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1 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Farmácia Trabalho de Conclusão de Curso O CUIDADO FARMACÊUTICO NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS Autor: Júlia Carneiro Taulois Orientadora: MSc. Eloá Fátima Ferreira deMedeiros Brasília - DF 2011 2 JULIA CARNEIRO TAULOIS O CUIDADO FARMACÊUTICO NO TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS Monografia apresentada ao curso de graduação em Farmácia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Farmacêutica. Orientadora: MSc. Eloá Fátima Ferreira de Medeiros Brasília 2011 3 Monografia de autoria de Júlia Carneiro Taulois, intitulada O cuidado farmacêutico no tratamento do Diabetes Mellitus, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Farmácia da Universidade Católica de Brasília, em 08 de Junho de 2011, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: Prof. MSc. Eloá Fátima Ferreira de Medeiros Orientadora Farmácia – UCB Professora Dr. Dayde Lane Mendonça da Silva Curso de Farmácia – UNB Professor Sérgio Augusto Coelho Diniz Nogueira Júnior Curso de Farmácia - UCB Brasília 2011 4 Dedico este trabalho a Deus e a pessoas muito especiais na minha vida, Papai, Mamãe e ao meu amor Rone, que não medem esforços nem sacrifícios para permitir a realização dos meus sonhos, fazendo deles os seus. 5 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus por seu amor e sua misericódia infinita, pelos presentes diários, os desafios e as todas as conquistas. Nada posso sem Aquele que me fortalece! Tudo é Graça e Dom de Deus! A minha querida mamãe Rosana e ao meu querido papai Pedro por todo o amor, confiança e exemplo de vida. Obrigada por sempre acreditarem em mim! Ao grande amor da minha vida, Rone, obrigada por tanto incentivo, paciência e compreensão. Eu te amo. As minhas irmãs Mariana e Isabel, e ao meu tesouro Paulo Henrique. As minhas amigas Lu, Mariana, Lívia. Christiane e Rafaela, ao amigo William e a todos os meus colegas que compartilharam de tanta luta durante o período que estivemos juntos. A minha querida orientadora e amiga Eloá por todo o trabalho, paciência, carinho e incentivo. A todos os bons professores que já tive, com os quais muito aprendi a amar minha profissão e que continuo a aprender por toda a minha vida profissional. A todos os que sempre estiveram ao meu lado me incentivando e que permitiram que este sonho fosse realizado. 6 “O Altíssimo deu-lhes a ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas; e dela se serve para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis, compõe ungüentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará, até que a paz divina se estenda sobre a face da terra”. Eclesiástico 38, 6-8 7 RESUMO Referência: TAULOIS, Júlia Carneiro. O cuidado farmacêutico no tratamento do Diabetes Mellitus. 2011. 60p. Trabalho de Conclusão de Curso (Farmácia) – Universidade Católica de Brasília, Taguatinga, 2011. O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica que está associada a altos índices de morbidade e mortalidade, sendo caracterizada por um aumento da concentração de glicose na corrente sanguínea devido a uma deficiência na secreção e/ou ação da insulina. Associados ao paciente diabético estão os elevados custos com medicamentos, aumento nas despesas médicas e no número de hospitalizações, perda na produtividade e mortes prematuras. O DM é uma doença que deve ser tratada, a fim de evitar complicações agudas e crônicas. Apesar do arsenal terapêutico, do longo período de tratamento medicamentoso e das medidas que exigem mudança no estilo de vida, o paciente diabético requer a orientação e cuidados de vários profissionais da saúde. A Atenção Farmacêutica (AF) é uma prática recente, inerente a profissão farmacêutica, que tem como foco o paciente. Com isso, o profissional farmacêutico passa a intervir de forma direta com o usuário do medicamento, priorizando orientações educativas em saúde, além do acompanhamento farmacoterapêutico, assumindo a responsabilidade de garantir uma farmacoterapia adequada e auxiliando na melhora deste paciente. Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Atenção Farmacêutica. Atenção Farmacêutica no paciente diabético. Intervenções farmacêuticas. 8 ABSTRACT Diabetes Mellitus (DM) is a chronic disease that is associated with high rates of morbidity and mortality and is characterized by an increased concentration of glucose in the bloodstream due to a deficiency in the secretion and / or insulin action. Diabetic patients are associated with high medication costs, increase in medical expenses and an increase in the number of hospitalizations, loss in productivity and premature deaths. DM is a disease that must be treated in order to prevent acute and chronic complications. Despite the therapeutic arsenal, the long period of medication treatment and measures that require changes in lifestyle, the diabetic patient requires the guidance and care of various health professionals. The Pharmaceutical Care (PC) is a recent practice, inherent in the pharmaceutical profession, which focuses on the patient. Thus, the pharmacist shall intervene directly with the user of the product, focusing health education guidelines, and monitoring drug use, taking responsibility to ensure an adequate pharmacotherapy and assisting in the improvement of this patient. Keywords: Diabetes Mellitus. Pharmaceutical Care. Pharmaceutical Care in diabetic patients. Pharmaceutical interventions. 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10 2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 122 2.1 GERAL............................................................................................................................ 12 2.2 ESPECÍFICOS ................................................................................................................ 12 3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 133 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 144 4.1 DIABETES MELLITUS .................................................................................................. 14 4.1.1 Formas de diagnóstico do Diabetes Mellitus ......................................................................... 16 4.2 O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO DIABETES MELLITUS NO MUNDO E NO BRASIL ................................................................................................................................. 19 4.3 MORBIDADE E MORTALIDADE ASSOCIADAS AO DIABETES MELLITUS ........... 20 4.4 CUSTOS ASSOCIADOS AO DIABETES MELLITUS .................................................. 21 4.5 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS NO PACIENTE DIABÉTICO ................................. 23 4.5.1 Prevenção ........................................................................................................................................ 23 4.5.2 Tratamento....................................................................................................................................... 25 4.6 PROBLEMAS DA TERAPÊUTICA DO DIABETES MELLITUS.................................. 32 4.6.1 Reações adversas ......................................................................................................................... 33 4.6.2 Adesão .............................................................................................................................................. 34 4.6.3 Acesso .............................................................................................................................................. 38 4.7 ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CUIDADO AO PACIENTE .............................. 40 4.7.1 Atenção Farmacêutica .................................................................................................................. 41 4.7.2 Problemas Relacionados ao Medicamento (PRMs) .............................................................. 45 4.7.3 Estudos que avaliam a atenção farmacêutica no paciente diabético .............................. 48 5 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 54 10 1 INTRODUÇÃO O Diabetes Mellitus (DM), entre as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), se destaca como importante causa de morbidade e mortalidade, sendo um grande problema de saúde pública no contexto mundial e brasileiro (FRANCISCO et al, 2010). O paciente diabético necessita de, no mínimo, 2 a 3 vezes mais recursos para o cuidado com a saúde do que os não-diabéticos (TOSCANO, 2004), gerando um grande impacto econômico. Em 2007, só os Estados Unidos tiveram um gasto calculado em $174 bilhões entre custos diretos e indiretos com esta doença, enquanto que no Brasil R$7,5 bilhões/ano são gastos com todas as doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT). Além desses custos, o DM gera custos intangíveis, que refletem na redução da qualidade de vida, na dor e sofrimento dos pacientes e dos seus familiares (ADA, 2008; MS, 2006). Os altos custos gerados pelos pacientes diabético estão diretamente relacionados com a freqüência em que ocorrem as complicações agudas e crônicas, tendo como conseqüências elevados índices de hospitalização, maiores necessidades dos recursos de saúde e medicamentos, além de gerar perdas de produtividade no trabalho, aposentadoria precoce e mortes prematuras (CAROLINO et al, 2008). Para diminuir esses custos gerados, principalmente pelo não tratamento ou pelo mau controle do DM, é importante que ocorram mudanças nos hábitos de vida e que se faça um controle glicêmico rígido por meio do tratamento farmacológico (GUIDONE, 2009a). Outro problema está relacionado com a baixa adesão ao tratamento proposto o que leva ao abandono e ao descontrole da doença. Os baixos índices de adesão à terapêutica, em pacientes com doenças crônicas, estão diretamente relacionados aos efeitos adversos, custo dos medicamentos, compreensão do paciente a respeito do seu tratamento, complexidade do tratamento, entre outros (RUBIN, 2005). Segundo a OMS, em média, 50% dos pacientes com tratamento a longo prazo, em países desenvolvidos, não aderem ao tratamento. Já em países em desenvolvimento, estima-se que o tamanho e o impacto da não-adesão sejam mais elevados devido as dificuldades de acesso aos cuidados de saúde (OMS, 2003b). 