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I. RESUMO A farmacodinâmica descreve as ações dos fármacos no organismo e as in- fluências das suas concentrações na magnitude das respostas. A maioria dos fármacos exerce seus efeitos, desejados ou indesejados, interagindo com receptores (isto é, macromoléculas-alvo especializadas) presentes na superfície ou no interior da célula. O complexo fármaco-receptor inicia alte- rações na atividade bioquímica e/ou molecular da célula por meio de um processo denominado transdução de sinal (Fig. 2.1). II. TRANSDUÇÃO DE SINAL Os fármacos atuam como sinais, e seus receptores atuam como detectores de sinais. Os receptores transduzem o reconhecimento de um agonista liga- do iniciando uma série de reações que resultam em uma resposta intracelu- lar específica. (Nota: o termo “agonista” se refere a uma molécula pequena de ocorrência natural ou a um fármaco que se fixa a um local em uma pro- teína receptora, ativando-a). Segundos mensageiros ou moléculas efetoras são parte da cascata de eventos que traduz a ligação do agonista em uma resposta celular. A. O complexo fármaco-receptor As células têm muitos tipos de receptores diferentes, cada qual específico para um agonista particular e produzindo uma resposta única. As membra- nas das células cardíacas, por exemplo, contêm receptores β que ligam e respondem à epinefrina ou norepinefrina, bem como receptores muscaríni- cos específicos para acetilcolina. Essas distintas populações de receptores interagem de modo dinâmico para controlar funções vitais do coração. A intensidade da resposta é proporcional ao número de complexos fármaco-receptor: esse conceito está estreitamente relacionado com a formação de complexos entre enzimas e substratos ou antígenos e an- ticorpos. Essas interações têm vários aspectos comuns; provavelmente a mais notável seja a especificidade do receptor por um determinado agonista. A maioria dos receptores é denominada pelo tipo de agonis- ta que melhor interage com ele. Por exemplo, o receptor da histamina 2 1 Os receptores ligados com agonista são ativados. Eles tem propriedades físicas e químicas alteradas, as quais levam as interações com moléculas celulares a produzir a resposta biológica Os receptores não ocupados não in�uenciam os processos intracelulares Resposta biológica Receptor Fármaco Receptor Receptor ativado Transdução de sinal Figura 2.1 O reconhecimento de um fármaco pelo receptor inicia a resposta biológica. Joanna Peris Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica 2 Capitulo_02_Whalen.indd 25 25/04/2016 09:38:51 26 Whalen, Finkel & Panavelil receptor com o qual o ligante interage depende da natureza química do ligante. Ligantes hidrofílicos interagem com receptores situados na super- fície da célula (Figs. 2.2A, B, C). Em contraste, os ligantes hidrofóbicos entram nas células através da bicamada lipídica da membrana celular para interagir com receptores situados dentro das células (Fig. 2.2D). 1. Canais iônicos transmembrana disparados por ligantes: A por- ção extracelular dos canais iônicos disparados por ligantes em ge- ral contém o local de ligação. Esses locais regulam o formato do poro através do qual os íons fluem através da membrana celular (Fig. 2.2A). Em geral, o canal está fechado até que o receptor seja ativado por um agonista que abre o canal brevemente, por poucos milissegundos. Dependendo do íon conduzido através desses ca- nais, os receptores mediam diversas funções, incluindo neuro- transmissão e contração cardíaca ou muscular. Por exemplo, a es- timulação do receptor nicotínico pela acetilcolina resulta em influxo de sódio e efluxo de potássio, gerando um potencial de ação no neurônio ou contração no músculo esquelético. Por outro lado, a estimulação do receptor ácido γ-aminobutírico (GABA) pelo agonis- ta aumenta o influxo de cloretos e hiperpolariza os neurônios. Os canais iônicos disparados por voltagem também podem ter locais de fixação de ligantes que podem regular a função do canal. Por exemplo, os anestésicos locais se ligam ao canal de sódio dispara- do por voltagem, inibindo o influxo de sódio e diminuindo a condu- ção neuronal. 