vida. 
Eu não pregava o olho. Era um misto de alívio com incer-
teza que dominava todo meu corpo. Sempre que temos 
que tomar uma decisão em nossas vidas nós lidamos com 
sentimentos muito profundos. Isso porque tomar uma de-
cisão nunca é algo que transmite nossa real certeza mo-
mentânea. Sempre resta uma dúvida, insegurança e 
questionamento. Existe uma frase que diz: a vida começa 
com coragem e termina com gratidão. Por mais convicto 
que você esteja do que você quer mudar, você vai pre-
cisar de muita coragem. E ser corajoso é uma atitude no-
bre, porém extremamente desgastante. Tomei três mela-
toninas na esperança de dormir e não fizeram nem cos-
quinha no meu sono. A noite, no caso, foi repensando 
tudo mesmo. 
No dia seguinte, tomei um café da manhã delicioso, 
eu estava a um passo de finalmente fazer algo pelo meu 
bem-estar pessoal. Abri o grupo de festas de que agora 
fazia parte e li a seguinte mensagem: 
 
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“Festinha domingo, só pra convidados! Vai ser bom pra geral se co-
nhecer melhor. Podem pegar algumas cervejas com o Henrique mais 
tarde! Só vamos!” 
 
Se aquilo não era uma mensagem do divino, nem 
sabia mais o que era. Ia comemorar meu desemprego 
domingo e naquele dia mesmo ia gelar aquela cerveja 
pra comemorar o novo passo. Tinha como ficar melhor? 
Minha chefe chegou e imediatamente a puxei para 
conversar. Expliquei toda a situação, e ela, com o olhar 
triste, porém feliz pela minha sinceridade, abriu um sorriso 
e me desejou nada mais nada menos do que felicidades. 
— Então, mocinha, espero que você trilhe agora o 
caminho dos seus sonhos, fico feliz que foi honesta co-
migo — completou. 
— Obrigada por entender e pode deixar que eu vou 
cumprir o aviso prévio — respondi, aliviada. 
— Ótimo, assinamos sua carta de demissão na se-
gunda-feira. 
Olhei pra ela com a certeza de que tinha feito a es-
colha certa. Seria apenas um mês a mais ali dentro, e eu 
já não teria aquela pressão que me atormentava tanto. 
Tudo certo, novo ciclo, nova fase. No horário de almoço, 
mandei uma mensagem pro Sr. Prazer para buscar mi-
nhas cervejinhas pro final de semana, ainda aproveitei 
pra soltar um flerte, afinal, a gente ficou desempregada, 
mas continua dando trabalho, né manas? 
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“Oi, Henrique, preciso pegar as cervejas com você mais tarde. Pode ser 
às 18h? E ah... tem alguma gelada aí? Pedi demissão, então preciso 
relaxar”. 
 
Eu estava afiada no quesito solteirice, o que uma 
dose de amor próprio e autoconfiança não fazem, hein 
irmãs? A verdade é que, quando você se sente segura 
em relação a você mesma, nada nem ninguém tira essa 
paz interior que você conquistou pós término. É como um 
passarinho saindo da casca e aprendendo a voar. Eu sei 
que é meio brega pensar dessa forma, mas imagina só! 
No começo, ele não voa muito bem, leva algumas que-
das e tropeções, mas, quando pega o ritmo, meu par-
ceiro, o bichinho vai até a Austrália com toda essa liber-
dade e força de vontade. 
 
“Oi, Duda, confirmado! Vou esperar você aqui e prometo a cerveja ge-
lada pra gente comemorar seu desemprego” 
 
Entrei no escritório meio sem graça, olhei para os la-
dos e nada dele lá. Sério que ele não estaria presente? 
Eu inclusive já tinha ensaiado meu flerte tímido para 
aquele momento. Virei de costas, e lá estava ele: 
— E aí? Como você está? — perguntou, dando uma 
risadinha. 
— Bem e desempregada... — completei com a voz 
baixa 
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— Eu sei, espera aí. — E de repente ele tirou uma 
cerveja da geladeira do canto. Dei uma risada tímida e 
aceitei. — Por que você pediu demissão? 
— Eu odiava aquele trabalho... — O que não era 
uma mentira, mas vamos se controlar porque eu não ti-
nha intimidade. Eu não podia ver uma oportunidade de 
desabafar com alguém que já começava, já dizia Seu 
Antônio, meu porteiro. 
— Eu também odiava o meu anterior... Já trabalhei 
no mercado financeiro e foi um estresse... Mas passa! 
Você vai ver que agora as coisas vão mudar. 
Então, ali tínhamos duas questões a serem analisa-
das: 
 
1) Se lembra quando eu disse que apenas 30% da popula-
ção está realizada profissionalmente? O Henrique já esteve do 
outro lado da moeda e ele mudou a perspectiva dele. As coisas 
não acontecem com facilidade pra todo mundo, mas sempre 
preferimos julgar o livro pela capa e pensar que nossa vida é 
sempre a mais complicada. Com certeza ele ralou muito pra 
encontrar o emprego dos sonhos dele. 
