Buscar

ABORDAGENS E PRÁTICAS DA PESQUISA QUALITATIVA EM GEOGRAFIA E SABERES SOBRE ESPAÇO E CULTURA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 336 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 336 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 336 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Letra1
editora
L
PPG GEOGRAFIA
Álvaro Luiz Heidrich
Cláudia Luísa Zeferino Pires
Organizadores
ABORDAGENS E
PRÁTICAS DA PESQUISA 
QUALITATIVA EM 
GEOGRAFIA E SABERES 
SOBRE ESPAÇO E 
CULTURA
Letra1
editora
L
PPG GEOGRAFIA
UFRGS
GEOCIÊNCIAS
Álvaro Luiz Heidrich
Cláudia Luísa Zeferino Pires
Organizadores
ABORDAGENS E
PRÁTICAS DA PESQUISA 
QUALITATIVA EM 
GEOGRAFIA E SABERES 
SOBRE ESPAÇO E 
CULTURA
© 2016 – Autores
Revisão
Geordana Cavalheiro
Paulo de Toledo
Capa
Daniele Zelanis
Projeto gráfico e diagramação
Ronaldo Machado | Letra1
Impressão
Gráfica da UFRGS
Letra1
editora
L www.editoraletra1. com.brCNPJ 12.062.268/0001-37
letra1@editoraletra1.com.br 
porto alegre - brasil
Abordagens e práticas da pesquisa qualitativa 
em geografia e saberes sobre espaço e cultura / 
organização de Álvaro Luiz Heidrich e Cláudia Luísa 
Zeferino Pires . – Porto Alegre: Editora Letra1, 2016.
334 p.
1. Geografia cultural: saberes e práticas de pesquisa. 2. 
Discursos e narrativas. 3. Espaço, sociedade e cultura. I. 
Heidrich, Álvaro Luiz. II. Pires, Cláudia Luísa Zeferino. 
III. Título. 
Dados Internacionais de Publicação
Bibliotecária Ketlen Stueber CRB: 10/2221
A154
ISBN 978-85-63800-22-0
DOI 10.21826/9788563800220
CDU 911.3 : 001
Disponível para download em
http://www.lume.ufrgs.br/
Álvaro Luiz Heidrich
Cláudia Luísa Zeferino Pires
Organizadores
ABORDAGENS E
PRÁTICAS DA PESQUISA 
QUALITATIVA EM 
GEOGRAFIA E SABERES 
SOBRE ESPAÇO E 
CULTURA
Apresentação
Álvaro Luiz Heidrich
Cláudia Luísa Zeferino Pires
Introdução: Método e metodologias
1 - Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura 
e sociedade
Álvaro Luiz Heidrich
I - Cartografias e narrativas
2 - Narrativas do espaço nas histórias de vida: os desafios das 
metodologias qualitativas na geografia
Nola Patrícia Gamalho
3 - Mapas-narrativas e um Conto Geográfico
Cláudia Luísa Zeferino Pires, Cristiano Quaresma de Paula,
Helena Bonetto
4 - Entre corredores ecológicos e salas poéticas: conexões criativas 
no fazer científico
Ana Stumpf Mitchell
Sumário
9
15
35
49
69
5 - A pesquisa-ação em educação popular e o lugar nos quilombos 
urbanos de Porto Alegre/RS
Felipe da Costa Franco, Igor Dalla Vecchia, João Pedro Izé Jardim, 
Marília Guimarães Rathmann, Winnie Ludmila Mathias Dobal
6 - Ribeirinhos da FLONA de Tefé-AM: Cartografia Social na 
compreensão do modo de vida
Dirce Maria Antunes Suertegaray, Mateus Gleiser Oliveira, 
Elisa Caminha da Silveira Delfino
II - Etnografia em redes e territórios
7 - Geografia e cotidiano: reflexões sobre teoria e 
prática de pesquisa
Benhur Pinós da Costa
8 - A pesquisa etnogeográfica com os Kawahib em Rondônia: 
desafios, trilhas e horizontes 
Adnilson de Almeida Silva
9 - Etnografia Multilocalizada em Antropologia e Geografia
Lucas Manassi Panitz, Luis Felipe Rosado Murillo
III - Percorrer, ver e escutar em campo
10 - Entre a paisagem sonora religiosa e as paisagens da memória 
e da imaginação: uma proposta metodológica
Marcos Alberto Torres
85
103
129
195
169
151
11 - Um mosaico de relações – o Pagus e as múltiplas leituras para o 
estudo da paisagem
Roberto Verdum, Daniele Caron, Letícia Castilhos Coelho, Marina 
Cañas Martins, Lucas Panitz, Maurício Pimentel, Geovane Aparecida 
Puntel, Mário Rangel, João Paulo Schwerz, Luis Aberto Pires da Silva, 
Juliane da Soller, Lucimar de Fátima dos Santos Vieira
12 - Dos recortes do espaço à instrumentalização da geografia
Theo Soares de Lima
13 - Geografia e experiência cinematográfica: apontamentos para uma 
metodologia
Julia Saldanha Vieira de Aguiar
IV - Decifrar falas
14 - Imaginação geográfica e análise de notícias como fonte em 
pesquisas em Geografia
Daniela de Seixas Grimberg, Adriana Dorfman
15 - Geografia e Saúde: articulação de saberes, práticas discursivas e 
produção do espaço
Camilo Darsie
16 - Ofício, Engenho e Arte: inspiração e técnica na análise de dados 
qualitativos
Edson Armando Silva, Joseli Maria Silva
Sobre os autores
211
329
229
249
271
287
301
Ap
re
se
nt
aç
ão
Apresentação
Álvaro Luiz Heidrich
Cláudia Luísa Zeferino Pires
Esta coletânea de textos foi reunida com a ideia de trazer 
discussões sobre abordagens metodológicas em Geografia e demais 
campos de estudo sobre espaço e cultura, estratégias de levantamento 
de dados e sua análise. Como se expressa em seu título, trata-se de 
abordagens – enfoques ou aproximações –, pois, tanto no todo como 
em cada capítulo, se compreende que metodologia é uma arquitetura 
em adaptação. Um arranjo para viabilizar a pesquisa, sobre algo em 
descobrimento, sempre em aprontamento, nunca acabado. Temos o 
objetivo de contribuir com ideias, métodos e técnicas qualitativas em 
pesquisa, bem como discutir criticamente para o desenvolvimento 
teórico e metodológico desse campo de conhecimento.
Os estudos que interligam espaço, sociedade e cultura, o 
objeto das pesquisas aqui refletidas orienta nosso foco de atenção 
destas para práticas qualitativas, que lidam com a discursividade, a 
narrativa e as expressões subjetivas. Contudo, não é exclusivamente 
sobre procedimentos e técnicas de pesquisa o que se discute, pois o 
entrelaçamento com a ideia que sustenta a investigação remete em 
muitos trabalhos à reflexão sobre Método, envolvendo também o 
fundamento epistêmico e teórico. Este é o ponto de partida tomado 
no capítulo de introdução desta obra, no qual Álvaro Heidrich 
In: HEIDRICH, A. L. & PIRES, C. L. Z. (orgs.). Abordagens e práticas da pesquisa 
qualitativa em Geografia e saberes sobre espaço e cultura. Porto Alegre: 
Editora Letra1, 2016, p. 9-14. DOI: 10.21826/9788563800220
ABORDAGENS E PRÁTICAS DA PESQUISA QUALITATIVA EM GEOGRAFIA E SABERES SOBRE ESPAÇO E CULTURA
10
Ap
re
se
nt
aç
ão
entrelaça método, metodologias, geografia cultural e social, e as modalidades de 
abordagem qualitativa usuais nesse campo. Os capítulos seguintes estão organizados 
em outras quatro partes: (I) Cartografias e narrativas; (II) Etnografias em redes e 
territórios; (III) Percorrer, ver e escutar em campo e (IV) Decifrar falas. A aproximação 
reunida em cada parte diz respeito a experiências, tanto teóricas como empíricas, 
pautadas pela orientação comum de conterem reflexões e relatos metodológicos. 
Nesse sentido, expõem fundamentos de pesquisa e apontamentos como recortes 
espaço-temporais, métodos de coleta de dados e os desafios discutidos e analisados 
na abordagem ali reportada.
A primeira parte reúne cinco textos com foco mais orientado para as 
metodologias da participação entre pesquisados e pesquisadores, em trabalho de 
diálogo e construção da compreensão de seus lugares de vida. No capítulo dois, Nola 
Gamalho, ao tratar a oralidade como uma prática que perpassa várias modalidades, 
observa que ela ultrapassa o material, mas como se trata do subjetivo de nossas 
vidas, dele não se separa. O estudo está fortemente embasado em sua experiência na 
pesquisa, permitindo-lhe trazer argumentos bem pautados, não deixando, contudo, 
de oferecer a abertura teórica necessária. Reflete sobre a posição do estranho que se 
adentra no espaço vivido do outro e como isso vai se transfigurando e oferecendo 
possibilidades de leitura.
No capítulo três, Cláudia Pires, Christiano de Paula e Helena Bonetto recontam 
uma vivência de extensão universitária que buscou trabalhar memórias de moradores 
sobre seu bairro, à maneira de um resgate cartográfico vivido. Ao refazerem os 
mapas, vivenciarem memórias, pesquisadores e moradores compuseram um conto. 
Virou livro, registrou memória e transformou-se em conhecimento. Atrevemo-nos 
a dizer que, de lambuja, retrabalhou metodologia, pois o recontar trazido aqui está 
permeado de discussão bem amparada.
No capítulo quatro, Ana Mitchell discute a formulação de sua pesquisa na qual 
buscou compreensão sobre a vivência de pequenos agricultores em espaço geográfico 
demarcado por corredoresecológicos. Relata a ideia inicial da pesquisa, influenciada 
pelo imaginário de encontrar tipos específicos de uso do solo à possibilidade de 
corredores ecológicos, o que teria influenciado a escolha de entrevistados e sua 
própria postura de pesquisadora. O reconhecimento de ter encontrado complexidade 
muito maior denuncia sua honestidade intelectual. Seu texto ensaia filosofia e poética, 
não deixando de ser criterioso – metodológico. Seu estudo percorre o trabalho de 
campo como um espaço para conhecer outros pontos de vista e o diário de campo 
como um espaço de autorização para registros e reflexões.
