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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FACULDADE DR. FRANCISCO MAEDA Lilian Carvalho dos Santos A RECUPERAÇÃO JUDICIAL: O PRINCÍPIO DE PRESERVAÇÃO DA EMPRESA E OS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS ITUVERAVA 2018 LILIAN CARVALHO DOS SANTOS A RECUPERAÇÃO JUDICIAL: O PRINCÍPIO DE PRESERVAÇÃO DA EMPRESA E OS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Dr. Francisco Maeda. Fundação Educacional de Ituverava para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dr. Helil Ferreira Palermo ITUVERAVA 2018 LILIAN CARVALHO DOS SANTOS A RECUPERAÇÃO JUDICIAL: O PRINCÍPIO DE PRESERVAÇÃO DA EMPRESA E OS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Dr. Francisco Maeda. Fundação Educacional de Ituverava para obtenção do título de Bacharel em Direito. Ituverava, 07 de novembro de 2018. Orientador: Prof. Dr. Helil Ferreira Palermo Examinador (a): ____________________________ Examinador 1 Examinador (a): ____________________________ Examinador 2 AGRADECIMENTOS Meu eterno obrigada, àqueles que contribuíram para que pudesse concretizar esse grande sonho, principalmente a minha mãe Maria Lúcia que em todos os momentos está ao meu lado, que contribuiu com seu apoio psicológico e seu amor, esteve comigo nos momentos mais difíceis, durante toda a graduação, quem não me deixou desistir. Se não fosse ela, problemas passageiros, que parecia ser eterno, teriam interferido nesse sonho que agora se concretiza. Ao meu orientador Doutor Helil pelo suporte, dedicação ao meu trabalho, ao meu aprendizado, no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos, durante essa longa jornada, porque sem ele e sua vasta experiência, esse trabalho não seria possível, ao senhor, gratidão eterna. Agradeço também ao meu namorado, Robson, por demonstrar tanta paciência comigo, por todo seu companheirismo e ainda, por ter me auxiliado sempre, do início ao fim, pessoa que me ajudou permanecer com a mente sadia nas ocasiões em que passava por problemas financeiros e turbulências no meu ambiente familiar, com seus conselhos nos momentos tão difíceis. Obrigada, em especial à minha irmã, que sem obrigação alguma, por ter tido um preparo educacional maior e, a oportunidade de estudar em bons colégios, me ajudou a se preparar para o vestibular e para o Exame Nacional do Ensino Médio, me ensinando o que não aprendi, no qual foi determinante para ingressar no curso ora em conclusão. E todos os amigos e inimigos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, meu muito obrigado! Principalmente, aqueles que tentaram ser obstáculo no meu caminho para me impedir alcançar minha tão almejada graduação, os quais foram combustíveis para não desistir de um grande sonho que se concretiza. Prioritariamente, minha gratidão eterna ao Dr. Eduardo Marchetto e Dr. Igor Leoncini de Souza, sócios fundadores do Marchetto & Leoncini Advogados Associados, grandes profissionais do direito com os quais tive oportunidade e o prazer em aprender e os mesmos, o prazer em ensinar, enquanto estagiária. Profissionais que tiveram o poder de despertar em mim, uma grande paixão pela advocacia e pela ciência do direito, me movendo até aqui. Por fim, meus agradecimentos ao corpo docente dessa universidade por compartilharem conosco, discentes, todo conhecimento técnico – jurídico, e ter nos ensinado muito além do direito, aos senhores todo o meu respeito e admiração. “Quem zomba da instrução pagará por ela, mas aquele que respeita o mandamento será recompensado.” Provérbios 13:13 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo abordar as características da Lei n°11.101/2005 - Lei de Recuperação Judicial e Extrajudicial e de Falência, que tem como principal objetivo: a recuperação das empresas economicamente viáveis, que estejam passando por dificuldades financeiras, utilizando o mecanismo mais adequado para preservação da empresa, diante dos interesses que em torno dela circulam. A moderna Lei 11.101/2005 substituiu a ineficiente lei de concordata que era um instituto disponível para poucos, apenas empresas insolventes que demonstrassem real possibilidade de recuperação, modificando assim, o sistema falimentar. O surgimento da lei 11.101/2005 deu a chance das empresas em situação de crise financeira se reestruturar e ocorrer uma recuperação efetiva, conservando assim a função social da empresa, conforme artigo 47 da referida lei - ou seja, é um mecanismo mais abrangente, pois engloba toda ou qualquer empresa em crise econômica. No entanto, alguns desses créditos que a empresa em crise encontra-se inadimplente não são agraciados pela referida lei, como os créditos tributários. Na vigência do Decreto Lei n° 7.661/45 o crédito tributário era tratado da seguinte forma: “para ajuizar a concordata o empresário ou comerciante (devedor) deveria comprovar a inexistência de execução fiscal ajuizada.” Entretanto, caso houvesse execução fiscal proposta, caberia ao devedor provar a existência de penhora pela Fazenda Pública, conforme artigo 3° do referido decreto, ora revogado. Já em um segundo momento o concordatário, com relação aos créditos tributários na concessão da concordata, teria que apresentar prova de quitação dos tributos ficais relativos à atividade mercantil, conforme os artigos 174 do referido decreto e o artigo 191 do Código Tributário Nacional, com isso tornava-se impossível o concordatário cumprir a concordata preventiva a fim de evitar a quebra. Em síntese, a lei n°11.101/2005, apenas extinguiu as exigências do DL n° 859/69 - mas manteve uma mera semelhança com artigo 174 do referido decreto, ora revogado. Enfim, a comprovação da regularidade tributária para concessão da recuperação judicial. Nesse sentido, o principal objetivo desse trabalho, é analisar a Lei n° 11.101/2005, bem como as dívidas fiscais perante a recuperação judicial. Diante desse exposto, o presente trabalho visa analisar, qual o tratamento a ser dado pela Lei 11.101/2005 às empresas ou sociedades empresaria com dívidas tributárias? Assim, analisar as questões envolvendo empresários e sociedade empresaria que tem créditos tributários em aberto, de acordo com a Lei 11,101/2005 e com Código Tributário Nacional. Palavras-Chaves: Recuperação Judicial. Lei n°11.101/2005. Certidão Negativa de Débitos Tributários. SUMMARY The objective of this paper is to address the characteristics of Law 11,101 / 2005 - Law on Judicial and Extrajudicial Recovery and Bankruptcy, whose main objective is to recover economically viable companies that are experiencing financial difficulties using the most appropriate mechanism for the preservation of the company, to the interests that circulate around it. Modern Law 11.101 / 2005 replaced the ineffective concordato law that was an institute available for few, only insolvent companies that showed real possibility of recovery, thus modifying the failed system. The emergence of Law 11,101 / 2005 gave the opportunity for companies in a situation of financial crisis to be restructured and an effective recovery is achieved, thus preserving the social function of the company, in accordance with article 47 of the law - that is, a broader mechanism, since it encompasses any or all enterprises in economic crisis. However, some of these credits that the companyin crisis is not complying with are not favored by such law, such as tax credits. In the validity of Decree Law no. 7.661 / 45, the tax credit was treated as follows: "to judge the concordat, the businessman or merchant (debtor) should verify the lack of a tax enforcement." However, in case of proposed tax execution, it would be up to the debtor to prove the existence of an embargo by the Public Treasury, according to article 3 of said decree, already revoked. In a second moment, the concordant, in relation to the tax credits in the grant of the concordato, would have to present proof of the discharge of the silent taxes related to the mercantile activity, according to the articles 174 of that decree and the article 191 of the National Tax Code, it was impossible for the concordario to comply with the preventive agreement to avoid bankruptcy. In summary, Law 11.101 / 2005, only extinguished the requirements of DL No. 859/69, but retained a mere resemblance to Article 174 of that decree, now repealed. Finally, the verification of tax regularity for the grant of judicial recovery. In view of the above, the main objective of this work is to analyze Law 11.101 / 2005, as well as the tax debts before the judicial recovery. In the present work the following question is addressed: What is the treatment to be given by Law 11.101 / 2005 to companies or companies with tax debts? Thus, this issue is addressed to entrepreneurs and business society that has tax credits in open, in accordance with Law 11,101 / 2005 and the National Tax Code. Keywords: Judicial Recovery. Law No. 11.101 / 2005. Negative Certificate of Tax Debt. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10 1 FALÊNCIA EM SUAS ORIGENS HISTÓRICAS E EVOLUÇÕES .................. 12 1.1 O Direito Falimentar no Brasil ............................................................................. 16 1.2Transições da Lei de Falência, Concordatas para Lei de Falência e Recuperação de Empresas. .................................................................................................................. 20 1.3 Razões e Consequências .......................................................................................... 21 2 O ORGANISMO EMPRESARIAL ......................................................................... 