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Teoria Geral de Direito Penal

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Teoria Geral de Direito Penal
Cogitar do Direito Penal é cogitar de alguma forma, de violência. Modernamente, até sustenta-se que a criminalidade é fenômeno social normal.
Durkheim[footnoteRef:1] afirmou que o delito ocorre em todas as sociedades humanas, O delito não só é um fenômeno social normal, como também cumpre outra função relevante, isto é, a de manter aberto o canal de transformações de que a sociedade humana tanto precisa. [1: A teoria formulada por Emile Durkheim, cujas obras de lançaram as bases da sociologia criminal consensual desenvolvida no século XX, foi formulada em um contexto de profundas mudanças sociais, com o enfraquecimento dos modelos tradicionais de sociedade e o fortalecimento das economias industrializadas no final do século XIX.
Na obra “Les régles de la méthode sociologique” se encontra uma das mais importantes contribuições de Durkheim, a concepção do crime como um fator de funcionalidade de toda e qualquer sociedade, e não uma patologia, como era considerado até então. Constata Durkheim que em qualquer sociedade, seja de qualquer tipo e de qualquer época, haverá crime, por isso não é algo patológico. O delito faz parte da vida coletiva, enquanto elemento funcional da fisiologia, e não da patologia da vida social. Somente em caso de crescimento excessivo pode ser considerado patológico. Então, classificar o crime entre os fenômenos de sociologia normal é afirmar que é um fator da saúde pública, uma parte integrante de qualquer sociedade sã.
] 
Portanto, as relações humanas restam inexoravelmente contaminadas pela violência, necessitando de normas jurídicas que as regulem.
E, o fato social que contrariar o ordenamento jurídico constitui ilícito jurídico, cuja modalidade mais grave é o ilícito penal que lesa os bens importantes da comunidade[footnoteRef:2]. [2: Em suma, Durkheim assevera que o crime cumpre uma função na estrutura social, uma vez que provoca e estimula a reação social, estabiliza e mantém vivo o sentimento coletivo que sustenta a conformidade às normas. O delito pode ser um papel direto no desenvolvimento moral de uma sociedade.
] 
Com o fito de harmonizar o convívio social surge o Direito Penal com sua peculiar natureza de meio de controle social formalizado, visando resolver os conflitos e suturando as eventuais rupturas produzidas em geral pela desinteligência dos homens.
No Direito Contemporâneo a denominação mais tradicional é “Direito Penal” com franca utilização, especialmente em países ocidentais. Quanto ao “Direito Criminal” também é terminologia em franco uso no século passado, porém, atualmente se encontra em desuso, com exceção dos países anglo-saxões que preferem a expressão criminal law[footnoteRef:3]. [3: É crescente o interesse na normatização produzida pelo Direito inglês, especialmente, em face das possíveis aproximações existentes entre o sistema anglo-saxão e o sistema românico-germânico. E a atual coexistência da case law e, do direito positivado dos statutes, não passa despercebida, também, no estudo do direito processual e ainda do sistema probatório inglês. Dentro da tradição jurídica inglesa o poder jurisdicional soluciona os casos concretos com base em precedentes. Contudo, se a solução para o caso presente não puder ser extraída de uma apreciação jurisdicional pretérita, um novo posicionamento será construído e a justificação empregada no julgamento estará alinhada à agregação dos argumentos utilizados para julgar aspectos semelhantes de casos anteriores.
] 
Direito penal é o conjunto de normas jurídicas mediante as quais o Estado proíbe determinadas ações ou omissões, sob característica sanção penal. 
A sanção característica é a pena que é a principal consequência jurídica do crime. O Direito Penal se distingue precisamente pelo meio de coação e tutela com que atua e, que é a pena criminal[footnoteRef:4]. [4: Nesse sentido, é curial distinguir a prisão civil da prisão penal ou criminal que é consequente de condenação por crime ou contravenção. Diz-se que a prisão civil é a decretada em face de certas pessoas como sanção à falta de cumprimento de seu dever, fundada em norma ou regra jurídica civil. É o caso do inadimplente de pensão alimentícia. Já no âmbito penal, existem: a prisão temporária, a preventiva, em flagrante e para efeitos de extradição as modalidades permitidas pela justiça brasileira. A prisão temporária é modalidade de prisão adotada durante a investigação criminal. Em geral, serve para assegurar o sucesso de certa diligência que seja imprescindível para as investigações. E, conforme a Lei 7.960/1989 que regulamenta a prisão temporária, ela será cabível quando: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes de homicídio, sequestro, roubo, estupro, tráfico de drogas, crimes contra o sistema financeiro, entre outros. 
] 
Registre-se que a pena não consiste na execução coativa do preceito jurídico violado, mas sim, na perda de um bem jurídico imposta ao autor do ilícito, representando um mal infringido ao réu, em virtude de seu comportamento antijurídico.
Daí, seu caráter retributivo e, a denominação de “Direito Penal” surge justamente da sanção jurídica adotada por esse ramo de direito.
O Direito Penal moderno ao lado da pena contempla também as medidas de segurança que se funda na periculosidade do agente.
A denominação “Direito Criminal” prevaleceu até o século passado e esteve presente em nosso Código Imperial de 1830[footnoteRef:5], que era chamado de Código Criminal[footnoteRef:6]. [5: Juristas de diversos países consideraram, na época, o Código Criminal de 1830, quer pelas disposições práticas de seus artigos ou pela atualidade de seus princípios, um notável trabalho do Direito no Brasil. O projeto de Bernardo Pereira de Vasconcelos representou uma novidade, precedendo, em algumas de suas disposições, códigos europeus. Seu texto, considerado conciso e elogiado por isso, foi inclusive traduzido para o francês, demonstrando sua importância para inúmeros juristas daqueles tempos. No dizer do historiador Américo Jacobina Lacombe, "foi o primeiro código penal autônomo na América Latina e sua influência sobre os que lhe seguiram é incontestável".] [6: De fato, o referido Código Criminal significou um progresso em relação às leis Filipinas, no que se refere à integridade física para os homens livres, com a inviolabilidade dos direitos civis e igualdade jurídica. Não obstante ter mantido os castigos corporais para os escravos. Estabelecia três tipos de crimes: os públicos, entendidos como aqueles contra a ordem política instituída, o Império e o imperador – dependendo da abrangência, seriam chamados de revoltas, rebeliões ou insurreições; os crimes particulares, praticados contra a propriedade ou contra o indivíduo; e, ainda, os policiais, contra a civilidade e os bons costumes. Nestes últimos incluíam-se os vadios, os “capoeiras”, as sociedades secretas e a prostituição. O crime de imprensa era também considerado policial. Em todos esses casos, o governo imperial poderia agir aplicando as penas que constavam no Código – como prisão perpétua ou temporária, com ou sem trabalhos forçados, banimento ou condenação à morte.] 
O Direito Penal é ramo do Direito Público interno e, ressalte-se que o Estado detém o monopólio do magistério punitivo, mesmo quando a acusação é promovida pelo ofendido, conforme ocorre na ação penal privada[footnoteRef:7]. [7: A ação penal privada é aquela na qual se tem como titular, em regra, o ofendido, conforme o segundo parágrafo do artigo 100 do CP. e, excepcionalmente, na falta de capacidade da vítima, o seu representante legal. A ação penal privada poderá ser relativamente à titularidade para a ação: 1. Comum ou propriamente dita: aquela cuja titularidadeé da vítima ou de seu representante legal (cônjuge, ascendente, descendente, irmão), quando a vítima for incapaz; 2. Personalíssima: a titularidade é exclusiva da vítima. Desse modo, se a vítima morrer, extingue-se a punibilidade do ofensor; 3. Subsidiária: é modalidade subsidiária da ação penal pública. Isto é: embora a ação penal seja pública, cuja titularidade é do Ministério Público, caso este, tento os elementos para oferecer a denúncia, não o faça – inércia injustificada -, poderá a vítima tomar a titularidade da ação penal pública, ingressando com uma queixa.
] 
A tutela do Direito Penal é exercida sempre em prol de interesses da coletividade, mesmo quando se tratar de bens, cujas ofensas primeiramente atingem o indivíduo (vida, patrimônio, honra e, etc.).
O Direito Penal na ordem jurídica é que dispõe da mais grave sanção e, portanto, proporciona a mais reforçada tutela jurídica, sendo disposto à preservação daqueles bens de maior significação e relevo, sendo indispensáveis à vida comum, visando assegurar a existência da sociedade e dos valores fundamentais da vida e para a sociedade humana.
O Direito Penal é um saber que, como todos os demais, deve estabelecer seus limites, definindo seu horizonte de projeção, de modo a permitir-lhe distinguir o universo de entes que abarca e, por conseguinte, o daqueles que ficam excluídos.
Contudo, toda delimitação de um saber corresponde à certa intencionalidade, pois sempre que se procura saber persegue-se algum objetivo, o qual, pelo menos no caso das disciplinas jurídicas em geral e do direito penal em particular, não pode ser a mera curiosidade.
