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Produtividade
Desaquecimento do mercado da construção pressiona construtoras a buscarem eficiência; gestão de processos, produtos e tecnologia será decisiva. Por Eduardo Campos Lima - Edição 158 - Setembro/2014 Téchne
O crescimento significativo que as empresas de construção civil tiveram, entre 2007 e 2011, pode ser comprovado por meio de diferentes indicadores, como o incremento nos lançamentos, que foi de 24% ao ano (em área lançada), e a elevação da receita líquida, que foi de 50% ao ano, conforme dados compilados em estudo da consultoria EY referentes a sete das maiores construtoras e incorporadoras do País. A evolução não foi suficiente, entretanto, para superar a expansão dos custos, que foi de 60% ao ano, no mesmo período. O resultado foi o achatamento da margem Ebidta (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), que caiu de 21%, em 2007, para 16%, em 2011. Aumentar a produtividade, nesse cenário, tornou-se condição central para retomar as margens de lucro. 
"O contexto atual das empresas é propício para que se defina a evolução da produtividade como meta importante para o negócio. Há quatro ou cinco anos, o crescimento do mercado e a inflação de preços por metro quadrado não pressionavam em direção ao aumento da eficiência. Hoje, como demanda e preço estão em acomodação, resultados melhores dependem de processos mais eficientes", argumenta Flavio Barreiros, sócio de consultoria da EY.
Conforme explica Hélcio Bueno, sócio em consultoria para real estate da EY, em outros ramos da economia, momentos de pressão do mercado, com custos mais elevados, propiciaram a busca pela inovação. "No setor da construção, durante muitos anos as empresas ganharam dinheiro com base na performance financeira dos empreendimentos. Vemos agora um ciclo que ocorreu em outras indústrias chegando ao setor de forma mais tardia", explica.
O cenário, entretanto, apresenta obstáculos. Há limitação da oferta de mão de obra especializada e, ao mesmo tempo, o setor da construção permanece tendo capacidade alta de geração de emprego, o que acarreta elevação relativa do custo do trabalho - mas sem os ganhos de produtividade correspondentes. Soma-se ao quadro a baixa qualificação dos trabalhadores da construção em todos os níveis, algo difícil de equacionar no curto prazo. O problema, na pesquisa da EY, foi apontado por executivos de construtoras e incorporadoras como item com mais impacto sobre a produtividade das empresas.
OBSTÁCULOAS À PRODUTIVIDADE
Os executivos ouvidos pela EY apontaram como principais entraves para avanços na produtividade da construção civil a baixa qualificação da mão de obra e a falta de métodos de gestão focados em resultados
Fonte: Estudo sobre produtividade na construção civil: desafios e tendências no Brasil, da EY
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
Pesquisa realizada pela FGV/Firjan entrevistou 159 especialistas, construtores e fornecedores. A percepção da maioria deles é que o avanço tecnológico das empresas de construção civil, especificamente do segmento de edifícios, encontra-se em estágio intermediário atualmente. Confira:
Fonte: FGV/Firjan
"Mas é importante não usarmos muletas. Não podemos deixar de agir porque mão de obra é o principal problema. Há uma série de outras medidas que podem ser tomadas para melhorar a produtividade e que são alternativas mais imediatas", explica Barreiros. 
Com o atraso relativo do setor da construção civil diante de outras indústrias, na avaliação de Barreiros, é possível apropriar-se de técnicas já consolidadas para reduzir desperdício, melhorar fluxos e reduzir estoques. "Na construção civil esses conceitos podem ser aplicados ao desenho mais racional do canteiro de obra, à logística de materiais e à redução do desperdício de insumos", aponta.
Tudo começa na gestão, com o estabelecimento de metas que envolvem não apenas custo e prazo, mas também eficiência de materiais e mão de obra, qualidade do produto e inovação no canteiro. A gestão por indicadores, pouco comum no setor, deve ser política estabelecida pela diretoria-executiva e, a partir daí, disseminada por toda a empresa, chegando aos canteiros. É fundamental, para aumentar a produtividade, conhecer seu patamar atual, nas diferentes etapas de obra.
Na formatação de produtos imobiliários, a gestão deve propiciar a integração entre as diferentes áreas da organização envolvidas na tarefa, favorecendo planejamento uniforme e abrangente. Deve-se também estabelecer parâmetros para quantificação, análise e prevenção de riscos. "Nossa pesquisa mostrou que não se faz gestão de risco adequada. Não se trata apenas de riscos relacionados a atrasos na entrega de obras, mas também trabalhistas, já que é um setor altamente terceirizado, e tributário. É preciso fazer um investimento para que haja autoconhecimento e compreensão dos riscos a que a empresa está sujeita. As decisões devem ser amparadas nessa análise", recomenda Barreiros.
Também os projetos devem ser concebidos e elaborados com foco em produtividade. A utilização de ferramentas como o BuildingInformationModeling (BIM) permite a compatibilização dos projetos de diferentes sistemas de maneira completa, favorecendo o planejamento e a orçamentação. Mas há outros instrumentos que podem auxiliar projetistas, conforme aponta pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas a pedido da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), sobre os desafios da construção civil. Especialistas consultados no levantamento indicaram como diferenciais competitivos para um prazo de até dez anos tecnologias como software de simulação de eficiência energética, informação georreferenciada, simulador de desempenho térmico e mapeamento acústico das cidades - elementos que poderão embasar as decisões de gestão e projeto, contribuindo para minimizar riscos e planejar melhor o produto e a execução.
A racionalização dos processos é concretizada na obra com a adoção de sistemas, materiais e equipamentos que permitam um grau de industrialização mais elevado do que as metodologias tradicionais, favorecendo pré-fabricação e montagem em canteiro. No levantamento da Firjan, especialistas apontam como principais tecnologias ou processos para industrialização da construção itens como drywall, estruturas pré-fabricadas de concreto, kits hidráulicos industrializados, light steel frame, gruas, painéis pré-fabricados, equipamentos para projeção de argamassa e estruturas mistas de aço e concreto.
Todos esses sistemas, equipamentos ou tecnologias já estão disponíveis no País há anos, não sendo inacessíveis para as construtoras. O estudo da Firjan aponta, portanto, que o desafio para os próximos anos será incorporar as tecnologias de industrialização do canteiro nos processos produtivos das empresas.
Os entraves para a assimilação de sistemas inovadores são diversos: deficiências de projetos e planejamento; insuficiência de normatização e padronização; falta de coordenação modular, dificultando a intercambialidade de componentes; e lacunas de gestão. No que se refere a máquinas e equipamentos, há ainda resistência à sua adoção, por parte de construtores e empresas subcontratadas, que temem que os custos não compensem. Conforme aponta Roberto da Cunha, chefe do Núcleo de Projetos Especiais em Construção Civil do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Rio de Janeiro (Senai/RJ), clientes também podem ter aversão a soluções inovadoras, percebidas em estratos de renda mais altos como portadoras de qualidade baixa. "Empresários apontam, ainda, o risco de aplicar métodos ou materiais não totalmente testados e, além disso, queixam-se da dificuldade de encontrar mão de obra capacitada para trabalhar com métodos não convencionais", completa Hélcio Bueno, da EY.
Apesar das barreiras, empresas do setor já têm realizado ações para aumentar a produtividade. O próximo passo é coordená-las e gerenciar a inovação de forma integrada. "Algumas gestões coordenadas tendem a dar resultado rápido com nível de esforço pequeno. Em um prazo de seis a 12meses após a implantação da gestão focada em produtividade, surge a primeira onda de resultados - e consegue-se colocar a empresa em outro patamar", aponta Flavio Barreiros, da EY.