 
APRESENTAÇÃO
11
Ap
re
se
nt
aç
ão
No capítulo cinco, o Coletivo de Apoio à Reforma Urbana1 (CARU) relata as 
ações desenvolvidas em projeto de extensão realizado pela Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul junto a duas comunidades quilombolas da cidade de Porto Alegre. 
O projeto foi acompanhado por discussões metodológicas continuadas e estudos 
teóricos também frequentes. Além desse aspecto, o trabalho de extensão manteve a 
equipe sempre em contato com a comunidade e suas crianças e adolescentes, com a 
ideia de desenvolver um processo educativo de aprendizagem sobre o espaço vivido 
com procedimentos de construção de narrativas e cartográficas sobre ele. Nesse 
texto, o grupo reflete sobre os fundamentos da ação-pesquisa e comenta o passo a 
passo de seu percurso.
No capítulo seis, Dirce Suertegaray, Mateus Oliveira e Elisa Delfino relatam 
o desenvolvimento de um projeto que teve o objetivo de registrar o uso da terra em 
área protegida da Amazônia, porém sem desvinculá-lo dos modos das populações 
tradicionais desse espaço. A cartografia social consistiu na metodologia ajustada 
para a tarefa. Envolveu, evidentemente, tanto o levantamento das práticas de uso 
e a concretude das paisagens da área, quanto as compreensões e significados delas 
para as comunidades ribeirinhas.
A segunda parte conta com três diferentes enfoques de etnografia, todos eles, 
porém, com sua própria associação dessa metodologia com o espaço, como espaço 
vivido, microterritório ou multilocalização. No capítulo sete, Benhur Pinós da Costa 
desenvolve autêntica discussão teórico-metodológica. Nela, ele expõe argumentos 
em fundamentação de uma geografia do cotidiano, viabilizada por metodologia de 
participação observante. Como já vem fazendo em vários de seus estudos, Benhur 
desenvolve especial atenção para a escala e o enfoque microterritorial. A atenção para 
esse âmbito da pesquisa justifica-se por favorecer o encontro espacial dos eventos 
e das ações coletivas e individuais que, analisados por suas condições múltiplas de 
negociações das diversidades, configura um procedimento metodológico “de dentro” 
(Géographie dedans).
No capítulo oito, Adnilson Silva desenvolve um trabalho de etnogeografia, uma 
etnografia orientada para a compreensão da territorialidade indígena Kawahib. Seu 
texto relata a preocupação típica do etnógrafo (ou etnogeógrafo, então), à medida 
que expõe descrição empírica e esforço de articulação teórica numa articulação 
de bases históricas, antropológicas e geográficas. Trabalha autêntico passo a passo 
metodológico, explicitado em dezessete pontos preparatório (pré-campo) e cinco 
outros pontos basilares para o seu transcorrer amparado em fenomenologia. Seu 
depoimento ainda nos enriquece ao final, mediante explanação de argumentos de 
avaliação crítica. 
1 Participaram os então alunos do Curso de Geografia da UFRGS, e associados da seção Porto Alegre da 
AGB, Felipe da Costa Franco, Igor Dalla Vechia, João Pedro Izé Jardim, Marília Guimarães Rathmann e 
Winnie Ludmila Mathias Dobal.
ABORDAGENS E PRÁTICAS DA PESQUISA QUALITATIVA EM GEOGRAFIA E SABERES SOBRE ESPAÇO E CULTURA
12
Ap
re
se
nt
aç
ão
O capítulo nove fecha esta parte do livro, trazendo mais uma modalidade 
de aproximação entre etnografia e geografia. Tem a ver com a necessidade de 
rediscussão dos procedimentos etnográficos em vista de tratar aspectos não restritos 
em localização. A renovação alcançada implica na realização do trabalho de campo 
em outra escala, de processos mais globais, de articulação de redes sociais, o que 
evidencia a importância de seu tratamento em geografia. Lucas Panitz e Luis Felipe 
Murillo aprofundam a discussão teórica de bases antropológicas e geográficas e 
comentam suas explorações de pesquisa.
A terceira parte deste livro dedica-se ao percurso e registro em campo, e 
também ao olhar e escuta da paisagem. Inicia-se com o capítulo dez, de Marcos 
Torres, que vê a paisagem sob outra forma: sua sonoridade. No estudo relatado, 
que objetiva lidar com a paisagem sonora do espaço religioso, lida com ambos os 
conceitos e desenvolve a pesquisa registrando os sons desse meio e articula, com 
bases na compreensão do imaginário memorizado, uma análise com enfoque na 
oralidade dos sujeitos pesquisados. Como já vínhamos apontando, trata-se de uma 
“arquitetura” metodológica adaptada. Possui bases sólidas de fundamentação e 
orientação justamente delineada ao objeto em atenção.
O capítulo onze é fruto de uma escrita coletiva elaborada no Pagus – Laboratório 
da Paisagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul2. O laboratório reúne 
pesquisadores, professores e alunos envolvidos com a pesquisa com a paisagem. 
No texto, eles explicitam a dupla consideração dessa feição geográfica, tanto como 
fato objetivo, material, como imaginário, produto de uma compreensão estética da 
Geografia. Por isso, não poderia deixar de estar presente no conjunto dos relatos e 
discussões desta coletânea. A paisagem, como imaginário nas narrativas literárias, 
musicais e das artes plásticas, possui enlace fenomenológico para sua abordagem. 
O texto reporta-se também aos temas de pesquisa, nos quais tanto o delineamento 
objetivo da paisagem em unidades, como a sua caracterização por motivações 
ambientais, turísticas, emotivas etc. necessitam da consideração de metodologias 
qualitativas. 
O capítulo doze, de Theo de Lima, enfoca o trabalho de campo como 
metodologia de estar em paisagem. Ele inicia seu texto, porém, percorrendo 
orientações mais clássicas dessa operação tão geográfica quanto a própria disciplina. 
Interessante é o fato de o autor tomar no seu texto a própria ideia do percurso em 
campo. Nele, então, lida com a metodologia como ferramenta, que envolve preparação 
da atividade em levantamento documental e a atividade em diálogo com pessoas, 
além das anotações de observação e, aos poucos, vai delineando um discurso de 
propósito transformador: aproximando poética e geograficidade.
2 Participaram da escrita: Roberto Verdum, Daniele Caron, Letícia Coelho, Marina Martins, Lucas 
Panitz, Maurício Pimentel, Geovane Aparecida Puntel, Mário Rangel, João Paulo Schwerz, Luis Aberto 
Silva, Juliane da Soller e Lucimar de Fátima Vieira.
APRESENTAÇÃO
13
Ap
re
se
nt
aç
ão
Júlia de Aguiar discorre, no capítulo treze, último desta seção, sobre a tomada 
de cenas em vídeo-documentário. Ela se reporta à construção da experiência 
cinematográfica para seu uso como uma metodologia de construção do saber em 
campo. Embora preenchido de recursos e orientações técnicas, constitui modalidade 
para lidar com a narrativa que envolve espaços vividos, por meio de um artefato 
inteiramente cultural. Seu texto detalha revisão teórica e encaminha a ideia de 
pertinência dessa arte com a geografia. O vídeo-documentário oferece uma maneira 
de fazer entrevista, com a qual o entrevistador-cineasta proporciona ao sujeito 
entrevistado a reflexividade, que permite associar imagens aos registros de fala.
A última parte desta coletânea traz três contribuições voltadas para a leitura 
de narrativas, válidas tanto para os textos transcritos de entrevistas como para os 
documentos já escritos. Elas envolvem a análise de elaborações dos discursos, 
nos quais é necessário escrutinar e decifrar seus conteúdos. A primeira dessas 
contribuições, o capítulo quatorze, de Daniela Grimberg e Adriana Dorfman, traçauma orientação teórico-metodológica sucinta, como oferece a possibilidade do espaço 
de um capítulo apenas, mas bastante completa. Oferece a possibilidade tanto de uma 
primeira orientação, como de revisão dos aspectos básicos que estão ali associados. 
O que se pode destacar como muito pertinente à proposta deste livro é a articulação 
do embasamento conceitual sobre o imaginário, como as notícias sobre lugares e 
fenômenos geograficamente localizados, geralmente portadoras de conotações que 
reclamam desvelo. Pelo que se vê na discussão, reforça nossa compreensão de que 
a subjetividade requer cuidado não apenas nas modalidades de sua coleta e escuta, 
mas também na sua leitura.
Camilo Darsie discute, no capítulo quinze, geografia e saúde com o auxílio da 
análise do discurso. Sua orientação apresenta a variante de fundamentar seu trabalho 
com o aporte dos estudos culturais. Parte da indagação sobre as maneiras com que 
o espaço é referido nos discursos sobre saúde, pois coinsidera que os mesmos são 
capazes de orientar ou provocar transformações culturais. Sua discussão está bastante 
centrada na análise dos documentos da Organização Mundial de Saúde, que apesar de 
mencionarem aspectos espaciais nos problemas e ações de saúde, fundamentalmente 
se configuram por meio de estatísticas e não por ações orientadas ao espaço como 
um contexto integrado. 
O capítulo dezesseis, de Edson Silva e Joseli Silva, também explora a análise 
de conteúdo. O estudo, porém, centra-se no argumento de propor a clivagem de 
gênero como fundamento para desnaturalizar o ponto de vista dominante nas 
ciências sociais. Nesse sentido, defendem que a organização de instrumentos de 
pesquisa estruturados em questionários fechados não permite essa exploração que 
é justamente a abordagem do qualitativo, das entrevistas abertas, histórias de vida e 
observações participantes que podem revelar aspectos não esperados que precisam 
ser estudados, trazidos em consideração como informação efetiva. No decorrer do 
ABORDAGENS E PRÁTICAS DA PESQUISA QUALITATIVA EM GEOGRAFIA E SABERES SOBRE ESPAÇO E CULTURA
14
Ap
re
se
nt
aç
ão
texto, expõem procedimentos para lidar com a questão proposta e o recurso que 
fazem (e propõem) de ferramentas informacionais.
Não é demais enfatizarmos aqui que o conteúdo que está neste livro reunido é 
rico e emparelha-se à atenção e discussões atuais em crescimento sobre o tratamento 
do imaginário. Alinha-se aos demais estudos que fazem reconhecimento da interface 
materialidade-imaterialidade, do agir social e do simbólico. Nossa expectativa é de 
uma proveitosa leitura.