Para Zaffaroni[footnoteRef:8] o uso da expressão direito penal é equívoco posto que seja empregada com frequência para designar parte do objeto do saber do direito penal, que é a lei penal. [8: Eugenio Raúl Zaffaroni foi ministro da Suprema Corte Argente de 2003 até 2014 e, desde 2015 é juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Professor emérito e diretor do Departamento de Direito Penal e criminologia na Universidade de Buenos Aires, é também doutor honoris causa pela UERJ, pela Universidade Federal do Ceará, pela Universidade Católica de Brasília e pelo Centro Universitário FIEO. É também vice-presidente da Associação Internacional de Direito Penal. É defensor de um pensamento que define como "realismo marginal jurídico-penal". Muitos o consideram defensor do garantismo, entretanto esta confusão é feita porque, até meados da década de 1980, Zaffaroni ainda pensava o Direito Penal como legítimo instrumento de controle social, em vista da eficiência das penas criminais para ressocializar o punido. O garantismo é um sistema sociocultural que estabelece instrumentos jurídicos para a defesa dos direitos fundamentais e consequente defesa do acesso aos bens essenciais à vida dos indivíduos ou de coletividades, que conflitem com interesses de outros indivíduos, outras coletividades e, sobretudo, com interesses do Estado. 
] 
Conclui em afirmar que o direito penal é o ramo do saber jurídico que, mediante a interpretação das leis penais, propõe aos juízes um sistema orientador de decisões que contém e reduz o poder punitivo, para impulsionar o progresso do Estado Constitucional de Direito.
Aliás, a mais óbvia função dos juízes penais e do direito penal como planejamento das decisões judiciais é a contenção do poder punitivo. Sem a contenção jurídica ou judicial o poder punitivo ficaria liberado ao puro impulso das agências executivas e políticas e, por conseguinte, despareceriam o Estado de Direito e a própria república.
A função básica do Direito Penal é a de defesa social e se realiza através da chamada tutela jurídica que é mecanismo que ameaça com uma sanção jurídica (pena criminal) que é aplicada para evitar o dano ou perigo a um valor da vida social (bem jurídico).
A justificação da pena liga-se à função do Direito Penal que é instrumento da política social do Estado. A pena, embora, seja por natureza retributiva, não se justifica por mera retribuição e nem tem qualquer outro fundamento metafísico.
A generalidade tendência é a de reduzir ao máxima a área de incidência do Direito Penal, em razão do alto custo social que a pena representa. Isso, sem olvidar do custo econômico-financeiro.
A nova política criminal[footnoteRef:9] requer rigoroso exame dos casos concretos em que seja realmente necessária a imposição de pena e, dos casos em que convém excluir, em princípio, a sanção penal, suprimindo a infração penal, seja modificando ou atenuando a sanção existente. [9: Zaffaroni, aliás, enfatiza que na América Latina há um severo grau de vulnerabilidade pessoal da população carente diante do sistema social e punitivo, o que justifica uma mudança no paradigma dogmático. Aduz também que há uma culpabilidade que deve ser aferida pelo quão vulnerável é o indivíduo, a fim de reduzir o grau de incidência da norma penal e da resposta punitiva subsequente. Defende que a função do Direito Penal é a de reduzir o exercício do poder punitivo do Estado. O funcionalismo de contenção leva em consideração a necessidade de se conter o exercício do poder punitivo, pois o poder punitivo tende a ser utilizado como instrumento de coerção subserviente a interesses políticos, econômicos e sociais no intuito de submeter uma classe social ou grupo aos interesses e desejos de outro. O funcionalismo de contenção reverbera o que enfatiza a teoria agnóstica da pena. O Direito Penal deve ser utilizado como instrumento do Direito de forma mínima. Sua doutrina é marcada pela utilização de uma criminologia crítica como manifestação política para a formulação dogmática, uma das suas principais contribuições nesse sentido é a "culpabilidade por vulnerabilidade" que leva em conta a seletividade do sistema penal.
] 
O crime é fenômeno sociopolítico que se deve a um conjunto de fatores ligados à estrutura econômico-social em relação aos quais, infelizmente, o Direito Penal tem muito pouca influência[footnoteRef:10]. [10: Reconhecida esta insuficiência, pode ser dito que o Direito regula (ou procura regular) o convívio social e funciona como elemento de harmonização das relações sociais, oferecendo mecanismos de resolução de conflitos, por meio de sua dúplice natureza de poder que protege e, simultaneamente obriga, através de um conjunto de normas que integram o ordenamento jurídico. Trata-se de uma definição que evidentemente não esgota o fenômeno jurídico, mas que, ao menos, abrange parcela significativa de suas características. ] 
As definições[footnoteRef:11] do Direito Penal se sucedem, se multiplicam, mantendo, em geral, a mesma essência. Para Maggiore: “Direito Penal é o sistema de normas jurídicas, por força das quais o autor de um delito (réu) é submetido a uma perda ou diminuição de direitos pessoais”. [11: Eis algumas definições: Franz von Liszt: o direito penal é o conjunto das prescrições emanadas do Estado que ligam ao crime, como fato, a pena, como consequência (Tratado de direito penal alemão, trad. José Hygino Duarte Pereira. Rio de Janeiro: Briguiet, 1899, v. 1, p. 1) Mezger: o direito penal é o exercício do poder punitivo do Estado, que conecta ao delito, como pressuposto, e a pena, como consequência jurídica (Tratado de derecho penal, 2. ed. Madrid, 1946, v. 1, p. 27-28). Welzel: o direito penal é “a parte do ordenamento jurídico que determina as características da ação delituosa e lhe impõe penas ou medidas de segurança” (Derecho penal alemán, trad. Bustos e Pérez. Santiago: Ed. Jurídica de Chile, 1993, p. 1). Juarez Cirino: o direito penal é o setor do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e prevê medidas de segurança aplicáveis aos autores das condutas incriminadas (Direito Penal. Parte Geral. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2006, p. 3). Zaffaroni/Batista: o direito penal é o ramo do saber jurídico que, mediante a interpretação das leis penais, propõe aos juízes um sistema orientador das decisões que contém e reduz o poder punitivo, para impulsionar o progresso do estado constitucionalde direito (Direito Penal Brasileiro – I. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 40).
] 
Os penalistas pátrios tais como Magalhães Noronha definia o direito penal como sendo “o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e, ainda as medidas aplicáveis[footnoteRef:12] a quem os pratica”. [12: A medida de segurança é, enfim, toda a reação criminal, detentiva ou não, que se liga à prática, pelo agente, de fato ilícito típico, e tem como pressuposto sua periculosidade e visa a finalidade de defesa social relacionada à prevenção especial, sob forma de segurança, ou seja na forma de ressocialização. A finalidade da medida de segurança seria a adequada reintegração social de um indivíduo considerado perigoso para a própria sociedade. O Código Penal Brasileiro de 1940 instituiu e sistematizou a aplicação da medida de segurança. No seu início, foi adotado o sistema duplo binário (pena + medida de segurança), onde a medida de segurança poderia ser aplicada em concomitância com a pena.
] 
Já para Frederico Marques, o Direito Penal é “conjunto de normas que ligam ao crime, como fato e, a pena como consequência e, disciplinam também as relações jurídicas derivadas, para estabelecer a aplicabilidade de medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado”.
É indispensável que no Direito Penal se compreenda todas as relações jurídicas que as normas jurídicas disciplinam, inclusive as derivadas dessa sistematização ordenadora do delito e da pena.
O direito pátrio adota o critério bipartido que compreende que crime e delito são sinônimos, diferentemente da contravenção penal. Este critério também é adotado na Alemanha e na Itália. No entanto, delito é gênero que abriga tanto o crime como a contravenção. Já o critério tripartido diferencia crime, delito e contravenção penal. A diferença varia conforme a gravidade do fato e a pena cominada. Este critério é adotado também em países como a França e a Espanha.
Se o objetivo é cogitar de modo genérico, é sempre mais seguro utilizar o termo infração penal. A infração penal é gênero que tem como espécies os crimes e contravenções penais. 
A Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914, de 09 de dezembro de 1941) diferencia crime de contravenção da seguinte forma: o crime é a infração penal a que a lei comina a pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente a pena de multa (Art.1º). 
A pena de reclusão é aquela que admite o regime inicial fechado, ao contrário da detenção, que só admite o regime inicial como semi-aberto ou aberto. 
Já a contravenção é a infração penal que a lei comina, isoladamente, penas de prisão simples ou multa[footnoteRef:13], ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Prisão simples é aquela que não admite o regime fechado em nenhuma hipótese. [13: Não se pode ignorar o verdadeiro sentido da adoção, pela Reforma Penal de 1984 (Lei 7.209/84), do sistema dias-multa, o qual, leva em consideração, prioritariamente, a condição financeira do infrator, e não, repetindo, a gravidade da infração penal. De notar-se que, ao contrário da filosofia do Código Penal de 1940, os tipos penais não estabelecem mais, ao lado da pena de prisão, a quantidade mínima e máxima da pena de multa, mas tão somente se lhe é aplicável esta pena ou não. Essa é outra grande demonstração da desvinculação da pena de multa da gravidade do crime e de sua metodologia de aplicação de pena.] 