CAPTAÇÃO NECESSÁRIA
O setor da construção identifica necessidade quase idêntica de capacitação em todos os níveis de mão de obra:
Fonte: FGV/Firjan
O preço da desqualificação
Em pleno crescimento do setor da construção, cerca de 112 mil vagas de trabalho foram abertas no último ano. Mas, com tantos anos sem investir na qualificação da mão-de-obra, o mercado já sente falta de braços bem treinados para tocar as novas obras. Por Mirian Blanco - Edição 73 - Agosto/2007 - PINI
Mais de 112 mil vagas de trabalho foram abertas no último ano na construção. Segundo pesquisa do SindusCon-SP/FGV, na média do País, o emprego com carteira cresceu 6,4%, sendo que quase todos os segmentos da construção apresentaram evolução do emprego formal superior a 5% (no acumulado até abril). Com indicadores como esses, já há quem diga que o setor fechará o ano com até 200 mil novos postos de trabalho ocupados. Mas isso só se houver mão-de-obra qualificada.
Ironicamente, o setor da construção civil brasileira, construído artesanalmente pelas mãos de operários majoritariamente analfabetos e sem qualificação técnica, paga o preço de anos sem investimentos em formação de pessoal. E agora, quando, finalmente, depois de quase três décadas de estagnação, o segmento retoma o ciclo de crescimento consistente e demanda um contingente de mão-de-obra expressivo para dar conta do aumento do volume de obras, faltam trabalhadores habilitados.
Carpinteiros de fôrmas, armadores e profissionais de escoramento já são figuras raras no mercado. E se nem mesmo aqueles que já atuam no setor respondem às necessidades do novo paradigma da construção, o que dizer dos mais de 20 milhões de desempregados do Brasil afora, que em outros tempos seriam aqueles que poderiam abastecer a demanda da construção, historicamente receptiva à mão-de-obra desqualificada e conhecida como a porta de entrada do trabalho? A questão é quem vai assumir a responsabilidade pela qualificação e formação de todo esse contingente.
Um estudo realizado pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e encomendado pela Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) revelou as dimensões do desafio: para que a totalidade dos trabalhadores da construção (entre formais e informais) tenha uma educação compatível com os quatro primeiros anos do ensino formal é preciso capacitar meio milhão de pessoas. Esse número sobe para mais de 1,1 milhão quando se pensa em cumprir a lei, garantindo o ensino fundamental ou os oito primeiros anos de ensino dos operários da construção. Segundo o professor Francisco Ferreira Cardoso, do Departamento de Construção Civil da Poli-USP, 80% dos trabalhadores do setor têm menos de quatro anos de estudo e 20% são analfabetos funcionais. Para além da sala de aula, o cenário também é preocupante: apenas os trabalhadores formais - que hoje, de acordo com dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), representam 30% do total dos 4.743.095 milhões de pessoas empregadas pelo setor - receberam algum tipo de treinamento técnico. O restante, que representa 72,4% do mercado de trabalho (ou os quase 3,5 milhões de trabalhadores), opera no sistema informal, não contribuem para a Previdência Social e nunca receberam nenhum tipo de treinamento ou qualificação. Para piorar, o alto índice de rotatividade do setor impede uma formação continuada, já que em média 55% dos funcionários ficam menos de um ano na mesma empresa e em torno de 30% permanecem até seis meses.
Não existe articulação entre os agentes da indústria. "Falta visão estratégica, seja das empresas, das entidades representativas e dos governos", diz Cardoso. Para José Gabriel, secretário de educação da CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria), essa precariedade da mão-de-obra advém de um ciclo de desaquecimento do investimento e de desestímulo à construção iniciado no início dos anos 80 e que culminou, em 1986, na destituição do BNH (Banco Nacional da Habitação), responsável na época pelas políticas, diretrizes e grandes projetos habitacionais.
De onde vem o gargalo
Naquela época, os mecanismos criados pelo governo Sarney, como o Plano Cruzado e o congelamento de preços e de salários para conter a inflação, resultaram numa defasagem entre a correção monetária das prestações e o rendimento das cadernetas de poupança, fazendo com que as parcelas do financiamento da habitação, ao passar dos meses, aumentassem, em vez de diminuir. "O setor da construção passou a perder muito de sua força na economia, e como não havia um ambiente favorável para o desenvolvimento dos sistemas construtivos, engessou", diz José Gabriel.
Sem condições de se desenvolver, a construção não apenas deixou de investir no aprimoramento de seus funcionários como também atraiu uma mão-de-obra menos qualificada, perdendo seus profissionais para as indústrias metalúrgica, têxtil e automobilística, mais atrativas. 
Apesar de algumas reivindicações do movimento sindical no final da década de 80 e até das melhorias trazidas, durante o governo Collor, pelo então ministro do trabalho Rogério Magri, que reorganizou a Caixa Econômica Federal e o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), o setor da construção só começou a se reerguer no governo de Fernando Henrique Cardoso. Nesse período, possibilitadas pela abertura da economia, as empresas de ponta começaram a importar tecnologias, equipamentos e modernizar os métodos construtivos. (
O mercado já sente a falta de carpinteiros, armadores e mestres. Em São Paulo, 400 de mil vagas solicitadas ao 
Sintracon
 não foram preenchidas
)
"A abertura da economia e a introdução de inovações no processo produtivo criaram um novo paradigma da construção, que rompeu com o método artesanal de construir e inaugurou uma forma mais racionalizada e industrializada de trabalhar, pautada na construção seca e em obras sistêmicas", diz Roberto Mingroni, consultor da Fundação Vanzolini. 
As tubulações de cobre dos sistemas hidráulicos começaram a conviver com as de polipropileno, que chegam prontas no canteiro. O mesmo aconteceu com as fachadas que, quando pré-moldadas, passaram a ser construídas fora da obra. Paredes divisórias de blocos ganharam a concorrência dos painéis de gesso acartonado, o drywall, apenas para citar alguns exemplos (veja boxe). As gruas, que antes eram absorvidas quase exclusivamente pelo setor de infra-estrutura, também passaram a ser vistas nos canteiros das edificações carregando paletes com blocos embalados.
Paralelamente, o acirramento da concorrência forçou as empresas a promoverem mudanças profundas em seus processos de gestão e a aprimorarem seus desempenhos técnicos/econômicos. Como conseqüência, começaram a despontar sistemas de gestão da qualidade compatíveis com a norma ISO 9000, como a NR-18 e, mais tarde, iniciativas como o PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat), que tem como objetivo "elevar os patamares da qualidade e produtividade da construção civil, por meio da criação e implantação de mecanismos de modernização tecnológica e gerencial".
Entretanto, esse cenário, apesar de exigir profissionais com conhecimentos e atitudes bastante diferentes das qualificações formais requeridas pelas organizações do trabalho anteriores aos novos paradigmas produtivos, não foi acompanhado pela qualificação da mão-de-obra, que agora precisa responder às exigências de qualidade, produtividade, redução de perdas e desperdícios, controle e sustentabilidade.
O operário braçal está perdendo gradativamente seu espaço nos canteiros, que agora, cada vez mais industrializados, requerem a figura do montador. Se por um lado essa mudança gradual promovida pela industrialização e intensa automação exige um profissional mais qualificado, por outro revela uma tendência de encolhimento da baseda pirâmide da construção.
