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FUNDAÇÃO PEDRO LEOPOLDO Faculdade de Direito de Pedro Leopoldo Jemima Fernandes Bazana e Silva A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO AOS CEMITÉRIOS PRIVADOS Pedro Leopoldo 2017 Jemima Fernandes Bazana e Silva A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO AOS CEMITÉRIOS PRIVADOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Fundação Pedro Leopoldo da Fundação Pedro Leopoldo como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Regis André Pedro Leopoldo 2017 Jemima Fernandes Bazana e Silva A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO AOS CEMITÉRIOS PRIVADOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Curso de Direito da Faculdade de Direito de Pedro Leopoldo da Fundação Pedro Leopoldo como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Regis André - Orientador - Faculdade de Direito de Pedro Leopoldo Examinador(a) - Faculdade de Direito de Pedro Leopoldo Examinador(a) - Faculdade de Direito de Pedro Leopoldo Pedro Leopoldo, ____ de dezembro de 2017 A Deus, por sempre me manter erguida. Aos meus filhos, por seu imensurável amor. Aos meus familiares, pelas horas furtadas de nosso convívio e pela compreensão despendida. AGRADECIMENTOS Deus, o autor e consolador da minha vida. Às minha rainha, avó Arlete, que sempre me incentivou em minha vida acadêmica, dedicou todo o amor que lhe era disponível e me ensinou a ter a índole íntegra que hoje possuo. Aos meus familiares pelo carinho. Aos amigos, poucos e bons, pelo apoio e suporte necessário. Aos meus chefes e queridos amigos de trabalho Wendell e Weslley, pelos ensinamentos e convivências diárias. Ao meu orientador Régis André pela disponibilidade, paciência e auxílio nos momentos necessários. A todos aqueles que de maneira indireta contribuíram para realização da presente pesquisa. Todo o trabalho só foi possível pelo apoio de vocês. Muito Obrigada. [...] Faz parte da vida arriscar-se por um sonho... Porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado! Mas, antes de tudo, que você saiba que tem aliado. Ele se chama TEMPO... seu melhor amigo. Só ele pode dar todas as certezas do amanhã... A certeza que... realmente você amou. A certeza que... realmente você foi amada. (ANDRADE, 1984) RESUMO A presente monografia abordou o estudo da norma constitucional voltada a conceder o instituto da imunidade tributária aos sujeitos previstos no art. 150, inciso VI, alínea b, da Constituição Federal, qual sejam, os templos de qualquer culto, analisando se o cemitério particular pode ser considerado, por si só, templo de qualquer culto e, dessa forma, ser abrangido pela imunidade veiculada. Para a consecução deste fim, iniciou-se a construção do estudo da evolução do instituto da imunidade tributária dos templos de qualquer culto no ordenamento jurídico brasileiro contextualizando-o com o momento histórico em que fora criado. Após, procurou assentar as definições que orbitam ao redor da regra imunizante, bem como a divergência com os demais comandos de direito tributário semelhante. Superado, passou a análise do núcleo do texto constitucional, buscando entender os reais conceitos dos termos “templo” e “culto”. Por fim, estudou por meio de conceitos doutrinários e aplicação jurisprudencial os diversos tipos de cemitérios, com fito de constatar de que forma poderão ser alcançados pela norma constitucional e gozar da proteção dada pelo ordenamento jurídico pátrio. Palavras-chave: Imunidade Tributária. Cemitérios particulares. Templos de qualquer culto. Direito fundamental à liberdade de crença. ABSTRACT This monograph dealt with the study of the constitutional norm aimed at granting the institute of tax immunity to the subjects provided in art. 150, subsection VI, letter b, of the Federal Constitution, that is, the temples of any cult, analyzing whether the particular cemetery can be considered, by itself, temple of any cult and, therefore, be covered by the transmitted immunity. In order to achieve this goal, the construction of the study of the evolution of the institute of tax immunity of the temples of any cult in the Brazilian juridical order began to be contextualized with the historical moment in which it was created. Afterwards, he sought to settle the definitions that orbit around the immunizing rule, as well as the divergence with the other commands of similar tax law. Overcome, he passed the analysis of the core of the constitutional text, seeking to understand the real concepts of the terms “temple” and “worship”. Finally, he studied through doctrinal concepts and jurisprudential application the different types of cemeteries, in order to verify how they can be achieved by the constitutional norm and enjoy the protection given by the legal order of the country. Keywords: Tax Immunity. Particular cemeteries. Temples of any cult. Fundamental right to freedom of belief. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9 2 DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO ....... 11 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICO LEGISLATIVA NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ..................... 11 2.2 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA ............................................................................ 29 3 TEORIAS A RESPEITO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO ........................................................................................... 36 3.1 CONCEITO DE TEMPLO ............................................................................................ 37 3.2 CONCEITO DE CULTO .............................................................................................. 38 3.3 TEORIAS NO BRASIL ............................................................................................... 39 4 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS CEMITÉRIOS ................................................. 41 4.1 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS CEMITÉRIOS PÚBLICOS E RELIGIOSOS ............................ 44 4.2 IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS CEMITÉRIOS PRIVADOS ................................................. 47 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 53 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 55 9 1 INTRODUÇÃO É sabido que o Estado reclama angariar recursos financeiros para a mantença de suas atividades, daí decorre seu inerente poder de tributar. Noutro ponto, na orbe dos princípios constitucionais, principalmente após a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) em 1988, houve um alargamento dos direitos individuais da esfera negativa, ou seja, aqueles oponíveis contra o próprio Estado, reconhecendo a necessidade de promover a igualdade entre os indivíduos. À luz deste pensamento, surge o princípio da isonomia que, em sua vertente tributária, mostra-se como pilar do Estado Democrático de Direito, dispondo da necessidade de todos aqueles que detenham a mesma capacidade em contribuir de modo equivalente para os cofres públicos, assim deverão fazer. No entanto,a democracia enaltece outros princípios e direitos fundamentais, como, por exemplo, o da liberdade religiosa. Não obstante, o aludido princípio constitucional não deverá ensejar a descriminação entre os contribuintes, até mesmo para que não se tenha ferida a laicidade presente no Estado. Desta forma, o Estado não pode definir a realização de cultos ou igrejas, assim como não poderá embaraçar-lhes o funcionamento. Nesse sentido surgem indagações quanto ao limite da referida norma constitucional. Em outras palavras, questionava-se o que poderia ser considerado templo de qualquer culto para fins de incidência da imunidade tributária. Os limites desta já foram analisados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Contudo, o Colendo Tribunal ainda não analisou a situação ao qual serve de objeto do presente trabalho. Trata-se do reconhecimento dos cemitérios particulares como templos de qualquer culto. Importante delinear que no presente estudo, trataremos especificamente dos cemitérios cuja finalidade é a obtenção de lucro, já que é possível a existência de cemitério particular de propriedade de entidade sem fins lucrativos. É notória a relevância do tema para a atualidade vez que cada vez mais a sociedade se encontra insatisfeita com a fúria arrecadatória do Estado, que não se exime de tributar nem ao menos a última morada do indivíduo, e em contrapartida , não fornece serviços públicos de qualidade na mesma proporção. 