11 A Atenção Farmacêutica (AF) é uma área de atuação do farmacêutico, que tem como foco o paciente, constituindo um importante e fundamental elo na comunicação médico-farmacêutico-paciente. Na atenção farmacêutica o farmacêutico é responsável por prevenir, identificar e resolver os possíveis Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRMs), promovendo a melhora dos resultados terapêuticos e assim contribuindo para uma melhor qualidade de vida do paciente. O farmacêutico também pode atuar na prevenção de doenças e promoção da saúde, desenvolvendo atividades de educação em saúde, principalmente quando este trabalho ocorre com uma equipe interdisciplinar (AMARAL, 2008; FREITAS et al, 2006; REIS, 2010). Diante do exposto é percebido que o farmacêutico tem o um papel importante no cuidado do paciente diabético, sendo assim, o objetivo deste trabalho é descrever a importância das ações do farmacêutico como profissional da saúde no cuidado ao paciente diabético. 12 2 OBJETIVOS 2.1 GERAL Descrever a importância das ações do farmacêutico como profissional da saúde no cuidado ao paciente diabético. 2.2 ESPECÍFICOS Classificar os tipos de DM conforme as alterações fisiopatológicas. Descrever o perfil mundial e nacional de acometimento de DM. Descrever os custos (diretos e indiretos) associados ao DM. Apresentar as formas de tratamento para os diferentes tipos de DM. Abordar os principais problemas relacionados à terapêutica do DM. Demonstrar o papel do farmacêutico no cuidado do paciente por meio de estudos relacionados à Atenção Farmacêutica no cuidado ao paciente diabético. 13 3 METODOLOGIA A revisão bibliográfica foi realizada nas bases de dados do MEDLINE, Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca virtual em saúde (BVS) e Scielo (Scientific Eletronic Library Online) com as palavras-chave em inglês e português: “pharmacist”, “diabetes mellitus”, “diabetes mellitus type 1”, “diabetes mellitus type 2”, “pharmaceutical”, “pharmaceutical care”, “medication”, “Insulin”, “atenção farmacêutica”, “cuidado farmacêutico”, “Pharmaceutical interventions”, “Prevention of type 2 diabetes”, “Adherence”, “Assessment of adherence”. Os artigos analisados foram publicados no período de 2000 a 2011, sendo incluídos na pesquisa artigos em inglês, português e espanhol. 14 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 DIABETES MELLITUS O Diabetes Mellitus (DM) constitui um grande problema saúde pública e destaca-se pelos altos índices de morbidade e mortalidade. O DM é caracterizado por um aumento da concentração de glicose na corrente sanguínea devido a uma deficiência na secreção e/ou ação da insulina, hormônio secretado pelo pâncreas. Por ser uma síndrome metabólica crônica, o quadro hiperglicêmico crônico do DM pode gerar a disfunção em diversos órgãos como: coração, nervos, olhos e rins. A poliúria, polidipsia, perda de peso, visão turva e diminuição da acuidade visual são sinais e sintomas do quadro hiperglicêmico decorrentes da insulinopenia ou déficit na ação da insulina (ADA, 2006; OMS, 2003a). Outros sintomas, como fadiga, fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar, balanopostite e infecções de repetição levantam a suspeita clínica (MS, 2006). Por muito tempo, o DM foi classificado de acordo com o tipo de tratamento, sendo assim adotados os termos Diabetes Mellitus insulinodependente e Diabetes Mellitus insulinoindependente. Atualmente a classificação baseia-se na etiologia da doença, sendo então divida em: Diabetes Mellitus tipo 1, Diabetes Mellitus tipo 2, outros tipos específicos de Diabetes Mellitus e Diabetes Mellitus gestacional (SBD, 2007). O Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é resultado da destruição das células β- pancreáticas que podem ser de natureza auto imune ou idiopática, resultando em uma deficiência na produção do hormônio insulina. Sendo assim, faz-se necessário a administração da insulina devido ao risco de cetoacidose diabética. Devido a natureza auto-imune, os auto-anticorpos são utilizados como marcadores: antiinsulina, antidescarboxilase do ácido glutâmico (GAD 65) e antitirosina- fosfatases (IA2 e IA2B). Os genes do sistema antígeno leucocitário humano (HLA) podem ter alguma relação com a predisposição ou proteção no desenvolvimentoda doença. Já no de natureza idiopática, os pacientes também estão predispostos a desenvolver cetoacidose e a apresentam graus variáveis de deficiência de insulina, não apresentam auto-anticorpos e não associa-se com haplótipos do sistema HLA (ADA, 2006; SBD, 2007). 15 O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é mais freqüente que DM1, correspondendo a aproximadamente 90-95% dos casos. No pacientes com DM2, a resistência insulínica está associada à disfunção das células β pancreáticas e as alterações são funcionais e quantitativas, resultando em uma elevação dos níveis glicêmicos. A etiologia deste tipo de DM ainda não foi definida, mas os mecanismos que podem estar envolvidos nessa disfunção são o estresse oxidativo, a disfunção mitocondrial, o estresse do retículo endoplasmático rugoso, inflamação local ou mecanismos associados à predisposição genética. A hiperglicemia e o aumento da concentração dos ácidos graxos livres também contribuem para o declínio das células β pancreáticas. É importante ressaltar que o risco ao desenvolvimento da doença é aumentado com a idade, obesidade, sedentarismo, e está associado a outras enfermidades como, por exemplo, hipertensão e dislipidemia (ADA, 2006; LEAL; VOLTARELLI, 2010; OMS, 2003a). O Diabetes Mellitus gestacional (DMG) afeta 3-8% das mulheres grávidas e representa 90% de todas as formas de manifestação do DM na gestação. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2007, p.12), “Diabetes Mellitus gestacional é qualquer intolerância a glicose, de magnitude variável, tendo início ou diagnóstico durante a gestação”. Após o parto, a paciente pode apresentar ou não glicemia de jejum alterada, tolerância a glicose diminuída ou DM. O quadro de hiperglicemia gera risco elevado tanto para mãe quanto para o feto podendo causar anormalidades congênitas, abortamentos espontâneos, icterícia neonatal, hipoglicemia neonatal, entre outras complicações. Estudos comprovam a importância da terapia nutricional e do exercício físico no tratamento para o adequado do controle glicêmico em gestantes com DMG (LEE et al, 2007; LIRA; DIMENSTEIN, 2010; SBD, 2007). Os outros tipos específicos do Diabetes Mellitus estão exemplificados na tabela 1. 16 Tabela 1 - Outros tipos específicos do Diabetes Mellitus Outros tipos específicos de DM Defeitos genéticos da função da célula β (MODY, DNA mitocondrial) Defeitos genéticos na ação da insulina (Resistência à insulina do tipo A) Doenças do pâncreas exócrino (pancreatite, hemocromatose, neoplasias) Endocrinopatias (acromegalia, síndrome de Cushing, Feocromocitoma) Induzido por medicamentos ou agentes químicos (glicocorticóides, tiazídicos, Hormônio tireoidiano) Infecções (citomegalovírus, rubéola congênita) Formas incomuns de DM auto-imune (Anticorpos antirreceptores de insulina) Outras síndromes genéticas por vezes associadas a DM (síndrome de Down, síndrome de Turner, síndrome de Prader Willi) Fonte: SBD (2009) - Adaptado 4.1.1 Formas de diagnóstico do Diabetes Mellitus A hiperglicemia intermediária ou pré-diabetes referem-se a um estado intermediário entre a homeostase normal da glicose e o DM. Neste caso, o paciente apresenta uma alteração na glicemia de jejum e um quadro de tolerância à glicose diminuída e alteração na hemoglobina glicada (ADA, 2010). Sendo assim, o paciente apresenta uma alteração dos níveis glicêmicos que gera um grande risco ao desenvolvimento do DM e riscos para doenças cardiovasculares (MS, 2006). A tabela 2 resume as categorias de aumento do risco do DM. 17 Tabela 2: Categorias de risco aumentado para DM Glicemia de jejum 100–125 mg/dl Tolerância à glicose diminuída Glicemia de 2h no TOTG-75g estiver entre 140- 199 mg/dL Hemoglobina Glicada (A1C) 5.7–6.4% Fonte: ADA (2010) – Adaptado Os valores da glicose plasmática para o diagnóstico do Diabetes Mellitus estão exemplificados na tabela 3. Tabela 3: Valores de glicose plasmática (em mg/dl) para diagnóstico de Diabetes Mellitus e seus estágios pré-clinicos. Categoria Jejum* 2h após 75g de glicose Casual** Glicemia normal < 100 < 140 Tolerância à glicose diminuída > 100 a <126 ≥140 a <200 Diabetes Mellitus ≥126 ≥ 200 ≥ 200 (com sintomas clássicos) * O jejum é definido como a falta de