Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hipertensão Arterial Sistêmica. Introdução: Você deve conhecer alguém com essa condição. Isso acontece porque a HAS, ou pressão alta (como é popularmente conhecida), é uma das doenças mais comuns no mundo: ela acomete em torno de 1 bilhão de pessoas em todo o planeta, sendo que no Brasil, mais especificamente, ela afeta cerca de 30% da população adulta e até 60% dos idosos. A primeira coisa que a gente precisa entender é o que representa a medida da Pressão Arterial (PA). Bem... conceitualmente, a PA consiste na força exercida pelo sangue sobre a parede do vaso. No entanto, como o ciclo cardíaco é dividido em duas fases (sístole e diástole), para podermos avaliar bem essa pressão, nós precisamos saber o seu valor em cada uma delas. É justamente daí que surgem as Pressões Arteriais Sistólica (PAs) e Diastólica (PAd). Quais são os fatores que a regulam? Os principais são 2: a) débito cardíaco, que corresponde ao volume de sangue ejetado pelos ventrículos em um determinado intervalo de tempo; e b) resistência vascular periférica, que é a força exercida pelo vaso em oposição à passagem do sangue. Ambos esses fatores estabelecem uma relação diretamente proporcional com o valor da PA. Se houver um aumento do débito cardíaco, mais volume estará sendo ejetado e, consequentemente, mais sangue irá se chocar com as paredes vasculares, levando a um aumento da PA. Por outro lado, se os vasos começarem a oferecer mais resistência à passagem do sangue, mais contato haverá entre esse e suas paredes, o que também aumenta a PA. A partir de tudo isso que acabamos de ver, nós temos que a Hipertensão Arterial Sistêmica é definida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia como sendo uma: “Condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos.” Desse conceito é importante a gente destacar o termo “sustentada”. O que acontece é que, durante o dia, a nossa pressão arterial varia diversas vezes a depender da atividade que estejamos exercendo. Por exemplo, quando estamos praticando algum exercício físico, nosso metabolismo aumenta e o corpo precisa de um maior aporte sanguíneo, o que leva a um aumento do débito cardíaco e, consequentemente, da PA. Por outro lado, quando dormimos é justamente o oposto, então nosso débito cardíaco diminui e a PA também. Em cima disso, para podermos definir que se trata de uma HAS, o paciente deve apresentar valores de PA sempre elevados, independente da atividade que esteja realizando – é justamente isso que explica a forma de diagnóstico. Fisiopatologia : Cerca de 95-97% dos casos de HAS são enquadrados como primários ou essenciais, que são aqueles idiopáticos em que não se consegue identificar uma causa específica para o aumento dos níveis pressóricos. Assim, acredita-se que esses casos são decorrentes da interação de vários fatores de risco que, de acordo com uma série de estudos, estão relacionados ao aumento da PA. São eles: • IDADE • SEXO • SEDENTARISMO • OBESIDADE • EXCESSO DE SAL • FATORES GENÉTICOS • ESXCESSO DE ÁLCOOL • RAÇA/ETNIA. Já os outros 3-5% dos pacientes apresentam o que conhecemos como HAS secundária, que é quando existe uma doença de base responsável por elevar os níveis pressóricos. Entre essas, as principais são: Síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS): Obstruções recorrentes das vias aéreas superiores durante o sono, produzindo episódios de apneia ou hipopneia que levam à hipóxia e aumentam os riscos de desenvolver HAS. Doença renal crônica: Alteração estrutural/funcional dos rins que diminui a taxa de filtração glomerular, aumentando a produção de renina e ativação prolongada do sistema renina angiotensina- aldosterona (SRAA), elevando a PA. Hipertensão renovascular: Estenose parcial ou total, uni ou bilateral da artéria renal ou de seus ramos, reduzindo a pressão de filtração glomerular e consequente ativação do SRAA. Hiperaldosteronismo Produção exacerbada de aldosterona, que eleva a um aumento da PA. Feocromocitoma Tumor que acomete as células cromafins das glândulas suprarrenais, que aumenta a produção de catecolaminas e consequentemente a uma crise adrenérgica caracterizada pela tríade: cefaleia, palpitação e sudorese. Tá. Mas independente de qual seja a sua causa, qual é o real problema por trás de um quadro de hipertensão arterial? Essa é uma das principais perguntas para que a gente possa entender porque a HAS é uma doença tão importante na prática médica. O que acontece é o seguinte: lembrando da definição que a pressão arterial