2) “As coisas vão mudar”. Era mais que um conselho, era 
uma esperança de que essa fase ia acabar e eu poderia – final-
mente – me realizar no que eu de fato amava fazer. Ele tam-
bém já tinha passado por isso e me entendia. Empatia é a me-
lhor forma de compreensão. Tem algumas palavras que são 
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como café quentinho na manhã fria da segunda-feira, aquecem 
a alma e dão um gás. 
 
— Então, você veio de carro ou pediu UBER? Posso 
deixar as bebidas no porta-malas pra você — pergun-
tou, friamente. 
— É... – Outch, eu esperava pelo menos que a gente 
conversasse por mais alguns segundos e não um fora as-
sim de cara. — Eu vou pedir o UBER agora. 
— Ok, sem problemas. — Ele sentou na sacada da 
janela e continuou falando comigo. Olhei pro meu lado 
e tinha uma cadeira totalmente vazia. Custava sentar 
mais perto de mim? Será que eu estava fedendo? — An-
siosa pra domingo? 
— Sim, muito! Vou com minhas amigas, você co-
nhece elas eu acho.. A Carol, a Bruna... 
— Você é amiga delas? Essa cidade é pequena 
mesmo, nunca te vi. — Olhei para ele com uma cara de 
deboche, e ele riu. – Desculpa, sempre corro tanto nesses 
eventos que, às vezes, acabo me perdendo nas pessoas. 
— Meu UBER chegou, pode me ajudar? — respondi, 
seca. 
Ele desceu comigo até o carro e colocou as bebi-
das no banco traseiro, me despedi com um beijo e um 
abraço. Ele olhou pra mim e falou: 
— Fica bem, você vai ser mais feliz fora desse lugar 
que te fazia mal. 
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Tu tem força, menina! 
 
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Naquele momento – obviamente, pois vocês me co-
nhecem – eu já planejei toda nossa lua de mel e casa-
mento. Sim, sou intensa. Respeitem, pois sei que vocês 
também são. O que acontece é que tem algumas pes-
soas que têm o poder de não saírem da nossa cabeça. 
Deveria inclusive existir um shampoo de esquecimento 
para esses casos. Elas ficam ali, na sua mente, lembrando 
que existem.Você está muito bem vivendo sua vida e até 
um simples copo de água te faz recordar a criatura em 
questão. É assustador. Você muda o foco, a atenção, 
troca o discurso e, de repente, lá volta aquele pensa-
mento. Sabe o nome disso? Paixão fulminante. 
Se eu pudesse explicar metaforicamente o que seria 
uma paixão à primeira vista, eu usaria comida como 
exemplo. Vamos supor que você vai em um restaurante 
e come um prato delicioso que, além de mexer com sua 
barriga, mexe com seu psicológico. Aquele que te faz 
lembrar alguma memória afetiva, sabe? Pois bem, pai-
xões são assim. Marcantes como um bom prato de massa 
ou um delicioso hamburger. E o problema de comidas as-
sim é que você quer muito repetir, até um momento 
quando ela se torna sua preferida, e isso significa que vira 
amor, ou você enjoa, o que te comprova que não era 
paixão, e sim fogo no rabo. 
Bem, eu já sabia que queria bastante ficar com ele, 
mas eu não sabia se ele queria muito ficar comigo. E a 
insegurança era a chave para a paranoia. Nós precisa-
mos urgentemente parar de sofrer por antecedência. Eu 
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sou uma dessas pessoas que não consegue não ter con-
trole da situação, e, se eu não consigo ler perfeitamente 
os sentimentos do outro, isso me causa pânico. Só que – 
cá entre nós – não temos domínio do nossos próprios sen-
timentos. Quantas vezes nos desesperamos por não saber 
exatamente o que sentimos, o que queremos, de quem 
gostamos? A gente sempre acha mais fácil entender o 
outro e arriscar palpites, sendo que nós mesmos somos 
uma caixa de surpresas pra gente. E aí a paranoia toma 
conta de uma situação que ainda nem aconteceu e 
nem sabíamos se iria acontecer. Prazer, essa é a vida de 
uma pessoa ansiosa. 
Domingo chegou e, com ele, os batimentos cardía-
cos acelerados. Uma mulher decidida da mira dela não 
quer guerra com ninguém, a não ser que a guerra seja 
com a sua impulsividade própria. O dia estava sem uma 
nuvem no céu, meu cabelo – ainda bem – acordou de 
bom humor, minha roupa – que eu já tinha trocado mais 
de 100 vezes – estava sensacional, e minha autoestima, 
elevada. Pronta pro ataque. Exceto por um motivo. 
— Você emagreceu muito, amiga, que dieta é 
essa? — curiosa, Carol me questionou. 
— Acho que foi o nervosismo da demissão, não te-
nho comido muito bem... — Eu não tinha apetite algum, 
no máximo duas refeições por dia. 
— Nossa, Duda, mas você emagreceu muito 
mesmo. Isso não pode ser saudável — interrompeu Bruna 
enquanto me olhava com aquele julgamento de mãe. 