ingestão calórica por no mínimo 8 horas; ** glicemia plasmática casual é aquela realizada a qualquer hora do dia, sem se observar o intervalo desde a última refeição; *** os sintomas clássicos de DM incluem poliúria, polidipsia e perda não explicada de peso. Nota: O diagnóstico de DM deve sempre ser confirmado pela repetição do teste em outro dia, a menos que haja hiper-glicemia inequívoca com descompensação metabólica aguda ou sintomas óbvios de DM. Fonte: SBD (2007) A dosagem da hemoglobina glicosilada ou hemoglobina glicada, mais especificamente a fração A1C (HbA1C) reflete na média da glicemia dos últimos dois a quatro meses. Atualmente, a A1C é utilizada no diagnóstico e acompanhamento do tratamento do paciente diabético. A Associação Americana de Diabetes (ADA) adota um limiar ≥ 6,5 que corresponde a 140 mg/dL dos níveis médios de glicemia dos últimos dois a quatro meses, os pacientes com dosagens de A1C de 5,7-6,4% são indicativos de alto risco para desenvolvimento de DM futura ou pré-diabético 18 (ADA, 2010). A A1C também pode ser utilizada em complementaridade com os outros testes de glicemia, sendo assim, a hemoglobina glicada é utilizada na avaliação do controle glicêmico e na avaliação da eficácia do tratamento. (SBD, 2007; SBD, 2008). Os níveis de A1C demoram de 8 a 10 semanas, aproximadamente, para retomarem ao normal após a normalização dos níveis da glicose no sangue. Para uma avaliação da eficácia do tratamento, faz-se necessário uma avaliação dos níveis de A1C somente um a dois meses após o início ou modificação da terapia. Já a avaliação dos níveis de glicose sanguínea reage mais rapidamente ao início ou à alteração da terapia (NETTO et al, 2009). A tabela 4 reúne os atuais critérios utilizados pela Associação Americana de Diabetes (ADA) no diagnóstico do DM. Tabela 4 – Critérios para o diagnóstico do DM 1. A1C≥ 6,5%. A prova deve ser executada num laboratório usando um método certificado pelo NGSP e padronizado pelo ensaio de DCCT.* OU 2. Glicose plasmática em jejum Glicose plasmática de jejum ≥126 mg/dl (7,0 mmol/l). O jejum é definido como nenhuma ingestão calórica por no mínimo 8 h.* OU 3. Glicemia plasmática ≥ 200 mg/dL (11.1 mmol/l) depois de 2 horas durante TOTG. O teste ser executado como descrito pela Organização mundial de saúde, usando uma carga de glicose contendo o equivalente de 75 glicose dissolvido em água.* OU 4. Em paciente com sintomas clássicos de hiperglicemia ou crise hiperglicêmica, com glicose plasmática casual ≥200 mg/dl (11,1 mmol/l). * Na ausência de hiperglicemia inequívoca, critérios 1–3 devem ser confirmados com repetição da prova. Nota: NGSP - National Glycohemoglobin Standardization Program DCCT- Diabetes Control and Complications Trial Fonte: ADA (2010) 19 4.2 O PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO DIABETES MELLITUS NO MUNDO E NO BRASIL O mundo vem passando por um envelhecimento populacional, fator conhecido como transição demográfica, e por uma modificação na qualidade de vida com aumento dos índices de sedentarismo, má alimentação e tabagismo. Toda esta mudança contribui de forma significativa para um aumento da incidência das doenças crônicas não-transmissíveis (DNCT), que representam a principal causa mundial de mortalidade e incapacidade funcional. O DM é uma DNCT e se tornou um importante problema de saúde pública no Brasil e em vários outros países (OPAS, 2003; TOSCANO, 2004). A prevalênciamundial do DM em adultos foi estimada em 4,0% em 1995 e pode aumentar para 5,4% até o ano 2025, o que equivalerá a aproximadamente 300 milhões de diabéticos (KING, 1998). Segundo Wild e colaboradores (2004) o Brasil em 2000 ocupou o 8° lugar com 4,6 milhões de pessoas diagnosticadas com DM, estando entre os dez países com maior número de casos de DM, podendo este número chegar a 11,3 milhões em 2030 ocupando a sexta posição (WILD et al, 2004). Em 2005, a estimativa foi de que 11,0% da população brasileira com idade igual ou superior a 40 anos apresentariam DM, o que representa cerca de 5 milhões de indivíduos, devendo alcançar 10 milhões de pessoas em 2010 (MS, 2006; e FERREIRA, 2008). Em 2006, foi realizado um estudo em Ribeirão Preto e determinou-se uma prevalência do DM de 15,02% da população estudada. Segundo o autor, estes resultados podem ser referentes ao envelhecimento populacional observado em Ribeirão Preto (MORAES et al, 2010). Já em um estudo sobre a prevalência de Diabetes Mellitus auto-referido em idosos com 60 anos de idade ou mais, demonstrou uma prevalência de 15,4%. Os resultados foram semelhantes a uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) em diversas cidades do Brasil, que obteve uma prevalência auto-referida em torno de 15% (FRANCISCO et al, 2010). Nos Estados Unidos, a prevalência do DM continua crescendo, alcançando em 2007, 17,5 milhões de pessoas (ADA, 2008). 20 Atualmente, estima-se uma prevalência mundial em torno de 4,0% e, no Brasil, de aproximadamente 7,6%. Até 2030, espera-se que o número de casos de DM no mundo possa chegar a 367 milhões (WILD et al, 2004). 4.3 MORBIDADE E MORTALIDADE ASSOCIADAS AO DIABETES MELLITUS Associados ao DM estão os altos índices de morbidade e mortalidade, com uma perda expressiva da qualidade de vida, diminuindo a capacidade de trabalho e a expectativa de vida. Quando o DM não é tratado adequadamente ou o controle glicêmico não é ideal, complicações agudas e crônicas podem ocorrer (Tabela 5). As comorbidades associadas ao DM são obesidade, hipertensão e dislipidemia (TOSCANO, 2004). É importante ressaltar que tais complicações podem ser retardadas ou prevenidas quando o paciente possui controle e cuidados adequados (GUIDONE, 2009a). Tabela 5 - Complicações agudas e crônicas do DM Complicações agudas Complicações crônicas ü Cetoacidose diabética ü Hipoglicemia ü Acidose lática ü Estado hiperosmolar hiperglicêmico Microvasculares ü Retinopatia ü Nefropatia ü Neuropatia Macrovasculares ü Amputações ü Disfunção sexual ü Doenças cardiovasculares ü Doenças vasculares periféricas ü Doenças cerebrovasculares Fonte: GUIDONE (2009a); TOSCANO (2004) Em um estudo multicêntrico realizado com pacientes com DM2, em cidades brasileiras, observou uma prevalência de sobrepeso (42,1%) e de obesidade (32,9%). Segundo os autores, estes dados indicam que o sobrepeso e a obesidade já atingem um percentual de pacientes com DM2 no Brasil semelhante ao relatado 21 em estudos europeus, mas ainda menor do que o observado nos EUA (GOMES, 2006). A hipertensão afeta de 20 a 60% dos pacientes diabéticos e constitui uma importante comorbidade do DM (ADA, 2004). No Brasil, o DM junto com a hipertensão arterial, é responsável pela principal causa de mortalidade, de hospitalizações e de amputações de membros inferiores (MS, 2006). Anualmente, segundo dados da OPAS, pouco mais de 800 mil mortes são atribuídas ao DM, sendo que a maioria das vezes o DM é causa de morte secundária como, por exemplo, doenças cardiovasculares. Já o Ministério da Saúde estima que 4 milhões de mortes por ano são relativas ao DM e suas complicações (com muitas ocorrências prematuras), o que representa 9% da mortalidade mundial total (MS, 2006; OPAS, 2003). Os 73% das mortes atribuídas ao DM ocorrem entre os idosos com 70 anos ou mais (ADA, 2008). 4.4 CUSTOS ASSOCIADOS AO DIABETES MELLITUS Atualmente, verifica-se um aumento nos custos do tratamento do paciente diabético, fatores como prevalência da doença, novos casos diagnosticados, aumento na utilização de serviços médicos, desenvolvimento de novas tecnologias para o tratamento, aumento no número e na gravidade das complicações ao longo do tempo contribuem para este aumento (GUIDONE, 2009a). Muitas vezes os custos do DM são subestimados, pois não consideram as comorbidades associadas à doença (BARCELÓ, 2003). Grandes perdas sociais e econômicas estão relacionados ao DM causando um considerável impacto em virtude da demanda financeira gerada por esta síndrome e suas complicações. Estes custos, indiretos e diretos, estão associados às inúmeras complicações que geram altos gastos em hospitalizações, perdas na produtividade, aposentadoria precoce e mortes prematuras (BARCELÓ, 2001). Os custos indiretos muitas vezes não são possíveis mensurar, pois refletem na redução da qualidade de vida, na dor, ansiedade, sofrimento dos pacientes e seus familiares, principalmente quando não controlada (GUIDONE, 2009b). Alguns dos custos indiretos associados ao DM são: ausência no trabalho devido a fatores 22 relacionados à saúde, redução do desempenho no trabalho, produtividade reduzida no trabalho, incapacidade de desenvolvimento permanente das atividades no trabalho e perda da produtividade por morte prematura. Nos EUA, o custo nacional por perda de produtividade associada ao DM em 2007 foi estimado em 58,2 bilhões dólares (ADA, 2008). O Brasil não dispõe de estudos que quantificam os gastos gerados pelos custos indiretos (MS, 2005) Os custos diretos são relacionados a gastos com medicamentos, internações, consultas médicas, consulta a outros profissionais de saúde, cirurgias, atendimentos de urgência e emergência (ADA, 2008). Mundialmente, os custos diretos para o atendimento aos portadores do DM variam de 2,5% a 15% dos investimentos nacionais em saúde, dependendo da prevalência local e da complexidade do tratamento disponível (GUIDONE, 2009a). No Brasil, os pacientes diabéticos contribuem para os elevados custos gerados pelas doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT). Estima-se que R$7,5 bilhões/ano, que representam 69,1% do total de gastos ambulatoriais e hospitalares, são gastos com DCNT (MS, 2005, MS, 2006). Nos EUA, em 2007, foi estimado um gasto de 174 bilhões de dólares em DM, em que 66% correspondem a excesso de despesas médicas e 34% corresponde à perda na produtividade. Os pacientes com diagnóstico de DM têm despesas médicas aproximadamente 2,3 vezes maiores do que seriam na ausência da doença (ADA, 2008). Em 2000, estudos na América Latina e no Caribe estimaram que o custo direto anual do DM seja de 10,7 bilhões de dólares ou 701 dólares por pessoa (BARCELÓ, 2003). Caporale e colaboradores (2006) realizaram um estudo na Argentina e concluiram que o custo anual total dos pacientes portadores de DM hospitalizados foi de seis a sete vezes superiores quando comparados aos portadores não hospitalizados. Estes autores também sugerem a importância de intervenções médicas mais eficazes, para que se obtenha uma redução dos custos do atendimento e uma melhora na qualidade de vida do paciente pela redução no número de internações (CAPORALE et al, 2006). 