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LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 1 | P á g i n a Sumário Introdução ................................................................................. Erro! Indicador não definido. Aula 1 – INTRODUÇÃO. ........................................................................................................ 4 1. Introdução ........................................................................................................................... 4 2. CRIMES MILITARES CONTEXTO HISTÓRICO ........................................................................ 5 3. CONCEITO DE CRIME MILITAR (ART. 9º DO CPM) .............................................................. 6 4. APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR. .................................................................................... 8 5. LEI PENAL MILITAR NO TEMPO E NO ESPAÇO. ................................................................... 9 6. LUGAR DO CRIME ................................................................................................................ 9 6.1. COMENTÁRIOS SOBRE O LUGAR DO CRIME NA LEI PENAL MILITAR ........................... 10 Aula 2 – CRIMES MILITARES EM TEMPO DE GUERRA E CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ. ......................................................................................................................................... 15 1. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE GUERRA ..................................................................... 15 2. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ. ........................................................................... 16 Aula 3 – PENAS DO DIREITO PENAL MILITAR. ...................................................................... 35 1. Penas Principais ................................................................................................................ 35 Penas Principais................................................................................................................... 35 2. Pena de Dois Anos Aplicada a Militar ............................................................................... 46 Pena até dois anos imposta a militar ................................................................................... 46 3. Pena Superior a Dois Anos Aplicada a Militar ................................................................... 47 Pena superior a dois anos, imposta a militar ....................................................................... 47 4. Penas Acessórias. .............................................................................................................. 47 Penas Acessórias ................................................................................................................. 47 COMENTÁRIOS: ............................................................................................................... 48 Aula 4 – CRIME CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR. ...................................... 54 1. Motim ............................................................................................................................... 54 2. REVOLTA ........................................................................................................................... 56 3. ORGANIZAÇÃO DE GRUPO PARA A PRÁTICA DE VIOLÊNCIA ............................................ 57 4. Omissão de Lealdade Militar ............................................................................................ 58 5. DA ALICIAÇÃO E DO INCITAMENTO .................................................................................. 60 6. ALICIAÇÃO PARA MOTIM OU REVOLTA ............................................................................ 62 7. INCITAMENTO ................................................................................................................... 64 LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 2 | P á g i n a 8. APOLOGIA DE FATO CRIMINOSO OU DO SEU AUTOR. ..................................................... 66 Aula 5 – Da violência Contra Superior ou Militar de Serviço. ............................................... 70 Introdução ............................................................................................................................... 70 1. VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR ......................................................................................... 70 2. VIOLÊNCIA CONTRA MILITAR DE SERVIÇO ........................................................................ 75 3. DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A SÍMBOLO MILITAR ..................................................... 76 Aula 6 – Da Insubordinação. ............................................................................................... 83 1. RECUSA DE OBEDIÊNCIA ................................................................................................... 83 2. OPOSIÇÃO DE ORDEM DE SENTINELA .............................................................................. 84 3. REUNIÃO ILÍCITA ............................................................................................................... 85 4. PUBLICAÇÃO OU CRÍTICA INDEVIDA ................................................................................. 86 5. USO INDEVIDO DE UNIFORME DE SUPERIOR ................................................................... 89 6. USO INDEVIDO DE UNIFORME POR QUALQUER PESSOA ................................................. 90 7. RIGOR EXCESSIVO ............................................................................................................. 90 8. DA VIOLÊNCIA CONTRA SUBORDINADO ........................................................................... 91 9. OFENSA AVILTANTE CONTRA SUBORDINADO .................................................................. 92 Aula 7 – DA RESISTÊNCIA. .................................................................................................. 95 1. DA RESISTÊNCIA ................................................................................................................ 95 2. FUGA DE PRESO OU INTERNADO ...................................................................................... 97 3. EVASÃO DE PRESO OU INTERNADO .................................................................................. 99 4. ARREBATAMENTO DE PRESO OU INTERNADO. .............................................................. 102 5. AMOTINAMENTO. ........................................................................................................... 104 Aula 8 – Dos Crimes Contra o Serviço e os Deveres Militar. ............................................... 108 1. Crime de Deserção .......................................................................................................... 108 2. Do Abandono de Posto e de Outros Crimes em Serviço................................................. 113 3. Dos Crimes Sexuais ......................................................................................................... 118 4. Dos Crimes Contra o Patrimônio..................................................................................... 121 4.1. DO ROUBO E DA EXTORSÃO .................................................................................. 124 4.2. DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA ................................................................................. 127 5. Do Dano .......................................................................................................................... 128 Aula 9 – Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública. ......................................................... 133 1. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ............................................................................................ 133 2. DO PERIGO RESULTANTE DA VIOLAÇÃO DE REGRA DE TRÂNSITO ................................. 136 LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 3 | P á g i n a 3. TRÁFICO, POSSE OU USO DE ENTORPECENTE OU SUBSTÂNCIADE EFEITO SIMILAR. .... 138 Aula 10 – DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA. ............................................ 144 1. DESACATO A SUPERIOR, MILITAR, FUNCIONÁRIO .......................................................... 144 2. DESOBEDIÊNCIA .............................................................................................................. 146 3. INGRESSO CLANDESTINO ................................................................................................ 148 4. INOBSERVÂNCIA DE LEI, REGULAMENTO OU INSTRUÇÃO. ............................................ 149 5. VIOLAÇÃO OU DIVULGAÇÃO INDEVIDA DE CORRESPONDÊNCIA OU COMUNICAÇÃO. . 151 6. EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGAL ....................................................................................... 153 7. APLICAÇÃO ILEGAL DE VERBA OU DINHEIRO .................................................................. 