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— Gente, qual foi? Estou magra demais, ok, mas eu 
recupero. Vou passar muito tempo em casa comendo 
doritos e óreo. — Enquanto me levantava da cama, uma 
tontura me fez enxergar tudo preto ao meu redor. 
— Que foi? Por que você está pálida feito um pal-
mito? — Carol me segurou, e eu apertava sua mão com 
força para não cair. 
—Acho que levantei muito rápido. Eu tenho pressão 
baixa, deve ter sido isso. — Dei de ombros e andei em di-
reção ao banheiro. 
— Eu acho que você deveria comer algo, vou fazer 
um sanduíche. — Bruna saiu e foi para cozinha fazer um 
misto quente, Carol a seguiu, e eu ouvia elas cochicha-
rem sobre mim. 
— Sinceramente, ela tá muito branca — sussurrou 
baixinho. 
— Ela é muito branca, Carol. Você já viu a Duda ir à 
praia sem ser pra tirar foto pro instagram? — Será que elas 
sabiam que meu apartamento só tinha cinquenta metros 
quadrados e que era possível ouvir tudo? 
— Ok, mas você não acha esquisito essas tonturas? 
Esses dias a gente foi almoçar, e ela quase desmaiou. Eu 
acho que ela pode tá grávida. Quanto tempo ela e o 
João não transam? Deus me livre ele ser o pai... 
— EEEEI, JÁ FAZ 4 MESES! — dei um grito do banheiro. 
— Não era pra você ter ouvido isso! — Bruna gritou 
de volta. 
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— Não era pra vocês cochicharem sobre minha 
vida sexual pelas minhas costas e dentro da minha casa. 
E vocês são malucas, como eu estaria grávida se acaba-
ram de falar que eu estou mais magra? — Eu tinha mens-
truado há uma semana, impossível ter um bebê ali. 
— Conheço uma série da HBO que investiga gravi-
dez de meninas que não sabiam que estavam grávidas. 
Uma delas não tinha barriga até o oitavo mês. — Carolina 
sempre com comentários desnecessários. 
— Ótimo, agora vou ter que ir na farmácia comprar 
um teste. Obrigada, Carol — respondi friamente en-
quanto comia meu sanduíche. 
— Ninguém aqui está grávida, certo? Mas você pre-
cisa se alimentar melhor. — Bruna me deu mais um san-
duiche. 
— Não estou grávida, mas hoje irei beijar o futuro pai 
dos meus filhos. — Apertei sua bochecha, e ela me deu 
um tapinha no ombro. 
— Eu amo a intensidade dessa menina — retrucou 
Bruna. 
Intensidade era palavra de ordem no meu vocabu-
lário. Sempre fui e sempre serei intensa. Mania das pes-
soas de quererem botar o pé no freio. Ninguém sabe o 
dia de amanhã. Um dia você está aqui e, no outro, sim-
plesmente você pode não estar. E aí você vive sua vida 
com aquele ar de cuidado e precaução na tentativa de 
se blindar de – unicamente – viver. 
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Cheguei na festa, e o Henrique foi a primeira pessoa 
que vi. Olhei de longe ele correndo de um lado pro outro 
com todo aquele ar de sabichão ariano. Obviamente, eu 
já tinha investigado o mapa astral dele. Minhas amigas 
foram para o bar pegar bebida, e eu continuei estática 
no mesmo lugar. A Gabi veio em minha direção, e ele 
logo atrás. Comecei a suar frio como uma adolescente 
com hormônios aflorados. Eu o cumprimentei com dois 
beijinhos e, logo em seguida, ele já pegou o rádio para 
dar bronca em alguém. 
— Preciso que mostrem mais o rótulo da cerveja. Da-
qui de baixo, não dá pra ver. Mais pra direita. Não, tá er-
rado assim. Não pode isso — reclamou em alto e bom 
som. — Desculpa, vou resolver umas coisas depois nos fa-
lamos? 
— Ok, a gente se vê — respondi com timidez. 
— Ei, amiga. Sem dramas! Ele tá trabalhando. — 
Logo a Gabi, minha amiga mais surtada e insegura, que-
rendo me dar sermão. 
— Gabriela, você só pode tá me zoando com essa 
good vibes toda... 
— Amiga, eu conheço ele há anos, ok? Ele é muito 
focado no trabalho. O chefe dele pega no pé depois. E 
eu não duvido que, quando acabar tudo, ele converse 
com você. Não surta. Pelo menos, você não tá interes-
sada no DJ, porque aí você teria que esperar a festa aca-
bar... 
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— Se fosse com você, você já estaria surtando, né 
linda? — Eu conheço bem minhas amigas 
— Justamente, mas é sobre você. 100 mil seguidores 
no instagram, conselheira amorosa, rainha do amor pró-
prio e influenciadora digital. Custa ser um pouco na vida 
o que você é nas redes sociais? — Outch, doeu! 
— Nas redes sociais, eu também mostro que sou a 
louca que sempre dá errado com todos os caras... — Não 
era uma mentira. 