23 4.5 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS NO PACIENTE DIABÉTICO O tratamento do paciente diabético envolve diversos fatores e é de grande importância que as abordagens dos profissionais de saúde tenham como focos os seguintes pontos (ADA, 2010): Controle glicêmico rígido por meio da dieta, da mudança do estilo de vida, do exercício físico e do tratamento medicamentoso. Tratamento de distúrbios associados, tais como dislipidemia, hipertensão, obesidade, coronariopatia, entre outros. Pesquisa e tratamento das complicações da enfermidade, tais como retinopatia,doença cardiovascular, nefropatia, neuropatia ou outras complicações Medidas preventivas em pacientes com risco de desenvolver Diabetes Mellitus ou pacientes já diagnosticados auxiliam na redução dos agravos relacionados à doença. Estas medidas têm um papel importante, pois reduzem significativamente a morbimortalidade e podem gerar maior qualidade de vida. Já o tratamento adequado é responsável por uma melhor qualidade de vida do paciente diabético, sendo assim, os profissionais de saúde devem priorizar um cuidado integral e adequado à estes pacientes (CASSEB, 2005; FERREIRA, 2008; MS, 2004;). 4.5.1 Prevenção A prevenção tem seu foco na promoção da saúde e não exclusivamente no controle da doença. O desafio dos países, atualmente, é definir e implementar estratégias efetivas para a prevenção e controle de várias doenças (MS, 2004). A prevenção do DM e de suas complicações é hoje prioridade de órgãos fomentadores de políticas públicas, pois é possível reduzir os índices de mortalidade, melhorar o prognóstico e qualidade de vida dos doentes, apresentando 24 uma relação custo / benefício muito favorável (MS, 2004). Por isso, o desenvolvimento de programas eficazes e viáveis aos serviços públicos de saúde para a prevenção do DM é necessário para que se obtenha um controle da incidência e prevenção de suas complicações metabólicas (SARTORELLI, 2006). Os resultados que podem ser obtidos com a implementação de medidas preventivas são: melhoria na qualidade de vida, redução dos custos do controle da doença, redução dos custos dos tratamentos de suas complicações, podendo até reduzir os índices de mortalidade (FERREIRA et al, 2005). A portaria n° 95, de 26 de janeiro de 2001 do Ministério da Saúde estabelece a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS 01/2001) que tem como objetivo definir as responsabilidades e ações estratégicas mínimas da atenção básica a várias doenças, entre elas, ao DM. Sendo assim, as responsabilidades e atividades da atenção básica ao DM incluem: diagnóstico de casos, pela investigação de usuários com fatores de risco; cadastramento dos portadores; busca ativa de casos; tratamento dos casos, pelo acompanhamento ambulatorial e domiciliar e na educação terapêutica; do fornecimento de medicamentos e curativos; monitoramento dos níveis de glicose dos pacientes; diagnóstico precoce de complicações; primeiro atendimento de urgência; encaminhamento de casos graves para outros níveis de complexidade; medidas preventivas e de promoção da saúde através de ações educativas sobre condições de risco (obesidade,vida sedentária), ações educativas para prevenção de complicações (cuidados com os pés, orientação nutricional, cessação do tabagismo e alcoolismo; controle da PA e das dislipidemias) e ações educativas para auto-aplicação de insulina (BRASIL, 2001). Essas ações são atividades em que o profissional farmacêutico, com seus conhecimentos técnico-científcos, poderiam atuar pelo seguimento farmacoterapêutico. A tabela 6 apresenta os tipos de prevenção do DM e de suas complicações na atenção básica. 25 Tabela 6 - Tipos de prevenção do DM e de suas complicações na atenção básica TIPO DE PREVENÇÃO CARACTERÍSTICAS PREVENÇÃO PRIMÁRIA Prevenção de fatores de risco para DM como sedentarismo, obesidade e hábitos alimentares não saudáveis. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA Diagnóstico precoce de vários tipos de DM. Prevenção das complicações metabólicas do DM. PREVENÇÃO TERCIÁRIA Tratamento dos indivíduos já afetados pela doença. Intensificação do controle de pacientes já diagnosticados visando prevenir complicações agudas e crônicas. Fonte: MS (2006); FERREIRA (2008). 4.5.2 Tratamento Quando trata-se de intervenção terapêutica no paciente diabético, recomenda-se utilizar o tratamento não medicamentoso e o tratamento medicamentoso (SBD, 2007). O objetivo do tratamento é manter os níveis de glicose dentro de valores que não promovam danos a órgãos importantes ao organismo, reduzindo desta forma a incidência e a severidade das complicações (FLORES, 2005). É importante lembrar que o esquema terapêutico no tratamento do DM deve levar em consideração a presença de fatores de risco como a hipertensão, obesidade, dislipidemia, entre outras comorbidades que podem estar associadas ao DM (FERREIRA, 2008). Inicialmente, recomenda-se como terapia de primeira escolha, em qualquer tipo de DM, o tratamento não medicamentoso que engloba medidas educativas, mudanças dos hábitos de vida como a prática de exercícios físicos frequentes, alimentação adequada e balanceada, redução ou abandono de vícios como o tabagismo e da ingestão de bebidas alcoólicas (ADA, 2011; INZUCCHI, 2002). Estas 26 medidas favorecem um melhor controle dos níveis glicêmicos, do metabolismo e do peso corporal (GUIDONE, 2009a; INZUCCHI, 2002). No momento em que o paciente passa a não responder ao tratamento não medicamentoso ou deixa de fazê-lo, torna-se necessário associar o tratamento medicamentoso utilizando um ou mais dos possíveis antidiabéticos orais (ADOs) e/ou insulina para se obter o controle glicêmico e promover a diminuição dos níveis da hemoglobina glicada (SBD, 2007). No tratamento do DM1, utiliza-se a insulina exógena em consequência à diminuição patológica desse hormônio (SBD, 2007). A insulinoterapia é a opção terapêutica no tratamento do DM tipo 1 e deve-se ser administrada no intuito de mimetizar o padrão fisiológico de insulina. Ela pode ser administrada de três ou mais doses de insulina basal e prandial por dia (NPH e regular); ou administração dos análogos de insulina (lispro e asparte) que são insulinas obtidas por técnicas de DNA recombinante. O tratamento também permite fazer uma contagem de carboidratos e administrar quantidades insulina prandial correspondentes a quantidade de carboidratos que serão ingeridos na refeição. Sendo assim é possível alterar a dose da insulina em função da quantidade de carboidratos. As medidas não medicamentosas também são necessárias no controle metabólico do DM 1, mas como neste tipo do DM há uma deficiência de insulina, o tratamento medicamentoso é considerado primeira escolha (ADA, 2011). A tabela 7 resume as principais características dos perfis de ação das preparações insulínicas disponíveis. Tabela 7 – PERFIS DE AÇÃO DAS INSULINAS HUMANAS E DOS ANÁLOGOS DE INSULINA HUMANA Insulinas Humanas Tipo de insulina Início Pico de ação Duração da ação Ultra-rápida Análogos de Insulina de ação ultra-rápida Glulisina < 5 - 15 minutos 1 hora 4 horas Lispro < 15 minutos 0,5-1,5 horas 2-4 horas Asparte 5-10 minutos 1-3 horas 3-5 horas Rápida Regular 30-60 minutos 2-3 horas 3-6 horas 27 Intermediária NPH 2-4 horas 4-10 horas 10-16 horas Longa Análogos de insulina de longa duração Glargina 1-2 horas Não tem Até 24 horas Detemir 1-2 horas Não tem Até 24 horas Fonte: SBD (2009b) A figura 1 e figura 2, apresentam o perfil de ação das insulinas e um exemplo de esquema de insulinoterapia intensa, respectivamente. Figura 1 - Perfil de ação das insulinas (SBD, 2010) Figura 2 – Esquema de insulinoterapia intensa (SBD, 2010) 28 O tratamento do DM2, quando não responsivo ao tratamento não medicamentoso, faz necessário a administração dos antidiabético orais (ADO) que podem ser prescritos isoladamente ou em associações. Para a escolha do ADO deve-se observar os níveis plasmáticos de glicose em jejum e pós-prandial, valores da hemoglobina glicada, custo, mecanismos de ação, estágio da doença, segurança e eficácia do medicamento, e também fatores relacionados ao paciente como peso, idade, doenças associadas, uso de medicamentos e possíveisinterações medicamentosas (MS, 2002; NATHAN et al, 2006; SBD, 2007). Fazem parte dos antidiabéticos