Portanto o crime seria utilizado para condutas mais severas que permitem de início o cumprimento da pena em reclusão ou detenção. A contravenção é menos grave, somente admitindo o cumprimento de pena com a prisão simples.
Há outras diferenças processuais nos dois institutos. Um exemplo é de que não se pune a tentativa da contravenção penal (LCP, Art. 4º) ao contrário do crime, em que a tentativa pode ser punida, a depender do tipo penal. Além disso, nas contravenções penais as ações são sempre de iniciativa pública incondicionada. 
Já no crime isso pode variar, sendo possível ter ação pública condicionada, incondicionada e privada (Código Penal, art.100).
O conjunto de normas jurídicas a que acima nos referimos constitui o Direito Penal objetivo e, dele surge o Direito Penal subjetivo. Esse direito penal subjetivo de punir, o jus puniendi não é o direito de editar a norma penal. No momento anterior ao direito positivo, o poder do Estado de estabelecer a norma penal é apenas atributo da soberania e corresponde ao exercício do jus imperii, isto é, da faculdade compreendida no poder político de império ou de dominação do Estado.
O Direito Penal subjetivo é, enfim, o direito de punir que surge exatamente com a norma penal e, que é sempre atingido pela ação delituosa (direito público subjetivo do Estado à observância do preceito legal).
Direito Penal subjetivo (ou jus puniendi) refere-se ao direito de punir do Estado, ou seja, a capacidade que o Estado tem de produzir e fazer cumprir suas normas. Pode ser subdividido em: 
(i) positivo, que vem a ser a capacidade conferida ao Estado de criar e executar normas penais; e 
(ii) negativo, caracterizado pela faculdade de derrogar preceitos penais ou restringir o alcance das figuras delitivas, atividade que cabe preponderantemente ao STF, por meio da declaração de inconstitucionalidade de normas penais. É no aspecto positivo que se inserem as criminalizações primária e secundária.
O Direito Penal[footnoteRef:14] fundamental é a que se encontra na Constituição Federal brasileira que contém as disposições básicas do direito punitivo do Estado, aplicáveis também às demais leis penais, quando não dispuserem diversamente. [14: O Direito Penal é uma técnica de definição, comprovação e repressão do desvio. Crime, processo e pena vão formar os objetos fundamentais do direito e processo penal. A definição do desvio se expressa na atividade legislativa, por meio da qual o legislador vai definir crimes (condutas proibidas) e cominar penas (punição correlata). Em todas as democracias contemporâneas, o Direito Penal será regido por princípios constitucionais (explícitos e implícitos) para garantir o indivíduo em face do poder punitivo (ius puniendi) do Estado. A função dos princípios será justamente a de limitar o poder punitivo estatal. Nesse sentido, o legislador não pode tudo. Ele deve observância aos princípios. O saber jurídico-penal moderno de tradição iluminista e liberal, amadurecido desde o século XVIII, foi responsável pela gestação do modelo garantista clássico, fundado em princípios como o da legalidade, lesividade, responsabilidade pessoal, contraditório e presunção de inocência.] 
O Direito Penal complementar é o que se encontra nas leis penais não codificadas, chamadas de leis penais extravagantes.
As leis extravagantes, também conhecidas como leis especiais, são aquelas leis que são válidas, mas que não estão escritas no código penal, mas constam em leis separadas. Exemplo disso são as leis de Crimes Hediondos[footnoteRef:15] ou a Lei Maria da Penha. [15: Crimes hediondos são os crimes entendidos pelo poder legislativo como os que merecem maior reprovação por parte do Estado. ... Do ponto de vista semântico, o termo "hediondo" significa ato profundamente repugnante, imundo, horrendo, sórdido, ou seja, um ato indiscutivelmente nojento, segundo as normas da moral vigente.] 
Lei 11.343/06 (Lei de Drogas). Regras de Destruição da Droga na Lei. Com prisão em flagrante (art. 50 § 4º): O delegado faz a destruição somente após o juiz determinar; O prazo máximo é de 15 (quinze) dias contados da determinação do juiz; 
Na presença do Ministério Público e da Autoridade Sanitária; Sem prisão em flagrante (art. 50-A): O delegado faz a destruição de ofício, ou seja, sem a determinação do juiz; O prazo máximo é de 30 (trinta) dias contado da apreensão; Plantações ilícitas (art. 32): É destruída imediatamente por incineração pelo Delegado de Polícia.
Lei 11.340/06 (Maria da Penha). Súmula 588do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.”
Súmula 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância[footnoteRef:16] nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.” [16: O critério de insignificância, criado por Claus Roxin, é uma técnica de interpretação da lei que permite afastar a incidência da norma penal por entender que embora esteja contida na descrição típica, a conduta não afeta o bem jurídico de modo relevante. Além de ajudar a cumprir a função de intervenção mínima do direito penal, é uma medida de política criminal, já que não se justifica mover a máquina estatal (custo, tempo, pessoal) para perseguir condutas dessa natureza. A bagatela, como também é chamado, vem sendo aplicada pelos tribunais brasileiros de modo oscilante, tendo o STF estabelecido critérios para sua aferição: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.] 
Lei 9.455/97 – Crime de Tortura. A norma menciona algumas majorastes. É preciso saber que a pena, nos crimes de tortura, vai ser aumentada de um sexto até um terço: se o crime é cometido por agente público; se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência[footnoteRef:17], adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; se o crime é cometido mediante sequestro. [17: Professora que se recusou aceitar um aluno surdo em sala de aula. É questão que enfrenta a discriminação ao portador de deficiência e a vedação à analogia in malam partem. Ver art. 8º, inciso I, da lei nº 7.853/89 (STJ. REsp nº 1022478/SP. Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura. 6ª Turma. Julgamento: 22/09/2011. Publicação: 09/11/2011).] 
Lei 9.605/98 – Crimes Ambientais. a) Fauna (arts. 29 a 37): Como a prática de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos;
b) Flora (arts. 38 a 53): condutas praticadas contra as florestas, as formas de vegetação, bem como sobre as áreas de preservação permanente, de unidade de preservação e da Mata Atlântica;
c) Poluição e outros crimes ambientais (arts. 54 a 61): Causar poluição de qualquer natureza em níveis em tais que possam causar danos à saúde humana, o que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora, assim, pode ser punido aquele que age culposamente;
d) Ordenamento urbano e patrimônio cultural (arts. 65): configura-se tal crime com as condutas de destruir, inutilizar ou deteriorar bens de valor reconhecido em sede administrativa ou decisão judicial, bem como promover a construção em solo não edificável, ou no seu entorno, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnológico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida;
e) Administração ambiental (art. 66 a 69-A): aquele que obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais.
Lei 7.210/84 – Lei de Execução Penal
O RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) não é regime de cumprimento de pena e, sim, sanção disciplinar. Características do RDD (art. 52 LEP):
I – Duração máxima de até 360 (trezentos e sessenta) dias
Varia de 1 (um) a 360 (trezentos e sessenta) dias, cabendo ao juiz individualizar a sanção disciplinar.
Observação: Em caso de nova falta grave e inclusão no RDD a sanção pode durar até 1/6 da pena aplicada.
1ª inclusão: o preso pode ser punido até 360 (trezentos e sessenta) dias de RDD
2ª inclusão: o preso pode ser punido até 1/6 da pena imposta.
3ª inclusão: existem duas correntes. A primeira corrente entende que a cada nova inclusão o tempo de RDD pode chegar a 1/6 da pena.
A segunda corrente entende que o 1/6 da pena imposta é o tempo máximo de RDD para as novas inclusões. Tempo máximo para todas as reinclusões somadas.
II – Recolhimento em cela individual.
Cuidado! Está proibido o emprego de cela escura ou insalubre (art.45 da LEP).
III – Visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas.
O que significa a expressão sem contar as crianças?
A primeira corrente entende que criança não é computada no número máximo de 2 (duas) pessoas. A visita de crianças está liberada, não entrando no limite máximo (prevalece esta corrente).
A segunda corrente entende que estão vedadas visitas de crianças para presos no RDD.
IV – Banho de sol por 2 (duas) horas diárias.
Lei 4.737/65 – Crimes Eleitorais. Entre os crimes eleitorais, destacam-se os contra a honra, a saber: calúnia, difamação e injúria, que são previstos respectivamente nos artigos: 324, 325 e 326 do Código Eleitoral.
A calúnia eleitoral é conceituada como atribuir fato ou conduta criminosa falsa a alguém, divulgando e expondo assim o ofendido, na propaganda eleitoral. Verifica-se que para ser caracterizado como crime eleitoral basta tão somente que uma pessoa estranha tome conhecimento. 