Porto Alegre, Janeiro de 2016.
Os organizadores
In
tr
od
uç
ão
Método e metodologias na pesquisa 
das geografias com cultura e 
sociedade
Álvaro Luiz Heidrich
Neste texto, busco desenvolver algumas ideias gerais sobre 
a abordagem qualitativa de pesquisa com sociedade e cultura nos 
estudos de geografia. Com esse intento, proponho logo a seguir um 
argumento de enlace: uma compreensão de contexto que também 
se mostra latente em todo o conteúdo aqui tratado. Nesse tópico, 
faço breve incursão sobre método e metodologia, remetendo à 
consideração mais ampla do interesse e objeto da pesquisa geográfica. 
O segundo tópico traz um primeiro entrelace de ideias ao caracterizar 
o campo1 de estudo que reclama o uso das metodologias qualitativas 
– as geografias que lidam com as práticas sociais e culturais. No tópico 
seguinte, trago um segundo entrelace, sobre as modalidades mais 
usuais da abordagem qualitativa e, por fim, as considerações finais 
são trazidas como uma proposta de desenlace dessas ideias, voltando 
à consideração primeira sobre o contexto com que estamos lidando.
1 Este termo tem uso frequente neste texto. Adiante aparecerá mais nitidamente 
vinculado ao âmbito da pesquisa com enfoque sociocultural, que justamente 
busca demonstrar ser o campo que solicita fortemente o uso das metodologias 
qualitativas. Muito embora possamos aceitar para o termo o sentido mais 
elaborado que Bourdieu (1989) adotou, que envolve posturas e defesas de posições 
rigorosamente orientadas por definições institucionais e que, por certo, ocorre neste 
mesmo que estamos nos reportando (ver o estudo de NABOSNY, 2014), aqui se 
refere ao contorno primeiro usado por aquele autor e do sentido etimológico geral 
do termo, de domínio e âmbito de ação. 
1
In: HEIDRICH, A. L. & PIRES, C. L. Z. (orgs.). Abordagens e práticas da pesquisa 
qualitativa em Geografia e saberes sobre espaço e cultura. Porto Alegre: 
Editora Letra1, 2016, p. 15-33. DOI: 10.21826/9788563800220
Álvaro Luiz Heidrich
16
In
tr
od
uç
ão
O enlace: método, metodologia e delineamento do geográfico 
O tratamento da informação na pesquisa geográfica, que considera o dado não 
rigorosamente objetivo e que precisa ser trazido a partir de diálogos, de compreensões 
e vivências de pessoas e grupos, espaços vividos e práticas, é uma perspectiva recente. 
A Geografia possui tradição bastante materialista, e mesmo as antigas orientações 
descritivas desta disciplina, pode-se dizer, restringiam-se ao que se denotava no campo 
observado e quase nada se adentrava nas conotações de sentido. O registro de um 
fato observado limitava-se predominantemente à compreensão de suas feições. Já, 
as práticas de pesquisa com enfoque qualitativo passam a ser essenciais no campo 
das humanidades e nas geografias orientadas para os estudos de cultura e sociedade 
sob a influência das chamadas Filosofias do Significado ( JOHNSON; GREGORY; 
SMITH, 2000). Pode-se ver, então, que o contexto aqui comentado não se limita à 
enumeração de procedimentos ou técnicas. Ele envolve a afetação entre método e 
metodologia, ou seja: o que se faz como prática de estudo e pesquisa depende das 
concepções de como conduzir o próprio pensamento.
Método é compreendido por dois significados (ABBAGNANO, 1998): 
(1) o que é mais geral e extensivo a vários campos consiste numa orientação de 
pesquisa (por exemplo, método dialético, hipotético-dedutivo, a fenomenologia, a 
hermenêutica, o empirismo lógico etc.); e (2) o que é mais restrito, numa técnica 
particular de pesquisa. Este significado indica um procedimento de investigação 
organizado, elaborado para o alcance de resultados considerados válidos. Em geral, 
refere-se a procedimentos específicos de investigação e verificação.
O Dicionário de Filosofia de Abbagnano (1998) reconhece quatro significados 
para o termo metodologia: (1) a lógica ou parte da lógica que estuda os métodos; 
(2) lógica transcendental aplicada (segundo Kant); (3) conjunto de procedimentos 
metódicos de uma ou mais ciências; e (4) a análise filosófica de tais procedimentos. 
Sem maior pretensão de revisão, uma simplificação poderia ser vista, de um lado 
(o da filosofia, principalmente), como o estudo do método e, de outro (os campos 
particulares de pesquisa), como os procedimentos derivados de uma orientação geral 
de método adaptados a uma disciplina ou pesquisa.
Visto dessa forma, previamente ao comentário sobre as práticas de pesquisa 
qualitativa, é necessário lidar com o campo de estudos. Esse campo pode naturalmente 
ser identificado por uma arquitetura teórico-metodológica – complexa –, porém, mais 
facilmente se evidencia pelo conjunto de ideias básicas e termos relacionados através 
dos quais nos comunicamos, debatemos e vamos delineando o campo geográfico. O 
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
17
In
tr
od
uç
ão
vocabulário geográfico2 é extenso e atém-se aos fatos com que lidamos nas explicações 
do emaranhado que é o espaço geográfico. Esses fatos estão predominantemente 
ligados às suas feições, aspectos que os diferenciam e remetem à compreensão de 
suas naturezas. Surgem por nossa experiência empírica e no cotidiano da vida de 
cada um, diretamente relacionadas com o meio (social e ambiental).
Para Moreira (2007), essa relação adquire feições geográficas como paisagem, 
território e espaço, as categorias da geografia.Afirma, porém, que, antes delas, 
são os princípios lógicos (localização, distribuição, extensão, distância, posição e 
escala) dessa relação que fazem surgir a compreensão das feições geográficas e, 
por consequência, de seus desdobramentos em outras categorias3. Evidentemente, 
a relação entre elas nos transmite a imagem de um campo (universo) bastante 
complexo. Uma geografia como um todo abstrato é um complexo de paisagens, 
regiões, lugares, percursos, dinâmicas, etc. A combinação entre lugar e paisagem 
permite construir noção de espaço geográfico (ou, geografizado), dinâmicas de 
diferenciação e compreensão de temporalidades. A identificação de uma área desse 
espaço, em particular, passa a ser reconhecida pela vinculação a seus respectivos 
grupos como território, senão como ocupação, possivelmente como uso, produção 
de marcas, particularização de processos etc.
Num esforço de formulação de método geográfico, Santos (2008), por meio de 
uma abstração maior, mais distante da empiria geográfica, desenvolve compreensão 
estrutural do espaço com as categorias de Estrutura, Processo, Função e Forma. Nesta 
proposição, as formas não podem ser compreendidas isoladas de suas destinações 
(funções), de seus processos formadores e de sua importância no condicionamento 
de novas dinâmicas. Esse método, contextualizado por pensamento histórico-
dialético, exemplifica a importância da explicação do processo para a compreensão 
da origem das formas. Ou seja, vai-se além da provocação inicial ocasionada pelos 
princípios lógicos. A ação ou a dinâmica estão implicadas. Mas a consideração de 
processos e dinâmicas os geógrafos já vinham trazendo para dar conta da explicação 
da formação das paisagens e dos ambientes naturais da superfície terrestre (BLOOM, 
1970; CLAVAL, 2014).
No contexto sociocultural, além da feição e da ação, o campo do imaginário 
também é parte que se faz em geografia. Se espaço torna-se geográfico por produção 
e/ou compreensão de geografias, por arranjos e configurações, se territórios são 
2 Em “Entrevista” (capítulo do livro “Testamento intelectual”), Santos (2004) comenta que a 
necessidade da explicação teórica divergente de seus mestres obrigou-lhe a propor definições e que, 
frente ao manancial imenso de ideias e obras sem definição prévia de divisões disciplinares, trouxe-lhe 
a compreensão de que necessitava de um mínimo vocabulário. Nesse mesmo espaço de conversa, ele se 
queixa do “hábito de alienação cultural” (p. 31). Compreende-se assim, com sua experiência e trajetória 
singular, a importância de termos e prezarmos por um vocabulário geográfico.
3 Associadas a espaço, os próprios princípios lógicos constituem subcategorias, a território, região, lugar e 
rede, e a paisagem, arranjo e configuração (MOREIRA, 2007).
Álvaro Luiz Heidrich
18
In
tr
od
uç
ão
suas apropriações, certamente há batismos, nomeações desses processos e formas, 
significados assimilados e processados em modalidades de práticas. 
A compreensão completa uma tríade. Ações e representações são criadoras de 
morfologias. Morfologias dizem respeito ao fato, que grava cultura no espaço. 
As representações não são mais do que elaborações de sujeitos com noções do 
espaço. E as ações são realizações dos sujeitos, construindo e transformando 
espaço. Não nos cabe, por isso, esboçar a compreensão isolada, seja da forma, 
da ação ou da representação. Quando nos reportamos a um ou outro, seria mais 
adequado aceitar sua imbricação complexa (HEIDRICH, 2013, p. 57).
Bonnemaison (2002) considera que o espaço estudado pelos geógrafos possui 
três níveis. Numa mais afinada tradução de sua ideia, podemos compreender esses 
níveis como planos, projeções de um único espaço. Um deles é o espaço estrutural 
ou objetivo, da materialidade efetiva das coisas e objetos da ação, das relações em 
sociedade. Outro consiste no espaço vivido, “formado pela soma dos lugares e 
trajetos não usuais a um grupo ou indivíduo” (p. 110), que envolve o cotidiano e 
as subjetividades. Para ele, este ainda não é o espaço cultural, embora reconheça 
que cultura engloba o vivido. Bonnemaison (2002) busca destacar que o plano 
cultural transcende aquele outro e define-o como espaço geossimbólico, pois a 
“representação cultural vai para além do horizonte do cotidiano”. Nele está o plano 
das afetividades, dos valores socioculturais, os imaginários e seus significados. Acho 
importante enfatizar, então, que não se trata de espaços separados, estanques, mas 
de planos que se afetam mutuamente4.