orais os agentes que incrementam a secreção pancreática de insulina (sulfonilureias e glinidas); os que reduzem a velocidade de absorção de glicídios (inibidores das alfaglicosidases); os que diminuem a produção hepática de glicose (biguanidas); os que aumentam a utilização periférica de glicose (glitazonas), análogos e os agonistas do GLP-1 (Incretinomiméticos) e/ou agentes que aumentam a secreção de insulina glicose- dependente e diminuem a secreção de glucagon (inibidores da DDP-IV ou gliptinas), (SBD, 2009a). A tabela 8 apresenta as opções farmacológicas para o tratamento do Diabetes Mellitus. O tratameto do DM2 pode ser iniciado muitas vezes com a monoterapia, mas as associações podem ser necessárias devido a característica progressiva da doença. A metformina é recomendada como terapêutica inicial e em geral, tem poucos efeitos adversos, custo relativamente baixo e boa aceitação. Ao atingir a dose máxima da metformina e ocorrer falha com o tratamento, recomenda-se acrescentar outro medicamento, sendo que a escolha do medicamento vai depender de características específicas do paciente e do seu quadro clínico (NATHAN et al, 2006; SBD, 2007). É importante ressaltar que cada paciente necessitará de um tratamento distinto, considerando sempre o estágio que a doença se encontra e outros fatores, citados acima, que são importantes na escolha do ADO. A SBD recomenda o fluxograma a seguir (Tabela 9) que é um algoritmo que pode auxiliar no manejo do tratamento. 29 Tabela 8 – Opções farmacológicas para o tratamento do Diabetes Mellitus CLASSES FÁRMACOS PERFIL E MECANISMO DE AÇÃO Inibidores da alfaglicosidase Acarbose Retarda a absorção intestinal de glicose. Baixo potencial de redução da A1C (0,5 – 0,8%). Intolerância gastrintestinal. Biguanidas Metformina Reduz primariamente a produção hepática de glicose e combate a resistência à insulina. Alto potencial de redução da A1C (2%). Intolerância gastrintestinal. Não causa hipoglicemia. Pode promover discreta perda de peso. Contra-indicada na disfunção renal. Glitazonas Rosiglitazona Pioglitazona Combate primariamente a resistência à insulina e reduz a produção hepática de glicose. Aumentam a sensibilidade do músculo, tecido gorduroso e fígado à insulina. Potencial intermediário de redução de A1C (0,5 – 1,4%). Promovem retenção hídrica e ganho de peso, aumentando o risco de insuficiência cardíaca. Também aumentam o risco de fraturas. Sulfoniluréias Clorpropamida Glibenclamida Glipizida Gliclazida Gliclazida MR Glimepirida Estimulam a produção endógena de insulina pelas células beta do pâncreas, com duração de ação de média a prolongada (8- 24 horas). Úteis para o controle da glicemia de jejum e da glicemia de 24 horas. Alto potencial de redução de A1C (2%). Podem causar hipoglicemia. Clorpropamida e glibenclamida apresentam maior risco de hipoglicemia. Uma alegada ação deletéria em células beta humanas ainda não está estabelecida. Glinidas Repaglinida Nateglinida Estimulam a produção endógena de insulina pelas células beta do pâncreas, com duração rápida de ação (1-3 horas). Úteis para o controle da hiperglicemia pós-prandial. Potencial intermediário de redução de A1C (1,0 – 1,5%). Podem promover aumento de peso e hipoglicemia. A repaglinida é mais potente que a nateglinida. Incretinomiméticos e Inibidores da DPP-4 Exenatida Vildagliptina Sitagliptina Esta é uma nova classe terapêutica para o tratamento do DM, cujo mecanismo inclui o estímulo das células beta para aumentar a síntese de insulina e a ação nas células alfa do pâncreas reduzindo a produção de glucagon. O glucagon tem efeito de aumentar a glicemia. Potencial médio de redução da A1C (0,5 – 0,8%, dependendo do valor basal de A1C). Não causam hipoglicemia. Intolerância gastrointestinal e ocorrência de pancreatite (exenatida). Fonte: SBD (2009a) - Adaptada 30 Tabela 9 – ALGORITMO PARA O TRATAMENTO DO DIABETES TIPO 2 – ATUALIZAÇÃO 2009 – ETAPA 1: CONDUTA INICIAL CONFORME A CONDIÇÃO CLÍNICA ATUAL Manifestações leves Manifestações moderadas Manifestações severas Hospitalização se glicemia >300 mg/dL •Glicemia <200 mg/dL + •Sintomas leves ou ausentes + •Ausência de outras doenças agudas concomitantes • Qualquer glicemia entre 200 e 300 mg/dL + • Ausência de critérios para manifestação leve ou grave • Qualquer glicemia acima de 300 mg/dL = Ou = • Perda significante de peso = Ou = • Sintomas graves e significantes = Ou = • Presença de cetonúria Nas seguintes condições: • Cetoacidose diabética e estado hipereosmolar = Ou = • Doença grave intercorrente ou comorbidade Metformina (500 mg/dia, intensificando até 2.000 mg/dia) + modificações de estilo de vida. Se não atingir A1C<7% em 4 a 6 semanas. Nota: Em caso de intolerância à metformina, as formulações de ação prolongada podem ser úteis. Persistindo o problema, escolha uma das opções da Etapa 2 Metformina (500 mg/dia, intensificando até 2.000 mg/dia) + modificações de estilo de vida + outros antidiabéticos orais CRITÉRIOS PARA INCLUSÃO DE SEGUNDO ADO. Iniciar insulinoterapia imediatamente. Iniciar a terapia de acordo com as recomendações do algoritmo e conforme o controle glicêmico obtido após a alta. 31 ETAPA 2: ADICIONAR OU MODIFICAR SEGUNDO AGENTE CONFORME NÍVEL DE A1C. 7- 8% 8-10% >10% • Sulfoniluréia • iDPP-4 • Glitazona • Glinidas (predomínio de hiperglicemia pós-prandial) • Acarbose (predomínio de hiperglicemia pós-prandial) • Exenatida (sobrepeso ou obesidade) • Sulfoniluréia • iDPP-4 • Glitazona • Insulina basal ao deitar • Exenatida (sobrepeso ou obesidade) Insulinoterapia • Insulina basal + insulina prandial Com ou sem: • Metformina • Sulfoniluréia • iDPP-4 (estudos em andamento) MONITORAÇÃO E AJUSTES NO TRATAMENTO APÓS 2-3 MESES COM DOSES MÁXIMAS EFETIVAS PARA ATINGIR AS METAS: A1C<7%, GLICEMIA DE JEJUM <130 mg/dL OU GLICEMIA PÓS-PRANDIAL (2 HORAS) <160 mg/dL ETAPA 3: ADICIONAR UM TERCEIRO AGENTE ORAL OU INTENSIFICAR O TRATAMENTO INSULÍNICO. Adicionar um terceiro ADO com diferente mecanismo de ação. Se em 2 ou 3 meses não atingir as metas de A1C<7%, glicemia de jejum <130 mg/dL ou glicemia pós-prandial (2 horas) <160 mg/dL, iniciar insulinização. Intensificar a insulinização até atingir as metas de A1C<7%, glicemia de jejum <130 mg/dL ou glicemia pós-prandial (2 horas) <160 mg/dL. Abreviações: A1C = hemoglobina glicada; iDPP-4 = inibidores da dipeptidil peptidase-4; ADO = antidiabéticos orais. Fonte: SBD (2009b) No tratamento da Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) recomenda-se iniciar com controle dietético para manter controle metabólico adequado, nutrição materno- fetal e ganho ponderal recomendado, com refeições balanceada, com menor volume, intervalos regulares (5-6 refeições por dia). A prática de atividades físicas pode ser recomendado desde que não se tenha nenhuma contra-indicação obstétrica e que evite exercícios de alto impacto ou que predisponham à perda de equilíbrio. Quando o controle glicêmico não é atingido com estas medidas, inicia-se a insulinoterapia (PADILHA et al, 2010). A metformina pode ser uma opção 32 terapêutica no tratamento do DMG, mas poucos são os ensaios clinicos que avaliam a segurança e eficácia de seu uso (ROWAN et al, 2008). A utilização de terapias com células-tronco (CT) pluri ou multipotentes no tratamento do Diabetes Mellitus já estão sendo estudados.Os estudos em animais são muitos, já em humanos são raros relatos que verificaram o efeito de tratamento com CT sobre o controle glicêmico no DM devido a várias dificuldades. Os desafios para a utilização da terapia regenerativa são muitos e inúmeras são as necessidades de novas estratégias no tratamento do DM (LEAL; VOLTARELLI, 2010). A cirurgia bariátrica, que surgiu como um tratamento para obesidade mórbida, hoje é considerada uma opção terapêutica no tratamento do DM2 e pode levar à melhoria ou resolução do DM. Ainda não existem dados sobre o impacto da cirurgia nas complicações crônicas micro e macrovasculares do DM (SPECTOR; SHIKORA, 2010). A meta-análise e revisão da literatura realizada por Bushwald e colaboradores (2004) mostraram que de todos os tipos de cirurgias bariátricas a resolução das manifestações clínicas do DM ocorreu em 76,8% dos pacientes, enquanto o controle do DM melhorou em 86% dos casos. Atualmente, muitos aspectos sobre o tratamento cirúrgico do DM2 ainda são questionáveis e inexplicáveis, ainda não está claro qual o aspecto do procedimento cirúrgico é responsável pelo aumento observado na sensibilidade a insulina, sabe-se que a perda de peso é importante, mas acredita-se que outros mecanismos também estejam envolvidos, e vários são os estudos que estão sendo realizados para tentarem explicar tais efeitos (MINGRONE; CASTAGNETO-GISSEY, 2009). 4.6 PROBLEMAS DA TERAPÊUTICA DO DIABETES MELLITUS Alguns problemas podem estar associados à terapêutica do Diabetes Mellitus, a seguir os mesmos serão abordados mais detalhadamente. 