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ANEXO TAXONOMIA/SISTEMÁTICA: GENES HOMEÓTICOS ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Os genes homeóticos são genes que participam do desenvolvimento de organismos e que determinam a identidade de segmentos individuais ou partes do embrião em seus estágios iniciais. A função normal dos genes homeóticos é conferir identidade espacial ou posicional inequívoca à célula em diferentes regiões ao longo do eixo antero-posterior do corpo. Esses genes indicam à célula se faz parte da cabeça, do tórax ou do abdômen do indivíduo. Os genes homeóticos são ativados após a expressão de outros genes envolvidos no desenvolvimento. No caso da mosca Drosophila melanogaster, são expressos em primeiro lugar os genes de polaridade do ovo, que determinam os eixos anteroposterior e dorsoventral do ovo; depois, entram em ação os genes de segmentação que determinam o número e a organização dos segmentos do corpo. Os produtos desses genes ativam os genes homeóticos que determinam a identidade de cada segmento. O termo homeótico vem do grego homeo, o que significa semelhante. Os genes homeóticos recebem esse nome porque, depois de sofrer uma mutação, eles adquirem a capacidade de transformar um segmento do corpo em uma réplica de outro. Exemplos típicos em Drosophila melanogaster são as mutações Antennapedia e Bithorax. A primeira resulta na aparência de pernas em vez de antenas na cabeça; a segunda provoca a repetição do tagma tórax, o resultado sendo a produção de dois tórax com suas respectivas asas e seus respectivos halteres (segundo par de asas, atrofiadas e modificadas em órgãos sensoriais nos Dípteros [moscas e mosquitos]). Embora inicialmente descobertos em Drosophila melanogaster, genes homeóticos foram identificados na maioria dos seres vivos, inclusive humanos. Nestes, como no Mutação Antennapedia em Drosophila melanogaster https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antennapedia2.jpg resto dos organismos, as mutações que afetam esses genes são responsáveis pelo aparecimento de alterações no desenvolvimento corporal. Os genes homeóticos codificam para proteínas reguladoras (fatores de transcrição) que se ligam ao DNA, e cuja função é ativar outros genes por efeito cascata. A maioria desses genes contém uma sequência altamente conservada de 180 nucleotídeos, chamada caixa homeótica (Homeobox). Essa sequência codifica a produção de uma região de 60 aminoácidos, chamada homeodomínio, dentro da proteína. O homeodomínio permite à proteína reguladora ligar-se fortemente à dupla hélice do DNA, o que, por sua vez, permite a essa proteína reguladora ativar outros genes por efeito cascata. Os genes homeóticos apresentam ligação física, ou seja, são organizados em complexos (clusters) dentro de um mesmo cromossomo. Eles mostram colinearidade espacial, ou seja, a ordem que eles mostram no cromossomo corresponde à ordem de expressão no eixo antero-posterior do animal. Os genes da extremidade 3' são expressos na parte anterior do animal, enquanto aqueles localizados na extremidade 5' são expressos na parte mais posterior dele. Há também uma colinearidade temporal: os genes na extremidade anterior do complexo são ativados em primeiro lugar e a expressão dos genes continua progressivamente ao longo do cluster até aqueles no extremo oposto (posterior). Até agora, diferentes tipos de genes com caixa homeótica (Homeobox) foram identificados: os genes Hox, os genes ParaHox e os genes NK. Genes homeóticos foram localizados nas plantas, como os genes com caixas MADS de Arabidopsis, que controlam o desenvolvimento de flores. Aspectos históricos As mutações homeóticas foram identificadas pela primeira vez em 1894, quando William Bateson observou que, às vezes, as partes florais das plantas apareceram nos lugares errados. Ele encontrou flores nas quais os estames cresciam no lugar onde cresciam as pétalas. Em 1918, Harrison realizou transplantes de fragmentos