23 2.1 A Evolução do Direito Empresarial ....................................................................... 24 2.2 A Teoria da Empresa ............................................................................................... 27 2.3 A Função Social da Empresa .................................................................................. 28 2.4 Os Princípios da Preservação da Empresa ........................................................... 30 3 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL ............................................................................... 32 3.1 A Crise da Empresa ................................................................................................ 34 3.2 A Recuperação Judicial como Efetivação do Princípio da Preservação da Empresa ......................................................................................................................... 36 3.3 A Aplicabilidade da Recuperação Judicial na Nova Legislação ......................... 37 3.4 O Número Recuperações Levadas à Homologação Judicial ............................... 39 4 ASPECTOS DESTACADOS SOBRE DIREITO TRIBUTÁRIO ......................... 41 4.1 Direito Tributário .................................................................................................... 41 4.2 Conceito do Tributo ................................................................................................ 42 4.3 Do Poder de Tributar .............................................................................................. 43 4.4 Competências Tributárias ...................................................................................... 44 4.5 Figuras Tributárias ................................................................................................. 45 4.6 Créditos Tributários ................................................................................................ 46 4.7 O Tratamento do Crédito Tributário na Recuperação de Empresas na Lei 11.101/2005 ..................................................................................................................... 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 58 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 61 10 INTRODUÇÃO A Lei n°11.101 de 09 de fevereiro de 2005, denominada Lei de Falência e Recuperação Judicial, revogou o ineficiente e ultrapassado Decreto-Lei n°7.661/45, que regulamentava o processo falimentar. Com a referida lei tornou-se mais funcional, objetivo e lógica a possibilidade a recuperação judicial, a extrajudicial, e a falência do empresário e da sociedade empresaria. Contudo, o presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo: Abordar o primeiro instituto do novo diploma, recuperação judicial, como o mecanismo mais adequado para preservação de empresas, economicamente viáveis que estejam passando por dificuldades financeiras, para que possam continuar cumprindo a sua função social, diante dos interesses que em torno dela circulam. Frente ao novo diploma, que extinguiu a ineficiente e ultrapassada lei de concordata, que era um instituto disponível para poucos, apenas empresas insolventes que demonstrassem real possibilidade de recuperação, modificando assim, o sistema falimentar, adotando um sistema moderno de recuperação de empresas utilizado nos países potentes economicamente e, no decreto lei, ora revogado, estreitando os laços entre credor e devedor, trazendo de tal maneira, o credor para o polo da relação, figurando-o como principal responsável pelo sucesso da recuperação, através de assembleia de credores formada para esse fim, recuperação do empresário ou da sociedade empresaria, economicamente viáveis, que se encontra em dificuldades financeiras. Logo, o principal objetivo da recuperação judicial, é superar a crise econômica do empresário ou da sociedade empresaria, uma vez que, a empresa é o núcleo essencial da economia de mercado, seja interno ou externo, tendo um relevante valor social. Contudo, ao explorar atividade prevista em seu objeto social, ao concretizar o seu principal objetivo: lucro promove uma interação econômica (produção ou circulação de bens ou serviços), como outros agentes de mercado, consumindo, vendendo, fazendo a manutenção da fonte produtora e dos postos de trabalho, preservando os interesses dos credores, movimentando a economia e desenvolvendo a região ou a comunidade na qual está inserida, enfim, criando riqueza e colaborando para o desenvolvimento do país, e fazendo o principal, cumprindo a sua função social, conforme elenca o artigo 47. A presente legislação tem se preocupado com empresas que tem seu fluxo de caixa com resultados negativos, caracterizados por ineficiência na gestão empresarial, gastando 11 mais do que deveria, metas não atingidas, dificuldade de manter ou dilatar prazo para pagamentos dos fornecedores, conflito entre sócios, número de processos, tais como: reclamações trabalhistas e ações indenizatórias, capital de giro insuficiente, de maneira que não conseguem honrar com seus compromissos pontualmente, mesmo que possuam um bom patrimônio. É importante ressaltar que tais dificuldades de ordem econômicas são enfrentadas por empresas extremamente lucrativas e de grande porte, que encontram dificuldades para se sustentar- problema esse muito comum no Brasil. Com a Lei nº 11.101/2005, a recuperação judicial passou a ser uma das ferramentas utilizadas pelas empresas, para superar as razões que levaram a crise econômico-financeira, em que é gerenciada pelo Poder Judiciário, revendo estratégias, satisfazendo os interesses dos credores, vencendo dificuldades para sair do vermelho, como forma de preservar a unidade produtiva, geração de empregos, desenvolvendo a unidade econômica e cumprindo a função social. A finalidade da Lei 11.101/2005, é a utilização de todas as técnicas e estratégias de negociações com os credores, pois são, os maiores interessados na recuperação do devedor, na tentativa de satisfazer os interesses que em torno dela circulam, com o objetivo de recuperá-lo e de manter e dar continuidade na unidade produtora, mediante sacrifícios de todos os interessados neste processo. A referida lei de falência, com fulcro no princípio da preservação da empresa, não busca somente a manutenção da unidade produtora como fonte de geração de emprego, mas sim, o desenvolvimento econômico do país, por meio de órgãos públicos arrecadadores de tributos. Diante desse exposto, o presente trabalho pretende abordar a seguinte questão: Qual o tratamento a ser dado pela Lei 11.101/2005 às empresas ou sociedades empresaria com dívidas tributárias? Assim, pretende essa questão dado aos empresários e sociedade empresaria que tem créditos tributários em aberto, de acordo com a Lei 11,101/2005 e com Código Tributário Nacional. 12 1 FALÊNCIA EM SUAS ORIGENS HISTÓRICAS E EVOLUÇÕES A decretação da falência tem por objetivo, preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens ao considerar que o patrimônio é única garantia do credor, promovendo o afastamento do devedor dadas suas atividades, promovendo a liquidação da empresa e de seus bens, observando o princípio da celeridade e da economia processual, tornando o processo de falência um processo eficaz para conseguir pagar os credores, por meio de uma ação forçada, os bens são arrecadados e colocados à venda judicialmente, evitando a depreciação dos mesmos . A alienação rápida desses bens faz com que os mesmos não se deteriorem e percam o valor monetário pelo tempo, fazendo com que o valor arrecado da venda seja feito pagamento dos credores de forma proporcional, obedecendo a ordem preferencial de classificação do crédito, ínsito à Lei n°11.101/2005. Nota-se que ao logo da história, a falência e o falido não eram tratados da mesma forma que são tratados pela legislação atual, percebe-se que ocorreram muitas evoluções ao longo do tempo. O direito na fase primitiva não reconhecia as garantias reais, e, os devedores respondiam com a própria vida, ou até mesmo dispondo da sua liberdade, honra e também de seus familiares. (MONTEIRO, 2003) No Antigo Egito o devedor era adjudicado ao credor, sendo reduzido à condição de escravo, bem como sua esposa e seus filhos se houvesse. Já em Roma, os devedores eram condenados a responder as dívidas com a própria vida, honra e corpo, bem como era muito comum em outros povos da época, esse tipo de condenação. (FERREIRA apud FONSECA,2004) Após vários estudos sobre o devedor insolvente, historiadores acreditam que o devedor era submetido à lei de XII Tabuas na Roma Antiga, escravizados e até mesmo vendidos pelos seus credores como forma de pagar a dívida e saldar o prejuízo. Há historiadores que afirmam que o valor arrecadado com a venda do devedor, escra- vizado pela dívida, rateado entre os credores e há os que acreditam que, o devedor era esquar- tejado e entregue aos seus credores. (THOMÉ, MARCOS e CURY, 2000). Com tempo, a execução deixou de ser pessoal e passou a ser patrimonial, abolindo o direito do credor de matar o devedor, mantê-lo como escravo e vende-lo, ou até mesmo encar- cera-lo, nascendo assim às garantias das obrigações no patrimônio. (SAMPAIO, 1982). 