O imaginário, ou as geografias imaginadas, ou, ainda, uma geografia das 
representações, frutifica-se como orientação de estudo e pesquisa com a chamada 
virada linguística na Geografia, pela qual se estabelece criticamente um posicionamento 
variante em relação à separação entre materialidade e imaterialidade. Essa virada, que 
vem sendo obstinadamente refletida pelo campo da, assim chamada, Nova Geografia 
Cultural (COSGROVE; JACKSON, 2003) tem sido vista como uma possibilidade 
de redenção, pois, como expressou Claval (2014, p. 309), a concepção de “espaço 
como um recipiente, como fez a Geografia desde o Renascimento, não é inocente: 
é transformá-lo num instrumento de dominação, que os poderosos souberam – e 
sabem – utilizar”. A pós-modernidade e o recente interesse pelo pós-colonialismo 
são vistos como influências destacadas para a valorização da ideia de imaginação 
geográfica ( JOHNSON; GREGORY; SMITH, 2000). 
Possuem papel distintivo para esse tema os trabalhos de Edward W. Said sobre 
a construção imaginativa do Oriente feita pelo Ocidente, carregada de estereótipos 
4 A inseparabilidade entre o material e o simbólico, o campo das relações objetivas e das ideias, é 
claramente argumentada por Henri Lefebvre. A interação dialética da prática espacial que envolve a 
representação dominante, técnica e científica e a representação delineada no cotidiano, que implica na 
apropriação do espaço, é o que mantém a produção do espaço e “as relações sociais em um estado de 
coexistência e coesão” (LEFEBVRE, 2000, p. 42).
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
19
In
tr
od
uç
ão
associados às práticas de dominação imperialista (2007)5. Juntamente com a crítica 
considerada pós-colonial e pós-moderna, também os textos de orientação marxista, 
como os trabalhos de Lefebvre, em Critique de la vie quotidiene (1961), com base 
nas ideias de Bakhtin (2014), em Marxismo e filosofia da linguagem, devem ser 
trazidos como referência do atual campo. Desse modo, tanto as pesquisas crítico-
dialéticas como as fenomenológico-hermenêuticas, identificadas por Sposito (2004), 
constituem referências de método desse enfoque. Além do aspecto metodológico, o 
foco de atenção e as problematizações de pesquisa também têm se entrelaçado. Uma 
pesquisa em particular sempre seleciona atenção mais restrita, mas o conjunto dos 
estudos vem constituindo um campo maior de aproximação entre geografia cultural 
e social, no qual as pesquisas qualitativas são cada vez mais necessárias.
Primeiro entrelace: Geografia Cultural e Social como campo 
Tem sido difícil não utilizar a denominação Geografia Cultural para muitos 
procedimentos e enfoques teóricos dos estudos sobre práticas e manifestações 
culturais vinculadas a contextos geográficos. Por outro lado, o argumento de Claval 
(2002a, 2008), mais favorável ao reconhecimento de uma abordagem e não de uma 
disciplina, é muito coerente, pois não há como efetivar investigação sobre cultura 
de modo desassociado do amplo campo de estudos de Geografia Humana. Quem 
elabora essas classificações é o nosso próprio fazer-ciência. Porém, muito do que se 
faz nesse campo não se distancia das atuais referências da Geografia Social, o que dá 
muita validade para uma reflexão articulada. Essa aproximação já é reconhecida nos 
estudos mais recentes ( JOHNSON; GREGORY; SMITH, 2000), assim como ganha 
expressão o argumento que concebe uma geografia sociocultural (RAIBAUD, 2011). 
Num pontode vista correlato, muitos estudos de Geografia Humana, Econômica, 
Política, Urbana ou Agrária, que consideram problemas como a desigualdade, a 
segregação espacial, os problemas territoriais, são autêntica Geografia Social, assim 
como as questões de identidade nesses problemas associados necessitam trabalhar 
com a discussão atual da abordagem ou geografia cultural. Por isso, a denominação 
é a questão menos importante. Principalmente porque o uso do termo fixou-se, 
tornou-se normal. Ao lado disso, o que expressa maior consistência é o âmbito de 
estudos, com referências metodológicas e de método, como a consideração importante 
das representações e ideias ao lado das práticas espaciais, ou seja: propriamente um 
campo. Para a denominação como uma subdisciplina – Geografia Cultural – pesa 
a tradição de ter nascido com essa marca. Como uma abordagem, conta bastante 
aquilo que se faz como enfoque, uma aproximação, que poderá contar, inclusive, 
com objetivações muito particulares e, até mesmo, não ser a prática cotidiana de 
5 Ver também o seu estudo sobre a narrativa colonialista na obra de Albert Camus em “Narrative, 
geography and interpretation” (SAID, 1980). 
Álvaro Luiz Heidrich
20
In
tr
od
uç
ão
um pesquisador ocasional. 
Sob a denominação de Geografia Cultural há um grande espectro de estudos 
e temas de interesse, como o simbolismo das paisagens, o estudo de percepções e 
representações do espaço, as identidades territoriais, estudos de gênero, religiões e 
festas, microterritorialidades, geografias na literatura, cinema e música, problemas 
culturais associados à mundialização etc.. 
A influência da teoria linguística na geografia humana tem solicitado maior 
atenção à cultura como um processo de autossignificação e de significação social, 
na qual o significado é instável e questionável porque sempre se constitui 
através dos discursos compartilhados de grupos humanos específicos. A nova 
geografia cultural, em resposta ao MULTICULTURALISMO das sociedades 
urbanas contemporâneas na Europa e América do Norte e à reclamação da 
PÓS-MODERNIDADE para que se dê voz ao “outro”: ou seja, aos discursos 
daqueles que tradicionalmente não têm tido em consideração na ciência social 
ocidental e nas humanidades. Nesta perspectiva, alguns escritores recentes 
têm insistido na integridade cultural dos povos colonizados, das mulheres, dos 
que têm sido despossuídos materialmente e de outras minorias dominadas por 
uma cultura fundamentalmente branca, masculina e burguesa ( JOHNSON; 
GREGORY; SMITH, 2000, p. 252)6.
Para Di Méo e Buléon (2007), quatro abordagens compõem o quadro de 
uma Geografia Social complexa, para a qual propõem marcos teóricos para uma 
nova geografia cognitiva, social e cultural7. Uma dessas abordagens constitui-se 
no estudo da imbricação das relações sociais (de trabalho, parentesco ou amizade, 
lazer); relações consensuais ou conflitantes e as relações espaciais (uso e apropriação 
de lugares, afetivos ou estratégicos, mantenedores ou modificadores das estruturas 
espaciais). Uma segunda refere-se ao estudo das posições sociais que demarcam as 
diferenças do espaço geográfico, que se traduzem por riqueza e pobreza, dominação 
ou exclusão. A terceira refere-se ao estudo dos itinerários cotidianos, as práticas do 
espaço geográfico que lhe conferem dimensão humana e social. E a quarta trata da 
produção mental de imagens, das representações elaboradas socialmente, a produção 
midiática da hiper-realidade que continuamente invade os sistemas de comunicação 
e influencia nossa interpretação do mundo.
A complexidade das relações espaço-homem-sociedade foi retratada por esses 
autores em dois planos, o da realidade e sua replicação num plano representacional 
(Figura 1). No esquema, aparecem as categorias geográficas mais vinculadas aos 
âmbitos sociais amplos, como classes e grupos e, na outra ponta, encontra-se o 
sujeito, na sua expressão mais íntima. As categorias de espaço vivido e espaço social, 
por exemplo, não coincidem em posição e as relações entre eles é mais indireta, pois 
sofre a intermediação pelas demais relações demonstradas no esquema. Similarmente, 
6 Grifos no original. Tradução livre.
7 Seguramente essa orientação não se enquadra na crítica formulada por Smith (2014) de uma geografia 
cultural apolítica, até porque seu discurso parece estar bastante direcionado aos estudos anglófonos.
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
21
In
tr
od
uç
ão
não tratamos diretamente das coisas, mas da relação que temos com elas, do 
que sentimos e compreendemos, por meio da linguagem, da arte, do mito, da 
ciência e da religião (2005). 
 
Figura 1 - Relações espaciais (espaço-homem-sociedade) e objeto ou formas 
geográficas associadas. Fonte: adaptado de DI MÉO & BULÉON (2007) por Marcos 
Torres (2011). 
 
Deste modo, com o auxílio teórico-metodológico que delineia a 
necessidade de se lidar com o imaginário, o levantamento dos fatos em campo 
visa a captura das falas e o envolvimento com os espaços culturais – 
geossimbólicos. Questionários e tabulações com amostras aleatórias não 
expressam essas relações. Elas não são quantificáveis, até porque não estão 
baseadas em parâmetros objetivos e quantificáveis. O sociocultural é captado 
mediante o envolvimento do pesquisador com o contexto da pesquisa. É 
preciso lidar com oralidade e posteriormente destrinchar os significados e 
sentidos. É para isso que se recorre aos levantamentos e pesquisas 
qualitativas, que permitem manejar informações textuais. 
 
as relações entre as composições do social chegam ao sujeito por intermediações. 
Como é sugerido, o campo das ideias, o simbólico, não se reduz ao fenomenológico, 
tampouco ele é exclusivamente social. Está num outro plano e perpassa a totalidade 
do real. Não se separam, por isso, o que é material e racional do que é imaginário, 
assim como não se separam também o que é subjetivo, no plano da realidade, do 
que seria imaginado sobre ele mesmo. Podemos ver assim o ganho de importância 
do plano simbólico e sermos então instigados para o seu estudo. 
Originalmente se reconhece a cultura como um conjunto de práticas, de 
princípios e de atitudes. Há que se considerar, porém, que ainda que se tenha a 
cultura em particular ela é, no singular e no plural, cultura em transformação e em 
diversidade. Em espaço integrado, de forte intercâmbio comunicacional e ao mesmo 
tempo local, interceptado em múltiplas escalas intermediárias até o mundial, o 
âmbito dos problemas não se reduz ao social e ambiental local, ele possui múltiplas 
referências. A apropriação de metodologias capazes de lidar com esse contexto assim 
modificado (o espaço mundialmente condensado e localmente ampliado) torna-se, 
por isso, essencial. As feições da geografia estão à nossa volta e estamos embebidos 
delas, mas não basta captar sua imagem, delinear seus contornos objetivos, sem 
Figura 1 - Relações espaciais (espaço-homem-sociedade)
e objeto ou formas geográficas associadas.
Fonte: adaptado de Di Méo e Buléon (2007), por Torres (2011).