de mesoderme de nêurulas de anfíbios (nêurula: estágio embrionário que ocorre após o estágio gástrula e durante o qual ocorre a formação do tubo neural). Se a mesoderme fosse transplantada da região dos membros anteriores, o indivíduo receptor do transplante desenvolvia um membro anterior supernumerário. Harrison observou que, embora a mesoderme tivesse, nesses embriões, a aparência de uma camada uniforme, as células já “sabiam” de alguma forma a que parte do corpo elas pertenciam. Após Harrison, numerosos investigadores estabeleceram, com experimentos semelhantes, que a mesoderme constitui a camada celular crucial que especifica qual extremo do embrião é a cabeça e qual extremo é a cauda. A mesoderme de nêurula de anfíbios foi mapeada ou subdividida em campos morfogenéticos para vários órgãos: brânquias, antebraços, membros traseiros, cauda, etc. Em 1923, Bridges e Morgan isolaram em Drosophila melanogaster um mutante com quatro asas, chamado Bithorax, demonstrando assim que as transformações homeóticas tinham uma base genética. Em 1948, Edward B. Lewis descobriu que as transformações homeóticas poderiam ser devidas a mutações em genes individuais, mesmo que fossem necessárias centenas de genes ativos para desenvolver as asas e as pernas em sua localização anormal. Portanto, era razoável supor que as mutações afetassem os genes orientadores que dirigiam a atividade de vários genes subordinados. Lewis descobriu que o par extra de asas nos mutantes era devido à duplicação de um segmento do corpo, o segundo segmento torácico. A inatividade do primeiro gene do complexo Bithorax no segmento larval apropriado fazia com que outros genes homeóticos formassem asas em vez de halteres (nome dado ao segundo par de asas, atrofiadas e transformadas em órgãos sensoriais, nos dípteros). No final da década de 1970, Nüsslein-Volhard e Wieschaus sequenciaram os genes homeóticos que controlam o desenvolvimento do corpo da mosca da fruta (Drosophila). Eles observaram que em cada um desses genes, havia um segmento de 180 pares de bases praticamente idênticos. A sequência de aminoácidos que resulta da tradução desse segmento se liga ao DNA e ativa o processo de transcrição do DNA. Através do controle da transcrição, os genes homeóticos ativam o crescimento e o desenvolvimento das células. Em 1983, Gehring e William J. McGinnis descobriram que o gene Antennapedia continha uma sequência de DNA que também foi encontrada em outro gene de desenvolvimento. Esta sequência foi usada como uma sonda para localizar outros genes que continham a mesma região, isolando assim outros genes homeóticos. McGinnis descobriu que esta região conservada de DNA também é encontrada em outros invertebrados. Foi chamada homeobox ou caixa homeótica. Lewis observou que, em Drosophila, os genes homeóticos estão dispostos em cromossomos agrupados em complexos (clusters). Robb Krumlauf e Denis Duboule demonstraram que esses genes estão dispostos em uma ordem precisa sobre o cromossomo e que essa ordem corresponde ao local de expressão dos genes no embrião. Os genes localizados em uma extremidade são expressos nas regiões anteriores do corpo, enquanto que aqueles localizados na extremidade oposta são expressos na região posterior. Essa correspondência espacial foi chamada colinearidade. Em 1995 Lewis, Nüsslein-Volhard e Wieschaus receberam o Prêmio Nobel por seus trabalhos sobre genes homeóticos. Estrutura e função dos genes homeóticos Os genes homeóticos são agrupados em complexos (clusters) e codificam proteínas reguladoras que se ligam ao DNA (via o homeodomínio, resultado da tradução da caixa homeótica). Quase todos eles têm uma sequência constante de 180 nucleótidos que, como um todo, é chamado de caixa homeótica (homeobox). Essas sequências também foram encontradas em genes de segmentação e em outros que regulam o desenvolvimento espacial. As proteínas que esses genes codificam têm uma região variável cuja sequência de aminoácidos varia