2. Receptores transmembrana acoplados à proteína G: O domínio extracelular deste receptor contém a área de fixação do ligante, e o domínio intracelular interage (quando ativado) com a proteína G ou com a molécula efetora. Há vários tipos de proteínas G (p. ex., Gs, Gi e Gq), mas todas são compostas de três subunidades de proteí- nas. A subunidade α liga trifosfato de guanosina (GTP, do inglês guanosine triphosphate), e as subunidades β e γ ancoram a pro- teína G na membrana celular (Fig. 2.3). A ligação de um agonista ao receptor aumenta a ligação de GTP na subunidade α, causando a dissociação do complexo α-GTP do complexo βγ. Então esses dois complexos podem interagir com outros efetores celulares, em geral enzima, proteína ou canal iônico, responsáveis por ações adi- cionais dentro da célula. Essas respostas geralmente duram de vários segundos a minutos. Algumas vezes, os efetores ativados produzem segundos mensageiros que ativam outros efetores adi- cionais na célula, causando um efeito cascata. Um efetor comum, ativado por Gs e inibido por Gi, é a adenililcicla- se, que produz o segundo mensageiro monofosfato de adenosina cíclico (AMPc). A Gq ativa a fosfolipase C, gerando dois outros se- gundos mensageiros: o trifosfato 1,4,5-inositol (IP3) e o diacilglice- rol (DAG). O DAG e o AMPc ativam diferentes proteinocinases no interior da célula, levando a uma miríade de efeitos fisiológicos. O IP3 regula a concentração intracelular de cálcio livre, bem como algumas proteinocinases. 3. Receptores ligados a enzimas: Esta família de receptores con- siste em uma proteína que pode formar dímeros ou complexos de subunidades múltiplos. Quando ativados, esses receptores so- frem alterações conformacionais, resultando em aumento da ativi- dade enzimática no citosol, dependendo de sua estrutura e função R R-PO4 A B C D γ α β Íons Fosforilação de proteínas EFEITOS INTRACELULARES Fosforilação de proteínas e do receptor Canais iônicos disparados por ligantes Receptores intracelulares Receptores acoplados à proteína G Receptores ligados a enzimas Receptores colinérgicos nicotínicos Exemplo: Exemplo: Receptores de insulina Exemplo: Receptores esteroidesAdrenoceptores � e � Exemplo: Fosforilação de proteínas e alteração da expressão gênica Alterações no potencial de membrana ou na concentração iônica no interior da célula Figura 2.2 Mecanismos de sinalização transmembrana. A. O ligante une-se a domínios extracelulares do canal estimulado por ligante. B. O ligante une-se a um domínio do receptor transmembrana que está acoplado à proteína G. C. O ligante une-se ao domínio extracelular de um receptor que ativa uma enzima cinase. D. O ligante lipossolúvel difunde-se através da membrana para interagir com seu receptor intracelular. R, proteína inativa. 4 Pi γ GDP β α ATP AMPc + PPi γ 3 β α GTP GDP γ α β 1 Receptor GTP GDP β γ α 2 GTP Hormônio ou neurotransmissor Adenilil- ciclase inativa Proteína Gs unida ao GDP Adenilil- ciclase ativa Adenilil- ciclase inativa Citosol Espaço extra- celular O receptor não ocupado não interage com a proteína Gs O receptor ocupado altera a forma e interage com a proteína Gs. A proteína Gs libera GDP e liga GTP Quando o hormônio não está mais presente, o receptor reverte a seu estado de repouso. O GTP na subunidade � é hidrolisado a GDP, e a adenililciclase é desativada Adenilil- ciclase inativa Membrana celular A subunidade � da proteína GS dissocia e ativa a adenililciclase Figura 2.3 O reconhecimento do sinal químico pela proteína G acoplada ao receptor de membrana afeta a atividade da adenililciclase. PPi, pirofosfato inorgânico. é denominado receptor histamínico. Embora este capítulo esteja focado na interação dos fármacos com os