Álvaro Luiz Heidrich
22
In
tr
od
uç
ão
distinguir as afetações simbólicas e o uso que se fazem delas. Na compreensão de 
Ernest Cassirer, não tratamos diretamente das coisas, mas da relação que temos com 
elas, do que sentimos e compreendemos, por meio da linguagem, da arte, do mito, 
da ciência e da religião (2005). 
Desse modo, com o auxílio teórico-metodológico que delineia a necessidade 
de se lidar com o imaginário, o levantamento dos fatos em campo visa a captura das 
falas e o envolvimento com os espaços culturais – geossimbólicos. Questionários 
e tabulações com amostras aleatórias não expressam essas relações. Elas não são 
quantificáveis, até porque não estão baseadas em parâmetros objetivos e quantificáveis. 
O sociocultural é captado mediante o envolvimento do pesquisador com o contexto 
da pesquisa. É preciso lidar com oralidade e posteriormente destrinchar os significadose sentidos. É para isso que se recorre aos levantamentos e pesquisas qualitativas, que 
permitem manejar informações textuais. 
Segundo entrelace: práticas da abordagem qualitativa
Por pesquisa ou metodologia qualitativa, pode-se compreender a prática ou 
conjunto de procedimentos voltados à coleta de informações que envolvem o uso da 
linguagem, em geral objetivadas para a captura de subjetividades e/ou significados 
contidos nos textos produzidos no levantamento em trabalho de campo. O universo 
de metodologias e abordagens teóricas é bastante amplo e muitas variações nele 
encontradas são alcançadas em disciplinas específicas que as adequam a seu escopo, 
embora tendam a difundir-se para outras áreas. Como é inerente a qualquer prática 
de metodologia, ela requer adaptação ao foco da pesquisa. Por isso, assim como os 
demais capítulos que seguem neste livro, outras importantes publicações retratam a 
reflexão sobre sua aplicação (BROSE, 2001; RAMIRES; PESSÔA, 2009; MARAFON 
et al., 2013). Neste tópico, apenas vão ser delineadas algumas referências para a 
pesquisa que lidam direta ou indiretamente com cultura e sociedade na geografia, 
objetivando-se muito mais a revelar os principais atributos do que caracterizar 
extensivamente as diferentes modalidades8. 
Uma comparação com as metodologias quantitativas (Quadro 1) torna essa 
tarefa mais facilitada. As pesquisas qualitativas privilegiam o estudo de questões 
subjetivas, geralmente não quantificáveis, apesar de que tem sido muito comum a 
organização dos chamados levantamentos (ou questionários) semiestruturados, para 
serem trazidas informações objetivas básicas sobre a população pesquisada ou tratar 
de alguns aspectos materiais do problema ou contexto estudado. 
Elas requerem que o trabalho de busca da informação seja intensivo e não 
são muito viáveis para aplicações extensivas. Como todo levantamento de pesquisa, 
8 Para uma visão mais atenciosa sobre as modalidades de pesquisa qualitativa, ver o trabalho de Flick 
(2009), Introdução à pesquisa qualitativa. 
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
23
In
tr
od
uç
ão
o nível intensivo ou extensivo se refere logicamente à amostragem da população 
pesquisada, mas pelo fato de estarmos lidando com geografia, isso também replica 
em termos espaciais (extensão e distâncias a serem percorridas). Dá-se muito mais 
atenção a cada unidade da amostra (sujeitos pesquisados), demanda-se convivência 
dialogada e conhecimento mais rico em detalhes da situação vivida. Valendo-se 
de um exercício de analogia, podemos dizer que vale a mesma ideia da situação 
de mercado na qual se ganha mais por unidade de produto quando se lida com 
pequenos estoques em relação à venda por atacado. Desse modo, o levantamento da 
informação exige maior disponibilidade de tempo, tanto em função de ser necessário 
adaptar o procedimento ao caso em estudo, como pelo fato de exigir diálogo aberto 
e não dirigido, o que impede sua apropriação por um número grande de auxiliares 
ou participantes da pesquisa. 
Elas são aplicáveis ao estudo de situações em particular e não para a compreensão 
de tendências gerais. A situação pesquisada é vista em particularidade. Por isso, a 
escala de atuação é predominantemente local. Não se impossibilita, porém, lidar 
com situações distantes, como no caso das pesquisas direcionadas para aspectos 
multiplamente situados ou afetados pelas dinâmicas de mundialização. Se for essa 
a situação, exigir-se-á deslocamento e apropriação dos locais pesquisados, a fim de 
se possibilitar o diálogo mais aprofundado9. Contudo, esse exemplo não sugere 
apropriação para efeito de comparabilidade das situações visitadas, tanto porque não 
se reúnem tamanhos amostrais confiáveis, como pelo fato de que o próprio espaço 
deva ser considerado uma situação, possivelmente local-mundial.
As questões de pesquisa não são elaboradas para os sujeitos entrevistados ou 
envolvidos no levantamento responderem diretamente. É recomendável que sejam 
perguntas-guia, para serem lembradas durante uma discussão num grupo focal, 
numa entrevista ou participação ativa em situação de grupo. Isso também não quer 
dizer que se desprezem conteúdos de diálogo não referidos diretamente ao guia 
construído, pois a descrição de situações em particular, com mais raridade podem 
ser previamente consideradas. Por isso, durante uma conversação, há mais ênfase 
na explanação. É autenticamente uma conversa, momento no qual podem surgir 
mudanças de situação, aparecer outros interlocutores e eventualidades. As surpresas 
também podem trazer aspectos positivos antes não considerados no levantamento, 
e isso deve ser acolhido como valiosa oportunidade de reconstrução de referências e 
reorientação de procedimentos de levantamento, de consideração de novas questões 
e ampliação do grupo pesquisado.
O pesquisador ou seu grupo assumem um papel mais ativo, diferenciando-
se da tradicional postura de neutralidade e distância da situação de pesquisa. 
Particularmente nos enfoques etnográficos, o pesquisador é pessoa que participa 
9 Ver capítulo 9: Etnografia multilocalizada em Antropologia e Geografia.
Álvaro Luiz Heidrich
24
In
tr
od
uç
ão
Quadro 1 – Aspectos principais das pesquisas qualitativas e quantitativas.
Aspectos Pesquisas qualitativas Pesquisas quantitativas
Questões de pesquisa
Como um processo funciona em 
um caso particular ou em um 
pequeno número de casos? Quais 
deles produzem alguma mudança?
O que fazem e como atuam os 
agentes do/no processo?
Quais são as regularidades, os 
padrões comuns e as distintas 
categorias da população?
Qual a amplitude de suas 
características, processos atuantes 
ou representados?
Relações estabelecidas
Relações substanciais e de 
conexão
Relações formais e de 
similaridade
Grupos estudados Causais Taxonômicos
Tipos de procedimentos
Estudo de agentes individuais em 
seu contexto causal, entrevistas 
interativas, etnografia e 
observação participante.
Análises qualitativas, de conteúdo 
e de discurso.
Pesquisa da população em larga 
escala ou amostras significativas, 
questionários formais e 
entrevistas padronizadas. 
Análises estatísticas.
Tipos de relatos produzidos
Explanação causal sobre a 
produção (ou vinculação) de 
objetos, eventos ou situações, não 
necessariamente considerados 
representativos.
Generalizações descritivas 
representativas da população, 
amostra ou classes e grupos, 
precisamente vinculadas à leitura 
dos dados objetivos.
Limitações encontradas
Padrões concretos e exatos, 
relativos ao conjunto entrevistado, 
não são usuais como informação 
representativa, generalizável ou 
comum.
Relações podem ser estabelecidas 
em muitas variações e situações.
Apesar de se representar a 
população considerada, não 
se pode estendê-la para outras 
situações, lugares e períodos.
Há risco de se produzir falácias de 
inferência sobre indivíduos.
Possui poder explanatório 
limitado.
Fonte: adaptado de Cloke et al. (2004).
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
25
In
tr
od
uç
ão
subjetivamente da situação e das vidas daqueles que são foco de atenção do estudo 
(ANGROSINO, 2009). Nas práticas de observação participante, são vistos como 
trabalhadores reflexivos em relação ao processo de construção da informação.
Uma das práticas de pesquisa qualitativa mais difundida é a observação 
participante, por vezes também denominada como pesquisa participante ou 
participativa, porém há um importante aspecto que as difere. A observação participante 
é fundamentalmente uma postura adotada pelo pesquisador em campo, enquanto 
na pesquisa participante há envolvimento do pesquisador ou mediador com os 
interesses da comunidade ou grupo envolvido na questão. Alguns exemplos desta 
modalidade são os procedimentos de levantamento de necessidades para a elaboração 
de documentos de reivindicação, realização de diagnósticos de problemas locais 
ou comunitários e que, muitas vezes, podem estar envolvendotomada de decisões 
sobre uso de recursos, demanda ou adoção de políticas públicas (BROSE, 2001). 
“No fundo, a [pesquisa participante] pode ser vista como participação baseada 
na pesquisa10. Trata-se de fundamentação científica da opção histórico-política” 
(DEMO, 2008). Muito similar a esse procedimento, caracteriza-se a chamada 
Pesquisa-ação (THIOLLENT, 2004), quando se desenvolve em estreita associação 
com um grupo social para o encontro da solução de um problema coletivo, estando 
a pesquisa participativamente envolvida com esse objetivo. O detalhe acrescido é o 
comprometimento no alcance dos resultados pretendidos pelo grupo (BARBIER, 
2007).
Quando a questão envolve de modo mais exclusivo a realização da pesquisa 
acadêmica e ocorre a identificação entre grupo de pesquisa e grupo pesquisado, 
inclusive com o compartilhamento de resultados e discussão aberta dos problemas 
em estudo, realiza-se então a observação participante. Muito embora a propriedade 
das informações passe a ter uma responsabilidade formal do pesquisador, elas 
também precisam ser compreendidas como um conhecimento do pesquisado, à 
medida que se configure a interação nos questionamentos e também a atitude de 
escuta. Apesar de não ser considerada propriamente uma metodologia, a ela se 
associa a postura do envolvimento, do diálogo e provavelmente da entrevista não-
diretiva. Esta postura comumente adotada na etnografia (ANGROSINO, 2009) 
tende a garantir legitimidade para sua atuação e presença junto ao grupo pesquisado, 
possibilitando-se superar os constrangimentos de fala e assim facilitar a obtenção das 
informações. Nessa prática, as informações são trazidas ou elaboradas conjuntamente 
por pesquisador e pesquisado. Utiliza-se a etnografia quando há necessidade de 
caracterizar o universo simbólico de modo autêntico, explicitado pela união do 
conhecimento etnográfico, teórico e prático.
