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1 SUMÁRIO 1 CATEGORIAS GEOGRÁFICAS ................................................................. 2 2 ESPAÇO GEOGRÁFICO ............................................................................ 7 2.1 Os lugares e seus significados ............................................................. 7 2.2 Elementos naturais e culturais das paisagens ................................... 10 2.3 Paisagem e Espaço Geográfico ......................................................... 12 3 A NATUREZA E O TRABALHO CRIAM DIFERENTES PAISAGENS ...... 13 4 AS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO MUNDIAL ......................................................................... 14 4.1 Crescimento econômico x desenvolvimento humano: contradições do capitalismo 15 4.2 Mapa do PIB mundial ......................................................................... 16 5 Longevidade ou expectativa de vida ......................................................... 17 5.1 Nível de escolaridade ......................................................................... 18 5.2 PIB per capita ..................................................................................... 18 5.3 Índice de desenvolvimento humano (IDH) .......................................... 18 5.4 Países de desenvolvimento humano muito elevado .......................... 19 5.5 Países de desenvolvimento humano elevado .................................... 19 5.6 Países de desenvolvimento humano médio ....................................... 20 5.7 Países de desenvolvimento humano baixo ........................................ 20 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 21 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 37 6 NOTAS: ..................................................................................................... 48 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 49 2 1 CATEGORIAS GEOGRÁFICAS Os conceitos de paisagem, território, lugar e espaço aparecem constantemente nos estudos geográficos. Mas, afinal, qual o significado de cada um? Qual a relação que existe entre eles? Qual a relação que existe entre eles e a formação da consciência espacial? “A compreensão do espaço geográfico será trabalhada sempre que se estudar a paisagem, o território e o lugar”. (PCNs, 1997) Fonte: www.quadrosafortec.com.br 3 Paisagem: o geógrafo brasileiro Milton Santos (1988) propõe que “paisagem pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.” Fonte: professoraeliademaciel.blogspot.com.br Ao ler a paisagem, o(a) educando(a) conhece o processo de construção do espaço geográfico. Nela, ele(a) reconhece seus elementos sociais, culturais e naturais e a interação existente entre eles. A paisagem está em constante processo de transformação e contém múltiplos espaços e tempos. Fonte: onassissoares.blogspot.com.br 4 Território: o espaço geográfico deve ser estudado de forma conjunta, com base em duas realidades: a sociedade e a natureza. “O território é o espaço apropriado por uma determinada relação social que o produz e o mantém a partir de uma forma de poder.” (PCNs, 1997) Esse espaço (território) é delimitado pela intencionalidade da visão que o criou. A intenção torna esse espaço em único e lhe confere identidade. Por exemplo: o espaço que ocupa sua escola é único, destinado a essa instituição. Tem limites, o objeto aí construído tem finalidade e poder de posse para nele se realizar uma atividade social, que é o trabalho educativo. Os territórios são países, estados, regiões, municípios, bairros, fábricas, vilas, propriedades, moradias, salas, corpo, mente, pensamento, conhecimento. Os territórios, então, podem ser concretos ou imateriais. Fonte:estudosdaaninha.blogspot.com.br 5 Lugar: é onde há movimento produzindo a vida social e a existência dos seres humanos, onde os objetos são construídos pelas relações humanas e entre os homens e a natureza; onde há problemas e soluções; onde as coisas que criamos têm significado e com elas estabelecemos uma identidade. Nós nos reconhecemos por meio desse lugar. Fonte: exame.abril.com.br Todos esses aspectos levam à estruturação de um espaço com marcas específicas e características que o identificam. Essas características do lugar é que lhe dão identidade, dão origem à paisagem local. No jogo de forças internas e externas, essa paisagem pode ser modificada, gerando ali novas paisagens. Por exemplo, o projeto de construir uma hidrelétrica vai alterar a estrutura interna e a dinâmica da população que vive naquele local. Fonte: falub02.lwsite.com.br 6 Espaço geográfico: é historicamente produzido pelo homem em suas ações econômicas e sociais sobre a natureza. Por isso, está em permanente construção como fruto do trabalho humano. No espaço geográfico existem também os elementos que são da Natureza: calor, frio, chuva, neve, vento, etc. Fonte:brasilescola.uol.com.br Fonte: pt.slideshare.net 7 2 ESPAÇO GEOGRÁFICO Lugar e paisagem são conceitos importantes para definir o espaço geográfico. Ao estudar esses conceitos, podemos identificar as características do nosso modo de vida e refletir sobre como transformar os lugares de vivência em espaços mais justos e dignos. Os elementos da natureza – rios, serras, vegetação etc. –, assim como os seres humanos, ocupam a superfície terrestre. Consequentemente, as ações humanas e a dinâmica da natureza levam o espaço geográfico a ser transformado constantemente. Fonte: geografia.uol.com.br 2.1 Os lugares e seus significados O bairro residencial, a aldeia indígena, a favela e a casa rural estão situadas em um determinado lugar, que, por sua vez, se relaciona com outros lugares, e todos estão localizados em alguma parte da superfície terrestre. No cotidiano, podemos frequentar vários lugares, como a escola, as áreas de lazer, as lojas, o supermercado, a casa de amigos, a lan house do bairro etc. Como advento da internet, podemos conhecer os lugares sem mesmo precisar ir até eles; basta dar um clique no mouse. Na atualidade, mais do que em outros tempos históricos, é possível saber mais sobre os lugares não só pela internet, mas também pela televisão e pelos demais meios de comunicação. Alguns lugares acabam tornando-se muito familiares, e outros nos passam despercebidos, pois nossa percepção é seletiva. Cada lugar que vivenciamos nos 8 deixa uma marca e assim vamos estabelecendo relações afetivas com ele, ao atribuir- lhe significados particulares. Os lugares com os quais estabelecemos um vínculo e relações de amizade, como a escola, a nossa casa ou o prédio onde moramos, adquirem um significado particular para nós. Por serem bastante familiares, esses lugares são chamados de espaço vivido. Um mesmo lugar pode ter significados diferentes para cada pessoa, dependendo das experiências e vivências estabelecidas. Você pode gostar de sua escola e ficar alegre por frequentá-la todos os dias, ao passo que para seu colega, ela pode ter outro significado. A escola também é um lugar com significados diferentes para o professor e o porteiro que nela trabalham. Uma floresta e um rio podem ter significados diferentes, dependendo das relações sociais e econômicas que cada grupo estabelece. Um grupo indígena considera a floresta e o rio recursos naturais dos quais pode retirar o seu sustento. Para esse grupo, o rio também serve como meiode transporte. Assim, a floresta é o seu meio de subsistência, de sobrevivência. Bem diferente de um grupo de turistas, por exemplo, que vai à floresta a passeio ou ao rio para pescar. Nesse caso, a floresta e o rio representam lazer. Fonte:br.boell.org 9 Assim, o lugar está relacionado à percepção seletiva de alguns elementos que o compõem e às experiências que cada pessoa tem com ele, ou seja, as relações se a vivência que a pessoa ali estabelece. A praça da cidade onde acontecem as festas juninas, o estádio de futebol onde nosso time costuma jogar, a avenida por onde desfilam os blocos de Carnaval são alguns exemplos de como os lugares podem adquirir significados individuais e, ao mesmo tempo, sociais. Portanto, podemos dizer que os lugares são importantes porque são neles que se desenrolam nossa vida e também é neles que as pessoas se encontram e convivem. Os lugares abrigam todos, independentemente das particularidades e das diferenças entre as pessoas. Na superfície terrestre podemos identificar uma diversidade de lugares, pelos vários aspectos sociais e naturais que os compõem, como formas construídas, movimento e atividades das pessoas, características da vegetação e do relevo, enfim, por um conjunto de elementos que chamamos de paisagem. Ao observarmos a paisagem do Pão de Açúcar, na cidade do Rio do Janeiro, logo a identificamos como pertencente ao Brasil. As características dessa paisagem, seus aspectos naturais e sociais constituem verdadeiros cartões-postais, mundialmente reconhecíveis. Fonte:aloriodejaneiro.com 10 2.2 Elementos naturais e culturais das paisagens O estudo das paisagens é muito importante, pois nos auxilia a reconhecer o que existe no espaço geográfico. A paisagem é formada por tudo aquilo que podemos ver quando olhamos ao nosso redor – serras, construções, rios, campos, estradas, mar, céu –, ou seja, um conjunto constituído de formas da natureza e formas criadas pelos seres humanos. Os elementos