De acordo com Roberto Mingroni, da Fundação Vanzolini, hoje se constrói um mesmo empreendimento com no mínimo um terço ou menos da quantidade de operários que se necessitava há dez anos. GeórgioVanossi, diretor de engenharia da Setin, confirma: "Para construir uma fachada no modo convencional, por exemplo, calcula-se uma média de 80 itens ou tarefas, entre serviços, equipamentos e pessoas. Já com fachada pré-moldada, não estimo mais do que três etapas". 
De acordo com ele, apesar dos processos produtivos facilitarem o trabalho operacional, uma vez que muitas peças já vêm prontas da fábrica, exigem um controle muito maior. Ele exemplifica: a métrica passa a ser o milímetro e não centímetro; a organização é sistemática; a tolerância ao risco é diminuta; as soluções de quebra-galho, como quebrar parte de um tijolo ou bloco para adaptá-lo à alvenaria, são proibidas; os materiais já vêm nas medidas previstas pelo projeto, que deve ser seguido à risca, e as ferramentas são mais sofisticadas. 
É claro que em se tratando de um mercado que abriga cerca de 172 mil empresas informais, esse cenário de automação é ainda uma realidade restrita à elite da construção, ao mercado formal ou apenas às grandes empresas. Basta um passeio entre os empreendimentos para encontrar tanto o mestre-de-obras analfabeto e que executa seus projetos segundo a tradição, como aquele que trabalha com um laptop e tem plenos conhecimentos de gestão e administração da obra. Mas também é verdade que em menor ou maior proporção, o sintoma está presente em todo o setor.
Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil), diz que recentemente a entidade recebeu a solicitação de mil trabalhadores, mas que, devido ao nível de qualificação requerido, só conseguiu preencher 600 vagas, pouco mais que a metade. "Temos emprego, mas não temos gente. Estamos prestes a viver o apagão da mão-de-obra. Precisamos formar a massa de desempregados do País", diz.
A pergunta é: Como? Na busca em atender o gap de gente especializada, salpicam iniciativas de qualificação em todo o País, vindas por parte de associações representativas (como o SindusCon-SP), fabricantes de materiais, organismos de capacitação (como o Senai), órgãos governamentais e até mesmo de construtoras e empreiteiras.
Nas entidades representativas, como Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) e Seconci (Serviço Social do Sindicato da Indústria da Construção Civil), diversos cursos em diferentes níveis atendem o mercado da construção. Os fabricantes também investem muito em qualificação, como o projeto Doutores da Construção, porém, em geral, apesar de serem bastante expressivas numericamente, trata-se de formações rápidas de duas ou três horas, de algumas palestras ou cursos de um dia.
As instituições de ensino como Senai e até mesmo o Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) propõem uma formação mais abrangente, porém o alcance dessas iniciativas ainda é ínfimo. E quanto à iniciativa privada, em geral, as empresas qualificam seus funcionários a partir de critérios estabelecidos pelos sistemas de gestão da qualidade, de parcerias com centros de formação e até mesmo em salas de aula criadas em seus canteiros.
A Votorantim Cimentos conduz um projeto de formação de mão-de-obra para a construção civil em 13 Estados brasileiros. Chamado de "Futuro em Nossas Mãos", a iniciativa já capacitou, com cursos de três meses de duração, mais de 6.600 jovens na faixa etária de 18 a 24 anos, localizados em 71 municípios do País.
Por meio de parceria com o Senai e também de instituições públicas, empresas locais, sindicatos e ONGs, o projeto tem conseguido não apenas formar, como também inserir esses jovens no mercado de trabalho. Além da competência técnica, o curso aborda conceitos sobre direitos e deveres do jovem como cidadão, utilização de normas e procedimentos de qualidade e segurança, princípios básicos de trabalho em equipe, empreendedorismo e criatividade.
Iniciativas superficiais
Mas, em geral, as estratégias de qualificação ou são superficiais ou atingem um universo muito restrito, configurando-se como ações isoladas. Há pouquíssimas iniciativas que, de fato, recuperam a má formação cultural e educacional do profissional, que acaba tendo acesso apenas a capacitações da ponta da cadeia, de um ou outro sistema construtivo.
O professor Francisco Cardoso, da Poli, defende que é preciso aproveitar o ambiente favorável da construção e "investir na educação e formalização desses trabalhadores da construção que operam sem registro ou entidade representativa, dando a eles a mínima competência para fazer um planejamento, administrar seus serviços, eventualmente ter empregados, reduzir desperdícios e, enfim, transformá-lo numa espécie de microempresário".
	
	
	
	
	
	A dificuldade de encontrar trabalhadores capacitados para serviços tradicionais abre espaço para novas tecnologias
	
	
Um dos caminhos defendidos por diferentes agentes é a certificação dos trabalhadores. A Abramat e o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) estão desenvolvendo, cada um à sua maneira, dois sistemas de certificação de profissionais que não têm uma educação formal, como a de engenheiros, por exemplo. Assim, os operários terão um selo que atestará a qualidade de seu serviço e - quem sabe? - o nível de sua formação técnica. (Para mais informações sobre a iniciativa do Senai, veja reportagem "Certificação em curso".)
A prefeitura de Diadema (SP) conduziu também um projeto-piloto, chamado Programa de Certificação Profissional de Trabalhadores, que certificou 600 profissionais dos setores da construção civil e metal-mecânica do município. Com investimentos de R$ 600 mil, do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), do Ministério do Trabalho, o projeto reconheceu, por meio de exames práticos e teóricos, as habilidades profissionais de trabalhadores, moradores da região, com larga experiência nas funções de pedreiro, mestre-de-obras, assistente de produção mecânica e preparadores e operadores de máquinas, mas que não tinham atestados de educação profissional.
Para Melvin Fox, da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), a solução é a divisão de responsabilidades. De acordo com ele, para que o setor crie oferta de mão-de-obra especializada, é preciso compor um trabalho articulado entre entidades governamentais - por meio do Ministério da Educação, das Cidades, do Trabalho e do Desenvolvimento -, o sistema S (Sesc e Senai) e o setor privado, representado pela indústria de materiais, construtoras, incorporadoras etc.
Ramalho, do Sintracon, acredita que um dos caminhos é o incentivo governamental, por meio do Ministério do Trabalho, que em 2006 direcionou R$ 82,4 milhões para qualificação profissional. Em 2008, essa verba, de acordo com Ramalho, passará para R$ 1 bilhão e será destinada a institutos ou escolas certificadas pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) e fiscalizada por um conselho tripartite (trabalhadores, entidades representativas e governo). "O avanço disso vai depender da competência de gestão dessa verba e dos resultados das ações por ela viabilizadas", explica Ramalho.
Antonio Carlos Gomes, diretor do Sinduscon-RJ, também atribui ao governo a responsabilidade pela qualificação profissional dos desempregados. Para ele, o governo tem instrumentos e recursos para a criação de novas oportunidades de trabalho e de renda, além do Senai, que tem recursos praticamente tributários, incidentes sobre folhas de pagamento, e previstos em lei. Já as empresas, mesmo que muitas delas estejam hoje assumindo a responsabilidade pela qualificação e formação de sua mão-de-obra, em geral, atuam no campo das "situações emergenciais ou dentro de rotinas de trabalho, mas não têm condições de dar conta da demanda", avalia Gomes.
