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SOCIOLOGIA JURIDICA E JUDICIÁRIA PROF° MARIANGELA MARTINEZ AULA 1: Na medida em que o direito é produto das relações intersubjetivas e não um produto dos deuses ou de ideias superiores que não pertencem a ninguém. São as pessoas, em suas relações sociais cotidianas que ao produzirem conflitos, necessitam estabelecer normas que os pacifiquem e ordenam essas mesmas relações. Conceito sociológico do Direito Vamos considerar que: · O Direito tem sua origem nos fatos sociais, que são mutáveis; · O Direito é um fenômeno cultural – só existe nas sociedades humanas; · A ideia de Direito relaciona-se às noções de conduta e de organização. De acordo com Cavalieri Filho (2007, p. 8): “A sociedade humana é, portanto, o meio em que o Direito surge e se desenvolve, pois, a ideia do Direito liga-se à ideia de conduta e de organização, provindo da consciência das relações entre os indivíduos”. Função social do Direito Prevenir conflitos “O Direito previne conflitos através de um conveniente disciplinamento social, estabelecendo regras de conduta na sociedade [...]” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 15). Compor conflitos O Direito resolve conflitos de interesses, promovendo a justiça nos casos concretos. Manter o controle social O Direito assegura a conformidade de comportamento dos indivíduos a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados. Sustentar a regulação social O Direito mantém um conjunto de pressões diretas ou indiretas exercidas sobre os membros individuais ou coletivos de um grupo ou de uma sociedade. O objetivo é corrigir seus desvios de comportamento, de expressão ou de atitude em relação a regras e normas adotadas pelo grupo social ou pela sociedade em questão. Origem da Sociologia Jurídica A Sociologia Jurídica nasceu como disciplina específica no início do século XX. Os trabalhos na área partem da tese de que o Direito é um fato social ou uma função da sociedade. Os sociólogos do Direito, por sua vez, consideram que o Direito possui uma única fonte: a vontade do grupo social. A Sociologia Jurídica deve pesquisar, portanto, o fato do Direito, cuja manifestação não depende da lei escrita, mas sim da sociedade, que produz esse fato e cria relações jurídicas. Abordagens da Sociologia Jurídica Abordagem positivista = Sociologia DO Direito De acordo com a abordagem positivista, a Sociologia Jurídica não pode ter uma participação ativa dentro do Direito. Se o Direito corresponde “à lei e às relações entre as leis”, tudo o que não representar a legislação fica fora da ciência jurídica. A Sociologia Jurídica pode, sim, estudar e criticar o Direito, mas não pode ser parte integrante dessa ciência. Seu papel é de observador neutro do sistema jurídico. Adeptos dessa abordagem: - Niklas Luhmann (1927-1998), na Alemanha; - Renato Treves (1907-1992), na Itália. Compor conflitos = Sociologia NO Direito De acordo com a abordagem pós-positivista, a Sociologia NO Direito adota uma perspectiva interna com relação ao sistema jurídico. Seus adeptos contestam a exclusividade de um método jurídico tradicional, afirmando que a Sociologia Jurídica deve interferir ativamente na elaboração, no estudo dogmático e, inclusive, na aplicação do Direito. Não há uma ciência jurídica autônoma, porque, além dos métodos tradicionais, o Direito também emprega – ou deve empregar – métodos próprios das Ciências Sociais. Essa perspectiva rompe com a ideia do estudioso Hans Kelsen de que o Direito “é uma norma e as relações entre as normas”, bem como com a ideia de imparcialidade ou neutralidade do jurista. O Direito é produto da própria sociedade! Somente a vida humana pode necessitar de normas que a antecipem e que a pretendam regular, buscando a prevenção da conduta antissocial por meio de sanção que a norma pressupõe. Para ilustrar, podemos citar qualquer norma que tenha sido produto de uma demanda social, como, por exemplo: A Lei dos Crimes Hediondos – Lei nº 8.072/1990; A Lei da União Estável – Lei nº 9.278/1996; A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – Decreto-Lei nº 5.452/1943; O Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/2003; O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC) – Lei nº 