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112 - APOSTILA - FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL - POLÍTICAS PÚBLICAS

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Fundamentos Históricos, 
Teóricos e Metodológicos do 
Serviço Social - Políticas Públicas
Professora Esp. Daniela Sikorski
AUTORA
Professora Esp. Daniela Sikorski
●	 Especialista	em	Política	Social	e	Gestão	de	Serviços	Sociais	pela	UEL	(Univer-
sidade	Estadual	de	Londrina).	
●	 Bacharel	 em	 Serviço	 Social	 pela	 Universidade	 Estadual	 de	 Ponta	 Grossa	
(UEPG).	
●	 Professora	Formadora	EAD	-	UniCesumar.
●	 Docente	de	Cursos	Presenciais	–	UniCesumar	(Campus	Londrina).
●	 Professora	de	Pós-Graduação	em	Gestão	da	Qualidade	em	Saúde	–	UniCesu-
mar.	
●	 Supervisora	Acadêmica	de	Estágio	Obrigatório	em	Serviço	Social.
Tem	experiência	profissional	na	área	de	Serviço	Social	na	Educação,	Organizacio-
nal,	Terceiro	Setor,	Responsabilidade	Social,	Projetos	Sociais,	Gestão	de	Pessoas	na	Área	
da	Saúde	e	Acreditação	Hospitalar.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja	muito	bem-vindo(a)!
Ao	escolher	o	curso	de	Bacharelado	em	Serviço	Social,	você	escolheu	uma	profis-
são	comprometida	eticamente	com	a	defesa	dos	direitos	humanos,	a	justiça,	a	liberdade,	a	
equidade.
Gradativamente	você	conhecerá	a	história	da	profissão,	conseguindo	se	apropriar	
dos	fundamentos	históricos,	teóricos	e	metodológicos	do	Serviço	Social	e	todas	as	demais	
disciplinas	do	curso,	possibilitando	a	você	se	tornar	um	profissional	diferenciado	e	compro-
metido	com	a	sociedade.
Este	livro	trata	justamente	dos	fundamentos	da	profissão,	fundamentos	históricos,	
teóricos	e	metodológicos	do	Serviço	Social	enfatizando	as	políticas	públicas.
Você	 terá	 a	 oportunidade	 de	 estudar	 sobre	 a	 gênese	 do	Serviço	Social	 e	 seus	
condicionantes	históricos,	políticos	e	sociais.	A	origem	da	questão	social.	O	surgimento	do	
Serviço	Social	na	Europa	e	nos	Estados	Unidos,	prioritariamente	no	Brasil.	Perspectivas	
teórico-metodológicas	sobre	o	surgimento	da	profissão.	Entidades	representativas	da	pro-
fissão.	A	 legislação	social:	CLT,	LDB,	LOAS,	ECA,	LOS,	Estatuto	do	Idoso;	Lei	Maria	da	
Penha;	Estatuto	da	Igualdade	Racial;	Lei	da	Previdência	Social.
Na	Unidade	I	você	conhecerá	a	gênese	do	Serviço	Social	e	a	fundação	das	primei-
ras	escola	de	Serviço	Social	nos	EUA,	na	Europa,	na	América	Latina	e	no	Brasil.	Você	ainda	
entenderá	como	se	deu	o	processo	de	racionalização	da	assistência	e	a	origem	da	questão	
social.	Tais	elementos	serão	fundamentais	para	a	compreensão	das	demais	unidades.
Já	na	Unidade	 II	vamos	ampliar	nossos	conhecimentos	sobre	Serviço	Social	no	
Brasil	e	seus	determinantes	sócio-históricos.	Veremos	ainda	como	se	deram	as	constru-
ções	clássicas	 tradicionais	da	profissão,	desde	o	período	de	sua	emergência	até	a	sua	
legitimação.
Depois,	na	Unidade	III,	vamos	tratar	sobre	o Projeto	Ético-Político	do	Serviço	Social.	
Você	ainda	poderá	se	aproximar	do	Código	de	Ética	e	da	Lei	que	Regulamenta	a	Profissão	
de	Serviço	Social	no	Brasil.	E	para	encerrar	esta	unidade	de	estudo	lhe	será	apresentado	a	
trajetória	de	lutas	e	conquistas	do	conjunto	CFESS/CRESS	(Conselho	Federal	de	Serviço	
Social	/	Conselho	Regional	de	Serviço	Social).
E	por	fim	na	Unidade	IV,	veremos	algumas	legislações	sociais	e	de	proteção	social,	
com	as	quais	o	assistente	social	tem	contato	no	seu	cotidiano	profissional.
Aproveito	para	reforçar	o	convite	a	você,	para	junto	conosco	percorrer	esta	jornada	
de	 conhecimento	 e	 multiplicar	 os	 conhecimentos	 sobre	 tantos	 assuntos	 abordados	 em	
nosso	material.	Esperamos	contribuir	para	seu	crescimento	pessoal	e	profissional.	
Muito obrigada e bom estudo!
SUMÁRIO
UNIDADE	I	......................................................................................................6
A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
UNIDADE	II	...................................................................................................43
O Serviço Social no Brasil
UNIDADE	III	..................................................................................................72
O Projeto Ético-Político do Serviço Social
UNIDADE	IV	................................................................................................122
Legislações Sociais
6
Objetivos de Aprendizagem:
•	 Contextualizar	a	gênese	do	Serviço	Social.
•	 Compreender	como	se	deu	a	racionalização	da	prática	da	assistência	e	origem	da	Ques-
tão	Social.
•	 Conhecer	a	fundação	e	especificidades	das	primeiras	escolas	de	Serviço	Social.
Plano de Estudo:
•	 A	racionalização	da	Assistência	e	a	gênese	do	Serviço	Social.
•	 Origem	da	Questão	Social.
•	 A	fundação	das	primeiras	Escolas	de	Serviço	Social.
•	 A	história	do	Serviço	Social	na	América	Latina.
UNIDADE I
A Gênese do Serviço Social nos EUA, 
na Europa e na América Latina
Professora Daniela Sikorski
7UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
INTRODUÇÃO
Olá,	você	está	preparado(a)	para	nossos	estudos?	Vamos	conhecer	a	gênese	da	
nossa	profissão?
Vamos,	a	partir	deste	momento,	compreender	um	pouco	mais	sobre	a	história	do	
Serviço	Social,	o	que	possibilitará	a	você	uma	fundamentação	pautada	na	história,	em	que	
atores	foram	construindo	e	consolidando	a	profissão	para	que	se	tornasse	o	que	é	hoje.
Você	verá	que,	historicamente,	o	Serviço	Social	possui	uma	grande	influência	da	
igreja,	que,	em	seguida,	foi	se	somando	a	questão	política.
Conheceremos	brevemente	como	se	deu	a	criação	das	principais	escola	de	Serviço	
Social	no	Mundo,	sobretudo	na	Europa,	América	do	Norte	(EUA)	e	América	Latina	(Peru	e	
Chile).	
Para	alguns	a	história	pode	parecer	desestimulante,	porém	reforço	meu	convite	em	
aprender	a	história	da	profissão.	Por	que	estudar	a	história	da	profissão?	Para	que	você	se	
torne	um(a)	profissional	fundamentado(a),	embasado(a)	e	capaz	de	propor	estratégias	de	
intervenção	condizentes	com	a	realidade	sócio-ocupacional	em	que	está	inserido(a),	consi-
derando	a	realidade	atual.	Um(a)	profissional	que	saberá	intervir	com	segurança,	pensando	
a	longo	prazo	e	não	imediatista,	capaz	de	diferenciar	as	ações	profissionais	das	ações	de	
caridade,	rompida	ao	longo	dos	tempos,	porém	sem	nunca	negar	a	sua	essência.
Atualmente,	o	Serviço	Social	é	uma	profissão	inserida	na	divisão	social	e	técnica	do	
trabalho,	e	não	filantropia,	como	por	longo	tempo	foi	entendido.
Está	preparado(a)?	Vamos	lá!
Bons	estudos
8UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
1 A RACIONALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA E A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL
Inicio	este	estudo	apontando	que,	historicamente,	a	realização	da	prática	da	as-
sistência	esteve	distante	das	relações	sociais,	ou	seja,	por	longo	tempo	a	prática	da	assis-
tência	social	esteve	associada	à	ideia	de	caridade,	ajuda,	assistencialismo,	benevolência	
e	filantropia.	
Nos	dias	atuais	se	faz	necessário	compreendermos	com	clareza,	primeiramente,	
quais	foram	os	fundamentos	e	a	gênese	(origem)	da	profissão,	conhecer	como	nasceu	a	
nossa	profissão.
Em	sua	gênese,	o	Serviço	Social	encontra	suas	raízes	na	assistência	aos	pobres,	
prestada,	a	princípio,	por	mulheres	bondosas.	Vê-se	que	a	profissão,	atualmente,	se	en-
contra	 inserida	na	divisão	social	e	 técnica	do	 trabalho,	em	que,	de	acordo	com	Estevão	
(2006),	 as	 ricas	 damas	 de	 caridade	 foram	 cedendo	 lugar	 às	 filhas	 da	 classe	média	 ou	
trabalhadores.
De	forma	bastante	breve,	leia	a	pequena	história	do	Serviço	Social,	apresentada	de	
maneira	criativa,	por	Estevão	(2006,	p.	8-9),	em	seu	livro	O que é o Serviço Social:
[…]	o	Serviço	Social	tem	pai	e	mãe	e,	inclusive,	até	já	se	deitou	no	divã	do	
analista.
O	Serviço	Social	é	fruto	da	união	da	cidade	com	a	indústria.
Seu	nascimento	teve	como	cenário	as	inquietudes	sociais	que	surgiram	do	
capitalismo	e,	 como	qualquer	bom	filho,	 quis	possuir	mãe	 (a	 cidade)	e	de	
identificar	com	o	pai	(a	indústria).
Na	adolescência,	negou	várias	vezes	suas	origens	e	hoje	pode-se	dizer	que	
tem	feições	próprias,	com	contornos	definidos	na	luta	pela	sobrevivência	e,	
identificando	com	seus	pais,	chegou	para	ficar.
9UNIDADE I AGênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
É	 claro	 que,	 em	 sua	 fase	 de	maturação,	mantém	 todas	 as	 ambiguidades	
inerentes	a	uma	profissão	que,	buscando	comprometer-se	com	a	população	
à	qual	presta	serviços,	é	também	canal	de	ligação	entre	instituições	públicas	
e	cidadãos,	empregados	e	patrões.
Assim	apresentado,	convido	você	a	compreender	um	pouco	mais	sobre	a	gênese	
da	nossa	profissão,	construindo	um	processo	de	formação	acadêmica	que	lhe	conduza	a	
um	futuro	profissional	brilhante.
Para	você	compreender	melhor	qual	a	relação	da	assistência	com	a	caridade,	é	pos-
sível	dizer	que	desde	que	existem	pessoas	em	situação	de	pobreza,	existem	também	pessoas	
que	se	preocupam	e	se	comovem	com	tal	situação,	buscando	ações	para	minimizá-las.
Historicamente,
As	damas	de	caridade	que	pretendiam	ganhar	o	céu	minorando	as	agruras	
alheias	acreditavam	seriamente	que	os	pobres	eram	a	causa	de	sua	própria	
situação	e	bastavam	uma	ajuda	inicial	e	alguns	conselhos	bem	dirigidos	para	
que	se	lhes	abrissem	as	portas	das	benesses	que	o	capitalismo	oferecia	a	
todos	indistintamente.	Como	o	pobre	sempre	tem,	muitos	filhos,	não	bastava	
apenas	ajudar	a	pessoa,	era	necessário	também	pensar	na	família,	daí	surge	
o	trabalho	com	as	famílias,	com	menores,	na	área	de	higiene,	etc.	(ESTE-
VÃO,	2006,	p.	16-17).
Veja	 com	atenção	 a	 citação	 apresentada,	 percebendo	 que	 a	 assistência	 estava	
diretamente	ligada	ao	favor	e	ao	assistencialismo,	uma	vez	que	o	poder	público	não	de-
monstrava	nenhum	interesse	em	custear	os	serviços	de	assistência	social.	Esses	serviços	
ficavam	sob	a	responsabilidade	das	instituições	religiosas.
É	importante	contextualizar	que,	estando	o	capitalismo	despontando,	a	sociedade	
também	vai	passando	por	transformações,	em	todos	os	seus	aspectos.
Você	sabia	que	em	dado	momento	histórico	o	lucro	foi	considerado	pecado,	uma	
imoralidade?	Porém,	com	o	surgimento	do	capitalismo,	isso	deixa	de	existir.	A	burguesia,	
que	almejava	o	poder,	se	sentia	ameaçada	pelos	problemas	sociais	e	possíveis	revoltas	
que	os	“pobres”	ofereciam.	Nesse	sentido:
Estado	e	Igreja	vão	dividir	tarefas:	o	primeiro	impõe	a	paz	política	(e	com	toda	
a	violência	necessária),	a	Igreja,	ou	melhor,	as	igrejas	(Católica	e	Protestante)	
ficam	com	o	aspecto	social:	tratar	de	fazer	caridade.	