Independentemente da atribuição de responsabilidades, o desafio da indústria como um todo é aumentar não apenas a quantidade,mas a qualidade do emprego no setor da construção, aprimorar a capacitação das empresas e da mão-de-obra e formalizar a mão-de-obra informal.
Sejam quais forem os caminhos trilhados para superação desses obstáculos, é consenso entre os entrevistados pela revista Construção Mercado que o perfil da mão-de-obra da construção deflagra não apenas a precariedade do trabalho no Brasil, mas também a falta de planejamento, de organização, de uma visão estratégica e de uma política pública que transforme em ações aquilo que tudo mundo sabe: que a construção civil é, historicamente, um dos setores mais importantes da economia nacional por ser grande empregador de mão-de-obra e ter elevada participação na geração do
PIB.
O perfil do trabalhador
Homem, migrante, com baixa escolaridade, exposto ao maior índice de acidentes do trabalho dentre os setores econômicos e com salários abaixo do mercado. Essa é a cara e a condição do operário da construção civil. A última pesquisa realizada sobre o perfil do trabalhador do setor, feita pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em 2003, mostrou que 72,4% dos empregados pela construção não contribuem para a Previdência Social, em sua maioria têm jornada de trabalho que excede o limite de 44 horas semanais e ganham menos de cinco salários mínimos.
O setor é composto, quase totalmente, por trabalhadores do sexo masculino, com média de 35 anos, faixa etária superior à dos demais setores da economia. O estudo também comprovou a importância dos migrantes na construção das metrópoles. 86,1% dos ocupados pelo mercado do Distrito Federal, e 76,4% dos trabalhadores de São Paulo nasceram em outras regiões do País.
Novas tecnologias, novos profissionais
O processo de industrialização trouxe mudanças radicais no dia-a-dia da construção. Veja como a introdução de novas tecnologias tem transformado o ofício do trabalhador da construção.
Drywall: inteligência na montagem
Apesar de serem fabricadas industrialmente, as chapas de gesso acartonado, quando chegam na obra, precisam ser montadas em um processo sofisticado que exige do operário não apenas a leitura de um projeto construtivo, como também a habilidade em montar os elementos metálicos, guias e montantes que compõem o sistema.
Por essa condição, a introdução do drywall na construção, que veio substituir a alvenaria convencional nas vedações internas (paredes, tetos e revestimentos) dos edifícios, exigiu também um profissional mais qualificado, capaz de trabalhar com uma tolerância muito menor do que a do pedreiro convencional, e adaptado ao conceito de obra sistêmica. 
Sistema hidráulico: do tubo galvanizado ao PEX
Um encanador que, há dez anos, desejasse executar o sistema hidráulico de um banheiro, à base de cobre, de forma artesanal, levava em média um dia para realizar o trabalho. Hoje, a depender do projeto, o mesmo profissional, valendo-se de uma tubulação à base de polipropileno, estruturada em um sistema de acoplamento industrial, leva o mesmo tempo, mas para finalizar a hidráulica de três banheiros. Quem afirma é o engenheiro Roberto Barbosa, diretor técnico da Sanhidrel Instalações. Segundo ele, as tubulações hidráulicas à base dos plásticos polipropileno e Pex chegaram no Brasil por volta de 1996 e trouxeram uma alternativa aos tubos galvanizados em cobre ou ao PVC.
Esses materiais são entregues em kits que prevêem um sistema de conexão e acoplamento contra vazamentos. "A mudança de tecnologia não demandou um novo perfil de profissional, já que a tecnologia facilitou o trabalho, mas no dia-a-dia o trabalhador deixou de ser um operário para assumir a função de um montador", explica Barbosa.
A cultura do pré-fabricado
As construções pré-fabricadas de concreto, como as fachadas pré-moldadas, já estão no Brasil desde a década de 1960, mas o sistema popularizou-se nos anos 90 com as estruturas verticalizadas e grandes lajes. Feitas sob medida para cada obra, as fachadas passaram a ser construídas em fábricas especializadas e só então levadas aos canteiros em grandes painéis de concreto, evitando desvios de granulometria, deficiências na argamassa e até mesmo produção de entulho. 
Com isso, restou ao trabalhador da construção civil a função de fixar o painel, resultando em uma maior agilidade na construção. "Esse profissional passou a trabalhar com peças especializadas, na cultura do milímetro, com níveis de tolerância menores e com um resultado qualitativamente superior ao método convencional", diz GeórgioVanossi, diretor de engenharia da Setin Empreendimentos Imobiliários.
Armaduras prontas
As telas eletrossoldadas já estão disponíveis no mercado brasileiro desde a década de 50, mas foi a partir dos anos 90, num ciclo de industrialização do setor, que o produto passou a ser amplamente utilizado, reduzindo o tempo de montagem dessa armação e o volume de mão-de-obra.
Junto com as telas veio também uma nova forma de trabalho, em que se dispensou o uso do vergalhão e eliminou etapas como a marcação de fôrmas, o corte e dobra do aço e a amarração. Com isso, a qualidade da armadura final também foi aprimorada, já que ao ser racionalizada é possível garantir espaçamentos corretos, taxas de aço ajustadas ao projeto e menos desperdício. De acordo com João Batista Rodrigues, diretor do IBTS (Instituto Brasileiro de Telas Soldadas), "a mudança operacional provocada pela introdução dessas tecnologias está atrelada a um processo de industrialização que busca otimizar ou reduzir o ciclo de concretagem".
Entrevista 
Industrialização essencial
Sem alterar a forma de concepção do produto da construção civil, desempenho e produtividade tendem a permanecer estagnados. Adotar sistemas industrializados é imperativo para atender à demanda habitacional - Bruno Loturco - Edição 137 - Agosto/2008
	
FRANCISCO PEDRO OGGI 
Em 1970, cursou Desenho e Ilustração na Escola Panamericana de Arte, em São Paulo. Oito anos mais tarde, formou-se engenheiro civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie. Participou de diversos eventos e fez diversas especializações em estruturas e préfabricados, como o Master Course - Projeto de Estruturas Pré-moldadas da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), em 2007. É consultor em sistemas para pré-moldados desde 1992, atuando pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem) e ABCIC. É presença freqüente em feiras de equipamentos e tecnologia do exterior, tendo participado de mais de 20 nos últimos 12 anos. 
Falta mão-de-obra. Falta tempo para projetar. Faltam equipamentos e até materiais. Faltam técnica e tecnologias, além de participação dos arquitetos. Mas falta, antes de tudo, visão estratégica aos que decidem como as obras serão realizadas. Essa é a principal crítica de Francisco Oggi ao modelo de negócios consolidado na construção civil brasileira, que ainda parte do princípio de que há operários sobrando e que, portanto, podem ser contratados a baixo custo para processar todos os materiais "in loco". Segundo o engenheiro, o setor já avançou o máximo possível em desempenho e produtividade e não conseguirá ir além sem alterar a compreensão do que é construir de maneira industrializada. Isso significa olhar para o canteiro e perceber que, em vez de uma equipe de armadores, poderia contar com dois ou três funcionários ocupados em operar uma máquina que processe o aço de maneira rápida e eficiente. Mais do que isso, direcionar o raciocínio não para o custo do equipamento, que sempre parecerá alto, mas para os efeitos da industrialização no resultado final das contas. Com menos funcionários, pode-se aumentar os salários, logo, a produtividade tende a aumentar - mesmo porque contam agora com equipamentos. Com planejamento adequado da produção, os prazos são reduzidos junto com as despesas indiretas. Consequentemente, os ganhos com vendas e locação vêm antes. Assim, mesmo que algumas etapas, agora industrializadas, sejam mais caras, o custo globalé menor. Essa é a argumentação de Oggi em entrevista concedida à Téchne. Acompanhe.
