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Apostila Completa Ditadura Militar Parte I

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Ditadura
Militar no 
Brasil - I
Regimes militares
Entre as décadas de 1960 e 1970, e entrando na primeira metade da década de 1980, instalar-
am-se regimes militares por quase toda a América Latina. Poucos países ficaram fora dessa “onda”. 
Ameaçados pelo exemplo da Revolução Cubana, os governos norte-americanos não pouparam 
esforços para treinar militares e preparar intelectuais e técnicos para executar golpes de Estado 
e sustentar regimes de força. 
Essa fase da história da América Latina, portanto, não pode ser entendida fora do contexto da 
Guerra Fria. O discurso norte-americano consolidava-se na Doutrina da Segurança Nacional, se-
gundo o qual o inimigo dos países ocidentais não estava mais em um ou outro país estrangeiro, 
mas entre seus próprios cidadãos, alguns dos quais poderiam fazer uma revolução e tirar o país 
da órbita de influência capitalista. As ditaduras terminaram na América Latina com um triste sal-
do de milhares de militantes políticos mortos ou desaparecidos e dezenas de milhares de tor-
turados, e com os militares desacreditados em suas promessas de gerar prosperidade econômica 
e solução dos problemas sociais. 
a montagem da ditadura
O regime militar instaurado no Brasil em 1964 estendeu- se por 21 anos, nos quais a Presidência 
da República foi ocupada pelos comandantes do Exército. Seus líderes, contudo, insistiam em 
acentuar o caráter temporário do período, e o teor do Ato Institucional no 1 (AI-1), outorgado em 
9 de abril de 1964 pela Junta Militar que assumiu o poder após o golpe, fornecia ferramentas para 
esse objetivo. O AI-1 decretava: 
• realização de eleições indiretas para presidente da República em um prazo de dois dias a con-
tar da publicação do ato e de eleições diretas em outubro de 1965;
• fortalecimento dos poderes do presidente, que poderia apresentar emendas constitucionais 
ao Congresso e aprová-las por maioria simples, suspender temporariamente os direitos políticos 
de qualquer cidadão por dez anos, em nome de “interesses nacionais”, e decretar estado de sítio 
sem a autorização do Congresso;
• suspensão temporária da estabilidade dos funcionários públicos.
A estratégia dos militares era clara: impor ao Congresso um candidato militar que, uma vez 
nomeado presidente, pudesse realizar a “limpeza” tão desejada por forças conservadoras (o que 
afetaria basicamente a esquerda) e devolvesse o poder aos civis em um prazo de pouco mais de 
um ano. A Constituição de 1946 foi modificada e estava sujeita a alterações cada vez maiores; a 
imprensa permaneceu relativamente livre, e os tribunais, funcionando. 
Em 1965, estavam previstas também eleições para governador de estado, que se realizaram normal-
mente. Esse quadro nos permite afirmar que, apesar do golpe e do crescente autoritarismo do Executivo, 
manteve-se um clima de relativa liberdade no país. O presidente nomeado pelo Congresso foi o marechal 
Humberto de Alencar Castello Branco, com o apoio dos governadores dos estados participantes do golpe 
(Carlos Lacerda, da Guanabara, que hoje faz parte do Rio de Janeiro; Ademar de Barros, de São Paulo; e 
Magalhães Pinto, de Minas Gerais). Veterano da Força Expedicionária Brasileira na campanha da Itália, li-
gou-se à Escola Superior de Guerra e era bastante respeitado entre os oficiais do Exército por seus dotes 
intelectuais. Castello Branco, ao assumir a presidência, disse que cumpriria as promessas realizadas pelos 
militares: “limpeza” e eleições em 1965. 
A “limpeza” começou já nas primeiras horas após o sucesso do golpe e foi particularmente intensa du-
rante o período de “vazio político”, que se verificou até sua posse como presidente, em 11 de abril de 1964. 