A	justificativa	é	a	necessidade	de	todos	praticarem	o	bem,	portanto	os	ricos	
precisavam	cumprir	com	seus	deveres	com	os	pobres.	Era	uma	preocupação	
com	o	indivíduo.	O	modo	pelo	qual	se	pensava	resolver	os	problemas	sociais	
era	pela	“reforma	dos	costumes”	ou	“reforma	social”	de	cada	um	(ESTEVÃO,	
2006,	p.	11).
Você,	então,	pode	se	questionar:	como	assim	“reforma	dos	costumes”,	professora?
Bem,	quando	se	fala	que	é	preciso	“reformar”	algo	ou	alguma	coisa	é	porque	ela	
não	serve	mais	do	jeito	que	está,	ou	não	serve	mais	para	o	meu	“padrão”	do	que	é	ade-
10UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
quado.	Por	exemplo:	quando	você	compra	uma	calça	que	ficou	larga,	você	recorre	a	uma	
costureira	e	pede	que	ela	a	reforme	para	que	se	ajuste	ao	seu	corpo,	correto?
Da	mesma	forma,	com	o	advento	do	capitalismo,	os	pobres	precisavam	se	ajustar	
à	sociedade,	precisavam	de	“reforma”	para	que	não	oferecessem	“perigo”	à	sociedade.	Ser	
pobre	era	uma	contravenção,	algo	considerado	errado,	ou	seja,	eles	eram	“desajustados”.	
Em	dado	momento,	ser	pobre	ainda	era	entendido	por	alguns	como	castigo	divino	ou	repre-
sentava	a	incapacidade	da	pessoa	em	se	enquadrar	na	sociedade	como	as	outras	pessoas	
“normais”.
Você	achou	isso	estranho?	Certamente	você	dirá	que	sim.	Porém	lembre-se	que	
eram	outros	tempos.
Voltemos	ao	entendimento	sobre	como	era	feita	a	assistência	em	outros	tempos.	
Primeiramente,	era	feita	de	maneira	assistemática,	sem	a	utilização	de	planejamento,	mé-
todos	e	teorização.	Com	o	tempo,	as	ações	foram	se	organizando	e	tomando	uma	forma	
mais	organizada,	porém	sem	perder	a	característica	de	caridade	e	ajustamento	moral,	como	
você	poderá	observar	a	seguir:
É	a	partir	da	segunda	metade	do	século	dezenove	que	algumas	pessoas,	
como	Chalmers	na	Inglaterra,	Ozanam	na	França	e	Von	der	Heydt	na	Ale-
manha,	praticam	caridade	de	caráter	assistencial	que	se	constitui	como	um	
esboço	de	técnica	e	de	forma	organizada.
Mas	o	que	faziam	estas	pessoas	era	diferente	da	prática	caritativa	anterior?
Elas	dividiam	as	paróquias	em	grupos	de	vizinhança,	designaram	um	respon-
sável	em	cada	setor	para	distribuir	ajuda	material	e	fazer	trabalho	educativo	
(principalmente	dando	conselhos)	(ESTEVÃO,	2006,	p.	11).
A	partir	dos	trabalhos	mencionado	temos	algumas	ações	e	marcos	que	permitem	
compreender	como	as	práticas	de	assistência	vão	se	organizando.	Um	exemplo	de	ação	
que	permite	essa	compreensão	foram	as	Conferências	São	Vicente	de	Paulo	(1833).	Elas
[...]	organizam	seu	trabalho	em	torno	de	visitas	e	ajudas	a	domicílio,	creches,	
escolas	de	reeducação	de	delinquentes,	cuidados	e	socorros	a	refugiados	e	
imigrantes.	O	que	era	feito	apenas	nas	paróquias	passa	a	ser	feito	por	toda	a	
cidade.	A	princípio	organizada	em	pequenos	bairros,	a	assistência	começou	
a	se	expandir	e	procurou	conquistar	um	espaço	na	cidade	inteira.
Até aí a Assistência Social é exercida, em caráter não profissional, como 
contribuição voluntária daqueles que possuíam bens para aqueles que 
eram pobres	(ESTEVÃO,	2006,	p.	12,	grifo	nosso).
Caro(a)	aluno(a),	você	está	conseguindo	perceber	como	eram	realizadas	as	práti-
cas	de	assistência?	Consegue	perceber	a	dimensão	caritativa	das	ações	sociais?
Comentei,	no	início	desta	unidade	de	estudo,	que	a	assistência	era	praticada	por	
“damas	de	caridades”,	lembra?	Sendo	assim,	como	se	dava	essa	prática	na	segunda	me-
tade	do	século	XIX?	Vamos	entender	um	pouco	melhor?	Veja	a	seguir:
11UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Procurava-se	em	primeiro	 lugar	conhecer	as	verdadeiras	necessidades	de	
cada	um.	Usar	economicamente	as	esmolas	disponíveis,	visitar	as	casas	dos	
pobres	e	necessitados,	estudar	conscienciosamente	os	pedidos	de	ajuda	e	
conseguir	trabalho	para	os	“desocupados”,	para	prevenir	os	problemas	deri-
vados	da	pobreza	(ESTEVÃO,	2006,	p.	12).
Além	do	apresentado	quanto	a	ação	das	damas	de	caridade,	temos	ainda	um	outro	
marco	acerca	da	organização	da	Assistência	Social,	que	se	deu	em	1869:	a	Sociedade	de	
Organização	da	Caridade,	fundada	em	Londres.	A	Sociedade	tinha	suas	ações	fundamen-
tadas	em	alguns	princípios,	os	quais	você	poderá	conferir	a	seguir:
1.	 Cada	caso	será	objeto	de	uma	pesquisa	escrita;
2.	 Este	relatório	será	entregue	a	uma	comissão	que	decidirá	o	que	se	deve	
fazer;
3.	 Não	se	dará	ajuda	 temporária,	mas	metódica	e	prolongada	até	que	o	
indivíduo	ou	a	família	voltem às suas condições normais;
4.	 O	assistido	será	agente	de	sua	própria	readaptação,	como	também	seus	
parentes,	amigos	e	vizinhos;
5.	 Será	solicitada	ajuda	às	instituições	adequadas	em	favor	do	assistido;
6.	 Os	 agentes	 dessas	 obras	 receberão	 instruções	 gerais	 e	 escritas	 e	 se	
formarão	por	meio	de	leituras	e	estadias	práticas;
7.	 As	 instituições	 de	 caridade	 enviarão	 a	 lista	 de	 seus	 assistidos	 para	
formar	um	fichário	central,	com	o	objetivo	de	evitar	abusos	e	repetições	
de	pesquisas;
8.	 Formar	um	repertório	de	obras	de	beneficência	que	permite	organizá-las	
conveniente	(ESTEVÃO,	2006,	p.	14,	grifo	nosso).
Observe	os	itens	grifados	na	citação	da	autora,	perceba	que	as	ações	colocam	os	
vulneráveis	e	pobres	numa	condição	de	incapazes,	passivos,	em	que	a	caridade	sobrepõe	
a	noção	de	direito.	Aliás,	a	ideia	de	direito	passava	longe	da	assistência	social	da	forma	
como	vemos	hoje.
Ressalto	que,	como	a	Sociedade	de	Organização	da	Caridade,	fundada	em	Londres,	
outras	 sociedades	 foram	 formadas	 em	muitos	 outros	 países	 capitalistas,	 principalmente	
nos	Estados	Unidos.
A	 novidade	 principal	 destas	 instituições	 era	 colocar,	 como	 princípio,	 a	 ne-
cessidade	 de	 criar	 instituiçõesque	 se	 encarregasse,	 de	 formar	 pessoas	
especificamente	para	realizar	as	tarefas	de	assistência	social	e	colocar	em	
pauta	a	institucionalização	do	Serviço	Social.	O	que	se	fazia	por	prazer	ou	
por	obrigação	religiosa	passa	a	se	esboçar	como	uma	profissão	secularizada	
(ESTEVÃO,	2006,	p.	14).
Chamo	a	sua	atenção	para	algumas	questões,	ao	apresentar	a	você	a	questão	
da	 gênese	 da	 profissão	 e	 a	 racionalização	 da	assistência,	 não	 devemos	 desconsiderar	
a	história,	pois	o	Serviço	Social	 também	se	desenvolve	no	sentido	em	que	a	sociedade	
também	evolui.	Logo,	não	podemos	e	não	devemos	negar	nossa	origem,	pois	os	movimen-
tos	de	 institucionalização	da	assistência,	 somados	a	outros	 fatores,	contribuíram	para	a	
construção	da	profissão	da	forma	como	vemos	nos	dias	atuais.
12UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
No	próximo	 item	 você	 compreenderá	 um	pouco	mais	 sobre	 como	a	 assistência	
social	vai	se	racionalizando.	Para	isso	é	necessário	compreender	a	questão	social	e	como	
ela	se	origina,	pois	compreender	a	questão	social	permitirá	a	dimensão	reivindicatória	e	
politizada	que	o	Serviço	Social	vai	assumindo.	Entendendo	que	a	assistência	social	não	é	
caridade	ou	favor,	ela	vai	ganhando	conotação	de	direito	a	partir	da	exploração	e	desigual-
dade	social,	provocadas	principalmente	pela	Revolução	Industrial,	um	marco	na	história	da	
humanidade.
Existem	duas	teses,	claramente	opostas,	sobre	a	gênese	do	Serviço	Social.	Elas	se	
enfrentam	como	interpretações	extremas	sobre	o	tema,	sendo	que,	tal	como	foram	formu-
ladas,	se	constituem	em	teses	alternativas	e	mutuamente	excludentes.
13UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
2 ORIGEM DA QUESTÃO SOCIAL 
O	Serviço	Social,	em	sua	gênese,	é	marcado	pela	forte	influência	da	Igreja,	bem	
como	encontram-se,	 em	 seu	 cerne,	 as	 contradições	marcadas	 entre	 capital	 X	 trabalho,	
que	chamamos	de	questão	social,	seguido	de	seus	desdobramentos,	que	nomeamos	de	
expressões/manifestações	da	questão	social,	como,	por	exemplo:	fome,	desemprego,	vio-
lência,	falta	de	acesso	à	saúde,	educação	etc.
Com	o	tempo,	o	Serviço	Social	foi	se	consolidando	enquanto	uma	profissão	inserida	
na	divisão	social	e	técnica	do	trabalho,	devidamente	regulamentada	e	reconhecida	por	sua	
luta	pelos	direitos	da	população.
Contudo,	meu	caro	e	minha	cara	aluna,	precisamos	compreender	a	nossa	história	
enquanto	profissão,	e	ver	que	ela	foi	se	transformando	e	adquirindo	conquistas,	quando	não	
mais	utilizada	enquanto	instrumento	da	burguesia	para	manutenção	da	ordem	e	interesses	
dessa	classe	dominante.
Estaremos	mais	que	envolvidos	com	a	questão	histórica.	Aliás,	a	história	é	mais	
que	necessária	para	que	possamos	compreender	como e porque temos e vivenciamos 
o mundo como ele é hoje.
A	história	não	é	sucessão	de	 fatos	no	 tempo,	não	é	progresso	das	 ideias,	
mas	o	modo	como	homens	determinados	em	condições	determinadas	cria	os	
meios	e	as	formas	de	sua	existência	social,	reproduzem	ou	transformam	essa	
existência	social	que	é	econômica,	política	e	cultural	(CHAUI,	2008,	p.	8).
Não	podemos	apenas	passar	uma	“borracha”	em	tudo	o	que	já	foi	construído	ou	
simplesmente	achar	que	os	acontecimentos	passados	não	influenciam	em	nossas	vidas.	
Não	podemos	desconsiderar	as	tentativas	de	melhorar	as	condições	de	vida	realizadas	por	
nossos	antepassados,	os	erros	e	acertos	e	a	busca	constante	por	um	mundo	melhor	e	que	
atendesse	às	suas	necessidades.
Vamos,	então,	ampliar	nosso	conhecimento?	Aproveite	a	leitura!
Quando	falamos	em	questão	social	não	estamos	abordando	nenhum	tema	recente	
ou	algo	novo.	O	surgimento	da	questão	social	está	inserido	em	um	contexto	histórico,	ligado	
a	uma	gama	de	relações	–	mais	especificamente	trabalhistas.	Relações contraditórias, 
desiguais e que geraram mudanças na realidade social	da	época	em	que	estava	inse-
rida.	
Assim,	você	pode	compreender	que	a	questão	social	deve	ser	apreendida	a	partir	
de	como	as relações se configuram e se apresentam na sociedade	e	como	acontece	o	
14UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
enfrentamento	da	questão	social	(quais	mediações	são	buscadas),	tanto	no	âmbito	social	
quanto	no	âmbito	político.	
