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2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 FISIOLOGIA II AULA 3 e 4 – SISTEMA NERVOSO Eletrobiogênese POTENCIAL DE AÇÃO O neurônio é uma célula polarizada, apresentando um polo receptivo e um polo emissivo. A geração de um potencial de ação por esse neurônio é importante para a transmissão de informação pelo corpo. No corpo neuronal nós temos os potenciais somáticos. O potencial de ação efetivo da célula neuronal, inicia-se no cone de implantação. É um evento do tipo tudo-ou-nada, não variando o tamanho podendo ser gerado ou não. O potencial de repouso no neurônio é de cerca de -70mV a -90mV. Essa célula possui a capacidade de alterá-lo rapidamente, gerando o potencial de ação (resposta supraliminar). Nem toda corrente despolarizante chega a gerar um potencial de ação, é o que chamamos de resposta local ou potencial subliminar. Nesse caso, temos apenas uma pequena variação na curva do potencial, não sendo suficiente para ser propagada pelo axônio. CANAIS DE SÓDIO (Na+) O potencial de ação começa a partir da despolarização da membrana, com a ativação e abertura de canais de Na+, anteriormente em repouso, permitindo a entrada de íons Na+, potencializando a despolarização da membrana e gerando um feedback positivo. Isso caracteriza a natureza explosiva do potencial de ação, já que a entrada de Na+ estimula a abertura de mais canais de Na+, ocorrendo o rápido aumento do potencial de ação. A repolarização da membrana, ocorre devido a presença de uma comporta de inativação interna ao canal de Na+, cuja probabilidade de fechamento aumenta conforme a membrana é despolarizada. A presença de duas comportas no canal, garante que a despolarização produza apenas o aumento transitório do influxo de Na+. CANAIS DE POTÁSSIO (K+) A partir da despolarização, juntamente a abertura dos canais de Na+, se abrem os canais de K+. Dessa forma, é gerado um efluxo de K+, contrário ao influxo de Na+, causando a repolarização da membrana. Como esses canais não se fecham imediatamente após a repolarização tendo ação lenta, temos a hiperpolarização do potencial, estado em que ele fica abaixo do limiar de repouso. A bomba de Na+/K+ATPase age para promover o retorno ao estado de repouso inicial. Os canais de K+ se fecham após a voltagem ficar novamente negativa, não sofrendo um processo de inativação. CURVA DO POTENCIAL DE AÇÃO A curva de despolarização é rápida, devido a explosão da entrada de Na+, seguida de uma fase de repolarização mais lenta, pelos canais de K+. Quando ela ultrapassa o 0mV, chegando a +30 ou +40, temos uma espícula (spike). Por possuir um potencial eletrotônico, ocorrem várias curvas de despolarização e repolarização até que o limiar de ação seja atingido. Além dos estímulos de hiperpolarização, acentuando a eletronegatividade. A partir da geração de um potencial de ação a população de canais de sódio estimula a abertura de canais próximos, propagando a despolarização. Sendo assim, chega uma fase em que não fez faz mais necessário estimular a membrana para gerar o potencial de ação, isso é o que chamamos de autopropagabilidade. • Canais de Na+ em repouso: Potencial de ação constante, mantendo-se negativo internamente. Portão externo encontra-se fechado. • Canais de Na+ ativados: A despolarização provoca a abertura do portão externo e interno do canal, permitindo a entrada de Na+, gerando o aumento do potencial de ação. • Canais de Na+ inativados: Portão externo aberto e portão interno fechado. Temos a queda do potencial de ação. • Canais de Na+ refratários: Os portões não podem ser ativados durante o estado refratário. • Canais de K+ em repouso: Potencial de ação constante, mantendo-se negativo internamente. • Canais de K+ ativados lentamente: A despolarização provoca a abertura lenta dos canais de potássio. Dessa forma, o potássio sai e contribui para a repolarização da membrana. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 5 Durante a maior parte do potencial de ação, a células está refratária, incapaz de gerar um segundo potencial de ação, não importando a intensidade do estímulo. É o que chamamos de período refratário absoluto. No final do potencial de ação, a célula é capaz de gerar outro potencial de ação, mas isso requer uma forte intensidade do estímulo. É o que chamamos de período refratário relativo. RESUMO 1. Despolarização da membrana. 2. Ativação e abertura dos canais de Na+, gerando influxo de sódio, e abertura dos canais lentos de K+, promovendo o efluxo de potássio. 3. Aumento do potencial de ação e início do período refratário absoluto. 4. Inativação dos canais de Na+, pelo fechamento da comporta de inativação interna e constante efluxo de potássio. 5. Queda do potencial de ação e início do período refratário relativo. 6. Repolarização da membrana. 7. Canais de Na+ inativados e canais de K+ ativados. 8. Hiperpolarização. 9. Ativação da bomba de Na+/K+ATPase. 