153 8. ABUSO DE CONFIANÇA OU BOA FÉ. ............................................................................... 154 LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 4 | P á g i n a Aula 1 – INTRODUÇÃO. 1. Introdução O Direito Penal Militar é considerado pela doutrina como uma subdivisão do Direito Penal sendo um ramo do Direito Público que visa regular os crimes militares previsto no Decreto Lei 1001 de 21 DE OUTUBRO DE 1969 isto é, no Código Penal Militar. Preliminarmente é importante salientar que a Constituição de Republica Federativa de 1988, recepcionou quase na sua plenitude o CPM, existe um nítido paralelismo entre o Direito Penal Militar (DPM) e o Direito Penal Comum (DP), mormente a questão da tipicidade, excludentes de ilicitude e culpabilidade. Considerando as semelhanças com o Direito Penal Comum, aborda-se aqui, tão somente, as particularidades do DPM e diferenças em relação ao DP, de maneira pontual. Cita-se inicialmente que o bem jurídico tutelado no Direito Penal Militar (DPM) é diferente do Direito Penal Comum (DP). Direito Penal: visa proteger os bens jurídicos mais relevantes para a vida em sociedade. DPM: visa proteger a hierarquia e a disciplina (visando a segurança da nação e as instituições militares). Estes são os sustentáculos da atividade militar. Por isso, existem tipos penais no CPM, não previstos no CP, por exemplos: desrespeito a superior (art. 160), furto de uso (art. 241), publicação ou crítica indevida (art. 166), dano culposo (art. 266), pederastia (art. 235). LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 5 | P á g i n a 2. CRIMES MILITARES CONTEXTO HISTÓRICO Historicamente, sobre a temática do Direito Penal Militar é fundamental o retorno o povos, culturas e exércitos antigos para a compreensão do tema, Evidências históricas permitem deduzir que alguns povos civilizados da antiguidade, como Índia, Atenas, Pérsia, Macedônia e Cartago, conheciam a existência de certos delitos militares e seus agentes eram julgados pelos próprios militares, especialmente em tempo de guerra. Mas foi em Roma que o Direito Penal Militar adquiriu vida própria considerado como instituição jurídica. As origens históricas do Direito Penal Militar, como de qualquer ramo do Direito, são, principalmente, as que nos oferecem os romanos. A política foi sempre dominar os povos antes de tudo pela força das armas e depois consolidar a conquista pela Justiça das leis e sabedoria das instituições. Cesar Godinho ao abordar o a temática destaca. “Teve, assim, o exército romano o seu Direito Criminal. Para as faltas graves da disciplina, o Tribuno convocava o Conselho de Guerra, julgava o delinqüente e o condenava a bastonadas. Esta pena, às vezes, eram aplicadas com tal rigor que acarretava a perda da vida do condenado. Tais penas estavam ligadas a certos crimes e atos de covardia. Nós também copiamos essa aflição física dos romanos, com a triste reminiscência no art. 184 do Regulamento de 20 Fev 1708 e o castigo corporal no Brasil somente foi abolido, inicialmente pelo Exército por meio da Lei n.º 2.556, de 26 Set 1874, art. 8º e, na Marinha (Armada), pelo Decreto n.º 3, de 16 Nov de 1889, art.2º. A legislação castrense no Brasil tem origem nos artigos de guerra de autoria do Príncipe Alemão, a serviço do Rei da Inglaterra, e que recebeu a incumbência de organizar e disciplinar o exército Português, o Conde de Lippe em 1763. Os artigos vigoraram até a proclamação da republica. Com a chegada de D. João VI ao Brasil pelo alvará de 21 de abril de 1808, criou-se o Conselho Supremo militar e de Justiça e, em 1834, a provisão de 20 de outubro previa crimes militares, que foram separados em duas categorias: os praticados em tempos de paz e os praticados em tempo de guerra[...].” (GODINHO, 1982, p.1). LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 6 | P á g i n a 3. CONCEITO DE CRIME MILITAR (ART. 9º DO CPM) O conceito de Crime Militar não é tão fácil de entender, “pelo contrário é difícil uma vez que os tipos penais militares tutelam bens de interesses das instituições militares e por cuidar a legislação castrense, não só dos crimes praticados pelo militar no exercício da função.” (ASSIS, 2010, p. 44). A Constituição Federal de 1988 não esclarece o que é crime militar, mas a ele faz-se referência em vários dos seus artigos: 5°, inciso LXI; 124; 125, § 4°; 144, § 4°. Deixando clara a existência do Crime Militar. Ao analisar a Carta Magna, em seu artigo 5°, inciso LXI, excepciona os casos de transgressão disciplinar ou "crimes propriamente militares" ao assegurar que "... ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar, definidos em lei;" (ASSIS, 2010, p.43). Com isso, estabelece o direito à segurança, a proteção da liberdade contra a prisão ilegal ou abusiva. Existe a exceção para a prisão, entende-se que mesmo não estando em flagrante delito ou sem ordem da autoridade judiciária competente, em devido ao fato da necessidade que têm as instituições militares seus princípios basilares da hierarquia e disciplina dentro das respectivas casernas. (LOBÃO, 2009). Ao afirmar que "à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei" (art. 124 da CF 1988) estabelece competência ampla para a Justiça Militar julgar qualquer pessoa, inclusive civis, porém, tal entendimento aplica-se aos Crimes Militares da União e não a Justiça Militar Estadual. Aspecto importante nesta introdução é trazer a diferença entre o Crime Propriamente Militar, também chamado de Crime Militar Próprio e Crime Impropriamente Militar, também chamado de Crime Militar Impróprio. Os Crimes Militares Próprios são aqueles que estão previstos somente no CPM e só pode ser praticado por militar como Exemplo o Art. 187 do CPM, que configura o Crime de Deserção. Os crimes Impropriamente Militar, são aqueles previstos no CPM e no CP e podem ser praticados, tanto por militar, quanto por civil, como exemplo o crime de LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 7 | P á g i n a homicídio (art. 205) do CPM e tendo também a previsão no Código Penal Comum no Artigo 121. Os critérios de interpretação das normas de direito militar, segue princípios constitucionais e penais, sendo fundamental compreender o princípio da especialidade da norma penal militar, suas aplicações, a orientação das normas comuns existentes no nosso ordenamento jurídico, como também, as interpretações da jurisprudência. O crime militar próprio enseja duas situações distintas para o seu autor, que será sempre o militar da ativa, poder ser preso pela autoridade de polícia judiciária militar competente, mesmo sem ser em flagrante delito e sem ordem escrita da autoridade judiciária, por expressa disposição constitucional (art 5°, inciso LXI), recepcionando, enquanto a competência da Justiça Militar da União (artigo 124 da CF) é ampla, julgando todos os crimes capitulados no CPM,tendo os militares e os civis como jurisdicionados. (ASSIS, 2007). As Justiças Militares dos Estados têm competência restrita (ratione personae) julgando os crimes militares previstos na lei mas, apenas, quando praticados por policiais militares e por bombeiros militares dos respectivos Estados e do Distrito Federal, nos termos do art. 125, § 4°: compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares, definidos em lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.(LOBÃO, 2009). Já o art. 144, § 4°, estabelece a competência das Polícias Civis, suas funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares devendo estas ser analisadas pela Polícia Judiciária Militar no que tange às Infrações penais militares. (LOBÃO, 2009). LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 8 | P á g i n a 4. APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR. Ao verificar o DECRETO-LEI Nº 1.001, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969, instituiu o Código Penal Militar verifica se que no tocante a aplicação da Lei Penal Militar as definições se apresentam como o Direito Penal Comum. O principio da Legalidade está previsto no Art 1° do CPM e trás a seguinte definição, Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. COMENTÁRIOS AO ARTIGO 1° DA LEI: Muitos doutrinadores entendem que este princípio seria como sinônimo do princípio da reserva legal. Outros já entendem este contendo aquele, sendo acompanhado pela irretroatividade da lei penal. Melhor explicando, para muitos, reserva legal se confunde com legalidade; para outros tantos, a reserva legal é um princípio maior, composto pela legalidade e pela irretroatividade. Para o Douto Cesar Bitencourt, o “princípio da legalidade ou da reserva legal constitui uma verdadeira limitação do poder punitivo estatal”, consagrado por Feuerbach, no início do século Conceito de Crime Militar O Código Penal Militar não define crime militar, mas sim enumera segundo critério ex vis legis. Critério este fundamental para a caracterização de crime militar estabelecido pelo Código na qual crime militar é o que a Lei considera como tal, ou enumera desta forma. Nas palavras do doutrinador Assis ao aprofundar o conceito, afirma que: “Crime militar é toda violação acentuada ao dever