— Ok, bonita! Enquanto o príncipe não convida a 
princesinha para a valsa, ela dança com as amigas. Va-
mos? — Pegou minha mão que estava fria como um gelo. 
— Quê? Como você pode tá tão gelada nesse calor? 
— Não estou gelada, é só nervosismo por ter visto 
ele. — Claramente muito apaixonada e com alguns ca-
lafrios esquisitos. 
— Eu dou um prêmio pro Henrique se ele te fizer es-
quecer o Bernardo e o João em um único tiro certeiro. — 
Ri, e ela continuou — E te dou o Nobel se você fizer ele 
esquecer aquela ex dele. 
— E eu te dou um prêmio se você parar de falar de 
ex, você sabe que odeio esse papo. — Me irritei e saí an-
dando para o palco. 
— Ei, para de drama. Tenha paciência e calma, ele 
tá a fim de você amiga!Ter calma e paciência. Nunca fui uma pessoa pa-
ciente. Pelo contrário, eu era justamente o oposto que a 
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palavra paciência propunha. Sempre quis ter tudo na 
mão e me irritava quando as coisas não saíam como o 
planejado. Eu tinha um script de toda minha vida deta-
lhada para os próximos três meses. Eu tinha inclusive uma 
lista de metas que eu deveria bater em um, cinco e dez 
anos. Metas essas que incluíam sonhos absurdos que não 
dependiam só de mim para serem solucionados. Por 
exemplo: eu deveria casar, ter filhos e ter minha casa pró-
pria antes dos trinta e dois anos. Mas e se eu não encon-
trasse um marido até lá? O que eu faria? Surtaria obvia-
mente, pois eu não poderia dar check nesse item. 
Existe um ditado milenar e que muitos de nós já ou-
vimos em momentos difíceis: “viva um dia de cada vez”. 
Essa é uma dessas lições que recebemos em um biscoito 
da sorte chinês e sempre gostamos de falar quando ve-
mos alguém querido passando por situações complica-
das. Só que, do lado oposto, quem escuta essa frase 
sente uma vontade incalculável de socar a cara de 
quem promove esse discurso. 
Entrega. Ato de entregar-se. Dar. Doar-se. A ver-
dade é que nós todos recebemos uma missão, todos sa-
bemos que temos um propósito neste plano espiritual, 
mas, ao longo da vida - pelas cobranças e afastamentos 
-, nós nos desconectamos dele. E aí o tempo para e te 
relembra da sua importância em Terra e de seu efeito de 
mudança e evolução. Não só pra você, mas pra todo o 
universo. 
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A vida é uma verdadeira entrega sem conhecer o 
caminho. Você não tem como saber como estará daqui 
um, cinco ou dez anos. Você pode planejar muito, mas 
não tem como ter a convicta certeza de como tudo es-
tará. E pessoas ansiosas sofrem em não ter essa previsão. 
A imprevisão corrói e te deixa maluco. 
A vida não te mostra um trailer do que vem por aí, 
ela não prepara o terreno, muito menos te coloca um si-
nal florescente piscando para que você note que: “Ei! 
Você não está aqui só de passagem, você tem uma li-
ção”. Ela não te cobra, mas ela te dá sinais. E você fica 
aí fugindo deles, achando que o que importa é viver 
aquela vidinha de passagem dando os “ok’s” diários 
como se sua vida fosse uma lista de mercado. Não é as-
sim. E a vida te dá oportunidades, mas você prefere des-
perdiçá-las focando no que não te acrescenta nem te 
importa. Prefere reclamar da segunda-feira, do dia chu-
voso, do trânsito parado e do dia não aproveitado. Pre-
fere focar em pedir, em não agradecer, em reclamar do 
viver e do que você tem que fazer. 
Pois bem, a vida não é cruel, nós somos. E então a 
vida vem te parar e comunicar: “aqui está seu mais novo 
desafio”. E o que fazemos? Reclamamos mais uma vez. 
Recebemos como um castigo aquilo que pode ser utili-
zado como oportunidade de evolução, nos vitimizamos e 
gritamos aos quatro ventos “por que isso só acontece co-
migo?”. Nos esquecemos que (re)clamar nada mais é 
que clamar para que aconteça novamente. Por isso, 
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antes de pedir para que o universo reentregue a mesma 
lição que ele está há anos tentando te ensinar, aprenda 
com ele o que você precisa lidar para, assim, solucioná-
lo. Não fuja dos sinais, nem tenha medo da falta de pre-
visão. Afinal, os planos do divino são sempre muito maio-
res e melhores do que os nossos, mas preferimos não en-
xergar por medo de nos entregarmos. 
O medo da entrega, de deixar na mão do universo, 
Deus, ou queira lá como você prefira chamar, é muito en-
carado por muitos como: falta de responsabilidade. Al-
guns enxergam até como preguiça ou desleixo. Não é 
pra ser assim. Não é que você vai deixar a vida te levar e 
ficar flutuando como uma nuvem no céu, a verdade é 
que: VOCÊ NÃO PRECISA TER CONTROLE DE TUDO. E tudo 
bem! A gente precisa aprender a enxergar a beleza do 
percurso. Respire em momentos que saem do controle, 
são neles que o verdadeiro significado de viver aparece. 
