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Curso Técnico em Agente Comunitário de Saúde Ministério da Educação Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Kérlia Nether Nassau KÉRLIA NETHER NASSAU PLANEJAMENTO EM SAÚDE COLETIVA E CONSTRUÇÃO DE REDES COMUNITÁRIAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE 1ª edição Montes Claros Instituto Federal do Norte de Minas Gerais 2015 Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 1Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 1 12/03/2015 09:24:5212/03/2015 09:24:52 Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 2Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 2 12/03/2015 09:25:0712/03/2015 09:25:07 PLANEJAMENTO EM SAÚDE COLETIVA E CONSTRUÇÃO DE REDES COMUNITÁRIAS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE Kérlia Nether Nassau Montes Claros-MG 2015 Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 3Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 3 12/03/2015 09:25:0712/03/2015 09:25:07 Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal do Norte de Minas Gerais Reitor Prof. José Ricardo Martins da Silva Pró-Reitora de Ensino Ana Alves Neta Pró-Reitor de Administração Edmilson Tadeu Cassani Pró-Reitor de Extensão Paulo César Pinheiro de Azevedo Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Rogério Mendes Murta Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Alisson Magalhães Castro Diretor de Educação a Distância Antônio Carlos Soares Martins Coordenadora de Ensino Ramony Maria da Silva Reis Oliveira Coordenador de Administração e Planejamento Alessandro Fonseca Câmara Revisão Editorial Antônio Carlos Soares Martins Ramony Maria Silva Reis Oliveira Rogeane Patrícia Camelo Gonzaga Amanda Seixas Murta Alessandro Fonseca Câmara Kátia Vanelli L. Guedes Oliveira Maircon Rasley Gonçalves Araújo Maykon Thiago Ramos Silva Coordenação Pedagógica Ramony Maria Silva Reis Oliveira Coordenação Adjunta - Cursos SAT Maircon Rasley Gonçalves Araújo Coordenação de Curso Maria Orminda Santos Oliveira Coordenação de Tutoria do Curso Técnico em Agente Comunitário de Saúde Carlos Eduardo Oliveira Revisão Linguística Liliane Pereira Barbosa Ana Márcia Ruas de Aquino Marli Silva Fróes Equipe Técnica Alexandre Henrique Alves Silva Cássia Adriana Matos Santos Dilson Mesquita Maia Eduardo Alves Araújo Maria Natália Cardoso Loiola Andrade Silma da Conceição Neves Solange Martins Brito Sônia Maria Gonçalves Coordenação de Produção de Material Karina Carvalho de Almeida Coordenação Gráfica e Visual Leonardo Paiva de Almeida Pacheco Projeto Gráfico, Capa e Iconografia Leonardo Paiva de Almeida Pacheco Editoração Eletrônica Karina Carvalho de Almeida Tatiane Fernandes Pinheiro Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 4Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 4 12/03/2015 09:25:0712/03/2015 09:25:07 ÍCONES INTERATIVOS Utilizado para sugerir leituras, bibliografias, sites e textos para aprofundar os temas discuti- dos; explicar conceitos e informações. Utilizado para auxiliar nos estudos; voltar em unidades ou cadernos já estudados; indicar si- tes interessantes para pesquisa; realizar expe- riências. Utilizado para indicar atividades que auxiliam a compreensão e a avaliação da aprendizagem dos conteúdos discutidos na unidade ou seções do caderno; informar o que deve ser feito com o resultado da atividade, como: enviar ao tutor, postar no fórum de discussão, etc.. Utilizado para defininir uma palavra ou expres- são do texto. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 5Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 5 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 6Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 6 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 SUMÁRIO Palavra do professor-autor 9 Aula 1 – Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB 11 1.1 Conceito e aplicabilidade: 12 1.2 Finalidade do SIAB 14 1.3 Fluxo 15 1.4 Preenchimento de formulários e análise dos dados 16 Aula 2 – Técnicas de Levantamento das Condições de Vida e de Saúde/ Doença da População 19 Aula 3 – Condições de risco social: violência, desemprego, infância desprotegida, processos migratórios, analfabetismo, nutrição, ausência ou insuficiência de infraestrutura básica. 25 3.1 Violência 30 3.2 Desemprego 33 3.3 Infância Desprotegida 36 3.4 Processos Migratórios 38 3.5 Analfabetismo 41 3.6 Nutrição 43 3.7 Ausência ou insuficiência de infraestrutura básica 46 Aula 4 – Mapeamento Sociopolítico e Ambiental: Finalidade e Técnicas 50 4.1 Finalidade desse mapeamento 51 4.2 Técnica para o mapeamento 53 Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 7Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 7 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 Aula 5 – Interpretação demográfica 56 Aula 6 – Conceito de territorialização, microárea e área de abrangência; cadastramento familiar e territorial 60 6.1 Territorialização, microárea e área de abrangência 60 6.2 Cadastramento familiar e territorial: 65 Aula 7 – Indicadores socioeconômicos, culturais e epidemiológicos 68 Aula 8 – Indicadores de saúde 75 Aula 9 – Estratégias de avaliação em saúde: conceitos, tipos, instrumentos e técnicas 85 Referências bibliográficas 93 Currículo do Professor-autor 97 Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 8Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 8 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 PALAVRA DO PROFESSOR-AUTOR Caro cursista, muito bem-vindo à disciplina Planejamento em Saúde Co- letiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde! Parabéns pela escolha do curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde! Saiba que você é um dos principais agentes para a melhoria da Saúde Pública em nosso país, pois você será a ponte que liga o usuário do SUS aos gestores, e será, através do seu trabalho, que os nossos governantes terão o conheci- mento das reais necessidades da comunidade como, também, as necessidades individuais de cada cidadão em que nela habita. A partir do seu trabalho, que essas pessoas terão acesso aos serviços de saúde. Em outras palavras, atrevo- me a dizer que você é um dos principais atores que atuará junto a uma comu- nidade, assistindo as suas necessidades e ao, mesmo tempo, incentivando-a a verbalizar os seus anseios. Nascimento e Correa (2008) confirmam essa afirmação quando dizem que “a função principal dos agentes comunitários de saúde foi pautada em dar voz à comunidade, sendo elo entre os trabalhadores das unidades básicas e a comunidade.” É nessa perspectiva de promoção da saúde, que este caderno foi elaborado a fim de articular trabalhadores, unida- des de saúde e comunidade. Um dos princípios da Atenção Primária à Saúde é a orientação comunitária. Segundo Starfield (2002), para operacionalizar esse princípio, e, com o intui- to de ajustar os programas de atenção à população, as equipes de saúde desen- volvem, de forma complementar, habilidades clínicas e epidemiológicas das ciências sociais e de pesquisas avaliativas. No Brasil, os Agentes Comunitá- rios de Saúde atuam diretamente na operacionalização desse princípio quan- do estabelecem e reforçam os vínculos entre as equipes e as comunidades da sua área de jurisdição. Embora haja clareza de que o conceito de atenção primária é mais amplo e adequado para abranger as ações desenvolvidas pelas equipes locais de saúde, em vários momentos, utilizaremos o termo atenção básica, especialmente, quando nos referimos a instrumentos do Ministério da Saúde – MS. Mas, como você poderá observar, a descrição dos tópicos da ementa desta disci- Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 9Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 9 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 plina condiz com os princípios desenvolvidos por Stafield (2002), quais se- jam: o primeiro contato, a longitudinalidade, a integralidade, a coordenação,a centralização na família e, como mencionamos anteriormente, a orientação comunitária. Retornando a questão da ementa, nesta disciplina vamos juntos conhecer e discutir sobre os seguintes tópicos: • Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB): conceito, finalidades, fluxo, preenchimento dos formulários e análise dos dados. • Técnicas de levantamento das condições de vida e de saúde/doença da população. • Condições de risco social: violência, desemprego, infância desprotegida, processos migratórios, analfabetismo, nutrição, ausência ou insuficiência de infra-estrutura básica. • Mapeamento sócio-político e ambiental: finalidades e técnicas. • Interpretação demográfica. • Conceito de territorialização, micro-área e área de abrangência; cadastra- mento familiar e territorial. • Indicadores sócio-econômicos, culturais e epidemiológicos. • Indicadores de saúde. • Estratégias de avaliação em saúde: conceitos, tipos, instrumentos e técnicas. No desenvolvimento desses tópicos, aprenderemos sobre algumas ferramen- tas úteis à prática do seu trabalho. Tenho a pretensão de aprimorar nosso conhecimento a favor de uma saúde pública de qualidade. Estarei ao seu inteiro dispor para qualquer questionamento, tendo o enorme prazer em buscar, junto com você, a resolução das dúvidas que surgirem, através da nossa sala virtual. Abraço fraterno, A autora. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 10Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 10 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 11 e-Tec Brasil Aula 1 – Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB Figura 1- Alusão ao trabalho do Agente Comunitário de Saúde Fonte: http://www.cmsnicolaalbano.blogspot.com > acesso em 25 de outubro de 2014. Figura 2: Parceria entre as equipes e as famílias. Fonte: http://reginaldotracaja.blogspot.com.br/2011/01/agentes-comunitarios-de-saude-recebem.html > acesso em 23 de outubro de 2014. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 11Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 11 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 12 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde 1.1 Conceito e aplicabilidade: Iniciaremos refletindo, primeiramente, sobre o que é um sistema de informa- ções, para posteriormente discutirmos o SIAB. A informação é o produto obtido a partir de determinada com- binação e interpretação de dados. Possibilita o conhecimento, a avaliação e o juízo sobre determinada situação. É um importante recurso para subsidiar o processo de tomada de decisão, de pla- nejamento, de execução e de avaliação das ações desencadea- das. (FERREIRA, 2001. p. 174). Atualmente, vivemos na “era da informação”. Os meios de comunicação cada vez mais se tornam ágeis e modernos. Nas últimas décadas, a tecnologia deu um passo muito grande, pois aproximou nações e encurtou a distância para a comunicação. Nessa “nova era tecnológica”, temos a possibilidade de tra- balhar com ferramentas que auxiliam a construção de conhecimento e o bom andamento dos serviços, como ocorre com os sistemas de informações. A implementação de um Sistema de Informação significa uma mudança, muitas vezes profunda, na organização, que deve ser planejada e preparada para que se garanta seu sucesso... Na Era da Informação, o enfoque passou a ser a vantagem competitiva; as competências principais são, no negócio, aspectos gerenciais e estratégias de Tecnologia de Informação... (Albertin, 1996). Os sistemas de informações são importantes instrumentos para o gerencia- mento dos serviços. Eles possibilitam o armazenamento de dados que serão úteis, dando suporte e fortalecendo a tomada de decisões ou até mesmo para de- monstrar transparência em relação à prestação de serviços para uma sociedade. O processo de gestão no setor saúde demanda a produção de informações que possam apoiar um contínuo (re)conhecer, de- cidir, agir, avaliar e novamente decidir. Portanto, o processo de produção de informações, além de contínuo, também precisa ser sensível o bastante para captar as transformações de uma situa- ção de saúde. (FERREIRA, 2001. p. 176). Em 1998, o Sistema de Informação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde – SIPACS foi substituído pelo Sistema de Informação da Atenção Pri- mária – SIAB, com o intuito de acompanhar ações e resultados das Equipes da Atenção Básica – EAB, tornando um instrumento de grande importância para toda população, pois através dele é que teremos condições de avaliar, conhecer, inserir e expor dados relevantes à melhoria da saúde pública. Atra- vés desse sistema de informações, você terá condições de registrar todas as implicações que mais comprometem a saúde da comunidade em que atua. O Ministério da Saúde (2012) define assim o SIAB: Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 12Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 12 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 13 e-Tec Brasil Sistema de Informação Atenção Básica é um sistema (softwa- re), desenvolvido pelo DATASUS em 1998, cujo objetivo cen- tra-se em agregar, armazenar e processar as informações relacio- nadas à Atenção Básica (AB) usando como estratégia central a Estratégia de Saúde da Família (ESF). (http://dab.saude.gov.br/ portaldab/siab.php> acesso em setembro de 2014). O Ministério da Saúde – MS desenvolveu outros tipos de sistemas de in- formação, vale a pena conhecê-los, uma vez que muitas informações estão apresentadas por municípios e, certamente, irão ajudá-lo a conhecer melhor a vida e saúde da população do lugar em que você vive e atua. Convido você a visitar o site http://datasus.saude.gov.br/sistemas-e-aplicativos para conhecer outros tipos de sistemas de informações e aplicativos da saúde. Segue quadro esquemático com alguns sistemas utilizados na saúde pública, neles são apresentados as siglas, os indicadores e os órgãos que os regem. QUADRO 1 – SISTEMAS DE INFORMAÇÕES NACIONAL SIGLAS SISTEMAS INDICA- DORES ORGÃO SIM Sistema de Informações de Morta- lidade Informa- ções rela- cionadas ao perfil epidemio- lógico Centro Nacional de Epidemiolo- gia - CENEPI SINAN Sistema de Informações de Agra- vos notificáveis SINASC Sistema de Informações de Nasci- dos Vivos SAI – SUS Sistemas de Informações Ambula- toriais do SUS Sistemas relacio- nados à assistência e a admi- nistração DATASUS SIH – SUS Sistema de Informações Hospitala- res do SUS SIAB Sistema de Informações da Aten- ção Básica SI – PNI Sistema de Informações do Progra- ma Nacional de Imunização SISVAN Sistema de Informação da Vigilân- cia Alimentar e Nutricional SICLOM Sistema de Controle Logístico de Medicamentos Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 13Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 13 12/03/2015 09:25:0812/03/2015 09:25:08 14 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde SIGAB Sistema de Gerenciamento de Uni- dade Ambulatorial Básica Sistemas gerenciais DATASUS HOSPUB Sistema Integrado de Informatiza- ção de Ambiente Hospitalar CENSO Levantamento decenal de dados populacionais e indicadores sociais Instituto Brasileiro de Geogra- fia e Estatís- tica – IBGE Fonte: FERREIRA, 2001. p. 184. 1.2 Finalidade do SIAB Numa visão geral, é, através desse sistema, que o Ministério da Saúde – MS organiza suas intervenções para ações na Atenção Básica, a nível nacional. Segundo BRANCO (2001), “é fundamental a existência de sistemas de in- formação de concepção federal para o adequado acompanhamento, controle, avaliação e produção de conhecimento em nível nacional.” Numa perspectiva regional, o SIAB torna-se instrumento igualmente de gran- de relevância para o levantamento local, a situação da saúde, social e sanitária de uma comunidade, pois nele irá conter informações detalhadas que auxilia- rão as estratégias para intervenção e criação de metas das Equipes de Atenção Básica – EAB acerca das condições relacionadas à prevenção,promoção e recuperação da saúde, bem como para a avaliação das equipes e dos gestores sobre as ações realizadas. A seguir, um esquema do ciclo das informações coletadas para o desenvolvimento do trabalho a nível local. Figura 3: Ciclo das informações a nível local Fonte: acervo pessoal. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 14Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 14 12/03/2015 09:25:0912/03/2015 09:25:09 15 e-Tec Brasil Esse esquema demonstra o fluxo para a sistematização dos dados. Aponta para um movimento contínuo no qual o sistema de informação local deverá ser alimentado, continuamente, com dados acerca das condições de vida da população. A partir desses dados, os indicadores que surgirem é que irão nor- tear as ações que deverão ser discutidas e planejadas pela equipe de saúde, na tentativa de alcançar os resultados esperados. Tal instrumento é útil para que a EAB, composta por multiprofissionais, tenha acesso à realidade do território em que atua, como as condições de saúde, moradia e saneamento de cada família, para, posteriormente, formular meca- nismos de sanar as necessidades e acompanhar o desempenho dessa equipe. O SIAB tem com principal função tornar público a real situação de cada mu- nicípio frente à atenção básica para a elaboração de estratégias e ações. 1.3 Fluxo As informações são coletadas pelos profissionais através de fichas específi- cas, as quais darão origem a dados que serão consolidados ainda nas equi- pes, para, posteriormente, serem lançados e encaminhados à Coordenação da Atenção Primária do município, esta repassará às Superintendências Re- gionais de Saúde, as quais enviarão às Secretárias Estaduais de Saúde onde todos os dados serão encaminhados ao Ministério da Saúde / Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS. Os dados deverão ser encaminhados mensalmente. A ausência ou o não re- passe dos mesmos, seguindo o fluxo citado, por dois meses consecutivos ou três meses alternados, acarretará na suspensão do cadastro do programa da equipe, logo, também serão suspensos os recursos financeiros, isso se aplica também para outros sistemas de informação relacionados à assistência, admi- nistração e ao perfil epidemiológico que são alimentados a partir das equipes de saúde dos municípios. Como mencionamos no início do nosso trabalho, os ACS ocupam lugar de destaque dentro do SUS. O início do processo de coleta de dados está a cargo desses profissionais. Analise o esquema demonstrativo do fluxo de informa- ções que segue: Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 15Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 15 12/03/2015 09:25:0912/03/2015 09:25:09 16 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Figura 4: Esquema do fluxo Fonte: acervo pessoal. 