10 No primeiro capítulo se buscou a evolução histórica legislativa da imunidade tributária dos templos de qualquer culto nas constituições brasileiras, bem como o conceito e natureza jurídica da imunidade estudada. No segundo capítulo tratou-se especificamente da imunidade dos templos de qualquer culto, buscando uma tentativa conceitual dos elementos que a compõem, e os principais institutos jurídicos que orbitam ao redor do tema através das teorias trazidas pela doutrina e as principais jurisprudências. No terceiro capítulo, buscou-se aprofundar a temática proposta: aplicação da imunidade tributária dos templos de qualquer aos cemitérios. Dessa forma analisaram-se as hipóteses de fruição de imunidade pelos cemitérios de acordo com sua natureza, verificando a possibilidade no caso de serem públicos ou privados, destacando-se a apreciação do acórdão que trata especificamente da imunidade tributária dos cemitérios religiosos. A pesquisa foi realizada por meio de análise doutrinária, conteúdo jurisprudencial e de decisões relevantes sobre a matéria. 11 2 DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO 2.1 Evolução histórico legislativa nas constituições brasileiras Após o descobrimento do território brasileiro em 1500, nossos colonizadores se dedicaram a investir recursos tanto na disseminação do catolicismo aos nativos quanto na subtração das riquezas naturais que aqui se encontravam. Para consecução deste fim, tiveram como primeira iniciativa a criação das capitanias hereditárias, que embora tenham sido testadas com êxito nas ilhas do Atlântico, vieram a fracassar no Brasil devido ao alto investimento necessário, à distância em relação à metrópole e à resistência oposta pelos indígenas. Em 1548, o rei de Portugal Dom João III, diante do fracasso das capitanias, decidiu tomar medidas concretas para viabilizar a colonização. Para isso, escreveu uma carta a Tomé de Souza, criando o governo geral, com base no instrumento jurídico chamado de Regimento de 1548 ou também chamado de “Regimento de Tomé de Sousa”. (KOSHIBA; PEREIRA, 2003, p. 45). Este regimento, foi para muitos, a primeira Carta estrutural do Brasil e no seu espírito trazia uma fortíssima carga valorativa cristã, incluindo em seu preâmbulo a expressão in Nominé Domine, ou seja, “em nome do Senhor”, deixando clara a ligação entre o Estado e Igreja Católica. Ainda que se tratasse de uma nova fase colonial, o novo modelo apresentado pela carta tinha como objetivo a continuação do modelo administrativo instituído pelas capitanias hereditárias, centralizando política e administrativamente a colônia, e assistindo-as contra as condições adversas. Conforme explica Fausto (1995, p. 47) vinham com o governador-geral os primeiros jesuítas – Manoel da Nóbrega e seus cinco companheiros –, com o objetivo de catequizar os índios e disciplinar o ralo clero de má fama na Colônia. Obviamente, os jesuítas que aqui estavam permaneceram com os benefícios que a Igreja Católica tinha em Portugal. As suas instituições básicas que, por sua natureza, estavam destinadas a organizar a colonização do Brasil foram o Estado e a Igreja Católica. Embora se trate de instituições distintas, naqueles tempos uma estava ligada à outra. Não existia na época, como existe, o conceito de cidadania, de pessoa com direitos e deveres com relação ao Estado, independentemente da religião. A religião do 12 Estado era a católica e os súditos, isto é, os membros da sociedade, deviam ser católicos. (FAUSTO, 1995, p. 60). Koshiba e Pereira (1996, p. 24) explicam que, todavia, apesar da tendência centralizadora do governo geral, a centralização jamais foi completa na colônia. Refletindo os acontecimentos do continente europeu, o Brasil-Colônia viveu períodos de instabilidade, conhecendo inúmeras revoltas e levantes, que eram, em sua maioria, aristocráticos. No Brasil, este desejo de separação e emancipação se traduziu nitidamente através da Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, ambas ocorreram posteriormente à exaltação da Revolução Francesa. A difusão das ideias francesas serviu não só para a denúncia da exploração colonial, como também para que a massa popular pudesse tomar consciência da exploração e opressão exercidas pela própria camada dominante da colônia. Nascia, assim, uma corrente política para qual a independência não era só a ruptura dos laços coloniais, mas também a alteração da ordem social, a começar pela abolição da escravatura. A independência do Brasil, contudo, não adotará essa via revolucionária. O processo de emancipação política desencadeado pela expansão napoleônica foi firmemente controlado pela poderosa elite dos grandes proprietários escravistas. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 82). O governo-geral perdurou até o início do século XIX, quando em 1807, devido à expansão napoleônica, a família Real e a nobreza foram forçadas a fugir para o Brasil. Com a transferência da Corte, o Brasil praticamente deixou de ser colônia, devido às seguintes medidas adotadas pelo regente: em 28 de janeiro de 1808, a Carta Régia permitiu a abertura dos portos a todos “os navios estrangeiros das potências que se conservem em paz e harmonia com a minha Real Coroa”, conforme o texto da carta, acabando, na prática, com o regime do exclusivo metropolitano ou pacto colonial; o alvará de 1º de abril de 1808 revogou o de 1785, que proibia a instalação de manufaturas no Brasil, complementando desse modo a Carta Régia de 1808 que decretava a abertura dos portos; em 16 de dezembro de 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 94). Mesmo com as medidas tomadas, o rei não conseguiu, todavia, conter a ânsia do liberalismo que já eclodia pelo mundo afora, e que tomava conta dos 13 brasileiros. Essa tendência ainda fora reforçada pela situação em que se encontrava o país. O verdadeiro núcleo de poder era formado pela nobreza burocrática. Formada segundo o espírito tradicional do Antigo Regime, essa nobreza monopolizava os postos-chaves. Ao lado disso, D. João era um monarca do tipo absolutista, o que restringia de maneira bastante significativa a participação dos senhores rurais brasileiros na vida política. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 96). Os autores ainda explicam que em seu governo: D. João multiplicou as repartições públicas sem atentar para as necessidadessociais. Os gastos aumentaram e as rendas tributárias tradicionais já não eram suficientes para as despesas. A manutenção do Estado e da luxuosa vida cortesã exigia o aumento dos tributos existentes e a criação de outros, pois os impostos alfandegários, a principal fonte de recursos, haviam diminuído. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 96). Segundo Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira, os impostos, apesar de elevados, não cobriam os gastos e os funcionários viviam com os salários atrasados, às vezes até um ano. Nesse sentido: Isso estimulou a prática da corrupção generalizada entre os funcionários públicos, que cobravam dos interessados uma certa quantia para tocar os despachos, processos e concessões. Mas não eram apenas os pequenos. Os altos funcionários, não raro, estavam associados a contrabandistas, favorecendo operações ilícitas. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 97). Neste contexto, cada vez mais se acirraram as tensões sociais no Brasil e ainda Portugal também se encontrava com a economia drasticamente prejudicada devido às medidas tomadas pelo monarca. Sendo assim, sem alternativa, D. João deixa as terras brasileiras e nomeou seu filho e herdeiro D. Pedro, como regente do Brasil. A partir de então inicia-se importante período histórico ao qual fora produtor da primeira Constituição Brasileira. Dar ao Império uma Constituição era necessário, para garantir a unidade territorial e para dar vozes à soberania de Dom Pedro I. Em 3 de junho de 1823, convocou-se a assembleia constituinte, a qual o imperador juraria se a julgasse digna de seu nome. Era uma maneira 14 de contornar os excessos liberais que, na percepção de Dom Pedro I, poderia contaminar a autoridade almejada. (SOARES; TÁVORA, 2015, p. 56) A Constituição de 1824 surgiu no momento em que eclodiam os ideais liberais ingleses, aonde se buscava a emancipação política. Introduziu-se mão de obra assalariada, apesar de ainda manter-se a escravidão. O novo texto constitucional outorgado organizou o império dividindo-o em moderador, executivo, legislativo e judiciário. [...] A Constituição outorgada não diferia substancialmente do anteprojeto da constituinte: havia um Poder Executivo, exercido pelo imperador e pelos ministros por ele nomeados, um poder Legislativo bicameral, conformado por uma Câmara Baixa e um Senado vitalício, formando-se assim a Assembleia Geral do Império, e um poder Judiciário com Corte Suprema. (SOARES; TÁVORA, 2015, p. 58). Pela análise da Carta Magna de 1824, pode-se observar uma proximidade entre o Estado Imperial e a religião, pois de início já traz a expressão, “Em nome da Santíssima Trindade”. Quanto à religião, o artigo 5 reconhecia a apostólica romana como religião do Império, sem contudo, alijar a prática doméstica de outras crenças. O Império mantinha o instituto do padroado, o que conferia ao imperador o direito de nomear bispos, de dispor sobre o dízimo e de exercer o beneplácito. Em compensação a vida civil seria