Em dez dias, chefes militares locais agiram com quase total liberdade, investigando, prendendo sumar-
iamente, e por vezes torturando, em dependências oficiais, líderes políticos de esquerda, cujas maiores 
vítimas pertenciam ao PTB, além de jornalistas, estudantes, intelectuais e quaisquer pessoas consideradas 
subversivas.
Ao assumir a presidência, porém, Castello Branco procurou apurar as denúncias de violência e dar um 
basta à tortura, no que obteve sucesso, substituindo-a pela cassação de mandatos e suspensão de direitos. 
A política econômica do novo governo foi entregue aos ministros Otávio Gouveia de Bulhões, da Fazenda, 
e Roberto Campos, do Planejamento. Juntos, elaboraram o Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), 
uma tentativa de estabilizar a economia e lançar as bases para a retomada do crescimento econômico. O 
plano previa, em primeiro lugar, o combate ao deficit público: proibiu-se aos governos estaduais a emissão 
de títulos sem prévia autorização do governo federal; procurou-se combater os gastos excessivos das em-
presas estatais, tornando-as rentáveis, o que determinou um aumento nos preços dos produtos e serviços 
oferecidos por essas empresas (petróleo, energia). Essas medidas, somadas ao aumento no preço do trigo 
importado provocado pela desvalorização da moeda, desencadearam uma elevação do custo de vida. 
Em seguida, os impostos foram aumentados, obtendo-se um equilíbrio entre a receita e as despesas do 
governo. 
O objetivo seguinte era normalizar a oferta de crédito, ou seja, de empréstimos bancários. As elevadas 
taxas de inflação inviabilizavam a existência de crédito de longo prazo, uma vez que o valor das parcelas 
da dívida tendia a ser corroído pela inflação, gerando prejuízos para os credores. Em julho de 1964, foi 
criada a Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional (ORTN), um índice atualizado mensalmente de acordo 
com a variação dos preços. Todos os contratos e prestações seriam atualizados por ele, tornando possível 
a correção monetária. Implantavase, assim, a indexação da economia brasileira. 
A política salarial baseada no arrocho reduziu os salários do setor público, enquanto os do setor privado 
dependiam da livre negociação entre patrões e empregados, cabendo aos tribunais do trabalho a res-
olução de conflitos. Na verdade, a fórmula da livre negociação era um embuste: os tribunais contavam 
com juízes nomeados pelo governo, obedientes a ele em sua política de arrocho salarial. O movimento 
sindical, por seu lado, pouco podia fazer, pois se encontrava enfraquecido pela prisão dos principais lí-
deres e pelas constantes intervenções, previstas na legislação vigente antes de 1964 e mantidas pelo novo 
governo. Houve queda da inflação e alcançou-se estabilidade econômica, o que abriu caminho para um 
grande surto de crescimento, promovido à custa dos trabalhadores.
A existência de um regime forte, autoritário, tornou possível a adoção de certas medidas francamente 
impopulares, como também foi impopular o conjunto da nova política econômica. Outro resultado da 
política adotada pela dupla Bulhões-Campos foi o retorno dos investimentos estrangeiros, tendo à frente 
o governo dos Estados Unidos. Entretanto, a situação política do país se deteriorava. Lacerda, que havia 
apoiado o golpe, agora se levantava contra a política econômica do governo. Os políticos ligados ao re-
gime militar sofreram sucessivas derrotas eleitorais, como em 1965, na eleição para prefeito de São Paulo 
(com a vitória de Faria Lima, apoiado por Jânio Quadros) e para governador de estado (vitória de Negrão 
de Lima, na Guanabara, e Israel Pinheiro, em Minas Gerais, ambos ligados a Juscelino Kubitschek).
Tudo isso foi provocando um “endurecimento” do regime, de modo que as medidas autoritárias se multi-
plicaram e o retorno dos militares aos quartéis foi adiado para um futuro cada vez mais remoto. Ao mesmo 
tempo, a linha dura, representada pelo ministro da Guerra, Costa e Silva, ganhava mais espaço no governo. 