13 Sendo assim, nasce o processo do “bonorum venditio”, um instituto do Direito Roma- no, que significa “venda dos bens”, ou seja, venda de todos os ativos do devedor para pagar as suas dívidas. Todavia, o credor tomava posse dos bens e colocava a vende, com amparo no Decreto Pretoriano, onde tais bens eram removidos da posse do devedor e transmitidos ao credor, a fim de ser vendido para pagar as dívidas e satisfazendo os interesses dos credores. Vale lembrar que os credores, eram representados por um deles, que era denominado como “curator bonorum”, o qual era uma espécie de vigiador dos bens, escolhido pelo “pre- tor”, que seria uma espécie de juiz da província na época. O curator ficava responsável por cuidar dos bens, coloca-los a venda e com a arrecadação, pagavam-se os credores. Essa forma de execução tinha um caráter coletivo, formando assim um conceito de massa falida. Para alguns estudiosos a figura do curator bonorum, dentre os principais personagens ligados ao processo histórico da execução é talvez o mais desconhecido e consequentemente o menos estudado. Sendo assim, encontram-se algumas divergências a respeito dessa figura. A função do “curator bonorum” segundo a doutrina, era ligado diretamente à conser- vação e reintegração do patrimônio que incidiria a execução, onde após a sua nomeação pelo “pretor”, ele substituía os credores na vigília dos bens. Com a criação da figura “cessio bonorum” que significa “cessão de venda”, criada pela Lex Julia Bonorum (Lei Julia de Venda) – 737ª.C., a qual evitava a execução pessoal do devedor, sendo reservada uma parte de seus bens para atender as necessidades básicas do de- vedor e a outra era reservada aos credores. (FERREIRA apud FONSECA,2001) Somente na idade média, com o desenrolamento das relações comercias e a real neces- sidade de criarem normas que regulamentavam essa situação, surgiu às doutrinas que tratavam o direito público, onde o Estado passou regulamentar, apoderar de o patrimônio do devedor, vigiar, zelar e promover a sua liquidação. Então, a vida e liberdade deixaram de responder pelas dividas contraída pelo devedor, seus bens passam valer como garantia, durante esse período verificou-se que a garantia genérica não era o suficiente, então, surgiu duas modalidades de garantia: a de caráter pessoal, na figura do fiador e a de natureza real, onde o devedor ou alguém o representando oferecia um bem em garantia. Vale lembrar que essas modalidades de garantia eram satisfatórias para o credor, deixava o devedor desamparado. Todavia o direito romano reconheceu outra modalidade de garantia, o pacto anticrético (MONTEIRO, 2003). Na baixa idade média, com a criação de grandes companhias mercantis, algumas dessas não atingiam seus objetivos e consequentemente não conseguiam honrar com seus compromissos, gerando insegurança pela inadimplência, sendo assim, tornou-se muito 14 comum à quebra da banca do devedor. Dando origem à figura “bancarrota” expressão muito utilizada pela doutrina jurídica de vários países, principalmente o Estados Unidos. Com passar do tempo, as normas que tratava a insolvência foram sendo modificadas, conforme as condições políticas e sociais. Já o “bonorum venditio” foi adaptado às necessidades da época (COLLIVA apud FONSECA, 2004). Todavia, com a evolução legislativa foi tomada por uma série de providências que objetivaram recursos eficazes a proteção ao crédito. Nesse sentido, o sistema italiano, como uma visão mais técnica, sob a ótica de um moderno direito falimentar, pois nele já tinha a figura do “sindico”, bem como suas atribuições, era a realização de balanço, o exame dos livros comerciais e contas, analise do ativo e passivo, entre outras funções. No entanto, ficava a cargo do sindico também, a publicidade da falência, a exigibilidade das dívidas a prazo, e a falência só ocorria com o requerimento do credor ou mesmo do devedor, ou em caso de fuga do devedor. (SAMPAIO,1982). O Brasil, enquanto colônia de Portugal, em relação à falência cumpria-se a legislação portuguesa, a qual seguia as Ordenações Afonsinas, onde o devedor que não pagasse a dívida dentro do prazo acordado no contrato, seria preso até que realizasse o pagamento da dívida. Em 1521 as Ordenações Afonsinas foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas, a qual tratava a falência de outra forma, quando ocorria a falência, o devedor poderia ceder os seus bens para pagar a dívida, caso isso não ocorresse, o devedor seria preso até que pagasse sua dívida. Decretadas as Ordenações Filipinas em 1603, que vigoram no Brasil até 1916, a qual tratava os devedores como criminosos, sob pena de “degredo para galés”, bem como aplicava a indisponibilidade de bens, arrolamento de seus bens, pena de morte, entre outros, era proibido dar abrigo ao falido, e que contrariasse a legislação da época, e dava abrigo ao falido era também penalizada a pena de morte ou as galés. (NEGRÃO, 2004). Posteriormente, essas normas foram modificadas pelo Alvará n° 13/1756, que serviu como base para parte do Código Comercial Brasileiro de 1850, que versava sobre a quebra. Para evitar a quebra do Barão de Mauá, pois ele era grande financiador e investidor do país na época, então proclamaram o Decreto n°3.065/1882, onde a concordata seria concedida se fosse aceita pela maioria dos credores, e desde que a aceitação representasse dois terços dos créditos. Contudo, surgiu no Código Comercial, várias leis de emergências, sobre falências dos bancos de circulação, como por exemplo: a Lei n° 1.083/1860 e consequentemente o Decreto n° 917/1890, que revogou todas as disposições legais da falência no Código Comercial e 15 posteriormente a Lei n°859/1902 que trouxe uma inovação, onde estabeleceu a nomeação do sindico pelo juiz. A Lei n° 2.024/1908, que vigorou até 1945, através do Decreto n° 5.746/1929, porque logo foi promulgado o Decreto-Lei n° 7.661/1945, a chamada Lei de Falência e Concordata, que era ineficiente, pois o empresário em dificuldade, requeria a concordata para ganhar tempo e tentar negociar suas dívidas, fazendo de tudo para salda-las, mas esse instrumento não era suficiente para atender as necessidades do concordatário, uma vez, que a concordata não era flexível a ponto de permitir uma empresa sair do vermelho e sua unidade produtiva voltar funcionar normalmente e reerguer. Na verdade, esse instrumento era apenas um preparativo para a falência da empresa. (THOMÉ, MARCO e CURY, 2000). Somente nos anos 90 que foram realizados estudos, acerca da Recuperação de Empre- sa e Falência, comparando com países como: França, Estados Unidos e Inglaterra, os quais são desenvolvidos economicamente e referência em Direito Concursal, esses visam o cum- primento do Princípio da Preservação da Empresa, fazendo com que a empresa devedora de seguimento as suas atividades, impedido a falência. Vale lembrar, que nesses países a acima elencados, não se fala em falência, pois ela raramente ocorre. Já a recuperação da empresa e realizada constantemente nesses países, e caso seja in- viável, é feito de forma imediata sua liquidação por meio de processo ágil, a fim de manter a unidade produtiva e todos os seus bens, para que não lese os interesses dos credores. No Brasil, foi apresentado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional o projeto de Lei n°4.376/1993, para regular a Falência e a Recuperação Judicial, após anos de estudos e muitas discussões, foi sancionado a Lei 11.101/2005, a Lei de Recuperação de Empresas e Falência, em fevereiro de 2005, entrando em vigor em 09 de Junho de 2005 (FERREIRA, 2006). O novo diploma legal tem como objetivo dar oportunidade as empresas e condições restabelecimento econômico-financeiro, além de combater o desemprego e diminuir os seus impactos em consequência desses. Por fim, evitar uma desestrutura na cadeia econômica regi- onal, utilizando o mecanismo mais adequado para preservação da empresa, diante dos interes- ses que em torno dela circulam. 16 1.1 O Direito Falimentar no Brasil Durante o descobrimento do Brasil, vigorava a legislação portuguesa, conhecida com Ordenações Afonsinas, de 1446, os quais adotavam o “concursum credito” do Direito Romano, onde o devedor, que não pagasse a dívida dentro do prazo acordado no contrato seria preso até adimplemento de seus débitos. Em 1521 as Ordenações Afonsinas foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas, a qual tratava a falência de outra forma, quando ocorria a falência, o devedor poderia ceder os seus bens para pagar a dívida, caso isso não ocorresse, o devedor seria preso até que pagasse sua dívida. Posteriormente essas ordenações foram substituídas em 1603, e entraram em vigor as Ordenações Filipinas, a qual teve a maior influência no Brasil, principalmente durante a expansão do Brasil Colônia. Esta legislação nada mais, nada mesmo que uma cópia das ordenações antecessoras, impondo a prisão a prisão do devedor até que fosse realizado adimplemento de seus débitos. Mercadores ou cambistas que fugissem com dinheiro ou mercadorias para não pagar suas dívidas, seriam considerados publicamente como ladrões e roubadores. Então eram aplicadas penas de castigos, de perderem a nobreza e a liberdade. Vale lembrar que nesse período, não era mais permitido pena de morte e de açoite, mesmo se o devedor tivesse agindo de má-fé, o devedor era degredado para galés, bem como era proibido de exercer sua profissão. E não era lhe dado à oportunidade de quitação dos débitos e os credores poderiam executar os bens adquiridos pelos seus devedores na constância da dívida. Contudo, durante a vigência das Ordenações Filipinas, foram realizadas diversas modificações por meio do Alvará de 13.11.1756, no qual trouxe inovações necessárias nas regras da falência, no entanto trouxe também admissibilidade dos créditos por salários. Já o Alvará de 01.09.1757 determinou que no caso do falido de boa-fé, poderia separar 10% do seu ativo e autorizava a incidência de juros nos casos de falência, conforme o Alvará de 17. 