10 Grifo no original.
Álvaro Luiz Heidrich
26
In
tr
od
uç
ão
Tem-se difundido bastante essa incursão metodológica na pesquisa de campo 
de geografia, e já se torna bem conhecida a variante etnogeografia. Seguindo-se as 
orientações de envolvimento do pesquisador com as etnias11, os geógrafos defendem 
que a etnogeografia permite apreender a especificidade dos lugares e das paisagens 
e verificar que a diversidade de normas que vigoram no lugar, nem sempre formais, 
muitas vezes não é captada nas pesquisas sobre temas econômicos, sociais e políticos 
(CLAVAL, 2002b). Para Bonnemaison (2002, p. 96-97):
(...) a territorialidade emana da etnia, no sentido de que ela é, antes de tudo, a 
relação culturalmente vivida entre um grupo humano e uma trama de lugares 
hierarquizados e interdependentes, cujo traçado no solo constitui um sistema 
espacial - dito de outra forma, um território.
Muitas situações vivenciadas na pesquisa ou observação participante envolvem 
a ação dialógica em grupo. O pesquisador muitas vezes se distancia de uma figura 
central e a noção de respostas verdadeiras transfigura-se pelo potencial do diálogo 
(CLOKE et al., 2004). Cabe interpretar e tirar proveito de considerações que 
podem ser polêmicas, divergentes, considerando-se que o grupo nem sempre atua 
em consenso. Também nessa prática não há neutralidade. Nem sempre ela se dá 
ocasionalmente, pode ser planejada para obter-se um resultado esperado, como 
quando se quer obter dados, capturar ideias ou percepções, que não se alcançaria 
em conversação isolada. Pode ser também excelente alternativa para conhecer 
informantes, apresentar-se a um grupo por meio da chegada do pesquisador por 
intermédio de instituições ou associações de determinado lugar12.
O campo de pesquisa sociocultural demanda, com freqüência, a busca por 
referentes territoriais, de frente às ameaças de desterritorialização tão comuns devido 
à propagação de inovações, modificação do meio social e ambiental, implantação 
de grandes construções quase sempre causadoras do desalojamento de populações. 
Situações como essas, notadamente com migrantes, requerem que o pesquisador lide 
com fatos e acontecimentos passados, quase sempre sem ou com precário registro 
documental. A conhecida história oral constitui-se em metodologia para este caso. 
Se possível, facilita-se a obtenção da narrativa com o uso de gravadores de voz, ou 
mesmo tomada de imagem13, para serem trazidas as vivências do grupo pesquisado 
em relação aos ambientes e lugares, instituições, modos de vida etc.
Também com a denominação de história de vida, o produto levantado por 
11 Como explicitado em Bonnemaison (2002, p. 96), por etnia se concebe “o campo de existência e de 
cultura, vivido de modo coletivo por um determinado número de indivíduos”, querendo dizer que não 
são exclusivamente povos intocados e de práticas tradicionais.
12 Esta foi a alternativa encontrada por Gamalho (2015) para construir a legitimidade de sua pesquisa 
junto a jovens sobre suas práticas espaciais.
13 Ver capítulo 13: Geografia e experiência cinematográfica.
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
27
In
tr
od
uç
ão
esse meio, em grupos de discussão e observação participante, constitui narrativas, 
textos que necessitam decifração. É muito interessante o fato de que o conjunto das 
narrativas permite revelar conteúdos essencialmente socioespaciais. Não se trata, 
como se viu mais acima, de reconhecer um espaço geográfico objetivo. As relações 
espaciais não são paisagem visível. Não se captam a dor, o preconceito, os estigmas 
e formas veladas de dominação.
O espaço social assemelha-se a um texto cujos códigos necessitam de tradução, 
de entendimento. Sua escrita não está dada, mas deve ser compreendida em 
seus quadros de interpretação, permeados por contradições e superposições. 
Ora, é necessário que o pesquisador desvencilhe-se de seus pré-conceitos e, 
para compreender o outro não a partir de si, de seu modo de vida e valores, mas 
a partir de estruturas e entendimentos desse outro (GAMALHO, 2010, p. 90).
Em todas essas modalidades, o propósito é dar autenticidade para as percepções 
das experiências das pessoas. Também em todas elas há envolvimento com a entrevista 
não-diretiva, que se orienta para a valorização da individualidade e sua subjetividade. 
O quadro geral e específico da situação e as contingências precisam ser levados em 
conta na leitura dos resultados. A ação de entrevista, porém, não é isolada. Faz parte 
de um “estar em contato, em trabalho de campo”, uma das atividades mais ricas da 
pesquisa com pessoas e grupos sociais e suas geografias. Envolve diretamente a 
intensa articulação de práticas com enfoque qualitativo, como o registro em diário e 
a tomada de imagens, a escuta, a própria entrevista e, também, sempre que possível, o 
intercâmbio de experiência com os próprios praticantes do levantamento, à maneira 
de um grupo focal.
O registro é para ser feito a todo o momento. O objetivo é trazer os aspectos 
relevantes – o que é próprio do lugar (da paisagem e do território) e seu diálogo 
com o que se repete pelas dinâmicas de assimilação das influências globais. Esta 
orientação toma partido de um provocador teórico, uma postura metodológica 
modificada em relação ao que era feito tradicionalmente na Geografia Humana e na 
Geografia Cultural. O singular não é mais algo perfeitamente encaixado. O registro 
se obtém com a anotação em diário, a fotografia, o relato de entrevista ou gravação e 
a escuta das pessoas do lugar ou seus interlocutores. Mais que um procedimento, o 
registro consiste na atividade articuladora das demais ações. Escutar é dar atenção à 
conversa, mas também a tudo aquilo que seja expressão do lugar: um discurso, uma 
manifestação espontânea, o que possa revelar as maneiras do lugar. Implica em reter 
a informação do que surge como próprio e vinculado ao que está em cena. Desse 
modo, deve ser também anotação em diário de campo da impressão causada que 
possibilita tanto indagar para conhecer, como também refletir sobre o que é dito e 
visto,considerando nossos referenciais. 
A leitura de campo pode ser considerada um estudo. Pode gerar uma 
interpretação que destaque aspecto, o relevo de alguma qualidade que tenha resultado 
Álvaro Luiz Heidrich
28
In
tr
od
uç
ão
do diálogo, do registro, da articulação de nossos valores referenciais, que muitas vezes 
conseguimos ver na experiência empírica. Nem sempre, porém, o olhar e a escuta de 
um é a mesma do outro. Entre vários fatores, destaco dois deles: depende do modo 
que cada um lê, influenciado pelo que se conhece, e por que os caminhos e os olhares 
no campo sempre podem diferir. Por isso, um seminário de campo ou simples roda de 
conversa (Figura 2) é uma prática bastante enriquecedora. Ali relatamos, recontamos 
as oralidades, comentamos detalhes, quase sempre despreocupados com a maneira 
de apresentar. Fazemos a troca do que um observou e registrou e comparamos. 
Muitas vezes, diferentemente da soma, as compreensões se multiplicam. Alguns 
aspectos podem ser generalizados, outros são muito próprios. Às vezes, se extrai a 
iluminação teórica e, em muitas outras, se desbloqueiam interessantes perguntas. 
Termina por ser um manancial no qual se pode usufruir para expor a vivência e 
elaborar o registro ao modo de uma leitura. 
Saber como se pode tirar proveito posterior do que se busca, do que se levanta 
em campo, é substancial para a análise do que foi registrado. Identifico pelo menos 
três maneiras – chaves de leitura – pelas quais podemos identificar nas leituras de 
entrevista o que se busca com elas: (1) conteúdos gerados pelas considerações 
de partida e dos objetivos da pesquisa; (2) conteúdos-surpresa, que podem ser 
guardados como preciosidades que, a maneira de um garimpo (de não se desprezarem 
esmeraldas e turmalinas mesmo que a procura seja por ouro), dão relevo às unidades 
de significação (MICHELAT, 1982); e a outra (3), o teor dos objetos-conceitos 
geográficos no interior (na alma) das falas. Este último pode garantir um alcance 
especial, à medida que se elabora a tradução empírica do objeto teórico. Assim, 
por exemplo, aquilo que é um conceito referencial da investigação ou do campo de 
pesquisa, aparece com coloração, significado local, com implicações nas vivências. 
Assim como a atividade foi planejada, quando se alcança o resultado do 
trabalho, o ideal é ter-se uma transcrição na qual possam ser feitas as marcações com 
as categorias esperadas e as unidades de significação encontradas14. Dois métodos 
que se referem ao texto são bastante úteis para essa fase da pesquisa. São as teorias 
do campo da linguística: as análises de conteúdo e de discurso. Ambas lidam com o 
conteúdo do texto (FRANCO, 2008; PÁDUA, 2002), mas possuem diferenças, pois 
enquanto a análise de conteúdo lida com os aspectos mais objetivos do conteúdo, a 
análise de discurso interessa-se pelos significados contidos nas narrativas. O trabalho 
primeiro de decodificar o texto, de separar os campos de atenção, as unidades de 
significação e termos conceituais, pode ser feito por meio da leitura do próprio 
pesquisador, por sistemas de busca de palavras ou trechos do editor de texto eletrônico 
ou por meio de softwares elaborados propriamente para esse objetivo15.
14 Ver capítulo 4: Entre corredores ecológicos e salas poéticas: conexões criativas no fazer científico.
15 No estudo de Mitchell (2011), o texto é trabalhado por sua própria leitura e auxílio do editor de texto 
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
29
In
tr
od
uç
ão
 
Selecionados os campos, ao conteúdo pode se aplicar a análise que visa 
decifrar significados contidos na oralidade. Trabalha-se a palavra a partir de emissores 
identificáveis para se conhecer aquilo que está por trás delas (PECHÊUX, 1973). 