Atenção! No delito de calúnia eleitoral, não se admite a prova da verdade quando a pessoa ofendida responde a alguma ação na justiça, não transitada em julgado. 
Ou seja, ainda restam recursos judiciais para o seu fim. Também, ocorre o mesmo quando o ofendido tenha sido absolvido em sentença final de alguma ação judicial.
Lei 9.296/96 – Interceptação Telefônica. O acesso ao conteúdo de conversas pelo WhatsApp em celular apreendido durante flagrante pela polícia precisa de autorização judicial para ser considerado como prova em processo judicial. 
A decisão inédita foi da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao julgar um habeas corpus de um suspeito detido pela Polícia Militar em Rondônia.
Na decisão favorável à defesa, o ministro considerou que o acesso às conversas via WhatsApp, “forma de comunicação escrita, imediata, entre interlocutores”, representa “efetiva interceptação inautorizada” de comunicação.
Lei 8.069/90 – ECA. Um ponto importante é a Infiltração de Agentes de Polícia para a Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança e de Adolescente. Vejamos a regra in litteris:
“Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes regras: 
I – será precedida de autorização judicial devidamente circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério Público;
 
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou representação de delegado de polícia e conterá a demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas;
 
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial.
 
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste artigo. 
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo, consideram-se: 
I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;
II – dados cadastrais[footnoteRef:18]: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado para a conexão a quem endereçode IP, identificação de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão. [18: A Lei 13.709, conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), foi sancionada por Michel Temer em agosto de 2018 e entrará em vigor em agosto de 2020. Seu objetivo é regulamentar o tratamento de dados pessoais de clientes e usuários por parte de empresas públicas e privadas. O direito a ter os dados protegidos tem fundamento genérico na Constituição Federal de 1988. Recentemente, o Senado Federal aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC nº 17/2019) para incluir a proteção de dados disponibilizados em meios digitais no rol das garantias individuais da Carta Magna. O Marco Civil da Internet reconhece tal direito, entretanto, ainda de maneira vaga. Coube, então, a LGPD regulamentar a proteção e a privacidade dos dados pessoais de modo a tornar possível seu exercício.] 
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. 
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. Parágrafo único. 
Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir o sigilo das investigações. 
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). 
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos excessos praticados. 
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessárias à efetividade da identidade fictícia criada. 
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta Seção será numerado e tombado em livro específico. 
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante a operação deverão ser registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com relatório circunstanciado. 
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegurando-se a preservação da identidade do agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes envolvidos.” 
Já a difamação eleitoral, acontece quando se atribui um fato que ofenda honra da pessoa atacada. Veja que já uma diferença importante em relação à calúnia eleitoral. 
Na difamação eleitoral, pouco importa se o fato imputado seja falso ou verdadeiro. A lei eleitoral buscou proteger a reputação do sujeito no ambiente político, social e familiar.
Existe exceção? Sim. No caso da difamação eleitoral, admite-se a prova da verdade para o crime quando a pessoa ofendida for funcionário público. 
Exemplificando: Se Pedro acusa André, que é funcionário público e no exercício do seu trabalho, de se embriagar durante o serviço ou que tem o costume de atender à população de forma grosseira e ríspida durante o seu trabalho nas eleições, terá Pedro o direito de comprovar tal acusação (prova da verdade) contra André? Neste caso, sendo verdade, Pedro não sofrerá nenhuma punição.
No caso da injúria eleitoral acontece quando há uma a ofensa contra a dignidade ou respeito individual perante o interesse social ligado ao processo eleitoral. 
Ou seja, aqui há uma proteção da imagem que o próprio ofendido faz de si mesmo. 
A intenção do agressor é manchar a imagem pessoal do ofendido, através da propaganda eleitoral. 
A lei eleitoral protege o nome que a pessoa construiu dentro do partido político, coligação, sociedade e família. Então, aqui também tem a exceção. 
Caso o ofendido, de forma reprovável, der causa diretamente a injúria ou, se for na situação de troca imediata de injúrias entre as partes, o juiz poderá deixar de aplicar a pena. 
Para todos estes crimes eleitorais (calúnia, difamação e calúnia eleitorais), em caso de desobediência da lei, tem a pena de detenção, indo de 03 (três) meses a dois anos mais multa[footnoteRef:19]. [19: Ambas as variáveis ficam entre um valor mínimo e um valor máximo estabelecidos pela lei. O valor de um dia-multa varia entre 1/30 de um salário mínimo e 05 (cinco) salários mínimos. Em fevereiro de 2017 o menor dia-multa é R$31,23 (R$937 / 30) e o maior valor de um dia-multa é de R$4.685,00 (R$937 x 5).] 
A atual Lei de Segurança Nacional, a Lei 7.170, de 14 de dezembro de 1983 que define os crimes contra a segurança nacional, a ordem social e política, além de estabelecer seu processo e julgamento.
A Lei nº 7.170 de 1993 define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e a social, e prevê que quem praticar os atos descritos na mesma, por discordar do sistema político; ou com objetivo de obter dinheiro para manutenção de organização clandestina ou ilícita.
Dentre as condutas delituosas previstas na lei estão os atos de devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo.
O artigo 20 da referida lei enumera diversos atos criminosos que quando praticados com intuito de inconformismo político ou para obter fundos para manter organização ilícita, são passíveis de pena de reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos. A pena pode ser dobrada se o resultado for lesão corporal grave, e triplicada se resultar em morte. 
O intuito da norma é proteger a segurança nacional, mais especificamente, a integridade territorial e a soberania nacional; o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito; bem como as autoridades que representam os Poderes da União.
Nosso país conheceu diversas Leis de Segurança Nacional, a saber: Lei 38, de 04 de abril de 1935; Lei 1.802 de 05 de janeiro de 1953; Decreto-Lei 314, de 13 de março de 1967; Decreto-Lei 898 de 29 de setembro de 1969; Lei 6.620, de 17 de dezembro de 1978 e a vigente Lei 7.170, de 14 de dezembro de 1983.
A referida lei prevê como criminosas condutas que atentem contra “integridade nacional e a soberania nacional” (art. 1, inc. I), “a pessoa dos chefes dos Poderes da União” (art. 1, inc. III) e, como uma nota de ironia, “o regime representativo e democrático, a federação e o Estado de Direito” (art. 1, inc. II).
Algumas inadequações constitucionais estão estipuladas na precitada lei. O aprisionamento cautelar durante a investigação se dá por “necessidade justificada” (art. 33) e se mostra incompatível com o Código de Processo Penal e o com a Constituição Federal, particularmente no art. 93, IX da CF/1988. 
E prevê ainda, a incomunicabilidade do investigado (§ 3º do art. 33) é medida impensável sob as luzes do art. 7º, inc. III e do art. 136, § 3, inc. IV da CF/1988. 
Cumpre lembrar que “A exigência de motivação dos atos jurisdicionais constitui, hoje, postulado constitucional inafastável, que traduz, em sua concepção básica, poderoso fator de limitação do próprio poder estatal, além de constituir instrumento essencial de respeito e proteção às liberdades públicas. Atos jurisdicionais, que descumpram a obrigação constitucional de adequada motivação decisória, são atos estatais nulos".
Importante salientar que há normas internas com status constitucional, infraconstitucional e internacional[footnoteRef:20] (arts. 1, 2, a, b e d do Pacto de San Jose da Costa Rica) permitindo a comunicabilidade do preso. [20: Os crimes de “lesa humanidade” julgados pelo TPI são: o genocídio(art. 6º), os crimes contra a humanidade (art. 7º), os crimes de guerra (art. 8º) e os crimes de agressão (art. 9º). O genocídio significa destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso. A Lei nº 2.889/56 traz conceito semelhante e é uma norma penal em branco ao revés. O crime contra a humanidade é um ataque sistemático ou generalizado contra a população civil. Os crimes de guerra são violações graves às Convenções de Genebra de 1949. Por fim, os crimes de agressão são as violações referentes à Convenção da ONU de 1974. No Brasil, o TPI passa a viger apenas em 2002, a partir do Decreto nº 4.388/2002. O art. 7º do ADCT estabelecia que “O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos”. Posteriormente, a EC nº 45/2004, acrescentou o § 4º, no art. 5º, da CF, dispondo que “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”.
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A partir da promulgação da Emenda Constitucional 45/2004 (Reforma do Judiciário), os tratados relativos aos direitos humanos passaram a vigorar de imediato (grifo meu) e a ser equiparados às normas constitucionais[footnoteRef:21], devendo ser aprovados em dois turnos, por pelo menos três quintos dos votos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. [21: A Convenção Americana de Direitos Humanos completará em 23 de novembro próximo, 51 anos. O tratado, também chamado de Pacto de San José da Costa Rica, foi assinado em 22 de novembro de 1969, na cidade de San José, na Costa Rica, e ratificado pelo Brasil em setembro de 1992. A convenção internacional procura consolidar entre os países americanos um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito aos direitos humanos essenciais, independentemente do país onde a pessoa resida ou tenha nascido. O Pacto baseia-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que compreende o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria e sob as condições que lhe permitam gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos. O documento é composto por 81 artigos, incluindo as disposições transitórias, que estabelecem os direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito à vida, à liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à educação, entre outros. A convenção proíbe a escravidão e a servidão humana, trata das garantias judiciais, da liberdade de consciência e religião, de pensamento e expressão, bem como da liberdade de associação e da proteção a família.