E, naquele dia, eu respirei, respirei tanto que achei 
que fosse faltar ar para os que estavam ao meu redor. Já 
tinha escurecido e, até então, nenhum sinal do Henrique. 
E tudo bem! Porque eu estava com minhas amigas dan-
çando e lidando muito bem com toda aquela ansiedade 
de “vai ou não vai”. 
Por um instante, olhei para o lado e percebi que o 
Vicente não estava mais ali, perguntei a todos sobre no-
tícias dele e ninguém sabia onde ele estava. Olhei pra 
trás e notei que a ex-namorada maluca dele estava 
perto e então já percebi tudo: ele devia ter ido embora 
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com raiva. Saí correndo em busca do meu melhor amigo, 
pois sabia que ele devia precisar de mim e, então, esbar-
rei com o Henrique. 
— Opa, opa, tá fugindo de quem mocinha? — per-
guntou, intrigado. 
— De ninguém, você viu o Vicente? Estou atrás dele. 
— Eu estava aflita. 
— Serve aquele ali atracado com a menina perto 
da árvore? — Ele apontou e enxerguei o danado aos bei-
jos. E eu achando que ele estaria sofrendo por ex. 
— Errr.... serve — respondi, tímida. — Achei que ele 
precisasse de mim, enfim vou indo. — Saí na direção con-
trária. 
— Espera. — Ele segurou minha mão e, naquele mo-
mento, tenham certeza de uma coisa: eu não sentia mais 
meu corpo. — Quer uma? — ele me entregou uma cer-
veja. 
— Achei que já tivesse acabado seu horário de tra-
balho. — Dei uma risada. 
— A parte boa de trabalhar com cerveja é que sem-
pre tenho uma pra oferecer... 
— É, podemos dar sequência a uma boa amizade 
se você continuar me dando uma cada vez que a gente 
se encontrar. — Ele me olhou torto. — Ou não também — 
respondi mais seca. 
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— Você pode achar esquisito, mas eu pensei em 
você desde o dia daquela reunião. — Ele ficou vermelhi-
nho, acho tão fofo meninos tímidos. 
— Conheço esse papo — E conhecia muito bem. — 
E a recíproca é verdadeira. — Ri. 
Eu não preciso nem falar que, depois disso, nos bei-
jamos. Não foi um beijo normal, foi mais um daqueles bei-
jos mágicos em que nos filmes a mocinha levantaria a 
pontinha do pé e uma trilha musical romântica tocaria ao 
fundo. 
Eu sempre tive dedo podre para relacionamentos, 
sempre me decepcionei muito no amor, mas um fato era 
verdade: eu nunca deixava de acreditar que o amor po-
deria dar certo. Algumas vezes, eu ainda caía naquele 
papo cafona de: “eu vou pra azaração, não estou nem 
aí pra romance”. Mas, no fundo, aquela vontade de ca-
funé e cheirinho de domingo com sofá quentinho palpi-
tava no meu coração. 
Eu sentia falta de ter um companheiro e não era por 
não me amar ou por não conseguir ficar sozinha. Pelo 
contrário, eu já sabia esse alfabeto completo. Sabia en-
carar a sexta à noite chuvosa sozinha, o sábado de noite 
em casa tomando um bom vinho e a segunda-feira can-
sativa depois de um domingo. Eu sabia que minha própria 
companhia seria meu maior templo e fiel escudeiro, mas 
tinha horas que dava falta, sabe? Falta de ter alguém pra 
simplesmente compartilhar. Eu sentia falta de um 
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relacionamento porque amar é um sentimento muito 
bom e genuíno pra ser desperdiçado. 
As pessoas banalizaram muito o amor. Estragaram o 
real sentido dele com tantos medos e inseguranças. Re-
lações amorosas se tornaram rasas, agora é sexo e cada 
um pra sua casa. Eu queria muito mais que isso, eu queria 
um companheiro. E o que há de errado em querer um 
pouco de amor? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PAIXÃO FULMINANTE 
 
Oi, então, estou te entregando meu coração e, com isso, quero te dizer 
algumas coisas. Ele é frágil, pois já foi muito despedaçado. Ele é frio, 
pois já aqueceu ambientes que não o mereciam. Ele é espinhoso, pra 
se defender de mãos que podem tentar amassá-lo. Por fora, ele não fi-
cou em bom estado, mas, se tiver a capacidade de vê-lo por dentro, 
você há de se surpreender. Amar me fez ter medo de acreditar. É que 
nesse conto de falhas da vida real tudo é meio torto e errado, esquisito 
e bizarro. Nessa loucura de tentar dar mais uma chance - talvez a 
centésima -, as coisas saíram um pouco do controle e resolvi deixar 
rolar. Primeiro, me desculpa se, às vezes, eu não acredito em uma pa-
lavra do que você fala, pois uma vez já me deram o dicionário inteiro 
de mentiras. Depois, me perdoa por não conseguir falar o que sinto, 
perdi a voz depois de gritar aos quatro ventos que eu amei quem não 
merecia isso. Eu tenho esse jeito meio desastrado de me relacionar, 
essa vocação maluca de sofrer por amores infundados. Essa loucura 
de suposição. Esse pé atrás cheio de indecisão. Mas, dessa vez, eu vou 
finalmente entregar. Faz um favor pra mim? Cuida bem dele. Se al-
guém mais o machucar, acho que não vai ter outra solução que não 
seja enterrar. 