organizada pela Igreja. Censos, registros civis, e eleições eram obras das paróquias. A própria comarca era a freguesia católica. (SOARES; TÁVORA, 2015, p. 59). O “Imperio do Brazil” adotou desde logo um sistema de relações entre o Estado e a igreja Católica, que compreendia um conjunto de elementos políticos e institucionais não apenas delimitando e diferenciando as sociedades civis da religiosa, mas também concedendo uma série de privilégios, e determinando a existência de uma superioridade, do Estado e da Religião Católica. Sabemos que, durante o império, tínhamos uma religião oficial: a religião apostólica romana. As outras religiões eram toleradas, mas apenas a católica recebia especial proteção do Estado. Isto era, bom e mau para a religião católica. Bom, porque a Igreja Católica tinha todas as facilidades (por exemplo os bispos, sacerdotes, e religiosos em geral eram considerados funcionários civis do Império, fazendo jus a salário e aposentadoria). E mau, porque, com isso, a Igreja 15 Católica perdeu quase que totalmente sua autonomia. Só para termos uma ideia, nenhum bispo católico podia ser nomeada por Roma sem o placet do Imperador. (CARRAZZA, 2008, p. 740). Mesmo não aprofundando na matéria tributária em si, já que tinha como finalidade precípua a organização do império, o texto Constitucional de 1824, já trazia noções de capacidade contributiva e de imunidade fiscal, os quais foram alocados em seu art. 179, IX: Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. XV. Ninguem será exempto de contribuir pera as despezas do Estado em proporção dos seus haveres. (BRASIL, 1824). A respeito deste dispositivo, Regina Helena Costa expõe que: Após dedicar alguns dispositivos à Fazenda Nacional (art. 170 a 172), traz, em seu art. 179, inicialmente, a determinação de que “ninguém será isento de contribuir para as despesas do Estado em proporção de seus haveres” (inciso XV), preceito consagrador da essência dos princípios da isonomia e da capacidade contributiva. (COSTA, 2015, p. 34). Sobre o mesmo artigo da Constituição Imperial de 1824, autora informa: O mesmo art. 179, em seu inciso XVI, estatui que “ficam abolidos todos os privilégios, que não forem essenciais, e inteiramente ligados aos cargos, por utilidade pública”, encerrando, assim, a concessão dos privilégios outorgados à nobreza. De outro lado, porém, salienta a manutenção de “privilégios essenciais” – vale dizer, de benefícios que não poderiam ser suprimidos – pelo que entendemos residir aqui o embrião das imunidades tributárias no Direito Constitucional Brasileiro. (COSTA, 2015, p. 34). Ainda que fosse a Carta Fundamental outorgada “em nome da Santíssima Trindade”, o art. 5º do texto constitucional, havia a previsão de que: Art. 5º - A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórmula alguma exterior do templo. (BRASIL, 1824). 16 Nesse contexto a liberdade religiosa contida na Constituição do Império era, portanto, excepcionada em nome dos privilégios dados ao catolicismo, que fora consagrado como religião oficial do Império. As demais manifestações de credo deveriam ser feitas de forma particular, em suas próprias casas, não podendo haver qualquer templo que não fosse católico. Desse modo, vê-se nitidamente pela disposição do referido artigo, que fora imposto uma superioridade do Estado e da Igreja Católica, em prejuízo de outras religiões e crenças, e do povo. O disposto no art. 99 do texto também denota forte ligação entre o poder do Estatal na Terra e o poder Divino representado pela Igreja, in verbis, “Art. 99. A Pessoa do Imperador é inviolavel, e Sagrada: Elle não está sujeito a responsabilidade alguma”. (BRASIL, 1824) Ao atribuir expressamente origem divina ao imperador, considerando-o pessoa sagrada, deste era retirada qualquer responsabilidade diante dos seus súditos. O imperador também como chefe do executivo, possuía atribuições as quais evidenciavam ainda mais a supremacia do Estado e Igreja Católica, conforme observa-se no art. 102, II, uma de suas principais atribuições: Art. 102 - O Imperador é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado. São suas principaes atribuições Inciso II - Nomear Bispos, e prover os Beneficios Ecclesiasticos. (BRASIL, 1824) Ainda pelo disposto no art. 103, tinha de obrigatoriamente prestar juramento, antes de ser aclamado Imperador, dizendo: “Juro manter a Religião Catholica Apostolica Romana, a integridade, e indivisibilidade do Imperio; observar, e fazer observar a ConstituiçãoPolitica da Nação Brazileira, e mais Leis do Imperio, e prover ao bem geral do Brazil, quanto em mim couber”. (BRASIL, 1824). Dentre suas atribuições estavam ainda estabelecer os cargos de poder dentro da Instituição Religiosa oficial, pagar os salários do clero católico, além de ter que jurar fidelidade à religião católica que, pelo menos de forma figurativa no texto, vinha antes da própria Constituição. Além do amplo poder conferido ao imperador, a Carta de 1824 declarava o catolicismo como religião oficial do Estado. E a relação entre a igreja e o Estado era regulada pelo regime de padroado, segundo o qual os clérigos eram pagos pelo Estado, o que os 17 equiparava a meros funcionários públicos. Por isso, ao imperador competia nomear sacerdotes aos vários cargos eclesiásticos e dar prévio consentimento à aplicação das bulas papais (decisões emanadas da Santa Sé). (KOSHIBA; PEREIRA,1996, p. 126). A profundidade dos laços entre o Estado e a Igreja Católica nos tempos do Império, apresenta-se de modo tão forte que cobravam-se tributos para angariar recursos para a construção de Igrejas. No que tange especificamente das imunidades dos templos de qualquer culto, na Constituição de 1824, inexiste expressamente uma menção de imunidade tributária em qualquer de suas modalidades. O que havia era uma grande margem de poder aos legisladores para instituir e cobrar impostos. Lado outro, contrariando a realidade fática da época, existia situações que escapavam ao alcance dos tributos. O texto legal da Constituição Imperial de 1824 estabelece, em seu art. 179, inciso XV, que, “Ninguem será exempto de contribuir pera as despezas do Estado em proporção dos seus haveres”. (BRASIL, 1824). No referido artigo, determinava o legislador que ninguém poderia se furtar a contribuição, significando a palavra “exempto”, isento. Todavia, ainda existia forte tradição da cultura portuguesa, favoritista, que privilegiava algumas classes, sendo que na prática muitos deixavam de pagar os impostos. O liberalismo, como já era esperado, não obteve sucesso em sua implementação, em razão da forte influência da política e tradição portuguesa, que impediu que se avançasse o governo liberal e manteve sua estrutura patrimonialista composta pelo Imperador, nobreza, Igreja e alta burguesia. Pela análise histórica legislativa da constituição de 1824, vê-se que a imunidade dos templos de qualquer culto ainda se via apenas como privilégio dado a religião oficial, ainda que não escrito. A monarquia no Brasil veio a acabar, após 65 anos de existência, devido à fragilidade de seus pilares econômicos, que eram pautados em exploração e escravidão. Após a ruína da monarquia proclama-se a República, com a elaboração da carta de 24 de fevereiro de 1891, esculpida por Rui Barbosa. A nova Constituição inspirou-se no modelo norte-americano, ao contrário da Constituição imperial, inspirada no modelo 18 francês.Segundo a Constituição de 1891, o nosso país estava dividido em vinte estados(antigas províncias) e um Distrito Federal (ex-município neutro). Cada estado era governado por um “presidente”. Declarava também que o Brasil era uma república representativa, federalista e presidencialista. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 234). Esta carta Magna deu autonomia ao povo brasileiro em relação a Portugal, libertando-o de um regime político decadente que já tinha sido superado em diversas regiões do mundo. A Constituição de 1891 rompeu o vínculo entre Igreja e Estado, não se referindo mais em no preâmbulo nenhuma expressão religiosa como as pretéritas. Esse rompimento fica demonstrado da análise de alguns dispositivos, como por exemplo, o art. 11, § 2º da CF/1891: Art. 11 - É vedado aos Estados, como à União: 1º) criar impostos de trânsito pelo território de um Estado, ou na passagem de um para outro, sobre produtos de outros Estados da República ou estrangeiros, e, bem assim, sobre os veículos de terra e água que os transportarem; 2º) estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos; 3º) prescrever leis retroativas. (BRASIL, 1891). Pela análise do dispositivo percebe-se que a nova constituição veio romper com o regime de poder, instituindo expressamente a imunidade tributária religiosa. Posteriormente essa ruptura fora acirrada ainda mais com a Emenda Constitucional de 3 setembro de 1926. Nesse sentido o art. 72, §§ 2º a 7º, encontra- se colacionado abaixo: Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no paiz a inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e á propriedade, nos termos seguintes: (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). § 1º Ninguem póde ser obrigado a fazer, ou deixar fazer alguma cousa, senão em virtude de lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). § 2º Todos são iguaes perante a lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). A Republica não admitte privilegios de nascimento, desconhece fóros de nobreza, e extingue as ordens honoríficas existentes e todas as suas prerogativas e regalias, bem como os titulos nobiliarchicos e de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 19 conselho. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). § 3º Todos os individuos e confissões religiosas podem exercer publica e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito commum. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926) § 4º A Republica só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). § 5º Os cemiterios terão caracter secular e serão administrados pela autoridade municipal, ficando livre a todos os cultos religiosos a pratica dos respectivos ritos em relação aos seus crentes, desde que não offendam a moral publica e as leis. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). § 6º Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos publicos. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). § 7º Nenhum culto ou igreja gosará de subvenção official, nem terá relações de dependencia ou alliança com o Governo da União, ou o dos Estados. A representação diplomatica do Brasil junto á Santa Sé não implica violação deste principio. (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926). (BRASIL, 1891). A emenda constitucional determinou medidas para efetivar as novas mudanças, dentre elas: não se admitiam mais privilégios de nascimento e de nobreza, extinguiram-se as ordens honoríficas, suas prerrogativas e regalias, bem como os títulos nobiliárquicos e de conselho, (art. 72, §2º). Permitiu-se a prática religiosa igualitária para todos os cultos, tonando-se o exercício religioso público e livre, sendo permitido se associar e adquirir bens para essa finalidade, (art. 72, §3º). Extirpou-se do poder religioso, a competência de realização de casamentos, sendo que passou a existir somente o casamento civil. (art. 72, §4º). Fora dado aos cemitérios caráteres secular, ficando acessíveis a todos os cultos podendo ser praticados diversos rituais religiosos, (art. 72, §5º). Priorizou-se o ensino em estabelecimentos públicos leigo, (art. 72, §6º).Rompeu-se a ligação entre Estado e Igreja, vedando-se qualquer dependência ou aliança entre eles, em todos os níveis, (art. 72, §7º). Pelo exposto, fora consagrada e democratizada a liberdade religiosa no Brasil, pela Carta de 1891, servindo de espelho para produção dos futuros textos constitucionais no que concerne a imunidade tributária dos templos de qualquer culto e ainda outras imunidades como, por exemplo, a imunidade recíproca. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc03-1926.htm#art5 20 A Carta de 1891 contempla, originariamente, a “isenção” da produção dos outros Estados no Estado por onde exportar-se (art. 9º, 2º, §2º), além de vedar aos Estados e à União criar impostos de transito pelo território de um Estado, ou na passagem de um para outro, sobre produtos de outros Estados da República, ou estrangeiros, e bem assim sobre os veículos de terra e água que os transportarem, bem como de estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos (art. 11, 1º e 2º). A imunidade recíproca entre Estados-membros e União (art. 10) – a qual, saliente-se, é a única imunidade presente em todas as Constituições Republicanas – não abrangia os Municípios uma vez que o sistema federativo adotado nesse Texto Fundamental não os considerava. (COSTA, 2015, p. 34). Apesar de romper com o antigo regime, o novo texto Constitucional de 1891, não trouxe mecanismos contra as fraudes eleitorais, o que possibilitou a consolidação das novas oligarquias brasileiras. Criada por Campos Sales (1898-1902), a “política dos governadores” consistia no seguinte: o presidente da República apoiava, com todos os meios ao seu alcance, os governadores estaduais e seus aliados (oligarquia estadual dominante) e em troca, os governadores garantiriam a eleição, para o Congresso, dos candidatos oficiais. Desse modo, o poder legislativo, constituído por deputados e senadores aliados ao presidente – poder Executivo –, aprovava as leis de seu interesse. Estava afastado assim o conflito entre os dois poderes, Em cada estado existam, portanto, uma minoria (oligarquia) dominante, que, aliando-se ao governo federal, se perpetuava no poder. Existia também uma oligarquia que dominava o poder federal, representada pelos políticos paulistas e mineiros – que eram os estados mais poderosos-, cujos líderes políticos passaram a se revezar na presidência, ficou conhecida como a “política do café com leite”. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 236). Em 1930, diante da falência do sistema de alternância no poder estabelecido, refletindo a crise de sucessão do presidente Washington Luís, e devido ao golpe no vencedor das eleições daquele ano de 1930, dissolveu-se a Junta Governativa que derrubara Washington Luís instituindo-se o Governo Provisório, sob a chefia de Getúlio Vargas. Após o golpe sofrido em 1930, as antigas oligarquias não deixaram que o governo provisório continuasse, contra-atacando em 1931, através de um movimento de face libertária, cujo principal foco era a convocação da assembleia nacional constituinte. Conforme explicam Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira: 21 Em 3 de maio de 1953, com base no novo Código Eleitoral, realizaram-se as eleições para a Assembleia Constituinte, instalada em novembro do mesmo. A composição da Assembleia representou o ressurgimento das antigas oligarquias estaduais. Ao lado delas, surgiram os representantes classistas eleitos pelos sindicatos profissionais. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 278). O contexto a qual foi criada constituição de 1934 não diminuiu a preocupação quanto à matéria tributária tratada na Constituição de 1891, mantendo os avanços conquistados até então e promovendo o alargamento de outros. Assim nos ensina Regina Helena Costa: A Constituição de 1934, por sua vez, reitera a vedação ao embaraço aos cultos (art. 17, II), outorgando a exoneração tributária aos “combustíveis produzidos no país para motores de explosão” (art. 17, VIII). Abriga, outrossim, a proibição de cobrança, sob qualquer denominação, de tributos interestaduais, intermunicipais, de viação ou de transporte, ou quaisquer tributos que, no território nacional, gravem ou perturbem a livre circulação de bens ou pessoas e dos veículos que os transportem, (art. 17, IX). (COSTA, 2015, p. 35). No tocante às imunidades recíprocas, inovou-se incluído aos municípios participação no rol de pessoas políticas da federação. Com o advento da Constituição de 1934, ainda surgiu a imunidade que atingem as profissões de escritor, professor ou jornalista. No que concerne às imunidades dos templos, houve um alargamento do anteriormente definido pela antiga Constituição, pois foi vedada aos entes além de estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício dos templos, também a mantença de relações do Estado com qualquer forma de culto, religião, ou igreja, específica, impedindo que se realizasse qualquer aliança não permitindo nenhuma aliança ou dependência destes, podendo haver apenas colaboração recíproca quando importante ao interesse coletivo. O art.17, inciso III, da Constituição Federal de 1934 estabelece que, “Art. 17 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos”. (BRASIL, 1934). Esse dispositivo revela que liberdade religiosa nesse momento já havia sido elevada a um patamar de direito individual a ser estimulado pelo Estado, não sendo apenas uma atividade tolerada por ele. 22 A crise financeira mundial de 1929 assolou todo mundo inclusive o Brasil, em virtude da quebra da bolsa de Nova York, e da segunda guerra mundial, surgindo assim diversas ideologias antiliberais em todo mundo. O Brasil obviamente não passaria longe da onda ideológica mundial. Sobre a reação brasileira a estas forças internacionais, Koshiba e Pereira (1996) ensinam que embora Getúlio Vargas não fosse nem comunista nem nazifascista, ele era expressão no Brasil dessa tendência mundial. Em razão disso, apesar da promulgação da Constituição de 1934, o Brasil não conheceu o fim do governo provisório de Getúlio Vargas, instituído desde a Revolução de 1930. Em contrapartida, o momento era de grandes esforços para sua manutenção no poder, em virtude da conspiração das forças internacionais que influenciavam os acontecimentos nacionais. Assim, Getúlio Vargas, apropriando-se da bandeira anticomunista, conduz o Brasil à sua primeira ditadura, que ficou conhecida como Estado Novo. Sobre este momento histórico do constitucionalismo brasileiro, citam-se Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira: A carta Outorgada de 1937 teve como principal autor Francisco campos e caracterizou-se pelo predomínio do poder Executivo, considerado o “órgão supremo do Estado”, usurpando até as prerrogativas dolegislativo. O presidente foi definido como a “autoridade suprema do Estado, que coordena os órgãos representativos de grau superior, dirige a política interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse nacional e superintende a administração do país”, conforme o texto constitucional. Passou a ter completo controle sobre os estados, podendo a qualquer tempo nomear interventores. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 386). A Carta Magna de 1937 foi uma nítida expressão das ondas ideológicas internacionais, que se combinando a determinados fatores históricas nacionais, reagiram, contra-atacando a ação União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Pelo panorama que fora produzida esta nova ordem constitucional, a questão tributária foi tratada de forma secundária. Regina Helena Costa relata que: A Carta de 1937 foi a que menos se preocupou com o tema [das imunidades tributárias], prevendo, originariamente, apenas a vedação do embaraço aos cultos (art. 32, “b”), somente vindo a 23 hospedar a imunidade recíproca com o advento da Emenda Constitucional 9, de 1945 (art. 32, “c”). (COSTA, 2015, p. 35). Assim, essa fora uma fase em que houve um recuo no tempo, uma vez que se mitigaram as liberdades individuais e foram relativizados os direitos fundamentais, restando prejudicadas também as imunidades já que estas servem de instrumentos. Como a ditadura reprimia aquilo que protegiam as imunidades, estas não estiveram presentes no texto constitucional ditatorial. A centralização de poder, colocando o poder executivo acima dos demais poderes, justifica a supressão da imunidade recíproca nessa constituição, já que ela é fundada no pacto federativo, o qual não estava presente nesse momento. Lado outro, no que diz respeito à imunidade dos templos esta permaneceu no texto Constitucional, porém de forma mais simples, apenas restringindo-se o estabelecimento, a subvenção e o embaraço aos cultos religiosos, não havendo outra consideração sobre o assunto, diferentemente das Constituições passadas. Após ser pressionado pelos Estados Unidos da América (EUA), para participar da segunda guerra mundial com seus aliados, Getúlio Vargas não conseguiu vencer a pressão entre a luta externa por democracia e o regime ditatorial interno. A Carta Magna de 1946 trouxe uma redemocratização, marcando o fim do Estado Novo, trazendo o país de volta aos trilhos da democracia. Durante a sua presidência foi eleita a Assembleia Constituinte que em 18 de setembro de 1946 deu origem a quarta constituição republicana, a quinta do Brasil. Embora tenha mantido a federação e o presidencialismo, a nova constituição, como a de 1934, fugiu bastante às linhas doutrinarias de 1891. Para controlar o executivo, determinou o comparecimento compulsório dos ministros ao congresso, quando convocados para informações e interpelações, tornando-os responsáveis pelos atos que referendassem; previu ainda, a formação de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) segundo o modelo norte-americano. Além disso, a nomeação dos ministros não acarretaria a perda dos mandatos legislativos que exercessem, e o período presidencial duraria cinco anos. Cumpre acrescentar que os direitos trabalhistas do período getulista foram incorporados ao texto constitucional. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 311). 24 Por meio dela houve ainda a volta das liberdades individuais e de suas garantias outrora suprimidas, fazendo com que as imunidades tributárias recebessem maior atenção. Regina Helena Costa destaca algumas destas tendências: A Democrática Constituição de 1946, em sua redação original, previa a “isenção” do imposto de consumo em relação aos artigos que a lei classificasse como o “mínimo indispensável” a habitação, vestuário, alimentação e tratamento médico das pessoas de restrita capacidade econômica (art. 15, §1o), a imunidade recíproca (art. 31, V, “a”), a imunidade dos templos, partidos políticos, instituições educacionais e de assistência social (art. 31, V, “b”) e do papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros, (art. 31, V, “c”). (COSTA, 2015, p. 35). Esta constituição deu origem às imunidades tributárias, tal como conhecemos, especialmente no que se refere à imunidade de impostos. Isto porque a redação do atual art. 150, inciso VI, da CF/88, reproduz em grande parte o que dispunha o art. 31, V, do texto de 1946, podendo se observar da simples leitura do referido dispositivo a grande semelhança com a norma constitucional atual. Senão vejamos: Art. 31 - A União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado: I - criar distinções entre brasileiros ou preferências em favor de uns contra outros Estados ou Municípios; II - estabelecer ou subvencionar cultos religiosos, ou embaraçar-lhes o exercício; III - ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto ou igreja, sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo; IV - recusar fé aos documentos públicos; V - lançar impostos sobre: a) bens, rendas e serviços uns dos outros, sem prejuízo da tributação dos serviços públicos concedidos, observado o disposto no parágrafo único deste artigo; b) templos de qualquer culto bens e serviços de Partidos Políticos, instituições de educação e de assistência social, desde que as suas rendas sejam aplicadas integralmente no País para os respectivos fins; c) papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros. (BRASIL, 1946). 25 O regime militar volta ao Brasil em 1964, quando as Forças Armadas, sob pretexto de ameaça de um novo golpe comunista, depuseram o presidente em exercício João Goulart. Com o advento da Constituição de 1967 e após com a Emenda Constitucional no 1, de 1969, apesar das alterações sociais e da estrutura do Estado, com a adoção do Regime Militar, não existiram maiores alterações quanto às imunidades elencadas na Constituição de 1946, que permanecera, em evidência no art. 20, inciso III, alíneas a, b, c e d, parágrafos 1º e 2º, da Carta de 1967, conforme se colaciona abaixo: Art. 20 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - instituir ou aumentar tributo sem que a lei o estabeleça, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; II - estabelecer limitações ao tráfego, no território nacional, de pessoas ou mercadorias, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, exceto o pedágio para atender ao custo de vias de transporte; III - criar imposto sobre: a) o patrimônio, a renda ou os serviços uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) o patrimônio, a, renda ou os serviços de Partidos Políticos e de instituições de educação ou de assistência social, observados os requisitos fixados em lei; d) o livro, os jornais e os periódicos, assim como o papel destinado à sua impressão. § 1º - O disposto na letra a do n.º III é extensivo às autarquias, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços vinculados às suas finalidades essenciais, ou delas decorrentes; não se estende, porém, aos serviços públicos concedidos, cujo tratamento tributário é estabelecido pelo poder concedente no que se refere aos tributos de sua competência, observado o disposto no parágrafo seguinte. § 2º - A União, mediante lei complementar, atendendo, a relevante interesse social ou econômico nacional, poderá conceder isenções de impostos federais, estaduais e municipais. (BRASIL, 1967). Neste sentido, José Afonso da Silva, delineia a Carta Magna de 1967: Sofreu forte influência da Carta Política de 1937, cujas características básicas assimilaram. Preocupou-se fundamentalmente com a segurança nacional. Deu mais poderes à União e ao Presidente da República. Reformulou, em termos mais nítidos e rigorosos, o sistema tributário nacional e a discriminação de rendas, ampliando a técnica do federalismocooperativo, consistente na participação de uma entidade na receita de outra, com acentuada centralização. Atualizou o sistema orçamentário, propiciando a técnica do orçamento-programa e os programas plurianuais de investimento. 