Tenha	claro	que,	neste	momento,	falaremos	sobre	uma	realidade	que	não	é	a	bra-
sileira	e	sim	inglesa.	Contudo	essa	realidade	nos	serve	de	ponto	de	partida,	pois	muito	dos	
seus	feitos	e	efeitos	refletiram	e	repercutiram	em	todo	mundo	e	são	percebidos	até	os	dias	
atuais.
É	 importante	 termos	 sempre	 em	 mente	 que	 a	 leitura	 não	 só	 amplia	 nosso	
conhecimento,	 como	 também	 contribui	 para	 nossa	 visão	 de	 homem	 e	 de	mundo.	 Sem	
contar	que	quem	lê,	escreve	e	reflete	muito	melhor,	aperfeiçoa	o	vocabulário	e	melhora	os	
níveis	de	discussão.
Agora	 vamos	observar	 o	 contexto	 histórico	 do	 surgimento	 da	 questão	 social	 no	
mundo.	É	preciso	ter	clareza	que	não	se	trata	de	um	fenômeno	exclusivamente	brasileiro,	
visto	que	se	apresenta	em	todo	o	mundo,	e	em	cada	lugar	assume	características	diferen-
ciadas	conforme	a	realidade	de	cada	lugar,	de	cada	cultura.
Começaremos	pela	Idade	Média.	No	final	desse	período	o	trabalho	consistia	em	
uma	estrutura	familiar,	este	era	o	modo	de	produção	que	prevalecia	na	sociedade.	O	espa-
ço	temporal	de	trabalho	era	o	dia,	ou	seja,	o	trabalhador	iniciava	suas	atividades	laborativas	
com	o	nascer	do	sol	e	parava	seus	trabalhos	somente	ao	anoitecer.	Considerava-se	muito	
as	forças	místicas	da	natureza,	era	muito	comum	os	trabalhadores	se	orientarem	e	regula-
rem	suas	vidas	a	partir	da	natureza.	O	espaço físico	do	trabalho	era	o	lar,	a	residência	e	
os	arredores	da	casa	familiar	(os	agricultores,	os	sapateiros	e	os	alfaiates).		
É	 importante	 ressaltar	como	o	 trabalho	 feminino	e	o	 trabalho	 infantil	estão	
presentes	 nessa	 sociedade.	 As	 necessidades	 de	 sobrevivência	 e	 as	
obrigações	servis	contribuem	para	isso.	As	crianças,	desde	que	já	possam	
exercer	alguma	atividade	laborativa,	 ingressam	no	mundo	do	trabalho	para	
auxiliar	na	economia	familiar.	Nessa	lógica,	quanto	mais	filhos,	maior	poderia	
ser	 o	 aproveitamento	 produtivo.	 Pelo	menos	 era	 assim	 que	 se	 apresenta	
aquela	 sociedade	 e,	 de	maneira	 não	muito	 distante,	 podemos	 observar	 a	
mesma	 lógica	 sendo	 empregada	 nas	 comunidades	 rurais	 mais	 atrasadas	
atualmente	(SAUCEDO;	NICOLAZZI	JUNIOR.	In:	GEDIEL,	2001,	p.	84).
Com	o	passar	do	tempo,	o	comércio	e	o	constante	crescimento	urbano	vão	ganhan-
do	destaque	no	final	da	Idade	Média,	no	qual	gradativamente	as	cidades	vão	se	tornando	
espaço	de	trabalho,	pois	é	nesse	espaço	que	ocorrem	as	trocas	(produtos	agrícolas,	arte-
sanato	etc.)	e	todo	tipo	de	negócio.	Essas	transações	ocorriam	tanto	durante	o	dia	como	à	
noite,	em	casa	ou	nas	fábricas,	rompendo,	nesse	final	da	Idade	Média,	toda	estrutura	feudal	
vigente,	pois	surge	aí	o	sistema	capitalista.
15UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
A	evidência	mais	marcante	do	advento	do	sistema	capitalista	é	a	 transformação	
das	relações	sociais.	Antes	se	tinha	a	relação	senhor	X	servo,	com	o	novo	sistema	temos	
burguês	X	proletário.	Outra	característica	é	o	início	da	produção	em	larga	escala,	lembran-
do	 que	 antes	 as	 produções	 eram	baseadas	 na	 estrutura	 familiar,	 sem	muitos	 recursos.	
Priorizava-se	o	uso	e,	agora,	a	troca,	aparecendo	o	que	Marx	chamava	de	mais	valia.	
SAIBA MAIS
Várias	relações	foram	estabelecidas	ao	longo	dos	tempos.	Perceba	que	sempre	se	apre-
sentou	uma	constante	oposição	que	podemos	resumir	entre	“opressores	e	oprimidos”.
Homem	livre	X	Escravo;	Patrício	X	Plebeu;	Barão/Senhor	X	Servo;	Burguesia	(patrão)	
X	Proletariado	(empregado).
Fonte:	Marx	e	Engels,	2005.
Outro	aspecto	que	permanece	com	o	sistema	capitalista	é	que,	assim	como	na	
estrutura	feudal,	 todos	os	membros	da	família	eram	trabalhadores,	sujeitos	aos	mesmos	
trabalhos,	sem	distinção.O	que	diferenciava	era	que	a	grande	busca	por	mulheres	e	crian-
ças	se	dava	por	conta	do	baixo	custo	da	mão	de	obra	(mulheres	recebiam	salários	bem	
menores	que	os	homens),	representando	uma	maneira	de	baratear	os	custos	de	produção,	
outro	motivo	era	que	estes	dois	grupos	(mulheres	e	crianças)	eram	“facilmente”	disciplina-
dos	e	fáceis	de	dominar.
A	questão	 social,	 originalmente	expressa	no	empobrecimento	do	 trabalha-
dor,	 tem	suas	bases	 reais	na	economia	capitalista.	Politicamente,	passa	a	
ser	 reconhecida	 como	problema	na	medida	 em	que	os	 trabalhadores	 em-
pobrecidos,	 de	 forma	 organizada,	 oferecem	 resistência	 às	más	 condições	
de	existência	decorrentes	de	sua	condição	de	trabalhadores	para	o	capital	
(SANTOS;	COSTA,	2006,	p.	12).
A	Revolução	Industrial	começou	na	Inglaterra	(XVIII),	alterando	as	relações	e	con-
dições	de	trabalho,	“inchando”	as	cidades	com	a	vinda	das	famílias	do	campo	em	busca	de	
condições	melhores	de	vida.
Aumentar lucros e diminuir despesas é o princípio do sistema capitalista,	
portanto,	 os	 proprietários	 buscam	novas	 tecnologias	 para	 suas	 fábricas;	 exploram	 seus	
operários	com	carga	horária	de	trabalho	exorbitante,	salários	irrisórios	e	locais	insalubres,	
16UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
tudo	isso	para	justificar	o	aumento	da	produção	de	mercadorias	e	o	aumento	do	lucro	para	
os	proprietários.
A	partir	desse	cenário,	originário	da	Revolução	Industrial,	vemos	o	aumento	descon-
trolado	da	população	nas	cidades.	Os	camponeses,	deslumbrados	com	a	ideia	de	uma	vida	
mais	fácil	e	melhores	salários	na	cidade,	sem	pensar	muito,	abandonavam	suas	vidas	no	
campo,	contudo,	ao	chegarem	à	cidade	encontravam	um	cenário	caótico	e	desesperador.	
Temos	 o	 avanço	 na	 produção	 e	 industrialização,	 ao	mesmo	 tempo,	 temos	 tam-
bém	o	crescimento	dos	problemas	socioeconômicos,	pois	não	havia	emprego	para	toda	a	
demanda	que	chegava	na	cidade.	Dessa	forma,	começou	a	aparecer,	em	larga	escala,	o	
problema	do	desemprego,	fome,	moradia	(cortiços),	prostituição,	alcoolismo,	sem	contar	a	
ausência de leis trabalhistas,	o	que	muito	facilitavam	a	exploração	daqueles	que	ainda	
possuíam	emprego.	
Nesse	contexto	histórico,	 temos	ainda	a	 chamada	Segunda	Fase	da	Revolução	
Industrial	(1871-1914),	que	é	compreendida	pela	introdução	de	outras	inovações	tecnoló-
gicas;	fonte	de	energia:	não	só	o	vapor,	mas	também	a	eletricidade	e	o	petróleo;	criação	
de	novas	máquinas	e	ferramentas,	com	outra	estrutura	de	trabalho	que	agora	é	colocada	
em	prática:	avançada	fragmentação	de	tarefas;	ações	eram	repetidas	infinitamente	até	al-
cançar	maior	produtividade;	para	obter	a	colaboração	dos	funcionários	foram	estabelecidos	
remuneração	e	prêmios	extras.	
Assim,	o	 trabalhador	 tornou-se	uma	extensão	da	máquina	e,	ainda	hoje,	 vemos	
nitidamente	os	reflexos	desse	modelo	de	trabalho.	Um	exemplo	clássico	desse	formato	é	o	
apresentado	no	filme	Tempos Modernos,	de	Charlie	Chaplin.
Entre	os	anos	de	1855	e	1866	houve	um	aumento	bem	significativo	de	“indigentes”	
na	 Inglaterra.	Estes	não	 tinham	alternativa	que	não	 fosse	 recorrer	 à	 caridade	pública	e	
acabavam	se	submetendo	aos	serviços	das	workhouses:	
As	Workhouses eram	grandes	casas	 fundadas	para	 fornecer	moradia,	 tra-
balho	e	educação	ao	homem	destituído,	mas	apto	a	desenvolver	um	ofício	
e	 ingressar	na	sociedade	de	 trabalho	 requisitada	pela	 indústria.	Esta	nova	
organização	 exigia	 uma	 nova	 concepção	 de	 trabalho,	 pois	 a	 forma	 como	
o	homem	se	organizava	na	manutenção	de	sua	vida	 já	não	respondia	aos	
interesses	 produtivos.	 Tal	 conceito	 de	 trabalho	 era	 diferente	 do	 até	 então	
vigente,	tendo	por	objetivo	adaptar	o	trabalhador	às	novas	necessidades	pro-
dutivas.	Algumas	das	Workhouses foram	organizadas	pela	união	de	várias	
igrejas	para	dividir	melhor	os	custos,	 isto	porque	muitas	cidades	pequenas	
não	tinham	condições	de	manter	uma	instituição	desse	porte.	Outras	eram	
construídas	em	terras	compradas	pela	comissão	real	10	ou	em	prédios	que	
correspondessem	 às	 exigências	 da	 lei	 para	 abrigar	 os	 que	 necessitavam,	
conforme	 previa	 o	 parágrafo	 23	 da	 Segunda	 Lei	 dos	 Pobres,	 de	 1834	
(DORIGON,	2006,	p.	125).
17UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Cabe	ressaltar	que	no	meio	rural	(campo)	a	realidade	não	era	muito	diferente	que	
a	realidade	da	cidade.	No	campo	se	agravou	a	questão	da	fome,	as	mulheres	e	crianças	
foram	as	mais	atingidas,	já	que	a	prioridade	na	alimentação	era	o	homem,	pois	este	deveria	
estar	bem	alimentado	para	que	pudesse	trabalhar,	e	o	restante	da	família	vinha	em	“segun-
do	lugar”.
Quando	analisamos	esse	contexto	de	crescimento	do	empobrecimento	das	famí-
lias,	tanto	do	campo	quanto	da	cidade,	percebemos	a	origem	do	que	hoje	chamamos	de	
questão	social.
Não	esqueça	que	o	sistema	capitalista,	com	seus	crescentes	conflitos	de	classes,	
gerou	o	agravamento	das	desigualdades	sociais.	O	que	trouxe	à	tona	a	discussão	acerca	
da	questão	social,	isso	se	deu	a	partir	dos	problemas	dos	trabalhadores,	a	crescente	misé-
ria,	a	insatisfação	com	as	condições	sociais,	as	lutas	por	melhorias	urbanas.	Esses	pontos,	
quando	problematizados,	ganham	um	caráter	político	na	sociedade	da	época.
[...]	a	questão	social,	originalmente	expressa	no	empobrecimento	do	trabalha-
dor,	tem	suas	bases	reais	na	economia	capitalista.	Politicamente	passa	a	ser	
reconhecida	como	problema	na	medida	em	que	os	indivíduos	empobrecidos,	
de	forma	organizada,	oferecem	resistência	as	más	condições	de	existência	
decorrentes	de	sua	condição	de	trabalhadores	para	o	capital.	No	percurso	do	
desenvolvimento	do	capitalismo	atravessado	por	 lutas	sociais	entre	capital	
e	trabalho	constituem-se	respostas	sociais	mediadas	ora	por	determinadas	
organizações	sociais,	ora	pelo	Estado,	em	um	processo	 impulsionado	pelo	
movimento	de	reprodução	do	capital	(SANTOS;	COSTA,	2006,	p.	3).
Tudo	isto	gera	uma	grande	insatisfação	e	descontentamento,	originando,	assim,	a	
organização	dos	operários,	processo	este	que	não	ocorreu	do	dia	para	a	noite.