05.1750. E o Alvará de 30.05.1759 determinava que deveria de ser apurado no caso de falência, se houve ou não a boa-fé. Portanto, o Alvará de 12.03.1760, vinha esclarecer que os ativos só seriam concedidos aos falidos se provassem a sua boa-fé a Junta de Comércio, bem como apresentasse os livros escriturados com clareza e, por fim, o Alvará de 29.03.1770 ajustou que era de competência privativa da Junta do Comércio os processos que envolvia o falido. 17 Em consequência do Alvará de 18.08.1769 e da Lei de 30.10.1823, passou aplicar subsidiariamente as leis dos países civilizados, e preferencialmente o Código Comercial Francês de 1807. Aponta o doutrinador Sergio Campinho que a denominação “bancarrota” não ganhou força no direito comercial brasileiro, mesmo com a denominação identificada no Código Cri- minal de 1830. Segundo Carvalho de Mendonça, o termo era empregado para designar a fa- lência fraudulenta, portanto, essa expressão foi banida pelo Código Comercial de 1850.(CAMPINHO, 2018). Contudo, somente em 26.06.1850, foi alterado o primeiro Código Comercial no Brasil, o qual passou regulamentar o Direito Falimentar, alterado título terceiro, trazendo um grande avanço para o Direito Comercial Brasileiro. Em uma breve analise a histórica o referido di- ploma legal segui os parâmetros do Código Napoleônico, tendo como base o instituto de apu- ração criminal, e seu principal objetivo na falência era a investigação e apuração da responsa- bilidade do falido. Portanto, somente após instrução do processo de quebra e decretado a fa- lência, que deveria dar início ao processo de liquidação da massa falida, conforme artigo 842 do diploma, ora revogado. Mas, diante do instituto falimentar aplicado na época, que exigia a conclusão da “ava- liação criminal”, e que permitiao recebimento do passivo, enquanto as medias aplicadas eram simultâneas e distintas. Todavia, a falência poderia ser requerida pelo credor até decretação “ex officio” caso que o estado de insolvência fosse notório. (ESTEVEZ, 2010) A concordata só foi introduzida na legislação brasileira com o Código Comercial de 1850, sendo que ela já existia no Direito Romano, que tinha como modelo os códigos francês, português e espanhol. Para evitar a quebra do Barão de Mauá, pois ele era grande financiador e investidor do país na época, então proclamaram o Decreto n°3.065/1882, onde a concordata seria concedida se fosse aceita pela maioria dos credores, e desde que a aceitação representas- se dois terços dos créditos. O Código Comercial vigente na época previa no seu artigo 898 a possibilidade de con- ceder moratório ao devedor, com a anuência do juiz, sem a necessidade consentimento dos credores. Constatou-se a importância do sistema falimentar no combate à fraude, mas com crise do Rio de Janeiro, desencadeada pela quebra da Casa Bancária Vieira Souto, em 1864, o sis- tema foi alvo de críticas muitos severas. Então, para solucionar o caso foi promulgado o De- creto n° 3.309/1864, mas esse não teve uma longa vigência, pois logo já foi substituído pelo 18 Decreto n°3.516/1865, porém, nesse momento nascia no Direito Falimentar Brasileiro a liqui- dação dos estabelecimentos bancários. (ESTEVEZ, 2010). Na verdade, o Código Comercial de 1850, tinha muitas lacunas e imperfeições, era ex- tremamente desastroso para os credores, motivo no qual que levou a alteração da mesma, pois a reforma era necessária, devido ao processo lento e complicada de falência, lendo a ruina do falido e o sacrifício do credor. Com a proclamação da República e os novos direcionamentos políticos, foi ordenada elaboração de uma nova legislação que versava sobre o Direito Falimentar, para atender as necessidades de alguns interessados, sendo assim, ela elaborada em pouco tempo, dando ori- gem ao Decreto n° 917 /1890, tinha como objetivo moralizar as falências, modernizando o sistema falimentar. Todavia, após clamor das associações comerciais e da impressa, foi sancionou a Lei 859/1902, que tinha como objetivo combater a má-fé entre credores e devedores. A principal inovação que a Lei 859/1902 trouxe foi à nomeação de sindico para con- trolar o processo de falência, por meio de listas organizadas pelas Juntas Comerciais, sendo elaboradas pelos comerciantes de reputação ilibada, tendo ainda experiência e conhecimento nos negócios, visando combater as fraudes entre credores e devedores, tal regra era seguida por legislações falimentares da época, como exemplo: o Código Comercial Italiano de 1882. A referida lei trouxe novas esperanças aos credores para conter fraude e má-fé, ocor- rente na época, na qual foi considerada o marco inicial para a evolução do Direito falimentar, considerando o estado de falência por atos ou fatos descritos no ordenamento jurídico, não conseguir honrar os pagamentos mercantis com pontualidade, não cumprindo as obrigações liquida e certa, consequentemente a aplicação da concordata preventiva. Só que mesmo com algumas mudanças importantes, o decreto não ficou livre das críticas, sendo substituído pela Lei n°859 de 16/08/1902 regulado pelo Decreto n°4855/1903. Posteriormente promulgou-se a Lei n° 2.024/1908, revogando o ineficiente Decreto n°4855/1903. O novo diploma legal baseou-se no projeto do grande comercialista Carvalho de Men- donça, onde foi instituído na lei de falência a como características essenciais: impontualidade como caracterizadora da falência, o inadimplemento denota falência, suprimindo a concordata amigável, admitindo apenas a concordata judicial, nivelando os atos falimentares, vale lem- brar, que com a inclusão dos crimes falimentares os processos falimentares e os procedimen- tos penais tramitavam separadamente, a partir do recebimento da denúncia perante o Juiz Criminal, onde era feito a escolha de um entre três síndicos, de acordo com o valor da massa falida, levando em consideração o interesse da maioria dos credores (OLIVEIRA, 2000). 19 O decreto 4855/1903 já não estava atendendo as necessidades falimentares, então, em 21 de outubro de 1943 foi apresentado um anteprojeto elaborado por uma comissão, onde na sua composição tinha o Ministro da Justiça da época, Alexandre Marcondes Filho, no qual o referido projeto se transformou no Decreto-Lei n°7.661 de 21 de junho de 1945. O novo di- ploma legal trouxe para o ordenamento jurídico a extinção da liquidação, bem como a altera- ção da concordata preventiva deixando-a a mercê dos credores. Todavia, o tal decreto instaurou-se o procedimento paralelo do processo falimentar com o processo criminal e quando se tratava de crime falimentar o referido diploma legal tra- zia tratamentos severos e tolerantes ao falido, no âmbito civil. O Decreto-Lei n° 7.661/1945 durante sua vigência sofreu várias alterações, principalmente em relação à concordata e classi- ficação de créditos (OLIVEIRA, 2000). Nesse sentido, entendeu-se que moratória e concordata preventiva não atendiam as ne- cessidades dos devedores, isso porque, os acordos pactuados entre credores e devedores fica- vam em desvantagem em relação às concordatas judiciais, porém, foi necessário fazer uma nova mudança no sistema falimentar, então, instaurou-se a obrigatoriedade da dilação de pra- zo de pagamentos de dívidas, remissão parcial e a concordata preventiva imposta pelo Juiz de falência, nos casos em que devedor atendia todos os requisitos da lei, deferindo em benefício dos devedores e atendendo os reflexos pretendidos pelos credores. Após, inúmeras dificuldades enfrentadas pela classe empresarial e muitos clamores das Associações Comerciais e da mídia. No início dos anos 90 foram realizados estudos, acer- ca da Recuperação de Empresa e Falência, usando como base, legislações Francesa, America- na e Inglesa, pois essas nações são referências em Direito Concursal, porque eles aplicam o Princípio da Preservação da Empresa, auxiliando as empresas no seguimento da unidade pro- dutiva, evitando a falência. Nas nações acima elencadas a falência raramente ocorre e quando acontece, é feito de forma imediata sua liquidação por meio de processo ágil, a fim de manter a unidade produtiva e todos os seus bens, para que não lese os interesses dos credores. Sendo assim, o então Presidente da República Itamar Franco após receber vários re- presentantes de comercio e indústria, apresentou ao Congresso Nacional o projeto de Lei n°4376/1993 para regulamentar a Falência e a Recuperação Judicial. No entanto, foram anos de discussões e estudos sobre o assusto por parte de comissões formadas no Congresso Naci- onal para tratar a referida matéria. Então, no ano 2005 chega ao fim o projeto que tramitou no Congresso Nacional por 12 anos, foi sancionado a tão esperada Lei n°11.101/2005 de Recuperação de Empresas e Falên- cia em fevereiro de 2005, que entrou em vigor em 9 de junho de 2005. 20 O referido diploma legal tem como objetivo dar oportunidade as empresas em condi- ções de restabelecimento econômico-financeiro, além de combater o desemprego e diminuir os seus impactos em consequência desses. Por fim, evitar uma desestrutura na cadeia econô- mica regional, utilizando o mecanismo mais adequado que é a recuperação judicial para pre- servação da empresa, diante dos interesses que em torno dela circulam. 