26 Instituiu normas de política fiscal, tendo em vista o desenvolvimento e o combate à inflação. Reduziu a autonomia individual, permitindo suspensão de direitos e de garantias constitucionais, no que se revela mais autoritária do que as anteriores, salvo a de 1937. (SILVA, 2011, p. 86). Na questão tributária, a nova Constituição pouco inovou além do que fora relatado pelo autor. Após um ano de outorga da Carta de 1967, produziu-se o Ato Institucional n. 5, de 13 de dezembro de 1968, um elenco de ordens arbitrárias que vieram a romper com a ordem constitucional, instituindo-se um tenebroso período da história do Brasil aonde suprimiu-se os direitos e garantias individuais, as garantias de autonomia dos magistrados, instituiu prática de tortura e paralisação da democracia, o que viria a prolongar-se por 10 anos. Podem ser citados como exemplos dos instrumentos outorgados ao presidente da República pelo referido ato institucional: a cassação de mandatos parlamentares; suspensão, por dez anos, dos direitos políticos de qualquer cidadão; decretação de confisco de bens considerados ilícitos; suspensão da garantia do habeas corpus dos presos políticos, dentre outros. Em outubro de 1969, a Carta de 1967 sofreu sua primeira Emenda. Em verdade, “a emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformulado” (SILVA, 2011, p. 86). Após a emenda de 1969, houve outras até que se chegasse à Emenda Constitucional no 26, de 27 de novembro de 1985, que inaugurou nova ordem constitucional, dando fim ao período ditatorial. Mas não se tratava de uma Assembleia Constituinte especialmente eleita para aquele fim e que deveria se dissolver tão logo fosse cumprida a missão. Em seu lugar, por influência conservadora, optou-se por um Congresso “com poderes constituintes”, isto é, os parlamentares assumiriam as suas funções normais logo após a redação da Constituição, sem a obrigação de disputar novas eleições. (KOSHIBA; PEREIRA, 1996, p. 368). A partir desse momento, emergiu o texto final da atual Constituição sendo este aprovado em dois turnos de discussão e votação, pela maioria, determinando o 27 fim do período de exceção constitucional, marcando o nascimento do Estado Democrático de Direito. Segundo José Afonso da Silva, constitui um texto razoavelmente avançado, moderno, com inovações de relevante importância para o constitucionalismo brasileiro e até mundial. Enaltece os direitos da esfera negativa, e garante ao cidadão maior autonomia e direitos individuais oponíveis ao Estado.(SILVA,2011,p.88). Denota-se que o texto constitucional herdou o mesmo desejo liberal presente na Carta de 1946, devido ao fato de que as duas vieram após períodos ditatoriais. Nesse sentido, a carta reformulou ideologicamente o texto consagrando princípios e direitos fundamentais inafastáveis, que é inclusive a própria essência das imunidades. A Carta de 1988, desta feita, foi produto de intensa discussão no Congresso Constituinte e buscou conciliar interesses esquerdo- progressistas com direito-conservadores o máximo possível. Resultado foi a produção do texto baseado em 9 títulos: dos princípios fundamentais; dos direitos e garantias fundamentais; da organização do Estado; da organização dos poderes; da defesa do Estado e das instituições democráticas; da tributação e do orçamento; da ordem econômica; da ordem social; das disposições gerais. (SILVA, 2011, p. 88). A nova Constituição também estruturou o Sistema Tributário Nacional (STN), que contou com 6 seções referentes: aos princípios gerais, às limitações do poder de tributar, à distribuição da competência tributária para instituir impostos entre União, Estados e Municípios, e da repartição da receita tributária entre os entes da federação. Neste ínterim, ainda houve mudanças também no que cinge ao objetivo da imunidade tributária, conforme explica João Bosco Peres: Atualmente é pacífico o entendimento de que a imunidade está diretamente ligada à ausência da capacidade contributiva, à universalidade dos tributos e o papel social que determinados sujeitos exercem no meio da sociedade. Todavia tal entendimento já foi diverso, admitindo-se como um autêntico privilégio a imunidade dos nobres e da Igreja ante o poder do Rei. (PERES, 2012, p. 27). 28 Ademais, é necessário ressaltar que a CF/88 não traz em seu texto a expressão “imunidade”, contentando-se em utilizar os termos “é vedado”, no art. 150, “é isento”, no art. 195 e “não incidirá”, assim, trata-se de conceito construído doutrinariamente. Neste diapasão, conforme já foi ventilado alhures, a imunidade é, em suma, a exclusão do poder de tributar do Estado estabelecido constitucionalmente, ou seja, “há delimitação negativa da competência tributária dos entes políticos da Federação, na isenção, impede-se a exigência do tributo em razão da restrição impingida no momento do exercício da competência tributária” (REIS, 2013, p. 70). Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.(Incluída pela Emenda Constitucional nº 75, de 15.10.2013). (BRASIL, 1988) Em virtude dos princípios fundamentais aos quais compõem as normas imunizantes, esta deve ser interpretada acompanhada do objeto a ser tutelado por ela. Dessa forma, quando ao interpretar as imunidades genéricas, instituídas no art. 150, VI, da CF/1988, e os arts. 1º a 5º da Constituição Federal (CF), é necessário que se aproxime ao art. 60, § 4º da CF/1988, consagrador das cláusulas pétreas. Art. 60 - A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: […] § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. (BRASIL, 1988). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc75.htm#art1 29 Sendo as imunidades instrumentos de efetivação de cláusulas pétreas, não é permitido ao legislador retirá-las do texto constitucional, e nem ao intérprete buscar sentido que venha a diminuir seu conteúdo, considerando a rigidez da constituição brasileira. Nos dizeres de Regina Helena Costa: Em outras palavras, quando a exoneração tributária é outorgada por uma Constituição, pretende-se seja perene. Se a Constituição é rígida, tal perenidade está assegurada em termos mais consistentes, diante do maior grau de dificuldade estabelecido para sua modificação. (COSTA, 2015, p. 75). Lado outro a Carta de 1988 também trouxe hipóteses de imunidades tributárias específicas, destinadas a definir a intributabilidade em relação a impostos, que conforme ensina Ricardo Alexandre: Em outros casos, o legislador restringe a aplicação da imunidade a umdeterminado tributo de competência de determinada pessoa política, de forma a atender a certa conveniência ou a determinado e restrito valor. Como exemplos, podem ser citadas as imunidades ao IPI e ICMS nas operações de exportação (previstas, respectivamente, nos art. 153, §3º, III e 155, §2º, X, a, ambos da CF/1988) e a imunidade ao ITBI que beneficia diversas operações societárias (CF/1988, art. 156, §2º, I). Tais imunidades são classificadas como específicas (ou tópicas). (ALEXANDRE, 2012, p.150). Destarte pode-se concluir, diante desta explanação histórica que as imunidades até aqui consagradas se encontram no rol das mais rígidas estruturas constitucionais, não podendo ser atacadas por ato emanado do Poder Constituinte Derivado. Somente convocando uma nova Assembleia Constituinte, a qual poderia exercer o Poder Constituinte Originário, é se poderia vir a suprimi-las, o que resta evidente o quão importante é o instituto das imunidades para garantia das liberdades e direitos consagrados pelo Estado Democrático de Direito. 2.2 Conceito e natureza jurídica O texto constitucional, quando delimita a competência tributária entre os entes da federação, outorga-lhes o poder de tributar, mas, como via de mão dupla, restringe as hipóteses passíveis de serem tributadas. 30 De igual modo, a CF/1988 autorizou a incidência de tributação em face de determinadas circunstâncias e, por outro lado, vedou de forma expressa a cobrança de tributos em relação a algumas situações pessoas e fatos. A essa proibição dá-se o nome de imunidade. José Afonso da Silva, em sua obra ensina: As imunidades fiscais, instituídas por razão de privilégio, ou de considerações de interesse geral (neutralidade religiosa, econômicos, sociais e políticos) excluem a atuação do poder de tributar. Nos hipóteses imunes de tributação inocorre o fato gerador da obrigação tributária. (SILVA, 2011, p. 713). Neste sentido leciona Yoshiaki Ichihara: As limitações constitucionais, vista pelo ângulo estatal, constituem restrições do poder de tributar; entretanto, vista pelo ângulo dos indivíduos (pessoas físicas e jurídicas), contribuintes dos tributos, representam instrumentos de proteção e de resistência à pretensão estatal. (ICHIHARA, 2005, p. 58). Machado (2013, p. 289) define imunidade como, “o obstáculo decorrente de regra da constituição à incidência de regra jurídica”. Imunidade tributária, então, pode ser definida como a exoneração, fixada constitucionalmente de competência ou extraível, necessariamente, de um ou mais princípios constitucionais, que confere direito público subjetivo a certas pessoas, nos termos por ele delimitados, de não se sujeitarem à tributação. (COSTA, 2009, p. 80). Noutro entendimento, ainda uníssono, com maestria define Baleeiro (2010, p. 226) que a imunidade tributária consiste em, “Uma exclusão da competência ao poder de tributos, proveniente da constituição”. Paulo Barros Carvalho define imunidade como: Classe finita e imediatamente determinável de normas jurídicas, contidas no texto da Constituição Federal, e que estabelecem, de modo expresso, a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para expedir regras instituidoras de tributos de tributos que alcancem situação específica e suficientemente caracterizada. (CARVALHO, 1991, p. 117). 