33 4.6.1 Reações adversas A Reação Adversa a Medicamento (RAM) é definida como “uma resposta a um medicamento que é nociva e não-intencional e que ocorre nas doses normalmente usadas em seres humanos” (OPAS; OMS, 2005a). As RAMs são responsáveis por causas significativas de hospitalizações, aumento de tempo de permanência hospitalar, causas de óbitos, afetam a qualidade de vida do paciente, aumentam os custos e influenciam na adesão ao tratamento (MENON et al., 2005; RUBIN, 2005). É importante ressaltar que reação adversa é diferente de efeito colateral. Sendo assim define-se efeito colateral como sendo “qualquer efeito não-intencional de um produto farmacêutico, que ocorre em doses normalmente utilizadas por um paciente, relacionadas às propriedades farmacológicas do medicamento” (OPAS; OMS, 2005a). A metformina é um antidiabético oral (ADO) muito utilizado no tratamento do DM, o efeito adverso mais significativos são os distúrbios gastrointestinais, incluindo náuseas, vômitos, anorexia e diarréias. Estes efeitos ocorrem particularmente durante o início do tratamento e quando o escalonamento da dose é muito rápida. Tais efeitos adversos podem prejudicar na adesão ao tratamento, mas os mesmos dissipam ao longo do tratamento. Doses baixas no início do tratamento e o uso de formulações de liberação prolongada ajudam a reduzir tais reações adversas (FOWLER, 2007; PETRIE et al, 2011) A grande problema da insulinoterpia é a falta de adesão ao tratamento devido ao alto índice de hipoglicemia gerada por estes medicamentos. A hipoglicemia acomete 90% da pessoas tratadas com a insulina, mas esse risco pode ser diminuido pela insulinização adequada e com um monitoramento diário dos níveis de glicose no sangue por meio do teste de glicemia capilar. Os sintomas da hipoglicemia podem ser classifcados em duas categorias: os neurogênicos ou autonômicos e os neuroglicopênicos (NERY, 2008). A tabela 10 exemplifica alguns dos sinais e sintomas da hipogligemia. 34 Tabela 10 - Sinais e sintomas da hipogligemia Sintomas neuroautonômicos (causados pela resposta autonômica) Sintomas neuroglicopênicos (causados pela concentração reduzida de glicose no SNC) Falta de estabilidade, tremor Ansiedade Nervosismo Palpitações Sudorese Pele pegajosa Boca seca Fome Palidez Dilatação da pupila Sensações estranhas (calor, formigamentos) Irritabilidade Confusão mental Difculdade de raciocínio Difculdade de fala Visão borrada Ataxia Parestesias Dor de cabeça Confusão mental Convulsão Coma Morte Fonte: NERY (2008) 4.6.2 Adesão O conceito de adesão varia entre vários autores, segundo LEITE & VASCONCELLOS (2003, p. 777), a adesão “é compreendida como a utilização dos medicamentos prescritos ou outros procedimentos em pelo menos 80% de seu total, observando horários, doses, tempo de tratamento.” O Projeto Adesão da Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua a adesão como a participação voluntária e ativa do paciente no seu tratamento, em que seus comportamentos representados pela ingestão de medicamentos, seguimento da dieta, mudanças no estilo de vida correspondem e concordam com as recomendações de um médico ou outro profissional de saúde dividindo assim as responsabilidades (OMS, 2003b). Na adesão, o paciente participa ativamente e diretamente no tratamento, no que diz respeito a freqüência das consultas, modificações dos hábitos e comportamentos que contribuem efetivamente para um bom tratamento (COUTO, 2010). 35 Pacientes diabéticos requerem mudanças de vidas e na maioria das vezes, uma grande quantidade de medicamentos, porém os benefícios do tratamento adequado podem ser limitados devido à falta de adesão ao tratamento (RUBIN, 2005). A falta de acesso ao medicamento, de conhecimento acerca da doença e dos medicamentos, presença de reações adversas, polifarmácia, entre outros, contribuem para não adesão a farmacoterapia. Para investigação da adesão, fatores relacionados ao paciente, sociais, à relação profissional-paciente, ao esquema terapêutico e à doença podem ser utilizados (Figura 3). É evidente em vários estudos que quando o paciente confia na prescrição e na equipe de saúde, e entende a forma como vem sendo conduzido seu tratamento e a sua importância, a adesão é verificada e o profissional de saúde influencia na promoção da adesão (GIMENES et al, 2009; LEITE; RUBIN, 2005; VASCONCELLOS, 2003). Figura 3 – Fatores que influenciam na adesão (MACHADO, 2008). Sistema de saúde / Equipes de saúde Fatores socioeconômicos Fatores relacionados à terapêutica Fatores relacionados ao paciente Fatores relacionados à doença 36 Um importante problema no tratamento das doenças crônicas está nos baixos índices de adesão ao tratamento. Vários aspectos no tratamento do DM contribuem para a baixa adesão, são eles: mudança do estilo de vida, esquemas terapêuticos complexos, desconfortos, necessidade de monitoramento e vigilância, e ter como meta a prevenção ou controle dos sintomas e não a cura da doença (COELHO et al., 2008). Os três elementos do tratamento e da própria doença têm sido associados com a adesão: a complexidade do tratamento, a duração da doença e prestação de cuidados que são necessários (OMS, 2003b) A não adesão a tratamentos é comum e contribui para aumento do número de mortes, agravos das doenças e aumento dos custos no cuidado a saúde. Nos Estados Unidos, de todas as internações hospitalares relacionadas com a medicação, 33-69% são devidos à má adesão à farmacoterapia, com um custo resultante de aproximadamente $ 100 bilhões por ano (OSTERBERG; BLASCHKE, 2005). Em estudo que monitorou a adesão a prescrição de sulfoniluréias por pacientes com DM tipo 2, utilizando o método MEMS (Medication Event Monitoring System), obteve-se 93% de adesão ao tratamento com antidiabéticos orais, neste mesmo estudo, quando utilizou-se a contagem de comprimidos, obteve-se adesão de 87% para o tratamento com 2 ou 3 comprimidos por dia (WINKLER et al, 2002). Segundo os resultados publicados pelo estudo DAWN (Diabetes Attitudes, Wishes and Needs Study), a adesão ao tratamento medicamentoso do DM1 e DM2 foi de 83% e 78%, respectivamente.Já a adesão a dieta e exercício físico foi de, aproximadamente, 72% e 36%, respectivamente (PEYROT et al, 2005). Outro estudo realizado em um centro de pesquisa e extensão universitária do interior paulista, no Programa de Educação em Diabetes, em 2007, os autores observaram uma adesão ao tratamento de 78,3%. O estudo avaliou também a prevalência da adesão em outros fatores que podem influenciar neste comportamento do paciente ao tratamento. Em relação aos fatores referentes à relação profissional-paciente, a adesão ao tratamento medicamentoso foi maior nos pacientes que referiram ter recebido informações acerca da doença (84,6%) e informações específicas em relação ao medicamento prescrito (86,7%). Dos pacientes que referiram efeitos colaterais relacionados ao medicamento, a 37 prevalência de adesão foi 70%. Já os que não referiram efeitos colaterais foram 93,8% (GIMENES et al., 2009, FARIA, 2008). Outro desafio dos profissionais da saúde está na adesão do paciente diabético ao tratamento não-medicamentoso, tais como: atividade física, mudanças dos hábitos alimentares, uso do álcool e tabaco. Em estudo realizado por Couto (2010), 78,1% dos diabéticos referiram não seguir regularmente a dieta recomendada e 87,5% referiram não praticar nenhuma atividade física. Vários métodos podem ser utilizados para melhorar a adesão ao tratamento. A tabela 11 apresenta algumas intervenções que podem facilitar a adesão do paciente ao tratamento. Tabela 11 - Intervenções para facilitar a adesão ao tratamento Objetivo/Meta Intervenção Recorde e melhore a compreensão do tratamento Reforças os benefícios percebidos do tratamento Minimizar os efeitos adversos Minimizar os custos Minimizar a complexidade do tratamento Facilitar o bem-estar emocional Verificar a compreensão do paciente durante a consulta Utilize auxílios visuais Esclarecer o alívio dos sintomas limitados Encontrar benefícios a longo prazo Discutir e monitorar Fazer ajustes necessários Discutir e monitorar Alterar o tratamento quando adequado Monitorar Alterar o esquema quando necessário Verificar sintomas de depressão Tratar pacientes deprimidos Considerar sofrimentos relacionados ao diabetes Promover a educação em DM Fonte: RUBIN (2005) – Adaptado São poucos os relatos e as informações na literatura a respeito da adesão do paciente diabético. Sendo assim, fazem-se necessárias outras investigações a 38 respeito da adesão ao tratamento medicamentoso em DM (GIMENES et al, 2009; RUBIN, 2005). 