O que é uma construção industrializada? 
Aquela em que, com projeto e planejamento, chega-se a um canteiro com elementos dependendo de simples montagem. A comparação é com a indústria automobilística, que mantém em seu poder apenas a linha de montagem, que seria nosso canteiro de obras. Por questão de logística, a indústria automobilística tem seus fornecedores próximos.
Como ocorre a aplicação desse conceito na construção, sendo que cada linha de montagem fica em um lugar?
Com parceiros fabricantes de portas, de estruturas de concreto e de instalações que industrializem parte do serviço e venham ao canteiro fazer a montagem. Na construção civil isso não acontece e todo mundo vem fazer artesanato no canteiro. Há um volume muito grande de gente, e é muito difícil tomar conta desse povo todo. Acabo não fazendo montagem, mas construindo tudo ali, pecinha por pecinha.
Por que a construção se configurou dessa maneira?
Nas décadas de 1960 e 1970, o BNH (Banco Nacional da Habitação) estimulava a utilização de mão-de-obra para liberação de financiamento, pois não éramos industrializados, os setores de serviços e de agricultura não eram desenvolvidos e a maioria da mão-de-obra estava disponível para a construção civil. Com o fechamento das fronteiras para importação e excesso de operários, desenvolvemos a melhor maneira de juntar os dois quanto a custo e desempenho. Após 40 anos, não dá mais para aperfeiçoar dentro desse modelo, com um monte de gente e material chegando picadinho.
"Na industrialização, saímos da visão fracionada para a visão sistêmica, que pensa no resultado final do empreendimento e objetiva um valor de investimento menor do que o previsto"
Por que estamos pensando em industrialização agora? 
A estabilização econômica gerou inclusão social e estímulo à aquisição de bens duráveis, como carros, celulares e, agora, imóveis. A construção é o único setor em que o operário não compra o que produz. O déficit habitacional está se transformando em demanda. Mas, como atender à demanda se, a cada ano, o volume de mãode- obra para a construção civil diminui? Falta de tudo no mercado, desde servente até engenheiro sênior. E, com esse pouco de recurso humano, tem que fazer muito mais do que antes.
Esse cenário estimula a industrialização?
A MRV afirmou que fará,em 2009,tudo o que fez em 28 anos. São 40 mil unidades. Mesmo que trabalhe 24 horas por dia, não dá para cumprir essa promessa sem industrialização. Dinheiro não falta, mas é difícil pensar em recursos humanos e tecnológicos de uma hora para outra.Ou importamos tecnologia de especialistas que determinem as fórmulas para a evolução, ou vamos ter que buscar por conta própria.
Essa postura é melhor do que adaptar algo importado?
A importação de tecnologia tem a grande vantagem de ganhar o tempo que outros perderam para chegar à solução. É ignorância tentar inventar a roda, esquecer que já existe.Vai lá fora, paga e, quando voltar, recupera. O brasileiro não entende isso porque não viaja, não conhece as feiras lá fora, porque ficamos fechados por 40 anos. Só agora temos duas feiras importantes de equipamentos, a Concrete Show (veja programação nesta edição) e o M&T Expo. Se incrementadas, serão as portas de entrada das tecnologias, porque o pessoal de fora está de olho.
Onde se concentram os ganhos com a industrialização?
Industrialização significa racionalização, fim do desperdício. O primeiro ganho está aí. Se a peça industrializada custa mais, os fatores de racionalização, de redução de desperdício e de prazo representam ganhos muito superiores. Na visão sistêmica do empreendimento, o custo é menor, mas, normalmente, temos uma visão fracionada da obra. Ou seja, contrata-se e verifica-se tudo em separado, elementos que depois têm que ser juntados.
Como assim?
Pensa-se apenas no preço e compra-se a porca de um fabricante e parafuso de outro. Quando aperta, tem diferença na rosca. Parafuso e porca chegaram mais baratos à obra, mas não funcionam. É o que acontece hoje.Na industrialização, saímos da visão fracionada para a visão sistêmica, que pensa no resultado final do empreendimento e objetiva um desembolso menor do que o previsto.Mesmo que algumas das etapas intermediárias saiam mais caras, o que importa é o resultado final.
Ou seja, pensar no produto final?
No processo completo, não picado. São 12, 15 escritórios de projeto envolvidos, e juntá-los numa reunião de compatibilização é difícil, porque demora demais e o projetista da fundação não quer saber do da telefonia.No exterior, esse processo é mais concentrado e o arquiteto, dono do projeto, cuida de tudo e entrega um pacote pronto.Aqui a gente projeta durante a execução da obra.
Por que é difícil antecipar os projetos?
Porque significa colocar dinheiro antes. O construtor não planeja uma obra que vai fazer daqui a cinco anos. E o setor da industrialização anda à medida que o da construção se mexe, não na frente, propondo prazos menores. Nenhuma empresa de pré-fabricado, no Brasil, tem expertise para fazer prédios em três ou quatro meses, desde a fundação até a chave. Estamos numa fase de muitas transformações.
Mesmo tendo toda a América Latina para explorar, pensamos no que fazer com uma grua daqui a cinco anos. Daqui a cinco anos essa grua já se pagou e não vale mais nada. Equipamento é necessário para atingir um objetivo"
Quanto dessa transformação depende da escala de produção? 
Nem tanto da escala, mas de uma solução de continuidade, que nunca tivemos e que impede passos mais ousados quanto à aquisição de tecnologia e equipamentos. Num ano está bom, no outro não.Hoje trabalhamos com toda a mão-de-obra terceirizada, o que é um absurdo. Terceiriza-se porque, se parar a obra, tem que mandar o funcionário embora, com custos decorrentes.
Algumas empresas têm investido na compra de equipamentos, apostando nessa continuidade. O patamar tecnológico da construção só vai se alterar se isso se mantiver ou essa industrialização só serve para momentos de boom?
Não podemos dizer que comprar fôrmas caríssimas para projetos específicos seja industrializar.O que se pretende é usar as fôrmas de alumínio duas ou três mil vezes, enquanto as de madeira são usadas 50 vezes. Industrialização é ir muito além. Seria, talvez, contar com um equipamento que produzisse a parede numa fábrica para ser transportada e montada a seco no canteiro.
Com elementos industrializados chegando prontos ao canteiro?
Para essa obra (complexo de escritórios com seis torres, em Barueri, da TishmanSpeyer), compramos um pórtico, uma série de fôrmas específicas e estamos montando uma pista ao lado dos prédios, onde vamos produzir as vigas e escadas. Isso é industrializar uma parte da estrutura.O fechamento será em painéis pré-moldados, produzidos fora daqui.O ideal seria fazer toda a estrutura no chão e depois montar.
Isso já é possível?
Já estamos muito próximos disso. Temos processos que industrializam 100% da casa. A fôrma de alumínio é um aceno de mudança, não investimento. É material de consumo e o custo dilui-se pelo número de casas construídas. A conta foi fechada assim e, depois de tantos usos, já está dando lucro. Compram lá fora porque é de alumínio, fácil de carregar. Porém, não é industrialização, apenas um pouco de racionalização para ganhar na logística e na escala de produção.