1.2 Transições da Lei de Falência, Concordatas para Lei de Falência e Recuperação de Empresas. A Lei de Concordata e Falência, regulamentada pelo Decreto n. 7.661/45 vigorou no ordenamento jurídico por cinquenta anos, sendo posteriormente substituída pela Lei n.11.101/2005, pois, o referido diploma legal, já não atendia às necessidades dos empresários, empresas e credores, apresentando ineficiente, causando muitos prejuízos aos credorese não supria as necessidades emergências das empresas em dificuldades a fim de impedir a falência. O empresário em dificuldade requeria a concordata para ganhar tempo e tentar negociar suas dívidas, fazendo de tudo para saldá-las, mas esse instrumento não era suficiente para atender as necessidades do concordatário, uma vez que, a concordata não era flexível, a ponto de permitir uma empresa sair do vermelho e sua unidade produtiva voltar funcionar normalmente e reerguer. Na verdade, esse instrumento era apenas um preparativo para a falência da empresa. (THOMÉ, MARCO e CURY, 2000). Então, após inúmeras dificuldades enfrentadas pela classe empresarial e muitos clamores das Associações Comerciais e da mídia. No início dos anos 90, foram realizados estudos, acerca da Recuperação de Empresa e Falência, usando como base, as legislações Francesa, Americana e Inglesa, pois essas nações são referências em Direito Concursal, porque eles aplicam o Princípio da Preservação da Empresa e da Função Social, auxiliando as empresas no seguimento da unidade produtiva, evitando a falência. Nas nações acima elencadas a falência raramente ocorre e quando acontece, é feito de forma imediata sua liquidação por meio de processo ágil, a fim de manter a unidade produtiva e todos os seus bens, para que não lese os interesses dos credores. Todavia, o então Presidente da República Itamar Franco, após receber representantes da indústria e comércio, os quais clamavam por mudanças drásticas, apresentou ao Congresso Nacional o projeto de Lei n°4376/1993 para regulamentar a Falência e a Recuperação 21 Judicial. No entanto, foram anos de discussões e estudos sobre o assusto por parte de comissões formadas no Congresso Nacional para tratar a referida matéria. Então, no ano 2005 chega ao fim o projeto que tramitou no Congresso Nacional por 12 anos, foi sancionado a tão esperada Lei n°11.101/2005 de Recuperação de Empresas e Falên- cia em fevereiro de 2005, que entrou em vigor em 9 de junho de 2005. Ademais, o referido preceito tem como objetivo fornecer as empresas em dificuldades condições de restabelecimento econômico-financeiro, a fim de combater desemprego e dimi- nuir os seus impactos em razão da crise financeira e evitar uma desestrutura na cadeia econô- mica regional e os demais interesses que em torno dela circulam, utilizando o mecanismo mais adequando de recuperação a fim de preservara unidade produtora e evitar a falência. 1.3 Razões e Consequências Existem vários motivos que levam uma empresa a falência, os fatores variam desde má administração a fatores de mercado. Quando uma empresa entra em crise é necessária uma reflexão e consequentemente uma investigação das causas. O que na maioria dos casos não ocorrem, então, essa crise foge do controle dos administradores, principalmente nos casos de crises, causadas por fatores de ordem exclusivamente econômica. É importante mencionar que, nem toda crise empresarial decorre de má administração ou atos ilícitos praticados por seus administradores, muitas das vezes, as crises ocorrem devido aos sócios e administradores não serem inconsequentes, adotam medidas necessárias e recomendáveis, no objetivo de haver o desenvolvimento da empresa, agindo dentro da lei e da ética de forma escrupulosa e o negócio simplesmente não dá certo. Nesse sentido, a crise decorrente de fatores extremamente econômicos, não pode trazer consequências gravosas aos sócios ou administradores, no sentido de responsabiliza-los pelos danos decorrentes da crise, por se tratar de uma situação que foge do controle dos sócios ou dos administradores (ULHOA COELHO, 2018). Diante do exposto, nos leva crer que evitar a crise pode estar além do alcance dos sócios ou dos administradores. Afinal, a empresa poder ter sucesso ou não, tudo vai depender do mercado, da situação econômica do país, do ramo de atividade, da gestão empresarial e dos incentivos do governo. Vale lembrar, que o risco empresarial pode causar perdas irreparáveis, e muitas das vezes, insuscetíveis de antecipação de economistas, contadores, administradores e até mesmo de quem está à frente dos negócios. 22 Em torno da empresa, gravitam muitos interesses, não só dos sócios, administradores, mas de uma sociedade, dos trabalhadores que dependem do posto de trabalho, da economia local, que depende desse mercado, dos consumidores que dependem da produção, da prestação de serviços, os quais tem interesse na manutenção e na preservação dessa empresa, principalmente o estado, em razão da geração de tributos, bem como a promoção de riquezas locais, regionais, nacional, ou até mesmo global (ULHOA COELHO, 2018). Por fim, entende-se que a falência é um processo de execução concursal, ou seja, concurso de credores, no qual os bens são arrecadados e vendidos, para satisfazer o interesse imediato dos credores, distribuídos aos mesmos de forma proporcional ao resultado da arrecadação. A decretação da falência tem várias consequências negativas na sociedade, na economia, principalmente no mercado em que ela está inserida, pois a falência da inicio a novo jurídico, entretanto, produzindo vários efeitos na vida dos credores, devedores e atingindo diretamente a pessoa do falido. 23 2 O ORGANISMO EMPRESARIAL O organismo vivo empresarial para alguns estudiosos é uma metáfora, que são utilizadas para explicar a organização empresarial. Sendo assim, da mesma forma que os seres vivos buscam sobreviver em meio tanta turbulência, as organizações empresariais também, buscam sobrevier, só que para isso é necessários recursos suficientes, para manutenção do organismo empresarial, tais como: boa gestão, controle de gastos, conhecimento do mercado e de suas necessidades. Para a estudiosa da gestão empresarial Alessandra Assad (2015, p.1) afirma que: As empresas são como corpos: precisam ser saudáveis para ter vida longa, e quanto mais forte for à missão, mais fácil de ela ser reconhecida ou rejeitada. Há empresas que têm isso tão fortemente desenvolvido, que a missão chega a ser quase palpável. Um bom exemplo são os valores do Google. A condição básica para trabalhar lá dentro é ter o perfil correspondente ao DNA da companhia. Para alguns especialistas, o organismo empresarial é um organismo vivo, as células empresariais têm seus genes, os quais orientam pessoas e seus grupos com relação à chama sagrada da empresa e pelo motivo da sua existência, e seu compromisso, mesmo que cada organização empresarial pertença a um sistema ou processo organizacional diferente. No entanto, isso dará às empresas as condições necessárias de sobrevivência, crescimento corporativo, desenvolvendo em um ambiente de competitividade acelerado, sendo assim, é a semelhança dos seres vivos que fazem tudo isso em busca da sua sobrevivência, não é nada mais, nada menos em suas movimentações, que as organizações fazem em busca de sua sobrevivência, o que é comum no processo evolutivo. (ASSAD, 2015). Para especialista em administração de empresa, o modelo celular ou de gestão orgânica empresarial, esse entendimento cria condições e grandes oportunidades para o real aprendizado existencial individual e organizacional, com seleção e revelação de novos talentos, novas habilidades, desenvolvendo novas competências à cultura organizacional. Todavia, as empresas vivas produzem bens e serviços, movimenta a economia, seja local regional, estadual ou federal, bem como banca o seu próprio sustento e a manutenção do emprego de seus funcionários. Na verdade, as empresas “vivas” tem consciência corporativismos e dos valores comuns. Em suma, eles sabem o fundamental sobrea as ideias e identidades corporativas, pois essas organizações valorizam o corporativismo, então, na ideia desses estudiosos da gestão 24 empresarial, quem não consegue convivercom valores da organização, seguindo os seus princípios de sua visão, missão e valores, não pode fazer parte dela, onde a sensação de fazer parte do todo e das metas alcançada de pela organização é combustível para levar os integrantes e a empresa ao almejado sucesso, pois isso uniu o seu quadro de colaboradores, uma vez que estes se sentem valorizados, até mesmo os mais diferentes. Por fins, os profissionais da área sabem que, para o organismo empresarial manter vivo é necessária a valorização do corporativismo, pois a organização os ajudará desenvolver o potencial de seus colaboradores e de toda organização. O dinheiro não é um combustível motivador para as empresas funcionar como um “rio”, termo usado pela doutrina, mas se há insuficiência de dinheiro, os funcionários e os seus próprios gestores trabalham insatisfeitos, não tem recursos para trabalhar e a crise se instala na empresa. Entretanto se aumentar a quantia de dinheiro e a remuneração dos funcionários, isso não motivará, eles darem o melhor de si. É por essa razão, que os membros têm que ter conhecimento de que a comunidade e o estado estão interessados nos direitos da empresa e seus colaboradores como indivíduos, e eles precisão estão interessados no destino da empresa, pois para uma empresa se manter de pé é necessário o trabalho em equipe para fazer uma boa gestão e manter o organismo vivo da empresa, uma vez que um depende do outro, e esse pilares bem equilibrados mantem a saúde do organismo empresarial. 2.1 A Evolução do Direito Empresarial A atividade empresarial passou por grandes avanços em razão da evolução da sociedade, onde foi necessária a elaboração de um novo Código Civil, que recebeu muitas críticas na época, pôr o referido código tratar assuntos comerciais, como ocorreu Itália. Porém, o Código Civil de 2002 apesar de tratar do direito comercial e civil, deixou as referidas matérias totalmente separadas, pois o direito comercial está inserido no Livro II da Parte Especial denominado do “Direito de Empresa”, onde os assuntos de matéria empresarial não se confundem com os demais artigos do direito civil. O direito comercial mesmo com sua raiz no Código Civil, não há que se falar em perda da autonomia, uma vez que, o legislador quis tratar no mesmo diploma legal matérias distintas sem deixar que com isso, ocorra uma subordinação de um perante outro. 