] 
O primeiro deles a ser recebido como norma constitucional a partir da EC 45/2004 foi a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência[footnoteRef:22], voltada para a inclusão social dessas pessoas e a adaptabilidade dos espaços. [22: Reconhecendo também que a discriminação contra qualquer pessoa, por motivo de deficiência, configura violação da dignidade e do valor inerentes ao ser humano. Discriminação por motivo de deficiência” significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as formas de discriminação, inclusive a recusa de adaptação razoável;] 
Teoria elaborada pelo professor Jésus-Maria Silva Sanches, professor catedrático da Universidade Pompeu Fabri, Barcelona, que escreveu o livro “A expansão do direito penal”, onde desenvolveu a teoria das velocidades do direito penal. 
Essa teoria leva em conta o tempo que o Estado leva para punir alguém que cometeu uma infração penal. Se o Estado responde de maneira mais lenta na prática de um delito com a possibilidade de prisão no final do processo, temos o chamado direito penal de primeira velocidade. 
Se o Estado responde mais rapidamente do que a primeira, mas ao invés de aplicar a pena de prisão no final do processo aplica outra medida não privativa de liberdade, temos o de segunda velocidade. Se o Estado responde de maneira imediata, impondo prisão e restringindo direitos e garantias fundamentais e recrudesce na aplicação da pena, temos o de terceira velocidade. 
Essa teoria leva em conta a relação entre espaço e tempo. Se o espaço entre os atos processuais e a aplicação da pena for longa garantindo-se ao acusado todas as garantias constitucionais e processuais do devido processo legal sem relativizar essas garantias estamos diante do direito de primeira velocidade. Ex: procedimento ordinário do CPP.
No direito de segunda velocidade eu relativizo direitos e garantias fundamentais, flexibilizo princípios e normas processuais e no final do processo não aplico a pena de prisão, mas a substituo por penas alternativas não privativas de liberdade. 
Exemplo é a Lei 9.099/95 (Juizado Especial) que possibilita a aplicação do instituto da transação penal bem como a suspensão condicional do processo. 
No direito de terceira velocidade ocorre uma flexibilização, relativização dos direitos e garantias fundamentais. Ocorre uma ação mais rápida do estado e com prisão, é uma somatória da prisão do direito de primeira velocidade com a relativização e flexibilização da segunda velocidade. Tenho a supressão de direitos, relativização de direitos e garantias com prisão. 
A ação do Estado é intensa e rápida. Sensação de impunidade cai. Sensação de injustiça diminui. Exemplo: é a Lei nº 8.072/90 (crimes hediondos) e Lei do Abate, dentre outras do ordenamento jurídico pátrio. 
Hoje em dia se fala, inclusive, no direito penal de quarta geração. No art. 5º, §4º da CF o Brasil é signatário do Tribunal Penal Internacional que teria a função de julgar crimes contra a humanidade, o lesa-humanidade, e estaria dirigida contra Chefes de Estados nos crimes de genocídio. 
Eis que teríamos a supressão total de direitos e garantias fundamentais e celeridade máxima na aplicação da pena. São crimes imprescritíveis e com pena de prisão perpétua.
O Direito Penal do Inimigo exsurge dentro do Funcionalismo[footnoteRef:23] Radial (Sistêmico, Monista ou Normativista) do professor alemão Günther Jakobs, o qual fundamentou sua tese com a argumentação de que o Direito Penal é a organização responsável por proteger à norma. [23: Funcionalismo Teleológico (base em Claus Roxin) protege os bens jurídicos relevantes, conhecido como garantismo, sendo necessário a verificação de todas as garantias antes da aplicação da norma.] 
Dessa forma, buscou em grandes estudiosos, entre eles Rousseau, Hobbes e Kant, seu referencial teórico para a construção de sua própria doutrina. Jesús-Maria Silva Sánchez, por outro lado, foi o idealizador da noção das “velocidades do Direito Penal”. 
Esta retrata o tempo que o Estado leva para punir o autor de uma infração penal, seja ela mais ou menos grave. Ou seja, elas devem ser compreendidas como as maneiras de reação (respostas) do Estado perante as diversas possibilidades de ação (condutas) a serem praticadas pelo infrator
A Teoria do Bem jurídico em face do Direito Penal Contemporâneo
Diante dos avanços tecnológicos e científicos, o advento de novas políticas criminais[footnoteRef:24] enquadradas no contexto capitalista vigente, que alteraram a concepção de Direito Penal. [24: De fato, há uma falta de política criminal definida no Brasil, mesmo diante altíssimas taxas de criminalidade, desde 1894 com as ideias de Rafael Garofalo que utilizou o termo pela primeira vez para simplesmente tentar explicar e desenvolver as novas estratégias de controle do fenômeno criminal. Aliás, a discussão destas teorias e sugestões de novas estratégias comumente fica restrita aos setores específicos, como as universidades. Porém, nosso país, onde 11,8 milhões de pessoas são analfabetas, 52% da população não tem o diploma de ensino médio e, tão-somente 14% da população chegou ao ensino superior, o que reduz sensivelmentea real possibilidade de discussão sobre tal problemática.
] 
E, os meios de comunicação divulgam e banalizam constantemente a prática da criminalidade cotidiana. O que impõe ao Direito Penal o atuar inclusive no sentido de novos ramos, como a economia, o ambiente ou o consumo. 
E, tais propostas são sempre direcionadas ao aumento de hipóteses típicas e ao recrudescimento das penas já existentes, consistindo em autêntico expansionismo punitivo.
Exemplo prático da atuação do Direito Penal Contemporâneo de maneira máxima são as propostas de emendas que visam abolir direitos e garantias individuais, tendentes a implementar as penas de morte e de prisão perpétua no Brasil, ainda que contrariem o disposto no artigo 60, §4º, IV, da Constituição Federal.
No contexto do expansionismo punitivo, surge, em sentido diametralmente oposto ao movimento abolicionista, o chamado movimento de “Lei e Ordem” [footnoteRef:25], propagador de um discurso do Direito Penal Máximo. [25: Lei e Ordem ou Law & Order foi a política criminal vigente nos EUA, especialmente a partir dos anos oitenta. E, seus teóricos, em geral, endossam maior atuação policial de forma a restaurar a ordem nos grandes centros urbanos e, consequentemente, diminuir a criminalidade. Tal movimento serviu de contraponto ao abrandamento da repressão policial que se deu no período após a Segunda Guerra Mundial e se justificava pela necessidade de combater pequenos delitos ou delinquência que se multiplicava nas metrópoles, os quais causavam sensação generalizada de insegurança. Tal movimento de política criminal ganhou embasamento teórico com a publicação em 1975 da obra intitulada "Pensando sobre o delito", do criminólogo James Q, Wilson, que associado à direita punitiva americana e galgou maior fama com a obra intitulada “Fixing Broken Windows” (Consertando Janelas Quebradas), dos também criminólgos George L. Kelling e Catherine M. Coles, suas aplicações práticas manifestaram-se no governo Ronald Reagan (1981-1989) e, posteriormente, no governo de Rudolph Giuliani, prefeito de Nova Iorque entre 1994 e 2001.
] 
A mídia, ao final do século passado e início do atual, foi quem divulgou citado discurso. Desse modo, profissionais não habilitados (jornalistas, repórteres, apresentadores) se julgaram habilitados a criticar as leis penais e, como mencionado anteriormente, que convenceram a sociedade a acreditar que, mediante o recrudescimento do Direito Penal, livrar-se-ia daquela parcela de indivíduos não adaptados. É o império do senso comum contra o conhecimento científico e jurídico.
O desafio do direito penal no Século XXI encontra-se não somente na busca pela aplicação justa e igualitária dos princípios basilares que o alicerçam, mas também no combate à falta de eficiência das leis penais a serem aplicadas, uma vez que possuem como ambientação teórica períodos passados da história, desta forma não atingindo os objetivos adequados às necessidade sociais atuais.