da paisagem, também chamados de objetos da paisagem, podem ser classificados em elementos naturais e elementos culturais. Os rios, mares, montanhas, lagos naturais, vegetação, entre outras formas da natureza, são chamados de elementos ou objetos naturais de uma paisagem. Casas, fábricas, áreas plantadas no campo, praças, parques de diversão, rede elétrica, ruas e avenidas, enfim, todas as construções humanas, são os elementos ou objetos culturais da paisagem. Na paisagem, podemos identificar também sons, odores e luminosidade no conjunto de elementos que a formam. Esses elementos podem causar uma série de sensações quando nos dispomos a percebê-los, tornando a paisagem mais significativa para o observador. A maioria dos elementos da paisagem da cidade de Buenos Aires – edifícios, avenida, ruas e monumento, rede de energia elétrica etc. – foi criada pela ação humana, ou seja, na paisagem dessa cidade, predominam elementos culturais. De modo geral, a prevalência desses elementos é uma característica comum a todas as cidades. Fonte: www.lonelyplanet.com 11 Na Floresta Amazônica, a maioria dos elementos da paisagem é natural, tais como árvores e rio. As paisagens compostas principalmente de elementos da natureza podem ser chamadas de paisagens naturais. As paisagens compostas principalmente de elementos culturais podem ser chamadas de paisagens culturais. Fonte: portalamazonia.com Ao observarmos uma paisagem, conseguimos distinguir uma série de elementos que a compõem e, além disso, podemos reconhecer as transformações porque passaram esses elementos ao longo do tempo. Podemos identificar também quais eram as intenções dos grupos humanos ao transformarem os lugares e, consequentemente, as paisagens. Fonte: www.paulopes.com.br 12 2.3 Paisagem e Espaço Geográfico Os elementos da natureza – como solo, rios, florestas e montanhas – têm sido utilizados e transformados desde a existência dos primeiros grupos humanos. Eles transformavam a natureza para atender às suas necessidades e modificavam, assim, as paisagens ao seu redor. Há milhares de anos, os seres humanos transformam a natureza por meio do trabalho, criando e organizando o lugar onde vivem. O espaço geográfico é justamente o resultado do trabalho realizado pelos diferentes grupos humanos ao longo do tempo e que se manifesta nos diversos tipos de paisagens que observamos na superfície terrestre. O espaço geográfico apresenta várias escalas: uma rua, um bairro, uma cidade, uma plantação, um país. Pode ser o lugar onde vivemos (já que ocupamos uma pequena parcela da superfície terrestre) ou o próprio planeta Terra. Todas essas escalas são representações do espaço geográfico. Fonte: www.astronoo.com Para compreender o espaço geográfico em que vivemos, devemos, inicialmente, observar atentamente a paisagem que o constitui, identificando seus elementos por meio de nossos sentidos. Após esse ponto de partida, podemos ir além da nossa percepção para investigar e conhecer mais sobre o lugar em que vivemos, considerando as diferentes intenções que levaram e levam os seres humanos a transformar a natureza e organizar o espaço geográfico. 13 3 A NATUREZA E O TRABALHO CRIAM DIFERENTES PAISAGENS Podemos identificar diferentes conjuntos de elementos da natureza e de elementos culturais. São esses elementos que caracterizam e particularizam cada paisagem. Ao comparar a paisagem da Mata Atlântica com a da área comercial de Serra Talhada (PE), por exemplo, percebemos que a Mata Atlântica se caracteriza por uma vegetação exuberante, que lhe confere um aspecto peculiar, na qual predominam os elementos naturais. Já na paisagem da área comercial de Serra Talhada, existem mais elementos culturais, como lojas, ruas, carros, circulação de pessoas, que revelam características próprias das paisagens urbanas. Do mesmo modo, um bairro da periferia de Belo Horizonte também é uma paisagem urbana, com outras características, como a concentração de casas e o estreitamento das ruas, conferindo uma particularidade que é própria desses lugares. Fonte: omensageiro77.wordpress.com Na paisagem agrícola de Colinas (RS), observamos outros elementos, como a área de plantação de milho, resultado do trabalho do grupo humano que ali vive e que ocupou o solo, produziu e cultivou cereais. Essas ações nos mostram elementos particulares das paisagens rurais e caracterizam as transformações do espaço geográfico. 14 Como podemos observar, o conjunto dos elementos de uma paisagem exprime o modo como um determinado espaço geográfico está organizado, seu funcionamento e os objetivos que tinham os diferentes grupos humanos que ali viveram e vivem. As paisagens mudam continuamente, pois as pessoas as transformam para atender às suas necessidades. Ao observar diferentes paisagens, podemos identificar as diferenças geográficas entre os lugares. Em muitas cidades brasileiras, é comum observarmos nas paisagens a representação da desigualdade existente em nosso país. Prédios luxuosos estão ao lado de favelas; clubes de lazer de alto padrão se localizam próximos a bolsões de pobreza; mansões e moradias pobres ficam lado a lado. Tudo isso fica explícito nas paisagens. Fonte: www.tucavieira.com.br 4 AS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO MUNDIAL Para conhecer a realidade de um país, a qualidade de vida de sua população e o seu nível de desenvolvimento, é preciso analisar suas condições econômicas, 15 sociais, políticas e culturais. Por isso surgiram os indicadores que permitem propor soluções que visem a melhoria das condições de vida da população. Na década de 1970, os cálculos usados para medir o nível de desenvolvimento de um país apoiavam- se exclusivamente em dadoseconômicos. Que utilizava apenas a produção, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB) e pela renda per capita. Esse modelo foi criticado, pois limitava e distorcia os fatos. Fonte: cricacoelho.com.br Atualmente, os cálculos consideram uma serie de dados socioeconômicos, relativos a produção, englobando a taxa de mortalidade infantil, de analfabetismo, número de crianças que ingressam na escola, o acesso à educação média e superior, a expectativa de vida, acesso à saúde, etc. Assim um país é desenvolvido quando apresenta dados de produção elevados e também boas condições de vida e país subdesenvolvido é quando apresenta baixa qualidade de vida mesmo com produção elevada. 4.1 Crescimento econômico x desenvolvimento humano: contradições do capitalismo O capitalismo é um sistema econômico que apresenta grandes contradições. Uma delas é o modo como a riqueza é distribuída entre a população e como se expressa na qualidade de vida. 16 De acordo com o PIB (Produto Interno Bruto) o país se classificava em 3 grupos: Desenvolvidos: Países industrializados, cuja economia se baseava na produção industrial Em desenvolvimento: Países que possuíam parque industrial em expansão, apesar da economia ser agrícola. Subdesenvolvidos: Índices baixos de produção e economia centrada na produção agrícola ou de matérias-primas. 4.2 Mapa do PIB mundial Fonte:profwladimir.blogspot.com.br A limitação se dá com base no PIB e na renda per capita, se um país apresentar uma produção econômica mediana e pouca população, os dados relativos à renda per 17 capita podem levá-lo a ser classificado como desenvolvido, mesmo que haja baixa qualidade de vida. Outro problema é o fato de não contribuir para oferecer propostas de soluções para os problemas básicos. Em 1990 além do PIB, passou a considerar alguns indicadores sociais. Esses indicadores são organizados de forma a relevar as condições de vida da população de cada país. São eles: longevidade, nível de escolaridade e PIB per capita. 5 LONGEVIDADE OU EXPECTATIVA DE VIDA Corresponde ao número médio de anos que um indivíduo pode esperar viver. É utilizado para melhorar a condição de vida dos idosos e da população em geral, em diversas áreas como atendimento médico-hospitalar, criação de cursos, acesso à moradia, etc. Nem sempre as ações planejadas são suficientes para resolver todos os problemas dos idosos. Fonte: pt.slideshare.net 18 5.1 Nível de escolaridade Para obter esse dado, são consideradas as taxas de analfabetismo e as matrículas feitas na escola do Ensino fundamental, médio e superior. Assim, os órgãos governamentais podem elaborar políticas públicas para melhorar a qualidade da educação. 5.2 PIB per capita É uma média numérica que corresponde à soma de toda a riqueza produzida no país dividida pelo total da população. É utilizado por instituições públicas e privadas. É importante para as condições de vida e é expresso em dólares. 5.3 Índice de desenvolvimento humano (IDH) É o resultado dos dados da expectativa de vida, nível de escolaridade e a renda per capita. Os países podem ser classificados de 0 a 1. Quanto mais próximo do 0, significa que o país enfrenta maior quantidade de problemas relacionados a qualidade de vida. Quanto mais próximo do 1, a população apresenta melhores condições de vida. De acordo com o IDH 2009 os países são classificados em 4 categorias: Desenvolvimento humano muito elevado: os índices variam de 0,900 a 1 Desenvolvimento humano elevado: os índices variam de 0,800 a 0,899 Desenvolvimento humano médio: os índices variam de 0,500 a 0,799 Desenvolvimento Humano Baixo: os índices variam de 0,500 19 Fonte: noticiasdevenhavereregiao.blogspot.com.br 5.4 Países de desenvolvimento humano muito elevado Esses países apresentam IDH crescente ao longo das décadas. Do ponto de vista econômico apresentam uma produção industrial significativa. Outros tem recursos provenientes da exploração do petróleo. Exemplo de países de desenvolvimento muito elevado: França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Itália, compondo um total de 38 países. 