Sendo	assim,	quem	interveio	nesse	contexto	foi	a	Igreja	Católica,	com	vistas	a	“re-
cuperar”	e	melhorar	os	efeitos	trágicos	que	caíam	sobre	a	classe	trabalhadora.	Ela	atuaria	
no	espaço	entre
A	recusa	do	Estado	em	assumi-la	e	a	incapacidade	das	chamadas	‘classes	
inferiores’	de	decidir	sobre	seu	destino.	Nesse	sentido,	ela	 lançará	mão	de	
um	conjunto	de	procedimentos	e	estratégias	de	forte	conteúdo	moralizador,	
atuando	basicamente	em	três	níveis:	[...]	assistência	aos	indigentes	por	meio	
de	técnicas	que	antecipam	o	trabalho	social	no	sentido	profissional	do	termo;	
o	desenvolvimento	de	instituições	de	poupança	e	de	previdência	voluntária	
que	apresentam	as	premissas	de	uma	sociedade	segurancial;	a	instituição	da	
proteção	patronal,	garantia	da	organização	racional	do	trabalho	e,	ao	mesmo	
tempo,	da	paz	social	(CASTEL,	1998	p.	319).
Na	Inglaterra,	por	volta	do	final	do	reinado	de	Elizabeth,	os	seus	parlamentares	da	
época	perceberam	a	necessidade	de	melhorar	a	política	que	estava	relacionada	ao	auxílio	
aos	mais	pobres	do	país.
18UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
No	ano	de	1597	foi	implantada	uma	nova	lei	que	ordenava	que	as	paróquias	no-
meassem	o	que	chamaram	de	“inspetores”	dos	pobres.	Estes	tinham	como	função	encon-
trar	trabalho	para	aqueles	que	estivessem	sem	ocupação.	Os	inspetores	dos	pobres	tinham	
ainda	como	tarefa	a	construção	de	“paróquias-abrigo”,	que	deveriam	contar	com	hospitais	
e	asilos.
As	 “paróquias-abrigo”	 eram	 utilizadas	 para	 acolher	 aqueles	 que	 não	 possuíam	
condições	de	garantir	a	sua	própria	subsistência.	Esse	projeto	era	financiado	com fundos 
públicos,	dando	origem	ao	que	chamamos,	na	história	da	Inglaterra,	de	“bem-estar	social”	
inglês.
No	ano	de	1601,	 todas	as	medidas,	gradativamente	sancionadas	nesse	sentido,	
foram	organizadas	em	um	estatuto	que	se	chamoude	Primeira	Lei	dos	Pobres	(Poor Law),	
mantida,	basicamente,	inalterada	até	1834.
A	Lei	dos	Pobres	de	1601	foi	estimulada	pelas	circunstâncias	econômicas	e	
pelo	aumento	populacional	da	Inglaterra	em	relação	a	épocas	anteriores,	que	
levou	à	expansão	da	pobreza.	O	homem	pobre,	destituído	de	seus	direitos,	
não	 tinha	 trabalho,	 alimentação	 e	moradia,	 nem	 condições	 para	 alimentar	
seus	filhos,	 constituindo-se	desta	 forma	em	um	problema	de	ordem	social	
(DORIGON,	2006,	p.	119).
Conforme	 explanação	 de	Dorigon	 (2006),	 a	 Lei	 dos	Pobres	 era	 financiada	 pelo	
imposto	fundiário,	estabelecendo,	para	quem	não	tinha	meios	de	subsistência,	o	direito	à	
assistência	social.	Acontecia	a	partir	dos	seguintes	princípios:	a)	Obrigação	de	socorro	aos	
necessitados;	b)	Assistência	pelo	trabalho;	c)	Taxa	cobrada	para	o	socorro	dos	pobres	(poor 
tax);	d)	Responsabilidade	das	paróquias	pela	assistência	de	socorros	e	de	trabalho.
A	Lei	dos	Pobres	foi	pensada	a	partir	do	aumento	da	população	carente	no	país,	
oriunda	da	expansão	do	sistema	capitalista,	o	que	afetou	a	estabilidade	da	ordem	econô-
mica.	Claro	que	a	lei	não	foi	pensada	somente	por	pura	preocupação	da	classe	dominante	
com	os	mais	necessitados	e	afetados	pelo	sistema,	por	trás	dessa	ideia	encontrava-se	a	
intenção	da	classe	burguesa	controlar	esse	segmento	da	população.
REFLITA
A	história	revela	que	mesmo	o	homem	sendo	um	ser	de	relações	e	em	constante	evolu-
ção,	ele	foi	capaz	de	gerar	entre	a	sua	própria	espécie	segregação	e	divisão,	instaurando	
a	“verdade”	de	que	uns	“abençoados”	são	melhores	e	“superiores”	que	outros	coitados.	
Fonte:	a	autora.
19UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
O	progresso	econômico	e	social	da	humanidade	foi	capaz	de	produzir	também	a	
alienação,	a	exploração	de	uns	poucos	sobre	muitos,	bem	como	a	divisão	desigual	de	bens	
e	lucros,	gerando,	assim,	as	desigualdades	de	problemáticas	sociais.	Essas	questões	foram	
sendo	cada	vez	mais	agravadas	com	o	passar	do	tempo,	crescia	na	mesma	proporção	que	
a	industrialização	e	o	aumento	do	lucro.	
O	avanço	veio	às	custas	daqueles	que	eram	obrigados	a	vender	a	sua	força	de	tra-
balho,	já	que	esta	era	a	única	coisa	que	tinha	a	oferecer	em	troca	do	mínimo	para	garantir	
a	sua	subsistência.	Feliz	aquele	que	ainda	possuía	este	recurso,	e	não	dependia	apenas	
da	caridade	alheia.	
O	operário	 se	 torna	mais	 pobre	 quanto	mais	 riqueza	produz,	 quanto	mais	
aumenta	a	produção	em	poderio	e	em	extensão.	O	operário	converte-se	em	
mercadoria	 cada	 vez	mais	barata	à	medida	que	 cria	mais	mercadorias.	O	
valor	crescente	do	mundo	das	coisas	determina	a	proporção	direta	da	desva-
lorização	do	mundo	dos	homens.	O	trabalho	produz	não	só	mercadorias;	se	
produz	a	si	mesmo	e	ao	operário	como	mercadorias;	e	o	faz	na	proporção	em	
produzir	as	mercadorias	em	geral	(MARX,	2004,	p.	68).
Marx,	em	sua	obra	O Capital	(1985),	já	apontava	a	exploração	do	patrão	sobre	o	
empregado,	apontava	a	retirada	da	mais	valia,	com	vistas	à	acumulação	do	capital;	no	qual,	
gradativamente,	poucos	vão	acumulando	muito	enquanto	muitos,	cada	dia	mais,	experien-
ciam	a	dor	da	exploração,	miséria	e	desigualdade.
A	relação	de	exploração	do	trabalho	vivo	pelo	capital	é	uma	relação	social	de	
produção	historicamente	determinada,	na	qual	os	trabalhadores	são	despos-
suídos	dos	meios	de	produção	e	obrigados	a	vender	sua	força	de	trabalho.	
É	no	mercado	que	são	encontrados	os	capitalistas	dispostos	a	comprar	tal	
mercadoria	para	valorizá-la	no	processo	de	produção	e	realizá-las	continua-
mente	como	capital.
Quando	o	capitalista	gasta	a	soma	inicial	de	dinheiro	com	o	objetivo	de	au-
tovalorizar	o	dinheiro	acumulado	primitivamente,	ele	acaba	por	 transformar	
os	meios	 de	 produção	 e	 a	 capacidade	 de	 trabalho	 em	 capital.	As	merca-
dorias	compradas	pelo	capitalista	não	são	capital	por	natureza	ou	por	suas	
características	físicas	próprias;	elas	se	tornam	capital	em	relações	históricas	
e	sociais	determinadas	(CASTELO	BRANCO,	2006,	p.	144).
Logo,	 podemos	 dizer	 que	 as	 relações	 que	 se	 estabelecem	 assim,	 dessa	 forma	
desigual	e	tão	conflituosa	entre	o	capital	e	o	trabalho,	acabam	por	configurar a questão 
social	em	que	o	sistema	econômico	se	encontra.
A	partir	do	exposto	anteriormente,	vamos	entender	uma	das	fontes	das	desigualda-
des	presentes	há	tempos	na	sociedade,	em	que	o	valor	de	troca	vai	dando	lugar	ao	valor	de	
uso.	Entendamos	um	pouco	mais	o	que	significa	o	termo mais valia,	de	acordo	com	Karl	
Marx	(2003,	p.	227,	grifos	do	autor):
A	teoria	marxiana	da	mais-valia	consiste	não	só	em	perceber	o	trabalho	como	
fonte	geradora	do	valor,	mas,	principalmente,	em	perceber	que	existe	uma	
dupla	natureza	do	trabalho	–	concreto e abstrato	–	e	uma	diferença	de	mag-
20UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
nitude	do	valor	de	troca	e	do	valor	de	uso	da	força	de	trabalho,	o	que	significa	
dizer	que	o	trabalhador	não	recebe	o	valor	 integral	da	jornada	de	trabalho,	
mas	tão	somente	uma	fração	da	mesma.	“O	possuidor	do	dinheiro	pagou	o	
valor	diário	da	força	de	trabalho;	pertence-lhe,	portanto,	o	uso	dela	durante	o	
dia,	o	trabalho	de	uma	jornada	inteira.	A	manutenção	quotidiana	da	força	de	
trabalho	custa	apenas	meia	jornada,	e	o	valor	que	sua	utilização	cria	em	um	
dia	é	o	dobro	do	próprio	valor-de-troca”.
Além	da	exploração	do	homem	pelo	homem,	por	 conta	do	sistema,	gerando	os	
problemas	sociais,	vemos	também	nessa	relação	a	alienação	do	homem.
É	importante	ter	em	mente	que	não	se	pode	intervir	junto	aos	problemas	que	não	se	
conhece.	Para	tanto,	é	preciso	conhecer	a	história,	dialogar	com	os	pensadores	e	teóricos	
e,	assim,	formular	os	conceitos	e	ideias	acerca	da	questão	social.	Esse	momento	sinaliza	o	
início	do	processo	de	desalienação. 	
Já	parou	para	pensar	nisto?	Então	vamos	continuar	nossa	empreitada.	Retomar	
nosso	estudo.
Os	trabalhadores,	percebendo	todo	esse	movimento	exploratório	ligado	à	acumu-
lação	desigual	de	capital,	resolvem	se	organizar	em	movimentos	reivindicatórios	e	movi-
mentos	de	luta,	buscando	melhores	condições	de	vida	e	trabalho,	sem	contar	na	solução	
dos	problemas	sociais	que	se	alastrava	nas	diversas	realidades,	tanto	do	campo	quanto	da	
cidade.
21UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
3 A FUNDAÇÃO DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL
3.1 Serviço Social na Europa
Vou	apresentar	para	você,	neste	tópico,	um	pouco	sobre	a	criação	das	primeiras	
escolas	de	Serviço	Social	no	Mundo,	assim	você	poderá	conhecer	mais	sobre	a	profissão	
que	escolheu,	 pois	 conhecendo	 sobre	 o	 passado	 conseguimos	 também	entender	 e	 dar	
significado	para	o	presente.
Ao	estudar	 sobre	o	 surgimento	do	Serviço	Social	 na	Europa	e	Estados	Unidos,	
irá	compreender	que	essas	Escolas	trazem	consigo	uma	história	de	lutas,	reivindicações,	
questionamentos,	mas	também	muitas	conquistas.
Assim	exposto,	entenda	um	pouco	mais	de	como	surgiu	a	nossa	profissão,	por	que	
surgiu	e	para	que	surgiu.
Em	primeiro	 lugar	 é	 quando	 ela	 se	 torna	 essencialmente	 necessária	 e	 as	
práticas	profissionais	se	gestam	no	labor	cotidiano.	Antes	de	serem	instituí-
das,	as	profissões	se	legitimam	pela	sua	eficácia	social	e/ou	política.	É	claro	
que	as	questões	humanísticas	contam	como	declaração	de	boas	intenções,	
principalmente	para	aqueles	que	serão	os	pioneiros	da	profissão.	O	Serviço	
Social	também	começou	assim	(ESTEVÃO,	2006,	p.	14-15).
Assim	entendido,	no	ano	de	1899	é	fundada,	em	Amsterdã,	a	primeira	escola	de	
Serviço	Social	no	mundo,	em	que	a	profissão	vai	assumindo	um	caráter	científico,	tendo	
um	primeiro	suporte	teórico.
Em	 1899,	 na	 cidade	 de	Amsterdã,	 funda-se	 a	 primeira	 escola	 de	 Serviço	
Social	do	mundo	e	inicia-se	também	o	processo	de	secularização	da	profis-
são,	 isto	é,	para	o	Serviço	Social,	as	explicações	religiosas	do	mundo	são	
substituídas	por	explicações	científicas.	O	nascimento	da	Sociologia	vai	dar	o	
suporteteórico	para	o	Serviço	Social	(ESTEVÃO,	2006,	p.	14-15).
22UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
O	Serviço	Social	na	Europa	possui	forte	influência	da	Igreja	Católica	e	Protestante,	
mas	 também	foi	 fortemente	 impulsionado	pelos	movimentos	dos	 trabalhadores,	dado	ao	
contexto	social	e	econômico	pelo	qual	passava,	sobretudo	os	ingleses	que	sofriam	ampla-
mente	os	impactos	trazidos	pela	Revolução	Industrial.	
Uma	época	de	profundas	crises	econômicas,	com	a	pobreza	e	a	miséria	se	
alastrando,	consequências	do	rápido	crescimento	urbano	e	industrial.	A	so-
ciologia	tentou	dar	conta	de	tudo	isto	e	oferecer	uma	explicação	não	religiosa	
ao	 que	 acontecia	 na	 sociedade	 e,	 ao	mesmo	 tempo,	 havia	 na	 sociedade	
americana	várias	experiências	de	filantropia	e	caridade,	tendendo	a	procurar	
um	espaço	dentro	 das	novas	profissões	emergentes	 (ESTEVÃO,	2006,	 p.	
16-17).
Desta	maneira,	além	da	influência	religiosa,	é	possível	constatar	que	a	profissão	
surge	na	Inglaterra	em	meio	ao	cenário	de	industrialização	e	modernização	do	continente	
europeu,	devido	às	vastas	reservas	de	carvão	mineral,	capaz	de	produzir	energia	suficiente	
para	colocar	em	movimento	as	locomotivas	e	máquinas	à	vapor.
A	relação	do	Serviço	Social	e	os	impactos	da	Revolução	Industrial	consistem	em	
compreender	que	esta	última	provocou	uma	mudança	no	cenário	social	inglês.	Em	posse	
de	muita	matéria	 prima,	 a	 Inglaterra	 também	era	 possuidora	 de	 ampla	mão	 de	 obra,	 e	
muitos	saíam	do	campo	em	busca	de	emprego	nas	cidades.
A	burguesia,	detentora	do	capital	e	matéria	prima,	também	contratava	os	funcioná-
rios,	com	a	modernização	dos	equipamentos	e	modo	de	produção	a	mão	de	obra	humana	
acaba,	cada	vez	mais,	sendo	substituída	por	máquinas	e	processos	mecânicos.	
A	Revolução	Industrial,	então,	propaga-se	pela	Europa	Ocidental	e	logo	chega	aos	
Estados	Unidos,	dando	visibilidade	a	um	novo	“modelo	de	produção”,	através	de	grandes	
fábricas	e	indústrias,	acarretando	um	capitalismo	industrial.	Mesmo	com	toda	a	moderni-
zação	dos	processos,	na	época	ainda	era	necessário	mão	de	obra	para	a	realização	das	
operações.
Considerando	as	pessoas	que	já	viviam	nas	cidades,	somado	às	famílias	que	mi-
graram	do	campo	em	busca	de	uma	vida	melhor,	começa-se	a	ter	um	grande	contingente	de	
pessoas	vivendo	ao	redor	das	indústrias,	sendo	designadas	“proletariados”	(classe	social	
operária),	ou	seja,	aquele	que	vende	sua	força	de	trabalho	ao	empresário	capitalista	(classe	
dominante),	sendo	o	proletário	explorado.	Até	mesmo	o	Estado	da	época	era	subordinado	à	
burguesia;	competia	ao	Estado	da	época	a	proteção	do	capital	e	aqueles	que	a	possuíam.
Dada	 a	 sede	 pelo	 lucro,	 as	 condições	 e	 ambientes	 de	 trabalho	 não	 eram	nada	
salubres,	as	condições	precárias	de	trabalho	eram	seguidas	de	baixa	remuneração,	longas	
jornadas	de	trabalho.	Devemos	considerar	ainda	o	alto	índice	de	trabalho	infantil	e	o	traba-
23UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
lho	feminino,	sendo	que	mulheres	e	crianças	possuíam	um	salário	ainda	menor.	Um	cenário	
de	 exploração	 grandioso,	 podendo	 citar	 que	 os	 trabalhadores	 ainda	 estavam	 sujeitos	 a	
castigos	físicos	praticados	por	seus	patrões.
Não	existia	nenhum	direito	que	protegesse	o	trabalhador,	nenhuma	lei	trabalhista	
que	 lhe	garantisse	 férias,	13º	salário,	auxílio-doença	etc.	Diante	deste	cenário	os	 traba-
lhadores	começam	a	se	organizar,	buscando,	através	de	manifestações,	reivindicar	seus	
direitos	e	melhores	condições	de	trabalho.
Como	forma	de	defender	seus	interesses,	a	burguesia	encontra	novas	maneiras	de	
continuar	produzindo	e	obtendo	lucro	às	custas	da	exploração	do	proletariado,	e	a	opressão	
só	aumenta.
Tal	aumento	da	opressão	e	exploração	provoca	também	um	aumento	da	miséria	
do	povo,	 repercutindo	em	 toda	as	áreas	 sociais,	 pois	 sem	emprego	ou	 subemprego	as	
pessoas	 não	 tinham	como	prover	 as	 condições	 básicas	 de	 sobrevivência:	 cuidado	 com	
saúde,	moradia,	alimentação,	habitação,	educação,	entre	outros.
Dado	o	cenário	exposto,	a	burguesia	novamente	busca	alternativas	para	contro-
lar	as	manifestações,	 inquietações	e	crescente	pobreza	do	povo.	É	nesse	contexto	que	
aparecem	as	 primeiras	 práticas	 assistencialistas,	 porém	estas	 ainda	 visavam	conservar	
as	 ordens	 capitalistas,	 pois	 o	 pobre	 deveria	 aceitar	 a	 ajuda	 (benesse),	 sem	questionar.	
Nesse	movimento,	ainda	se	tem	um	crescente	número	de	pobres,	os	membros	da	classe	
dominante,	a	 Igreja	Católica	e	as	autoridades	 locais,	 se	organizaram	com	o	objetivo	de	
transformar	a	assistência	pública.
Surge,	então,	a	convocação	para	os	chamados	reformistas	sociais.	Estes	tinham	
como	 tarefa	 realizar	um	 inquérito	da	vida	pessoal	e	 também	familiar	do	pobre	atendido.	
O	poder	público	passa	a	controlar	a	vida	deste	necessitado,	estabelecendo,	assim,	uma	
relação	de	dependência	do	necessitado	para	o	com	Estado.
Mesmo	tal	medida	não	foi	suficiente	para	conter	as	manifestações	e	reivindicações	
da	população.	Neste	momento,	então,	burguesia,	Igreja	e	Estado	se	unem	e	dão	origem,	em	
1869,	à	Sociedade de Organização da Caridade,	já	abordadas	anteriormente,	lembra?
Certo,	agora	que	você	relembrou	as	atribuições	dessa	Sociedade,	lembrou	também	
que	competia	a	ela	a	reforma	e	regulamentação	da	prática	da	assistência.
É	 neste	 cenário	 que	 surgem	 os	 (as)	 primeiros(as)	 assistentes	 sociais,	 que	
executavam	as	práticas	relacionadas	à	assistência	social.	A	profissionalização	acontecia	
por	meio	da	prestação	de	serviços,	designado	como	Serviço	Social,	denominação	essa	que	
fora	utilizada	pelos	Estados	Unidos,	em	1904.
24UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
	O	Serviço	Social	fora	caracterizado,	em	sua	origem,	por	várias	determinações	e	
valores,	através	de	práticas	 repressoras	e	controladoras.	Assim,	podemos	entender	que	
o	Serviço	Social	resulta	da	emergência	da	questão	social	do	conjunto	de	expressões	da	
desigualdade	social,	econômica	e/ou	cultural.	
Em	seguida	foi	criado	em	Londres,	em	1884,	o	Centro	de	Ação	Social,	com	ativida-
des	relacionadas	à	higiene	e	saúde	para	com	os	pobres	e	proletários.	
	A	Sociedade	de	Organização	da	Caridade	buscava	novas	estratégias	de	atuação,	
organizava	 e	 efetivava	 a	 realização	 de	 visitas	 domiciliares	 que	 possuíam	 o	 objetivo	 de	
educar	e	ensinar	ao	pobre	regras	de	higiene	e	organização	da	vida,	visto	que	a	pobreza	era	
concebida	como	uma	questão	de	caráter.	A	finalidade	implícita	das	visitas	domiciliares	era	
adequar	o	pobre	à	sociedade,	incutindo	o	pensamento	capitalista,	bem	como	não	oferecer	
resistência	à	burguesia.
Essa	prática	 social	 continuou	a	 ser	 realizada	por	 algum	 tempo,	 apresentando	o	
mesmo	rigor	para	controlar	e	corrigir	os	desfavorecidos,	que	passaram	a	não	considerar	
tanto	a	assistência	pública	e	começam	a	se	ajudar	mutuamente.	Dão	ainda	continuidade	às	
reclamações	quanto	ao	modo	como	eram	tratados,	uma	vez	que	não	eram	atendidos	em	
suas	reivindicações	pelo	setor	público	e	muito	menos	pela	burguesia.	Por	longo	período	se	
fizeram	presentes	a	exploração,	a	miséria,	o	poder	capitalista	e	as	práticas	assistenciais,	
objetivando	tão	somente	o	controle	social.	
Após	a	Conferência	Nacional	 de	Caridade	e	Correção,	 em	que	Mary	Richmond	
apresentou	sua	ideia	de	assistência	social	(que	já	citei	anteriormente),	foi	criada	na	Ingla-
terra,	no	ano	de	1908,	a	primeira	escola	de	Serviço	Social.	Sendo	seguida	de	várias	outras	
escolas,	sempre	com	o	apoio	e	influência	da	Igreja	Católica.
Quadro 1 -	Surgimento	das	Escola	de	Serviço	Social	na	Europa	–	XIX	/	XX
PAÍS	EUROPEU ANO PAÍS	EUROPEU ANO
Inglaterra	 1886 Israel 1934
Alemanha 1899 Irlanda 1934
França 1907 Portugal 1935
Suíça 1910 Dinamarca 1937
Áustria 1912 Grécia 1945
Finlândia 1918 Itália 1945
Noruega 1920 Turquia 1961
Bélgica 1920 Iugoslávia 1953
Espanha 1932 Islândia 1981
Fonte:	adaptado	de	Brauns	e	Kramer(1986).
25UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Ao	passar	do	tempo	as	ações	sociais	acabam	se	ligando	cada	vez	mais	à	política,	
mas	ainda	objetivando	controlar	as	manifestações	e	conflitos	dos	trabalhadores.	Essa	apro-
ximação	também	oculta	o	semblante	da	miséria,	atendendo	àqueles	que	nela	residiam.	Nos	
anos	seguintes	do	fim	da	guerra,	a	relação	com	a	Igreja	Católica	fora	trocada	para	o	Estado,	
remetendo	a	prática	social	para	outro	contorno.	
3.2 Serviço Social nos Estados Unidos
Considere	 o	 período	 pós	 Primeira	 Guerra	 Mundial,	 somado	 ao	 surgimento	 do	
capitalismo	 monopolista,	 que	 evidencia	 seu	 lado	 excludente,	 provocando	 um	 aumento	
exponencial	da	pobreza.	
Retomando	 seu	 conhecimento	 em	 história,	 lembre-se	 que	 os	 Estados	 Unidos	
saíram	vencedores	desta	Primeira	Guerra	Mundial,	 tornando-se	o	centro	do	capitalismo.	
Neste	cenário	de	pós-guerra	desponta	também	o	Serviço	Social.	A	profissão	nasce	com	um	
propósito	bastante	claro,	nesta	época	tinha-se	que	a	pessoa	era	passível	de	ser	controlada,	
adequada,	reformada,	para	que	se	encaixasse	na	sociedade.
Mary	Richmond	foi	uma	grande	impulsionadora	do	Serviço	Social	Norte	Americano	
e,	posteriormente,	em	muitos	outros	países,	como,	por	exemplo,	europeus,	que	você	viu	
anteriormente.
Nesse	contexto	norte	americano	que	temos	despontando	no	cenário	mundial	uma	
assistente	social	chamada	Mary	Richmond,	que	logo	no	início	do	século	XX	“teve	a	sen-
sibilidade	de	começar	a	pensar	e	a	escrever	a	 respeito	do	que	é	o	Serviço	Social	e	de	
como	ele	deveria	ser	exercido”	(ESTEVÃO,	2006,	p.	18).	Foi	Mary	Richmond	a	primeira	
a	sistematizar	a	diferença	entre	fazer	caridade,	fazer	filantropia	e	o	que	era	fazer	Serviço	
Social,	ressaltando	que	este	último	se	refere	à	profissão	propriamente	dita.	