Dentre os conceitos propostos por Mikhail Bakhtin para a análise do discurso, a busca 
pelo contexto da enunciação e a própria enunciação ou enunciado são centrais para 
deslanchar essa fase do estudo, na medida em que garantem compreensão, possuem 
sentido, em associação com outros conceitos ou termos (BRAIT; MELO, 2010). A 
partir de sua identificação, vai se revelando o significado nele contido. Não é mais a 
palavra aparente e como a oralidade do entrevistado está preenchida de lembranças e 
suas compreensões do vivido é, por isso, repleta em detalhes de fatos empíricos que 
eletrônico e vai definindo atentamente as categorias encontradas em cotejo com sua reflexão. O estudo 
de Brum (2015), sobre a terminologia utilizada em geografia cultural no conteúdo dos textos da Revista 
Géographie et Cultures, explora com eficiência os atributos do software para análise de conteúdo, 
impraticável de ser feito de outra forma, pois o corpus de 270 artigos gerou 1.048.618 palavras.
Figura 2 – Seminário do Trabalho de Campo Maçambique de Osório,
Osório – Outubro, 2011.
Foto: Wagner Innocencio Cardoso.
Fonte: Heidrich e Museu da UFRGS (2013).
Álvaro Luiz Heidrich
30
In
tr
od
uç
ão
dizem respeito a suas compreensões ideológicas, psicossociais, dores, alegrias etc.
É necessário que [se] traga [...] um enfoque que articule o linguístico e o social, 
buscando as relações que vinculam a linguagem à ideologia. Sistema de significação 
da realidade, a linguagem é um distanciamento entre a coisa representada e o 
signo que a representa. E é nessa distância, no interstício entre a coisa e sua 
representação sígnica que reside o ideológico (BRANDÃO, 2004).
Esse procedimento pode revelar também os aspectos mais subjetivos 
vinculados aos significados dados pelas características primeiras e imediatas do texto. 
O sentido que eles possuem é o significado mais pessoal ou que esteja organicamente 
compartilhado em grupo. É importante, pois ele é objetivado, se concretiza na prática 
social e se expressa como representações sociais, cognitivas, subjetivas, valorativas e 
emocionais, necessariamente contextualizadas (FRANCO, 2008). Sentido, então, é 
significado subjetivo. Está associado a algum objeto de referência, algo importante 
da memória coletiva e do espaço vivido. Para Berger e Luckmann (2004), ele é uma 
forma complexa de consciência que se origina da noção de que existe uma relação 
entre as experiências. Portanto, pode ser pessoal, de grupo ou de âmbitos sociais mais 
amplos. Fazemo-nos corpo social por meio da compreensão dessas experiências, 
que manifestam sua coesão ao mesmo tempo que em seu conflito interno. Apesar de 
estarmos embebidos do mundo – portanto, da geografia –, podemos compreendê-lo, 
não como algo imanente, mas por meio daquilo que ele produz em nossos sentidos. 
Na análise das mensagens socialmente construídas, na busca por suas objetivações, 
todos os enunciados que suportem a tese de desigualdade, estranhamento, surpresa, 
além das contextualizações da pesquisa, devem ser analisados. Isso requer que as 
descobertas tenham relevância teórica e implica comparações contextuais.
Desenlace
Estas reflexões foram iniciadas com a ideia de compreensão da utilidade e 
pertinência das metodologias qualitativas na pesquisa de geografia. Considerações 
sobre o método, em geral e na geografia, foram importantes para demonstrar o 
quanto o enfoque qualitativo é necessário, assim como também ele oportuniza o 
desenvolvimento dos estudos que envolvem o campo do imaginário sobre espaços e 
lugares e, mesmo, verificar que esse não é um campo que se isola do objeto de estudos 
presentes nos demais focos de atenção de nossa disciplina. Não há imaginário que se 
reporte em si mesmo, sem ancorar-se em qualquer fato objetivo do vivido. Por isso, 
não é fortuitamente que muitos arranjos dos procedimentos de pesquisa mesclam o 
enfoque qualitativo em instrumentos semiestruturados, nos quais perguntas objetivas 
permitem dar os primeiros recortes do contexto. Vimos, porém, que esse objetivo 
é interpretado, trazido de modo particular por pessoas e grupos.
Dois entrelaces foram importantes nessa construção: (1) o reconhecimento 
Método e metodologias na pesquisa das geografiascom cultura e sociedade
31
In
tr
od
uç
ão
de um campo de atenção que liga os temas de estudo da cultura aos problemas 
sociais; e (2) a identificação de diferentes modalidades do enfoque metodológico 
qualitativo que, todavia, possui muitos aspectos em comum e, notadamente, o da 
entrevista não-diretiva. No primeiro entrelace, anota-se não apenas o fortalecimento 
mútuo entre geografia cultural e geografia social, como revela a proposta de arranjo 
metodológico de uma geografia sociocultural. No segundo, observou-se que há uma 
amplitude de aplicações dessas metodologias e que o entrelace faz surgir, justamente, 
um campo inteiramente interdisciplinar, no qual desenvolvimentos alcançados numa 
área revelam-se aplicáveis e extremamente importantes em outras. 
Portanto, o que foi demonstrado não é um método geográfico, tampouco 
geossociocultural. Certamente a própria etnogeografia pode ser explorada e adaptada 
para outras áreas. Qualquer uma das modalidades delineadas neste texto não é 
completa em si mesma como meio de se construírem as explicações. Necessitamos 
de cartografias, descrições, trabalhos de campo (integradores de vários enfoques 
analíticos, levantamentos semiestruturados e pesquisas qualitativas) e interpretação de 
dados textuais e de imagens. Como foi visto, o contorno e a natureza de cada pesquisa 
em particular, em função da questão a ser estudada, requer e merece adequação do 
enfoque metodológico e da modalidade do procedimento a ser explorado.
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. 3 ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1998.
ANGROSINO, M. Etnografia e observação participante. Porto Alegre: Artmed, 2009.
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 16 ed. São Paulo: Hucitec, 2014.
BARBIER, R. A pesquisa-ação. Brasília: Liber Livro, 2007.
BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. Modernidade, pluralismo e crise de sentido: A orientação 
do homem moderno. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
BLOMM, A. L. Superfície da Terra. São Paulo: Edgard Blücher, 1970.
BONNEMAISON, J. Viagem em torno do território. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. 
(Orgs.). Geografia cultural: um século (3). Rio de Janeiro: EdUERJ, 2002. p. 83-131.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1989.
BRAIT, B.; MELO, R. Enunciado/enunciado concreto/enunciação. In: BRAIT, B. (Org.). 
Bakhtin: conceitos-chave. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2010. p. 61-78.
BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. Campinas: Editora da Unicamp, 2004.
BROSE, M. (Org.). Metodologia participativa: uma introdução a 29 instrumentos. Porto 
Alegre: Tomo Editorial, 2001.
Álvaro Luiz Heidrich
32
In
tr
od
uç
ão
BRUM, R. M. Terminologia da geografia cultural: estudo preliminar para um glossário 
bilíngue francês-português. 2015. 111 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Instituto de Letras, 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
CASSIRER, E. Ensaio sobre o homem. Introdução a uma filosofia da cultura humana. São 
Paulo: Martins Fontes, 2005.
CLAVAL, P. A volta do cultural na geografia. Mercator - Revista de Geografia da Universidade 
Federal do Ceará, Fortaleza, v. 1, n. 1, p. 19-28, 2002a.
CLAVAL, P. Campo e perspectivas da geografia cultural. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, 
Z. (Orgs.). Geografia cultural: um século (3). Rio de Janeiro: EdUERJ, 2002b, p. 83-131.
CLAVAL, P. Uma, ou algumas, abordagem(ns) cultural(is) na geografia humana? In: SERPA, 
A. (Org.). Espaços culturais: vivências, imaginações e representações. Salvador: EDUFBA, 
2008. p. 13-24.
CLAVAL, P. Epistemologia da geografia. Florianópolis: Editora UFSC, 2014.
CLOKE, P. et al. Practising human geography. London: Sage publications, 2004.
COSGROVE, D. E.; JACKSON, P. Novos rumos da geografia cultural. In: CORRÊA, R. L.; 
ROSENDAHL, Z. (Orgs.). Introdução à geografia cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2003. p. 135-146.
DEMO, P. Pesquisa participante: saber pensar e intervir juntos. 2 ed. Brasília: Liber Livro, 2008.
DI MÉO, G.; BULÉON, P. L’espace social. Lecture géographique des societés. Paris: Armand 
Colon, 2007.
FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
FRANCO, M. L. Análise de conteúdo. 3 ed. Brasília: Liber Livro, 2008.
GAMALHO, N. P. Oralidades. Os caminhos da pesquisa na produção do bairro Restinga, Porto 
Alegre. In: TETTAMANZY, A. L. L.; ZALLA, J.; D’AJELLO, L. F. T. (Orgs.). Sobre as poéticas 
do dizer: pesquisas e reflexões em oralidades. São Paulo: Letra e Voz, 2010. cap. 2.
GAMALHO, N. P. Entre dominações e apropriações, reproduções e criações, centralidades 
e periferias: práticas e espaços de representações de jovens do Guajuviras – Canoas/RS. 2015. 
314 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul, Porto Alegre.
HEIDRICH, A. L. Território e cultura: argumentos para uma produção de sentido. In: HEIDRICH, 
A. L.; COSTA, B. P.; PIRES, C. L. Z. (Orgs.). Maneiras de ler: geografia e cultura. Porto Alegre: 
Compasso-Lugar Cultura; Imprensa Livre, 2013, p. 52-61.
 HEIDRICH, A. L.; MUSEU DA UFRGS (Orgs.). Maçambique de Osório. Catálogo da 
exposição. Porto Alegre: UFRGS, 2013.
JOHNSTON, R J.; GREGORY, D.; SMITH, D. M. (Eds.). Diccionario Akal de Geografía 
Humana. Madrid: Ediciones Akal, 2000.
Método e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade
33
In
tr
od
uç
ão
LEFEBVRE, H. Critique de la vie quotidienne. Paris: L’Arche Éditeur, 1961.
LEFEBVRE, H. La production de l'espace. Paris: Anthropos, 2000. 
MARAFON, G. J. et al. (Orgs.). Pesquisa qualitativa em geografia: reflexões teórico-conceituais 
e aplicadas. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
MICHELAT, G. Sobre a utilização da entrevista não-diretiva em sociologia. In: THIOLLENT, 
M. (Org.). Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. São Paulo: Polis, 
1982. p. 191-211.
MITCHELL, A. S. Entre fragmentos e vínculos territoriais: Colônia São Pedro de Alcântara. 