5.5 Países de desenvolvimento humano elevado Apresentam uma produção econômica relevante, entretanto, as condições sociais da população são baixas. São países com bom desenvolvimento econômico, mas com muitos problemas sociais. Formado por alguns países emergentes, como Argentina, México, Brasil, compondo no total 45 países. A maioria apresenta boa infraestrutura e um parque industrial significativo, mas é dependente de tecnologia. Apresentam índices elevados de PIB, mas a distribuição nem sempre é igualitária, o que desencadeia problemas sociais como baixa expectativa de vida, falta de acesso à escola, grande número de analfabetos. 20 5.6 Países de desenvolvimento humano médio Apresentam sérios problemas sociais e dificuldades financeiras. Há 75 países compondo este grupo. Eles têm níveis elevados de produção, mas existem problemas sociais recorrentes como o analfabetismo e a falta de acesso ao ensino básico e superior. 5.7 Países de desenvolvimento humano baixo Indicadores sociais mais baixos, conflitos internos e externos, secas constantes e processos acelerados de desertificação em outros. Além disso, faltam investimentos estrangeiros. O PIB é menor que o faturamento de empresas transnacionais, expectativa de vida e alfabetização é baixa 21 BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, R. D. e PASSINI, E. Y. O espaço geográfico: ensino e representação. 4ª ed. São Paulo, Contexto, 2002. ANTONELLO, I.; MOURA, J. D. P.; TSUKAMOTO, R. Y. Múltiplas Geografias: ensino- pesquisa-reflexão. Vol. II, Londrina: Ed. Humanidades, 2005 ANTONELLO, I.; MOURA, J. D. P.; TSUKAMOTO, R. Y. Múltiplas Geografias: ensino- pesquisa-reflexão. Vol. III, Londrina: Ed. Humanidades, 2006. ANTUNES, C. Geografia e Didática. Petrópolis: Vozes, 2010. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História, Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. CALLAI, Helena C. Estudar o lugar para compreender o mundo. In CASTROGI0VANNI, Antônio Carlos (org.). Ensino de Geografia, práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. CALVENTE, M. C. M. H.; ARCHELA, R. S.; GRATÃO, L. H. B. Múltiplas Geografias: ensino-pesquisa-reflexão. Vol. IV, Londrina: Ed. Humanidades, 2007 CARLOS, Ana Fani A. (org.). A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006. Carmo, Neuza do. Caderno do educador(a): Geografia. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2010. CASTELLAR, S.; VILHENA, J. Ensino de Geografia. São Paulo: Cengage, 2010. CASTROGIOVANNI, A. C. (org). Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. CASTROGIOVANNI, A. C. (org). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto alegre: Ed. Da Universidade Federal do Rio Grande do sul, 1999. CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos (org.). Ensino de Geografia, práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000. 22 MORIN, Edgar. Culturas de massa no século XX; neurose. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. PASSINI, E. Y. Prática de Ensino de Geografia e Estágio Supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007. PENTEADO, H. D. Metodologia do ensino de História e Geografia. São Paulo: Cortez, 2009. RUA, J. et al. Para Ensinar Geografia. Rio de Janeiro: ACCESS Editora, 1993. RUDNICK, R.; SOUZA, S. O Ensino de Geografia e suas Linguagens. Curitiba: IBPEX, 2010. SERPA, Angelo. O espaço público na cidade contemporânea. 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As inquietações sobre o papel do espaço no processo social estão no cerne das discussões da Geografia como ramo do conhecimento científico, em distintos momentos históricos, a despeito de abordagens epistemologicamente diversas. O enriquecimento dos instrumentais analíticos oferecidos pela ciência geográfica no período atual a qualifica e a autoriza como uma importante área do conhecimento científico convocada a pensar o espaço do homem em sua inteireza. O espaço geográfico, nesses termos, é considerado a categoria principal da Geografia por meio do entendimento da cidade como um modo de vida, a qual revela sua natureza excludente e contraditória no convívio, por um lado, de áreas dotadas de melhores infraestruturas a fim de garantir uma circulação de capital eficaz, e de outro lado, provoca um paradoxo, pois, ainda há espaços carentes das condições básicas para a população residente obter uma vida digna. 24 O ESPAÇO GEOGRÁFICO COMO CATEGORIA PRINCIPAL DA GEOGRAFIA “O espaço não é apenas um receptáculo da história, mas condição de sua realização qualificada”. Milton Santos, A Natureza do Espaço, 2004. As inquietações sobre o papel do espaço no processo social estão no cerne das discussões da Geografia como ramo do conhecimento científico. O seu entendimento sofreu diversas mutações na esteira de diversas concepções teóricas e metodológicas, desde aquelas apoiadas no conceito de gênero de vida, de base positivista, como às que privilegiaram os modelos de representação baseados em formulações matemáticas e computacionais. Além da contribuição da renovação crítica da ciência geográfica alicerçada no materialismo histórico ou nas correntes humanistas. Em particular, na chamada Geografia Radical ou Crítica, mesmo que essa corrente tenha abandonado o projeto de construir uma ciência total através do marxismo, como avalia Gomes (1996), sua contribuição para a inserção do espaço na teoria social em geral e nas ciências sociais em particular é inegável. A despeito de inúmeras divergências entre autores preocupados com a análise espacial, geógrafos, filósofos, economistas, sociólogos, entre inúmeros outros, há uma convergência identificada na busca da reafirmação do espaço no devir da sociedade. E o fato do espaço, suas formas materializadas e sua relação com o desenvolvimento da sociedade não ser referência, consiste em temática obrigatória de Santos (1986, p.199), quando o autor escreve que a “[...] sociedade não se pode tornar objetiva sem as formas geográficas. Por outro lado, os objetos que constituem a paisagem orientam, depois, a evolução da própria sociedade”. Neste sentido Corrêa (1995), exprime-se em termos claros ao comentar sobre a impossibilidade de separação entre sociedade e espaço, uma vez que a concentricidade da sociedade é dada pelo seu espaço, o qual ela produziu ao mesmo tempo em que o espaço somente é passível de ser compreendido mediante a sociedade. 25 Como se pode observar não se trata de um espaço absoluto, como um conjunto de pontos interligados entre si, com existência própria, independente de agentes externos. O referencial também não diz respeito ao espaço relativo, onde o fundamental torna-se a transpor distâncias e as relações entre objetos significam valorações de prejuízos e ganhos (CORRÊA, 1995). O entendimento do espaço aparece em Lefebvre (1976) apud Corrêa (1995), como espaço social, vivido, possuindo estreita ligação com a prática social. O espaço absoluto, por um lado, é vazio, lugar dos números e das proporções, e o espaço, de outro lado, somente como produto da sociedade, é funcional por transcorrer a existência de objetos produzidos e hierarquizados. O autor avança e expõe o espaço como o local que reproduz as relações sociais de produção. Da mesma forma Santos (1986, p. 128), sustenta a ideia de o espaço ser encarado, portanto, “[...] como realidade objetiva, um produto, isto é, resultado da produção, um objeto social”. Esse espaço social, humano, de que fala o autor, abarca todos os indivíduos, sendo o espaço de todos. Nesta perspectiva Soja (1993), figura como outro autor responsável por uma interpretação crítica ligada a contingência espacial e sua correspondente influência nas relações sociais. Sua distinção entre o espaço per si e o espaço produzido, fruto da organização e da produção é de extrema relevância. O primeiro representa a forma objetiva da matéria, independente de correntes mecanicistas, dialéticas ou materialistas. Já o espaço socialmente produzido advém das realizações humanas erigindo estruturas como outras construções sociais. Isso não quer dizer que esse espaço, como produto social, possua autonomia total com regras e lógicas próprias, mas sim, uma autonomia relativa, pois, liga-se as demais estruturas de um modo de produção. Por isso, como propôs Smith (1988), o espaço geográfico deve ser entendido em sua totalidade, pois a totalidade das relações espaciais organizadas implica padrões passíveis de serem identificados, constituindo dessa forma, a expressão da estrutura e do desenvolvimento do modo de produção capitalista. Porém, uma ressalva importante realizada por Santos (1986), merece especial atenção, pois, uma estrutura espacial, sendo um produto dos processos ocorridos na sociedade, pertence a totalidade daquilo que se chama de estrutura, contudo, somente na medida em que essa mesma estrutura interfere nas ações humanas. 