No âmbito da colisão de princípios[footnoteRef:26], o que se observa na jurisprudência das Cortes Superiores é que não existem direitos constitucionais absolutos, pois os mesmos deverão se conciliar conforme as circunstâncias do caso concreto e assim ao operador do direito cumpre tal valoração[footnoteRef:27]. [26: Alexy ensina que todos os princípios a priori têm o mesmo valor e peso. Caso colidam, deve ser ponderado no caso concreto qual princípio deve prevalecer para fazer justiça. Não se resolve o conflito eliminando um dos princípios do rol dos princípios; também não se estabelece uma regra geral pela qual um princípio prevalece diante de outro, e tampouco se estabelece uma regra de exceção, pela qual em tese um princípio prevalece, mas que em certos casos pode prevalecer outro. Assim, não existe uma preferência absoluta de um princípio diante de outro, mas, sim, uma preferência condicionada. Alexy escreve literalmente: A resolução da colisão consiste, ao contrário, em se estabelecer, tendo em vista as circunstâncias do caso, uma relação condicional de precedência entre os princípios. O estabelecimento da relação condicional de precedência, por sua vez, consiste em que, em referência ao caso, sejam indicadas as condições sob as quais um dos princípios precede o outro. A colisão se resolve pela ponderação no caso concreto, mas a lei da colisão, elaborada por Alexy, diz que, se as condições em dois casos diferentes são iguais, deve prevalecer em ambos os casos o mesmo princípio; porém se as condições concretas são diferentes pode prevalecer no conflito dos mesmos princípios o outro princípio. Assim, a solução da colisão de princípios se dá no caso concreto mediante a ponderação. Como os princípios são "mandados de otimização”, devem ser aplicados, para melhor atender à necessidade da sociedade. Antes, porém, de analisar se um princípio no caso concreto pode ser invocado, deve ser avaliado se o pretendido é adequado e necessário.
] [27: Segundo Juarez Cirino dos Santos, do ponto de vista do direito penal, o princípio da proporcionalidade se desdobra em três princípios parciais que podem ser resumidos na formulação de três questões (ver, nesses exatos termos: CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lúmen Juris, 2006, p. 27): 1) princípio da adequação: a pena criminal é um meio adequado (entre outros) para realizar o fim de proteger um bem jurídico? 2) princípio da necessidade: a pena criminal (meio adequado entre outros) é, também, meio necessário (outros meios podem ser adequados, mas não seriam necessários) para realizar o fim de proteger um bem jurídico? 3) princípio da proporcionalidade em sentido estrito: a pena criminal cominada e/ou aplicada (considerada meio adequado e necessário), é proporcional à natureza e extensão da lesão abstrata e/ou concreta do bem jurídico?] 
Destaca-se, também, a influência que a mídia exerce na construção de um direito penal seletivo, omitindo a ineficaz atuação do Estado quanto ao combate das desigualdades sociais e sua relação com o poder punitivo. 
A imprensa utiliza-se de meios de comunicação para ocultar a política de perseguição aos segmentos excluídos da sociedade, sendo estes setores vulneráveis e inaptos à sociedade de consumo.
Exerce ainda um papel de dominação e disseminação da insegurança como um todo, que tem como consequência o clamor pela coerção estatal, o imediatismo punitivo para com a classe menos favorecida. 
Alguns programas e notícias propagados pela mídia acabam sendo benevolentes com a seletividade penal e com a criminalização da classe pobre. 
Desta forma, os meios de comunicação são vistos como uma moderna ferramenta de dominação social, uma vez que (in) conscientemente impõe o que a população deve pensar e como reagir, criando um imaginário social da criminalização da pobreza e a necessidade de um Estado policial, em que a pena privativa de liberdade é vista como a única alternativa para o crime.
Em uma perspectiva criminológica, o Direito Penal que se nos apresenta para o século XXI, aponta para o fato de que a disciplina criminologia está em segundo plano no ensino jurídico atual e a Criminologia Crítica detém pouco espaço no ensino da criminologia.
O bem jurídico encontra-se na matriz do Direito Penal Contemporâneo que busca compatibilizar a essência do Direito Penal tradicional com os novos e atuais anseios sociais, efetivando o chamado Estado de Bem-Estar Social[footnoteRef:28]. [28: O Estado do Bem-Estar Social representa modo de organização no qual o Estado se encarrega da promoção social e da economia. A partir da década de 1930, então, expandiu-se o modelo chamado de Estado de Bem-Estar Social, no qual o Estado é organizador da política e da economia, encarregando-se da promoção e defesa social. O Estado atua ao lado de sindicatos e empresas privadas, atendendo às características de cada país, com o intuito de garantir serviços públicos e proteção à população. Os países europeus foram os primeiros e principais incorporadores do modelo que agradou os defensores da social-democracia.A principal referência no continente veio da região escandinava. Até hoje, Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca são destaques na aplicação do Estado de Bem-Estar Social e são países que estão no topo do ranking de melhor Índice de Desenvolvimento Humano. O Estado de Bem-Estar Social ganhou ainda mais terreno com a inclusão do conceito de cidadania, propagado após a queda dos regimes totalitários na Europa. Associou-se à ideia de que os indivíduos são dotados de direitos sociais. O modelo de organização estatal concede aos indivíduos bens e serviços públicos durante toda a vida. Os direitos sociais conferem serviços de educação, saúde, seguridade e lazer.] 
O processo expansionista do Direito Penal que deixou de lado as premissas da Escola Penal de Frankfurt, atendendo aos novos interesses e controlando os novos riscos à sociedade humana. Porém, deve-se entender a sua verdadeira causa e os fatores que lhe deram forma, como por exemplo, o descrédito de outras instâncias jurídicas de proteção.
De igual modo não se pode ter em mente que apenas a proliferação de normas penais seja suficiente para conter os efeitos nocivos de sua dinâmica social, sob pena de se criar uma autêntica ilusão de segurança e de contenção de delinquência urbana, resultados simbólicos da sociedade.
Deu-se a evolução da sociedade em como resultado inerente ao processo de globalização mundial, quando novas atividades dão origem aos novos riscos que não podem ficar à margem do Direito. Este é o reflexo dos fatos sociais que circundam a sociedade como um todo, devendo proteger o bem da vida que esteja sob ameaça de lesão.
No entanto, o busilis enfrentado pelo Direito Penal é ser regido por princípios como a ultima ratio e a fragmentariedade, sobre bens jurídicos supraindividuais, o que causa enorme celeuma doutrinária. Vige um sutil liame existente entre a tutela penal de bens jurídicos supraindividuais, que reflete uma tutela eficiente e correspondente às necessidades humanas e uma torrencial onda de leis, normas e princípios, resultando na administrativização do Direito Penal.
Busca-se encontrar um caminho do meio, um equilíbrio que vai direcionar a sociedade para trilhas mais seguras de desenvolvimento, porém, ao mesmo tempo respeitar a ideia de Direito Penal Mínimo[footnoteRef:29], cujo denominador comum se revela em ser uma vocação restritiva do Direito Penal, que somente intervém somente em casos em que as demais esferas não foram eficazes. [29: É corrente doutrinária, que vem ganhando, jurisprudencialmente, o nome de princípio do direito penal mínimo. Defende que a privação de liberdade deve ser imposta apenas nos casos em que há risco social efetivo. Tem como extremos opostos as teorias do Direito Penal Máximo e do Abolicionismo Penal.
O princípio da intervenção mínima da lei penal não se confunde com o princípio da insignificância. Enquanto o primeiro se destina ao legislador quando elabora as normas criminais, o segundo é dirigido ao juiz para considerar o valor da lesão quando individualiza a pena. A respeito, o precedente relatado pelo Min. CELSO DE MELLO no sentido de que o Direito Penal não se deve ocupar de condutas cujo desvalor do resultado ”não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social” (STF, HC 92.463 (RS), 2ª T., DJ 31/10/2007). Pelo minimalismo penal, propõe-se a diminuir os usuários do sistema carcerário, aprisionando somente os sujeitos que cometeram delitos mais graves. Isto é: aplicar as penas alternativas, além de inserir outras esferas para a resolução desses conflitos. Assim, a violência é, desde logo, tida como problema social, mas igualmente problema semântico, porque somente a partir de um determinado contexto social, político e econômico pode ser valorada, explicada, condenada ou defendida. Não há, pois, um conceito de violência estático ou ahistórico que pode dar-se à margem do problema social em que surge. Não existe também uma fórmula mágica, um critério objetivo que seja plenamente válido para todos os tempos e lugares, que nos permita valorar aprioristicamente, a bondade e a maldade de um determinado tipo de violência.
] 
Enfim, para prover a pacificação social e manutenção de segurança são várias propostas são apresentadas e, por fim, o tema galga maior relevância quanto dos acontecimentos que causam o maior repúdio à sociedade, como é o caso de crimes econômicos, crimes contra ao meio ambiente e, etc.