 
Desse dia em diante, não nos desgrudamos, eu me 
apeguei ao Henrique como uma menina de quinze anos 
que acabava de se entregar pela primeira vez. Sabe 
todo aquele papo de “não entra de cabeça”, “vai com 
calma”, “não se apega tão rápido”? Minha amiga, eu jo-
guei todo esse manual de instruções no lixo. 
Embora uma parte de mim mandasse eu ter certa 
cautela com tanta afobação, outra voz ecoava dentro 
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e falava “vive isso, sim, você merece”. Eu sabia o que eu 
merecia. Merecia ser feliz e pronto. Mas dá tanto medo, 
não é? Medo de machucar o mesmo machucado. 
Porém, apesar da insegurança do “e se eu me de-
cepcionar de novo?”, eu resolvi deixar fluir, e foi bom. A 
verdade é que foi deixando fluir que eu percebi que esse 
coração despedaçado ainda era capaz de amar. Fazia 
tempo que eu não tinha mais brilho no olhar ao falar de 
alguém nem sorria boba olhando uma mensagem no ce-
lular. O Henrique despertou isso em mim. 
Eu ainda tinha muitos medos, alguns que não pode-
riam ser solucionados tão facilmente assim. Feridas passa-
das, algumas até abertas e não cicatrizadas. Mas eu pa-
rei de me cobrar e de me sentir culpada por apenas sen-
tir. E eu - finalmente – senti novamente. E que maravilha é 
o arrepio na alma, borboletas na barriga e pernas bam-
bas e descontroladas. 
Eu me enfiava dentro de um duelo em que a razão 
exigia que eu lembrasse de tudo que já tinha aprendido 
ao longo de uma vida de quebrar a cara, e o coração 
queria apenas me fazer sentir, sem ter que me prender. E 
nessas horas, quem devemos ouvir? 
Quem grita mais alto é que merece ser escutado. E 
meu coração exigia que eu vivesse aquilo ali, sem medo, 
sem angústia, apenas com leveza. A gente tem vivido de 
esperas e esquecemos de dar o pontapé inicial, espera-
mos o amor pra expressar amor e, por isso, vivemos com 
tanto medo de amar. Partir na frente exige coragem, 
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amor não é para os fracos. Amar requer valentia. Dizem 
que o amor dói porque não amamos, ou porque não é 
correspondido, mas, às vezes, é por amar demais que 
sentimos tamanha dor. Esse amor que se manifesta não 
deve ser economizado, mas sim ser muito bem entregue. 
Amor não é egoísmo, é se doar. Tenho pensado em como 
nós tomamos as decisões na intenção de sermos felizes, 
mas isso nos torna egoístas. Nós devemos - mesmo - é to-
mar nossas decisões por amor, só ele é capaz de sarar a 
dor causada por sua falta aqui na Terra. O amor cura, 
mas, pra curar, a sua missão é amar primeiro, sem ver 
quem nem pra que, sem intuito e sem razão, sem esperar 
e querer receber, apenas por amar e ser. 
Quatro dias depois que ficamos pela primeira vez, 
tivemos nosso primeiro encontro. Eu suava como um 
porco, tomei um banho de perfume e tentava conter a 
ansiedade a qualquer custo. Era impossível. Por que pri-
meiros encontros mexem tanto com nosso psicológico? 
Abri o guarda-roupa mais de nove vezes em busca 
de alguma roupa que me deixasse à altura do que seria 
aquele momento. Nada ficava bom. Aos poucos, o 
tempo ia passando, e o desespero se instalava. Amigas, 
dica importante: prepare a roupa do primeiro encontro 
com, no mínimo, uma semana de antecedência. E tenha 
a certeza de uma coisa: você vai se produzir inteira, eles 
vão apenas procurar uma blusa preta e passar perfume. 
— O que você acha dessa? – mostrava a roupa pelo 
facetime para a Gabi. 
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— Gosto, mas você não acha que tá muito arru-
mada? — Ela se encontrava de pijama comendo uma 
panela de brigadeiro. 
— Eu nem sei mais o que é ter um primeiro encontro, 
todos que eu tinha com o João eu estava bêbada. — 
Procurei outra blusa mais despojada. 
— Amiga, eu gosto de te ver assim. — Ela parou e 
me olhou pela tela do celular 
— Nervosa? Que tipo de amiga você é? Estou à 
beira de um colapso. 