26 É o que pensa Lefebvre (1974) apud Limonad (1999, p.72), ao comentar a especificidade do espaço, isto é, sua capacidade de condicionar a vida: As práticas espaciais regulam a vida – não a criam. O espaço não tem poder em ‘si mesmo’, nem o espaço enquanto tal determina as contradições espaciais. Estas são contradições da sociedade – contradições entre uma coisa e outra no interior da sociedade, como por exemplo, entre as forças e as relações de produção – que simplesmente emergem no espaço, ao nível do espaço, e assim engendram as contradições do espaço Limonad (1999, p.72. Dessa forma, o arcabouço teórico-metodológico da Geografia autoriza uma compreensão da sociedade, quando esta produz seu espaço, podendo ser inteligível, a luz da realidade presente, de acordo com um sistema de conceitos próprios e coerentes relativos a essa categoria analítica. Essa mesma produção pode ser vista, tal como assinala Harvey (2004, p. 85), como um “[...] momento constitutivo da dinâmica da acumulação do capital e da luta de classes”. Verifica-se a rejeição em aceitar a ideia de que as coisas são construídas, tão somente, a partir do espaço. O julgamento de Santos (1993, p.82), é bem rigoroso a esse respeito, diz ele: “[...] o espaço não é uma estrutura de aceitação, de enquadramento ou coisa que o valha, mas uma estrutura social como as outras”. O enfoque geográfico do espaço presente em Santos (2004, p.63), parte da lógica da história passada e da lógica atual. Sendo assim, o autor produz um esforço teórico consistente para o entendimento do espaço a partir de sistemas, para ele: [...] o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos esistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. Nesta concepção de espaço os objetos naturais ou construídos pelo homem e suas ações correspondentes mantêm relação inseparável através da história. Esses mesmos objetos adquirem diferentes funções sociais, na medida em que são valorizados, encarados como realidade social e não somente como realidade física. As ações advêm dos homens sob múltiplas formas, sendo inerente ao: [...] próprio homem. Só o homem tem ação, porque só ele tem objetivo, finalidade. A natureza não tem ação porque é cega, não tem futuro. As ações humanas não se restringem aos indivíduos, incluindo, também, as empresas, as instituições. 27 [...] As ações resultam de necessidades, naturais ou criadas. Essas necessidades: materiais, imateriais, econômicas, sociais, culturais, morais, afetivas, é que conduzem os homens a agir e levam a funções. Essas funções, de uma forma ou de outra, vão desembocar nos objetos. Realizadas através de formas sociais, elas próprias conduzem à criação e ao uso de objetos, formas geográficas (SANTOS, 2004, p. 82- 83). O autor enxerga a relação dos objetos presentes no espaço geográfico, uma casa, uma plantação, uma indústria, entre outros, devidamente preenchidos e intencionalmente incumbidos a desempenhar funções específicas na sociedade, mediante ações advindas de decisões de governo ou pelo mercado. Esses objetos seguem uma lógica e também são utilizados baseados em uma lógica de instalação das coisas. O espaço assegura a continuidade das realizações dessas ações na história. Indubitavelmente, falar em definição do objeto de uma ciência sem expor seu método de abordá-lo é percorrer campos tortuosos de análises. O caminho adequado a uma abordagem do espaço geográfico como sistemas de objetos e sistemas de ações recai sobre a técnica, vista filosoficamente como fenômeno técnico, isto é, “[...] um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço” (SANTOS, 2004, p.29). O conjunto de conceitos a fim de tratar a evolução do espaço geográfico presente em Santos (2004) requer um melhor detalhamento. Aliás, Santos (2004, p.37), reconhece o fato de que quando os geógrafos analisam a sociedade atuando no espaço por meio dos sistemas de transportes ou comunicação, por exemplo, o destaque maior a ser dado deva ser o estabelecimento da relação entre “[...] espaço e fenômeno técnico, abrangendo [...] todas as manifestações da técnica, incluídas as técnicas da própria ação”. Caso contrário corre-se o risco de se contentar em visualizar espaços “industriais”, “agrícolas” ou mesmo “espaços econômicos”, distanciando do espaço geográfico em sua amplitude. A Geografia nestes termos volta suas preocupações para todas as formas de existência. Outra categoria de análise destacada refere-se ao tempo. Os estudos geográficos, frequentemente, reservam ao tempo periodizações elaboradas de 28 maneira circunscrita à constatação dos fatos. Santos (2004, p. 54-56), procura resolver esta “frouxidão conceitual” como diz, declarando ser “[...] por intermédio das técnicas que o homem, no trabalho, realiza essa união entre espaço e tempo”. É “[...] através da produção, que o ‘espaço’ se torna ‘tempo’ concreto”. E a “[...] noção de trabalho e instrumentos de trabalho são muito importantes na explicação geográfica”, pois o “[...] trabalho realizado em cada época supõe um conjunto historicamente determinado de técnicas”. Analogamente, os escritos de Marx (1994, p. 299), oferecem alguma vinculação entre técnica e espaço. Nas diversas análises sobre a temática do trabalho, há aquela sobre os meios de trabalho responsáveis por diferenciar as épocas econômicas, visto que, “[...] não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho que se faz é o que distingue as épocas econômicas”. Neste raciocínio, as mudanças presentes no espaço geográfico são marcadas pela evolução dos processos de trabalho, de suas etapas, “[...] tanto morfologicamente, quanto do ponto de vista das funções e dos processos” (SANTOS, 2004, p.96). Todavia, a apreensão do movimento do espaço não seria total sem a necessária revisita, permanente, do movimento que vai do universal ao local e vice- versa. A divisão do trabalho possui um papel de mediação neste jogo dialético. Interessa “[...] a ordem que as coisas, elas próprias, têm. A isso se chama de totalidade concreta” (SANTOS, 2004, p.117). Soma-se a isso o papel da escala de origem das variáveis que estão envolvidas na produção dos eventos, bem como a escala de impacto, ou seja, da área de ocorrência do fenômeno. O problema da escala obriga ao geógrafo a pensar como Castro (1995, p.123), para quem “[...] a escala é, na realidade, à medida que confere visibilidade ao fenômeno”. Essa interpretação remonta a escala geográfica, isto é, segundo a autora, as representações advindas do relacionamento entre a sociedade e as formas geométricas, diferentemente da escala cartográfica, a expressão da representação do espaço como forma geométrica. Ainda segundo Santos (2004), os eventos, ou seja, o resultado da interação entre os homens, dos efeitos destes sobre a natureza em um instante do tempo em 29 um ponto específico do espaço, podem ter origem mundial e ocorrer em nível local, por interesses das entidades supranacionais e/ou pelo mercado. A questão volta-se para a análise dos sistemas técnicos utilizados pelas empresas, pelos indivíduos, pelas instituições etc., e a maneira pela qual este uso diferencial se manifesta no espaço da sociedade. A CIDADE COMO MODO DE VIDA URBANO As configurações territoriais observadas através das paisagens exprimem as desigualdades existentes em toda a sociedade, fundadas sob relações sociais desiguais em diferentes contextos, em diferentes épocas ao longo da história. Essas desigualdades expressam as contradições do processo de produção do espaço (CARLOS, 1997). Sendo assim, uma das formas de estudar o espaço humano ou social é analisar como o trabalho encontra-se materializado, isto é, como as formas geográficas adquiriram funções distintas no processo de reprodução da sociedade. Além dos tipos de relações sociais que permitiram aos homens se organizarem de maneira altamente complexa, como no exemplo das cidades técnica e com densidade populacional elevada. Nesta organização complexa em que se vive hoje, a cidade, há inúmeros fatores que se interagem, quantidades enormes de variáveis possíveis de análises, logo, surgem à necessidade do estudo das estruturas componentes de nossa sociedade. Essas estruturas, por vezes, tacitamente abstraídas das relações cotidianas, imprescindíveis na obtenção de respostas aos questionamentos do processo de formação, divisão e manutenção da vida social urbana. Nestes termos Carlos (1997, p. 38), demonstra de maneira clara o caráter da paisagem e sua contribuição para a análise geográfica. Para a autora a paisagem pode ser vista como a ”[...] forma exterior, a aparência ‘caótica’, sob a qual se descortina a essência articulada e objetiva do espaço geográfico”. Por outro lado, na chamada urbanização, em linhas gerais, o processo de difusão do modo de vida urbano, a cidade seria o resultado visível, materializado deste processo no espaço. O significado dos termos urbano e urbanização para Lefebvre (1991) apud Limonad (1999, p.71), ultrapassam os limites das cidades. Para o autor, 30 a urbanização constitui uma condensação dos processos sociais e espaciais responsáveis por permitir ao sistema capitalista a manutenção e reprodução de suas relações essenciais de produção em sentido amplo, e “[...] a própria sobrevivência do capitalismo estaria baseada na criação de um espaço social crescentementeabrangente, instrumental e mistificado”. A cidade, segundo Carlos (1994, p.84), concentra meios