4.6.3 Acesso O falta de acesso a medicamentos, principalmente os de uso contínuo, pode levar ao agravamento do quadro clínico do paciente, aumentar os gastos com a atenção secundária e terciária e interferir na adesão farmacoterapêutica. Muitos pacientes não têm acesso ao medicamento por não terem condições financeiras para aquisição ou por muitas vezes não encontrar na rede pública devido a baixa disponibilidade e descontinuidade da oferta destes produtos (PANIZ et al, 2008). Segundo a Lei nº 8.080/90, o acesso universal e gratuito a serviços públicos e a medicamentos essenciais padronizados pelo SUS são garantidos pela Constituição. A OMS define medicamentos essenciais: São aqueles que servem para satisfazer às necessidades de atenção à saúde da maioria da população. São selecionados de acordo com a sua relevância na saúde pública, evidência sobre a eficácia e a segurança e os estudos comparativos de custo efetividade. Devem estar disponíveis em todo momento, nas quantidades adequadas, nas formas farmacêuticas requeridas e a preços que os indivíduos e a comunidade possam pagar. (OMS, 2004) No Brasil, a Relação Nacional de Medicamentos é a RENAME, e a adoção da RENAME faz parte das diretrizes da Política Nacional de Medicamentos. A lista de medicamentos essenciais abrange medicamentos destinados a assistência primária na atenção básica e a assistência à saúde de média e alta complexidade (MS, 2001). As relações de medicamentos essenciais no Brasil são utilizadas no âmbito do SUS, mas a disponibilização de medicamentos no serviço público não está restrita aos medicamentos constantes na Rename. Além dos medicamentos da Rename, existem outras listas de medicamentos que contemplam o tratamento em vários programas de saúde, como por exemplo: medicamentos de alto custo e medicamentos excepcionais; medicamentos para o Programa da Saúde da Família, medicamentos da Farmácia Popular (Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus); 39 medicamentos para Saúde Mental; medicamentos que atendem a programas nacionais como DST/Aids (Anti-Retrovirais), Tuberculose, Hanseníase, entre vários outros (OPAS; OMS, 2005b). A situação mundial do acesso a medicamentos essenciais é ainda considerada crítica. A OMS estima que cerca de dois bilhões de pessoas (1/3 da população mundial) não têm acesso regular a medicamentos essenciais e que apenas 15% da população mundial consomem mais de 90% da produção mundial de medicamentos (OPAS; OMS, 2005b). A visão da OMS na estratégia de Medicamentos 2004-2007, no que diz respeito aos medicamentos, prevê “que em todas as partes, as pessoas tenham acesso aos medicamentos essenciais que necessitam; que os medicamentos sejam seguros, efetivos e de boa qualidade; e que os medicamentos sejam prescritos e utilizados racionalmente”. Os quatro objetivos principais dessas estratégias são: (a) melhorar o acesso a medicamentos essenciais; (b) fortalecer as políticas nacionais de medicamentos; (c) melhorar a qualidade e segurança dos medicamentos; e (d) promover seu uso racional (OMS, 2004). O Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB) é uma iniciativa do Governo Federal para reduzir os preços e aumentar o acesso aos medicamentos, onde o Ministério da Saúde (MS), por meio das redes próprias ou estabelecimentos farmacêuticos privados conveniados com o programa, disponibilizam a venda para a população, medicamentos e/ou correlatos a preços inferiores aos comercializados nas drogarias particulares não aderentes a este programa. O PFPB tem como objetivo oferecer medicamentos essenciais a um baixo custo à população, melhorando o acesso e beneficiando uma maior quantidade de pessoas. Em uma medida recente do Governo Federal pela Portaria n.° 184, de 3 de fevereiro de 2011, foi definido que os medicamentos estabelecidos pelo programa para o tratamento da hipertensão arterial e/ou Diabetes Mellitus, tornam-se gratuitos aos usuários, mesmo aqueles disponibilizados em drogarias privadas (BRASIL, 2011). Não são todos os medicamentos utilizados pelos pacientes diabéticos que estão disponibilizados no PFPB, apenas os medicamentos conforme tabela 12. 40 Tabela 12 - Medicamentos gratuitos do programa aqui tem farmácia popular para o tratamento Diabetes Mellitus Glibenclamida 5 mg, comprimido Cloridrato de metformina 500 mg, comprimido Cloridrato de metformina 850 mg, comprimido Insulina Humana NPH 100 UI/ml - suspensão injetável, frasco-ampola 10 ml Insulina Humana NPH 100 UI/ml - suspensão injetável, frasco-ampola 5 ml Insulina Humana NPH 100 UI/ml - suspensão injetável, refil 3ml (carpule) Insulina Humana NPH 100 UI/ml - suspensão injetável, refil 1,5ml (carpule) Insulina Humana Regular 100 UI/ml, solução injetável, frasco-ampola 10 ml Insulina Humana Regular 100 UI/ml, solução injetável, frasco-ampola 5 ml Insulina Humana Regular 100UI/ml, solução injetável, refil 3ml (carpules) Insulina Humana Regular 100UI/ml, solução injetável, refil 1,5ml (carpules) Fonte: BRASIL (2011) 4.7 ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NO CUIDADO AO PACIENTE Após o fenômeno industrial, o farmacêutico perdeu um pouco sua identidade e passou cada vez mais a ser visto pela sociedade como um mero dispensador de medicamentos,perdendo sua característica de profissional da saúde. Com o advento dos medicamentos industrializados e com a grande variedade de produtos farmacêuticos surge a necessidade do profissional farmacêutico como responsável pela farmacoterapia do paciente. A automedicação, o uso desnecessário de medicamentos e a utilização de fármacos em situações contra-indicadas é uma prática muito comum e expõe os pacientes aos riscos de ocorrência de reações 41 adversas, mascaramento de condições clínicas mais graves e/ou evolutivas, interações medicamentosas e intoxicações, constituindo-se assim uma importante causa de morbidade e mortalidade A farmácia clínica e atenção farmacêutica (AF) permitem que o farmacêutico se apresente como um profissional da saúde e não apenas como um profissional do medicamento (FREITAS et al, 2006; MENEZES, 2000). Como profissional de saúde e último elo entre a prescrição e a administração do medicamento, o farmacêutico atuando na atenção farmacêutica e em conjunto com outros profissionais da saúde podem significativamente contribuir para uma melhor farmacoterapia e obter bons resultados clínicos, humanísticos e econômicos, tais como, Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM) evitados e resolvidos, melhor qualidade de vida, redução do número de hospitalizações e consultas de médicas, redução nos custos e no número de medicamentos utilizados, redução no absenteísmo no trabalho (CARVALHO, 2007). Para a Organização Mundial de Saúde, há Uso Racional de Medicamentos (URM) quando o paciente em uma condição clínica recebe medicamento seguro, eficaz e apropriado, na dose e forma farmacêutica correta, por um período adequado, que esteja disponível ao menor custo. É considerado uso irracional uso inapropriado de antimicrobianos, polimedicação, automedicação feita de forma inapropriada, prescrições inadequadas, entre outras práticas (OPAS, 2007) 4.7.1 Atenção Farmacêutica A Atenção farmacêutica está inserida no contexto da Assistência Farmacêutica no momento da dispensação e utilização dos medicamentos. A primeira tem como foco o paciente, já a segunda o medicamento, mas ambas buscam promover o Uso Racional de Medicamentos (URM). Na atenção farmacêutica o farmacêutico assume a responsabilidade de garantir uma farmacoterapia que seja a mais indicada, eficaz e segura (CARVALHO, 2007; PERREIRA; FREITAS, 2008; SILVA; PRANDO, 2004). 42 Na década de 90, Hepler & Strand propõe o conceito da atenção farmacêutica com o objetivo de diminuir os índices de mortalidade e morbilidade que podem estar associados aos medicamentos. Segundo Hepler e Strand (1999, p.43), o conceito clássico de atenção farmacêutica é “a provisão responsável da farmacoterapia com o objetivo de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes”. No Brasil, foi preparado um relatório que propôs um conceito de Atenção farmacêutica de acordo com a realidade brasileira. Após a avaliação de diversos modelos executados no exterior a atenção farmacêutica foi definida: É um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde (OPAS, 2002). Além do conceito de Atenção Farmacêutica, foram definidos nesse mesmo encontro os macro-componentes da prática profissional para o exercício da Atenção Farmacêutica, são eles: educação em saúde (promoção do uso racional de medicamentos), orientação farmacêutica, dispensação de medicamentos, atendimento farmacêutico, acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico e registro sistemático das atividades, mensuração e avaliação dos resultados. (OPAS, 2002). A tabela 16 aborda os conceitos de cada um dos macro-componentes da atenção farmacêutica. A orientação do farmacêutico por meio da atenção farmacêutica permite enumerar várias vantagens, tais como: diminuir a necessidade de assistência médica, diminuição dos custos do sistema público e privado de saúde com medicamentos e atendimentos médicos, resolução de problemas relacionados aos medicamentos (PRMs), permite ao usuário do medicamento maior segurança, melhor adesão ao tratamento, manutenção de objetivos terapêuticos e melhor 43 autocuidado, facilita na detecção de reações adversas e está continuamente promovendo o uso racional de medicamentos (MENEZES, 2000). Tabela 16 - Conceitos dos macro-componentes da Atenção Farmacêutica MACRO-COMPONENTES CONCEITOS Problema relacionado com medicamento (PRM) “É um problema de saúde, relacionado ou suspeito de estar relacionado à farmacoterapia, que interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário.” Acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico “É um componente da Atenção Farmacêutica e configura um processo no qual o farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do usuário relacionadas ao medicamento, por meio da detecção, prevenção e resolução de Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM), de forma sistemática, contínua e documentada, com o objetivo de alcançar resultados definidos, buscando a melhoria da qualidade de vida do usuário.” Atendimento Farmacêutico “É o ato em que o farmacêutico, fundamentado em sua praxis, interage e responde às demandas dos usuários do sistema de saúde, buscando a resolução de problemas de saúde, que envolvam ou não o uso de medicamentos. Este processo pode compreender escuta ativa, identificação de necessidades, análise da situação, tomada de decisões, definição de condutas, documentação e avaliação, entre outros.” Intervenção Farmacêutica “É um ato planejado, documentado e realizado junto ao usuário e profissionais de saúde, que visa resolver ou prevenir problemas que interferem ou podem interferir na