receptores específicos, é importante saber que nem todos os fármacosexercem seus efeitos interagindo com receptores. Os antiácidos, por exemplo, neutralizam quimicamente o ex- cesso de ácido gástrico, reduzindo os sintomas de azia. B. Estados receptores Os receptores existem em pelo menos dois estados: inativo (R) e ativo (R*), que estão em equilíbrio reversível entre si, em geral favorecendo o estado inativo. A ligação dos agonistas desloca o equilíbrio de R para R*, produzindo um efeito biológico. Os antagonistas ocupam o receptor, mas não aumentam a fração R* e podem estabilizar o receptor no estado inativo. Alguns fármacos (agonistas parciais) causam desvios similares no equilíbrio de R para R*, mas a fração de R* é menor do que a causada por um agonista (mas ainda é maior do que a causada por um antago- nista). A intensidade do efeito biológico é diretamente relacionada com a fração R*. Agonistas, antagonistas e agonistas parciais são exemplos de ligantes ou moléculas que se ligam ao centro de ativação no receptor. C. Principais famílias de receptores A farmacologia define receptor como qualquer molécula biológica à qual um fármaco se fixa e produz uma resposta mensurável. Assim, enzimas, ácidos nucleicos e proteínas estruturais podem atuar como receptores de fármacos ou de agonistas endógenos. Contudo, a fonte mais rica e terapeuticamente relevante de receptores farmacológicos são proteínas que transduzem sinais extracelulares em respostas intracelulares. Esses receptores podem ser divididos em quatro famílias: 1) canais iônicos dis- parados por ligantes; 2) receptores acoplados à proteína G; 3) recepto- res ligados a enzimas; e 4) receptores intracelulares (Fig. 2.2). O tipo de Capitulo_02_Whalen.indd 26 25/04/2016 09:38:53 Farmacologia Ilustrada 27 receptor com o qual o ligante interage depende da natureza química do ligante. Ligantes hidrofílicos interagem com receptores situados na super- fície da célula (Figs. 2.2A, B, C). Em contraste, os ligantes hidrofóbicos entram nas células através da bicamada lipídica da membrana celular para interagir com receptores situados dentro das células (Fig. 2.2D). 1. Canais iônicos transmembrana disparados por ligantes: A por- ção extracelular dos canais iônicos disparados por ligantes em ge- ral contém o local de ligação. Esses locais regulam o formato do poro através do qual os íons fluem através da membrana celular (Fig. 2.2A). Em geral, o canal está fechado até que o receptor seja ativado por um agonista que abre o canal brevemente, por poucos milissegundos. Dependendo do íon conduzido através desses ca- nais, os receptores mediam diversas funções, incluindo neuro- transmissão e contração cardíaca ou muscular. Por exemplo, a es- timulação do receptor nicotínico pela acetilcolina resulta em influxo de sódio e efluxo de potássio, gerando um potencial de ação no neurônio ou contração no músculo esquelético. Por outro lado, a estimulação do receptor ácido γ-aminobutírico (GABA) pelo agonis- ta aumenta o influxo de cloretos e hiperpolariza os neurônios. Os canais iônicos disparados por voltagem também podem ter locais de fixação de ligantes que podem regular a função do canal. Por exemplo, os anestésicos locais se ligam ao canal de sódio dispara- do por voltagem, inibindo o influxo de sódio e diminuindo a condu- ção neuronal. 2. Receptores transmembrana acoplados à proteína G: O domínio extracelular deste receptor contém a área de fixação do ligante, e o domínio intracelular interage (quando ativado) com a proteína G ou com a molécula efetora. Há vários tipos de proteínas G (p. ex., Gs, Gi e Gq), mas todas são compostas de três subunidades de proteí- nas. A subunidade α liga trifosfato de guanosina (GTP, do inglês guanosine triphosphate), e as subunidades β e γ ancoram a pro- teína G na membrana celular (Fig. 2.3). A ligação de um agonista ao receptor aumenta a ligação de GTP na subunidade α, causando a dissociação do complexo