de produção e pessoas, sendo também o lugar privilegiado da divisão social do trabalho na sociedade e liga-se a divisão espacial englobando a totalidade do espaço. Neste sentido, o espaço urbano “[...] aparece como concentração através da cidade”, e o “[...] urbano é mais que um modo de produzir, é também um modo de consumir, pensar, sentir; enfim, é um modo de vida”. A autora reconhece este fato quando escreve sobre o espaço produzido pela sociedade como base para “[...] recriar constantemente as condições gerais a partir das quais se realiza o processo de reprodução do capital, da vida humana, da sociedade como um todo” (CARLOS, 1997, p. 30). A reprodução da sociedade se manifesta no espaço urbano por excelência, espaço esse “[...] diferentemente ocupado em função das classes em que se divide a sociedade urbana” (SANTOS, 1993, p. 83). Contudo, qual o significado de se procurar entender a reprodução da sociedade a partir do espaço urbano? A resposta oferecida por Carlos (1997, p. 70) é enfática: Entender o espaço urbano do ponto de vista da reprodução da sociedade significa pensar o homem enquanto ser individual e social no seu cotidiano, no seu modo de vida, de agir e de pensar. Significa pensar o processo de produção do humano num contexto mais amplo, aquele da produção da história de como os homens produziram as condições materiais de sua existência e do modo como concebem as possibilidades de mudanças. Vale ressaltar que na cidade, como um objeto fixo, concreto, circulam diferentes recursos: força de trabalho, capital, tecnologia, informação etc., regulados pela lógica do sistema capitalista, o qual modifica, consome, segrega o espaço e, consequentemente, os homens. De acordo com cada momento histórico esses “[...] recursos são distribuídos de diferentes maneiras e localmente combinados, o que acarreta uma diferenciação no interior do espaço total e confere a cada região ou lugar sua especificidade e definição particular” (SANTOS, 2004, p.165). 31 Sendo a expressão materializada do modo de vida urbano, a cidade refletirá, na contemporaneidade, a estrutura social baseada no modo de produção capitalista. É como sustenta Corrêa (1989, p.6), em seu estudo sobre a cidade, ao levantar reflexões sobre a análise geográfica em diferentes formas, dentre elas, considera o espaço urbano como forma espacial “[...] em suas conexões com a estrutura social, processos e funções urbanas”. O autor ainda oferece quatro momentos para a apreensão do espaço urbano. O primeiro refere-se à fragmentação, razão pelas quais partes distintas do espaço mantêm relações com as demais, como fluxos de veículos, de pessoas, mercadorias etc. O segundo momento diz respeito à articulação, esta, sendo menos visível, envolve circulação de decisões e investimentos de capital, mais-valia, salários, dentre outros. O terceiro momento caracteriza o espaço urbano como reflexo da sociedade, pois, reflete a estrutura social dividida em classes. O quarto momento coloca o espaço da cidade como condicionante da sociedade, implicando em uma análise das obras produzidas pelos homens, isto é, formas espaciais encarregadas a desempenhar um importante papel na reprodução das condições de produção e das relações de produção (CORRÊA, 1989, p. 7-9). A cidade pode ser sinônimo de diversidade. É o que apresenta Santos (2004, p. 309), na análise dos “conteúdos técnicos” e “socioeconômicos” diversos presentes no espaço urbano. Para o autor, as cidades (grandes) possibilitam acolher as mais variadas atividades, segundo os mais diversos “[...] níveis técnicos, de capital e de organização. Desse modo, tais cidades abrigam todos os tipos de capital e todos os tipos de trabalho. É esta, aliás, sua riqueza”. O mesmo sucede a Singer (1998), quando procura identificar as condições necessárias sem as quais as cidades não teriam se desenvolvido. O autor parte do papel das classes sociais na disputa pela inserção diferenciada no processo de produção e de distribuição. Para o autor a existência das cidades pressupõe a criação de instituições sociais, de relações de dominação, de exploração a fim de manter a transferência do mais-produto do campo a um espaço social diferenciado pela dinâmica da divisão do trabalho e uma sociedade dividida em classes. A este processo de urbanização Limonad (1999, p. 85), procura estabelecer conexões entre a distribuição das atividades produtivas e a população. Para a autora, uma definição de urbanização deve ser capaz de reconhecer a disputa pelo espaço 32 no capitalismo como estratégias para o capital e o trabalho se reproduzirem. A intensidade destes processos varia em função da estruturação do território e da produção. Diante de um quadro de generalidade, impõe-se a argumentação de Carlos (1997, p. 42), ao trazer uma visão de cidade correspondente a atualidade: [...] a cidade apresenta-se como um fenômeno concentrado e contraditório, fundamentado numa complexa divisão espacial do trabalho; uma aglomeração que tem em vista o processo de produção norteado pelo trabalho assalariado, pela socialização do trabalho, pela concentração dos meios de produção e pela apropriação privada. Com base nessas afirmações nota-se a importância da categoria da divisão do trabalho para a análise do espaço urbano. A história da distribuição dos homens e de suas atividades sobre a superfície da terra, bem como a técnica subjacente a cada momento histórico, criando novos determinantes para a disposição dos objetos geográficos e conferindo-lhes novos valores, devem-se somar segundo Santos (1994), ao reconhecimento das formas herdadas do passado, ou seja, o espaço construído. A funcionalidade desses objetos e sua presença na organização espacial atual são, em parte, devido à capacidade de adaptação que essas formas espaciais adquirem com o passar do tempo. O valor simbólico ou econômico, entre outros aspectos, justifica sua permanência no espaço urbano. (CORRÊA, 1998). Nestas condições a proposta de Santos (1994), consiste em identificar os princípios de diferenciação entre os lugares, mediante a influência das formas geográficas herdadas tidas como dados locais e os elementos da divisão do trabalho, que transcendem esses mesmos limites locais. Tanto a divisão social como territorial do trabalho dependem das decisões políticas na sociedade e do papel do Estado, no que remete a evolução do espaço urbano. Eis porque uma análise urbana deva levar em consideração a intervenção do Estado, em favorecer certas atividades em detrimento de outras; ou mesmo no uso do solo urbano, criando espaços industriais, por exemplo, mediante a valorização de certas áreas do espaço urbano pelo poder de determinados agentes. Além disso, os agentes não-hegemônicos, como as classes trabalhadoras também participam do desenvolvimento urbano, na medida em que reivindicam 33 melhorias infraestruturas em seus lugares. A esse respeito Santos (1994, p. 127), condena dizer que “[...] as cidades se põem, sobretudo, ao serviço do capital”. Para o autor, isto não passa de um discurso. Torna-se necessário, portanto, uma classificação dos capitais presentes na cidade em qualidade e usos possíveis pelos respectivos capitalistas, aliado ao poder desempenhado por eles no espaço urbano. Da mesma forma, a população deve ser analisada com relação às características próprias do espaço em que se encontra. Singer e Limonad, já citados, trabalham com a chamada economia política da urbanização. Esta privilegia a análise da repartição dos instrumentos de trabalho, dos homens, do emprego na superfície de um país. De outra forma Santos (1994, p.118) propõe uma economia política da cidade, quer dizer, “[...] a forma como a cidade,ela própria, se organiza, em face da produção e como os diversos atores da vida urbana encontram seu lugar, em cada momento, dentro da cidade”. Essas duas economias políticas são inseparáveis, pois a urbanização constitui um fenômeno espacial, além de social, econômico e político. A NATUREZA EXCLUDENTE DO ESPAÇO URBANO Analisar a cidade do ponto de vista do cidadão e do capital não implica desconsiderar a visão de Souza (2003, p. 28), para quem: [...] uma cidade é um local onde as pessoas se organizam e interagem com base em interesses e valores os mais diversos, formando grupos de afinidade e de interesse, menos ou mais bem definidos territorialmente com base na identificação entre certos recursos cobiçados e o espaço, ou na base de identidade territoriais que os indivíduos buscam manter e preservar. Tais observações quando confrontadas à luz da natureza classista existente na cidade, tanto em relação à produção como o consumo de bens materiais, por exemplo, revelam suas contradições. O controle sobre essas relações de cooperação entre os indivíduos em um mesmo espaço pode ser reafirmado ou não, dentro daquilo que Corrêa (1995, p. 35), chamou de “práticas espaciais”, ou seja, “[...] um conjunto de ações espacialmente localizadas que impactam diretamente sobre o espaço, alterando-o no todo ou em parte ou preservando-o em suas formas e interações”. 