— Não, amiga, eu gosto de te ver assim, leve... Sem 
ter domínio do que vai vir. Eu sei que você odeia quando 
jogo expectativas, mas sinto que vocês dois vão se encai-
xar muito... — completou. 
— Só vamos nos encaixar se eu arranjar uma roupa 
pra esse momento, senão nem primeiro encontro vai ter. 
— Minha respiração acelerava cada vez mais. 
— Você tá linda! Bom encontro. Me liga quando ter-
minar... Isso é se terminar hoje... 
Primeiros encontros causam tormento por medo do 
desconhecido. Seria ótimo se viesse acompanhado de 
cinco minutos de trailer pra gente ter certeza de onde 
está se metendo. Como isso não é possível, nós mergulha-
mos em um mar de incertezas, o que explica o frio na bar-
riga. 
A verdade é que você tem 25% de chance de ter 
um péssimo encontro, daqueles que te dá a certeza de 
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que você não quer repetir aquilo. Você tem 25% de 
chance de ter algo indefinido – e esse é um péssimo caso 
– que te dá a possibilidade de ter um segundo encontro 
para tirar a dúvida. Outros 25% de certeza de que foi 
muito bom, e você quer repetir. E 25% de certeza que 
você quer continuar tendo essa pessoa na sua vida por 
muito tempo, pois você já está apaixonada. Eu nunca fui 
boa em matemática, tampouco em estatísticas, mas, de 
uma coisa eu tenho certeza: números podemmentir, mas 
o coração não. 
Meu primeiro encontro durou oito horas. Primeiro, fo-
mos comer sushi, e o restaurante fechou. Então, fomos 
para um bar continuar com o papo. O bar fechou. Con-
tinuamos sentados lá fora enquanto víamos os funcioná-
rios recolhendo as cadeiras e mesas. Todas as mesas e 
cadeiras foram recolhidas, não restou ninguém na rua. 
Decidimos ir para minha casa. 
Você pode pensar que foi uma atitude precipitada. 
Muitos vem com o discurso do “não se pode fazer sexo no 
primeiro encontro”. Eu sou uma dessas que acha que não 
é a melhor coisa a ser feita, mas, ali, eu só queria aprovei-
tar o momento. 
É tão difícil a gente encontrar alguém interessante 
que, quando isso acontece, a gente guarda o bilhete da 
loteria, pois vale muito. Ainda é mais difícil você encontrar 
alguém em que a química é tão boa quanto a pessoa. 
Relacionamentos humanos são complicados. Às ve-
zes, a pessoa é legal, mas o sexo é uma droga. Às vezes, 
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o sexo é incrível, mas a pessoa não está nem aí pra você. 
E então, quando você encontra alguém cuja combina-
ção de sexo e pessoa é a perfeita, ela acabou um na-
moro recentemente e não quer se envolver. Pois bem, 
adivinha qual o meu caso? Exatamente. 
Eu já tinha lidado com recém solteiros, e eu também 
em algum momento da vida já tinha sido uma. Eu sabia 
o quanto o fantasma do ex batia na porta e deixava a 
gente confuso, sabia que era muito arriscado me entre-
gar assim pra alguém que tinha acabado um namoro de 
– pasmem – sete anos. Era óbvio que eu estaria brincando 
com fogo, mas era como eu sempre dizia: aquariana 
com ascendente em áries. Não entendeu o que signi-
fica? Eu traduzo: EU NÃO IA DESISTIR DELE. 
Aos poucos, a gente foi construindo uma história, de 
forma intensa, porém respeitando os limites dele. A ver-
dade é que, embora eu respeitasse, sabia muito bem o 
que queria: namorar. Se apegar é muito fácil quando o 
coração já está preparado pra amar, e é ainda mais fácil 
quando há recíproca. Imagine só dormir juntos todos os 
fins de semana, tomar vinho aos sábados à noite, almoço 
na sexta à tarde e netflix no domingo à tarde. Tem como 
não se apaixonar? 
— Acorda, o despertador tá tocando. — Joguei os 
braços dele pra longe de mim, e ele voltou a me abraçar. 
— Cinco minutos agarradinho e prometo que já vou 
— sussurrou no meu ouvido. 
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— Você vai chegar atrasado, lindo! — O QUÊ? EU 
CHAMEI ELE DE LINDO? Apelidos carinhosos são um 
grande passo em relacionamentos. — Vamos, eu tam-
bém preciso ir. 
— Ok, senhorita. Mas você tossiu muito à noite, não 
é melhor ir ao médico ver o que é isso? — Levantou-se 
rapidamente enquanto andava para o banheiro. 
— É, eu sei. Acho que devo estar com sinusite ou 
algo do tipo... 
— Linda, desde que a gente se conhece, você tá 
com essa tosse. 
Eu deveria me preocupar com minha saúde, mas 
naquele momento só conseguia me concentrar no 
“linda”. 
— Tá falando que eu atrapalho seu sono? Dorme na 
sua casa então... — Rainha do drama que chama? 
— Muito bobona. Quer jantar hoje à noite? 