1.4 Preenchimento de formulários e análise dos dados Todo o fluxo das informações coletadas terão origem no preenchimento de fichas específicas, o que será realizado por profissionais como os Agente Co- munitário de Saúde – ACS. Esses profissionais farão o levantamento de todas as famílias que moram em sua área de atuação. Mensalmente, os agentes deverão visitar essas famílias para que todas as informações sejam frequen- temente atualizadas. Tais fichas são organizadas da seguinte forma: • Ficha para cadastramento das famílias (Ficha A). • Ficha para acompanhamento (Fichas B). • Ficha de gestantes (Ficha B-GES). • Ficha de hipertensos (Ficha B-HA). • Ficha de diabéticos (Ficha B-DIA). • Ficha de pessoas com tuberculose (Ficha B-TB). • Ficha de pessoas com hanseníase (Ficha B-HAN). • Ficha para acompanhamento da criança – Ficha C (Cartão da Criança). • Ficha para registro de atividades, procedimentos e notificações (Ficha D). Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 16Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 16 12/03/2015 09:25:0912/03/2015 09:25:09 17 e-Tec Brasil Após os ACS coletarem as informações utilizando as fichas específicas acima citadas, os dados coletados serão consolidados pelas equipes e inseridos no Cadastramento das Famílias (Fichas A), nos Relatórios de Situação de Saúde e Acompanhamento das Famílias (SSA) e nos Relatórios de Produção e Mar- cadores para Avaliação (PMA). Após essa consolidação é que as informações serão lançadas no SIAB seguindo o fluxo descrito anteriormente. Você pode ver os modelos dessas fichas acessando a página http://www. planilhasprontas.com/planilhas-saude/ Acesso em 19/01/2015. Resumo Nessa aula, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o Sis- tema de Informações da Atenção Básica – SIAB, refletindo sobre: • Conceito de sistemas de informações, a criação do SIAB e os outros sis- temas de informações da saúde. • Sua finalidade, ou seja, para que são utilizados e a forma em que auxilia na saúde pública. • Sobre o fluxo a ser seguido, desde a coleta dos dados até o lançamento no DATA-SUS. • O preenchimento e análise dos dados coletados e lançados no banco de informações do DATA-SUS. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 17Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 17 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 18 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Vamos reforçar o nosso conhecimento? Com base no que foi discutido nesta aula, reflita sobre a importância dos sistemas de informação de saúde e res- ponda às questões a seguir: 1. Para que servem os sistemas de informação? 2. Como funciona o fluxo do SIAB? 3. Como se dá a coleta e a análise dos dado que irão alimentar o SIAB? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 18Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 18 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 19 e-Tec Brasil Aula 2 – Técnicas de Levantamento das Condições de Vida e de Saúde/Doença da PopulaçãoFigura 5: Coleta de dados individual Fonte: www.sumare.sp.gov.br > acesso em 25 de outubro de 2014. Figura 6: Alusão coleta de dados coletiva Fonte: www.noticiasdeitauna.com.br >acesso 25 de outubro de 2014. Antes de falarmos sobre uma das etapas do trabalho do agente, o qual é fun- damental para a melhoria das condições de vida das pessoas e para registro e comunicação dos dados às autoridades competentes através do SIAB, con- sideramos importante abordar a composição da equipe de saúde. Como já afirmamos, o trabalho na atenção primária é um trabalho coletivo, no qual todos os membros da equipe de saúde são extremamente importante para o êxito do trabalho. Sabe-se que a Atenção Básica ou Primária tem condições de resolver 85% dos problemas de saúde. Isso se a equipe funcionar efetiva- mente com a atuação de todos os atores envolvidos nas ações educativas e preventivas de forma contínua. Se as metas elaboradas forem alcançadas, os demais níveis de atenção (média e alta complexidade) reduzirão a demanda financeira e assistencial, melhorando a qualidade de vida e do atendimento, como afirma Belisário: Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 19Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 19 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 20 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Sabe-se hoje que as ações educativas e de prevenção, aliadas aos atendimentos mais freqüentes, considerados ações da aten- ção básica ampliada, resolvem 85% dos problemas de saúde da população. Isso significa que o investimento na atenção básica previne o adoecimento ou o agravamento das doenças. Assim, a qualidade de vida da população melhora e tendem a diminuir os gastos com procedimentos de média e alta complexidade. Como conseqüência deste processo, evidenciam-se: redução dos índi- ces de mortalidade infantil, diminuição do número de mortes por doenças de cura simples e conhecida, bem como diminuição das filas nos hospitais das redes públicas e conveniadas com o SUS. (BELISÁRIO, 2001. p. 194). Ainda, segundo Belisário (2001), cada equipe deve atender uma área com, no máximo, 4.500 habitantes, sendo que cada ACS deverá ser responsável por aproximadamente 575 pessoas. As EAB são compostas normalmente por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (4 a 6 profissionais), toda a equipe precisa conhecer a situação de todo território de abrangência, para isso, é necessário o levantamento de in- formações que identifiquem problemas reais que afligem as famílias da área correspondente, para a tomada de decisões que possam sanar as mesmas. Para que haja o sucesso das ações, todas as informações deverão ser ponderadas, identificando e analisando soluções para os problemas. Dessa forma, nenhum elemento será subestimado ou omitido. Belisário (2001) estabelece ainda, critérios para o recrutamento de agentes comunitário de saúde, conforme descrito na citação a seguir: Os agentes comunitários são moradores da própria área de atu- ação. Eles recebem treinamento e são supervisionados por um instrutor/supervisor. A visita domiciliar é seu principal instru- mento de trabalho. Cada agente vai pelo menos uma vez por mês a cada casa localizada em sua área de atuação. Eles fazem a ligação entre as famílias e o serviço de saúde... (BELISÁRIO, 2001. p. 194.) Esse critério é muito importante, pois estar junto da população, morando no mesmo território, possibilita ao ACS a aquisição de uma proximidade com os moradores, gerando vínculo mais amistoso e uma relação de confiança, favo- recendo na atuação desse profissional, uma vez que terá as portas dos lares abertas para conhecer a situação e condições em que vivem as famílias, pro- movendo o acesso destas aos serviços que irão atender às suas necessidades. Belisário pontua também a importância de ser morador no mesmo território, pois auxilia na logística das visitas, uma vez que esse procedimento deve ser feito ao menos uma vez por mês. O MS (Brasil, 1997) define, através da portaria nº 1.886 de dezembro de 1997, os requisitos para atuar como ACS, conforme descreve-se a seguir: Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 20Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 20 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 21 e-Tec Brasil São considerados requisitos para o ACS: ser morador da área onde exercerá suas atividades há pelo menos dois anos, saber ler e escrever, ser maior de dezoito anos e ter disponibilidade de tempo integral para exercer suas atividades. O Agente Comu- nitário de Saúde deve desenvolver atividades de prevenção das doenças e promoção da saúde, através de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas, nos domicílios e na Comunidade, sob supervisão e acompanhamento do enfermeiro Instrutor-Supervisor lotado na unidade básica de saúde da sua referência. (BRASIL, 1997). Figura 7: Equipe da Atenção Básica Fonte: http://atencaobasica.org.br/relato/6583 > acesso em 25 de outubro de 2014 O trabalho de campo, na coleta das informações, será realizado mensalmente pelos agentes comunitários de saúde. É muito importante que esses profis- sionais criem vínculo amistoso com as famílias, para que conheçam mais de perto a realidade e as necessidades de todos, assim como as condições sócio- sanitárias do território onde atua. Através desse trabalho, é que os gestores terão oportunidade de conhecer a situação dos indivíduos, elaborando, formu- lando e implementando ações para responder às necessidades. É importante enfatizarmos a forma de abordagem da comunidade. O respeito e a ética devem ser princípios adotados por todos os profissionais que atuam nas equipes de saúde, a começar pelos agentes, os quais farão o primeiro contato com a população e terão, frequentemente, que visitar essas famílias entrando em suas casas, em suas intimidades. A ausência da postura adequada pode dificultar todo o trabalho, se o indivíduo tiver seus problemas expostos publicamente, o mesmo poderá se sentir humilhado, desamparado, compro- metendo ainda mais as questões que o aflige. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 21Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 21 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 22 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Para obtenção de um diagnóstico local, os profissionais envolvidos deverão realizar, segundo Belisário (2001, cap.7. p. 194-195), ações que colaborem para as condições de vida da população – “cadastramento, mapeamento, iden- tificar as micro-áreas de risco e realizar ações coletivas” que envolvam toda a comunidade. Vejamos separadamente cada um desses aspectos. • Cadastramento – é realizado segundo o fluxo estudado na aula anterior. Primeiramente, são preenchidas as fichas com os dados referentes a cada indivíduo de uma família e a situação de saúde de cada um, bem como as condições de moradia, educação, sanitária, segurança, etc. Posteriormente, esses dados serão consolidados e lançados no SIAB. O cadastramento é um aspecto muito importante, pois é nesse momento que os profissionais de saúde terão acesso à quantidade de moradores, condições em que vi- vem e suas reais necessidades. Voltar ao fluxo de dados da aula 1, item 1.3 • Mapeamento – nessa etapa, há a importância de identificar os pontos mais fortes e os mais fracos do território, como pontos de referências positi- vas e negativas. Quando falamos em pontos fortes e fracos, referimos, de forma mais ampla, às questões como, por exemplo, ausência ou insu- ficiência de saneamento (ponto fraco) ou algum projeto social voltado à ocupação dos adolescentes (ponto forte). Fazemos referência a serviços que ainda não foram implantados ou que são precários, numa perspectiva de ponto fraco; ou aqueles que surtem bons resultados e que funcionam com efetividade, como ponto forte em uma comunidade. Jáos pontos de referência, são aqueles os quais todos ou quase todos os habitantes de um território têm o conhecimento e usa como referencial igrejas, escolas, farmácias numa percepção positiva e, matagal, ausência de iluminação pública em algum ponto da região, presídios, ponto de venda de drogas, entre outros pontos que possam gerar algum dano ou risco à população daquela comunidade, como sendo pontos de referências negativas. A se- guir, descreveremos uma ação de igual relevância que pode auxiliar na identificação desses pontos. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 22Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 22 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 23 e-Tec Brasil Figura 8: Mapa com micro áreas de saúde Fonte: http://www.serafinacorrea.rs.gov.br > acesso em 25 de outubro de 2014. • Identificação das micro áreas de risco – deverão ser levantadas/mapeadas e registradas todas as áreas que coloquem em risco a saúde e segurança da população, como matagal, ausência de tratamento de esgoto, de coleta de lixo e de asfalto, pontos mais violentos, etc. Essas micro áreas serão levantadas a partir dos indicadores, os quais estudaremos mais adiante. • Ações coletivas – nessa etapa os agentes promoverão reuniões com a co- munidade, com as associações, com os grupos das igrejas ou com outros grupos que primem valores ou necessitem de acompanhamento mais de perto como as gestantes, portadores de doenças crônicas, adolescentes, crianças, idosos, pais e mães. Podendo utilizar até mesmo dos pontos de referências positivas, as edificações públicas como escolas e igrejas, no horário de funcionamento, podem favorecer às mobilizações. A promoção dessas reuniões é uma forma de agregar a comunidade e todas as famílias que serão envolvidas, pois serão convidadas a estarem discutindo a rea- lidade de seu território, formas de recuperar e prevenir agravos na saúde, elaborando ações que visem sanar as prioridades. Essas ações realizadas pelos agentes comunitários de saúde aproximam o usuário do sistema. Entretanto, cada profissional que compõe a equipe de- sempenha funções de igual relevância, pois visam bons resultados como res- posta ao trabalho para melhoria da saúde individual e coletiva de todos que habitam no território onde atuam. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 23Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 23 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 24 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Resumo Tivemos a oportunidade de aprendermos um pouco mais sobre as Equipes de Saúde Básica abordando assuntos acerca: • Da composição das equipes de saúde, bem como o papel do Agente Co- munitário de Saúde – ACS e sua importância. • Da resolubilidade das EAB quando o seu trabalho é efetivo e contínuo. • Dos critérios para se tornar um Agente Comunitário de Saúde. • De algumas técnicas que auxiliam em nosso trabalho como: cadastramen- to, mapeamento, identificação das microáreas de risco a ações coletivas. Com base no que estudamos, responda: 1. Descreva como deve ser composta uma EAB. 2. Quais os requisitos para ser Agente Comunitário de Saúde? 3. Como é a atuação dos ACS? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 24Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 24 12/03/2015 09:25:1012/03/2015 09:25:10 25 e-Tec Brasil Aula 3 – Condições de risco social: violência, desemprego, infância desprotegida, processos migratórios, analfabetismo, nutrição, ausência ou insuficiência de infraestrutura básica. Observe o conteúdo ou temas que está compondo o que chamamos de risco social. Reflita sobre o porquê de essas questões serem consideradas como sendo de risco social. Nem sempre foi assim, ou seja, nem sempre o conceito de saúde foi tão abrangente. Por isso, faremos um breve retorno à história para citarmos momentos que serviram de marco para o novo conceito de saú- de. A preocupação com os níveis de saúde da população passou a ser uma questão de interesse mundial. Para entendermos a introdução desses temas, torna-se fundamental acompanhar os movimentos e as discussões a cerca das condições de vida dos seres humanos em todo o mundo. Após a segunda guerra mundial, surgiram, por todo o planeta, problemas so- ciais que afetavam diretamente a saúde dos seres humanos. Diante desse qua- dro, essas questões passaram a ser amplamente discutidas pelas organizações não governamentais – ONG’s e governantes de vários países, levando-os a se unirem na tentativa de minimizar esses problemas, surgindo, assim, a neces- sidade de organizarem conferências para tais discussões. A Organização Mundial de Saúde – OMS declarou, no final da década de 1940, que saúde é um estado completo de bem estar físico, mental e social e não a mera ausência de doença ou enfermidade, como afirmam BUSS e FI- LHO (2007) na citação a seguir: A definição de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade, inserida na Constituição da OMS no momento de sua fundação, em 1948, é uma clara expressão de uma concep- ção bastante ampla da saúde, para além de um enfoque centrado na doença. (BUSS e FILHO, 2007). Em 1978, a OMS e Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância – UNICEF organizaram a 1ª Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários à Saúde, no Cazaquistão, na cidade de Alma – Ata. Nessa conferência, foi elaborado um documento que reafirma a saúde como direito de todos, e a saúde é uma das metas mais importantes para a melhoria social no mundo. Esse documento foi denominado como Declaração de Alma – Ata e propõe a diminuição da desigualdade social e o fortalecimento da Atenção Básica. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 25Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 25 12/03/2015 09:25:1112/03/2015 09:25:11 26 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde • UNICEF: “O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) foi criado em 11 de dezembro de 1946, pela Organização das Nações Unidas (ONU), para atender, na Europa e na China, às necessidades emergenciais das crianças durante o período pós-guerra.”