α-GTP do complexo βγ. Então esses dois complexos podem interagir com outros efetores celulares, em geral enzima, proteína ou canal iônico, responsáveis por ações adi- cionais dentro da célula. Essas respostas geralmente duram de vários segundos a minutos. Algumas vezes, os efetores ativados produzem segundos mensageiros que ativam outros efetores adi- cionais na célula, causando um efeito cascata. Um efetor comum, ativado por Gs e inibido por Gi, é a adenililcicla- se, que produz o segundo mensageiro monofosfato de adenosina cíclico (AMPc). A Gq ativa a fosfolipase C, gerando dois outros se- gundos mensageiros: o trifosfato 1,4,5-inositol (IP3) e o diacilglice- rol (DAG). O DAG e o AMPc ativam diferentes proteinocinases no interior da célula, levando a uma miríade de efeitos fisiológicos. O IP3 regula a concentração intracelular de cálcio livre, bem como algumas proteinocinases. 3. Receptores ligados a enzimas: Esta família de receptores con- siste em uma proteína que pode formar dímeros ou complexos de subunidades múltiplos. Quando ativados, esses receptores so- frem alterações conformacionais, resultando em aumento da ativi- dade enzimática no citosol, dependendo de sua estrutura e função R R-PO4 A B C D γ α β Íons Fosforilação de proteínas EFEITOS INTRACELULARES Fosforilação de proteínas e do receptor Canais iônicos disparados por ligantes Receptores intracelulares Receptores acoplados à proteína G Receptores ligados a enzimas Receptores colinérgicos nicotínicos Exemplo: Exemplo: Receptores de insulina Exemplo: Receptores esteroidesAdrenoceptores � e � Exemplo: Fosforilação de proteínas e alteração da expressão gênica Alterações no potencial de membrana ou na concentração iônica no interior da célula Figura 2.2 Mecanismos de sinalização transmembrana. A. O ligante une-se a domínios extracelulares do canal estimulado por ligante. B. O ligante une-se a um domínio do receptor transmembrana que está acoplado à proteína G. C. O ligante une-se ao domínio extracelular de um receptor que ativa uma enzima cinase. D. O ligante lipossolúvel difunde-se através da membrana para interagir com seu receptor intracelular. R, proteína inativa. 4 Pi γ GDP β α ATP AMPc + PPi γ 3 β α GTP GDP γ α β 1 Receptor GTP GDP β γ α 2 GTP Hormônio ou neurotransmissor Adenilil- ciclase inativa Proteína Gs unida ao GDP Adenilil- ciclase ativa Adenilil- ciclase inativa Citosol Espaço extra- celular O receptor não ocupado não interage com a proteína Gs O receptor ocupado altera a forma e interage com a proteína Gs. A proteína Gs libera GDP e liga GTP Quando o hormônio não está mais presente, o receptor reverte a seu estado de repouso. O GTP na subunidade � é hidrolisado a GDP, e a adenililciclase é desativada Adenilil- ciclase inativa Membrana celular A subunidade � da proteína GS dissocia e ativa a adenililciclase Figura 2.3 O reconhecimento do sinal químico pela proteína G acoplada ao receptor de membrana afeta a atividade da adenililciclase. PPi, pirofosfato inorgânico. Capitulo_02_Whalen.indd 27 25/04/2016 09:38:53 28 Whalen, Finkel & Panavelil (Fig. 2.4). Essa resposta dura de minutos a horas. Os receptores ligados a enzimas mais comuns (fator de crescimento epidermal, fator de crescimento derivado de plaquetas, peptídeo natriurético atrial, insulina e outros) possuem atividade tirosinocinase como parte da sua estrutura. O receptor ativado fosforila resíduos de ti- rosina nele próprio e em outras proteínas específicas (Fig. 2.4). A fosforilação pode modificar de modo substancial a estrutura da proteína-alvo, atuando, assim, como um interruptor molecular. Por exemplo, quando o hormônio peptídico insulina se liga a duas de suas subunidades receptoras, a sua atividade tirosinocinase in- trínseca causa autofosforilação do próprio receptor. Por sua vez, o receptor fosforilado fosforila outros peptídeos ou proteínas, que ativam na sequência outros sinais celulares importantes. Essa cascata de