E eu tinha mesmo que responder o óbvio? 
— Sim. Japa! 
— Não sei porque ainda pergunto. — Me deu um 
beijo enquanto colocávamos pasta na escova de dente. 
Esqueci de mencionar que escova de dente na 
casa do respectivo é um super grande passo na relação. 
— Por sinal, amanhã tem um churrasco de alguns 
amigos. Se você quiser ir comigo... — Olhei assustada, es-
perando a resposta dele. 
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Enquanto ele bochechava, eu pensava que talvez 
eu não devesse ter convidado. Eu estava indo rápido de-
mais naquele relacionamento, tudo bem agir com inten-
sidade desde que eu não criasse expectativas e me de-
cepcionasse (mais uma vez). Eu sei, sou intensa 90% do 
tempo, nos outros 10% faço drama por ter agido intensa-
mente. Mas fato era que o Henrique podia não ser assim 
e, então, eu estaria o sufocando. Eu não sabia, porque 
conhecia ele há no máximo vinte dias. 
Ele cuspiu o resto de pasta na pia e enxugou a boca 
com minha toalha de mão. Olhei discretamente para sa-
ber se ele iria ignorar a minha pergunta e tentei fingir na-
turalidade passando o fio dental. Aqueles segundos esta-
vam me matando. 
— Vamos! Me passa o endereço depois. — Uma to-
nelada acabava de sair das minhas costas com essa res-
posta. — Mas vai logo no médico ver o que é isso. Se-
mana que vem, tem a maior festa que essa cidade já viu, 
e quero você 100%. 
Agora era oficial: eu estava completa e perdida-
mente apaixonada. Como eu sabia disso? Te conto 
agora. Se seus pés tremem ao encontrar a pessoa, se suas 
mãos suam ao esperar por ela, se seus olhos brilham 
quando ela está diante de você e, se você sorri boba pro 
vento enquanto a vê passar, tenha certeza: é paixão. 
E não existe um comando ou um botão que você 
acione e coloque no modo reset para que pare de sentir 
tudo que você tem sentido. Pra ser sincera, caso esse 
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botão exista, eu só lamento, pois eu não tenho como 
apertar. O controle da minha vida amorosa eu já tinha 
perdido e estava apenas no piloto automático. Não tinha 
mais como colocar o pé no freio e, a cada dia que pas-
sava, eu me envolvia mais e mais. Só que, pra eles, a 
gente nega, não é? Finge que é só uma ficada e que 
tudo vai bem do jeito que for. Mas basta algo sair fora do 
script que a gente surta. 
O roteiro ia bem, mas toda história precisa de um 
turning point, ou seja, desfecho. Faltavam oito dias para 
a festa mais importante da vida do Henrique. A produtora 
dele esperava um ano inteiro pra fazer a maior festa de 
eletrônico do Rio. Uma das festas mais esperadas por to-
dos os cariocas e pela cearense aqui também. 
Fui pro pronto atendimento saber o que eu tinha e 
o porquê daquela tosse chata não sumir de jeito nenhum. 
Chegando lá, esperei ser atendida e recebi uma mensa-
gem da minha chefe perguntando se eu não iria traba-
lhar. Sim, eu ainda estava em aviso prévio. 
 
“Você não vem hoje?” 
 
Liguei imediatamente pra ela: 
— Laís, me desculpa. Estou no hospital fazendo exa-
mes pra saber que tosse e febre são essas que não so-
mem de jeito nenhum. Assim que eu sair daqui, vou pra 
loja. — Eu sabia que ela iria se incomodar. 
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— Ok, Duda! Vou aguardar. 
Entrei no médico e fiz um aparado de exames. Ele 
me passou remédios, mas não passava de uma sinusite 
normal. Uma semana me cuidando, e eu estaria perfeita 
para ser a primeira dama da noite na minha festa prefe-
rida e ao lado do meu cara preferido. Peguei o metrô e 
cheguei no meu trabalho, a Laís me chamou pra conver-
sar lá fora, e eu já sabia o que estava por vir. 
— Duda, não quero que fique magoada, mas eu tô 
vendo o quanto você anda cansada e não quero que 
você se desgaste mais. Você já teve inúmeras crises aqui, 
e eu penso muito na sua saúde. — A voz dela embargada 
dizia tudo, mas preferi perguntar pra ter certeza. 
— Eu tô dispensada? Não preciso vir mais trabalhar, 
é isso? — questionei ainda sem entender. 
— É, eu vejo o quanto você passa mal aqui. Isso é 
estresse acumulado. Só falta uma semana mesmo pro 
nosso contrato acabar, então acho que é uma boa você 
ficar em casa se cuidando... 
Aquele era um daqueles foras que a gente até 
gosta de receber. Eu estava exausta mesmo, e uma se-
maninha relaxando em casa antes de começar minha 
maratona em busca de entrevistas de trabalho ia me aju-
dar. 
No trajeto do ônibus, fui olhando a praia, e aquela 
sensação de liberdade e o ventinho gelado batendo no 
rosto eram como um novo começo.

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