. (Site oficial da UNICEF Bra- sil). • ONU: “Criada em 16 de outubro de 1945, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) lidera os esforços interna- cionais de erradicação da fome e da insegurança alimentar.” (Site oficial ONU Brasil). • OMS: A Organização Mundial de Saúde foi criada depois da segunda guerra mundial e é representada no Brasil pela Organização Pan-Ameri- cana de Saúde – OPAS. Visite os sites http://www.unicef.org/brazil/pt/faq.html, http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/fao/, http://www.paho.org/bra/ Em novembro de 1986, ocorreu a I Conferência Internacional sobre Promo- ção da Saúde, na cidade de Ottawa, no Canadá, teve a participação de cerca de 40 países, principalmente os mais industrializados. Nessa conferência, foi produzida a Carta de Ottawa (WHO, 1986), a qual passou a ser referência para a organização dos serviços de saúde através da redefinição dos concei- tos, princípios e formas de promoção de saúde, distribuindo, de forma inter- setorial, a responsabilidade pelas ações que dariam origem a essa nova defini- ção de saúde. Tendo como pontos imprescindíveis: paz, educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Logo após a Conferência em Ottawa, no ano de 1988, surge o Sistema Único de Saúde – SUS no Brasil, através da nova Constituição Federal. A seguir, um BOX com parte dessa constituição, trazendo algumas definições e deveres do SUS, como as prioridades, responsabilidades financeiras e papel a inserção do ACS. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 26Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 26 12/03/2015 09:25:1112/03/2015 09:25:11 27 e-Tec Brasil BOX 1 Seção II – Da Saúde Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fisca- lização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regiona- lizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acor- do com as seguintes diretrizes: (EC no 29/2000, EC no 51/2006 e EC no 63/2010) I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade. § 1o O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recur- sos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. § 2o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3o; II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recur- sos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea “a”, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, in- ciso I, alínea “b” e § 3o. § ۳o Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: I – os percentuais de que trata o § ۲o; II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; IV – as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. § ٤o Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 27Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 27 12/03/2015 09:25:1112/03/2015 09:25:11 28 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. § ٥o Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial. § 6o Além das hi- póteses previstas no § 1o do art. 41 e no § 4o do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes as de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. § 1o As institui- ções privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou con- vênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. § 2o É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. § 3o É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. § 4o A lei disporá sobre as condi- ções e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: I – controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imu- nobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador; III – ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; IV – participar da formulação da política e da execução das ações de sanea- mento básico; V – incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tec- nológico; VI – fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 28Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 28 12/03/2015 09:25:1112/03/2015 09:25:11 29 e-Tec Brasil VII – participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil, 35ª edição http://bd.camara.gov.br > acesso em 03 de outu- bro de 2014. Para entendermos melhor como se aplica os conceitos, princípios e formas de promoção em saúde citados acima, primeiramente, entenderemos a diferença entre risco e dano. Risco, por exemplo, seria, uma criança brincando próxima a uma tomada da rede elétrica, já o dano seria se ela enfiasse algum objeto ou até mesmo o seu próprio dedo nesse orifício, ou seja, o dano seria a criança ferida e/ou a perda do objeto. Na saúde pública, funciona da mesma forma, pois temos que identificar e avaliar todos os riscos e danos que poderão haver ou que já existem na comunidade nos diferentes setores, notificá-los, para, posteriormente, fazer uma reflexão junto à equipe, com intuito de promover ações que minimizem os danos. É amplamente discutido que o fatorsocioeconômico exerce influência direta sobre o indivíduo. Qual a sua avaliação sobre esta afirmação? Em que esse fator afeta a saúde das pessoas? Pare e reflita. Podemos fazer uma discussão sobre essa questão na sala virtual. Na literatura, encontramos a informação de que a escassez de recurso finan- ceiro resulta na ausência de elementos primordiais para a saúde do ser huma- no. Segundo Helman (2003, p. 14), “a pobreza pode resultar em má nutrição, habitações superlotadas, roupas inadequadas, violência física e psicológica, estresse psicológico e abuso de drogas e de álcool.” Figura 9: Precariedade e superlotação habitacional Fonte: http://www.umirimnoticias.com/2011/07/quatro-municipios-recebem-r-147-milhao.html > acesso em 25 de outubro de 2014. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 29Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 29 12/03/2015 09:25:1112/03/2015 09:25:11 30 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Com a definição da OMS, em 1948, que citamos no início da nossa discussão, podemos concluir que cada indivíduo tem o direito a uma vida digna e com qualidade, e nossa obrigação quanto profissionais de saúde é tentar minimizar ao máximo todos os riscos que ameaçam a saúde e bem estar da população em nossa área de atuação. Figura 10: Fatores de Risco e Danos Fonte: acervo pessoal. Esse esquema representa alguns fatores que podem gerar danos a nossa saú- de, sejam eles de causas externas como a condição social em que vive o cida- dão ou intrínsecas do próprio indivíduo, como as doenças desenvolvidas pelo fator genético. 3.1 Violência A violência tem sido tema em muitas discussões e vista como um problema de saúde pública a nível mundial, não que seja responsabilidade apenas do setor de saúde, mas sim por afetar diretamente a mesma, além disso, apresenta alto índice que resulta em danos físicos e/ou psicológicos, os quais demandam Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 30Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 30 12/03/2015 09:25:1112/03/2015 09:25:11 31 e-Tec Brasil tratamento e acompanhamento das vítimas. Segundo Agudelo (1990), “a vio- lência representa um risco maior para realização do processo vital humano: ameaça a vida, altera a saúde, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como possibilidade próxima.” Devemos tratá-la como problema epidemiológico, entretanto, não se enqua- dra nos métodos tradicionais de combate as demais endemias. A violência é um problema complexo que deve ter a participação dos atores específicos, como representantes da segurança pública, da saúde, programas sociais, entre outros para elaboração de ações que visam à redução da mesma e do impacto que ela gera, para posteriormente serem colocadas em prática pelos represen- tantes inseridos nas três esferas de governo – Federal, Estadual e Municipal. A Violência permeia a vida de muitas pessoas por todo o mundo, e toca a todos nós de algum modo. Para muitos, permanecer lon- ge desse problema é só uma questão de trancar portas e janelas e evitar locais perigosos. Para outros, escapar não é possível. A ameaça da violência está atrás dessas portas – bem escondida da visão pública. E para aqueles que vivem em meio a situações de guerra ou conflito, a violência permeia cada aspecto das suas vidas. (BRUNDTLAND – OMS, 2002). Pesquisas revelam que a expectativa de vida do brasileiro tem aumentado nas últimas décadas, entretanto, proporcionalmente, vem aumentando o índice de mortes entre indivíduos mais jovens, e a maioria das causas são externas como acidente de trânsito e homicídios, ou seja, causas violentas. Atualmente há um turbilhão de propagandas veiculadas pela mídia nas quais pessoas bonitas, saudáveis se vestem, comem e vivem bem. Tais propagandas bombardeiam a imaginação nutrindo desejos, entretanto, ao desligar a tv, o in- divíduo volta à sua realidade deparando com o oposto e, a partir disso, surgem as frustrações. A desigualdade social e financeira gera questionamentos que podem levar a rebeldia, a ausência de acesso à boa educação, a alimentação, a segurança, entre outros fatores necessários à qualidade de vida e que acarreta a ausência de saúde física e/ou psicológica. Em alguns casos, o cidadão parte em busca da aquisição desses elementos que irão satisfazer as suas necessida- des, da forma que julgar ser a mais fácil e acessível, passando a se envolver com o tráfico de drogas, assaltos, roubos, entre outros crimes. Em outros ca- sos, torna-se vítima desses abusos ou adoece pela precariedade em que vive elevando o índice de morbidade e