31 Portanto, a imunidade tributária pode ser entendida como mecanismo criado constitucionalmente, seja por norma expressa ou por princípios delas decorrente, para limitar o poder do Estado no que concerne à tributação sobre determinadas pessoas, bens ou situações específico, garantindo o direito público subjetivo àqueles para que não se sujeitem ao ônus tributário. É sabido que o Estado necessita angariar recursos para gerenciar todas as funções inerentes à sua administração, utilizando-se assim do poder de tributar. Alexandre (2012, p. 4), leciona acerca da atividade financeira do Estado no sentido de que “existe para consecução do bem comum. Para atingir tal mister, precisa obter recursos financeiros, o que faz, basicamente, de duas formas, que dão origem a uma famosa classificação dada pelos financistas às receitas públicas”. As receitas públicas recebem a classificação entre originárias e derivadas. A primeira consiste na atuação do Estado de forma semelhante aos particulares, renunciando as vantagens proporcionadas pelo Direito público, obtendo receitas patrimoniais ou empresariais. Já na segunda, o Estado enquanto centro do poder de império, agindo de acordo com legalidade, obriga o particular ao cumprimento de atos ou a realização de certas condições, como, por exemplo, o pagamento de tributos. Como as receitas públicas derivadas, no Brasil, fica estabelecido o Art.145 da CF/1988: Art. 145 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. (BRASIL, 1988). Por conseguinte, para que a máquina estatal se movimente, o próprio Estado cria mecanismo de arrecadação por meio da tributação, observando desde logo os preceitos insculpidos na Constituição Federal. No Brasil, tratou o Constituinte de estabelecer limitação quanto ao poder do Estado de tributar, buscando proteger o interesse do cidadão e ratificar a segurança jurídica aos contribuintes. 32 Para consecução deste fim este utilizam-se das espécies tributárias quais sejam: os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria, encontrados nos artigos 145 da Constituição Federal e 5º do Código Tributário Nacional (CTN), os empréstimos compulsórios (art.148 da CF/1988) e as contribuições (arts. 149, 149 - A, 195, 239 e 240 da CF/1988). Dentre elas, somente os impostos, as taxas e as contribuições são tributos que poderão ser alcançados pela imunidade, observando algumas condições. Para Hugo de Brito Machado, é comum a afirmação, baseada na redação do art. 150 VI, da CF/1988, que as imunidades dizem respeito apenas aos impostos, mas a Constituição em outros dispositivos trata de imunidades referentes às taxas e às contribuições também. A errônea ideia que as normas imunizantes só recaem sobre os impostos, deve-se, pelo fato da maior atenção dada a essa espécie de tributo pela constituição, prevendo as imunidades a eles referentes em maior número. O legislador assim o fez com maior cuidado e precisão devido a não vinculação dos impostos a uma atuação estatal. Importante salientar que conforme já pacificado entre doutrina e a jurisprudência, as imunidades previstas no art. 150, VI, da CF/1988, se aplicam apenas aos impostos. Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. (...) § 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas (b) e (c), compreendem somente opatrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas. (BRASIL,1988). 33 Pela análise das situações retiradas do art.5º Constituição Federal, fica evidente que as imunidades alcançam também outras espécies tributárias, como por exemplo, as taxas e contribuições observem-se: LXXVI - São gratuitos, para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a - o registro de nascimento; b - a certidão de óbito. XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal. (BRASIL, 1988). Conforme elucida Luciano Amaro: Essas situações são incluídas por Ricardo Lobo Torres no rol dos mecanismos constitucionais de proteção do mínimo existencial, que se traduz no “direito às condições mínimas de existência humana digna que não pode ser objeto de incidência tributária e que ainda não exige prestações estatais positivas”, ligadas á saúde, à educação, à assistência social etc. (AMARO, 2007, p 161). Importa esclarecer que é pressuposto para incidência da taxa de serviço que haja uma atuação estatal consistente na prestação ou disponibilização de um serviço público, específico e divisível, imediata e diretamente referida a alguém. No tocante às contribuições, tem-se como exemplo de hipótese de imunidade a prevista no art. 149 da CF/1988, que assim dispõe: Art. 149 - Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no Art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação. (BRASIL, 1988). A contribuição social é um tributo caracterizado por ter função extrafiscal, isto porque, tem como finalidade precípua a intervenção no domínio econômico, não 34 tendo objetivo apenas arrecadatório. Por exemplo, a imunidade conferida aos produtos brasileiros no exterior, a fim de estimular as exportações, evitando o ônus representado pelas contribuições e a perda de competitividade. Outra situação referente à imunidade está disciplinada no art. 195, § 7º da CF da seguinte forma: Art. 195 - A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...) § 7º - são isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. (...). (BRASIL, 1988). A Constituição traz, numa parceria entre Estado e entidades beneficentes de assistência social, a realização de programas nessa área (art. 204, I) para que com governos estaduais e municipais estas trabalhem num objetivo comum. No entanto, para incidir a imunidade em foco, mais especificamente relativo as contribuições para a seguridade social, não basta ser entidade de assistência, ele também precisa ser beneficente e também atender as exigências estabelecidas em lei. No caso do art. 195, § 7º, é importante salientar, que apesar da terminologia usada isenção, trata-se uma imunidade, pela desoneração tributária decorrer da própria Constituição Federal. É o que preceitua Alexandre (2012, p. 4), lembrando que “é importante ressaltar que não importa como o texto constitucional foi redigido: se impede a cobrança de tributo limitando a competência tributária, o caso é de imunidade”. É importante mencionar para o estudo em análise que a doutrina classifica as imunidades como objetivas, subjetivas e mistas de acordo com seu alcance. Neste sentido, leciona Roque Antonio Carazza: O que estamos querendo expressar é que mesmo a chamada imunidade objetiva alcança pessoas, só que não por suas qualidades, características ou tipo de atividade que desempenham, mas porque relacionados com determinados fatos, bens ou situações (v.g., a imunidade do art.150, VI, “d”, da CF). Já a denominada imunidade subjetiva alcança pessoas pela sua própria natureza 35 jurídica (por exemplo, a imunidade do art.150, VI, “a”, da CF). E, finalmente, a imunidade mista alcança pessoas por sua natureza jurídica e porque relacionadas com determinados, fatos bens ou situações (e.g., a imunidade do art.153,§4º, da CF). (CARRAZZA, 2008, p. 706). Desta feita, a imunidade tributária pode ser entendida como mecanismo criado constitucionalmente, seja por norma expressa ou por princípios delas decorrente, para limitar o poder do Estado no que concerne à tributação sobre determinadas pessoas, bens ou situações específico, garantindo o direito público subjetivo àqueles para que não se sujeitem ao ônus tributário. 36 3 TEORIAS A RESPEITO DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO A religiosidade está enraizada nos conceitos e preceitos sociais do Brasil desde os primórdios de sua colonização, ou mesmo antes, quando os nativos já cultuavam e prestavam suas adorações às suas divindades indígenas. Conforme já analisado, durante toda a evolução social no Brasil, a Igreja, em sua grande parte, a Católica, participou de forma significante das mudanças ocorridas, influenciando grandemente por meio de suas manifestações. A Constituição de 1824, por força das influências europeias advindas do Império, estabelecia em seu art. 5º que “a Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Império” (BRASIL, 1824), evidenciando a total restrição à laicidade e forte presença da Igreja Católica sobre os mandos do Imperador. Contemporaneamente, apesar de o Brasil se constituir-se como Estado laico, o que leva à “neutralidade ou não identificação do Estado com qualquer religião”, (TORRES, 2005, p. 244), por força do art. 19, inciso I da CF/88, têm-se que a religião permanece presente no cotidiano nacional, conforme leciona Sabbag (2012, p. 1) Ocorre que a laicidade não se mostra como comando definitivo, incidindo em termos absolutos à semelhança de uma “regra”, na lógica de “tudo ou nada”, mas, consoante a trilha conceitual de Robert Alexy, como um mandado de otimização, a ser efetivado, diante do caso concreto, no limite de sua possibilidade fática e jurídica, levando-se em conta a ponderação de princípios constitucionais. Neste passo, há ações estatais que dão suporte à religião, mantendo-se o limite da neutralidade do Estado, sendo consideradas legítimas, e outras que tendem a sobrepujar a tutela constitucional da laicidade. (SABBAG, 2012, p. 323). Graças a estas constantes aproximações entre o Estado e o sagrado, o que advém também das reiteradas manifestações da religiosidade através dos representantes do povo, muito embora, como já dito, exista o constante discurso de laicidade, o Constituinte como forma de proteger os princípios consagrados pela Constituição estabeleceu proteção aos templos onde se realizam os cultos, gozando, assim, de alguns benefícios constitucionais. 