muito de uma espécie para outra e uma região altamente conservada ao longo da evolução em organismos multicelulares, constituída por 60 aminoácidos e chamada de homeodomínio. Este é codificado pela caixa homeótica (homeobox). Essas proteínas atuam como fatores de transcrição e têm a capacidade de se ligar a sequências reguladoras de outros genes, como intensificadores ou enhancers. Os homeodomínios estão estruturados em vários segmentos helicoidais, dos quais um deles, a hélice 3, se une ao sulco principal do DNA. União do homeodomínio da proteína Antennapedia à molécula de DNA Estrutura de uma proteína reguladora com homeodomínio. A hélice alfa 3 se une especificamente ao DNA Região variável Região conectora Homeodomínio Hélices https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Homeodomain-dna-1ahd.png https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Proteina-homeodominio.jpg Uma característica importante dos genes homeóticos é sua ligação física. Eles geralmente são agrupados no mesmo cromossoma, formando complexos (clusters). Ao longo da evolução, esses genes permaneceram geralmente agrupados, pois esse agrupamento é essencial para o desenvolvimento. Esses genes mostram o fenômeno da colinearidade espacial. Significa que além de estar no mesmo cromossomo, sua ordem corresponde à ordem de expressão no eixo antero-posterior do animal. Os genes da extremidade 5' são expressos na parte mais posterior do animal, enquanto os da extremidade 3' são expressos na parte mais anterior do animal. Há também uma colinearidade temporal. Na maioria dos animais, os genes em uma extremidade do complexo são ativados em primeiro lugar e a expressão dos genes continua ao longo do complexo até a extremidade oposta. Embora os genes homeóticos sejam encontrados em todas as células do organismo, eles se manifestam apenas em certas regiões do embrião. Quando um gene não é expresso em uma determinada região, as células embrionárias sofrem uma transformação homeótica, devido ao fato de que outro gene homeótico ativo nestas células pode substituí-lo por sua própria informação de posição. Isso acontece, por exemplo, na mutação Bithorax da Drosophila. Mutações que fazem com que um gene homeótico seja expresso em uma posição incorreta também causam a aparência de transformações homeóticas. Esta é a origem da mutação Antennapedia em moscas adultas, quando este gene é ativado na cabeça, onde esse gene deve estar inativo. Genes Hox en diversos organismos modelo Genes Hox en Drosophila melanogaster Os genes homeóticos em Drosophila melanogaster são agrupados em dois complexos (clusters) localizados no mesmo cromossomo, o cromossomo 3. O primeiro é o complexo Antennapedia (ANT-C) que regula o desenvolvimento da cabeça e dos segmentos torácicos anteriores da mosca adulta. O segundo é o complexo de Bithorax (BX-C) que inclui genes que regulam os segmentos torácicos posteriores e abdominais da mosca adulta. Ambos são separados por aproximadamente 8 megabases. O conjunto destes dois complexos foi inicialmente chamado de complexo HOM-C. A separação do complexo HOM-C em dois complexos em Drosophila é uma condição derivada, uma Lab: gene Labial Pb: gene Proboscipedia Dfd: gene Deformed Scr: gene Comba Sexual reduzido Antp: gene Antennapedia Lab: gene Ultrabithorax Abd-A: gene Abdominal A Abd-B: gene Abdominal B vez que insetos de constituição mais simples possuem um agrupamento intacto, como em Schistocerca, Tribolium ou Anopheles. O complexo Antennapedia é composto por cinco genes: Labial (Lab), Proboscipedia (pb), Deformed (dfd), Reduced Sex Comba (Scr) e Antennapedia (Antp). Os genes homeóticos do complexo de Bithorax são três: Ultrabithorax (Ubx), Abdominal-A (Abd-A) e Abdominal B (Abd-B). A ordem desses genes reflete sua ordem de expressão no corpo da mosca. O gene Labial é encontrado na extremidade 3' da cadeia de DNA e é expresso na cabeça. O gene localizado mais à direita, o Abdominal-B é expresso no final do