25 O Código Civil de 2002 passou por tantas críticas, bem como passou por vários elogios com relação aos acertos da legislação ao regulamentar o direito comercial, onde o elogio teceu sobre a teria da empresa, no qual ampliou o direito comercial no Brasil. Rompendo na legislação, grandes atividades não mais são reguladas pelo direito comercial, tendo como exemplo a prestação de serviço e atividades imobiliárias (LIMA,2002). No entanto, a teoria da empresa não se importa com o gênero, pois o que prevalece na referida teoria é a atividade econômica exercida, executando a circulação de bens e serviços, levando o desenvolvimento do país. Ocorre que com o crescimento da burguesia, houve uma ascensão das atividades econômicas, porém, a sociedade viu a grande necessidade de regulamentar o comercio, a fim de garantir segurança, de direitos e obrigações dos comerciantes e todas as partes envolvidas na cadeia. Durante toda a evolução, importantes institutos e costumes foram introduzidos nessa área. Na idade média o direito comercial, inicialmente muito subjetivista, onde esse era fechado e extremante restrito aos comerciantes que eram registrados. No entanto, surgiu um direito autônomo, regulamento a atividade empresaria e conseguindo um grande avanço nesse período, porém, foi enfraquecido em razão do mercantilismo, causando conflito, então, foi necessária a elaboração de novas leis para combater a divergência. Na França, elaborou-se as ordenações francesas, trazendo um avanço por um bom tempo, posteriormente revogadas pelo Código Napoleônico de 1807. Este afastou do direito comercial o subjetivismo do direito comercial, tornando-a mais efetiva e objetiva, onde a legislação vigente da época alcançava somente os comerciantes inscritos nas respectivas corporações. Todavia, deixaram de basear-se na figura do comerciante e passaram se destinar as atividades econômicas exercidas. No entanto, surgiram muitas críticas pelo fato do legislador francês ter baseado apenas em fatos histórico, sendo assim, com o grande avanço econômico e o desenvolvimento do direito comercial, a referida legislação já estava desatualizada com relação à realidade (LIMA,2004). Após visualizar erro de outras nações, a Itália elaborou a nova teoria de empresa, compondo ainda mais o direito comercial e corrigindo as falhas e alterando o que era necessário. Então deixou de desmembrar os grupos mercantis, deixando de importar com gênero, valorizando as organizações, bem como passou considerar empresas como atividades econômicas para circulação e geração de riquezas e movimentação da economia, onde não tinha mais o entendimento de pratica de atos de comércio. Vale lembrar, que nesse período, ficou excluído as atividades consideradas de menor importância, e poderia se afastar 26 dependendo do titular, a atividade agrícola, porém era realizado na junta comercial os respectivos registros no caso do Brasil. Com avanço econômico é notório a evolução, pois no período - ou seja, no lapso subjetivo, o comerciante tinha que ser matriculado na corporação. Já no segundo período com a instituição do Código Napoleônico de 1807 o qual visava os atos de comercio, e no terceiro período tendo como precursor o Código Civil Italiano, no qual está vigente no ordenamento jurídico brasileiro o modelo da Itália perdurando até os dias de atuais, a teoria de empresa, a qual valoriza o empresário e a sociedade empresaria (LIMA, 2004). Contudo, o direito comercial iniciou no Brasil, com a chegada da Família Real Portuguesa ao país, onde, as leis portuguesas, Código da França e Espanha regulamentavam as relações comerciais da época, desse modo havia muitos conflitos em razão da mistura de legislações. Em 1850 foi elaborado o primeiro Código Comercial Brasileiro, tendo como modelo as legislações Francesa, Espanhola e o Código de Portugal, os quais adotavam a teoria dos atos de comércio que não era enumerado. Sendo assim, o legislador não teve alternativa a não ser enumerar os atos de comércio, com base nas relações comerciais francesa, no entanto, a referida legislação foi revogada pelo Código de Processo Civil de 1939, então houve uma unificação do processo, pois ocorreu o fim da definição da área comercial e civil, colocando a fim o Tribunal do Comércio, porém a teoria de atos de comércio foi perdendo gradativamente sua força, só que a referida teoria ainda atuava na diferenciação de quem era ou não comerciante. Todavia, mesmo com a revogação não há mais enumeração no Brasil até a presente data, mas várias leis e decisões judiciais aplicando a teoria da empresa. (LIMA ,2004). Com todo esse percurso feito pelo direito comercial, ainda é difícil delimitar a área comercial, uma vez que, tem inúmeros problemas, principalmente com a chegada da jurisprudência que passou definir algumas matérias de natureza comercial. Logo, começou a ter alguns com relação às normas que tratava a respectiva matéria, pois de um lado a lei adotava os atos de comércio e do outro a jurisprudência seguia a teoria da empresa, em que tal divergência só foi solucionada com a chegada do Código Civil de 2002. Assim sendo, o Código Civil de 2002 adotou a teoria da empresa pertencente a legislação italiana, extinguindo do nosso ordenamento jurídico e , a teoria dos atos de comércio, no qual revogou a primeira parte do Código Comercial de 1850, sendo assim, ficou tipificado a teoria da empresa, trazendo uma harmonia à atividade econômica brasileira. Porém, existem muitasmudanças a serem feitas, até porque, logo em seguida, a instauração 27 do Código Civil de 2002, o novo ordenamento jurídico recebeu a Lei 11.101/2005 - Lei de Recuperação Judicial e Falência, que ainda tem resquícios dos atos de comércio. Por fim, é necessária a harmonização do Código Civil de 2002 e a Lei 11.101/2005 com relação à Falência, Recuperação de Empresas e Títulos de Crédito em Espécies, segundo, o autor do artigo científico , Adilson de Siqueira Lima, na obra Direito Empresarial e Evolução Histórica, 7ª Edição, dezembro de 2004, na Revista Cientifica Eletrônica. 2.2 A Teoria da Empresa A teoria da empresa é uma expressão moderna do direito empresarial, pois essa expressão vem substituir a teoria dos atos de comércio, no período de sua vigência, e que adotava a referida teoria, cuja expressão tratava com distinção entre sociedades civis e comerciais, atividade desenvolvida por comerciantes, nesse período era necessário saber se os atos praticados pelos comerciantes eram atos de comércio ou atos civil, então com a distinção fazia a diferenciação. Então, com a instituição da teoria da empresa, passou ser considerada como critério de recognição da forma de organização dos fatores de produção, as quais exercitam atividades econômicas, com o intuito de produção e circulação de bens e serviços. Assim sendo, a discussão gira exatamente em torno da forma, no qual o empreendedor é questionando se há uma estrutura empresarial para o mesmo exerça a atividade econômica. A teoria empresa está totalmente ligada o conceito de indústria, ou até mesmo teoria industrial, que compõe no geral o conjunto de empresas que fabricam produtos similares (TROSTER; MOCHÓN, 2002). Todavia, a Teoria dos Atos de Comércio foi substituída pela Teoria da Empresa que foi instituída pelo Código Civil de 2002. A referida teoria, abrange de modo geral a atividade empresarial e não aquelas atividades mercantis que era abrangida pelos atos de comércio que tinha muitas limitações pela legislação com relação às práticas mercantis, hoje na teoria da empresa os atos mercantis é mais especifica, onde o Código Civil de 2002 positivou a teria da empresa, regulamentando as relações jurídicas acerca da atividade econômica, realizada pela pessoa de direito privado, ou seja, o empresário individual aquele previsto no artigo 966 do Código Civil ou a sociedade empresaria. 28 Embora muitas leis específicas, ainda permanecem em vigor, a essência do direito civil e comercial passou a ser de competência do Código Civil de 2002. Para a teoria da empresa o mais importante é o modo que a atividade econômica é exercida e o fim que essa atinge. A teoria dos atos de comércio, a qual abrangia apenas ao exercício de atividade co- mercial, mostrou que a teoria era ultrapassada, ineficiente e não atendia as necessidades mer- cantis, bem como não conseguia resolver os problemas decorrentes do avanço da economia. Então, foi necessário à sua substituição para uma teoria que atendesse as necessidades mer- cantis (TEIXEIRA, 2017). Contudo, a referida teoria recai sobre a atividade econômica exercida e não sobre os atos mercantis praticados. Se há uma estrutura empresarial que produz, presta serviço e co- mercializa, estamos falando de uma entidade empresarial, a qual pode ser controlada pelo empresário, aquele previsto no artigo 966 do Código Civil ou por uma sociedade empresaria. Todavia, num sistema de economia de mercado, a empresa realiza funções fundamen- tais para movimentação da economia. A empresa é “uma unidade de produção por excelên- cia”, onde essa está encarregada de combinar fatores de produção, bem como o trabalho, cir- culação de capital e recursos naturais, no qual produz bens e serviços, os quais serão vendidos no mercado (TROSTER; MOCHÓN, 2002). Sendo assim, a teoria de empresa adotada pelo Código Civil que copiou o modelo do Código Civil Italiano, onde esse trouxe um título especifico com regras, no qual passou a regulamentar o “Direito de Empresa”, pois o sistema de economia de mercada clamava por teorias modernas. Com a referida mudança, o Código Comercial teve sua primeira parte revogada, sendo substituída pelo texto do Código Civil de 2002, trazendo para o ordenamento jurídico inovação e revogando o tratamento inadequado para os tempos. Por fim, deixou de ocorrem conflitos entre legislações, pois o empresário individual e as sociedades empresariais passaram a ser regidas pelo mesmo código, para atender as necessidades econômicas e de mercado mais uma vez clamava por mudança. 