37 Portanto, para uma compreensão precisa da extensão da norma imunizante no campo religioso, preliminarmente, é necessário aprofundar-se no estudo dos conceitos de templo e culto. 3.1 Conceito de templo O termo Templo é proveniente do latim templu, sendo considerado como o espaço em destina-se ao culto, onde se professa a fé. Na Roma antiga, o templo era estabelecidoem local aberto, descoberto e elevado, consagrado pelos sacerdotes da adivinhação, ou augures, com o intuito de encontrar e desvendar a vontade dos deuses daquela cidade. Desta forma, havia uma tentativa de ligação transcendental entre o homem, e sua finitude, com o ser absoluto, seu Deus. A palavra “templo” pode ser interpretada sob pelo menos duas perspectivas. Em sentido amplo pode designar toda uma ordem religiosa, composta dos locais de culto e da administração, o que inclui o pessoal necessário ao funcionamento desses locais e da administração da ordem como um todo. Em sentido estrito a palavra designa apenas e tão somente o local em que são celebrados os rituais próprios do culto respectivo. Parece-nos que interpretação ampla é a mais correta porquanto empresta maior espectro (máxima efetividade) a importantes princípios da organização social de nossa comunidade. (ANDRADE FILHO in PEIXOTO; CARVALHO, 2005, p. 117). Dentro da seara doutrinária, ainda não foi sedimentado o âmbito de extensão do termo templo. Coelho (2002, p.134), entendendo pela aplicação restritiva do termo, prega que templo é o local estritamente destinado à realização do culto, mas não necessariamente está adstrito a edificações, ou seja, pode ser realizado fora de espaços edificados. Sem destoar, Carvalho (2007, p.128) ensina que o conceito de templo recai sobre todo e qualquer local onde se realizem as celebrações religiosas. Divergindo deste entendimento, Aliomar Baleeiro assevera em sua obra que a expressão “templo de qualquer culto” não é apenas a materialidade do edifício, que estaria sujeito tão somente ao imposto predial do município, ou a de transmissão inter vivos, se não existisse franquia inserta na Lei Máxima. Um edifício só é templo se o completam as instalações ou pertenças adequada àquele fim, ou 38 se o utilizam efetivamente para a prática religiosa. Destarte, “templo”, no art. 19, III, b, compreende o próprio culto e tudo quanto vincula o órgão à função. (BALEEIRO, 2010, p. 502). Comungando deste entendimento, Machado (2013, p. 245), disserta que, “templo não significa apenas a edificação, mas tudo quanto seja ligado ao exercício da atividade”, o que demonstra o espírito interpretativo atribuído pela doutrina extensiva. 3.2 Conceito de culto A palavra “culto” decorre do Latim (cultu) e significa adoração ou homenagem a Deus ou a coisa.(FERREIRA,1996, s.v. “cultu”). Etimologicamente, este termo envolve deriva de colo, colere, que indicam honrar. Os principais termos que descrevem o ato ou atitude de cultuar são provenientes do Hebraico e do Grego. O primeiro vocábulo, shachah, significa inclinar-se ou prostrar-se. A segunda palavra, proskuneo, significa, prostrar-se para adorar ou reverenciar. Sabbag (2012, p. 325) conceitua culto como “a manifestação religiosa cuja liturgia adstringe a valores consonantes com o arcabouço valorativo que estipula, programática e teleologicamente, no texto constitucional”. Por sua vez, Antônio Ferreira Filho, descreve culto, nos seguintes dizeres: O culto é o cerimonial religioso, o conjunto dos ritos e atitudes desenvolvidas em essencial nos templos das igrejas, não pode e não deve ser entendido como. O culto se resume a reverencia e adoração divina, interesses, quaisquer outros, a que ele se assemelha ou se compara. O culto destina-se à adoração de Deus, ao aprimoramento da espiritualidade (FERREIRA FILHO, 2005, p. 66). Neste ínterim, Denise Lucena Rodrigues, propõe ao culto o conceito de: Conjunto de práticas religiosas, destinadas ao aperfeiçoamento dos sentimentos humanos. É a manifestação externa da crença. O rito, esta parte da liturgia com que os homens veneram a deus e aos Santos, é absolutamente livre, no regime republicano. Não há como o Estado intervir na determinação dos cultos, quaisquer que sejam 39 eles, desde que não ofendam os bons costumes.(RODRIGUES, 1995, p.147). No entanto, há de ser ponderado que os entendimentos firmados acima promovem certa confusão entre o termo “culto” e a atividade religiosa, atribuindo, portanto, um sentido religioso ao conceito, fazendo sua associação direta à sua espécie mais usual, o culto religioso. Naturalmente, ao se tentar chegar ao conceito de determinada expressão, haverá o apego à sua forma mais comum socialmente. É o que ocorre com o conceito de culto, há uma enorme vinculação do termo aos dogmas religiosos de determinada fé. O culto religioso está inteiramente ligado aos rituais e procedimentos realizados dentro da cerimônia simbólica da crença, ou seja, constitui-se como uma sequência de atos com determinada carga valorativa utilizada como meio para cultuar determinado deus ou entidade espiritual. Inobstante, ainda que a adoração religiosa se utilize do culto – cerimônia simbólica – o culto não está necessariamente vinculado à prática de atos religiosos. Portanto, enquanto cerimônia simbólica tem por fito cultuar algo, podendo ou não ser de cunho religioso. Logo, por este distanciamento conceitual, poderá ser entendido culto em seu sentido lato sensu, como aquele em que se adoram ídolos, pensadores, escritores, personalidades midiáticas ou governantes populistas, bem como a veneração a objetos ou ideologias. Igualmente, por ser assegurada constitucionalmente a liberdade de associação (art. 5º, inciso XVII, CF), é possível a instituição de determinada comunidade com fito de adoração dos mais diversificados tipos objetos, pessoas ou ideais, desde que, não ofendam outros princípios constitucionais. Assim, qualquer associação que tiver como fim a realização de cerimônia para cultuar, estará desenvolvendo a atividade de culto, podendo ser religioso ou não. 3.3 Teorias no Brasil Existem três teorias, as quais tentam conceituar “templo”, para os fins da presente imunidade, trazidas pelo autor Eduardo Sabbag. 40 A primeira é a chamada teoria clássico-restritiva a qual conceitua “templo” para os fins de imunidade apenas o imóvel onde acontecem as celebrações. Qualquer outra extensão não está abrangida pela norma imunizante. Esta teoria é defendida por autores como Pontes de Miranda e Sacha Calmon Navarro Coelho. (SABBAG, 2013, p. 332). A segunda teoria, clássico-liberal, vem ampliar o conceito de templo abrangendo não apenas o local das celebrações, mas também os anexos. Estes anexos seriam tudo aquilo que, mesmo indiretamente viabiliza a realização do culto. Adotam esta teoria Aliomar Baleeiro, Roque Antonio Carrazza e Hugo de Brito Machado. (SABBAG, 2013, p. 332). Importante a explicação de Aliomar Baleeiro: ... Não se pode considerar templo apenas a igreja, mesquita, sinagoga ou edifício principal, onde é celebrada a cerimônia pública, mas também as dependências contíguas, como o convento ou a residência do pároco, desde que não empregados com finalidade econômica. (BALEEIRO, 1997, p. 311). Já a terceira teoria, a chamada moderna, entende templo como entidade, no sentido de instituição, organização ou associação, mantedoras do templo religioso, vistas como desvinculadas das coisas e pessoas objetivamente consideradas imunes. No contexto jurídico, possui acepção mais ampla que pessoa jurídica com uma visão própria de si mesma. Eduardo Sabbag assim dispôs: Não se pode perder de vista que o conceito de religião é aberto, inexistindo um regramento legal ou constitucional. Vale dizer que a conceituação de religião, longe de ser “substancial” – em que se perscruta aleatoriamente o elemento conteudístico –, deverá ser funcional, abrindo-se para quaisquer agrupamentos litúrgicos em que os participantes se coobriguem moralmente a agir sob certos princípios. Nesse sentido, o intérprete deve buscar o sentido mais abrangente, sob pena de colocar em risco as crenças de grupos minoritários. (SABBAG, 2013, p. 335). Dessa forma a teoria moderna,
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