abdômen da mosca. Embora a colinearidade espacial seja evidente, a temporal não é aparente, uma vez que os genes Hox da mosca são ativados quase simultaneamente durante o estágio do blastoderme e a embriogênese é muito rápida. Caenorhabditis elegans (um nematódeo) foi o primeiro organismo multicelular cujo genoma foi completamente sequenciado. Possui seis pares de cromossomos. Seis genes Hox foram encontrados neste nematódeo. Eles representam um pequeno grupo de genes Hox que resulta de perdas de genes dentro da linhagem dos nematódeos. Os seis genes de C. elegans não existem como um agrupamento contíguo. Existem três pares de genes distribuídos em um fragmento de 6,5 Mb com numerosos genes não homeóticos entre eles. Genes Hox en Branchiostoma (Chordata - Cephalochordata) Branchiostoma é um parente primitivo dos Vertebrados. Possui apenas 14 genes Hox em um único cluster. A organização genômica deste complexo único é semelhante à da maioria dos Vertebrados, como pode ser visto nos quatro complexos (clusters) de genes Hox dos Mamíferos. Ele contém pelo menos os primeiros dez grupos homólogos dos genes Hox de Vertebrados em um arranjo colinear. Esta organização é compatível com a ideia de que Branchiostoma é um representante vivo de um estágio intermediário crítico na evolução dos complexos Hox. Branchiostoma possui um gene Hox extra, o AmphiHox14m que não tem sua contraparte em vertebrados. Genes Hox en Mus musculus O camundongo (Mus musculus) possui quatro complexos de genes Hox chamados de HoxA, HoxB, HoxC e HoxD. Estes estão localizados em diferentes cromossomos, especificamente os cromossomos 6, 11, 15 e 4. Estes genes Hox são homólogos aos da Drosophila e, como nesta, eles são agrupados em locais específicos dentro dos cromossomos, na ordem 3' - 5', o que indica uma ordem de expressão de anterior para posterior. Existem mais genes Hox no extremo 5' do camundongo que na Drosophila. Isso ocorre porque as moscas não têm nada homólogo a uma cauda de cordado. Para o desenvolvimento adequado dos diferentes segmentos no camundongo, é necessário combinar os produtos dos genes Hox de cada um dos quatro complexos. Isso explica por que as mutações homeóticas em vertebrados são tão difíceis de ver. Enquanto que nas moscas, quando um gene é mutado, dá um efeito observável, no camundongo, deve-se simultaneamente eliminar de dois a quatro genes para conseguir uma transformação homeótica completa semelhante. Drosophila Camundongo e ser humano Homologia dos gens Hox em Drosophila e Vertebrados HOM-C de Drosophila HOM-C ancestral H u m a n o Grupo de homologia Transcrição Anterior (rostral) Posterior (caudal) Anterior (rostral) Posterior (caudal) Cabeça Tórax Abdome Genes ParaHox O complexo ParaHox originou-se da duplicação e da posterior evolução dos genes Hox. É considerado um parálogo (genes parálogos = genes que surgem em uma espécie por duplicação de um gene ancestral) deste complexo e é restrito aos cefalocordados e os vertebrados O complexo ParaHox possui três genes que estão intimamente ligados ao genoma de Branchiostoma. Eles foram descobertos nesta espécie e foram localizados em mamíferos. Estes são Cdx (homeobox caudal type), Gsh (genomic screened homebox) e Xlox / lpf1 (Xenopus laevis homeobox 8 / insulina promotor factor 1). Esses genes têm colinearidade espacial e temporal. No entanto, a colinearidade temporal é invertida em relação ao cluster Hox, ou seja, o gene Cdx subsequente é ativado primeiro no endoderma posterior, seguido por Xlox e Gsh.. Os produtos dos genes ParaHox são encontrados principalmente em tecidos derivados da endoderme. Nos vertebrados, os genes Cdx são expressos na região mais caudal do embrião e Cdx1 e Cdx2 / 3 são importantes nos primeiros processos de morfogênese intestinal. O gene central de Parahox Xlox / lpf1 também é expresso na endoderme dos cordados. Ele é crucial durante o desenvolvimento embrionário e para a diferenciação do pâncreas endócrino e do duodeno