10. Estado de repouso. SINAPSE ELÉTRICA A sinapse elétrica, ocorre através da existência de ligações GAP ou ligações comunicantes, formando microtúbulos entre os botões sinápticos, permitindo a estimulação através dessas vias de baixa resistência. A existência desses canais permite que esse tipo de sinapse seja bidirecional e rápida, pois permite uma capacidade de espelhamento, ativando uma região mais ampla e de maneira sincronizada. Apenas uma fração muito pequena das sinapses humanas é feita dessa forma. SINAPSE QUÍMICA Nesse caso não existe comunicação direta entre os citoplasmas neuronais, sendo assim uma sinapse unidirecional. A sinapse química ocorre através da liberação de neurotransmissores na fenda sináptica, um espaço localizado entre a membrana do neurônio emissor, chamada de pré-sináptica, e a membrana do neurônio receptor, chamada de pós-sináptica. A membrana pré-sináptica apresenta as vesículas contendo os neurotransmissores. Além disso, nessa região encontramos muitas mitocôndrias, para fornecerem energia para o processo, e o retículo endoplasmático rugoso, realizando a síntese de neurotransmissores ou mediadores químicos. No caso da região pós-sináptica, temos as zonas ativas, que é o local onde temos os receptores para os transmissores. O conjunto formado pela membrana pré-sináptica, fenda sináptica e membrana pós-sináptica, recebe o nome de botões sinápticos. TRANSMISSÃO DA SINAPSE QUÍMICA 1. Chegada do potencial de ação pré-sináptico. 2. Abertura de canais de Ca2+ dependentes de voltagem, promovendo o influxo de cálcio. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 6 3. Sinalização e mobilização das vesículas para próximo da membrana pré-sináptica. 4. Fusão da membrana vesicular com a membrana celular, liberando o neurotransmissor na fenda sináptica por exocitose. 5. Neurotransmissor se liga aos receptores localizados na zona ativa da membrana pós-sináptica. 6. Alteração do potencial e da resistência da membrana pós-sináptica, alterando a excitabilidade da célula. 7. Recaptação de neurotransmissores. Os neurotransmissores sofrem recaptação, tanto os que não funcionaram efetivamente, quanto os que sofreram ações enzimáticas para quebra de ligação com o receptor membranar. POTENCIAIS PÓS-SINÁPTICOS Os potenciais pós-sinápticos excitatórios (PPSE) e os potenciais pós-sinápticos inibitórios (PPSI), são desencadeados pela ligação do neurotransmissor a receptores na membrana pós-sináptica.Como resultando, normalmente, temos um aumento na permeabilidade da membrana, resultante da abertura de canais controlados por ligantes. Os PPSE são sempre despolarizantes, aumentando o potencial de ação, enquanto os PPSI (canais de Cl- ou K+) podem ser despolarizantes ou hiperpolarizantes. Dessa forma, a distinção entre as sinapses excitatórias e inibitórias se dá em como elas afetam a probabilidade de a célula desencadear um potencial de ação. O PPSE aumenta a probabilidade de desencadear um potencial de ação. Já o PPSI diminui essa probabilidade. TIPOS DE SINAPSES • Axodendríticas: Axônios e dendritos. • Axossomática: Axônio e soma. • Dendrossomática: Dendrito e soma. • Axo-axônica: Axônio e axônio. FIBRAS NERVOSAS As fibras nervosas são classificadas por sua espessura e grau de mielinização. • Fibras A: Mais espessas e mielinizadas. → Aα: Mais espessas e rápidas. Estão presentes, por exemplo, em regiões de propagação da somestesia dos receptores musculares. • Fibras B: Intermediárias quanto a espessura e mielinizadas. • Fibras C: Mais delgadas e amielinizadas. São as mais lentas. Estão presentes, por exemplo, em fibras que fazem a percepção geral da dor. MIELINIZAÇÃO A bainha de mielina nos axônios, produzidas pelas células de Schwann ou pelos oligodendrócitos, envolvem os axônios e formam os nódulos de Ranvier. Isso aumenta em cerca de 6 vezes a propagação do estímulo ao longo do axônio, tornando-os muito mais rápidos. Os canais de Na+ são muito concentrados nos nodos de Ranvier, não sendo encontrados entre os nodos. Assim, o potencial de ação só é regenerado nos nodos, processo que recebe o nome de condução saltatória. MEDIADORES QUÍMICOS Os mediadores químicos ou neurotransmissores são moléculas de pequenas dimensões, mediadoras da sinalização química entre os neurônios. Podem ser das famílias das aminas biogênicas (acetilcolina, serotoninas, catecolaminas e histamina), aminoácidos, purinas, peptídeos e transmissores gasosos. PROCESSO DE EXOCITOSE A vesícula com mediadores se desloca até a membrana sináptica e se fixa. Temos o processo de exocitose pela fusão da membrana vesicular e liberação do neurotransmissor. Com o gasto de energia ocorre a invaginação para ressíntese da vesícula. ENZIMAS DE CLIVAGEM A maioria delas ficam no glicocálix da membrana pós-sináptica. Elas hidrolisam o mediador, quebrando-o em seus componentes básicos, fazendo com que ele perca afinidade com o receptor. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 7 AMINAS BIOGÊNICAS ACETILCOLINA • SÍNTESE: Sintetizada a partir da adição de Acetil- CoA com a colina, pela ação da enzima colinoacetiltransferase. • RECAPTURA: A enzima acetilcolinesterase hidrolisa a acetilcolina em acetato e colina. A colina é captada por simporte de Na+ e reutilizada na síntese. • LOCAL: Junções neuromusculares, gânglios simpáticos e parassimpáticos e fibras pós- ganglionares dos gânglios parassimpáticos e alguns gânglios simpáticos. • NEURÔNIOS: Colinérgicos. SEROTONINA • SÍNTESE: Sintetizada a partir do aminoácido triptofano. Ele é convertido em 5-hidroxitriptofano pela enzima triptofano-5-hidroxilase, que adiciona um OH na posição 5 do anel aromático. Em seguida, sofre descarboxilação pela enzima L-aminoácido aromático descarboxilase, sendo convertido em serotonina. • RECAPTURA: Feita pelas células da glia e neurônios, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Normalmente, encontrada no tronco cerebral e no encéfalo. • NEURÔNIOS: Serotoninérgicos. DOPAMINA (CATECOLAMINA) • SÍNTESE: A tirosina é convertida em dihidroxifenilalanina (L-dopa) pela enzima tirosina hidroxilase. A dihidroxifenilalanina sofre ação da enzima dopa-descarboxilase sendo convertida em dopamina. • RECAPTURA: É degradada pelas enzimas monoamina oxidase e catecol-O-metiltransferase, para serem recapturadas pelas células da glia e neurônios, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Normalmente, encontrada no tronco cerebral e no encéfalo. • NEURÔNIOS: Dopaminérgicos. NOREPINEFRINA (CATECOLAMINA) • SÍNTESE: A dopamina é convertida pela enzima dopamina β-hidroxilase em norepinefrina. • RECAPTURA: É degradada pelas enzimas monoamina oxidase e catecol-O-metiltransferase, para serem recapturadas pelas células da glia e neurônios, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Normalmente, encontrada no tronco cerebral e no encéfalo. • NEURÔNIOS: Noradrenérgicos. EPINEFRINA (CATECOLAMINA) • SÍNTESE: A enzima feniletanolamina-N-metil transferase adiciona um grupo metila na norepinefrina, formando a epinefrina. • RECAPTURA: É degradada pelas enzimas monoamina oxidase e catecol-O-metiltransferase, para serem recapturadas pelas células da glia e neurônios, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Normalmente, encontrada no tronco cerebral e no encéfalo. • NEURÔNIOS: Noradrenérgicos. HISTAMINA • SÍNTESE: A histidina é catalisada pela histidina descarboxilase em histamina. • RECAPTURA: Feita pelas células da glia e neurônios, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Normalmente, encontradas no tronco cerebral e no encéfalo. • NEURÔNIOS: Histaminérgicos. AMINOÁCIDOS GLUTAMATO • Um dos principais neurotransmissores excitatórios do SNC. No entanto, em altas concentrações é considerado uma neurotoxina, por isso, faz-se necessário que sua atividade seja limitada após sua liberação. • RECAPTURA: Feita pelas células da glia e pelo termina sináptico, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Sinapses excitatórias no SNC. • NEURÔNIOS: Glutamatérgicos. GABA (Ácido gama amino butilínico) • Ação preponderantemente inibitória. • SÍNTESE: O glutamato sofre descarboxilação pela enzima ácido glutamato descarboxilase, presente apenas nos neurônios que usam o GABA como neurotransmissor. • RECAPTURA: Feita pelas células da glia e pelo termina sináptico, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Interneurônios locais, regiões do encéfalo, Células de Purkinje no córtex cerebelar. • NEURÔNIOS: Inibidores GABAérgicos. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 8 GLICINA • Ação preponderantemente inibitória em local mais restrito. • RECAPTURA: Feita pelas células da glia e pelo termina sináptico, através de transportadores dependentes de Na+-Cl-. • LOCAL: Medula, porção inferior do tronco cerebral, cerebelo e retina. TRANSMISSORES GASOSOS ÓXIDO NÍTRICO • Extremamente difusível. Atravessa a bicamada lipídica e se difunde pelos tecidos bioexcitáveis. • SÍNTESE: A enzima NO sintetase catalisa a produção de NO como produto da oxidação da arginina e citrulina. Essa enzima é estimulada pelo aumento do influxo de cálcio ocasionado pela despolarização. • LOCAL: Neurônios motores inibidores do sistema nervoso entérico e do músculo liso gastrointestinal. Alguns locais do SNC. RECEPTORES Os receptores de neurotransmissores normalmente são membros de duas famílias de proteínas: • Receptores ionotrópicos: Canais iônios controlados por ligantes (alostéricos). • Receptores metabotrópicos: Geram um segundo mensageiro, sendo a maioria das vezes o AMPc, o inositoltrifosfato (IP3) ou o DAG. Atuação gerando segundo mensageiro resulta em reações a longo prazo, enquantoa atuação alostérica em canais iônicos gera uma resposta imediata, mas momentânea. EFEITOS SOBRE OS CANAIS IÔNICOS • Sódio: Despolarizantes. • Cálcio: Despolarizantes. • Potássio: Inibitórios. • Cloreto: Inibitórios.
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