8.078/1990 etc. Aspectos sociais do fenômeno jurídico: teoria tridimensional do Direito O fenômeno jurídico possui três dimensões, o que significa que pode ser estudado sob três pontos de vista: o da justiça, o da validade e o da eficácia. Trata-se da teoria tridimensional do Direito, desenvolvida pelo jurista Reale (2003) e, depois, por muitos outros estudiosos. O esquema a seguir representa essa teoria: A diferença entre Sociologia Jurídica, Ciência do Direito e Filosofia do Direito Sociologia Jurídica Ciência do Direito Filosofia do Direito Objeto de Estudo Direito–fenômeno jurídico–como fato social, decorrente das relações sociais. Norma jurídica e sua aplicação a casos particulares, como foi concebida e equacionada pelo legislador. Princípios fundamentais do Direito –tais como norma, poder, realidade, valor ou conhecimento. Função dos Atores O sociólogo estuda e analisa os múltiplos aspectos do fato jurídico e sua interação1com os demais fatores sociais O cientista do Direito –jurista –interpreta e aplica a norma jurídica, excluindo qualquer elemento não jurídico. O filósofo se preocupa com a valoração jurídica dos bens da sociedade –tais como a justiça, o bem comum, o interesse social, a liberdade etc. Pilares da ciência SER = Direito vivo, que se passa de acordo com a vontade do homem. DEVER SER = Normatividade do Direito positivo. PODER SER = Essência e definição do Direito, visando sua aplicação Os princípios da teoria tridimensional do sistema jurídico: Justiça: Interessa aos filósofos do direito A questão da justiça é objeto do estudo dos filósofos do Direito, que examinam a chamada idealidade do Direito, cujas bases são: - A justificação do sistema jurídico atual; - A busca dos melhores princípios de organização social; - As relações entre Direito e moral; - As relações entre normas positivas e ideais de justiça; - As relações entre o Direito e a verdade. Validade: Estudo das normas formalmente validas (Validade igual Legalidade) A análise das normas formalmente válidas – ou seja, o estudo interno do Direito positivo – interessa ao dogmático ou intérprete do Direito, que busca: - Identificar as normas legais; - Encontrar o sentido de cada elemento do ordenamento jurídico; - Solucionar os problemas de conflito entre normas; - Adaptar as normas aos problemas concretos. Nesse caso, o objeto do conhecimento é a normatividade do Direito. Eficácia: Interessa aos sociólogos do Direito Esta terceira dimensão está relacionada à eficácia das normas jurídicas e corresponde ao campo de análise da Sociologia Jurídica. Trata-se do objeto de estudo dos sociólogos do Direito, cuja função é analisar a realidade social do Direito. Seu referencial é o conhecimento da vida jurídica. Por isso, examina-se, aqui, a facticidade do Direito, isto é, o Direito como realidade social. Nesse caso, a Sociologia Jurídica prepara uma teoria sociológica dos fenômenos jurídicos, sem interessar-se pelas questões técnicas da interpretação do Direito nem pelos ideais jurídicos, que são foco de atenção, respectivamente, da Filosofia e da Ciência do Direito – dogmática. Não se esqueça de que as três dimensões do fenômeno jurídico apresentadas anteriormente estão relacionadas entre si. Por exemplo, se a sociedade avalia que uma lei é injusta, esta tende a ser revogada ou, na pior hipótese, tende a não produzir efeitos práticos, o que a tornará ineficaz. Por isso, o intérprete do Direito não pode ignorar que a falta de legitimação de uma lei em vigor é um elemento importante do fenômeno jurídico, na medida em que é capaz de levar a sua revogação ou ineficácia. Um exemplo concreto disso aconteceu em 2005, com a abolição do delito de adultério no Código Penal – Lei nº 2.848/1940. Do mesmo modo, o sociólogo e o filósofo do Direito não podem ser indiferentes ao tema da interpretação normativa do Direito positivo, já que precisamconhecer o conteúdo das normas em vigor para poder analisar a realidade e a idealidade do Direito. Sendo assim, o sociólogo do Direito não trabalha desconhecendo as análises dos filósofos e dos intérpretes do Direito. Há, portanto, uma complementaridade das três dimensões do conhecimento do fenômeno jurídico. Fim da aula...
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