Infelizmente existe sólida sensação de impunidade que a falta de repressão adequada a esses tipos de delitos é de tamanha dimensão que culmina que atentem aos interesses comuns, o que justifica e legitima o processo expansionista do Direito Penal[footnoteRef:30]. [30: A expansão do direito penal se caracteriza pela criação legislativa de novos tipos penais, que apresenta como objetivo declarado a proteção de bens jurídicos coletivos, dos quais somente nessa época se reconhece a importância da tutela por meio do direito penal, como tipos penais destinados à proteção ambiental e do sistema econômico. Ademais, para prevenção desse tipo de criminalidade se faz uso de normas mandamentais, outra característica da expansão. Dentro desse fenômeno, o que se percebe é uma progressiva diluição dos limites entre o direito penal e o direito administrativo em geral (sancionatório e de prevenção de perigos). Torna-se cada vez mais difícil determinar distinções teóricas entre esses ramos do ordenamento jurídico, pois ambos se concentram em sua função preventiva. Silva Sánchez tem chamado esse processo de “administrativização do direito penal” (SILVA SÁNCHEZ, 2006, p. 131), e entende que se trata de um dos principais problemas da política criminal contemporânea, pois se pode afirmar que, nas sociedades pós-industriais, uma característica do direito penal é assumir a forma de raciocínio do direito administrativo. É isto que se quer afirmar quando se refere à “administrativização” em que está imerso o direito penal contemporâneo. Mais que isso: além de utilizar o tipo de raciocínio próprio do direito administrativo, o direito penal transformou-se em um direito de gestão ordinária de problemas sociais.] 
No afã de garantir uma sociedade justa e de bem-estar social, deve-se alargar o bem jurídico que é objeto de tutela penal, encontrando nas funções da pena a verdadeira contenção dos distúrbios sociais, proclamando um autêntico Estado Social e Democrático de Direito.
Sempre jaz uma relevante questão social por detrás de toda controvérsia, apresentada, que circunda os níveis sociais abarcados em cada tipo penal presente no ordenamento jurídico pátrio.
Considerando que os crimes somente podem recair sobre bens jurídicos individuais, tutelando, em essência, o direito à vida, à liberdade, ao patrimônio e, estará naturalmente punindo, com isso, o cidadão de classe social menos favorecida.
Por outro lado, os crimes cometidos pelas classes sociais mais abastadas são aqueles que demandam maior estrutura organizacional, uma cadeia interligada de agentes que é capaz de atingir resultado mais vantajoso financeiramente.
São crimes cometidos por grandes empresas as associações criminosas que com pequenos delitos alcançam vultuosas somas de dinheiro.
Existe, assim, nítido interesse em afastar tais infrações penais da categoria de crimes, defendendo a sua repressão por meio de sanções administrativas e, estas, resultam, geralmente em comunicações pecuniárias, o que não representa o caráter repressivo da pena, ou em penas restritivas de direitos que também não alcançam os organizadores dessas estruturas criminosas, mas no máximo alguém eleito para exercer o ato material em concreto.
O progresso expansionista do Direito Penal é primordial para se entender as diferenças entre o seu padrão original e aonde este precisa chegar para atender os anseios da sociedade, garantindo-lhe a necessária segurança, evitando-se que se tornem cada vez mais vítimas.
Lembremos que o direito penal clássico também conhecido como direitopenal liberal tradicional que teve origem, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX, sob a nítida inspiração das ideias iluministas[footnoteRef:31]. [31: A importância do Iluminismo para a formação do direito penal moderno é suficientemente reconhecida em todos os manuais e tratados de direito penal escritos no Brasil. Tal reconhecimento, porém, nem sempre é acompanhado do aprofundamento histórico-jurídico necessário para a compreensão tanto da centralidade do problema penal do século XVIII quanto para uma avaliação mais criteriosa das rupturas e continuidades existentes entre o Iluminismo jurídico-penal e os outros momentos, anteriores e posteriores, da cultura jurídico-penal ocidental. Desta maneira, ao contrário da busca pela origem tranquilizadora que perpassa as introduções históricas de tantos livros didáticos de direito penal, o objetivo dos textos que compõem este livro é problematizar esta origem, bem como perceber as especificidades históricas de tal discurso. Para executar essa tarefa selecionamos alguns dentre os pontos da história do Iluminismo jurídico-penal que consideramos de especial interesse para o leitor brasileiro. Assim, começamos com Cesare Beccaria, passamos por seu “discípulo” Jeremy Bentham, pela questão dos crimes políticos entre o Iluminismo e a Revolução Francesa, chegando às reverberações do Iluminismo do direito penal brasileiro do princípio do século XIX.] 
Defendia uma construção do direito penal calcada no paradigma do direito subjetivo, tutelando provisoriamente as lesões aos direitos fundamentais da pessoa. 
O direito penal clássico foi formado originalmente num contexto de arbitrariedades estatais, o direito penal tradicional, tem como escopo principal a limitação de bens jurídicos tutelados e das sanções taxativamente, cominados, vinculando a atuação estatal aos parâmetros previamente estabelecidos, garantido assim, as liberdades individuais e os direitos fundamentais dos cidadãos subordinados a este.
Trata-se de direito penal que objetiva uma dupla finalidade, a saber: além de reduzir os índices de violência social através de uma coação física ou psicológica do cidadão, garante, sobretudo, a limitação do jus puniendi estatal admitindo outros defensores renomados.
A partir da Revolução Francesa exigiu-se que o atuar do Estado fosse regido pelas ideias de igualdade, liberdade e fraternidade[footnoteRef:32], o que trouxe mudanças no cenário político e consequentemente jurídico. [32: Essas três palavras eram muito usadas durante a Revolução Francesa. A primeira vez que elas apareceram foi no “Discours sur l’organisation des gardes nationales” de Robespierre, impresso e difundido em dezembro de 1790: “Article XVI. Elles porteront sur leur poitrine ces mots gravés: LE PEUPLE FRANÇAIS, et au-dessous: LIBERTÉ, ÉGALITÉ, FRATERNITÉ. Les mêmes mots seront inscrits sur leurs drapeaux, qui porteront les trois couleurs de la nation.” Porém essas três palavras já tinham aparecido no jornal “Les révolutions de France et de Brabant” sobre a Fête de la Fédération de 14 de julho de 1790: “après le serment surtout, ce fut un spectacle touchant de voir les soldats citoyens se précipiter dans les bras l’un de l’autre en se promettant, liberté, égalité, fraternité.”
Em 1793, a cidade de Paris escreveu na fachada do Hôtel de Ville (Prefeitura), em todos os edifícios públicos de Paris e nos monumentos aos mortos: “La République une et indivisible – Liberté, Égalité, Fraternité ou la mort“ (República una e indivisível – Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou a morte).
Porém, esse lema desapareceu durante o Império e a Restauração, antes de ressurgir com a revolução de 1830. Com a revolução de 1848, esse lema passa a ser adotado oficialmente pela França sendo escrito nas fachadas dos prédios públicos. Com a Constituição de 1848, o lema “Liberté, Égalité, Fraternité “é definido como um princípio da República. Porém, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo de Vichy troca o lema “Liberté, Égalité, Fraternité “por “Travail, Famille, Patrie” (trabalho, família, pátria), inclusive sendo encontrada nas moedas que circularam até 1960.] 
As Constituições passaram então a estabelecer as garantias individuais, sobretudo, no que tange ao ius puniendi. A dignidade da pessoa humana passou a se apresentar, como alicerce axiológico da Lei Maior, regendo todos os ramos do direito, principalmente direito penal.
Aliás, conforme leciona Luiz Flávio Gomes[footnoteRef:33], in litteris: “Adotados os clássicos liberais, a sanção penal consistente na privação da liberdade somente pode ter incidência quando absolutamente necessária, é dizer, quando outros meios não se apresentem como mais idôneos (subsidiariedade) do direito penal, e mesmo assim, tão-somente diante dos ataques mais intensos (para os bens jurídicos mais relevantes) ou que possam causar ao menos sério e concreto risco de dano (perigo concreto) para o interesse tutelado (fragmentariedade) do direito penal”. [33: Luiz Flávio Gomes é um jurista, professor e político brasileiro, filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) e, atualmente deputado federal por São Paulo. É fundador da Rede LFG, primeira rede de ensino telepresencial da América Latina. Licenciou-se do mandato de Deputado(a) Federal, na Legislatura 2019-2023, para trato de Licença para Tratamento de Saúde, pelo prazo de 121 dia(s), a partir de 12 de fevereiro de 2020.] 
No esteio da Segunda Grande Guerra mundial, o direito penal se preocupou em tutelar os direitos individuais, visto que refletiam o maior anseio da sociedade configurando um forte progresso social e criminal.
Para tanto, é indispensável a concretização de princípios tais como a taxatividade e legalidade, garantindo o exercício de poder pelo Estado, dentro dos parâmetros ao Estado conferido pelo povo.
Se na Idade Moderna, representou grande progresso social, atualmente, tem-se como um discurso de resistência, na medida em que restringe demasiadamente o campo de atuação estatal, buscando aplicar um direito penal mínimo.