ativações resulta na multiplicação do sinal inicial, muito semelhante aos receptoresacoplados à proteína G. 4. Receptores intracelulares: A quarta família de receptores difere consideravelmente das outras três, pois o receptor é inteiramente intracelular, e, portanto, o ligante precisa difundir-se para dentro da célula para interagir com ele (Fig. 2.5). Para mover-se através da membrana da célula-alvo, o ligante deve ser suficientemente lipos- solúvel. O alvo primário desses complexos ligante-receptor são fa- tores de transcrição no núcleo da célula. A fixação do ligante com seu receptor geralmente ativa o receptor por meio de sua dissocia- ção de uma variedade de proteínas. Então, o complexo ligante-re- ceptor ativado se desloca até o núcleo, onde se dimeriza, em geral, antes de ligar-se aos fatores de transcrição que regulam a expres- são gênica. A ativação ou inativação desses fatores causa a trans- crição do DNA em RNA e a translação do RNA em uma série de proteínas. O curso temporal da ativação e da resposta desses re- ceptores é da ordem de horas ou dias. Por exemplo, os hormônios esteroides exercem suas ações em células-alvo por meio de recep- tores intracelulares. Outros alvos dos ligantes intracelulares são proteínas estruturais, enzimas, RNA e ribossomos. Por exemplo, a tubulina é o alvo de antineoplásicos como o paclitaxel (ver Cap. 46), a enzima di-hidrofolato redutase é o alvo de antimicrobianos como a trimetoprima (ver Cap. 40), e a subunidade 50S do ribosso- mo bacteriano é o alvo de antimicrobianos macrolídeos, como a eritromicina (ver Cap. 39). D. Algumas características da transdução de sinais A transdução de sinais tem dois aspectos importantes: 1) amplificar si- nais pequenos e 2) proteger a célula contra estimulação excessiva. 1. Amplificação de sinais: A característica dos receptores ligados à proteína G e a enzimas é sua propriedade de amplificar a intensi- dade e a duração do sinal. Por exemplo, um único complexo ago- nista-receptor pode interagir com várias proteínas G, multiplican- do, assim, várias vezes o sinal original. Além disso, a proteína G ativada persiste por mais tempo do que o complexo ligante-recep- tor original. Por exemplo, a ligação do salbutamol só existe por poucos milissegundos, mas a proteína G ativada subsequente pode persistir por centenas de milissegundos. O sinal inicial é pro- longado e amplificado adicionalmente pela interação entre a pro- teína G e seus respectivos alvos intracelulares. Devido a essa am- plificação, apenas uma fração do total de receptores para um S S S S S Sα α β β P S S S S S Sα α P P 4 2 3 1 ββ Insulina Tirosina Tirosina Receptor da Insulina (Inativo) Efeitos biológicos da insulina SRI-tir —Tirosina —Tirosina Ativação de múltiplas vias sinalizadoras A tirosinocinase do receptor fosforila outras proteínas, por exemplo, substratos do receptor de insulina (SRI) Resíduos de tirosina da subunidade � são autofosforilados Receptor da insulina (Ativo) SRI-tir-P— A ligação da insulina estimula a ati- vidade tirosinocinase do receptor no domínio intracelular da subuni- dade � do receptor de insulina Os SRI fosforilados promovem a ativação de outras proteino- cinases e fosfatases, levando às ações biológicas da insulina Figura 2.4 Receptor da insulina. NÚCLEO CITOSOL Receptor inativo O fármaco se liga a um receptor Fármaco Um fármaco lipossolúvel difunde-se através da membrana celular e vai até o núcleo da célula Fármaco Fármaco CÉLULA- -ALVO Complexo receptor ativado Gene RNAm RNAm Proteínas especí�cas Efeitos biológicos O complexo fármaco- -receptor se liga à cromatina, ativando a transcrição de genes especí�cos Figura 2.5 Mecanismo de receptores intracelulares. RNAm, RNA mensageiro. Capitulo_02_Whalen.indd 28 25/04/2016 09:38:54 Farmacologia Ilustrada 29 (Fig. 2.4). Essa resposta dura de minutos a horas. Os receptores ligados a enzimas mais comuns (fator de crescimento epidermal, fator de crescimento derivado