2.3 A Função Social da Empresa A função social da empresa é um dos princípios mais importantes do direito empresarial, e do exercício da atividade econômica, pois esse é uma fusão de princípios da ordem econômica e da Constituição Federal, assim, o referido princípio, longe de ser uma 29 mera norma interpretativa, trás para o ordenamento jurídico, os deveres positivos que orientam a atividade empresarial, de modo complementar, além dos interesses dos sócios e diversos sujeitos envolvidos e afetados pela empresa de alguma forma, por exemplo, no caso dos trabalhadores, credores, clientes, fornecedores, concorrentes, do poder público e da comunidade em geral. Dessa forma, o princípio da função social da empresa contém uma essencial função harmonizadora e sistematizadora, que é um dos principais pilares do nosso ordenamento jurídico, sendo adensado por meio de normas jurídicas que tem por objetivo equilibrar os diversos interesses acerca da atividade econômica, bem como busca a preservação da empresa e toda atividade lucrativa que está inserida na cadeia produtiva (FRAZÃO, 2018). Esse princípio geral de direito que é aplicado pelo Poder Judiciário, representado pela figura do Juiz, que visa nos casos em concreto, manter a unidade produtora, seguindo o princípio da continuidade. Dessa forma, a crise econômica da empresa é tratada por esse princípio, como um desafio passível de recuperação, utilizando o mecanismo mais adequado ao caso em concreto, a fim de alcançar a tão almejada recuperação da empresa. O artigo 47 da Lei n.11.101/2005 - Lei de Recuperação Judicial e Falência trata a Recuperação Judicial, definindo a da seguinte maneira: A recuperação de empresa tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego da os trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estimulo à atividade econômica. Nesse sentido, a definição legal do artigo elencado, positiva os princípios da função social da empresa e da preservação da empresa, na recuperação de empresas, uma vez que esse sistema visa aplicar os referidos princípios: preservação da empresa e função social, bem como o estimulo da atividade econômica, com fulcro no artigo 3, incisos II e III , da Constituição Federal, que tem como finalidade lutar pela desenvolvimento nacional e econômico, e erradicar a pobreza e a marginalização social, combatendo a desigualdade social de um povo. (MAMEDE, 2016). Sendo assim, a empresa em “organismo vivo”, já cumpre a sua função social ao gerar emprego, pagar tributos e gerar riquezas, ao contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural da sociedade local, no qual ela está inserida, na região ou até mesmo no país. Vale lembrar que alguns empresários ou sociedade carecem de uma de politica, ação e uma boa gestão, não apenas nos lucros, mas na aplicação desse lucro, bem como as questões sociais de forma geral. Todavia, quando mais rica e desenvolvida for à sociedade onde o empresário ou a 30 sociedade empresaria estão inseridos, melhores serão os negócios realizados e com ampliação do direito empresarial e, portanto, os lucros. Por fim, não há perda, quando é aplicadoprincípio da função social da empresa, pois todos ganham, uma vez que, o referido princípio em conjunto com o da prevenção da empresa tem como objetivo preservar a fonte produtora e todos os interesses que em torno dela circulam e, por tal razão, entendeu o legislador em instituir no nosso ordenamento jurídico o principio da função social da empresa almeja prolongar a existência do empresário e da sociedade empresaria a fim desenvolver a economia onde a fonte produtora está inserida, e todos os interessem derivado dela. 2.4 Os Princípios da Preservação da Empresa O princípio da preservação da empresa tem dentro dos seus pilares de sustentação, um dos principais objetivos, proteger a atividade empresarial, bem como a fonte da unidade produtora e de todos os interesses que em torno da empresa circulam. Aduz o doutrinador Gadston Mamede (2015, p.122) que: [...] o princípio da preservação da empresa, cujos alicerces estão fincados no reconhecimento da sua função social. Por isso, a crise econômico-financeira da empresa é tratada juridicamente como um desafio passível de recuperação, ainda que se cuide de atividade privada, regida por regime jurídico privado. Como se não bastasse, a previsão de um regime jurídico para a recuperação da empresa decorre, igualdade, da percepção dos amplos riscos a que estão submetidas às atividades econômicas e seu amplo número de relações negociais, para além de sua exposição ao mercado e seus revezes constantes. Nesse sentido, o instituto jurídico da recuperação de empresa, previsto na Lei 11.101/2005, no qual tem duas modalidades, sendo a recuperação judicial e a recuperação extrajudicial. Sendo assim, o legislador reconhece que, qualquer empresa está suscetível a crise econômico-financeira, pois crise é inerente à empresa, sendo assim, não pode falar em bom pagador ou mau pagador, honestos ou desonestos, mesmo que há situações, onde dá para detectar que a crise decorrente de fraude ou práticas de atos ilícitos. O Princípio da Preservação da Empresa é um dos princípios que rege o Direito Empresarial, pois ele é um princípio geral que visa preservar as organizações economicamente produtivas, bem como criar mecanismos para impedir o impacto social causado com a extinção da empresa, ou seja, pela falência, que causa vários prejuízos à sociedade, empresários, trabalhadores, credores, fornecedores e os demais interesses que em torno dela circulam (MAMEDE, 2016). 31 Esse princípio geral de direito que é aplicado pelo Poder Judiciário, representado pela figura do Juiz, que visa nos casos em concreto, manter a unidade produtora, seguindo o princípio da continuidade. Nesse sentido, a definição legal do artigo 47 da Lei 11.101/2005, positiva os princípios da função social da empresa e da preservação da empresa, na recuperação de empresas, uma vez que esse sistema visa aplicar os referidos princípios: preservação da empresa e função social, bem como o estimulo da atividade econômica, com fulcro no artigo 3, incisos II e III , da Constituição Federal, que tem como finalidade lutar pela desenvolvimento nacional e econômico, e erradicar a pobreza e a marginalização social, combatendo a desigualdade social de um povo. (MAMEDE, 2016). Na segunda parte do artigo 47 do referido diploma legal, trata a recuperação de empresa como a manutenção da fonte produtora, dos empregos dos trabalhares e atender os interesses imediatos dos credores. Entende-se que o Princípio da Preservação da Empresa tem três pilares, o da preservação da fonte produtora, ou seja, a empresa, a preservação do emprego dos trabalhadores e pôr fim ao atender interesse dos credores. Nesses termos, entende que não tem como haver preservação de empregos dos trabalhadores, se a fonte produtora não for preservada, o que leva entender, que uma depende da outra. Por essa razão, não se confunde fonte produtora com empresário ou sociedade empresaria, vale lembrar que, os interesses dos empresários ou das sociedades empresarias não sobre põe, aos interesses da unidade produtora, uma vez que o artigo 47 do referido diploma legal, não contempla as figuras do empresário e da sociedade empresaria, pois essa não é a finalidade da recuperação judicial da empresa. Por fim, o objetivo do legislador na criação da lei, não foi proteger o empresário e a sociedade empresaria e seu patrimônio, mas sim, a manutenção da fonte produtora, e os interesses inerentes a ela. 32 3 A RECUPERAÇÃO JUDICIAL A Recuperação Judicial é uma ferramenta de reorganização econômica da empresa, criado pela Lei n°11.101/2005 – Lei de Recuperação de Empresa e Falência, que tem como objetivo sanear a crise da empresa e a possibilidade de recuperação do devedor empresário, seja pessoa jurídica ou natural, que passa por crise econômico-financeira, restabelecendo a saúde financeira da empresa, a fim de satisfazer o seu passivo, regularizando a situação econômica, para manter sua unidade produtora, evitando a falência. Segundo o artigo 47, da Lei n°11.101/2005, da Lei de Recuperação de Empresa e Fa- lência, o instrumento Recuperação Judicial, tem por objetivo viabilizar a superação da situa- ção de crise econômico-financeira do devedor, a fim de que seja permitido a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social o estimulo a atividade econômica. Para o doutrinador Silvio Salvo de Venosa (2016), a recuperação judicial tomou o lu- gar da “malsinada concordata” que segundo ele, era um instrumento inútil para fins de recupe- ração de empresas no sistema falimentar brasileiro, prolongando o endividamento de empre- sas e o enriquecendo os devedores inescrupulosos. A concordata era um sistema prejudicial ao ordenamento jurídico. Exemplifica Requião (1995, p.5): A complacência de muito magistrado e o desinteresse no cumprimento de normas necessárias relaxam as malhas do instituto, tornando-as flácidas, permitindo aos me- nos honestos as mais deslavadas fraudes. Por esse motivo, em nosso País, as concor- datas, sobretudo a concordata preventiva, caíram em descrédito, contra elas levan- tando acerbas críticas. Sendo assim, o processo de recuperação judicial veio para substituir à concordata co- mo o objetivo de aplicar um instrumento eficaz no recuperar empresas que passam por crises financeiras e que são economicamente viáveis, modificando o sistema falimentar. Cabendo aos operadores do direito a aplicação desse instituto para atingir sua finalidade, que é cumprir o princípio da preservação da empresa e suas repercussões sociais. Só que para haver a apli- cação desse instituto os magistrados necessitam ser especializados e ter senso crítico em rela- ção à viabilidade real da recuperação da empresa, ainda que necessitem de auxilio técnico de profissionais especialistas e capacitados na área para guia-lo nessa missão. 