34 De acordo com o autor, as práticas espaciais são, grosso modo, as seguintes: a) Seletividade espacial: solos férteis, a proximidade da matéria-prima, de uma força de trabalho não qualificada e sindicalmente pouco ativa, são alguns atributos que podem levar às localizações seletivas. b) Antecipação espacial. Significa reserva de território, garantir para o futuro próximo o controle de uma dada organização espacial, vislumbrando assim as possibilidades, via ampliação do espaço de atuação, de reprodução de suas condições de produção. c) Marginalização espacial. O valor atribuído a um dado lugar pode variar ao longo do tempo por razões de ordem econômica, política ou cultural e, assim alterar a sua importância, e no limite, marginalizá-lo da rede de lugares a que se vinculava. d) Reprodução da região produtora. No processo de valorização produtiva do espaço é necessário que se viabilize a reprodução das condições de produção. Isto implica em práticas espacialmente localizadas, via de regra efetivada pelo Estado ou pelas grandes e complexas corporações (CORRÊA, 1995, p. 36-40). Em casos como esses, as práticas espaciais encontram na cidade, como meio material e social condições à privatização das benfeitorias coletivas, e geram, ao mesmo tempo, sua apropriação seletiva (SANTOS, 1994). Do ponto de vista do capital, a cidade torna-se o espaço da socialização capitalista, na ideia de Santos (1994, p. 122), “[...] um processo de transferência de recursos da população como um todo para algumas pessoas e firmas”. O mesmo pode-se dizer de Topalov (1974) apud Santos (1994, p. 123), que desenvolveu está ideia nos seguintes termos: [...] a cidade constitui uma forma de socialização capitalista das forças produtivas. Ela mesma é o resultado da divisão social do trabalho e é uma forma desenvolvida de cooperação entre as unidades de produção. Em outras palavras, para o capital, o valor de uso da cidade reside no fato de que é uma força produtiva, porque concentra as condições gerais da produção capitalista. Essas condições gerais, por sua vez, são condições da produção e da circulação do capital e da produção da força de trabalho. Todas essas condições descritas pelo autor se inscrevem sobre uma materialidade densamente desigual presente nas cidades. A existência de áreas dotadas de melhores infraestruturas a fim de garantir uma circulação de capital eficaz 35 provoca um paradoxo, pois, ainda há espaços carentes das condições básicas para a população residente obter uma vida digna. A contribuição de Carlos (1994), sobre a produção do espaço urbano como um modo de viabilizar o processo de reprodução do capital enriquece a análise do urbano, pois a autora estabelece a ligação entre as necessidades do capital e das pessoas, estas últimas não são tratadas como um dado esvaziado de conteúdo. Neste quadro, as necessidades básicas das pessoas, habitarem em um local, por exemplo, faz emergir de imediato a situação da classe trabalhadora e seu modo de vida. À vista disso, o trabalhador para Carlos (1994, p. 95), “[...] não foge ao controle do capital, nem quando está longe do local de trabalho, pois o espaço da moradia tende a se subjugar às necessidades e perspectivas da acumulação do capital”. Os tipos de habitação, seu acesso, os equipamentos de consumo coletivos serão diferenciados a partir da classe social atendida na cidade. De onde a autora retira duas características. A primeira diz respeito à segregação espacial válido tanto para as pessoas de maior poder aquisitivo como àquelas de baixo rendimento financeiro. Os bairros que possuem infraestrutura completa, logo terão o valor da terra elevado e não estarão disponíveis à população carente. Também há os condomínios fechados, verdadeiras fortalezas, tendo em vista sua exclusividade e localização, geralmente distantes do centro das cidades, mesmo assim detêm espaços de lazer como shoppings, além de segurança garantida. A segunda característica refere-se às opções dos conjuntos habitacionais com suas casas “produzidas em série”, localizadas distantes do centro das cidades, o que faz aumentar o trajeto entre local de trabalho e moradia da população, dotados de infraestrutura irregular, muitas vezes com ausência de saneamento básico, áreas de lazer e espaços culturais. Na realidade o que a autora procura desvendar é a questão de como a sociedade (re)produz o espaço de sua reprodução. E isso será possível mediante a análise das imbricações entre os modos de vida e os processos de trabalho presentes no espaço. Portanto, a ligação entre local habitado pelos cidadãos e o preço da terra correspondente, revelam seu modo de vida e sua distribuição irregular na cidade expressando as desigualdades sociais reguladas pela lógica do sistema capitalista. 36 A partir disso, uma síntese elaborada por Santos (1993, p. 1), resulta em uma verdadeira teoria geográfica: [...] a atividade econômica e a herança social distribuem os homens desigualmente no espaço, fazendo com que certas noções consagradas, como rede urbana ou do sistema de cidades, não tenham validade para a maioria das pessoas, pois o seu acesso efetivo aos bens e serviços distribuídos conforme a hierarquia urbana depende do seu lugar socioeconômico e também do seu lugar geográfico (SANTOS, 1993, p.1). Vencer os obstáculos de uma condenação, como se pode inferir das formulações de Santos (1993), ao lugar que os habitantes, tanto no campo como na cidade ocupam é parte essencial da reprodução original dessas populações, ou seja, da manutenção das relações sociais desiguais. CONSIDERAÇÕES FINAIS O entendimento das implicações espaciais derivadas da capacidade do sistema capitalista de produção em adaptar-se em diferentes períodos em que seu regime de acumulação encontrou-se ameaçado, evoca uma análise das transformações sofridas por este sistema, principalmente no último quartel do século XX, e que repercute nesta década do século XXI. Sendo assim, importa reconhecer a ligação em derredor de uma reestruturação e uma espacialização no mundo contemporâneo, o qual envolve a todos. O sistema capitalista no momento atual procura ajustar os arranjos espaciais como forma de continuar sua reprodução. Captar, mesmo em linhas gerais estes processos garante uma visão de totalidade indispensável à análise geográfica que queira atingir os lugares e sua dinâmica. 37 BIBLIOGRAFIACARLOS, A. F. A. A (Re)Produção do Espaço Urbano. São Paulo: Edusp, 1994. ______. A cidade. 3.ed. São Paulo: Contexto, 1997. CASTRO, I. E. de. O problema da escala. In: CASTRO, I. E. de.; GOMES, P. C. da C., CORREA, R. L. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. CÔRREA, R. L. O Espaço Urbano. Rio de Janeiro: Ática, 1989. ______. Espaço: um conceito-chave da Geografia In: CASTRO, I. E. de.; GOMES, P. C. da C., CORREA, R. L. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. ______. Região e organização espacial. 6.ed. São Paulo: Ática, 1998. GOMES, P. C. da C. Geografia e Modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. HARVEY, D. Espaços de Esperança. São Paulo: Loyola, 2004. LIMONAD, E. Reflexões sobre o espaço, o urbano e a urbanização. GEOgraphia. 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L. de. ABC do desenvolvimento urbano. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 39 ARTIGO PARA REFLEXÃO Autores: Fernando Antônio da Silva; Reinaldo Sousa Disponível em: http://e- revista.unioeste.br/index.php/pgeografica/article/download/8368/6186 Acesso: 22 de junho de 2016 GLOBALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO: CONTRIBUIÇÕES AO MÉTODO DA GEOGRAFIA NOVA NUM VIÉS MILTONIANO INTRODUÇÃO No campo do conhecimento, estruturado em bases científicas, a questão do método assume destaque no trabalho do pesquisador e, por conseguinte, tem sido um dos temas mais evocados no âmbito das diversas disciplinas. A lógica sistemática que orienta o conhecimento das ciências confere ao método grande importância de forma que, qualquer que seja a área de estudo, a apreensão dos fenômenos passa pela opção de um viés metodológico. Para Santos e Fernandes apud Vale “[...] a questão do método é fundamental. Sem método não há possibilidade de investigar a realidade em bases racionais. O método é o caminho para o conhecimento estruturado” (2001, p.10). Corroborando com esse pensamento Santos e Silveira afirmam que “escolher um caminho de método significa levar em conta diversas escalas de manifestação da realidade, de modo a encontrar as variáveis explicativas fundamentais” (2005, p.11). Conforme depreendido destas inferências a escolha de um método é condição sine qua non no desenvolvimento de uma pesquisa cientifica, do qual dependerá a consistência do conhecimento elaborado, sendo este resultado do caminho metodológico percorrido. O movimento de renovação da Geografia Brasileira, despontado aproximadamente em meados do século passado e firmado nos decênios posteriores, leva a uma revisão das bases teórico-conceituais dessa disciplina como também de seu método com vistas em atender as demandas da nova realidade (CORRÊA, 1986). http://e-revista.unioeste.br/index.php/pgeografica/article/download/8368/6186 http://e-revista.unioeste.br/index.php/pgeografica/article/download/8368/6186 40 Marcada pela indefinição do objeto de estudo ao longo de sua trajetória a ciência geográfica, até então calcada na descrição e/ou comparação enquanto método, necessita caminhar em compasso com os ditames do mundo do presente, haja vista sua difícil tarefa de desvelar uma realidade caracterizada sobretudo pelo processo de globalização hegemônica e a reafirmação cada vez mais crescente de sua “expressão geográfica”, qual seja, o meio técnico-científico-informacional. Tudo isso requer um novo enfoque metodológico da Geografia sob pena de sua pretensa renovação ocorrer apenas no discurso, pois, pensar um método e toda sua complexidade é ao mesmo tempo abrir possibilidades para um estudo mais acurado da realidade. Entretanto a redefinição de um método não é tarefa fácil principalmente em meio à aceleração contemporânea, por isso, as propostas de renovação da Geografia são muitas, porém, poucas aquelas que vêm acompanhadas de um caminho metodológico. GLOBALIZAÇÃO E COMPLEXIDADE DO ESPAÇO Santos (2008, p. 33), tomando por base a importância da historicidade1i do espaço, classifica os períodos históricos em três grandes divisões, cada qual marcado por uma grande revolução. O primeiro iniciado no fim no século XV é marcado pela revolução dos transportes marítimos quando o mundo começa a ser conhecido como um todo sob o comando comercial de Espanha e Portugal; o segundo que começa em meados do século XVIII, caracterizado pela revolução industrial; e o terceiro marcado pela revolução tecnológica, o período atual, cujas texturas se verificam após a segunda guerra mundial. O período histórico atual, muito distinto dos que os precederam, tem como fundamento marcante o tripé-técnica, ciência e informação, sendo por isso denominado por Milton Santos de meio técnico-cientifico-informacional, conforme enunciado anteriormente. Técnica está universalizada relacionalmente e presente em cada lugar de forma potencial. Vive-se um mundo em que a ciência é o motor do desenvolvimento, onde o trabalho intelectual ganha importância primária e as informações em massa se processam vertiginosamente. Porém, como adverte Santos (2006, p. 39), uma informação não face a face, mas mediada, ‘preparada e servida’ 41 pelos atores hegemônicos do sistema. As especificidades dos nossos tempos podem ser notadas nas palavras do autor, para quem: Pela primeira vez na história dos países subdesenvolvidos, duas variáveis elaboradas no centro do sistema encontram uma difusão generalizada nos países periféricos. Trata-se da informação e do consumo – a primeira estando a serviço do segundo -, cuja generalização constitui um fator fundamental de transformação da economia, da sociedade e da organização do espaço (SANTOS, 2008, p. 36). O processo de globalização ou terceiro período da história, que ganhou corpo a partir do fim da segunda guerra mundial, gerou grandes metamorfoses no espaço enquanto totalidade, com implicações diretas nos lugares que passam a ser reflexos do mundo, impedindo que espaços distantes fiquem isolados e causando um hibridismo cultural nunca antes presenciado na história humana. Esse mesmo processo permite articular as diversas partes que compõe a totalidade, alargando contextos e encurtando distâncias, pois as tecnologias de ponta geram novas possibilidades de fluidez, base de expansão e de intercâmbio. Contudo, a globalização não é conhecida por todos, sendo, sobretudo, um processo paradoxal e fragmentador, pois, ao tempo em que cria novas possibilidades é uma fábrica de perversidades. Como afirma Santos: A mundialização que se vê é perversa [...]. Concentração e centralização da economia e do poder político, cultura de massa, cientifização da burocracia, centralização agravada das decisões e da informação, tudo isso forma a base de um acirramento das desigualdades entre países e entre classes sociais, assim como da opressão e desintegração do indivíduo(SANTOS, 1997b, p.17). As possibilidades trazidas pelo processo de globalização, como a de tudo conhecer num curto lapso de tempo, têm se apresentado apenas como fabulações para a grande maioria das pessoas, pois as contradições no tocante à distribuição do capital se acentuam e as perversidades impostas podem ser vistas em todos os lugares (SANTOS, 2006, p. 41). Em Economia Espacial: críticas e alternativas M. Santos se refere à formação socioeconômica produzida pelo atual sistema capitalista como uma “Totalidade do Diabo” justamente por funcionar em detrimento da grande maioria da nação. Para autor: 42 Quando sua evolução é governada diretamente de fora, sem a participação do povo envolvido, a estrutura prevalecente – uma armadilha na qual as ações se localizam – não é da nação, mas sim a estrutura global do sistema capitalista. As formas introduzidas deste modo servem ao modo de produção dominante em vez de servir a formação socioeconômica local e às suas necessidades específicas. Trata-se de uma totalidade doente, perversa e prejudicial (SANTOS, 2007, p. 202). A tarefa da Geografia frente a essa realidade é compreender os processos de desigualdade, de falsa democracia, que se acentuam nesse período da globalização e ao mesmo tempo são maquiadas pelo progresso técnico. Neste sentido ressurge a importância de um método, pois, é marca desse contexto neoliberal/capitalista/globalizado uma complexidade nunca antes presenciada na história humana. Compreender o lugar, nesse contexto, supõe reconhecer que este se tornou ao mesmo tempo, e estranhamente, singular pelas influências do contexto, e mundializado na medida em que é receptáculo das possibilidades trazidas pela globalização. Nesse sentido a noção de lugar-mundo e mundo-lugar, deve perpassar a todo tempo o entendimento do espaço contemporâneo. DA COMPLEXIDADE DO ESPAÇO À REDEFINIÇÃO DE UM MÉTODO Conforme assinalado no item precedente a partir do momento em que o mundo se tornou globalizado a realidade local não pode mais ser explicada em si só, pois, o mais distante lugar passou a estabelecer relações das mais diversas com o restante do mundo. Logo o mundo se concretiza no lugar, e este evolui contraditoriamente em virtude das determinações externas (globais) e daquelas que lhe são próprias (internas). Por conseguinte as relações de ordem políticas, sociais e econômicas mudam substancialmente não só quantitativamente, mas também no que tange ao aspecto qualitativo, caracterizando-se pela densidade, visto que, consegue abarcar todos os lugares do globo; Como resultado, estes (os lugares) adquirem novos conteúdos técnicos passando a funcionar como subespaço dentro do espaço total. Neste sentido, em primeira análise, uma questão fundamental é que “O espaço, como realidade, é uno e total” (1985, p. 64). As novas dimensões da internacionalização que culminaram no atual processo de globalização não permitem a compreensão de frações do território de forma isolada. Isso, contudo, não significa 43 que o espaço mundial seja homogêneo, ao contrário, pois é daí que emergem as diferenças e o espaço se torna ainda mais heterogêneo. Em O Espaço Dividido, Os dois Circuitos de Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos, numa “breve descrição das modernizações”, Santos indica que em cada período histórico as regiões “polarizadoras” funcionam como centro de dispersão das modernizações, que, dispondo de energia potencial, impactam os subsistemas subordinados fazendo com que estes entre no sistema global. Dessa forma, as mudanças nesses espaços periféricos irão depender do primeiro momento de intervenção das forças exógenas e dos impactos futuros. Desse modo Todo espaço conhece assim uma evolução própria, resultado de uma conjugação de forças externas pertencentes a um sistema cujo centro se encontra nos países pólos e de forças já existentes nesse espaço. Resulta daí a diversidade das condições de subdesenvolvimento e a originalidade das situações para cada lugar (SANTOS, 2008b, p. 32). Assim a condição local é sempre singular, posto que, apesar do impacto global a combinação das variáveis é sempre especifica, pois depende dos arranjos preexistentes, de modo que, ao se agregarem (o original e o novo) formam uma situação completamente distinta dos outros lugares. Nesse contexto, para Santos “o espaço não é nem uma coisa, nem um sistema de coisas [...]” (1997b, p.26). Reconhecendo que a realidade é algo essencialmente dinâmico, adotar a concepção de que o espaço geográfico é uma coisa acarreta sérios problemas epistemológicos e metodológicos, pois, a “coisa” seria em pouco tempo transformada em “outra coisa”, e os conceitos envelheceriam muito rapidamente. Desse modo, continua o autor, o espaço é “[...] uma realidade relacional: coisas e relações juntas” (SANTOS, 1997b, p. 26). A propósito dessa problemática, M. Santos submete o conceito de espaço geográfico a uma completa releitura, tendo em vista a insuficiência das noções clássicas dessa categoria central da Geografia, e elabora uma definição com base na historicidade supracitada analisando o processo de evolução humana que resultou no controle, às vezes passivo, dos processos da natureza e na complexidade da sociedade atual. Assim, admite o autor, “No começo da história do homem, a configuração territorial é simplesmente o conjunto dos complexos naturais” (1997a, p. 51). Acontece que, com o progresso das técnicas, principalmente com o adentrar do 44 atual período tecnológico, a natureza se torna cada vez mais humanizada, artificializada com verdadeiras próteses, de modo que, a organização do espaço se caracteriza, sobretudo, por construções humanas. Por isso Santos define espaço geográfico como [...] um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e de sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituído por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidrelétricas, fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico (1997a, p. 51). O espaço geográfico se torna, destarte, cada vez mais complexo caminhando num ritmo de transformação acelerado e com ele as instâncias sociais, econômicas e políticas que o contém e são contidas. Faz-se então importante apreender o modo como a sociedade age sobre esse espaço e vice-versa, ou seja, os aspectos concernentes à produção do espaço na ação recíproca entre os objetos e as ações humanas, se a pretensão for refletir sobre a redefinição de um método, como no presente ensaio. Embora o espaço se comporte, em termos concretos e conceituais, enquanto totalidade no processo de análise, na perspectiva metodológica, “Não resta dúvida que não se pode estudar o todo pelo todo” (SANTOS, 1985, p. 57), pois o todo se mostra dialeticamente divisível. Torna-se imperativo o conhecimento aprofundado das partes, pois é a partir delas que se pode gerar a consciência do todo. Conforme Santos O todo somente pode ser conhecido através do conhecimento das partes e as partes somente podem ser conhecidas através do conhecimento do todo. Essas duas verdades são, porém, parciais. Para alcançar a verdade total, é necessário reconhecer o movimento conjunto do todo e das partes, através do processo de totalização (1997a, p. 96). Isso porque “O processo pelo qual o todo se torna um outro todo é um processo de desmanche, de fragmentação e de recomposição,um processo de análise e síntese ao mesmo tempo. Trata-se de um movimento pelo qual o único se torna múltiplo e vice-versa” (SANTOS, 1997a, p. 96). Assim, a cada momento o todo refuncionaliza as partes e as partes refuncionalizadas formam um outro todo. Acontece que a outra totalidade produzida não é estática, pois, quando pronta, está novamente e simultaneamente sendo 45 reproduzida através das partes; isso constituiria, no dizer de Milton Santos, uma totalidade imperfeita, em constante processo de totalização. Cada nova totalidade age de maneira diferente sobre as partes. Com efeito, com o movimento da totalidade as partes nunca serão as mesmas, e com a atuação das partes modificadas sobre o todo, este também será completamente diverso do que fora outrora. É nessa perspectiva que, embasando-se em Karl Marx, Milton Santos defende o método de análise e síntese como cientificamente correto (VALE, 2001, p.10). A análise é uma forma de conhecimento acurado do espaço através do estudo das partes que projetam o futuro da totalidade espacial; por outro lado, a síntese permite entender o caminho percorrido, visto que o espaço busca constantemente totalizar- se. Partindo da premissa que o espaço geográfico assim se comporta e evolui, a questão é encontrar as categorias adequadas que permitam perfazer esse caminho dialético da reconstrução do todo através das partes e também o inverso, isto é, analisar para em seguida sintetizar. Nas palavras do próprio M. Santos, “O problema é encontrar as categorias de análise que nos permitem o seu conhecimento sistemático, isto é, a possibilidade de propor uma análise e uma síntese cujos elementos constituintes sejam os mesmos” (1997b, p. 25). ANÁLISE E SÍNTESE: FORMA, FUNÇÃO, ESTRUTURA E PROCESSO Compreender as relações contraditórias que perpassam no espaço é o primeiro passo rumo à elaboração e compreensão de um método, deveras, eficaz. Na busca por compreensão consistente do espaço, Santos propõe uma análise a partir das categorias forma, função, estrutura e processo. Segundo Santos apud Corrêa para uma melhor compreensão da organização espacial e sua evolução – quer dizer, a evolução da totalidade social espacializada -, é imperativo que se interprete a relação dialética entre estrutura, processo, função e forma. Estas são as categorias de análise que permitem uma melhor compreensão da totalidade social e sua espacialização. (CORRÊA, 1986). Para ele a forma seria o aspecto visível e exterior de cada objeto. Uma casa, por exemplo, constituiria uma forma. Dela para um bairro ou uma cidade variaria apenas a escala, mas todas constituiriam formas. Já a função implicaria numa tarefa, 46 atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto criado. Assim, passa a possuir um aspecto exterior, também visível, a forma, e desempenha uma atividade, a função (CORRÊA, 1986). Estrutura, na perspectiva miltoniana, se relacionaria à maneira como os objetos se organizam. Como se relacionam entre si. Seria, ainda segundo Corrêa (1986), a natureza social e econômica de uma sociedade em um recorte de tempo. A estrutura espacial de um dado lugar é o resultado da interação de várias estruturas que subsistem indissociavelmente, como nos lembra Santos: A estrutura espacial é algo assim: uma combinação localizada de uma estrutura demográfica específica, de uma estrutura de produção específica, de uma estrutura de renda específica, de uma estrutura de consumo específica, de uma estrutura de classes específica e de um arranjo específico de técnicas produtivas e organizativas utilizadas por aquelas estruturas e que definem as relações entre os recursos presentes (SANTOS, 1985, p. 17). Para apreensão da realidade a geografia não pode se interessar mais pela forma das coisas do que pela sua formação. Por isso, outro fator inerente ao estudo do espaço é o processo. Este seria o constante devir social que constrói, (re)constrói e (des)constrói as formas ao longo da história, uma ação que se realiza continuamente, visando um resultado qualquer, implicando tempo e mudança. Em outras palavras uma espécie de estrutura em seu movimento de transformação (CORRÊA, 1986). O processo é dinâmico, ou seja, processa e é processado, modifica e é modificado, é ao mesmo tempo resultado e condição da história. Desse modo, o estudo do processo se faz necessário na medida em que se busca entender a gestação das formas, o que impreterivelmente facilitará a compreensão das funções por elas exercidas. Nesse sentido a história se constitui numa ferramenta intimamente relacionada, onde se evidencia a indissociabilidade espaço/tempo, a qual é preciso recorrer constantemente. À primeira vista o geógrafo pode ser induzido a estudar pura e simplesmente a forma. Porém, não se pode a separar concreta e conceitualmente das demais categorias sob pena de não se compreender a contento os diversos aspectos que compõe o espaço. Como nos afirma Santos: Para se compreender o espaço social em qualquer tempo, é fundamental tomar em conjunto a forma, a função e a estrutura, como se tratasse de um conceito único. Não se pode analisar o espaço através de um só desses 47 conceitos, ou mesmo de uma combinação de dois deles. Se examinarmos apenas a forma e a estrutura, eliminando a função, perderemos a história da totalidade espacial, simplesmente porque a função não se repete duas vezes. Separando estrutura e função, o passado e o presente são suprimidos, com o que a idéia de transformação nos escapa e as instituições se tornam incapazes de projetar-se no futuro. Examinar forma e função, sem a estrutura, deixa-nos a braços com uma sociedade inteiramente estática, destituída de qualquer impulso dominante. Como a estrutura dita a função, seria absurdo tentar uma análise sem esse elemento (SANTOS, 1985, p. 56). Assim, forma, função, estrutura e processo, este último sinônimo de tempo, quando consideradas em conjunto impedem a compreensão superficial e descritiva dos fenômenos que todo cientista deve evitar. Portanto, esse método constitui uma base forte que auxilia o geógrafo na leitura e interpretação da realidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho procurou evidenciar a aplicabilidade concreta e conceitual das categorias Miltonianas: forma, função, estrutura e processo, enquanto método de análise para compreensão da organização sócio espacial, revelando as contradições do processo de globalização, quando consideradas indissociavelmente. Para tanto, foi necessário recorrer aos principais fundamentos dessa nova realidade geográfica presenciada aproximadamente em meados do século passado, visto que, analisar as características desse período histórico é condição essencial para a (re)definição de um método que não fuja à atualidade e sobreviva ao movimento. Como afirmou Milton Santos “o estudo da totalidade conduz a uma escolha de categorias analíticas que devem refletir o movimento real da totalidade” (2007, p. 199). Portanto, a contribuição Miltoniana, para o método da geografia em tempos de globalização, impede que o geógrafo faça uma análise descompassada da realidade em meio à complexidade gerada em virtude da instantaneidade e movimento do meio técnico-científicoinformacional. Trata-se de um modelo eficaz para se detectar as principais contradições e poder atuar no sentido de transformar uma realidade posta. 48 6 NOTAS: Segundo Ruy Moreira (2007, p.27) a noção de historicidade, internalizada por Milton Santos no pensamento geográfico no fim da década de 1970 com o lançamento do livro Por uma Geografia Nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica, aparece como conceito fundamental na interpretação do espaço geográfico, pois, é a partir dele que se pode compreender que a sociedade é seu espaço geográfico e vice-versa, o que permite
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