é a força que o sangue exerce sobre as paredes do vaso, quando a pessoa apresenta uma hipertensão, o choque entre o sangue e a parede é mais intenso e mais constante, o que acaba favorecendo a ocorrência de lesões por todo o sistema cardiovascular e também lesões em órgãos-alvo (LOA). É justamente isso que justifica a comum associação da HAS com processos patológicos como: • AVC • NEFROPATIA HIPERTENSIVA • IAM • ICC • DISFUNÇÃO SEXUAL. Classificação: Uma vez tendo avaliado a PA do paciente, nós poderemos classificá-la em 3 categorias: normotensão, pré-hipertensão e hipertensão (que pode ser dividida em 3), seguindo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC): Disponível em: <https://www.synapsemed.com.br/has> 1- NORMOTENSÃO: Os indivíduos normotensos são justamente aquelas pessoas que possuem uma PA dentro dos valores de referência ou então que são hipertensas, mas com ouso correto da terapia anti- hipertensiva conseguem manter sua pressão arterial em níveis pressóricos normais (hipertensão controlada). 2- PRÉ-HIPERTENSÃO: Os pré-hipertensos, por sua vez, são aquelas pessoas que estão no meio termo entre o que é considerado normal (≤ 120x80mmHg) e o que é hipertensão (≥140x90mmHg). Assim, elas possuem grande probabilidade de se tornarem hipertensas e também um maior risco de desenvolverem alguma complicação cardiovascular e é justamente por isso que precisam ser acompanhadas com mais regularidade. 3- HIPERTENSÃO: Por fim, os hipertensos são aqueles pacientes que, comprovadamente, mantêm níveis pressóricos ≥ 140x90mmHg. Tratamento: O tratamento da Hipertensão Arterial não tem como objetivo a cura, mas sim, o seu controle. Isso envolve a adoção de medidas não medicamentosas e medidas medicamentosas. 1- TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO: • Alimentação saudável; • Dieta hipossódica; • Exercícios físicos; • Moderar o uso de bebidas alcoólicas; • Cessar tabagismo. 2- TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: I- DIURÉTICOS II- SIMPATICOLÍTICOS III- VASODILATADORES IV- BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO V- DROGAS QUE AGEM NO SISTEMA RENINA ANGIOTENSINA ALDOSTERONA DIURÉTICOS: Os medicamentos diuréticos são aqueles que atuam nos néfrons favorecendo a liberação de sódio através da urina. A partir disso, por conta da sua osmolaridade, mais água também acaba sendo excretada, o que implica dizer que o uso dessa medicação leva a uma redução do volume plasmático do paciente. Diuréticos de Alça: Mecanismo de ação: Atuam no ramo ascendente da alça de henle, inibindo a bomba de Na+/K+/Cl-, levando a uma maior excreção destes íons e consequentemente de água. Efeitos adversos: • HIPOCALEMIA Como a ação deles é na alça de Henle, o filtrado que chegar no túbulo contorcido estará muito rico em Na+ e isso estimula a bomba Na+/Ca+2. COM a maior excreção de cálcio pela urina,aumenta-se os riscos de litíase. • HIPOVOLEMIA Levam a uma perda rápida e intensa de água, por isso a indicação é restrita. • HIPOMAGNESEMIA • OTOTOXIDADE Pode haver perda auditiva, especialmente se associado a alguns antibióticos. Diuréticos Tiazídicos: Mecanismo de ação: atuam no túbulo distal dos néfrons inibindo o transporte de íons Na+ e Cl- para dentro da célula, levando a uma maior excreção desses íons e consequentemente de água. A ação do túbulo distal sobre o filtrado não é muito intensa, de modo que os tiazídicos acabam sendo diuréticos mais suaves, com capacidade de aumentar em apenas 5% a excreção de sódio Efeitos adversos: • HIPOCALEMIA Como o filtrado vai chegar no ducto coletor com uma maior concentração de íons Na+, haverá mais troca pelos K+. • HIPERURICEMIA Todos os tiazídicos são liberados por meio do Sistema Secretor, de modo que competem com o ácido úrico. • HIPERGLICEMIA Em altas doses, são capazes de aumentar a resistência insulínica. • HIPERLIPIDEMIA Aumentam em 5-15% a concentração sérica de colesterol, mas isso pode ser resolvido a longo prazo. Diuréticos poupadores de potássio: Mecanismo de ação: A espironolactona atua inibindo o receptor intracelular da aldosterona e aí, sem o estímulo dessa substância, a bomba de Na+/K+ não funciona. Com mais sódio sendo liberado, o paciente também acaba tendo uma perda hídrica, mas bem menos significante do que nos outros tipos de diuréticos, de modo que o diferencial aqui é justamente a redução na excreção de potássio. Já no caso da amilorida e do triantereno, o mecanismo é bem diferente. Aqui as drogas vão bloquear diretamente a bomba de Na+/ K+, o que implica dizer que eles