2011. 177 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências, Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
MOREIRA, R. Pensar e ser em geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do 
espaço. São Paulo: Contexto, 2007.
NABOSNY, A. Abordagens culturais na geografia brasileira: uma compreensão. 2014. 160 
f. Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul, Porto Alegre.
PÁDUA, E. M. M. Análise de conteúdo, análise de discurso: questões teórico-metodológicas. 
Revista de Educação, Campinas, n. 13, p. 21-30, nov. 2002.
PECHEUX, M. Analyse du discours de l’intelligence, langue et idéologie. Langages, Paris, n. 
37, mar. 1973.
RAIBAUD, Y. Géographie socioculturelle. Paris: L’Harmattan, 2011.
RAFFESTIN, C. Repères pour une théorie de la territorialité humaine. In: DUPUY, G. et al. 
Reseaux territoriaux. Caen: Paradigme, 1988. 
RAMIRES, J. C. L.; PESSÔA, V. L. S. (Orgs.) Geografia e pesquisa qualitativa: nas trilhas da 
investigação. Uberlândia: Assis, 2009.
SAID, E. W. Narrative, geography and interpretation. New Left Review, London, n. 180, p. 
81-97, mar-abr. 1980.
SAID, E. W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2007.
SANTOS, M. Espaço e método. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
SANTOS, M. Testamento intelectual. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
SMITH, N. The diversion of culture, the politics of cultural geography. Geographia, Rio de 
Janeiro, v. 17, n. 34, p. 8-23, 2014.
SPOSITO, E. S. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. 
São Paulo: Editora UNESP, 2004.
THIOLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 13 ed. São Paulo: Cortez, 2004.
TORRES, M. A. Tambores, rádios e vídeoclipes: sobre paisagens sonoras, territórios e 
multiterritorialidades. Geotextos, Salvador, v. 7, n. 2 p. 69-83, 2011.
In
tr
od
uç
ão
Ca
rt
og
ra
fia
s 
e 
na
rr
at
iv
as
Narrativas do espaço nas históriasde 
vida: os desafios das metodologias 
qualitativas na geografia
Nola Patrícia Gamalho
As experiências, práticas e sentidos associados aos espaços 
sociais são questões que emergem com importância renovada no 
conhecimento geográfico, particularmente nas geografias de cunho 
humanista, cultural e social. O espaço, o território, o lugar é percorrido 
horizontalmente, na perspectiva de atores (DI MÉO; BULÉON, 
2007), em passos e percursos que delineiam o cotidiano no espaço 
vivido, aparentemente banal e sem importância. Todavia, esse espaço 
banal, de práticas microbianas (CERTEAU, 2009), revela-se como 
importante instrumento de leitura do mundo, transparecendo, nos 
interstícios das estruturas socioespaciais, outras geografias. 
Ao deslocar o problema da materialidade do espaço para 
aspectos que envolvam subjetividades, insere-se a questão de 
como fazê-lo. O primeiro passo é o diálogo com outros campos do 
conhecimento, como antropologia, sociologia, psicologia, educação, 
que têm desenvolvido e problematizado acerca das metodologias 
qualitativas. Todavia, cabe à geografia não apenas a apropriação de 
metodologias, mas a contribuição ao desenvolvimento das mesmas a 
partir de suas especificidades. O desafio de aventurar-se por geografias 
subterrâneas, por vozes silenciadas, impõe rigor e criatividade na 
execução e reflexão metodológicas. As narrativas do espaço imersas 
nas histórias de vida, nas práticas socioespaciais, são objetivo dessa 
2
In: HEIDRICH, A. L. & PIRES, C. L. Z. (orgs.). Abordagens e práticas da pesquisa 
qualitativa em Geografia e saberes sobre espaço e cultura. Porto Alegre: 
Editora Letra1, 2016, p. 35-47. DOI: 10.21826/9788563800220
Nola Patrícia Gamalho
36
Ca
rt
og
ra
fia
s 
e 
na
rr
at
iv
as
aventura, porque pesquisar pressupõe desprender-se e perder-se no novo, no inusitado, 
buscando, com isso, recriar caminhos.
Perdemo-nos pelas trilhas da periferia, pelo burburinho das vozes dos jovens 
do Guajuviras1, narradores do espaço que externalizam em suas falas os processos de 
estigmatização e a criatividade e subversão das práticas microbianas. As interpretações 
possíveis a partir dessas narrativas compõem esse espaço social, com especificidades do 
lugar e com elementos estruturantes; pois produção e reprodução são indissociáveis. 
A complexidade desse espaço vivido dá indícios das dificuldades do percurso 
metodológico, logo é indispensável pensar nos acertos, erros, potencialidades e 
desafios das metodologias qualitativas ao objeto geográfico.
Operacionalmente, as metodologias qualitativas inserem, indissociavelmente, 
problemas e potencialidades. A inserção em campo, os diálogos com os narradores e as 
interpretações das narrativas e práticas exigem rigor e flexibilidade. As particularidades 
dessas etapas da pesquisa propiciam a produção de saberes que emergem do empírico 
exaustivamente analisado e articulado a concepções teóricas que potencializem a 
compreensão do fenômeno.
Desejo e temor: o inusitado nas pesquisas qualitativas
A opção de trabalhar com a oralidade, seja a partir das histórias de vida, 
biografias, grupos focais ou entrevistas não diretivas, está associada a análises do 
espaço que ultrapassem as questões vinculadas às materialidades, sem, contudo, 
descolar-se delas. Em um questionário estruturado, as perguntas são diretas, assim 
como as respostas. Ao indagar, por exemplo, onde o sujeito reside, quantos filhos 
têm, quantos cômodos possui sua casa, a fonte de renda, o pesquisador restringe 
as informações ao âmbito objetivo, são dados mais superficiais e próprios para 
a quantificação estatística. Todavia, caso o objetivo seja delinear como o sujeito 
constrói os significados e práticas das relações residenciais e familiares, trabalhistas, 
é necessário fornecer-lhe instrumentos para explorar essas questões de forma a 
acionar informações mais profundas. Os instrumentos qualitativos de produção de 
informações partem do princípio de que os atores são detentores de saberes a partir 
dos quais o mundo é conhecido e significado.
As narrativas geram uma diversidade de dados que emergem de forma 
desordenada, não linear e, por vezes, aparentemente desconexas ou sem 
importância. Ao delegar ao narrador a posição de exploração2 das memórias, valores 
1 O Guajuviras é um bairro popular localizado no município de Canoas, Região Metropolitana de Porto 
Alegre, RS.
2 O que não significa que o pesquisador adota uma postura passiva, ao contrário, o trabalho com narrativas 
é uma troca, diálogo através do qual o pesquisador busca interferir quando necessário, ajudando o ator 
a aprofundar e formular melhor os seus pensamentos (KANDEL, 1980).
Narrativas do espaço nas histórias de vida: os desafios das metodologias qualitativas na geografia
37
Ca
rt
og
ra
fia
s 
e 
na
rr
at
iv
as
e representações, tem-se como resultado elementos não pensados previamente 
no objeto de pesquisa, gerando desvios. Deparamo-nos com “uma tempestade 
de luz” (MORAES, 2003), ou seja, múltiplas construções de sentido que, em 
meio à aparente desordem e caos, produzem uma nova ordem. O problema de 
pesquisa não raramente é fugidio, produz-se no fazer. Os métodos indutivo e 
dedutivo (MORAES, 2003), quando combinados, propiciam o equilíbrio entre 
o planejamento e o desvio. A inserção no objeto de estudo parte do método 
dedutivo, de categorias a priori que estimulam e orientam as reflexões sobre 
o problema. Parte-se do geral para o particular, assim, ao iniciar a pesquisa, 
tem-se os referenciais teóricos que contribuem para a leitura do mundo. Já o 
indutivo, constitui-se a partir das informações contidas no material produzido 
em campo, que logo aparecem como categorias não planejadas. Os descaminhos 
e insurgências redirecionam o olhar do pesquisador e o que se revela de forma 
difusa, demandando densas reflexões, é a emergência de conhecimentos novos. 
Assim, o problema emerge de forma maleável, reelaborando-se no percurso, 
possibilitando, com isso, o desejo, o medo e a inovação. Ribeiro (1999) salienta 
o “perigo da terra firme ao conhecimento”, reconhecendo o medo frente ao 
inusitado, mas também a potencialidade de inovação ao adentrar por terrenos 
desconhecidos. É preciso abrir-se ao inesperado, reelaborando os pressupostos 
e direcionamentos no decorrer do percurso. São essenciais
(...) as insubordinações do próprio sujeito que delimita o objeto. Em muitos 
momentos o sujeito apaga com o seu desejo e curiosidade as linhas traçadas para 
o texto, trançando-o por caminhos que não foram intencionados (CARRANO, 
1999, p. 2).
Parafraseando Tom Zé (1976), talvez a melhor forma de iniciar a trajetória 
de pesquisa seja mesmo explicar para confundir, confundir para esclarecer, iluminar 
para cegar e ficar cego para poder guiar3, porque toda construção deve proceder de 
desconstruções, estranhamentos, desconfortos. A aventura do caminho está em 
perder-se, descobrir outros planos, o inusitado. Projetando a pesquisa para uma 
confusão que projeta outras verdades, pois perder-se é parte inexorável do encontro, 
e de se encontrar. 
O papel acolhe as ideias e nele, aparentemente, não há barreiras. O planejamento 
é essencial ao desenvolvimento da pesquisa, porém, ao utilizar metodologias 
qualitativas, abre-se a possibilidade do inusitado. A utilização de instrumentos de 
pesquisa de cunho qualitativo não é suficiente para a construção de metodologias 
qualitativas. A produção de dados e a interpretação desses são qualitativas quando se 
colocam para o novo, para o que há de mais profundo nas narrativas. A convergência, 
3 Música “Tô”, do CD Estudando o Samba.
Nola Patrícia Gamalho
38
Ca
rt
og
ra
fia
s 
e 
na
rr
at
iv
as
por exemplo, da dedução e indução equilibra as informações nos referenciais prévios 
ao mesmo tempo que possibilita o inusitado. Prazer e medo são aspectos do mesmo 
processo, “mas um pavor que desperte a vontade de inovar em vez de levar o estudante 
a procurar a terra firme, terreno conhecido” (RIBEIRO, 1999, p.

Continue navegando