militar e aos valores das instituições militares”. (ASSIS, 2008, p. 15). Para conceituar o Crime Militar o autor esclarece que a doutrina estabeleceu os seguintes critérios: ratione materiae, ratione personae, ratione temporis e ratione legis. O critério ratione materiae exige que se verifique a dupla qualidade militar no ato e no agente; são delitos militares ratione personae aqueles cujo sujeito ativo é militar atendendo exclusivamente à qualidade de militar do agente. (LOBÃO, 2008). O critério ratione loci leva em conta o lugar do crime, bastando, portanto, que o delito ocorra em lugar sob administração militar. São delitos militares, ratione temporis, os praticados em determinada época (LOBÃO, 2008). Conclui-se que a qualificação do crime militar se faz pelo critério ratione legis, ou seja, é crime militar aquele que o Código Penal Militar diz que é, ou melhor, LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 9 | P á g i n a XIX, pela fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine lege. Nitidamente, para o caro mestre, a distinção entre legalidade e irretroatividade é desnecessária, podendo ambos os princípios ser condensados no disposto no inciso XXXIX do art. 5 o da Constituição Cidadã, transcrito no art. 1 o do CPM. O mestre Luiz Luisi, aponta que para quem o princípio da legalidade, em vertente contemporânea, desdobra-se em três postulados, a saber: reserva legal, determinação taxativa e irretroatividade. 5. LEI PENAL MILITAR NO TEMPO E NO ESPAÇO. Tempo do crime Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado. COMENTÁRIOS: A resposta sobre o tempo do crime está grafada no art. 5 o do CPM, cujo texto é semelhante ao do art. 4 o do CP comum: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado”. O nosso Código Penal Militar adotou, dessarte, a teoria da ação ou da atividade, afastando assim as teorias do resultado e mista, uma vez que o momento da conduta (ação ou omissão) será considerado o da prática do crime 6. LUGAR DO CRIME Conforme preconiza o Código Penal Militar o lugar do crime se relaciona a sistema misto de interpretação deste lugar conforme a norma abaixo transcrita: LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 10 | P á g i n a “Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação, bem como onde se produziu ou deveria produzir- se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida. “ 6.1. COMENTÁRIOS SOBRE O LUGAR DO CRIME NA LEI PENAL MILITAR. São três as teorias que gravitam em torno do assunto: 1. Teoria da Atividade: lugar do crime é aquele em que se iniciou a execução da conduta típica; 2. Teoria do resultado: lugar do crime é aquele em que se produziu o resultado da ação/omissão; 3. Teoria da Ubiquidade: lugar do crime é tanto aquele em que se iniciou sua execução, como aquele em que ocorreu o resultado. No que tange ao lugar do crime, o CPM adotou um sistema misto (Jorge César de Assis). Crimes comissivos – Teoria da Ubiquidade Crimes omissivos – Teoria da Atividade (o CPM, em relação aos crimes omissivos, adota esta teoria, já que considera praticado o fato no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida – art. 6º). Sobre o Lugar do Crime Militar tem-se ainda: Territorialidade e extraterritorialidade A Territorialidade é a aplicação da lei penal ao crime praticado no território nacional e a extraterritorialidade retrata a aplicação da lei ao crime praticado fora do território brasileiro. No CP, a territorialidade da aplicação da lei encontra-se no art. 5º e a extraterritorialidade (alguns casos) no art. 7º. A extraterritorialidade da aplicação da lei é exceção no CP, e uma regra no CPM. A lei penal militar aplica-se ao crime MILITAR praticado dentro e fora do território nacional, sem prejuízo de tratados e convenções internacionais (art. 7º). Exemplos: • Um Sgt do Exército no Haiti, em serviço, agride uma civil haitiana. • Um Cap PM em missão de paz em Angola divulga informações privilegiadas a um estrangeiro, causando prejuízo à administração militar (art. 326- violação de sigilo funcional) No intuito de se evitar o “bis in idem”, ou dupla punição pelo mesmo, no mesmo ramo do direito público, o art. 8º determina que a eventual pena aplicada no estrangeiro, atenua a pena no Brasil, se diversa, e nela é computada, se idêntica. Haverá situações em que o crime militar poderia ser cometido no exterior, inclusive, em detrimento do Brasil (favor ao inimigo – art. 356) e, nestas condições, provavelmente, não haveria interesse da outra nação em processar e julgar o agente. Fonte: apostila de direito penal militar prof. Rogério disponível em: www.fatimasoares.com.br LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 11 | P á g i n a Dica 1 - A Distinção feita pelos textos legais e discutida pela doutrina é a distinção entre crime propriamente militar (ou crime militar próprio) e crime impropriamente militar (ou crime militar impróprio), devemos saber a fundo. Por que devo saber o que são crimes impropriamente militares e propriamente militares? Devido a aplicações penaise processuais que só abarcam os determinados tipos penais militares, entre outros, cita-se os aspectos abaixo alguns permissivos legais aplicáveis apenas no caso dos crimes propriamente militares. A permissão para a prisão do militar, mesmo ausentes o estado de flagrância ou o Mandado de Prisão expedido por autoridade judiciária, conforme dicção do art. 5º inc. LXI: Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. No art. 18 do CPPM existe a previsão de detenção do indiciado do IPM, pelo prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 20, sendo a prisão apenas comunicada à autoridade judiciária e, para estar em perfeita sintonia com a Carta Magna, a permissão contida naquele artigo, diz respeito ao crime propriamente militar; O crime militar próprio não gera reincidência ao agente que responder a processo por crime comum, nos termos do art. 64, II, do CP. Dica 2 - Crime propriamente militar (ou militar próprio) São aqueles que estão previstos somente no CPM e só podem ser praticados por militar. Ex: deserção (art. 187), abandono de posto (art. 195), abandono de posto (art. 196) embriaguez em serviço (art. 202), dormir em serviço (art. 203). LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 12 | P á g i n a Todos os crimes propriamente militares enquadram-se no inc. I do art. 9º do CPM. Mas, cuidado, nem todos os crimes que se enquadram naquele inciso são propriamente militares, como por exemplo: ingresso clandestino (art. 302), furto de uso (art. 241). Crime impropriamente militar (ou militar impróprio), são aqueles previstos no CPM e no CP e podem ser praticados, tanto por militar, quanto por civil, Ex: lesão corporal (art. 129), homicídio (art. 205), ameaça (art. 223), furto (art. 240), falsidade ideológica (art. 319). Registra-se aqui que existe uma terceira categoria de crime militar elaborada por uma doutrina minoritária. Trata-se do crime tipicamente militar mencionado por Ione de Souza e Cláudio Amim Miguel (previsto só no CPM – insubmissão, ingresso clandestino, furto de uso, etc). LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 13 | P á g i n a Aconteceu... STJ - CONFLITO DE COMPETÊNCIA: CC 92547 RS 2007/0298197-3: Figura 1 Interior do Superior Tribunal de Justiça Observe que: Conflito de competência entre a justiça comum e a justiça castrense. Uso indevido de farda e estelionato. Conflito aparente de normas. Crime militar usado como meio necessário ao estelionato. Aplicação do princípio da consunção. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo de direito da 2a. Vara criminal de são leopoldo/rs, determinando-se o trancamento da ação penal instaurada na justiça castrense, em conformidade com o parecer do mpf. Usado como meio necessário ao estelionato. Aplicação do princípio da consunção. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo de direito da 2a. Vara criminal de são leopoldo/rs, determinando-se o trancamento da ação penal instaurada na justiça castrense, em conformidade com o parecer do mpf. 1. Se um crime é meio necessário ou Normal fase de preparação ou de execução de outro crime, encontrando-se, portanto, o fato previsto em uma lei inserido em outro de maior amplitude, permite-se uma única tipificação, por óbvio, a mais ampla. 2. No caso específico, o uso indevido de uniforme militar, que a princípio poderia ser tipificado como crime militar (art. 172 do cpm), ), com o intuito de ludibriar a vítima oferecendo-lhe, mediante prévio pagamento, uma oportunidade de ingressar nas forças armadas, foi, na verdade, meio necessário para a prática do crime de estelionato (art. 171 c.c. O art. 14, ii, ambos do cpb). Dest'arte, deve ser reconhecida a absorção daquele por este, em observância ao princípio da consunção. 3. Ocorrendo a consunção, não se legitima o processamento e julgamento de réu em dois feitos distintos. 4. Conflito conhecido para declarar competente o juízo de direito da 2a. Vara criminal de são leopoldo/rs, ora suscitado, determinando-se o trancamento da ação penal 08/07-4 instaurado perante a justiça castrense, em conformidade com o parecer ministerial LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 14 | P á g i n a Exercícios: 1. Diferencie crime impropriamente miliar de crime militar próprio? 