Mary	Richmond	traz	no	início	do	século	XX	a	discussão	de	que	o	Serviço	Social	
exige	uma	prática	competente	e	que	“dar	ajuda	material	para	as	pessoas	pobres	não	era	
Serviço	Social,	era	apenas	um	osso	[fazia	parte]	do	ofício,	mas	não	o	próprio	ofício”	(ES-
TEVÃO,	2006,	p.	18).	Ela	traz,	pela	primeira	vez,	a	ideia	de	que	era	necessário	olhar	além	
da	necessidade	imediata	da	pessoa	e,	para	isso,	seria	necessário	compreender	a	pessoa	
na	sua	totalidade,	o	meio	no	qual	está	inserida,	observar	o	contexto,	propondo	ações	que	
fossem	além	do	imediatismo.
O	grande	mérito	de	Mary	Richmond	foi	dar	um	estatuto	de	seriedade	à	profissão,	
mostrar	que	era	possível	fazer	mais	do	que	caridade,	ser	rigoroso	em	termos	de	procedi-
mento,	descobrir	técnicas	que	possibilitassem	o	exercício	profissional	(ESTEVÃO,	2006).	
26UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Contudo,	ainda	não	é	nesse	momento	que	a	profissão	 rompe	com	a	 religião	e	práticas	
assistencialistas,	mas	esse	foi	o	início	da	consolidação	da	profissão.
No	ano	de	1897,	precisamente	na	Conferência	Nacional	de	Caridade	e	Correção,	
Mary	Richmond	apresentou	sua	ideia	de	assistência	social,	propondo,	com	isso,	a	elabora-
ção	e/ou	criação	de	uma	escola	voltada	à	aprendizagem	de	Filantropia	Aplicada.	Enfatizou	
a	relação	existente	entre	as	pessoas	e	o	mundo,	considerando	o	sujeito	enquanto	pessoa	
quando	 interage	 com	 o	meio	 social	 do	 qual	 faz	 parte.	 Foi	 com	 a	 escola	 de	 Filantropia	
Aplicada	que	tiveram	início	a	institucionalização	e	a	profissionalização	do	Serviço	Social	–	o	
interessado	trabalhava	como	agente	reintegrador	e	transformador	de	caráter.
Em	1917,	com	a	obra	Diagnóstico Social,	de	autoria	da	própria	Mary	Richmond,	o	
Serviço	Social	apresentou	um	considerável	avanço	enquanto	profissão,	levando	em	conta	
o	entendimento	do	sujeito,	enfatizando	o	fortalecimento	do	ego	para	a	obtenção	do	êxito	no	
tangível	à	solução	de	problemas	internos	e	externos.	
Ao	escrever	o	livro	Caso Social Individual,	no	ano	de	1917,	profissionais	do	mundo	
todo	começam	a	debater	sobre	o	que	seria	o	Serviço	Social	e	quais	seriam	as	ações	reali-
zadas	pelo	profissional.	Esse	livro	foi	escrito	em	contexto	mundial	específico,	pois
[...]	 após	 o	 susto	 da	 revolução	 socialista	 soviética	 ,	 quando	 o	 capitalismo	
assume	novas	feições,	e	que,	nesta	época,	já	várias	instituições	de	filantropia	
remuneravam	 seus	 profissionais;	 assim,	 trabalhar	 como	 assistente	 social,	
pouco	a	pouco,	perdia	seu	caráter	de	voluntariado	para	se	constituir	em	mais	
uma	profissão	dentro	da	divisão	social	do	trabalho,	na	sociedade	industrial	
capitalista	 e	 desenvolvida.	 Mary	 Richmond	 foi	 pioneira	 do	 Serviço	 Social	
nestas	bandas	(ESTEVÃO,	2006,	p.	22).
O	 Serviço	 Social	 de	 Casos	 correspondia	 à	 prática	 de	 lidar	 com	 cada	 pessoa	
individualmente,	 assim,	o	profissional	 teria	melhor	 resultado,	pois	 se	olhar	 cada	pessoa	
no	seu	contexto	individual,	isoladamente,	o	profissional	conseguiria	resolver	cada	“caso”,	
aqui	entendido	como	demanda.	As	demandas	são	situações	ou	problemas	que	o	usuário	
apresenta	quando	recorre	ao	assistente	social.
Após	um	tempo,	o	Serviço	Social	assume	um	outro	método	de	atuação,	chamado	
de	Serviço	Social	de	Grupo.	Convido	você	a	entender	primeiramente	o	contexto	histórico,	
para	que	possa	compreender	melhor	porque	esse	método	aparece	no	Serviço	Social.
O	aprofundamento	da	crise	capitalista	 tornou	evidente	que	resolver	 ‘casos’	
de	maneira	isolada,	um	por	um,	já	não	era	suficiente	para	atender	as	grandes	
demandas.	Ao	mesmo	tempo,	a	manipulação	de	massas	realizada	por	fascis-
tas	e	nazistas,	no	bojo	desta	crise,	despertou	a	atenção	da	psicologia	social	
para	o	desenvolvimento	de	teorias	e	experimentação	sobre	o	comportamento	
dos	grandes	grupos.
Kurt	 Levin,	 um	psicólogo	alemão,	 judeu,	 exilado	nos	Estados	Unidos,	 ela-
borou	uma	teoria	a	respeito	dos	grupos:	os	grupos	têm	uma	certa	dinâmica	
que,	 sendo	 trabalhada,	 poderia	 oferecer	 resultados	práticos	no	 tratamento	
27UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
psicológico.	A	coisa	funcionou	e	esta	prática	de	psicologia	de	grupos	passou	
a	ser	utilizada	em	várias	áreas	de	atividade:	acampamento	de	jovens,	Centros	
Comunitários...	etc.	(ESTEVÃO,	2006,	p.	23).
A	partir	do	cenário	apresentado	é	que,	em	meados	de	1934,	o	Serviço	Social	de	
Grupo	 também	começa	a	ser	utilizado	nas	práticas	profissionais.	Sendo	possível	ao	As-
sistente	 Social,	 dentro	 das	 instituições	 que	 atua,	 organizar	 grupos	 por	 tipo	 de	 situação	
apresentada.
grupo	 de	 jovens	 que	 [queriam]	 fazer	 recreação,	 senhoras	 que	 [queriam]	
ajudar	os	“favelados”	de	uma	região,	ou	então	ser	solicitada	por	algum	grupo	
local	para	dar	orientação	técnica	necessária	ao	bom	funcionamento	destes	
grupos.	O	problema	a	ser	tratado	pelo	Assistente	Social	tanto	podia	ser	do	
grupo	como	exterior	a	ele	(ESTEVÃO,	2006,	p.	23).
Considerando	 os	métodos	 e	 técnicas	 já	 adotados	 –	 Serviço	 Social	 de	Casos	 e	
Grupos	–,	além	da	observação	do	rápido	crescimento	urbano,	o	qual	não	possuía	nenhum	
planejamento,	levando	cada	vez	mais	pessoas	a	uma	situação	de	vulnerabilidade	social,	
o	Serviço	Social	é	levado	a	um	terceiro	método	de	atuação	profissional:	Serviço	Social	de	
Comunidade.
A	concepção	de	trabalhos	com	grupos	se	desenvolveu	para	ação	intergrupos,	
isto	é:	há	certo	tipo	de	problemática	social	que	necessita	dessa	necessidade	
de	atuação	de	vários	grupos,	que,	por	 terem	objetivos	comuns,	devem	se	
interligar.	É	a	partir	dessa	necessidade	que	começa	a	se	gestar	a	noção	de	
Serviço	Social	de	Comunidade	(ESTEVÃO,	2006,	p.	25).
E	você	faz	ideia	de	como	isso	se	deu	em	meio	à	profissão	na	década	de	1930/1940?	
Vamos	lá,	vou	te	contar	brevemente	como	esse	método	foi	utilizado:
De	 início	 trata-se	 de	 um	 trabalho	 de	 organização	 da	 comunidade	 enten-
dido	 como	 a	 arte	 e	 o	 processo	 de	 desenvolver	 os	 recursos	 potenciais	 e	
os	talentos	de	grupos	de	indivíduos	e	dos	indivíduos	que	compõem	esses	
grupos.	Depois	o	Serviço	Social	de	Comunidade	vai	ser	concebido	como	
um	processode	adaptação	e	ajuste	de	tipo	interativo	e	associativo	e	mais	
uma	técnica	para	conseguir	o	equilíbrio	entre	os	recursos	e	necessidades	
(ESTEVÃO,	2006,	p.	23).
Assim	apresentado,	vamos	conhecer	como	se	organizaram	as	primeiras	escolas	
de	Serviço	Social	nos	Estados	Unidos.	No	ano	de	1919	inaugura-se	a	chamada	Escola	de	
Trabalho	Social,	na	cidade	de	Nova	York.	Logo	em	seguida,	em	1920,	é	criada	a	Associação	
Nacional	de	Trabalho	Social,	nesta	associação	participavam	apenas	aqueles	que	já	fossem	
assistentes	sociais.
Com	o	passar	do	 tempo,	novas	escolas	 foram	sendo	criadas,	com	caminhos	di-
ferentes.	Ressalto	que,	por	muito	tempo,	no	Brasil	a	profissão	seguiu	métodos	e	técnicas	
norte	americana.
28UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
4 A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA
Toda	profissão	deve	responder	a	uma	necessidade	social,	dentro	de	um	determi-
nado	contexto,	pois	é	apenas	dentro	da	dinâmica	social	que	encontraremos	os	nexos	de	
explicação	das	exigências	que	originam	o	surgimento	do	Serviço	Social	 como	profissão	
reconhecida	tácita	e	legalmente.
Com	a	implantação	do	capitalismo	na	América	Latina,	as	relações	sociais	dentro	de	
cada	país	do	continente	sofreram	alterações.
A	partir	desse	momento	você	terá	a	oportunidade	de	conhecer	“Os	protagonistas	
das	cenas	–	Igreja	Católica,	os	Estados	da	nossa	América	[...],	os	movimentos	das	lutas	de	
classes,	o	imperialismo	e	suas	agências,	o	Serviço	Social	e	seus	profissionais	–	aparecem	
com	 suas	 determinações	 peculiares”	 (NETTO,	 1984	 apud	CASTRO,	 2006,	 p.	 179)	 que	
fizeram	e	fazem	parte	da	profissão	de	Serviço	Social.	
Vamos	lá?	Bons	estudos!
4.1 Serviço Social no Chile
Em	1925,	inaugura-se	o	Serviço	Social	na	América	Latina,	com	a	criação	da	Escola	
Dr.	Alexandre	Del	Rio	e,	quatro	anos	depois,	a	criação	da	Escola	Católica	Elvira	Matte	de	
Cruchaga.
Nos	anos	de	1920,	apareceram	novos	grupos	sociais	na	vida	chilena,	resultado	
das	mudanças	na	economia	do	país.	O	movimento	operário,	já	se	manifestara	
desde	o	final	do	século	XIX,	conquistou	um	espaço	proeminente	na	sociedade	
chilena.	E	sob	o	estímulo	dos	movimentos	operários	e	populares,	influenciado	
29UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
por	 ideias	 anarco-sindicalistas,	 tem	 lugar	 uma	mudança	 no	 sistema	 político	
orientada	 a	 democratização	 do	 país	 e	 à	 elevação	 de	 vida	 nos	 setores	 que	
lutam	por	um	campo	de	ação	para	o	seu	desenvolvimento	autônomo	e	pela	
institucionalização	das	suas	demandas	(CASTRO,	2006,	p.	68).
A	legalização	de	medidas	sociais	e	a	própria	criação	do	Serviço	Social	profissional	
pode	 ser	 considerado	 como	 uma	 resposta	 à	 disfuncionalidade	 que	 ameaçava	 a	 ordem	
social,	dada	a	ação	conflituosa	vivida	pelo	Chile;	alto	 índice	de	desemprego,	baixos	sa-
lários,	analfabetismo,	de	60%	a	70%	referente	à	população	rural,	problemas	de	natureza	
médico-social	(predomínio	de	tuberculose,	sífilis	etc.).
A	influência	das	ideias	europeias	na	configuração	do	Serviço	Social	latino	americano	
explica-se,	entre	outros	fatores,	pelos	nexos	da	subordinação	estrutural	e	ideológica.
Se	ocorreu	à	Europa	como	modelo	para	a	legislação	trabalhista,	para	a	previdência	
social	ou	para	a	assistência	social,	foi	porque	existia	uma	compatibilidade	entre	os	projetos	
sociais	de	classe,	que	as	classes	dominantes	sustentavam	e	o	conteúdo	e	a	mensagem	
das	fórmulas	de	ação	importadas.
No	quadro	político	interno,	os	anos	de	1920	marcaram-se	pela	instabilidade.	Arturo	
Alessandri,	oriundo	das	camadas	médias	e	enfrentando	a	oligarquia,	encabeçou	um	movi-
mento	reformista.	No	poder,	porém,	conciliou	com	os	setores	oligárquicos	e	as	demandas	
operárias	incorporaram-se	à	institucionalidade	do	Estado.
Alessandri	abandonou	o	cargo	 três	meses	antes	do	 término	do	mandato;	Emílio	
Figueiroa	o	substituiu,	governando	por	pouco	tempo,	cedendo	lugar	ao	Coronel	Ibanez,	em	
1927.	Contudo	o	regime,	acuado	por	uma	onda	de	protestos	pelas	graves	consequências	
da	crise	de	1929,	foi	derrubado	por	um	levante	geral	em	1931.	