O mandato de Castello Branco foi prorrogado em julho de 1964 por uma emenda constitucional, devendo 
estender-se até março de 1967. Em outubro de 1965, foi decretado o AI-2, uma grande vitória da linha 
dura. O ato previa o fortalecimento ainda maior do Executivo, chegando a dar ao presidente o poder de 
decretar o recesso do Congresso Nacional,das Assembleias estaduais e das Câmaras de Vereadores. 
As eleições para presidente da República passaram a ser indiretas, isto é, realizadas pelo Congresso, e os 
partidos políticos foram extintos, sendo criados em seu lugar a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o 
Movimento Democrático Brasileiro (MDB). O primeiro seria formado por políticos que apoiavam o governo 
militar, enquanto o segundo correspondia a uma oposição consentida. 
O AI-3, de fevereiro de 1966, estendia as eleições indiretas para governador de estado e para prefeito de 
municípios considerados áreas de “segurança nacional”, incluindo as capitais de estados. A liberdade era 
cada vez menor e o jogo político eleitoral ganhava cada vez mais aspecto de farsa. Tal foi o caso do Con-
gresso, fechado em outubro de 1966, após a cassação de muitos parlamentares, e só reaberto, pelo AI-4 de 
1967, para aprovar uma nova Constituição. A nova Carta constitucional, sexta brasileira e quinta republica-
na, teve vida curta. Incorporou uma série de princípios presentes nos atos institucionais impostos até en-
tão, mas logo foi ultrapassada por novos atos do governo militar. Castello Branco ia sendo gradativamente 
envolvido pela linha dura. No início de 1967, o marechal Artur da Costa e Silva foi escolhido presidente da 
República. Qualquer tentativa de oposição esbarrava em sérias dificuldades. Dentro do Legislativo, isto é, 
utilizando os meios legais que aparentemente os militares toleravam, a atuação dos parlamentares era 
constantemente barrada, fosse por meio de cassações, que voltaram a se multiplicar após o AI-2, fosse 
pelo fechamento do Congresso, decretado pelo presidente.
Dessa forma, o MDB era um partido que não tinha as mínimas condições de exercer real oposição ao 
governo. Os principais líderes políticos do país tentaram articular um movimento de oposição que não 
estivesse necessariamente ligado a partidos políticos e que pudesse superar as velhas disputas anteriores 
a 1964, tudo em nome de um retorno à democracia.
Carlos Lacerda, que pretendia candidatar-se a presidente nas eleições previstas para 1965 – mais
tarde canceladas – e que apoiara o golpe, viu suas pretensões frustradas com o progressivo endureci-
mento do regime. Procurou aproximar-se de Juscelino Kubitschek, que, aliás, também pretendia concorrer 
às mesmas eleições presidenciais canceladas, e de João Goulart, então exilado no Uruguai. Juntos formar-
am a Frente Ampla de oposição, que, no entanto, teve sua atividade cerceada pela perseguição a seus prin-
cipais líderes: tanto Lacerda quanto Juscelino tiveram seus direitos políticos cassados e acabaram sendo 
exilados.
A mobilização popular, principalmente dos estudantes, trabalhadores e artistas, intensificou-se.
Desde o governo Goulart, os estudantes se mobilizavam em associações como a União Nacional dos 
Estudantes (UNE), insistindo nas reformas de base e apoiando qualquer guinada de Jango à esquerda. A 
partir de 1964, tornaram-se vítimas da repressão e, principalmente durante o governo Costa e Silva (1967-
1969), reagiram intensamente. No entanto, a causa imediata de muitas manifestações estudantis, princi-
palmente no ano de 1968, estava ligada a problemas específicos da educação, e não diretamente políticos. 
Em março daquele ano, por exemplo, foi feita uma manifestação diante do Calabouço, um restaurante li-
gado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, por melhor qualidade da alimentação e preços mais baixos. 