mortalidade. Na aula anterior, abordamos a importância dos ACS para as comunidades onde atuam. Através das visitas constantes e a proximidade, os agentes pas- sam a fazer parte do cotidiano íntimo das famílias, tornam-se cúmplices da realidade em que vive cada indivíduo. Outro fator que favorece essa aproxi- mação é o fato de compartilharem o mesmo espaço geossocial. Fonseca et al. vem reforçar o importante papel dos ACS junto às famílias: Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 31Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 31 12/03/2015 09:25:1112/03/2015 09:25:11 32 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde [...] dá-se maior visibilidade ao papel do agente comunitário de saúde (ACS), já que ele é o elo entre o serviço de saúde e a comunidade. Habitando o mesmo território, tem, inclusive, con- dições de avaliar a dinâmica da família e, muitas vezes, identi- ficar situações de risco ou de violência consumada, pela própria observação ou pelo vínculo que estabelecem com a clientela. O que ocorre, na maior parte dos casos, é que as mulheres acabam por relatar aos ACSs fatos que não relatariam a outros profissio- nais, tornando-os possíveis atores capazes então de prevenir ou intervir nessas situações. (FONSECA et al. 2009). Logo, essa aproximação dos agentes, bem como dos demais profissionais que atuam na equipe de saúde, possibilita identificar os casos de violência e bus- car soluções para os mesmos com intuito de preservar a integridade individu- al e coletiva. Figura 11: Violência contra a mulher na visão de um filho Fonte: http://www.pastoraldamulherbh.blogspot.com > acesso em 24 de outubro de 2014. Este desenho retrata a realidade vivida na família da criança que o fez. Ana- lisem a expressão no rosto do autor e sua mãe. Faça uma reflexão em relação a esta imagem e discuta com os seus colegas em um fórum sobre a violência na sala virtual, a sua visão diante deste quadro. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 32Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 32 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 33 e-Tec Brasil Leia o artigo: A Violência Social sob a Perspectiva da Saúde Pública (MI- NAYO, M. C. S. Violência Social sob a Perspectiva da Saúde Pública. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (supl. 1): 07-18, 1994). Figura 12: Por um mundo sem violência Fonte:http://www.humorxxl.com/pt/content/imagens-divertidas-por-um-mundo-sem-violencia--rd4rjhdk91g > acesso em 29 de setembro de 2014. 3.2 Desemprego A saúde pública está intrinsecamente vinculada à questão socioeconômica. Estudos apontam a degradação da saúde do indivíduo, frente à ausência de emprego. [...] a saúde é influenciada pela posição socioeconômica e esta relação se opera por diversos caminhos, seja por meio de com- portamentos, efeitos biológicos, fatores psicossociais, seja por recursos diferenciais para tratamento, prevenção e promoção da saúde. O desemprego, o trabalho informal e, sobretudo, a ex- clusão do mercado de trabalho estiveram associados a uma pior condição de saúde entre adultos brasileiros. (GIATTI. L. e BAR- RETO S. M. 2006). A globalização foi vista no passado, como grande passo favorável ao capita- lismo mundial, com ótimas perspectivas no desenvolvimento da humanidade. Entretanto, essa visãootimista vem se dissolvendo nas últimas décadas, pois a realidade no mundo hoje é bem diferente do esperado. Como afirmam Kato e Ponchirolli: Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 33Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 33 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 34 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde O atual debate social apresenta geralmente o desemprego como o resultado de três fatores emergentes: a mundialização dos mer- cados, que provoca uma reestruturação da produção, a introdu- ção de uma tecnologia que utiliza cada vez menos mão-de-obra e o fim de uma era de crescimento econômico sustentado, que garantia o pleno emprego. (KATO e PONCHIROLLI, 2002). Não podemos afirmar que a globalização seja de fato uma mudança ruim, pois, através dela, as fronteiras foram encurtadas. Hoje temos acesso a uma variedade de produtos enquanto algumas décadas atrás era restrito e de difícil acesso. O ponto em que abordamos está diretamente ligado, pois, se junto com toda essa facilidade do acesso veio a concorrência, com a concorrência, as empresas tiveram que aumentar a produtividade, acompanhando os avan- ços tecnológicos, as máquinas tomaram o espaço dos homens, elevando o índice do desemprego e, consequentemente, os problemas sociais. Nesse contexto, observamos o aumento da desigualdade social, a miséria, os salários baixos, a falta de empregos por todo o planeta, os países mais pobres sofrem de forma severa e os emergentes não saem ilesos, claro, em menores proporções, também sofrem com a crise mundial. Como reforça Frigotto na citação a seguir: O ideário da globalização, em sua aparente neutralidade, cumpre um papel ideológico de encobrir os processos de dominação e desregulamentação do capital e, como consequência, a extraor- dinária ampliação do desemprego estrutural, trabalho precário e aumento da exclusão social. (FRIGOTTO, 2005). Figura 13: Globalização e efeitos adversos Fonte: http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2013/01/globalizacao-e-efeitos-adversos.html > acesso em 23 de outubro de 2014 Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 34Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 34 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 35 e-Tec Brasil No Brasil, o mercado de trabalho é monitorado pelo IBGE e pelo Departa- mento Intersindical de Estudos Estatísticos e Sócio-Econômicos – DIEESE. Através desses órgãos é que temos acesso a real situação do desemprego no país. O IBGE determina o número de desempregados, todos os indivíduos acima de 16 anos entrevistados na semana da coleta dos dados que estavam procurando emprego no mercado de trabalho. Já o DIEEDE possui uma forma mais ampla em sua estatística, além dos desempregados, fazem parte pessoas que trabalham informalmente ou de forma precária. O aumento dos trabalhos informais desvaloriza o trabalhador, além de deixá-lo desprotegido sem os seus direitos assegurados. Acesse o link a seguir para aprofundar um pouco mais o seu conhecimento em relação aos critérios de avaliação do IBGE acerca desse tema: ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Comen- tarios/pnadc_2014_01_trimestre_comentarios.pdf. Acesso em 20/01/15 Diante do desemprego, alguns setores tendem a sofrer maior deterioração como o meio ambiente, educação, saúde e trabalho, sendo que este tem suas consequências mais evidentes. Há uma interligação entre eles, quando um dos setores não vai bem, os outros tendem a apresentar dificuldades. Como, por exemplo, o setor de educação, se este não é de qualidade ou apresenta outras fragilidades, a qualificação da mão-de-obra fica comprometida, logo outros setores, principalmente, o mercado de trabalho serão comprometidos como coloca Kato e Ponchirolli (2002) “[...] a educação insuficiente desde a infância é responsável direta ou indiretamente pela baixa qualificação da mão-de-obra no Brasil e apresenta-se como um dos pontos mais críticos para o país”. Já numa visão mais focada, ao observar não só o coletivo, mas cada desem- pregado em si, vemos que o comprometimento não só intersetorial, mas tam- bém individual e estendendo a todos que dependem desse indivíduo, seja sua família ou a sociedade em que ele vive, pois deixa de contribuir para o desen- volvimento, uma vez que não há como colaborar com a economia, além de gerar instabilidade financeira, tem como consequência a instabilidade emo- cional e física que acabam se tornando, também, um problema de saúde. Podemos atribuir o desemprego a uma das causas primárias da perda de saú- de, pois com os danos gerados em razão dos problemas que surgem, o indiví- duo torna-se excluído quando a sociedade deveria fazer o oposto. Os trabalhadores excluídos da economia formal são forçados a ganhar a vida em ocupações precárias ou, após muito tempo sem trabalho, são atingidos pela exclusão, numa escala descendente entre inclusão, inclusão precária e exclusão (GIATTI. L. e BAR- RETO S. M. 2006). Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 35Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 35 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 36 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde É dever da sociedade acolher o desempregado, amparando e buscando saídas para que o mesmo possa ser reinserido, de forma digna, ao mercado de tra- balho, devidamente assegurado dos seus direitos, seja se capacitando ou apli- cando suas habilidades no meio em que vive, através de ações conjuntas e solidárias entre o Estado e a sociedade civil com o intento de promover saúde e qualidade de vida àqueles que necessitam. 