"Lá fora, o construtor não pode se dar ao luxo de ter muitos empregados, mas tem metas de produção elevadas. Então, compra máquinas para fazer o trabalho de 20 pessoas"
O fato de nossa mão-de-obra ser muito barata e os equipamentos caros atrapalha a industrialização?
Poderíamos aproveitar o fato de a mão-de-obra ser barata para incrementar o ganho deles, dando equipamento para trabalharem.
De que maneira?
Fala-se que a mão-de-obra não tem qualificação, é barata e rende pouco. Claro que rende pouco, pois o operário tem de fazer um serviço que não é dele, como carregar saco.O cimento deveria chegar até ele por um equipamento, tendo ele apenas o trabalhode girar uma manivela para o saco cair na betoneira. Aí aumentaríamos a produtividade dele e com isso teremos espaço até para aumentar os salários. Com a melhora da renda,ele vai comprar seu produto. Essa é única saída. Se não investirmos em equipamento, vamos perder a pouca mão-de-obra que temos.
Por que perder? 
O Nordeste está se desenvolvendo e não nos manda mais mão-de-obra. Do Sul, já não vem operário há muito tempo. Os outros setores da economia são muito mais atraentes. Primeiro, o serviço informal. Depois, o setor de serviços e o comércio. A indústria está se instalando e a agropecuária está indo bem. Além disso, há grandes grupos chegando. A última opção é a construção civil. E, tendo que carregar saco de cimento e bloco, aí que não vem mesmo. Se souber que vai operar um equipamento, sem fazer força, vem, pois o salário é um pouco melhor e a condição é humana.
Então a industrialização é necessária também para melhorar os canteiros?
Houve muitas melhorias com a NR-18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção), mas ainda fazemos muitos serviços que máquinas poderiam fazer, como armação. A mecanização é obrigatória, mas a filosofia do capital brasileiro é investir o mínimo e tirar o máximo de proveito. Lá fora, o construtor não pode se dar ao luxo de ter muitos empregados, mas tem metas de produção elevadas. Então, compra máquinas para fazer o trabalho de 20 pessoas.
Além da estrutura, quais elementos da obra podem ser industrializados?
Não se fala de industrializar outras etapas por falta de conhecimento.Como a estrutura é algo bruto, sujo e inóspito, é prioridade. Havia duas fábricas de banheiro pronto no Brasil. Uma fechou, indício de que as construtoras seguiram na contra-mão da industrialização. A justificativa para não comprar banheiro pronto é que fazer no local custa menos e dispensa grua. Tem de haver uma mudança sistêmica,porque é muito melhor usar o pronto, principalmente quando o empreendimento tem cinco mil banheiros.
"Aumentando a produtividade, teremos espaço para aumentar os salários. Se não investirmos em equipamento, vamos perder a pouca mão-de-obra que temos"
Economicamente, por que o ponto de partida é, invariavelmente, a estrutura?
É o primeiro item a atacar. Ao fazer a estrutura e a fachada, se resolve 90% da obra, ou 70% se o prédio for residencial. A estrutura representa entre 25% e 30% do custo da obra, um volume que vale a pena atacar.Se a estrutura é bem-feita, economizo massa ao descer a fachada, ou posso fazer o fechamento na fábrica com as devidas tolerâncias. Não adianta industrializar uma parte e depois ter um bruto trabalho de ajuste na obra.
São obstáculos culturais?
Há tecnologia para adotar fachadas pré-prontas, pintadas, instalações elétricas embutidas, portas fixadas com três parafusos.Mas são necessários investimentos para sair do lugar. Outro ponto, que começa a ser abordado pela AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura), é o da modulação. Usamos como múltiplo 1 mm e não 10 cm, como deveríamos. Imagine a quantidade de erros por causa disso. Com a modulação, vão baixar os preços de caixilhos, portas e acabamentos.
Os equipamentos são, de fato, tão caros quanto reclamam os construtores?
Empresários que raciocinam não pensam dessa forma. Eles analisam se há retorno ao gastar R$ 10 milhões em equipamento. Se houver, investem e saem na frente. Uma empresa foi à Colômbia comprar fôrmas porque considerou que, em vez de levar de 13 a 18 meses para fazer um prédio, poderia levar seis usando as fôrmas. Viu que esse prazo propicia retorno em termos de marketing, qualidade e confiabilidade na empresa, além de reduzir custos indiretos.
Com a industrialização, a alvenaria, como conhecemos hoje, está com os dias contados?
Num nível bom, teremos de 30% a 40% do mercado industrializado. Os outros 60% continuarão, devido ao porte do empreendimento ou da construtora, com os processos tradicionais. No entanto, pode ser que fiquem para trás também em custo. Muita gente, por não ter condição de investir em equipamentos ou por não ter acesso à industrialização, vai continuar com os mesmos processos.
Talvez aumente a procura por sistemas mais racionais, como a alvenaria estrutural?
A alvenaria estrutural serve para muitas construções, mas, dependendo da classe de resistência do bloco, o número de fabricantes é reduzido e falta bloco no mercado.Começa a inviabilizar. Estou estudando um caso, em Recife, em que a empresa vai montar uma fábrica de blocos na obra.
Qual o papel da industrialização na redução do déficit habitacional?
Sem a industrialização não haverá redução de déficit. Todo o movimento sentido até agora é apenas a foca que está em cima da ponta do iceberg. Até agora, só vimos a foca. Sem industrializar, o volume de obras proposto pelas empresas não será feito.
Vai ser a alavanca da industrialização?
Se for realmente duradoura como se imagina, sem ameaças da inflação, juros ou fatores externos por cinco ou seis anos, pelo menos, vai ser uma boa alavanca. É isso que a construção civil quer para fazer os investimentos necessários.
Como fazer com que a industrialização chegue a sistemas consolidados? Há os kits de hidráulica, isso é industrialização?
Industrialização seria, talvez, montar a parede já com o kit para que essa já venha com a hidráulica pronta. Montar uma árvore de hidráulica, como normalmente se faz, é racionalização. E não adianta fazer um esforço enorme para industrializar um pedacinho que não representa 0,5%, ignorando o resto. É possível até que isso atrapalhe.
De que maneira?
Levantando paredes exatamente no prumo porque, se as portas não couberem, tem que devolver todas. Perde-se um tempão para alinhar uma parede num sistema convencional só porque a porta foi industrializada. É preferível fazer a parede de qualquer jeito e depois ajustar a porta, que não representa nada. Tem que pensar em industrialização de uma forma global, para ter o máximo de controle, o mínimo de retrabalho e acabar com a improvisação.
"O arquiteto estrangeiro é muito mais técnico. Essa falta de técnica do brasileiro faz com que o projeto de arquitetura fique dissociado do processo construtivo"
Como a arquitetura pode auxiliar nesse processo?
A arquitetura brasileira tem um fundamento humanístico muito forte e está muito preocupada com conforto, estética e a utilização final, enquanto deveria determinar também como as construções serão feitas. O arquiteto estrangeiro é muito mais técnico. Essa falta de técnica do brasileiro faz com que o projeto de arquitetura fique dissociado do processo construtivo.
Os construtores deveriam exigir isso do arquiteto?
Só depois de encomendar o projeto é que o construtor decide a estrutura. Isso atrapalha bastante os arquitetos, que têm consciência de que precisam entrar mais na parte técnica. A tendência é que comecem a ter domínio sobre a execução. Quem coordena é a construtora, quando deveria ser o arquiteto.
Por que não temos muitos exemplos brasileiros de prédios altos feitos com pré-fabricados?