2. Em regra quais são os bens jurídicos tutelados pelo direito penal militar? Saiba mais... Programa Jurídico Saber Direito do STF 1 Vídeo Aula - Justiça Militar In: http://www.youtube.com/watch?v=vGHsAoDn0Fg. Texto: O princípio da territorialidade e extraterritorialidade no Código Penal Militar Autor Territorialidade e Extraterritorialidade - Autor Paulo Tadeu Rodrigues Rosa - Publicado em 04/2015. in: http://jus.com.br/artigos/38515/o-principio-da-territorialidade-e- extraterritorialidade-no-codigo-penal-militar#ixzz3q6JHcRvE LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 15 | P á g i n a Aula 2 – CRIMES MILITARES EM TEMPO DE GUERRA E CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ. 1. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE GUERRA O Art. 10° do Código Penal Militar trás no seu bojo as considerações que possibilitam a interpretação da Lei para os Crimes Militares em tempo de guerra conforme a citação abaixo transcrita: Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra: I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra; II - os crimes militares previstos para o tempo de paz; III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente: a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado; b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo; LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 16 | P á g i n a IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado. COMENTÁRIOS: Observa se que a Lei Penal Militar define o período classificado como tempo de guerra, pois, de acordo com o Art. 15 do CPM, o tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da Lei Penal Militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das hostilidades. Importante também esclarecer o mecanismo de aplicação das penas neste período classificado como tempo de guerra, sendo as mesma penas no período de guerra, com um aumento de um conforme o Artigo 20 do CPM. Em síntese, aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo disposição especial, aplicam-se as penas cominadas para o tempo de paz, com o aumento de um terço. 2. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ. O Art. 9° do Código Penal Militar trás no seu bojo as considerações que possibilitam a interpretação da Lei para os Crimes Militares em tempo de paz conforme a citação abaixo transcrita: Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 17 | P á g i n a não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeitoà administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Alínea com redação dada pela Lei nº 9.299, de 8/8/1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; f) (Revogada na Lei nº 9.299, de 8/8/1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: http://www2.camara.gov.br/internet/legislacao/legin.html/textos/visualizarTexto.html?ideNorma=349052&seqTexto=1&PalavrasDestaque= http://www2.camara.gov.br/internet/legislacao/legin.html/textos/visualizarTexto.html?ideNorma=349052&seqTexto=1&PalavrasDestaque= LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 18 | P á g i n a a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Parágrafo único acrescido pela Lei nº 9.299, de 7/8/1996, com redação dada pela Lei nº 12.432, de 29/6/2011) COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO 9° DO CÓDIGO PENAL MILITAR: http://www2.camara.gov.br/legin/fed/lei/1996/lei-9299-7-agosto-1996-349052-publicacaooriginal-1-pl.html http://www2.camara.gov.br/legin/fed/lei/1996/lei-9299-7-agosto-1996-349052-publicacaooriginal-1-pl.html http://www2.camara.gov.br/legin/fed/lei/1996/lei-9299-7-agosto-1996-349052-publicacaooriginal-1-pl.html LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 19 | P á g i n a O artigo 9º do CPM possui três incisos. Os incisos I e II referem-se a crimes praticados por militares da ativa, enquanto o inciso III condensa as hipóteses em que um civil ou militar inativo (reformado ou da reserva remunerada) figuram como sujeito ativo do crime militar. É fato que os incisos I e II não mencionam em seu caput o fato de aplicarem-se somente a militares da ativa, contudo, sabendo que o inciso III refere-se aos inativos e aos civis, o que faz expressamente, por contraposição os dois primeiros incisos só podem se referir aos militares da ativa. Na diferenciação entre os incisos I e II, deve-se notar que a lei penal militar usa o critério de semelhança ou não do delito militar praticado a um delito previsto na legislação penal comum. Assim, quando um militar da ativa praticar um crime militar que somente esteja capitulado no Código Penal Militar ou que esteja neste capitulado de forma diversa da legislação penal comum, aplicaremos o inciso I, que não possui alíneas complementadoras da tipicidade. Por outro bordo, se o crime praticado pelo militar da ativa possuir capitulação no Código Penal Militar e na legislação penal comum, aplicaremos o inciso II com suas alíneas complementadoras. Visando aprofundar o tema segue o texto do professor Jorge César de Assis sobre o Art. 9º do CPM: A ofensa às instituições militares como elemento determinante na caracterização do crime militar: INTRODUÇÃO A caracterização do crime militar enseja várias discussões que a jurisprudência procura sedimentar, mas que uma análise imparcial revela estar longe de acontecer. De crucial importância se apresenta o art. 9º do Código Penal Militar, ao estabelecer as diversas hipóteses em que ocorrem os crimes militares em tempo de paz. Percebam que estou a me referir aos diversos critérios de ocorrência de crime militar, portanto, daí decorre o primeiro questionamento: os incisos e suas diversas alíneas do art. 9º do CPM encerram um rol fechado, numerus clausus? Hoje, penso que não. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 20 | P á g i n a Sabe-se que a caracterização do que seja crime militar pelo art. 9º do Código aponta para uma tipicidade indireta, que enseja uma reflexão, como no caso dos crimes culposos e também do concurso de agentes. Partindo deste pressuposto, uma vez constatado um fato delituoso, ao qual se imputa, preliminarmente, a pecha de crime militar segue dois passos básicos: 1º) verificar se aquele fato está descrito na Parte Especial do Código Penal Militar e; 2º) se aquele fato se enquadra em uma das várias hipóteses do art. 9º, encerrando aqueles critérios já conhecidos de todos: ratione legis, ratione materiae, ratione personae, ratione loci e ratione temporis. O Código não define o que seja crime militar. Nem mesmo a Constituição Federal tem essa definição, mas ao se referir aos crimes propriamente militares, excepcionando-os da necessidade de ordem judicial ou situação de flagrância permissivas da prisão, sugere a existência de seu correlato, crime impropriamente militar. Cumpridos os dois passos iniciais, outros também devem ser dados, como aquele que verifica a existência de eventual causa excludente de criminalidade, pois o tipo legal indicia a antijuridicidade. Mas Interessa também analisar a efetiva ofensa à instituição militar considerada como elemento determinante da caracterização de crime militar e, para isso, irei considerar fatos delituosos praticados por militares de esferas diversas entre si, e, também aqueles praticados por civis. MILITAR FEDERAL versus MILITAR ESTADUAL (tutela da instituição militar estadual) Nas primeiras edições de meu livro Comentários ao Código Penal Militar, sempre me LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 21 | P á g i n a posicionei contra a não aceitação, da parte do Superior Tribunal Militar, da ocorrência de crime militar, na hipótese em que um militar federal da ativa, de folga, cometesse crime tido como militar, contra militar estadual da ativa, estando este último em serviço de policiamento ostensivo. Para mim, àquela época, havia de se considerar o conceito constitucional de militar, inaugurado com a Carta de 1988, ou seja, militar brasileiro passou a ser um gênero com duas espécies distintas, o federal – aquele pertencente às forças armadas – e o estadual ou do Distrito Federal, aquele pertencente à polícia militar ou corpo de bombeiro militar. Enquadrava o fato, portanto, no art. 9º, inciso II, alínea „a‟, do CPM: simples critério ratione personae, militar da ativa contra militar na mesma situação. Isso porque a lei penal militar não exige a circunstância de o agente ativo (militar federal) estar exercendo sua missão constitucional, situação que poderia estar ocorrendo com o sujeito passivo (militar estadual, ou do DF) na ampla, nobre e difícil missão da preservação da ordem pública (art. 144, § 5º) Uma reflexão mais detida sobre o tema, a partir da 4ª edição, me fez mudar de entendimento, e aliar- me entãoà posição do STM, e considerar que fatos daquela natureza seriam da competência da Justiça comum. Além da tipicidade indireta inicial, e também da verificação da existência ou não de alguma excludente de criminalidade, também deveria ser analisado o fator da ofensa à instituição militar envolvida, com reflexo na Justiça Militar competente para processar e julgar o fato. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 22 | P á g i n a “Em verdade, não só a condição de os agentes, ativo e passivo, serem militares, e o fato de estar previsto na legislação castrense, são suficientes para firmar a competência da Justiça Militar da União. Há que se considerar que a Justiça Militar – tanto a estadual quanto a federal – têm em vista a natureza dos bens juridicamente tutelados. Quem protege a instituição policial militar, nos casos em que ela é ofendida, é a Justiça Militar estadual, que tem competência restrita, somente julgando policiais e bombeiros militares (CF, art. 125, § 4º). A Justiça Militar da União, por sua vez, tutela as instituições das Forças Armadas, julgando os crimes contra ela cometidos e dela (Justiça Militar Federal) escapam os crimes contra os valores das Corporações estaduais. Logo, é a Justiça Comum a competente para julgar militar federal que, de folga, cometa crime contra policial militar em serviço, ou contra a instituição militar estadual, ocasião em que se coloca o agente militar federal na mesma condição do civil “. Curiosamente, o STM, mudando seu entendimento anterior, passou a decidir de modo oposto, em caso em que um sargento do EB da ativa, mas de folga, desacatou policiais militares que estavam de serviço de policiamento ostensivo. A denúncia ofertada pelo Ministério Público Militar havia sido rejeitada e, ante o recurso ministerial, o Superior Tribunal Militar determinou seu recebimento, ao argumento da prevalência do conceito constitucional de LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 23 | P á g i n a militar e por entender ainda que a Justiça Militar da União tutela os interesses da Federação, como a manutenção da ordem, da disciplina e hierarquia nas corporações militares estaduais e das forças armadas. Tenho por mim, respeitados entendimentos contrários que a r. decisão do E. STM extrapolou sua competência judicante, pois pretendeu tutelar, também, a instituição policial militar atingida, competência constitucional que não lhe coube. O Supremo Tribunal Federal foi chamado a se manifestar sobre esse interessante julgado do STM, por meio de julgamento do HC 83.003, sendo relator o Ministro Celso de Mello, e, em julgamento datado de 16.08.2005, por unanimidade, deferiu o pedido de habeas corpus nos termos do voto do relator, invalidando o acórdão proferido pelo E. Superior Tribunal Militar e determinando a imediata extinção do processo penal militar. Portanto, em que pese o fato delituoso ter sido cometido por militar federal da ativa contra militar estadual da ativa[7], o simples critério ratione personae não prevaleceu, porque a instituição militar ofendida era estadual, tutelada pela Justiça Militar Estadual que tem competência restrita, somente julgando policiais e bombeiros militares, dela escapando além dos civis, os militares federais. Seria impossível o deslocamento de competência para a Justiça Militar da União porque não houve ofensa às instituições militares federais. O E. STM ainda pontua decisões nesse sentido, de fatos delituosos envolvendo militares de esferas diversas, como no caso em que considerou ser LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 24 | P á g i n a competente a Justiça Militar da União, para processar e julgar Cabo da Polícia Militar que, estando em serviço de polícia ostensiva, agrediu um Soldado Fuzileiro Naval, que se encontrava de folga, em via pública, tendo sido abordado pela guarnição PM, tendo o marinheiro sofrido lesões de natureza leve. A decisão privilegiou, uma vez mais o critério ratione personae, com base no conceito constitucional de militar, para enquadrar o fato no art. 9º, inciso II, alínea „a‟, do CPM, tendo novamente ampliado os limites da tutela jurisdicional da Justiça Militar federal para nela incluir os valores das instituições militares estaduais, com o que, peço vênia para discordar, ante o mandamento cristalino do art. 125, § 4º, da Carta Magna. MILITAR ESTADUAL CONTRA MILITAR FEDERAL (tutela da instituição militar federal) Inverto agora a posição dos agentes, para prever a hipótese em que o militar estadual da ativa cometa um crime militar contra um militar federal também da ativa. Novamente, além das duas etapas de análise da tipicidade indireta, da verificação da ocorrência ou não de excludentes, há que se levar em conta a efetividade da ofensa à instituição militar envolvida. Imaginemos um caso em que um sargento da PM dispara um tiro acidental contra um capitão do Exército. Nos termos do art. 125, § 4º, da CF, pode o intérprete ser levado a responder, de forma apressada, que a competência é da Justiça Militar Estadual, afinal esta tem a competência para processar e julgar PM e BM nos LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 25 | P á g i n a crimes militares definidos em lei, a lesão corporal culposa é prevista no Código, e assim por diante. No caso em questão, verídico, o sargento PM estava realizando um curso de técnicas militares, em uma organização militar do Exército – o 28º Batalhão de Infantaria Leve, sendo que o capitão era seu instrutor. Portanto, a instituição militar Exército ainda que não houvesse organizado e ministrado o curso, deu autorização para sua realização, sob a coordenação de seus oficiais, e o evento danoso ocorreu em área sob administração militar (aliás, uma das hipóteses do referido art. 9º do CPM). Foi dessa forma que o Superior Tribunal de Justiça decidiu em sede de conflito de competência entre a Justiça Militar estadual e a Justiça Militar da União, declarando a competência em favor da Justiça Militar federal, em face de terem os fatos ocorridos em uma unidade militar da Força Terrestre, e a vítima foi um oficial do Exército, havendo, portanto, ainda que de forma indireta, lesão a interesses da União. A decisão considerou, ainda que as Forças Armadas, como instituições destinadas à garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem estão, em última ratio, em posição de supremacia às polícias militares dos estados. Por outro lado, considerado o mesmo fato nas mesmas circunstâncias, caso o curso fosse organizado pela Polícia Militar e ministrado em uma de suas organizações, a competência seria da Justiça Militar Estadual, pois em que pese a vítima ser militar federal, a instituição militar ofendida seria a Polícia Militar. Novamente se levaria em LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 26 | P á g i n a conta a natureza do bem jurídico tutelado e sua relação com a justiça militar competente. MILITAR CONTRA MILITAR (a consciência da condição de militar da vítima) Outro aspecto importante no exercício da análise da tipicidade do crime militar – e aqui incidindo diretamente sobre o art. 9º, inciso II, alínea „a‟ (critério ratione personae)– é a possibilidade de que possa ocorrer fato delituoso tido em tese como crime militar, praticado por militar da ativa contra militar na mesma situação, sem que os envolvidos soubessem da condição profissional um do outro. Tome-se, por exemplo, o fato em que, um cabo e um soldado, ambos do Exército, os dois da ativa, desentenderam-se à saída de um baile, ocasião em que o cabo desfechou um soco na cabeça do soldado, que chegou a desmaiar por alguns instantes, resultando lesões de natureza leve. Uma análise fria do fato delituoso enquadraria o mesmo no já conhecido dispositivo da alínea „a‟, do inciso II, do art. 9º, do CPM, sob o fundamento de que a lei penal castrense não exigeo conhecimento prévio da qualidade de militar para a fixação da competência da Justiça especializada. Se os envolvidos desconheciam a condição de militar um do outro, se houve crime este será comum, não podendo prevalecer, tão-somente, o critério ratione personae. Não se trata, é bom que se diga, de afastar a tipicidade penal, mas apenas a tipicidade do crime militar. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 27 | P á g i n a CRIMES MILITARES PRATICADOS POR CIVIS Finalmente, por envolver, ainda, a análise do art. 9º do CPM, tecerei algumas considerações sobre os crimes militares cometidos por civis. Ainda que na Justiça Militar estadual não haja julgamento de civis, por expressa vedação constitucional, na Justiça Militar da União esta possibilidade é freqüente, pois como se sabe, a Justiça Militar federal processa e julga os crimes militares definidos em lei, sem se importar com quem seja o seu autor, que pode inclusive ser o civil. Pela letra do Código, o civil para cometer crime militar terá, necessariamente, que ofender as instituições militares, é o que diz o inciso III de nosso art. 9º. Essa ofensa, no entanto, terá que ser efetivamente demonstrada, sob pena da competência de julgamento deslocar-se para a Justiça comum. O Supremo Tribunal Federal vem estabelecendo contornos para o enquadramento de civis nos seguintes casos: Se o militar federal estiver em serviço externo de policiamento de trânsito (isso é comum de se visualizar nas grandes cidades), havendo desacato praticado por civil contra militar empenhado nesse tipo de serviço, a competência será da Justiça comum, porque tal tipo de atividade não se enquadra como serviço de natureza militar. Não há, portanto, ofensa às instituições militares. Este entendimento do STF fica mais bem evidenciado, se verificarmos o caso em que um civil LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 28 | P á g i n a atropelou soldado do Exército que exercia a função de balizamento de trânsito nas proximidades do Quartel General do Exército e restou processado pela Justiça Militar da União. Ao decidir a questão em sede de habeas corpus, entendeu a Corte Suprema, com base no parecer da Procuradoria-Geral da República, que, por crime contra as instituições militares deve-se tomar aquele crime cujo dolo esteja exatamente em ferir tais instituições, ou seja, em que pese existir a previsão da alínea „d‟, do inciso III do art. 9º do CPM, a competência da Justiça Militar é de caráter excepcional, e sobre o mencionado artigo deve recair interpretação mais criteriosa e restrita do que a desenvolvida pelo Superior Tribunal Militar, ainda que o crime houvesse sido praticado por civil, fora de lugar sob administração militar, mas contra militar no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, em obediência à determinação legal de superior, o que, a princípio, ensejaria a incidência do dispositivo já mencionado. Em recente decisão, e no mesmo sentido, a Excelsa Corte, por meio de sua 2ª Turma, extinguiu por unanimidade, em julgamento ocorrido em 19.10.2010, processo penal militar em que um civil respondia por crime de dano a patrimônio público, acusado de colidir veiculo particular contra uma viatura militar. “Na concreta situação dos autos, não se extrai, minimamente que seja a vontade do paciente [o civil] de se voltar contra as Forças Armadas e tampouco querer obstaculizar e impedir a continuidade de qualquer operação militar” ressaltou o ministro Carlos Ayres Britto, relator do processo. Ao votar, ele declarou a “absoluta LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 29 | P á g i n a incompetência da Justiça militar para conhecer dessa causa”. Na mesma linha se posicionaram os demais ministros da Corte. “O que eu acho grave é que se instaure, em tempo de paz, inquérito policial militar contra civil. E que seja ele submetido a julgamento perante a Justiça militar, perante uma auditoria militar, em tempo de paz”, ponderou o ministro Celso de Mello, decano do Supremo. CONCLUSÃO A classificação dos fatos tidos como delituosos em crime militar encerra um exercício de reflexão própria da tipicidade indireta. Esta tipicidade indireta admite um iter e sugere as seguintes observações: Verificação se o fato tido como delituoso encontra-se previsto como crime militar na Parte Especial do Código; Não havendo identidade, de crime militar não se trata. Em sendo positiva a identificação, há que se verificar, então, se o fato delituoso foi praticado em uma das várias hipóteses previstas nos incisos e nas alíneas do art. 9º do CPM; Ultrapassadas as duas primeiras fases, deve-se verificar, ainda, se o fato tido por delituoso encontra-se ou não acobertado por alguma excludente de criminalidade. Nos crimes ocorridos entre militares da ativa, é essencial determinar se o agente tinha consciência da condição de militar da vítima; LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 30 | P á g i n a Finalmente, deve ser analisado se ocorreu efetiva ofensa à instituição militar considerada, lembrando que a Justiça Militar – tanto a federal quanto a estadual – tem em vista a natureza dos bens juridicamente tutelados como fator determinante de sua competência; Por crimes contra as instituições militares praticados por civis, deve ser considerado aquele crime cujo dolo esteja exatamente em ferir tais instituições, situação extremamente difícil de ocorrer nos crimes culposos, em especial os decorrentes de acidente de trânsito. Disponível em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leit ura&artigo_id=8798 Dica 1 – Observações Doutrinárias Importantes Crimes dolosos contra a vida de militar praticado por militar: crime militar: se o fato se enquadrar no art. 9º, será crime militar, pois, a exceção do parágrafo único do referido artigo refere-se à vítima civil, e não, militar. Todavia, se o autor do delito desconhecer a condição de militar da vítima será crime comum, conforme construção doutrinária e jurisprudencial, baseando-se na interpretação extensiva do art. 47, I, do CPM. Militar federal X militar estadual: considerando que a própria Constituição Federal, reservou artigos diferentes para definir os militares estaduais (art. 42 da CF) e os militares federais (art. 142 da CF), a doutrina e jurisprudência tem entendido que o fato envolvendo tais militares será crime comum. Policial Militar X Bombeiro: crime militar: será crime militar, pois ambos pertencem à instituições militares estaduais e podem ser julgados pela Justiça Militar Estadual. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 31 | P á g i n a Dica 2 - Observações Doutrinárias Importantes Os casos em que a vítima militar for pessoa do sexo feminino X Lei Federal n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha): Cita-se por exemplo um casal de militares da ativa, ou mesmo pai e filha. Neste caso, a doutrina tem defendido que se o caso concreto afetar somente a esfera íntima da família será crime comum e, se abalar os pilares da hierarquia e disciplina militares (afetar a instituição militar) será crime militar. Fato envolvendo militares estaduais pertencentes a instituições de Unidades Federativas diferentes (PMRJ X PMES): será crime militar, e o autor será julgado pela Justiça Militar Estadual da Unidade a que cada um pertence. (Súmula 78 STJ). LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 32 | P á g i n a Aconteceu... Quarta-feira, 23 de setembro de 2015 Ministro decide que não cabe à Justiça militar julgar crime de falsidade praticado por civil Aconteceu... Quarta-feira, 23 de setembro de 2015 Ministro decide que não cabe à Justiça militar julgar crime de falsidade praticado por civil Observe que: O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeuHabeas Corpus (HC 130210) a fim de declarar a incompetência da Justiça militar para processar e julgar o civil C.L.M., denunciado pela suposta prática do crime de falsidade ideológica. Conforme os autos, o acusado teria apresentado ao Comando da 2ª Região Militar documentação falsa para renovar certificado de colecionador, atirador e uso desportivo de tiro prático. Segundo o HC, impetrado pela Defensoria Pública da União (DPU), com a conclusão da instrução processual, o Conselho Permanente de Justiça para o Exército condenou o acusado à pena de 1 ano de reclusão, em regime inicial aberto, com benefício do sursis, pelo prazo de 2 anos. A defesa interpôs apelação perante o Superior Tribunal Militar (STM), que rejeitou a preliminar de incompetência da Justiça militar e negou provimento ao pedido. Para o STM, a legislação penal militar não exige que a atividade seja tipicamente militar para a caracterização do crime contra a administração militar. O presente HC questiona essa decisão. A DPU mantém a argumentação de incompetência da Justiça militar para processar e julgar o fato descrito na denúncia. Alega que a conduta atribuída ao acusado não atinge as funções típicas das Forças Armadas: a defesa da pátria, a garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem (artigo 142, caput, da Constituição Federal). Subsidiariamente, sustenta ausência de justa causa, porque “não foi demonstrado que a conduta do acusado teria constituído ou mesmo concorrido para a infração penal, uma vez que sempre negou, de forma veemente, a prática delituosa, de modo que a acusação não cumpriu adequadamente com seu mister probatório.” LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 33 | P á g i n a Exercícios: 1. Defina o que se entende por Crime Militar? 2. Explique se é possível ou não um civil ser processado e julgado na Justiça Militar Estadual? LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 34 | P á g i n a Saiba mais... Artigo 9º do CPM: uma nova proposta de interpretação - 07/09/2009 Cícero Robson Coimbra Neves Sob nosso enfoque, uma das principais dificuldades no estudo do Direito Penal está em diferenciar o delito militar do delito comum, sendo tal distinção de suma importância, uma vez que várias consequências tomarão corpo após tal posição. Entendemos que o… Leia mais: http://jus.com.br/tudo/direito-penal-militar/3#ixzz3sMKKDF65 Competência nos crimes militares praticados por civil contra as instituições militares estaduais - 10/08/2012 João Paulo Fiuza da Silva Persiste ainda o entendimento doutrinário e jurisprudencial de que não há outra solução para o caso do cometimento de crime militar por civil contra as instituições militares, ainda que com previsão exclusiva no CPM, que não seja sua submissão ao foro civil. Leia mais: http://jus.com.br/tudo/direito-penal-militar/2#ixzz3sMIf8uq3 LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 35 | P á g i n a Aula 3 – PENAS DO DIREITO PENAL MILITAR. 