de plaquetas, peptídeo natriurético atrial, insulina e outros) possuem atividade tirosinocinase como parte da sua estrutura. O receptor ativado fosforila resíduos de ti- rosina nele próprio e em outras proteínas específicas (Fig. 2.4). A fosforilação pode modificar de modo substancial a estrutura da proteína-alvo, atuando, assim, como um interruptor molecular. Por exemplo, quando o hormônio peptídico insulina se liga a duas de suas subunidades receptoras, a sua atividade tirosinocinase in- trínseca causa autofosforilação do próprio receptor. Por sua vez, o receptor fosforilado fosforila outros peptídeos ou proteínas, que ativam na sequência outros sinais celulares importantes. Essa cascata de ativações resulta na multiplicação do sinal inicial, muito semelhante aos receptores acoplados à proteína G. 4. Receptores intracelulares: A quarta família de receptores difere consideravelmente das outras três, pois o receptor é inteiramente intracelular, e, portanto, o ligante precisa difundir-se para dentro da célula para interagir com ele (Fig. 2.5). Para mover-se através da membrana da célula-alvo, o ligante deve ser suficientemente lipos- solúvel. O alvo primário desses complexos ligante-receptor são fa- tores de transcrição no núcleo da célula. A fixação do ligante com seu receptor geralmente ativa o receptor por meio de sua dissocia- ção de uma variedade de proteínas. Então, o complexo ligante-re- ceptor ativado se desloca até o núcleo, onde se dimeriza, em geral, antes de ligar-se aos fatores de transcrição que regulam a expres- são gênica. A ativação ou inativação desses fatores causa a trans- crição do DNA em RNA e a translação do RNA em uma série de proteínas. O curso temporal da ativação e da resposta desses re- ceptores é da ordem de horas ou dias. Por exemplo, os hormônios esteroides exercem suas ações em células-alvo por meio de recep- tores intracelulares. Outros alvos dos ligantes intracelulares são proteínas estruturais, enzimas, RNA e ribossomos. Por exemplo, a tubulina é o alvo de antineoplásicos como o paclitaxel (ver Cap. 46), a enzima di-hidrofolato redutase é o alvo de antimicrobianos como a trimetoprima (ver Cap. 40), e a subunidade 50S do ribosso- mo bacteriano é o alvo de antimicrobianos macrolídeos, como a eritromicina (ver Cap. 39). D. Algumas características da transdução de sinais A transdução de sinais tem dois aspectos importantes: 1) amplificar si- nais pequenos e 2) proteger a célula contra estimulação excessiva. 1. Amplificação de sinais: A característica dos receptores ligados à proteína G e a enzimas é sua propriedade de amplificar a intensi- dade e a duração do sinal. Por exemplo, um único complexo ago- nista-receptor pode interagir com várias proteínas G, multiplican- do, assim, várias vezes o sinal original. Além disso, a proteína G ativada persiste por mais tempo do que o complexo ligante-recep- tor original. Por exemplo, a ligação do salbutamol só existe por poucos milissegundos, mas a proteína G ativada subsequente pode persistir por centenas de milissegundos. O sinal inicial é pro- longado e amplificado adicionalmente pela interação entre a pro- teína G e seus respectivos alvos intracelulares. Devido a essa am- plificação, apenas uma fração do total de receptores para um S S S S S Sα α β β P S S S S S Sα α P P 4 2 3 1 ββ Insulina Tirosina Tirosina Receptor da Insulina (Inativo) Efeitos biológicos da insulina SRI-tir —Tirosina —Tirosina Ativação de múltiplas vias sinalizadoras A tirosinocinase do receptor fosforila outras proteínas, por exemplo, substratos do receptor de insulina (SRI) Resíduos de tirosina da subunidade � são autofosforilados Receptor da insulina (Ativo) SRI-tir-P— A ligação da insulina estimula a ati- vidade tirosinocinase do receptor no domínio intracelular da subuni- dade � do receptor de insulina Os SRI fosforilados promovem a ativação de outras proteino- cinases e fosfatases, levando às ações biológicas da insulina