anterior. Genes NK Em 1989, usando uma sonda com desoxirribonucleótidos que codificam um homeodomínio, Kim e Niremberg descreveram a presença de quatro novos genes homeóticos em Drosophila melanogaster. Nomearam esses genes com a inicial do nome deles (NK). Três deles (NK1, NK3 e NK4) estão localizados no cromossomo 3, enquanto o gene NK2 está localizado no cromossomo 1. Posteriormente, esses genes foram renomeados para refletir os alelos mutados que eles representavam. O NK1 foi chamado slouch; o NK2 foi chamado vnd (ventral nervous system defective ); o NK3 foi chamado bap (bagpipe) e o NK4 foi chamado msh2 (muscle-specific homeobox 2) ou tin (tinman, nome tirado do homem de lata sem coração de The Wizard of Oz), uma vez que esse último controla o desenvolvimento do coração em Drosophila e em mamíferos. Posteriormente, mais genes NK foram isolados, até chegar a um total de nove. O resto foi nomeado NK5, Lbe, Lbl, Msx e Tlx. Em Drosophila, seis desses genes (tin, bap, lbl, lbe, C15 e slou) são agrupados fisicamente em um fragmento de 180 Kb. Os genes NK têm seus ortólogos (genes ortólogos = genes presentes em espécies diferentes e herdados de um ancestral comum) em cordados. Genes NK foram identificados em Branchiostoma e em vertebrados, embora estejam separados no genoma. Na espécie humana, também aparecem genes NK relacionados aos da Drosophila. Assim, os genes humanos NKX3.1 e NKX3.2 são ortólogos do gene bap, os genes LBX1 e LBX2 são ortólogos do gene ladybird, e os genes NKX2.3, NKX2.5 e NKX2.6 são ortólogos do gene tin da Drosophila. Nos genes NK, o padrão evolutivo tem sido diferente do dos complexos de genes Hox e ParaHox. Enquanto estes últimos permaneceram agrupados em Branchiostoma e nos vertebrados, eles se separaram em Drosophila. Por outro lado, os genes NK permaneceram agrupados na Drosophila e se separaram nos outros organismos. Evolução dos genes homeóticos nos animais Quanto à origem dos genes homeóticos, propôs-se que no início da evolução dos metazoários existisse um gene fundador do homeobox denominado ProtoANTP (Protoantennapedia) que por cisduplicação (duplicações que dão origem a dois genes localizados no mesmo cromossomo, um após o outro) deu origem a dois genes, Protohox e ProtoNK. Cada um sofreu amplificações sucessivas por cisduplicação dando origem a um megacomplexo que no final foi fragmentado nos três complexos: Hox, ParaHox e NK. Esse megacomplexo deve já ter sido presente antes da separação de cnidários e organismos com simetria bilateral. ] ] Jordi Garcia-Fernàndez propôs que a formação destes três complexos (HOX, PARAHOX, NK) tenha sido associada à origem dos três folhetos embrionários que desenvolvem diferentes especificidades funcionais: a ectoderme para a cobertura do corpo (parede corporal) e as funções de relacionamento nos sentidos e no sistema nervoso; a endoderme para processamento de alimentos, e a mesoderme para a locomoção, a circulação, a excreção, etc. Assim, os genes Hox são expressos principalmente na ectoderme e na neuroectoderme, contribuindo para o desenvolvimento do sistema nervoso central dos vertebrados. Os genes do complexo NK contribuem para o estabelecimento dos padrões na mesoderme, especialmente em Drosophila e são fundamentais para o desenvolvimento do coração em vertebrados. Finalmente, os genes ParaHox são expressos principalmente na endoderme posterior e médio. Considerando os genes Hox, é provável que os metazoários mais primitivos tenham apenas quatro genes neste complexo. Nos cnidários existem apenas dois genes. As sucessivas cisduplicações dos quatro genes primitivos teriam originado o padrão provavelmente compartilhado pelos animais bilaterais primitivos, dos quais os protostomados e os deuterostomados se originaram. Esse padrão consistiria em um número variável de genes Hox (entre 7 e 9), um número que se estabilizou em 8 na maioria dos protostomados. Nos deuterostomes esse número se expandiu para 12 ou 14. Complexo ProtoHox