33 Na visão de Fazzio Júnior, a recuperação de empresa consiste no ato de “readquirir ca- pacidade de pagar a dívida.” Nesse sentido, o pedido de oportunidade de recuperação pode ser feito diretamente aos credores, por meio de plano de recuperação, que deve ser aprovado pela assembleia de credo- res e posteriormente homologado pelo juiz. O plano tem por objetivo o restabelecimento do empresário devedor em dificuldade fi- nanceira, que pode ser superada por meio do plano de recuperação, no qual deve conter um planejamento econômico-financeiro de suas atividades e operações, e as negociações das dí- vidas com credores, permitindo a continuidade da atividade empresária. No entanto, nada obs- ta que, para captar recursos, seja feito a venda de maquinários, propor fusão, estabelecimento de parceria, alienação de filial sem sucessões trabalhista e fiscal, porém, o plano deve focar na qualidadeda gestão, no trabalho corporativismo, ampliação ou redução na área de atuação empresarial, bem como, projeção ou contenção de gastos ou até mesmo previsão de investi- mentos, etc. Todavia, há possiblidade do empresário devedor apresentar o plano de recuperação ex- trajudicial acordado pelos credores, titulares de créditos vencidos e vincendos, no qual, deve ser homologado pelo juiz, pois esse plano deve tratar o pagamento dos valores que lhe são devidos, ou um plano de recuperação judicial, onde também deve ser aprovado pelos credores e posteriormente homologado pelo juiz, se atender os requisitos legais, como forma de evitar a falência da empresa (DINIZ, 2016). A recuperação de empresa é um instrumento legal, tendo como principal objetivo, so- erguer o empresário devedor em benefícios dos credores, visando à preservação da fonte pro- dutora e a remoção das causas da crise econômico-financeira, a fim de adimplir os débitos, logo, a Lei de Recuperação de Empresas, privilegia em seus artigos a recuperação, visto que a falência é o último recurso para solucionar tal dificuldade enfrentada pela empresa envolven- do credor e devedor. A Lei de Recuperação de Empresas visa proteger empresas economicamente viáveis, pois a insolvência decorre por problemas internos, além de outros as difíceis e inevitáveis, como crise econômica mundial, crise no mercado interno, retração do mercado de investimen- to, má gestão de negócios públicos etc. Contudo, a principal característica da Recuperação Empresarial é a superação da crise econômica da empresa, que vai depender mudança radical na mentalidade empresarial para reverter à situação negativa financeira, com o uso da Recuperação Judicial de forma conscien- te, sem abuso ou utilização indevida dessa ferramenta, com auxilio direto do Judiciário por 34 meio de atuação e diligencias de Juízes na aplicação da lei no caso concreto e criações juris- prudenciais. Por fim, a criação de Varas e Câmaras Especializadas para a aplicação de forma eficaz da Lei n°11.101/2005 a fim de evitar a falência. 3.1 A Crise da Empresa Todo empresário pode passar por períodos bons e difíceis, no exercício de sua atividade econômica, seja pela política econômica do país, ou pela desvalorização da moeda nacional, ineficiência de estruturação societária administrativa; empresas que tem seu fluxo de caixa com resultados negativos, caracterizados por ineficiência na gestão empresarial, gastando mais do que deveria, metas não atingidas, dificuldade de manter ou dilatar prazo para pagamentos dos fornecedores, conflito entre sócios, número de processos, tais como: reclamações trabalhistas e ações indenizatórias, capital de giro insuficiente, de maneira que não conseguem honrar com seus compromissos pontualmente, mesmo que possuam um bom patrimônio. É importante ressaltar que tais dificuldades de ordem econômicas são enfrentadas por empresas extremamente lucrativas e de grande porte, que encontram dificuldades para se sustentar - problema esse muito comum no Brasil. A crise empresarial pode ser econômica, quando as vendas ou prestações de serviços forem inferiores à quantidade oferecida, provocando queda de faturamento e se o empresário individual ou a sociedade empresaria não tiver dinheiro em caixa para honrar com suas obrigações assumidas dá início à insolvência, pois o seu ativo é inferior ao seu passivo (DINIZ, 2016). Waldo Fazzio Júnior (2016) ensina que: a crise é a situação de iliquidez, insolvência e situação patrimonial dependente de readequação, bem como tal crise pode trazer grandes prejuízos àqueles que investirem no seu capital, aos credores e à comunidade por gerar emprego, diminuição na arrecadação de impostos, problemas de ordem econômica que geram consequências ao organismo empresarial. Aduz o doutrinador Silvio Solvo Venosa (2016 p.311): Como um organismo vivo a empresa nasce, vive e pode sofrer desordens diversas, nas quais as mais graves são suscetíveis de provocar o desaparecimento do crédito e do fluxo financeiro. A empresa constitui um centro de produção de bens e serviços e uma ferramenta de trabalho, sendo, desse modo, uma célula do tecido econômico local, regional, nacional, razão pela qual sua sobrevivência é de interesse geral; sua proteção, aos olhos do legislador, é de ordem pública econômica e social. 35 Diante disso, a Lei 11.101/2005, referida Lei de Recuperação e Falência, trouxe para um mecanismo jurídico para superação da crise empresarial, buscando soluções rápidas e eficazes para o mercado, incluindo somente empresa economicamente viável, a fim de, evitar à falência, possibilitando a manutenção da unidade produtiva, o seguimento das atividades, à manutenção de empregos e recolhimento de tributos. A crise em uma empresa tem consequências graves, pois ela deixa de pagar tributos, não geras os benefícios advindos desse adimplemento e até mesmo correndo risco de não pagar os empregados. Todavia, a crise é contagiosa: deixa de cumprir seus compromissos, deixando os seus credores, fornecedores, funcionários e seus próprios clientes em dificuldade e dando mal exemplo as outras empresas (VENOSA 2016). Dessa forma, a solução para insolvência passou a ser norteada pelo princípio da viabilidade de empresa, em casos de empresas economicamente viáveis, cabendo a aplicação da recuperação, nos termos dos artigos 47 e 161, do referido diploma legal, pois esse é o mecanismo mais adequado às empresas economicamente viáveis, quando inviáveis o melhor remédio é a falência. O legislador tenta de diversas maneiras quebrarem o efeito cascata provocado pela crise financeira empresarial, sendo assim, a Lei n.11.101/2005 que regulamenta a recuperação judicial, extrajudicial e falência do empresário ou da sociedade empresarial, trouxe ao ordenamento jurídico em caso de crise empresarial, o mecanismo mais eficaz que extinguiu a ineficiente concordata preventiva e suspensiva, que não atendia mais as necessidades dos devedores e credores, nasce à recuperação, que tem como pilar de sustentação da recuperação, o princípio da preservação da empresa. O principal objetivo da recuperação é aplicação dos meios de conciliação e regulamentação amigável, para salvar a empresa e evitar a falência, pois, em países como França e Itália não se fala em “falência” e sim em mecanismo de recuperações de empresas em dificuldade, pois eles aplicam o princípio da função social da preservação da empresa. Por essa razão, os princípios da função social e da preservação da empresa estão presentes na Lei n.11.101/2005 para satisfazer os interesses privados do empresário, dos credores e da sociedade, combater a crise empresarial e, por fim, evitar demora no processo de recuperação, a fim de manter a empresa e suas atividades econômicas, assegurando a vida útil da mesma e evitar a falência. 36 3.2 A Recuperação Judicial como Efetivação do Princípio da Preservação da Empresa A Recuperação Judicial é uma ferramenta de reorganização econômica da empresa, criado pela Lei n°11.101/2005, Lei de Recuperação de Empresa e Falência, tendo como objetivo sanear a crise da empresa e a possibilidade de recuperação do devedor empresário, seja pessoa jurídica ou natural, que passa por crise econômico-financeira, restabelecendo a saúde financeira da empresa, a fim de satisfazer o seu passivo, regularizando a situação econômica, para manter sua unidade produtora, evitando a falência. Para Fábio Ulhôa Coelho (2016), a Recuperação Judicial é um instituto para amparar o empresário em crise, pois esse não foi eficiente para evitar uma crise financeira e fazer a atividade econômica prosperar, sendo assim, o objetivo desse instrumento é a reorganização e o equilíbrio da empresa para sanar a crise, a fim de evitar a quebra da empresa. Em outros termos, a Recuperação Judicial é um mecanismo utilizado previsto na Lei
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