O	único	dado	que	pode	servir	como	referencial	do	impacto	da	crise:	a	produção	de	
salitre,	produto	básico	da	exportação	chilena	foi,	em	1920,	de	mais	de	três	milhões	de	tone-
ladas.	A	presença	da	organização	da	classe	operária	na	vida	política	do	Chile,	registra-se	
na	tentativa	socialista	de	1932,	que	foi	reprimida	pela	ação	dos	militares	e	marcou	a	volta	
de	Alessandri	ao	poder,	através	das	eleições.
A	burguesia	chilena	é	pioneira	ao	institucionalizar	diversas	reivindicações	popula-
res	e	operárias	no	seio	do	direito	burguês.	Essa	institucionalização	gerou	uma	legislação	
que	 obrigava,	 (não	 exclusivamente	 do	Estado),	 a	 busca	 de	 respostas	 aos	 angustiantes	
problemas	sociais.
A	 fundação	da	Escola	Del	Rio,	em	1925,	por	Alejandro	Del	Rio,	 tem	sua	origem	
mais	ligada	à	ação	do	Estado.	A	legislação,	aprovada	em	1924,	exigia	a	adequação	das	
entidades	estatais	e	paraestatais	em	virtude	da	aprovação	de	leis	referentes	à	Previdência	
30UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Social,	seguro	obrigatório,	habitação	popular,	direito	de	greve,	sindicalização	legal,	proteção	
do	trabalho	infantil	e	feminino.
Alejandro	Del	Rio,	ao	criar	uma	escola,	queria	 formar	profissionais	destinados	à	
complementação	do	trabalho	médico,	devido	às	consequências	da	miséria	e	desgastes	da	
força	de	trabalho.
No	que	se	refere	à	Escola	fundada	por	Del	Rio,	ficam	assinaladas	as	ligações	com	
a	expansão	do	aparelho	estatal.	A	sua	fundação	ocorre	num	período	de	intensas	lutas	de	
classes,	de	combatividade	operária,	de	sérias	dificuldades	fiscais	e	de	crise	no	Estado	para	
a	elaboração	de	um	definido	projeto	das	classes	dominantes.
Se	a	primeira	escola	católica	de	serviço	social	foi	fundada	depois	da	primeira	
escola	laica,	isto	não	quer	dizer	que	só	a	partir	da	criação	do	seu	centro	de	
formação	a	Igreja	decidiu	intervir	nesse	terreno.	Sem	dúvida,	ela	[a	Igreja]	ti-
nha	precedência	na	assistência	social,	exercendo-a	sob	arraigada	inspiração	
religiosa,	 com	 seus	 agentes	 operando	 um	 apostolado	 que	 sustentava	
inúmeras	“obras	de	misericórdia”	com	os	vultuosos	recursos	de	que	dispunha	
(CASTRO,	2006,	p.	72).
A	 Igreja	 Católica	 busca	 uma	 estratégia	 de	 continentalização	 do	 Serviço	 Social,	
como	parte	do	seu	projeto	de	recuperação	de	hegemonia,	bem	como
Procurava	 colocar-se	 à	 frente	 do	 conjunto	 do	 movimento	 intelectual	 para	
recuperar	a	função	de	condutora	da	moral	da	sociedade.		Comprimida	entre	
o	pragmatismo	burguês	e	o	‘ateísmo’	socialista,	a	Igreja	Católica	redobrava	a	
sua	ação	nos	terrenos	mais	diversos,	renovando	os	seus	intelectuais	orgâni-
cos	e	dotando-os	dos	instrumentos	de	intervenção	requeridos	pelo	momento	
(CASTRO,	2006,	p.	73).
Em	1929,	criou-se	a	primeira	a	primeira	escola	Católica	de	Serviço	Social,	chamada	
de	Escola	Elvira	Matte	de	Cruchaga.	Desde	o	primeiro	momento	cobriu	o	amplo	espaço	da	
questão	social,	e	essa	escola	concebe	o	Serviço	Social	como	uma	vocação.
A	Igreja	se	via	impedida	–	e	aqui	radica	o	novo	caráter	da	assistência	social	
–	a	situar-se	no	 interior	da	questão	social	emergente	com	a	modernização	
capitalista.	Tratava-se	 de	 atender	 não	mais	 às	 vítimas	 das	 pestes	 ou	 aos	
semi-libertos	de	um	ordem	social	ainda	não	depurada,	mas	de	voltar	os	olhos	
para	os	que	suportavam	as	consequências	de	uma	ordem	que	mercantiliza	a	
força	de	trabalho,	redefine	família,	promove	concentrações	urbanas,	incorpo-
ra	ao	salariato	a	mulher,	origina	novas	doenças,	etc.	(CASTRO,	2006,	p.	73).
A	visitadora	social,	proveniente	da	classe	burguesa,	com	educação	familiar	e	virtu-
des	cristãs,	devia	combinar	a	esses	requisitos	a	ciência	e	a	técnica	para	obter	desempenho	
eficaz.
Tanto	a	Escola	Del	Rio	como	a	Elvira	Matte	de	Cruchaga	tiveram	início	com	a	in-
fluência	europeia;	a	influência	norte	americana	tornou-se	evidente	após	a	Segunda	Guerra	
31UNIDADEI A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Mundial.	Os	projetos	de	ação	das	escolas	se	colocavam	como	instrumentos	funcionais	à	
defesa,	ao	resguardo	e	à	forma	de	regime	da	classe	vigente.
A	Escola	Elvira	Matte	de	Cruchaga,	articulando	a	formação	profissional	de	Serviço	
Social	aos	interesses	da	Igreja	Católica,	elegeu	requisitos	básicos	para	que	se	pudesse	ser	
aluna	do	curso:	
[...]	 ter	21	anos	completos	e	menos	de	35.	Apresentar	atestado	médico	de	
boa	saúde;	apresentar	declaração	de	antecedentes	probatórios	de	honora-
bilidade	 e	 recomendação	 paroquial;	 ter	 bom	 aproveitamento	 nos	 estudos	
fundamentais	de	ciências	humanas;	apresentação	de	um	texto	manuscrito,	
contendo	um	resumo	de	sua	história	pessoal	(COSTA,	2006,	p.	79).
O	que	pode	ser	confirmado	na	citação	a	seguir.	Leia	com	bastante	atenção	qual	era	
o	perfil	da	assistente	social	(antes	chamada	de	visitadora	social)	que	se	buscava:
[...]	 a	 formação	 das	 visitadoras	 sociais	 católicas,	 que	 desenvolvam	 suas	
atividades	à	base	de	uma	verdadeira	caridade	cristã;	visitadoras	que	não	só	
cuidem	do	aspecto	material	dos	seus	assistidos,	mas	que	se	dediquem	com	
amor	a	tratar	também	de	suas	almas	[...].	Baseando-se	nestes	princípios,	a	
escola	concebe	o	Serviço	Social	mais	que	uma	simples	profissão	–	concebe-
-a	como	vocação,	para	qual	são	tão	necessários	os	conhecimentos	técnicos	
como	o	amor.	Portanto	o	fim	colimado	pela	Escola	é	conseguir	formas	visita-
doras	que,	onde	forem,	levem	a	paz,	transmitam	alegria,	ofereçam	segurança	
e	confiança,	abrindo	o	seu	coração	a	todos	que	necessitam	de	ajuda	e	de	
orientação.	Tais	visitadoras	hão	de	ser	as	mais	alegres,	 tolerantes	e	com-
preensivas,	as	mais	 inteligentes	e	as	mais	amáveis	de	 todas	as	mulheres	
que	se	entreguem	a	este	 trabalho.	Hão	de	ser	sadias	de	alma	e	corpo,	 já	
que	deverão	comunicar	esta	saúde	e	esta	força	aos	que	nunca	as	tiveram	
ou	aos	que	delas	se	vêem	privados	pelas	vicissitudes	da	vida	(ESCUELA	DE	
SERVIÇO	SOCIAL	ELVIRA	MATTE	DE	CRUCHAGA,	s.d.,	p.	7-8).
Fica	evidente	a	questão	religiosa,	bem	como	a	busca	de	um	elitismo,	que	só	abrangia	
as	damas	da	sociedade,	pois	ligado	aos	requisitos	havia	taxas	de	matrículas.	Ressalta-se,	
contudo,	mesmo	com	forte	viés	religioso,	a	Escola	apresentava	uma	real	aproximação	da	
ciência	e	da	técnica,	uma	preocupação	metodológica	que	foi	dando	contornos	a	essa	nova	
profissão.
A	Escola	Elvira	Matte	de	Cruchaga	 representou	não	 só	uma	possibilidade	
diversificada	 de	 ação	 profissional,	 mas	 também	 um	 centro	 de	 educação	
especializado	que	definiu	a	sua	fisionomia	a	partir	do	Serviço	Social	católico	
–	 com	decisiva	 influência	 europeia,	 é	 certo	 –	 e	 onde	membros	 ilustres	da	
burguesia	puderam	desenvolver	as	suas	mais	arraigadas	convicções	doutri-
nárias	(CASTRO,	2006,	p.	76).
O	programa	de	formação	prévia	tem	três	anos	de	duração,	sendo	dividido	em	duas	
partes:	teórica	e	prática.	A	parte	teórica	é	composta	pelos	estudos	sobre:	religião,	psico-
logia,	pedagogia,	sociologia,	economia	social,	assistência	social,	direito,	 instrução	cívica,	
anatomia,	fisiologia,	higiene	privada	e	pública	e	ética	profissional	(COSTA,	2006).
Dentre	os	programas	que	tratavam	das	questões	práticas,	tinha-se	o
32UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
tratamento	de	caso	social	individual,	encaminhamentos	jurídicos,	técnicas	de	
escritório	e	estatísticas,	contabilidade,	primeiros	socorros,	cuidados	domici-
liares	à	doentes,	 puericultura,	 nutricionismo,	 trabalhos	manuais,	 exercícios	
de	 oratória.	 Os	 cursos	 práticos	 incluíam	 nutricionismo,	 corte	 e	 costura	 e	
puericultura	(COSTA,	2006,	p.	80).
A	ênfase	na	questão	de	saúde	relacionava-se	aos	problemas	derivados	das	pés-
simas	condições	de	salubridade	resultantes	do	reordenamento	capitalista	da	economia	e	
da	sociedade,	bem	como	antecedentes	que	aproximavam	o	Serviço	Social	e	Enfermagem	
–	com	influência	da	Europa.
Alguns	anos	após	a	sua	fundação,	a	Escola	Elvira	Matte	de	Cruchaga	organizou	
as	“Semanas	de	Estudos”,	orientadas	para	o	aperfeiçoamento	técnico	e	espiritual	das	visi-
tadoras	sociais	já	formadas.	Com	esses	eventos	regulares,	a	Escola	mantinha	um	contato	
permanente	com	suas	ex-alunas,	conhecia	o	seu	desempenho	profissional,	assimilava	as	
experiências,	reforçava	o	idealismo	e	o	espírito	religioso	de	suas	egressas.
A	Escola	Elvira	Matte	 de	Cruchaga	 recebeu	 da	União	Católica	 Internacional	 de	
Serviço	Social	(UCISS),	com	sede	em	Bruxelas,	a	tarefa	de	fomentar	o	Serviço	Social	Ca-
tólico	na	América	Latina,	o	que	ela	acatou,	passando	a	enviar	aos	países	vizinhos	folhetos	
explicativos	sobre	a	profissão,	visitas	às	autoridades	e	contato	nas	escolas	superiores.
Quanto	ao	objetivo	da	UCISS,	tem-se	que	a	União	deveria
[...]	propiciar	a	difusão	do	Serviço	Social	católico,	e	relacionar	as	diferentes	
obras	 e	 pessoas	 que	 nele	militam	 através	 de	 publicações,	 conferências	 e	
congressos.	A	UCISS	é	o	centro	de	orientações	e	direcionamento	das	expe-
riências	que	se	realizam	em	distintos	países	e	hão	de	servir	como	estímulo	
e	guia	para	o	futuro	desenvolvimento	do	Serviço	Social	católico	(CASTRO,	
2006,	p.	94).
A	Escola	de	Serviço	Social	desenvolveu	trabalhos	de	estudo	sistemático	da	reali-
dade	social,	orientando	à	“melhoria	da	situação	das	classes	necessitadas”,	como	também	
a	preocupação	em	colaborar	com	a	legislação	do	país.	Surge	aqui	um	importante	elemento	
de	diferenciação	em	face	das	formas	anteriores	de	assistência	social.	A	Escola	Elvira	Matte	
de	Cruchaga,	reconhecendo	o	papel	mediador	do	Estado	para	normatizar	as	relações	entre	
o	capital	e	o	trabalho,	reordenou	a	intervenção	profissional,	partindo	da	compreensão	da	
função	das	visitadoras	sociais	que,	por	sua	proximidade	e	conhecimento	dos	problemas	
sociais,	teriam	condições	para	sugerir	leis	e	regulamentos.