A polícia foi chamada e o resultado da intervenção policial foi a morte do estudante Edson Luís de Lima 
Souto. Seu velório, enterro e missa foram acompanhados por milhares de estudantes. Seguiram-se tensões 
e novos choques com a polícia. 
Multiplicaram-se as manifestações e passeatas organizadas por todas as universidades brasileiras, com 
as reivindicações estudantis servindo de pretexto para manifestações contra o governo. A violência da 
polícia e do exército contra essas demonstrações de insatisfação fez com que setores da classe média e 
também da Igreja se solidarizassem com os estudantes, engrossando o número daqueles que, nas ruas, 
protestavam contra o regime. 
O ponto mais alto desse movimento foi a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, em junho de 1968. 
Em outubro do mesmo ano, porém, o congresso da UNE realizado clandestinamente – uma vez que a as-
sociação havia sido declarada ilegal já em outubro de 1964 – em Ibiúna, no estado de São Paulo, acabou 
sendo descoberto pela polícia, que prendeu nada menos que 1 240 dos principais líderes estudantis do 
país, enfraquecendo o movimento.
No ano de 1968 também ocorreram duas greves bastante agressivas, em Osasco e Contagem, na periferia 
de São Paulo e de Belo Horizonte, respectivamente. 
As reivindicações trabalhistas misturavam-se com a oposição ao regime, e nos dois casos a repressão 
governamental foi violenta. O meio artístico e cultural, que passava por grande agitação desde o início 
da década, acompanhando, aliás, tendências mundiais e buscando um engajamento político, procurou 
resistir à repressão do regime. As origens da agitação podem ser encontradas nos Centros Populares de 
Cultura (CPCs), criados na época por estudantes e que procuravam promover uma aproximação entre 
a arte e a população em geral. O teatro estava à frente do movimento, destacando-se os grupos Arena 
e Oficina, com Augusto Boal e José Celso Martinez Correa como líderes. No cinema, surgiu o movimen-
to chamado Cinema Novo, afastando-se dos padrões norte-americanos e discutindo problemas sociais e 
culturais essencialmente brasileiros. Seus principais representantes foram os diretores Glauber Rocha e 
Nelson Pereira dos Santos.
Na música, as canções de protesto encontraram palco nos grandes festivais organizados a partir de 1965 
pela TV Record, onde também nasceu a Tropicália, tentativa de retomar os princípios antropofágicos do 
movimento modernista de 1922, especialmente de Oswald de Andrade. Toda essa atividade intelectual 
estava mesclada de política, e os principais artistas acabaram sendo presos e exilados. 
Enquanto isso, um pequeno grupo de opositores do regime, percebendo que qualquer tipo de oposição 
pacífica ao governo estava destinado a desencadear uma repressão desproporcionalmente violenta, re-
solveu partir para a luta armada. Em dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva decretou o AI-5, o mais 
violento de todos os atos institucionais até então outorgados. Previa:
• fechamento do Legislativo (Senado e Câmara dos Deputados) pelo presidente da República, que, nos 
períodos de recesso, poderia legislar em seu lugar;
• suspensão dos direitos políticos e garantias constitucionais individuais, incluindo a suspensão do ha-
beas corpus (instrumento jurídico cuja função é resguardar o indivíduo da ameaça de sofrer violência ou 
coação em sua liberdade de locomoção, ou seja, resguardar, essencialmente, o direito à liberdade);
• intervenção federal em estados e municípios; 
• possibilidade de o presidente decretar estado de sítio sem autorização do Congresso.
Ao contrário do caráter provisório dos demais atos institucionais, o AI-5 apresentava-se como uma medi-
da permanente, só vindo a ser revogado onze anos depois. Assim, a aparência democrática do regime ruía 
de uma vez por todas: o Brasil mergulhava na ditadura total. A violência só tendia a aumentar.

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