Complexo NK Origem e evolução dos principais grupos de genes homeóticos https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Origen-Homeoticos.jpg Nos invertebrados existe um único complexo Hox, que, em Drosophila é dividido em dois: Antennapedia e Bithorax. Supõe-se que o antepassado comum de todos os cordados também deve ter um cluster único. O cluster inicial do antepassado dos cordados poderia ter 13 genes. Esta arquitetura ainda está presente no cefalocordado Branchiostoma. Nos vertebrados, este complexo passou por uma série de transduplicações (duplicações que dão origem a conjuntos de genes localizados em diferentes cromossomos), até dar origem aos quatro complexos que os caracterizam (HoxA, HoxB, HoxC e HoxD). Estes poderiam ter tido um máximo de 52 genes, dos quais alguns se perderam. Assim, nos mamíferos existem apenas 39 genes. Nos peixes teleóstelos, houve ainda mais transduplicações, alcançando o número de 14 complexos. Vários estudos mostram que o complexo D é o mais antigo; teria aparecido após A, enquanto B e C seriam os mais modernos. Essas transduplicações ocorreram em paralelo com a ocorrência do aumento da complexidade do plano corporal durante a evolução dos vertebrados. Genes homeóticos em plantas: as caixas MADS Como nos animais, os genes homeóticos também desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das plantas. As mudanças homeóticas foram estudadas em Arabidopsis por Meyerowitz e seus colaboradores que observaram, nessa espécie vegetal, mutações que afetaram a estrutura da flor. A forma selvagem desta planta tem quatro sépalas, quatro pétalas brancas, seis estames (quatro longos e dois mais curtos) e dois carpelos fundidos. Os mutantes da classe A tem carpelos em vez de sépalas e estames em vez de pétalas; os outros verticilos são normais. Os mutantes da classe B têm sépalas no primeiro e segundo verticilo e carpelos no terceiro e quarto verticilo. O grupo C tem sépalas e pétalas em sua posição normal, e pétalas na terceira e sépalas no quarto verticilo. Meyerowitz e seus colaboradores concluiram que cada classe de mutantes carecia do produto de um gene ou de um grupo de genes necessários para o desenvolvimento adequado da flor. Os mutantes da classe A careciam da atividade dos genes A; os da classe B dos genes B e os da classe C dos genes C. De forma semelhante à forma como os genes homeóticos dos animais são expressos em diferentes segmentos, eles propuseram que os genes da classe A tivessem atividade no primeiro e segundo verticilo, os genes da classe B no segundo e terceiro verticilo, e os genes da classe C no terceiro e quarto verticilo. Os produtos dos genes A fariam com que o primeiro verticilo se diferenciasse em sépalas; os produtos dos genes da classe A, juntamente com os dos genes da classe B, fariam com que o segundo verticilo se diferenciasse em pétalas; os produtos dos genes da classe C e B induziriam o terceiro verticilo a formar estames. Os produtos dos genes da classe C induziriam a formação de carpelos a partir do quarto verticilo. Em estudos posteriores, os genes de cada classe foram isolados. Existem dois genes da classe A (APETALA 1 e APETALA 2), dois da classe B (APETALA 3 e PISCILATA) e um da classe C (AGAMOUS). A clonagem e o sequenciamento desses genes mostraram que eles são genes que funcionam como fatores de transcrição cujos produtos afetam a expressão de outros. Estes contêm sequências específicas, as chamadas caixas MADS, que têm um papel semelhante ao das caixas homeóticas (Homeobox) de animais, embora ambos os grupos de genes não sejam homólogos. Os genes homeóticos das plantas regulam o desenvolvimento das estruturas florais, controlando a transição do crescimento vegetativo para o generativo e determinando a identidade do meristema na inflorescência. Os produtos das diferentes classes de genes homeóticos interagem para determinar a formação dos quatro verticilos que constituem a flor completa. Genes homeóticos no ser