A cultura incorporada faz com que falte tempo. O investidor tem um terreno e, se a legislação diz que dá pra fazer um prédio de 30 andares, com 400 escritórios de 50 m², esse é o produto. Trabalha-se em cima dele por dois anos. Depois que vende, tem o compromisso de entregar em 36 meses e começa tudo do zero. Ou seja, aqueles dois primeiros anos não foram aproveitados pelo pessoal da técnica, que só sabe que tem que começar, no mês seguinte, um prédio de 30 andares. Aí, não dá tempo de filosofar e tem que fazer o arroz com feijão. Esse é o modelo de negócio.
Falta conceber o produto a partir da técnica?
Temos dificuldade de fazer a construtora entender o que são soluções de continuidade. Já fiz muita coisa pré-moldada numa obra e, na seguinte, da mesma construtora, nada era pré-moldado. É incrível. Muda o engenheiro, o administrador e não há transferência de tecnologia. Começa tudo de novo, com os mesmos problemas.
Há obstáculos nas legislações, principalmente para residências populares,para adoção de sistemas não convencionais?
Existem questões técnicas facilmente resolvíveis, que tratam de homologações para instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal, que querem garantia de durabilidade. Mas isso não é problema, pois em 90 ou 120 dias tiram-se todas as referências necessárias.
Então, mais uma vez, as questões são culturais?
Não tem legislação que impeça o uso de alguma tecnologia, mas preferências de mercado. O drywall, por exemplo, é um processo que existe há mais de cem anos na Inglaterra e entrou aqui de uma forma totalmente errada. Pré-moldado com drywall é o casamento perfeito. Reduzem-se cargas, exigem-se peças menores, mais leves, com menores custos de fundação. A obra fica muito mais limpa, barata, com maior flexibilidade de layout. Porém, foi detonado por gente despreparada que, para vender uma parede de concreto, falava que a do outro era de papelão.
E depois que passar a demanda, o que fazer?
As fábricas de pré-moldado que surgiram na década de 60 na Europa continuam existindo até hoje. Estão nas feiras, sempre lançando produtos novos. Estão se deslocando para o Leste europeu, para a China e Índia. Aqui, mesmo tendo toda a América Latina para explorar, pensamos no que fazer com uma grua daqui a cinco anos. Daqui a cinco anos essa grua já se pagou e não vale mais nada, já é sucata. Equipamento é necessário para atingir um objetivo. Hoje, as construtoras, principalmente as que têm capital aberto, não têm como construir. Se tivessem equipamento, mão-de-obra e tecnologia, já estavam fazendo o que prometeram. Elas precisam fazer porque têm ações na bolsa, que estão caindo porque, enquanto os acionistas cobram, elas falam em VGV (Valor Geral de Venda) astronômico.
Normas de qualificação profissional não saem do papel
Normas de qualificação de pessoas ainda não são colocadas em prática pela construção civil. Entenda os motivos e saiba como elas poderiam auxiliar as construtoras
Por Larissa LeirosBaroni - Edição 135 - Outubro/2012
Embora a primeira norma de qualificação de pessoas no processo construtivo para edificações tenha entrado em vigor há pouco mais de dois anos, nenhuma das nove normativas existentes são colocadas em prática dentro e fora dos canteiros de obras, segundo as fontes consultadas pela reportagem. 
As referidas normas são resultado de um esforço setorial para aprimorar a qualificação dos trabalhadores da construção e foram elaboradas pelo Comitê Brasileiro de Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo para Edificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/CB-90). O perfil profissional do assentador e do rejuntador de placas cerâmicas e porcelanato para revestimentos foi o primeiro contemplado pelo trabalho do comitê. Na sequência, foram publicadas normas dedicadas ao instalador de pisos laminados, impermeabilizador, operador de medidores de gás, instalador convertedor e mantenedor de aparelho a gás, instalador predial e de manutenção de tubulações de gás, pintor de obras, instalador hidráulico predial e pedreiro de obras (veja boxe).
Outras quatro profissões - soldador mantenedor de tubos e conexões de polietileno, inspetor de rede de distribuição interna e de aparelhos a gás, desenhista de cadastro de rede e instalador predial e de manutenção de tubulações de gás - estão prestes a ganhar suas próprias normas. Elas já passaram pelo processo de consulta nacional e estão em vias de publicação. E nos próximos meses, os textos dedicados aos armadores e instaladores de estrutura metálica entrarão em consulta nacional, conforme prevê a assessoria de imprensa da ABNT.
Ainda assim nenhuma delas saiu do papel e foi adotada, na prática, nos canteiros. Os motivos para tal são variados. De um lado, a falta de informação sobre como colocar em prática as determinações do CB-90. Do outro, a falta de interesse em investir na qualificação dos profissionais dos canteiros de obras. E até mesmo a ausência de uma obrigatoriedade emperra a concretização das normas, na opinião de algumas fontes.
"A qualificação de pessoas era uma demanda antiga do setor. Mas não era possível falar em qualificação sem cunho técnico. E foi aí que se criou, pela primeira vez, normas dedicadas a pessoas, e não para produtos", explica Marcos Storte, gerente de Negócios da Viapol Impermeabilizantes, que participa do ABNT/CB-90.
Segundo ele, os trabalhos do CB-90 foram idealizados para assegurar a qualidade dos serviços, aumentar a produtividade dos canteiros, desenvolver os profissionais para acompanhar os avanços, recuperar algumas carências e valorizar o capital humano.
As normas estabelecem o perfil desejado de competências das profissões de base da construção civil, além de especificar níveis de qualidade que poderão variar entre básico, intermediário e avançado. Mas a existência dessas publicações não obriga ninguém a usá-las, conforme destaca Storte. "Ou seja, a aplicabilidade das especificações é voluntária e aqueles que optarem por ignorá-la não sofrerão nenhuma penalidade", diz. E é a falta dessa obrigatoriedade que, na opinião dele, possibilita a "omissão" do setor em relação à existência das normas.
"As formas legais e técnicas estão à disposição do mercado, que sempre reclamou da escassez de mão de obra qualificada; resta colocá-las em prática", cita Storte. "O dilema atual do setor é: como ele vai tirar um profissional que está produzindo para colocá-lo em sala de aula? Este é o desafio que temos nas mãos agora", acrescenta.
Acreditação parada
A proposta inicial do CB-90 previa que o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) fosse o órgão responsável pela acreditação dos institutos que oferecessem os cursos de capacitação adequados às normas de qualificação profissional de pessoas no processo construtivo para edificações. Mas, segundo Aldoney Costa, chefe da Divisão de Acreditação de Organismos de Certificação do Inmetro, a única profissão ligada à área da construção acreditada pelo instituto é a de inspetor de concreto, que nada tem a ver com as normas do comitê. (
As normas de qualificação estabelecem o perfil desejado de competências e níveis de qualidade (básico, intermediário e avançado) das profissões de construção
)
"A acreditação produz a confiança tanto para os profissionais que procuram um curso adequado quanto para as empresas que buscam profissionais com boa qualificação", afirma Costa. Ele relata, no entanto, que o processo de acreditação funciona sob demanda. "As certificadoras precisam ter o interesse de buscar essa acreditação, como foi o caso do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), que viabilizou a acreditação dos inspetores de concreto." Processo que não se replicou a nenhuma das 14 áreas beneficiadas pelo CB-90.