conseguem o mesmo efeito, mas sendo independentes da ação da aldosterona - por isso que eles têm efeito mesmo em pacientes com doença de Addison. No entanto, vale frisar que por atuar no mesmo local da espironolactona, essas 2 drogas também têm um efeito diurético muito pequeno, de modo que só devem ser administrados em associação com outro diurético. Efeitos Adversos: • DISTÚRBIOS GÁSTRICOS • HIPERCALEMIA • GINECOMASTIA*** Por ser quimicamente semelhante aos hormônios esteroidais, o uso prolongado de espironolactona pode levar à ginecomastia nos homens e a irregularidades menstruais nas mulheres. Simpaticolíticos: ALFA-AGONISTAS CENTRAIS: Mecanismo de ação: estimulam os receptores α-2 adrenérgicos pré- sinápticos, em nível de SNC, reduzindo o tônus simpático e provocando uma vasodilatação. Efeitos adversos: • HIPOTENSÃO POSTURAL; • BOCA SECA; • FADIGA; • DISFUNÇÃO SEXUAL; • GALACTORRÉIA; • ANEMIA HEMOLÍTICA; • LESÃO HEPÁTICA. Efeitos adversos: • HIPOTENSÃO POSTURAL; • SONOLÊNCIA; • BOCA SECA; • FADIGA; • DISFUNÇÃO SEXUAL; • HIPERTENSÃO REBOTE. ALFA-BLOQUEADORES: Mecanismo de ação: Atuam bloqueando os receptores α -1- adrenérgicos pós-sinápticos, em nível periférico, reduzindo o tônus simpático e provocando uma vasodilatação. Efeitos adversos: • PALPITAÇÕES; • HIPOTENSÃO POSTURAL; • ASTENIA; • FENÔMENO DA 1ª DOSE. Efeitos adversos: MESMOS DA PRAZOSINA. BETA-BLOQUEADORES: Mecanismo de ação: Os betabloqueadores inibem as respostas cronotrópicas, inotrópicas e vasoconstritoras à ação das catecolaminas nos receptores beta-adrenérgicos. Seu mecanismo anti- hipertensivo envolve diminuição inicial do débito cardíaco, redução da secreção.de renina, readaptação dos barorreceptores, vasodilatação (em algumas classes) e diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas. 1ª GERAÇÃO – SEM CARDIOSELETIVIDADE: Bloqueio beta-1 e beta-2. • PROPANOLOL • NADOLOL • TIMOLOL • SOTALOL 2ª GERAÇÃO – COM CARDIOSELETIVIDADE: Bloqueio beta-1 ATENOLOL METOPROLOL BISOPROLOL 3ª GERAÇÃO – COM ATIVIDADE VASODILATADORA: Bloqueio beta-1 ou beta-1 e beta-2. LABETALOL CARVEDILOL NEBIVOLOL Efeitos adversos: • BRONCOESPASMO • BRADICARDIA EXCESSIVA • DISTÚRBIOS NA CONDUÇÃO A-V • VASOCONSTRICÇÃO PERIFÉRICA* • INSÔNIA E PESADELOS • ASTENIA • DISFUNÇÃO SEXUAL* • INTOLERÂNCA À GLICOSE / AUMENTA A REISTÊNCIA INSULÍNICA* • DISLIPIDEMIA • ISQUEMIA DE REBOTE *Exceto nebivolol. VASODILATADORES: Mecanismo de ação: atuam diretamente na musculatura lisa da parede dos vasos, promovendo relaxamento vascular. HIDRALAZINA: tem uso limitado, devido ao aumento da atividade simpática, sendo o seu uso reservado para casos de HAS grave, geralmente como terceira associação, ou em casos especiais (gestação, emergências hipertensivas. Efeitos adversos: • CEFALEIA • TAQUICARDIA • PALPITAÇÕES • ANGINA • NÁUSEAS • VÔMITOS • PARESTESIAS MINOXIDIL: rapidamente absorvido por VO, atingindo sua “com” após 1h. Por provocar intensa retenção de Na+ e água, além de outros efeitos adversos tem seu uso restrito a casos de HAS resistente, sempre associado a diuréticos. BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO: Mecanismo de ação: assim como os diuréticos, os medicamentos antagonistas do cálcio também atuam reduzindo a resistência vascular, no entanto, o mecanismo aqui é bem diferente. O que essas drogas fazem é bloquear os canais de cálcio de células musculares lisas do tipo L, presentes em vasos sanguíneos, e/ou de células musculares cardíacas. Dessa forma, como o cálcio é um fator indispensável para a contração muscular, essa função fica comprometida. FENILQUILAMINAS: VERAPAMIL Efeitos adversos: • CONSTIPAÇÃO Inibe canais de cálcio na musculatura lisa intestinal. DIHIDROPIRIDÍNIC OS: NIFEDIPINA ANLODIPINO Efeitos adversos: • CEFALEIA • RUBOR • EDEMA Todos por conta da vasodilatação. INIBIDORES DA ECA: Mecanismo de ação: Inibem a Enzima Conversora de Angiotensina I em Angiotensiva II, diminuindo a resistência vascular periférica e diminuindo também a inativação da bradicinina e da produção de aldosterona. CAPTOPRIL ENALAPRIL LISINOPRIL RAMIPRIL Efeitos adversos: • TOSSE SECA • REAÇÃO DE HIPERSENSIBILIDADE • HIPERPOTASSEMIA EM PACIENTES COM IRC OU USO DE ESPIRONALACTONA. BLOQUEADORES DOS RECEPTORES DA ANGIOTENSINA: Mecanismo de ação: fecham os receptores da angiotensina II, impedindo a sua ação e, dessa forma, bloqueando o ciclo do SRAA. LOSARTANA VALSARTANA TELMISARTANA... Efeitos adversos: • TONTURAS • REAÇÃO DE HIPERSENSIBILIDADE • HIPERPOTASSEMIA EM PACIENTES COM IRC OU USO DE ESPIRONALACTONA.
Compartilhar