1. Penas Principais Penas Principais Art. 55. As penas principais são: a) morte; b) reclusão; c) detenção; d) prisão; e) impedimento; f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função; g) reforma. Pena de morte Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento. Comunicação LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 36 | P á g i n a Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe em julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois de sete dias após a comunicação. Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações de guerra, pode ser imediatamente executada, quando o exigir o interêsse da ordem e da disciplina militares. Mínimos e máximos genéricos Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos. Separação de praças especiais e graduadas Parágrafo único. Para efeito de separação, no cumprimento da pena de prisão, atender-se-á, também, à condição das praças especiais e à das graduadas, ou não; e, dentre as graduadas, à das que tenham graduação especial. Pena superior a dois anos, imposta a militar Art. 61. A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. (Artigo com redação dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978) Pena privativa da liberdade imposta a civil Art. 62. O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, em estabelecimento prisional civil, ficando ele sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. Cumprimento em penitenciária militar Parágrafo único. Por crime militar praticado em tempo de guerra poderá o civil ficar sujeito a cumprir a pena, no todo ou em parte em penitenciária militar, se, em LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 37 | P á g i n a benefício da segurança nacional, assim o determinar a sentença. (Artigo com redação dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978) Pena de impedimento Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar. Pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função Art. 64. A pena de suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do serviço. Não será contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena. Caso de reserva, reforma ou aposentadoria Parágrafo único. Se o condenado, quando proferida a sentença, já estiver na reserva, ou reformado ou aposentado, a pena prevista neste artigo será convertida em pena de detenção, de três meses a um ano. Pena de reforma Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à situação de inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço, nem receber importância superior à do soldo. Superveniência de doença mental Art. 66. O condenado a que sobrevenha doença mental deve ser recolhido a manicômio judiciário ou, na falta deste, a outro estabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada custódia e tratamento. Tempo computável Art. 67. Computam-se na pena privativa de liberdade o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, e o de internação em hospital ou manicômio, LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 38 | P á g i n a bem como o excesso de tempo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, no cumprimento da pena, por outro crime, desde que a decisão seja posterior ao crime de que se trata. Transferência de condenados Art. 68. O condenado pela Justiça Militar de uma região, distrito ou zona pode cumprir pena em estabelecimento de outra região, distrito ou zona. Fixação da pena privativa de liberdade Art. 69. Para fixação da pena privativa de liberdade, o juiz aprecia a gravidade do crime praticado e a personalidade do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou grau da culpa, a maior ou menor extensão do dano ou perigo de dano, os meios empregados, o modo de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias de tempo e lugar, os antecedentes do réu e sua atitude de insensibilidade, indiferença ou arrependimento após o crime. Determinação da pena § 1º Se são cominadas penas alternativas, o juiz deve determinar qual delas é aplicável. Limites legais da pena § 2º Salvo o disposto no art. 76, é fixada dentro dos limites legais a quantidade da pena aplicável. Circunstâncias agravantes Art. 70. São circunstânciasque sempre agravam a pena, quando não integrantes ou qualificativas do crime: I - a reincidência; II - ter o agente cometido o crime: a) por motivo fútil ou torpe; LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 39 | P á g i n a b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre de caso fortuito, engano ou força maior; d) à traição, de emboscada, com surpresa, ou mediante outro recurso insidioso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima; e) com o emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; f) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão; h) contra criança, velho ou enfermo; i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade; j) em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, alagamento, inundação, ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; l) estando de serviço; m) com emprego de arma, material ou instrumento de serviço, para esse fim procurado; n) em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha sede a sua administração; o) em país estrangeiro. Parágrafo único. As circunstâncias das letras c, salvo no caso de embriaguez preordenada, l , m e o , só agravam o crime quando praticado por militar. Reincidência LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 40 | P á g i n a Art. 71. Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. Temporariedade da reincidência § 1º Não se toma em conta, para efeito da reincidência, a condenação anterior, se, entre a data do cumprimento ou extinção da pena e o crime posterior, decorreu período de tempo superior a cinco anos. Crimes não considerados para efeito da reincidência § 2º Para efeito da reincidência, não se consideram os crimes anistiados. Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: Circunstância atenuantes I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos; II - ser meritório seu comportamento anterior; III - ter o agente: a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime, ignorada ou imputada a outrem; e) sofrido tratamento com rigor não permitido em lei. Não atendimento de atenuantes Parágrafo único. Nos crimes em que a pena máxima cominada é de morte, ao juiz é facultado atender, ou não, às circunstâncias atenuantes enumeradas no artigo. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 41 | P á g i n a Quantum da agravação ou atenuação Art. 73. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da pena sem mencionar o quantum, deve o juiz fixá-lo entre um quinto e um terço, guardados os limites da pena cominada ao crime. Mais de uma agravante ou atenuante Art. 74. Quando ocorre mais de uma agravante ou mais de uma atenuante, o juiz poderá limitar-se a uma só agravação ou a uma só atenuação. Concurso de agravantes e atenuantes Art. 75. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente, e da reincidência. Se há equivalência entre umas e outras, é como se não tivessem ocorrido. Majorantes e minorantes Art. 76. Quando a lei prevê causas especiais de aumento ou diminuição da pena, não fica o juiz adstrito aos limites da pena cominada ao crime, senão apenas aos da espécie de pena aplicável (art. 58). Parágrafo único. No concurso dessas causas especiais, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua. Pena-base Art. 77. A pena que tenha de ser aumentada ou diminuída, de quantidade fixa ou dentro de determinados limites, é a que o juiz aplicaria, se não existisse a circunstância ou causa que importa o aumento ou diminuição. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 42 | P á g i n a Criminoso habitual ou por tendência Art. 78. Em se tratando de criminoso habitual ou por tendência, a pena a ser imposta será por tempo indeterminado. O juiz fixará a pena correspondente à nova infração penal, que constituirá a duração mínima da pena privativa da liberdade, não podendo ser, em caso algum, inferior a três anos. Limite da pena indeterminada § 1º A duração da pena indeterminada não poderá exceder a dez anos, após o cumprimento da pena imposta. Habitualidade presumida § 2º Considera-se criminoso habitual aquele que: a) reincide pela segunda vez na prática de crime doloso da mesma natureza, punível com pena privativa de liberdade em período de tempo não superior a cinco anos, descontado o que se refere a cumprimento de pena; Habitualidade reconhecível pelo juiz b) embora sem condenação anterior, comete sucessivamente, em período de tempo não superior a cinco anos, quatro ou mais crimes dolosos da mesma natureza, puníveis com pena privativa de liberdade, e demonstra, pelas suas condições de vida e pelas circunstâncias dos fatos apreciados em conjunto, acentuada inclinação para tais crimes. Criminoso por tendência § 3º Considera-se criminoso por tendência aquele que comete homicídio, tentativa de homicídio ou lesão corporal grave, e, pelos motivos determinantes e meios ou modo de execução, revela extraordinária torpeza, perversão ou malvadez. Ressalva do art. 113 LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 43 | P á g i n a § 4º Fica ressalvado, em qualquer caso, o disposto no art. 113. Crimes da mesma natureza § 5º Consideram-se crimes da mesma natureza os previstos no mesmo dispositivo legal, bem