3.3 Infância Desprotegida A infância é vista de diferentes formas pelo mundo. Cada sociedade lida com essa fase do ser humano de acordo com suas normas e regras segundo afirma Helman: [...] tendem a variar bastante entre diferentes grupos humanos... diferentes sociedades estabelecem idades diferentes para deter- minar quando as crianças podem ser educadas, participar de cer- tos rituais religiosos, trabalhar fora de casa, ter relações sexuais, controlar suas finanças[...] (HELMAN, 2003. p. 17). Independente da cultura em que vive, sabe-se que o ser humano, enquanto criança, apresenta fragilidades físicas, intelectuais e motoras, cabendo aos responsáveis por esta, proporcionar o desenvolvimento e os cuidados neces- sários, para que conviva nos moldes da sociedade em que vive. É necessário, então, alimentação adequada, educação de qualidade e lazer para que cres- çam felizes, saudáveis e se desenvolvam físico e intelectualmente. No Brasil, fica a cargo da família e da sociedade que a acolhe, a responsabi- lidade pela criança. Diante da vulnerabilidade e fragilidade inerentes a essa fase do ser, foi criado o artigo 227 da Constituição de 1988, assegurando os direitos essenciais à cidadania das crianças e adolescentes como ”direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e social. Primando ainda pelo respeito às crianças, em 13 de julho de 1990, o Governo Federal criou o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, através da lei 8.069. Nessa lei, é bem claro que o indivíduo é considerado criança até os 12 anos e adolescente dos 12 aos 18. Ela assegura que o indivíduo, enquanto criança ou adolescente, tenha acesso de forma efetiva a todo o necessário para que cresça feliz, segura e saudável. Leia a Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, art. 4º. Infelizmente as ações e resultados previstos no ECA ainda não são a realida- de em que vivemos. Após 24 anos da criação dessa lei, ainda é comum, na Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 36Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 36 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 37 e-Tec Brasil sociedade em que vivemos, os abusos de diversas naturezas comas nossas crianças, consequência da fragilidade na punição daqueles que teimam em violar os direitos assegurados pela Constituição e por falta de prioridades que a assegurem esses diretos. Isso é muito grave, pois as crianças que darão se- quência nos trabalhos que iniciarmos, e se não possuírem uma infância digna e segura, os problemas relacionados à saúde coletiva só tendem aumentar. Figura 14: La infância desprotegida Fonte: Vicente Baos através do endereço virtual : http://vicentebaos.blogspot.com.br/2012/03/la-infancia-desprote- gida.html > acesso em 23 de outubro de 2014. Falaremos, a seguir, sobre algumas questões que identificaremos como prin- cipais riscos à saúde da criança: a. desnutrição – sabe-se que a alimentação é item imprescindível ao bom de- senvolvimento. A escassez de uma alimentação digna poderá comprometer a saúde física e mental do indivíduo, e infelizmente a desnutrição é algo muito comum, principalmente em países mais pobres; b. ausência de saneamento básico – fator grave, pois expõe a saúde e segu- rança das crianças. O saneamento adequado evita que essas tenham con- tato com animais peçonhentos e infecções parasitárias, além de evitar que ocorram acidentes e a contaminação do lençol freático nos casos em que a comunidade utiliza a água de poços artesianos; c. habitações superlotadas – há muitas moradias onde o espaço é escasso e compartilhado por todos os moradores, principalmente, onde dormem, além do desconforto, tudo se torna muito mais explícito, inclusive o sexo, não raro observarmos pais que mantém relações com os filhos em casos assim; d. prostituição infantil – alguns pais incentivam, ou até mesmo as próprias crianças partem para a prostituição como forma de ganhar algum dinheiro que sacie, ao menos um pouco, as suas necessidades, entretanto essa prá- Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 37Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 37 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 38 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde tica expõe a saúde e segurança dessas crianças as vezes de forma irrever- sível. Tornam-se mais vulneráveis às doenças sexualmente transmissíveis e à violência; e. uso de drogas e de álcool – cada vez mais se torna comum vermos crianças fazendo uso de drogas e álcool, frequentemente, a mídia divulga esse tipo de cena. Devido às leis que proíbem a detenção de menores de 18 anos, as crianças e adolescentes, passaram a ser alvo dos traficantes que os utili- zam como “aviões”, trabalhando com o tráfico, sendo normalmente o seu pagamento feito com drogas e bebidas, gerando um ciclo vicioso onde a dependência destas substância os leva à pratica do crime. Num âmbito internacional, a importância do estudo antropoló- gico da infância vem crescendo devido às implicações de diver- sas questões sociais para a saúde. Entre essas questões, estão o trabalho infantil, o abuso físico e sexual das crianças, a ampla prevalência da prostituição infantil, o aumento do uso de crian- ças em conflitos armados e o número crescente de “crianças de rua” em muitos países pobres. (HELMAN, 2003. cap. 1. p. 18) Além desses pontos abordados, outra questão grave e que deve ser dada maior atenção é a violência e os maus tratos infantis. É assustador vermos frequen- temente em nosso cotidiano, pois é uma infeliz realidade que temos de convi- ver com esse tipo de abuso. Isso só reforça a necessidade de um maior amparo por parte do Estado e da sociedade, através da elaboração de programas que fortaleçam o que está contido na Constituição Federal e no ECA. Figura 15: “A realidade dos maus tratos infantis” Fonte: http://www.webquestfacil.com.br/webquest.php?wq=5584 > acesso em 23 de outubro de 2014. 3.4 Processos Migratórios O que significa migrar? Migrar significa deslocar-se de um lugar para outro, ou seja, nesse caso, o indivíduo, uma família ou um trabalhador sai do seu lo- cal de origem, cidade, estado ou país em busca de outro lugar que lhe favore- ça, seja temporariamente ou permanentemente, o indivíduo locomove-se em busca de melhorias que atendam suas necessidades. A seguir, uma definição clara das formas migratórias apresentado por Truzzi: Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 38Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 38 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 39 e-Tec Brasil [...] cadeias migratórias: as migrações de homens solteiros por intermédio de agentes recrutadores (padroni, como se conven- cionou chamar na literatura norte-americana); a imigração contí- nua de trabalhadores incentivada pela ajuda de outros indivíduos trabalhadores já instalados; e a imigração defasada da família, quando esposa e filhos se reúnem ao marido que anteriormente havia partido em busca de trabalho. (TRUZZI, 2008). Essa prática é comum desde os primórdios da humanidade. Cada período da história apresentou motivos diferentes, seja por fatores ambientais como secas e outros fenômenos naturais, por questões políticas e religiosas como guerras, por questões sociais como taxa de desemprego, entre vários fatores como afirmam Levitt e Jaworsky (2007) “[...] as necessidades e as motiva- ções deste fenómeno têm sofrido alterações associadas às rápidas mudanças ambientais, demográficas, sócio-económicas e políticas.” Figura 16: Migração do povo Alano Fonte: http://sarmatas.blogspot.com.br/2008/04/alanos.html > acesso em 27 de outubro de 2014. Nos tempos atuais, o fator mais comum que motiva a migração é a busca de melhoria na sua situação financeira ou por uma proposta de emprego ou para oferecer seus serviços, ou até mesmo para se capacitar ou completar os estu- dos. Hoje, o fator mais comum está intimamente ligado à questão econômica, de saúde, educação e segurança. Nesse caso, vemos famílias inteiras migran- do em busca de uma vida melhor. Mas muitos se perguntam: qual a relação que migração tem com a saúde? Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 39Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 39 12/03/2015 09:25:1212/03/2015 09:25:12 40 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde Através de um exemplo tentarei responder a essa pergunta. O Sr. João de 40 anos, casado e com cinco filhos para criar, vivia com sua fa- mília passando por dificuldades, além da escassez de alimento, ainda sofriam com a seca, dificuldade de transporte para os filhos irem à escola e difícil acesso ao posto de saúde. Entretanto, com todas as dificuldades, eram sadios e felizes, moravam em uma casa própria, criavam alguns animais e viviam em um lugar tranquilo. Certo dia, o irmão do João que já havia partido para cidade há muito anos e trabalhava de pedreiro, o convidou para pegar a empreita de uma construção irrecusável, tanto falou que convenceu o irmão. João partiu deixando esposa e filhos na eminência de levá-los assim que se acomodasse e, cumprindo sua palavra, ele, em muito pouco tempo, os trouxe para viverem na cidade também. Passaram a viver de aluguel e aos poucos se estabelece- ram, passados alguns meses, o pai de família, entusiasmado, resolveu vender as suas terras. A cidade era grande e com muita rapidez se acostumaram ao ritmo, mas como a situação financeira não tinha melhorado grandes coisas, eles continuaram a ter privações, moravam em um bairro menos favorecido, muito violento e continuaram, de maneira diferente, tendo problema na edu- cação. Infelizmente, o Sr. João ficou desempregado, tendo que pagar aluguel e alimentar sua família, ele entrou em depressão, começou a beber e se tornou alcóolatra, sua esposa, desgostosa da vida, acabou desenvolvendo hiperten- são e diabetes, seus filhos, cada um seguiu um rumo e um deles foi preso por se envolver com o tráfico... Fonte: Estória fictícia criada pela autora. Depois dessa história, você compreende a relação entre migração e saúde pública? Claro, nem todas as histórias de migração tem um final ruim,mas essa foi a melhor forma de exemplificar essa relação. Devido à pobreza e a violência nos campos, vemos pequenos agricultores serem atraídos pelas cidades grandes, deixando as suas terras em busca de trabalho, na expectativa de conseguirem salário fixo para atender as suas ne- cessidades e de sua família. Além disso, os serviços prestados na zona rural como saúde e educação quase sempre apresentam obstáculos a serem supera- dos, como por exemplo, a insuficiência de profissionais ou a falta de estrutura para fornecer os serviços, precariedade no espaço físico e/ou ausência de ma- teriais indispensáveis a prestação do serviço. Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 40Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 40 12/03/2015 09:25:1312/03/2015 09:25:13 41 e-Tec Brasil Figura 17: Migrações Fonte: http://saudeecologica.wordpress.com/tag/migracao/ > acesso em 27 de outubro de 2014. Entretanto, em casos como o do Sr. João, observamos que o processo de mi- gração pode piorar ainda mais a situação, pois em meio à crise mundial, os empregos formais se tornam mais escassos, levando as famílias que migraram a passarem por dificuldades iguais ou maiores, muitas vezes morando em condições bem mais precárias à anterior. Gostaria de lançar um desafio! Diante do problema exemplificado acima, re- lacione ações que você, como agente comunitário de saúde, apresentaria a sua equipe de trabalho para ajudar pessoas que migram da zona rural para as cidades e enfrentam dificuldades como as do Sr. João. Leve essas ações para a sala virtual e discuta com os seus colegas: 3.5 Analfabetismo O termo analfabeto vem sendo substituído por iletrado na tentativa de reduzir o preconceito com as pessoas que não tiveram acesso a outros níveis de co- nhecimento. O conceito de analfabetismo vem sendo reconsiderado ao longo das décadas. A princípio, para a pessoa ser considerada alfabetizada, bastava que ela soubesse ler e escrever o mínimo. Atualmente, para esse conceito há novas proporções, segundo a Organização das Nações Unidas - UNESCO o indivíduo alfabetizado é aquele capaz de dominar a leitura e a escrita a fim Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 41Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 41 12/03/2015 09:25:1312/03/2015 09:25:13 42 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde de se expressar e desenvolver-se num contexto social. Não é simplesmente ler e escrever, mas, sim, através dessas habilidades produzir e expandir o seu conhecimento. A capacidade de utilizar a linguagem escrita para informar-se, expressar-se, documentar, planejar e aprender cada vez mais é um dos principais legados da educação básica. A toda a socieda- de e, em especial, aos educadores e responsáveis pelas políticas educacionais, interessa saber em que medida os sistemas esco- lares vêm respondendo às exigências do mundo moderno em relação ao alfabetismo e, além da escolarização, que condições são necessárias para que todos adultos tenham oportunidades de continuar a se desenvolver pessoal e profissionalmente. (RIBEI- RO, V. M., 2006). Figura 18: Paulo e seu livro Fonte: http://www.ecoisaetal.com.br/tag/paulo/ > acesso em 23 de outubro de 2014. Na década de 1990, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE passou a pesquisar o alfabetismo funcional a pedido da UNESCO, conside- rando analfabetos os indivíduos que não completaram os quatro primeiros anos do ensino fundamental. Esse conceito é relativo, alguns países estende- ram para mais alguns anos que seria, no Brasil, até o ensino médio completo e, ainda assim, andam revendo se esses anos de escolaridade são suficientes para que os seus cidadãos sejam inseridos no mercado globalizado que cada vez mais aumenta a concorrência. Ainda segundo RIBEIRO (2006) “[...]a educação básica é o pilar fundamental para promover a leitura, o acesso à informação, a cultura e a aprendizagem ao longo de toda a vida.” O Plano Nacional de Educação, inserido no artigo 214 da Constituição de 1988, preconiza a melhoria da qualidade no ensino e a erradicação do analfabetismo, Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 42Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 42 12/03/2015 09:25:1312/03/2015 09:25:13 43 e-Tec Brasil sendo reforçado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei n. 9.394/96, a qual determina, no parágrafo primeiro do artigo 87, um prazo para a sua execução de 10 anos. No entanto, a realidade ainda é assustadora decorridos 26 anos. Em países como o Brasil, onde há má distribuição de renda, o baixo grau de escolaridade e o analfabetismo somados às outras precariedades no estilo de vida, tornam-se, de forma negativa, importantes determinantes para a má condição de vida do indivíduo, comprometendo também a saúde do mesmo, seja mental e/ou física. Segundo consta na Carta de Ottawa (WHO, 1986), um dos três itens primor- diais ao ser humano é a capacitação. Logo, o sujeito que não se capacita, torna-se ignorante e mais vulnerável. Todos tem o direito de se habilitar e ampliar suas aptidões, isso faz parte da promoção de saúde. Figura 19: Processo de Capacitação da Comunidade Fonte: accgs@uol.com.br > acesso 27 de outubro de 2014. 3.6 Nutrição No Brasil, estudos antropométricos apontam para a diminuição da taxa de des- nutrição infantil e o aumento crescente da obesidade entre os adultos. Logo, deparamos com uma realidade contraditória, pois ainda somos um país com Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 43Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 43 12/03/2015 09:25:1312/03/2015 09:25:13 44 Planejamento em Saúde Coletiva e Construção de Redes Comunitárias para a Promoção da Saúde baixa renda familiar e má distribuição econômica, então nos perguntamos: se há obesidade é porque as pessoas estão comendo mais? Sim, entretanto a qualidade desses alimentos é que vem causando preocupação, pois a práti- ca de alimentação saudável além de apresentar custo elevado nem sempre é acessível a todos. Figura 20: Aumento da obesidade em adolescentes Fonte: http://nuttricoletiva.blogspot.com.br/ > acesso em 27 de outubro de 2014. Desnutrição é causada pela insuficiência de alimentos, já a obesidade é o con- sumo excessivo, principalmente dos ricos em gorduras e açúcares. Cada vez mais, a ciência atribui o surgimento de doenças crônicas em adultos como diabetes, problemas cardiovasculares, à má alimentação. A praticidade de alimentos processados e a correria do dia a dia fizeram com que a população desenvolvesse um novo perfil epidemiológico nas últimas décadas, como as doenças adquiridas de agravos não transmissíveis. Recentemente, após as ele- vadas estatísticas, é que surgem, ainda de forma lenta, uma nova concepção e conceito de alimentação, onde é priorizada a aquisição de estilo de vida mais saudável com boa alimentação associada à prática de exercícios. [...] acumulam-se evidências de que características qualitativas da dieta são igualmente importantes na definição do estado de saú- de, em particular no que se refere a doenças crônicas da idade adul- ta. A relação entre consumo de gorduras saturadas, níveis plasmá- ticos de colesterol e risco de doença coronariana foi das primeiras a ser comprovada empiricamente. (MONTEIRO C.A. et.al. 2000). Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 44Planejamento em Saúde Coletiva - correção.indd 44 12/03/2015 09:25:1312/03/2015 09:25:13 45 e-Tec Brasil O perfil alimentar de cada família está diretamente relacionado à renda da mesma, segundo pesquisa orçamentária familiar – POF, essa pesquisa foi rea- lizada pela Fundação IBGE, em meados da década de 1990, no Brasil e, per- mite-nos avaliar a disponibilidade dos alimentos para cada família de acordo com os gastos e do custo desses alimentos nos lugares onde são adquiridos segundo Monteiro et al. (2000, p. 253). Figura 21: Comida saudável. Fonte: http://comidanarede.com.br/comida-saudavel/montar-prato-saudavel/
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