farmacoterapia, sendo parte integrante do processo de acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico.” FONTE: OPAS (2002) Strand et al (2004) avaliaram o impacto sobre os profissionais, impacto clínico e econômico da atenção farmacêutica. Inicialmente, os profissionais participaram de um programa de treinamento onde aprenderam a respeito da filosofia da atenção farmacêutica, de como identificar, resolver e evitar problemas relacionados a medicamentos e a documentação das ações. A atenção farmacêutica aconteceu no 44 período entre janeiro de 2000 e dezembro de 2003 e contou com a participação de 2.985 pacientes adultos. No início do estudo, 61% desses pacientes tinham um ou mais PRMs identificados e resolvidos. Ao final, ocorreu uma melhora no estado clínico ou manutenção de um estado estável em 83% dos pacientes. Dos 863 pacientes com DM tipo II, 51% apresentaram melhora clínica ao receber atenção farmacêutica. Com relação ao impacto econômico, o estudo demonstrou uma redução de custos no valor de US$ 1.134.162,00. Lyra Júnior (2005) realizou um estudo com idosos no Brasil e constatou que intervenções educativas foram capazes de otimizar a utilização de medicamentos, resultando na resolução e prevenção de aproximadamente 70% dos PRMs identificados e um aumento de 35% na adesão a farmacoterapia. Os resultados humanísticos também foram satisfatórios, pois os idosos demonstraram melhoras significativas em seus índices de qualidade de vida após o programa. Nos EUA, em uma análise farmacoeconômica, revelou que a revisão dos regimes terapêuticosmelhora em 43% os resultados finais do tratamento e gera uma economia de US$3,6 billões de dólares, por ano, relacionada à prevenção de problemas relacionados a medicamentos ou complicações oriundos da farmacoterapia, pois quando farmacêuticos não revisam as prescrições, os gastos com problemas ou complicações são da ordem de US$7,6 billhões, por ano, contra um gasto de US$4 bilhões, por ano, quando esta revisão é efetuada (ARAÙJO, 2001). Em países em desenvolvimento, como o Brasil, faz-se necessário buscar uma assistência farmacêutica de qualidade que garanta o acesso aos medicamentos da atenção primária para que seja possível a implantação e implementação de uma Atenção Farmacêutica com solidez. Alguns fatores dificultam a implantação dos serviços de atenção farmacêutica no Brasil, sendo eles: a falta de reconhecimento da sociedade da importância do farmacêutico como um profissional da saúde, pouca inserção do profissional nas equipes multiprofissionais de saúde, escassez de oportunidades da educação continuada na área clínica, falta de estruturação dos serviços de saúde, dificuldade de acesso ao medicamento por parte dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e ausência de documentação científica que possibilite demonstrar aos gestores do sistema público e privado que a implementação da Atenção Farmacêutica representa um investimento e não custo (PERREIRA; FREITAS, 2008; SILVA; PRANDO, 2004). 45 Segundo a pesquisa realizada em Curitiba por Oliveira et al. (2005), os obstáculos enfrentados para a implantação da Atenção Farmacêutica nas Farmácias Comunitárias incluem desmotivação devido ao excesso de atividades no gerenciamento das farmácia e a falta de tempo no atendimento ao paciente, falta de liberdade por parte dos farmacêuticos e de interesse por parte dos proprietários em realizar tal programa, dificuldade de relacionamento com os atendentes da farmácia e necessidade de atualizações na parte clínica. Sendo assim é necessário um estimulo na atuação do farmacêutico dentro da atenção farmacêutica para que a partir daí ocorra um reconhecimento da sociedade a respeito da importância do farmacêutico como profissional de saúde (OLIVEIRA et al, 2005). 4.7.2 Problemas Relacionados ao Medicamento (PRMs) A morbimortalidade relacionada aos medicamentos é um problema para o sistema de saúde, sendo que as principais causas são: prescrições inadequadas; não adesão ao tratamento; reações adversas aos medicamentos; superdosagem ou subdosagem; erros de medicação; falta da farmacoterapia necessária (CARVALHO, 2007; MORRIS et al, 2002). A atenção farmacêutica objetiva identificar os possíveis problemas relacionados ao medicamento e com isso solucionar por uma intervenção farmacêutica (OLIVEIRA et al, 2005; PERREIRA; FREITAS, 2008). As circunstâncias clínicas que podem gerar um PRM podem estar relacionadas ao próprio medicamento, paciente, prescritor, farmacêutico ou ao sistema de atenção em saúde (CORRER et al, 2007). Em 2002, na Espanha, o segundo consenso de Granada definiu o conceito de Problema Relacionado ao Medicamento (PRM) como “problema de saúde, entendido como resultados clínicos negativos derivados da farmacoterapia que são produzidos por diversas causas e tem como conseqüência o não alcance do objetivo terapêutico ou o aparecimento de efeitos indesejáveis” (GRUPO DE INVESTIGACIÓN EN ATENCIÓN FARMACÉUTICA et al, 2002). No mesmo ano no Brasil, o consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica definiu PRM como “um problema de saúde, relacionado ou suspeito de estar relacionado à farmacoterapia, 46 que interfere nos resultados terapêuticos e na qualidade de vida do usuário” (OPAS, 2002). A tabela 14 descreve a classificação dos PRMs estabelecida pelo segundo consenso de Granada. Tabela 14 – Classificação dos PRMs NECESSIDADE PRM 1: O paciente apresenta um problema de saúde em consequencia de não utilizar o medicamento de que necessitam. PRM 2: O paciente apresenta um problema de saúde em consequencia de utilizar o medicamento de que não necessitam. EFETIVIDADE PRM 3: O paciente apresenta um problema de saúde em consequencia à ineficácia não quantitativa da medicação. PRM 4: O paciente apresenta um problema de saúde em consequencia a uma ineficácia quantitativa da medicação. SEGURANÇA PRM 5: O paciente apresenta um problema de saúde em consequencia de uma insegurança não quantitativa de um medicamento. PRM 6: O paciente apresenta um problema de saúde em consequencia de uma insegurança quantitativa de um medicamento. FONTE: GRUPO DE INVESTIGACIÓN EN ATENCIÓN FARMACÉUTICA et al (2002) Devido à necessidade de termos mais técnicos e apropriados na definição de PRM, o terceiro consenso de Granada propõe novas definições e inseriu o conceito de Resultados Negativos associados à Medicamentos (RNM). Sendo assim, PRM passa a ser definido como: “aquelas situações que o processo do uso de medicamentos causam ou podem causar a aparição de um Resultado Negativo associado ao Medicamento (RNM)” e a definição de RNM estabelecida é “resultados na saúde do paciente não adequado ao objetivo da farmacoterapia e associados ao uso ou não uso de medicamentos”. Considerando a nova definição de PRM, são 47 exemplos de PRMs: administração incorreta de medicamentos, armazenamento inadequado, contra-indicação, erros de dispensação, interações medicamentosas, não cumprimento da terapia, doses inadequadas, outros problemas de saúde que afetam o tratamento, entre outros (GRUPO DE INVESTIGACION EM ATENCION FARMACEUTICA et al, 2007). Já a classificação do RNMs foi proposta considerando os requisitos principais que devem ser os medicamentos para serem utilizados, são eles: necessidade, efetividade e segurança (Tabela 15) (GRUPO DE INVESTIGACION EM ATENCION FARMACEUTICA et al, 2007). Tabela 15 – Classificação dos Resultados Negativos associado ao Medicamento (RNMs) NECESSIDADE Problema de saúde não tratado: o paciente tem um problema de saúde por não receber um medicamento que necessita. Problema de saúde por medicamento desnecessário: o paciente tem um problema por utilizar um medicamento que não necessita. EFETIVIDADE Ineficácia não quantitativa: o paciente tem um problema de saúde devido a uma ineficácia não quantitativa do medicamento. Ineficácia quantitativa: o paciente tem um problema de saúde devido a uma ineficácia quantitativa do medicamento. SEGURANÇA Insegurança não quantitativa: o paciente tem um problema de saúde devido a uma insegurança não quantitativa do medicamento. Insegurança quantitativa: o paciente tem um problema de saúde devido a uma insegurança quantitativa do medicamento. FONTE: GRUPO DE INVESTIGACIÓN EN ATENCIÓN FARMACÉUTICA et al (2007). 48 Considerando as novas definições para termos PRM e RNM, no seguimento farmacoterapêutico, o farmacêutico é responsável por detectar os PRMs de modo a prevenir e/ou resolver os RNMs. Todo este processo deve ser realizado de forma contínua, sistemática e documentada, em conjunto com o paciente e outros profissionais da saúde, a fim de alcançar resultados que melhorem a qualidade de vida dos pacientes (GRUPO DE INVESTIGACION EM ATENCION FARMACEUTICA et al, 2007). Correr et al (2009), realizou seguimento terapêutico (SFT) em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 em farmácias comunitárias. Foram documentadas 119 intervenções farmacêuticas no grupo intervenção ao longo do período de estudo, com uma média de 2,3 intervenções por paciente. Em 52,9% dos casos foi necessário encaminhamento do paciente ao médico. As intervenções farmacêuticas foram aceitas, em média, em 76,5% dos casos. Para os pacientes encaminhados ao médico, em 68% dos casos, as condutas médicas coincidiram com as sugestões feitas pelos farmacêuticos ao paciente, por escrito ou verbalmente. No mesmo estudo, 92% dos pacientes apresentaram
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