como os que, embora previstos em dispositivos diversos, apresentam, pelos fatos que os constituem ou por seus motivos determinantes, caracteres fundamentais comuns. COMENTÁRIOS: O Direito Penal Militar possui um sistema sancionatório próprio. Há previsão de penas e medidas de segurança. As penas são classificadas em principais e acessórias. As acessórias dependem da imposição de uma pena principal, sendo aplicadas cumulativamente. As penas principais são decorrência natural do cometimento da conduta típica e estão previstas na parte especial do código. Estão disciplinadas na parte geral do diploma castrense. O art. 55, do CPM, prevê as seguintes penas principais: morte, reclusão, detenção, prisão, impedimento, suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função e reforma. Dentro das sete penas previstas no CPM temos as penas de morte, as penas privativas de liberdade (Reclusão, detenção e prisão); Restritiva de liberdade (impedimento); restritivas de direitos (suspensão e reforma). a) Pena de Morte: é prevista em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX, da CF (art. 5º, XLVII). A exceção, portanto, autorizada pela Constituição Federal, que recebe interpretação restritiva, só ocorre quando houver guerra motivada por agressão estrangeira. Ver crimes de traição, art. 355 e de favor ao inimigo, art. 356. Se vier a ser aplicada, pode o Presidente da República indultar o condenado ou comutar a pena em outra menos grave. b) Reclusão e detenção: constituem as penas privativas de liberdade que, praticamente não guardam diferença entre si, exceto aquela que se liga à gravidade do LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR44 | P á g i n a delito. As penas de reclusão são previstas para os delitos mais graves, sendo a pena mínima de um ano. Na detenção a pena mínima é de 30 dias (art.58,CPM). c) Prisão: a diferença relaciona-se à questão do cumprimento. Ver art. 59. do CPM. d) Impedimento: é a pena prevista para o crime de insubmissão. Segundo o art. 63, do CPM, o condenado por insubmissão poderá locomover-se dentro dos limites de sua unidade, estando sujeito à instrução militar durante o cumprimento da pena. e) Suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função: é aquela que está disciplinada no art. 64, do CPM. O tempo de suspensão não é contado como tempo de serviço. f) Reforma: esta pena sujeita o militar à situação de inatividade. Está prevista no art. 65, cuja segunda parte não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. OBS. O Código Penal militar não prevê penas alternativas ou pena de multa. Ao condenado militar que cumpre a pena em estabelecimento militar não se aplica LEP e o regime é sempre o fechado. Aos civis ou ex-militares que cumprem pena em Presídio Comum aplica-se a LEP, sendo que a execução fica a cargo do Juiz da VEC. A suspensão condicional da pena está autorizada no art. 84, do CPM e no art. 606, do CPPM. Nos crimes enumerados nos arts. 88, do CPM e 617, do CPPM, não pode ser aplicado o sursis. A orientação do STM é de que o regime deve ser fechado, sujeitando-se o condenado que cumpre pena em estabelecimento militar ao regramento da legislação castrense. A Lei de execução Penal não se aplicaria enquanto o sujeito mantivesse a condição de militar. A substituição da pena privativa de liberdade prevista no Artigo 44 do Código Penal não é aplicado ao Código Penal Militar (ARE779938-STF) Recente decisão do STF tem mitigado o rigor da legislação militar, no RHC 92746 de 2008, foi concedido a ordem para que um oficial cumprisse pena privativa de LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 45 | P á g i n a liberdade superior a dois anos em regime aberto, no estabelecimento militar, sem que houvesse a decretação da perda de estado de militar. A condenação em primeira instancia fixava o regime inicial aberto caso o condenado viesse a adquirir a condição de civil. O Código Penal Militar não prevê a pena de multa. A legislação Penal Militar define que a pena de morte é executada por fuzilamento e que nesta situação o condenado militar deverá deixar a prisão com o uniforme sem insígnias O CPM não faz distinção substancial entre as penas de reclusão e detenção. A diferença é formal e está previsto no artigo 58 do CPM, que aponta que o mínimo da pena de reclusão é um ano e no máximo trinta e de detenção a pena mínima é trinta dias e a máxima é dez anos. A pena privativa de liberdade até dois anos aplicada a militar é obrigatoriamente convertida da em pena de prisão conforme o Art. 59 do CPM, se não for possível a aplicação do Sursis, sendo o condenado praça, a pena será cumprida em estabelecimento penal militar, sendo observado a separação entre praças que cumpre prisão e aqueles que cumprem sansão disciplinar e pena superior a dois anos. Se a pena aplicada a militar for superior a dois anos, não haverá substituição por prisão e será cumprida em penitenciária militar, a pena será executada em estabelecimento penal comum, sujeitando se o condenado ao regramento da lei de execução penal. O cumprimento da pena em estabelecimento civil,é necessário que o condenado tenha perdido a TRF-5 - AGEXP Agravo em Execução Penal AGEPN 87514320134050000 (TRF): Data de publicação: 08/10/2013 Ementa: PENAL. EXECUÇÃO. UNIFICAÇÃO DAS PENAS. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ESTADUAL. SÚMULA 192/STJ. 1. A jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça há muito consolidou o entendimento no sentido de que, mesmo que a condenação advenha da Justiça Federal, cabe à Justiça Estadual a execução da pena, a teor da dicção da Súmula 192/STJ, posicionamento ainda homenageado naquela Corte Superior (3ª Seção, CC 109299/MG, rel. Min. Jorge Mussi, DJE 06/09/10). 2. Manutenção de decisão que, com esteio naquele enunciado sumular, declinou da competência em favor do Juízo Estadual, onde o apenado se acha custodiado, para que ali se proceda à unificação das penas impostas ao sentenciado por crimes de competência federal e estadual. 3. Agravo em execução penal desprovido. Encontrado em: -FED DEL- 2848 ANO-1940 ART- 171 PAR-3 LEG- FED SUM-192 (STJ) AGEXP Agravo em Execução Penal AGEPN LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 46 | P á g i n a condição de militar. O impedimento é uma pena em que sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução, conforme inteligência do Artigo 63 do CPM, trata-se de pena restritiva de liberdade, em que não há encarceramento. A pena de Impedimento é cominada exclusivamente ao crime de insubmissão (art. 183 do CPM) A Pena de suspensão consiste na agregação, no afastamento ou licenciamento temporário do condenado Art. 64 do CPM). Trata –se de pena principal, de natureza restritiva de direitos, que acarreta a suspensão do exercício do posto(oficial), graduação das (praças), pelo prazo determinado na sentença onde este prazo não será computado como tempo de serviço. A pena de reforma sujeita o militar estável condenado a situação de inatividade compulsória, com proventos proporcionais ao tempo de serviço. Trata-se de um pena restritiva de direitos prevista para alguns crimes militares 2. Pena de Dois Anos Aplicada a Militar Pena até dois anos imposta a militar Art. 59. A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão condicional: (“Caput” do artigo com redação dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978) I - pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar; II - pela praça, em estabelecimento penal militar, onde ficará separada de presos que estejam cumprindo pena disciplinar ou pena privativa de liberdade por tempo superior a dois anos. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 47 | P á g i n a 3. Pena Superior a Dois Anos Aplicada a Militar Pena superior a dois anos, imposta a militar Art. 61. A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. (Artigo com redação dada pela Lei nº 6.544, de 30/6/1978) 4. Penas Acessórias. Penas Acessórias Art. 98. São penas acessórias: I - a perda de posto e patente; II - a indignidade para o oficialato; III - a incompatibilidade com o oficialato; IV - a exclusão das forças armadas; V - a perda da função pública, ainda que eletiva; VI - a inabilitação para o exercício de função pública; VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela; VIII - a suspensão dos direitos políticos. LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR 48 | P á g i n a COMENTÁRIOS: Nos dizeres de Jorge Romeiro, penas acessórias “são penas complementares e ligadas à natureza do crime. Formas de repressão mediata, dependentes de outras”. Como se vê, tais penas, trazidas pelos arts. 98 e seguintes do Código Penal Militar, não surtem efeitos por si sós, porquanto dependem da aplicação de uma sanção principal: a pena principal. À guisa de comparação, o Código Penal comum já não fala em pena acessória, mas em efeitos da condenação, sendo o assunto em questão peculiaridade do Direito Penal Militar. Embora entendamos que a nova ordem constitucional tenha reduzido muito o âmbito de aplicação das penas acessórias, vejamos essas penas em espécie. O art. 98, do CPM enumera as chamadas
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