O doutrinador Paulo Queiroz afirma in litteris: “Dizer que a intervenção do Direito Penal é mínima, significa dizer, que o Direito Penal deve ser a ultima ratio[footnoteRef:34], limitando e orientando o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta somente se justifica se constituir um meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico. [34: A intervenção mínima (ultima ratio, em latim) é um princípio destinado ao legislador como critério quando da seleção de crimes e se baseia na ideia de que o direito penal só pode ser invocado em caso de extrema necessidade e quando se afigure como meio idôneo. Isso se fundamenta no fato da pena ser o meio mais gravoso de intervenção legal (tem a prisão como principal pena) e gerar danos de difícil reparação para aquele a que é impingida, podendo ser forma de estigma e fonte de novos conflitos. Esse princípio advém de uma reação à enorme expansão que o direito penal conheceu nos últimos anos, se tornando muitas vezes a primeira e única saída a que recorre o Estado para responder aos anseios sociais. Por isso, dentro da lógica da intervenção mínima se extrai os princípios de subsidiariedade e fragmentariedade. A subsidiariedade se refere à necessidade de adotar respostas alternativas fora do campo penal, como o civil e o administrativo. A fragmentariedade requer que somente as lesões mais aos bens jurídicos mais importantes sejam passíveis de pena, sendo assim um sistema descontínuo de proteção.] 
O Direito Penal somente deve atuar quando os demais ramos do Direito forem insuficientes para proteger os bens jurídicos em conflito.
A noção de bem jurídico era indissociável dos direitos individuais, desconsiderando-se que os bens jurídicos coletivos, ao serem lesionados, poderia afetar de forma crucial a vida em sociedade, merecendo repreensão não somente nas esferas cível e administrativa, mas uma sanção que impedisse o definhamento do tecido social.
Outrora, a sociedade permaneciaem constante evolução, o que fez com que outros delitos, até então invisíveis aos olhos da sociedade e do Estado, se tornassem alvo da tutela penal, fazendo nascer uma infinita discussão acerca da expansão do Direito Penal.
Foi a Revolução Industrial que representou um marco para o processo de expansão do Direito Penal. As sociedades que antes eram majoritariamente rurais migraram para as cidades e, passaram a realizar atividades laborais voltadas para produção industrial.
É fato incontroverso que a ideia de direito penal, tradicionalmente, idealizado encontra-se fragilizada diante do incontrolável aumento da criminalização mundial.
Enquanto que para alguns estudiosos, a expansão da tutela penal transformaria o direito penal em simbólico. Já para outros seria o verdadeiro combate à criminalidade, que, se transmuda ao longo da história.
O que se põe em dúvida, não é o Direito Penal em si mesmo, mas, o modo pelo qual tradicionalmente este fora compreendido. Seria o mesmo que assistir à transformação daquele direito penal nascido no Iluminismo e desenvolvido cientificamente por distintas correntes doutrinárias da escola clássica e do neokantismo[footnoteRef:35] durante os primeiros decênios do século XIX. [35: Max Ernst Mayer, Edmund Mezger e Reinhard Frank foram os principais colaboradores da doutrina neoclássica, inspirados pela corrente filosófica desenvolvida na Alemanha no final do Século XIX, o Neocriticismo, ou Neokantismo – a qual, por sua vez, preconizava o retorno aos princípios de Immanuel Kant – romperam com alguns paradigmas defendidos pelos causalistas clássicos, pontuando o sistema jurídico-penal com nuances valorativas, frente aos parâmetros puramente descritivos de outrora.
Jeschek (1981, apud Bitencourt, 2010, p. 248) salienta que os juristas alemães da época foram influenciados de “forma essencial pela teoria do conhecimento do neokantismo (Stammler, Rickert, Lask) que, junto ao método científico-naturalístico do observar e descrever, restaurou a metodologia própria das ciências do espírito, caracterizada pelo compreender e valorar”. A sobredita “normativização” (orientação axiológica) do Neokantismo, por conseguinte, credencia a Teoria Neoclássica como um sistema referido a valores, em que há uma substituição dos elementos formais descritivos – da Teoria Naturalista – por elementos materiais. Tais elementos, que ensejam juízo de valor, são denominados de elementos normativos (valorativos).] 
Esse direito penal é paradigma explicativo do poder penal, da ordem normativa sancionadora e, de seus fins e técnicas de legislação e para a partir daí, sofrer suas consequentes adequações acompanhando pari passu a evolução social.
Registraram-se resultados nocivos por conta de excessos praticados nos meios de telecomunicações e fomentam incertezas e inseguranças contribuindo para aumentar o medo das sociedades de risco.
As causas da provável existência de novos bens jurídicos penais são, seguradamente distintas. Por um lado, cabe, considerar a conformação, ou generalização de novas realidades que antes não existiam, ou não com a mesma incidência, e em cujo contexto há de viver o indivíduo, que se vê influenciado por uma alteração daquelas.
(...) Por outro lado, deve aludir-se à deterioração de realidades tradicionalmente abundantes que em nossos dias começam a manifestar-se como bens escassos, aos quais se atribui agora um valor que anteriormente, não lhes correspondia, ao menos, de modo expresso. (...)
Em terceiro lugar, há de contemplar o incremento essencial de valor que experimentam, como consequência da evolução social e cultural, certas realidades que sempre estiveram ali, sem que se reparassem nas mesmas.
Depreende-se um processo lógico de evolução da sociedade diante da evolução tecnológica. Perante uma nova realidade social, o direito penal deve reagir em face clamor popular, por segurança e justiça e, é justamente esse atuar estatal inovador que forma o processo de expansão do direito penal.
A crítica reside na criação de um direito penal simbólico[footnoteRef:36] que tenta proteger, porém, quase nada protege. E, isto se daria porque as normas estariam atendendo aos latentes apelos, refletindo medidas emergenciais que atenderiam a uma necessidade mais urgente, mas não resolveriam os problemas em sua origem. O direito penal simbólico é um falso remédio. [36: O Direito Penal simbólico é um fenômeno que nasce do sentimento de urgência que o Estado manifesta quando a aplicação indevida do Direito Penal, aliada às poucas políticas de prevenção da criminalidade, mostra consequências de efeitos eleitorais indesejáveis – como o crime, a violência e todo o quadro social em que geralmente se inserem estes dois elementos. Antes de uma conceituação de Direito Penal Simbólico, é importante revisitar o conceito de Direito Penal, para que os efeitos negativos de sua variante simbólica não se confundam com ele.] 
Outra crítica à expansão do direito penal, tem como base a ideia do Estado Democrático de Direito e sua função precípua de limitação do atuar estatal, na medida em que, ao admitir-se o processo expansivo, estar-se-ia conferindo maior poder do Estado de punir.
Segundo Callegari, o Direito Penal vê-se assim transformado em um instrumento que passa a ser utilizado politicamente para a busca de fins que não lhe são próprios em Estado Democrático de Direito. (In: Manual de Direito Penal. Parte Geral. 5ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 2019.).
Que quando manejado no sentido de oferecer as respostas eficazes às novas formas de criminalidade, assume caráter meramente simbólico, que só traz resultados eleitoreiros imediatos. Criando a ilusão de que o legislador pátrio está atento à realidade social[footnoteRef:37]. [37: Na prática, este simbolismo aparece com a edição de leis em resposta ao clamor público toda vez que um fato crime choca o país. O simbolismo se processa quando as classes A e B escandalizam-se porque a violência sai da esfera quase abstrata das favelas e periferia e adentra suas realidades – vitimando seus bairros, casas, seus filhos. Então esta elite investe contra o Estado, exigindo uma atitude firme de repressão ao crime, um reforço de sua autoridade. E o Estado responde, prontamente, com leis e mais leis proibindo o que é permitido, agravando a sanção do que já é proibido. ] 
Realmente a responsabilidade civil por danos causados não expressa a mesma reprovabilidade, que a sanção penal. Além disso, dada a sua objetividade, talvez os verdadeiros responsáveis sequer seriam responsabilidades, ou mesmo o sendo, não sofreriam a repreensão adequada para a contenção de tais violações.
Aliado à essas circunstâncias e considerações o fato de a Administração Pública sofrer de infindável burocracia na concretização das medidas penalizadoras.
E, por derradeiro, o mais grave impedimento de todos: a incontrolável corrupção presente no setor público, que dificilmente seria capaz de punir a classe social mais poderosa e abastada.
No plano ideal, poderia se sugerir que essa nova geração criminosa fosse combatida por meio de instituições administrativas. Mas tais solução são ineficazes.
Alerta Sanchez, ainda, que adotar essas medidas favoreciam o próprio alastramento da delinquência. Em face a tensão existente entre os discursos de resistência e expansão do Direito Penal, a Escola de Frankfurt, com Winfried Hassemer a sua frente, sustentando que o direito penal deveria retornar às suas origens, isto é, à tutela de interesses individuais do homem.
Defende que, para tutelar os direitos coletivos, o ideal seria o chamado Direito de Intervenção, se contrapondo ao chamado discurso de expansão, que advoga a tese de que o direito penal deve tutelar qualquer bem jurídico coletivo, desde que relevante e sob ameaça latente.
Como base da tese, parte-se de dois pressupostos básicos, a saber: restringir a seleção de bens jurídicos penais, aos denominados “clássicos”, bem como respeitar todas as regras de imputação e todos os princípios político-criminais de garantia características

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