Foi	uma	época	em	que	a	Igreja	se	reservava	exclusivamente	para	os	auxílios	das	
camadas	sociais	dominantes	que	desejam	atuar	junto	às	áreas	de	assistência	social.	Há,	
na	perspectiva	desta	Escola,	um	esforço	para	conquistar	uma	 funcionalidade	no	 interior	
das	relações	entre	as	classes,	propondo	soluções	aos	problemas	deste	angulo	do	Estado.
33UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Em	1937	surge	a	Escola	de	Montevidéu	(Uruguai)	a	partir	dos	trabalhos	realizados	
e	visitas	de	profissionais	da	Escola	Elvira	Matte	de	Cruchaga	(Chile).	Logo	em	seguida,	no	
ano	de	1939,	surge,	no	Paraguai,	a	Escola	Polivalente	de	Visitadoras	de	Higiene;	em	1940,	
a	Escola	Católica	de	Serviço	Social,	em	Buenos	Aires	 (Argentina),	após	na	Colômbia	e	
Venezuela,	evidenciado,	assim,	a	importância	histórica	do	Chile	na	construção	do	Serviço	
Social	na	América	Latina.
4.2 Serviço Social no Peru
A	década	de	1920	 trouxe	mudanças	para	a	história	do	Peru.	Léquia	governou	o	
país	nos	anos	de	1919	a	1930,	quando	ocorria	a	subordinação	ao	capital	norte	americano,	
exportação	das	riquezas	minerais	para	os	Estados	Unidos.
Em	1929,	com	a	crise	internacional,	devido	à	quebra	da	Bolsa	de	Valores	de	Nova	
York,	a	economia	peruana	foi	afetada,	pois	tinha	boa	parte	dos	recursos	públicos	depen-
dentes	de	financiamento	externo.	O	preço	das	matérias	primas	caiu	e	reduziu-se	a	expor-
tação,	ocasionando	crise	de	desemprego.	Nesse	período	ocorreram	lutas	e	movimentos	de	
classes	e	populares.
●	 1931	-	Eleições:	não	trouxeram	estabilidade.	Houve	um	atentado	contra	o	então	
presidente,	Sanchez	Cerro,	sendo	responsável	a	Aliança	Popular	Revolucioná-
ria	Americana	(APRA),	que	alimentou	e	patrocinou	várias	rebeliões	que	foram	
violentamente	reprimidas	pelas	forças	armadas.	
●	 1933	–	Sanchez	Cerro	é	assassinado	e	a	Assembleia	entrega	o	poder	ao	Gene-
ral	Oscar	R.	Benavides.
●	 1936	–	Benavides	convocou	eleições	e	foi	impedido	de	participar	sob	a	alega-
ção	de	ser	um	partido	internacional,	porém	apoiou	Luiz	Antônio	Eguigurem,	que	
ganhou	as	eleições.	O	governo	pedido	a	anulação	das	eleições,	soba	alegação	
de	que	o	presidente	eleito	se	beneficiou	dos	votos	de	um	partido	internacional	e	
Benavides	proclamou-se	Presidente.
Benavides,	na	segunda	etapa	de	seu	governo,	compreendeu	que	a	repressão	e	a	
violência	não	impediam	a	mobilização	popular,	então	adotou	medidas	sociais	em	favor	do	
povo	peruano,	dentre	elas:
●	 Regulamentação	de	pagamento	de	hora	extra;
●	 Remuneração	do	feriado	de	primeiro	de	maio;
●	 Criação	do	Seguro	Social	Operário;
●	 Restaurantes	populares;
●	 Criação	de	bairros	populares	em	Lima	(capital	do	Peru);
●	 Criação	do	Ministério	de	Saúde	Pública,	Trabalho	e	Previsão	Social;	Reorgani-
zação	do	Ministério	da	Educação.
34UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
Em	1937,	criou-se	a	Lei	8530	–	Fundação	da	Escola	de	Serviço	Social	do	Peru	
(ESSP),	que	surge	vinculada	ao	Ministério	da	Saúde	Pública,	Trabalho	e	Previsão	Social.	
Francisca	Benavides	(Primeira	Dama	do	país)	interveio	diretamente	na	formação	da	Escola	
de	Serviço	Social	do	Peru	(ESSP)	,	com	a	ajuda	da	ação	Católica	e	da	União	Católica	de	
Serviço	Social.
A	ESSP	deveria	contribuir	com	parte	do	pessoal	que	trabalharia	naquele	ministério,	
bem	como	com	outras	instituições	que	estavam	surgindo	em	decorrência	das	medidas	do	
governo	Benavides.	Assim,	o	surgimento	dessa	escola	está	mais	 ligado	à	expansão	e	a	
modernização	estatal	do	que	à	demanda	procedente	do	setor	privado.
A	Escola	de	Serviço	Social	do	Peru	foi	precedida	por	outras	tentativas	de	organi-
zação	e	formação	de	agentes	sociais.	Em	1931,	o	Instituto	da	Criança	criou	a	Escola	de	
Visitadoras	Sociais	de	Higiene	Infantil	e	Enfermeira	de	Puericultura,	ampliando	a	interven-
ção	do	Estado	no	campo	dos	cuidados	à	infância.	Essa	escola	teve	curta	duração	devido	
a	interesses	políticos,	pois	fora	fundada	por	iniciativas	do	governo	Léquia,	quando	este	já	
estava	fora	do	poder.
Houve,	 então,	 com	a	 criação	da	Escola	de	Serviço	Social	 do	Peru,	 a	 rivalidade	
desta	com	a	Escola	de	Visitadoras	Sociais,	devido	ao	restrito	mercado	de	trabalho,	influindo	
para	a	mudança	da	titulação	profissional	da	Escola	de	Serviço	Social	do	Peru	de	visitadora	
social	para	Assistente	Social.
Esses	 conflitos	evidenciavam	a	 indefinição	profissional	 entre	 visitadoras	 sociais,	
enfermeiras,	 nutricionistas	 e	 assistentes	 sociais,	 na	 medida	 que	 existia	 uma	 constante	
superposição	de	funções	que	cada	profissão	reclamada	como	sua.
A	Escola	de	Serviço	Social	do	Peru	revelava	a	concretização	de	três	projetos	distin-
tos,	porém	ideologicamente	unidos:
1.	 Igreja:	como	estratégia	de	continentalização	de	sua	influência	sobre	o	Serviço	
Social	na	busca	de	resgatar	sua	função	de	condução	da	moral	da	sociedade,	
dentro	de	uma	estrutura	capitalista	vigente.
2.	 Estado:	mediar	conflitos	oriundos	da	estrutura	de	produção	ligada	ao	capitalista	
dependente	e	subordinação	externa,	bem	como	estabelecer	clima	de	estabilida-
de	interna,	assegurando	a	própria	permanência	política	do	governo.
3.	 Medicina:	 responder	 de	 forma	 mais	 eficiente	 aos	 problemas	 médico-sociais	
decorrentes	das	condições	de	trabalho	e	moradia	da	população	trabalhadora.
35UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
A	Igreja,	através	da	Ação	Católica,	contando	com	o	apoio	de	Christine	de	Hemptine,	
centrava-se	no	âmbito	das	requisições	da	Igreja	e	de	sua	ação	social,	no	Peru	e	no	con-
tinente.	O	médico	Venceslau	Molina	defendia	a	formação	de	assistentes	sociais,	a	fim	de	
promover	a	saúde	por	via	da	educação.
A	formação	acadêmica	enfatizava	a	preparação	doutrinária,	tanto	através	de	cursos	
explicitamente	ministrados	para	esse	fim	(religião,	ética	profissional,	moral)	quanto	median-
te	cadeira	de	cariz	científico	(que	eram	marcadas	por	uma	orientação	predominantemente	
introdutória	e	formativa).
O	 primeiro	 plano	 de	 estudos	 estimulava	 também	a	 preocupação	 para	 trabalhos	
considerados	propriamente	femininos	(como	economia	doméstica)	que,	em	larga	medida	
constituíam	o	corpo	instrumental	da	profissão.	As	alunas	da	Escola	de	Serviço	Social	do	
Peru	eram	provenientes	das	classes	altas	da	sociedade	e	as	escolas	as	distanciavam	do	
ambiente	universitário	que,	no	Peru,	tinha	influência	das	ideias	de	esquerda	e,	assim,	as	
elites	não	suprimiam	as	suas	reticências	quanto	a	incorporação	da	mulher	no	trabalho.
Para	as	pioneiras	da	profissão,	a	opção	pelo	Serviço	Social	era	–	tal	como	no	caso	
chileno	–	algo	ligado	mais	à	vocação	que	à	profissão.	Outro	aspecto	material,	como	remu-
neração,	não	era	questionado	devido	às	primeiras	assistentes	sociais	não	dependerem	do	
salário	para	viver.	Assim	o	próprio	caráter	de	sub	profissional	não	era	questionado	e	a	sua	
autonomia	ligada	aos	pareceres	de	outras	profissões,	como	o	da	medicina	e	o	direito.
Por	fim,	encerro	esta	unidade	com	as	considerações	de	 Iamamoto	acerca	desta	
breve	história	do	Serviço	Social:	
[...]	não	significa	apenas	uma	revisão	do	passado,	mas	 instiga	 indagações	
sobre	o	presente.	Em	tempos	de	globalização,	sob	a	hegemonia	do	capital	
financeiro	 e	 do	 neoliberalismo	 na	 condução	 das	 políticas	 governamentais,	
renascem,	 sob	 novos	 moldes,	 velhos	 recursos	 e	 ideológicos	 que	 tiveram	
vigências	 no	 passado	 desenvolvimentista	 no	 trato	 da	 questão	 social	
(IAMAMOTO,	2000	apud	CASTRO,	2006,	p.	179).
E	agora	eu	te	pergunto:	valeu	a	experiência?	Ampliou	seu	conhecimento?	Espero	
que	sim,	pois	cada	vez	mais	essa	profissão	nos	encanta	e	apaixona	pela	história	de	luta	em	
prol	do	ser	humano.
36UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Veja	bem	como	a	história	da	nossa	profissão	traz	elementos	significativos	e	muito	
importantes	para	a	sua	 formação.	Sem	saber	de	onde	viemos	enquanto	profissão,	 sem	
sabermos	nossa	história,	dificilmente	entenderemos	as	bandeiras	e	posicionamentos	ado-
tados	pela	profissão	atualmente.	Temos	muito	orgulho	de	nossa	história,	não	somente	no	
Brasil	(como	veremos	adiante)	mas	em	todo	o	mundo.
Iniciamos	nossa	unidade	estudando	sobre	a	origem	do	Serviço	Social,	as	suas	raízes	
históricas	e	sua	relação	com	a	Igreja	Católica,	o	processo	de	racionalização	da	assistência	
e	o	entendimento	enquanto	necessidade	humana	e	cidadã.	Em	breve	você	compreenderá	
como	a	assistência	foi	considerada	um	direito	previsto	na	Constituição	Federal	de	1988.
Você	conseguiu	compreender	a	origem	da	questão	social	e	como	ela	se	tornou	o	
objeto	de	intervenção	profissional	do	Serviço	Social,	em	que	o	homem	é	o	foco	da	ação	
profissional.
Em	seguida	você	conheceu	como	a	profissão	foi	se	desenvolvendo	em	diferentes	
países	da	Europa,	Estados	Unidos	e	América	Latina	(Chile	e	Peru),	onde	tivemos	diferentes	
personagens	que	contribuíram	para	a	construção	do	Serviço	Social.	Uma	construção	co-
nectada	com	movimentos	sociais	e	econômicos	da	sociedade,	sempre	voltada	para	o	bem	
comum.
A	marca	 trazida	pela	profissão	nos	 faz	compreender	que	não	existe	 justiça	sem	
luta,	empenho	e	determinação.	Muitas	profissões	fazem	parte	dessa	história	e	essa	marca	
precisa	estar	presente	na	sua	formação	e	durante	toda	a	sua	atuação	profissional.
A	seguir	iremos	conhecer	um	pouco	sobre	a	história	do	Serviço	Social	Brasileiro	e	
você	conseguirá	compreender	algumas	questões	presentes	em	nossa	profissão	até	os	dias	
atuais	e	de	onde	vêm	algumas	imagens	atreladas	à	profissão.	Esse	conhecimento	fará	com	
que	você	consiga	compreender	que	a	sua	escolha	pelo	Serviço	Social	foi	acertada	e	que	
você	tem	uma	grande	missão	pela	frente!
Até	a	próxima	e	bons	estudos!
37UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina
LEITURA COMPLEMENTAR
Quando o Serviço Social surgiu? 
No	Brasil,	as	primeiras	escolas	de	Serviço	Social	surgiram	no	final	da	década	de	1930,	
quando	se	desencadeou	no	país	o	processo	de	industrialização	e	urbanização.	Nas	déca-
das	de	1940	e	1950,	houve	um	reconhecimento	da	importância	da	profissão,	que	foi	regu-
lamentada

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