humano & doenças. Nos seres humanos, existem 39 genes Hox localizados em quatro clusters que se encontram nos cromossomos 2, 7, 12 e 17. Como em Drosophila, as mutações em genes homeóticos humanos causam uma série de condições e síndromes que serão descritas abaixo. Hipervitaminose A durante a gravidez A vitamina A causa a expressão de genes Hox 1-4 em grupos de células que geralmente não expressam esses genes. O ácido retinoico, um derivado da vitamina A, também tem um efeito teratogênico. Altas doses deste composto, que é usado como tratamento contra a acne durante os estágios iniciais da gravidez de uma mulher, podem alterar a regulação dos genes Hox no embrião humano e causar malformações graves. As anomalias mais frequentes são o lábio leporino (fissurado) e malformações do pescoço e da cabeça. Outras alterações são malformações congênitas graves, como hidrocefalia, lesões da medula espinhal e doença cardíaca. Os efeitos da hipervitaminose foram estudados em Mus musculus (camundongo) Quando fêmeas grávidas são tratadas com doses mais elevadas de ácido retinoico do que o normal, malformações congênitas surgem, como deformações no esqueleto que se traduzem pela perda de vértebras e mesmo da região posterior do corpo, se as doses forem muito altas. Síndrome de Waardenburg A síndrome de Waardenburg é causada por um defeito em um gene homeótico. É uma doença muito rara que afeta uma em cada 42.000 crianças nascidas. Os principais sintomas são surdez, defeitos no esqueleto facial e pigmentação alterada da íris. Aniridia A aniridia é uma mutação humana na qual a íris está perdida e a retina é hipoplásica em heterozigotos. Nos homozigotos, há letalidade fetal e perda completa de olhos ou do epitélio olfatório. A perda da íris do olho parece ser causada por um defeito no gene homeótico PAX 6. É uma doença congênita rara. Se este gene for alterado, o resultado é uma criança que não possui íris. Se não há íris no olho, é impossível controlar a entrada de luz. A única solução é o uso de lentes coloridas para reduzir a entrada de luz no olho. Megacólon Em Mus musculus, foi demonstrado que a alteração de certos genes homeóticos causa uma malformação do cólon chamada megacólon. Esta condição envolve uma ampliação anormal de certas partes do cólon. Em crianças pequenas, casos de megacólon de origem desconhecida foram diagnosticados como possivelmente causadas por alterações nos genes homeóticos, embora estejam investigados. Costelas extra O surgimento de costelas extras na região do pescoço, anexadas à sétima vértebra cervical é outro exemplo de alteração causada por mutações nos genes homeóticos. Essa alteração ocorre com certa freqüência em populações humanas e geralmente não é deletéria. Síndrome genital É uma doença hereditária dominante causada por uma mutação de tipo nonsense que altera o gene HoxA13, no segmento de ligação ao DNA. Os homens têm hipospádias (malformação do meato urinário) e as mulheres, defeitos na parede do útero, bem como malformações uretrais (abertura da uretra na vagina). Essas condições anormais são resolvidas por cirurgia. Outra doença é o encurtamento dos polegares e do dedo grande do pé. Fentipos causados por mutações no gene PAX 6 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:PAX6_Phenotypes_Washington_etal_PLoSBiol_e1000247.png Cardiopatías congénitas Algumas anomalias congênitas do coração são causadas por uma mutação do gene NKX2.5, que está localizado no cromossomo 5. Este é o gene tinman humano, previamente estudado em Drosophila. Um dos sintomas que esta mutação apresenta é a presença de um orifício que permite uma comunicação entre o coração esquerdo e o coração direito. Este tipo de defeito faz com que o coração funcione com mais carga do que o normal, que haja um fluxo anormal de sangue, e que o sangue oxigenado seja misturado com o sangue desoxigenado. A solução para este tipo de alterações é a cirurgia.
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