A mudança desse cenário, segundo Storte, depende do aumento da cobrança do mercado por profissionais com certificações. "Uma demanda que refletirá no crescimento de trabalhadores em busca de qualificação que, consequentemente, impulsionará a criação de cursos nas respectivas áreas e quem sabe até a existência de futuros pedidos de acreditação", explica ele, que enfatiza os benefícios desse processo para o setor: "qualidade do serviço e segurança de que esse serviço está adequado aos padrões técnicos".
Obrigatoriedade polêmica
Mas para Antonio Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), essa mudança no setor só será viabilizada com a publicação de uma lei que obrigasse as empresas a contratar profissionais com certificações. "Os últimos dois anos foram suficientes para provar que se depender da voluntariedade do setor, as certificações para os profissionais da base da construção civil, propostas pelo CB-90, não se tornarão uma realidade no Brasil, diferentemente da Europa e dos países de primeiro mundo", relata ele, que defende que a possível obrigatoriedade estabeleça um período de adaptação.
Mas para Antonio Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo(Sintracon-SP), essa mudança no setor só será viabilizada com a publicação de uma lei que obrigasse as empresas a contratar profissionais com certificações. "Os últimos dois anos foram suficientes para provar que se depender da voluntariedade do setor, as certificações para os profissionais da base da construção civil, propostas pelo CB-90, não se tornarão uma realidade no Brasil, diferentemente da Europa e dos países de primeiro mundo", relata ele, que defende que a possível obrigatoriedade estabeleça um período de adaptação.
Diferentemente de Ramalho, Francisco Cardoso, coordenador acadêmico da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), não é a favor dessa obrigatoriedade, mas aposta na "conscientização" de todo o sistema que está envolvido no setor. "Se as construtoras fossem obrigadas a exigir as certificações, elas se dariam mal. Isso porque muitos dos profissionais de base têm a competência necessária, mas não as certificações. Os conhecimentos foram apreendidos na prática", diz ele.
Ainda que Cardoso reconheça a importância das normas de qualificação profissional para estabelecer as referências das certificações, ele acredita que as construtoras tenham as competências necessárias para identificar no ato da contratação os profissionais qualificados. "As certificações beneficiarão, sobretudo, as indústrias da construção, que poderão se assegurar de que seus produtos estejam sendo aplicados da forma correta, e as pessoas físicas, que geralmente não possuem os conhecimentos técnicos para avaliar se o contratado tem a habilidade necessária para o serviço."
E é por acreditar que a indústria é a principal beneficiada das normas de qualificação profissional que Cardoso atribui a ela a missão de disseminar a importância das certificações. "Uma indústria de tinta, por exemplo, poderia divulgar em seu site a relação dos pintores com a qualificação necessária e até mesmo publicar nos rótulos de seus produtos a recomendação: 'contrate um profissional certificado", sugere o professor da Poli-USP.
Maurício Bianchi, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e vice-presidente da incorporadora e construtora BKO, também relaciona a responsabilidade da aplicabilidade das normas de qualificação de pessoas no processo construtivo às indústrias. "Estes procedimentos cabem a quem fabrica o produto, já que além de ter os conhecimentos técnicos para especificar as habilidades dos profissionais que vão instalar seus produtos, é o maior interessado de que seus produtos sejam instalados adequadamente", diz.
Segundo ele, no entanto, com a indefinição sobre quem é responsável pela capacitação, a missão acaba sendo "equivocadamente empurrada para o fim da linha", ou seja, para as construtoras e incorporadoras "Enquanto a indústria não tomar ciência de que para atingir o nível de garantia e qualidade desejável é preciso investir na formação de profissionais, três patologias continuarão assombrando o setor: o distanciamento entre a demanda e o número de capacitados; a informalidade nos profissionais das áreas de base; e o crescente índice de erros", conclui.
* A reportagem tentou contatar o Senai Nacional - que procurou a ABNT para a elaboração de normas brasileiras para a certificação de pessoal qualificado para a construção civil - mas até a conclusão desta reportagem não obteve retorno.
	Entenda as normas
	
Ainda que cada uma das normas de desempenho profissional publicadas pelo Comitê Brasileiro de Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo para Edificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/CB-18) tenha suas próprias especificidades, todas elas apresentam referências normativas, termos e definições, descrição da ocupação e do meio de trabalho, além de elementos de competência, componentes de avaliação de competência e as qualificações necessárias. Na norma dedicada ao instalador predial e de manutenção de tubulações de gás, por exemplo, são especificadas as competências necessárias para quatro atividades: instalação de tubos e conexões de cobre e ligas de cobre; instalação de tubos de aço e conexões de ferro roscáveis com ou sem acabamento; instalação de equipamentos, aparelhos e componentes nas redes de gás sem carga; e a manutenção de instalações prediais internas de gás combustível em redes sem carga.
E para cada uma dessas funções são descritas as ações relacionadas tanto ao preparo dos componentes - que envolve a utilização de equipamentos de proteção, a seleção dos materiais e das ferramentas e a análise do projeto e da conformidade dos tubos - até a montagem, a junção dos diferentes tubos e os ensaios das tubulações e conexões.
Já para os pedreiros de obras são descritas as competências necessárias para seis tipos de atividades: planejamento e organização do próprio trabalho; execução de alvenaria sem função estrutural; execução de concretagem; montagem de lajes pré-moldadas; execução de alvenaria estrutural; e execução de revestimento em argamassa para pisos, paredes e tetos. Como recomendação para execução de revestimento, por exemplo, a norma aponta alguns cuidados básicos, entre eles a análise da quantidade e da qualidade dos materiais, a seleção dos materiais de acordo com instruções, o respeito da padronização dos materiais e o cuidado de seguir o projeto.
	CONHEÇA AS NORMAS DE QUALIFICAÇÃO DE PESSOAS
	NORMAS JÁ PUBLICADAS
	ABNT NBR 15968:2011 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo para Edificações - Perfil Profissional do Pedreiro de Obras
ABNT NBR 15932:2011 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Instalador Hidráulico Predial
ABNT NBR 15927:2011 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Pintor de Obras Imobiliárias
ABNT NBR 15903:2010 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Instalador Predial e de Manutenção de Tubulações de Gás
ABNT NBR 15902:2010 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Instalador Convertedor e Mantenedor de Aparelhos a Gás
ABNT NBR 15904:2010 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Operador de Medidores de Gás
ABNT NBR 15896:2010 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo para Edificações - Perfil Profissional do Impermeabilizador
ABNT NBR 15843:2010 - Qualificação de Pessoas para a Construção Civil - Perfil Profissional do Instalador de Pisos Laminados Melamínicos de Alta Resistência
ABNT NBR 15825:2010 - Qualificação de Pessoas para a Construção Civil - Perfil Profissional do Assentador e do Rejuntador de Placas Cerâmicas e Porcelanato para Revestimentos
	NORMAS AGUARDANDO PUBLICAÇÃO
	Projeto 90:004.02-004 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Soldador Mantenedor de Tubos e Conexões de Polietileno
Projeto 90:004.02-005 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Inspetor de Rede de Distribuição Interna e de Aparelhos a Gás
Projeto 90:004.02-006 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Desenhista de Cadastro de Rede
Projeto ABNT NBR 15903 - Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Instalador Predial e de Manutenção de Tubulações de Gás
	NORMAS AGUARDANDO CONSULTA NACIONAL
	Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Armador
Qualificação de Pessoas no Processo Construtivo de Edificações - Perfil Profissional do Instalador de Estrutura Metálica

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