Figura 2.4 Receptor da insulina. NÚCLEO CITOSOL Receptor inativo O fármacose liga a um receptor Fármaco Um fármaco lipossolúvel difunde-se através da membrana celular e vai até o núcleo da célula Fármaco Fármaco CÉLULA- -ALVO Complexo receptor ativado Gene RNAm RNAm Proteínas especí�cas Efeitos biológicos O complexo fármaco- -receptor se liga à cromatina, ativando a transcrição de genes especí�cos Figura 2.5 Mecanismo de receptores intracelulares. RNAm, RNA mensageiro. ligante específico precisa ser ocupada para evocar a resposta máxima. Diz-se que os sistemas que exibem essa característica possuem receptores de reserva. Estes são exibidos pelos recepto- res de insulina, onde se estima que 99% dos receptores são “re- serva”. Isso constitui uma imensa reserva funcional que garante a entrada de quantidades adequadas de glicose na célula. Por outro lado, no coração humano, apenas cerca de 5 a 10% do total de adrenoceptores β são de reserva. Uma implicação importante des- sa observação é que há pouca reserva funcional no coração insu- ficiente; a maioria dos receptores precisa ser ocupada para obter a contratilidade máxima. 2. Dessensibilização dos receptores: A administração repetida ou contínua de um agonista (ou um antagonista) pode causar altera- ções na responsividade do receptor. Para evitar possíveis lesões às células (p. ex., altas concentrações de cálcio iniciando morte celular), vários mecanismos se desenvolveram, buscando prote- ger a célula da estimulação excessiva. Quando um receptor é ex- posto a administrações repetidas de um agonista, o receptor se torna dessensibilizado (Fig. 2.6), resultando em diminuição do efeito. Esse fenômeno, denominado taquifilaxia, é devido à fosfo- rilação ou a evento químico similar que torna o receptor da super- fície celular não responsivo ao ligante. Além disso, os receptores podem ser dessensibilizados (down-regulated) por internalização ou sequestro no interior da célula, ficando indisponíveis para no- vas interações com os agonistas. Esses receptores podem ser re- ciclados para a superfície celular, restabelecendo a sensibilidade; ou, de modo alternativo, podem ser processados e degradados, diminuindo o número total de receptores disponíveis. Alguns re- ceptores, particularmente os canais iônicos, exigem um tempo fi- nito após a estimulação antes de poderem ser ativados novamen- te. Durante essa fase de recuperação, diz-se que são “refratários”. De modo similar, a exposição repetida do receptor a antagonistas pode resultar em sensibilização (up-regulation), na qual recepto- res de reserva são inseridos na membrana, aumentando o número total de receptores disponíveis. A sensibilização de receptores tor- na a célula mais sensível aos agonistas e mais resistente ao efeito dos antagonistas. III. RELAÇÕES DOSE-RESPOSTA Os fármacos agonistas mimetizam a ação de um ligante endógeno original no seu receptor (p. ex., o isoproterenol mimetiza a norepinefrina nos recepto- res β1 cardíacos). A intensidade do efeito do fármaco depende da sua con- centração no local receptor, o que, por sua vez, é determinado pela dose administrada e pelo perfil farmacocinético do fármaco, como velocidades de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação. A. Relações dose-resposta graduais Conforme a concentração do fármaco aumenta, seu efeito farmacológi- co também aumenta gradualmente até que todos os receptores estejam ocupados (efeito máximo). Lançando a intensidade da resposta contra as doses crescentes de um fármaco, produz-se uma curva dose-respos- ta gradual que tem o formato geral apresentado na Figura 2.7A. A cur- va pode ser descrita como uma hipérbole retangular, que é uma curva Capitulo_02_Whalen.indd 29 25/04/2016 09:38:54 30 Whalen, Finkel & Panavelil A 100 50 0 0 100 50 BFármaco A Fármaco B [Fármaco] Fármaco A Fármaco B log [Fármaco] CE50CE50 A CE50 é a concentração do fármaco que produz uma resposta igual a 50% da resposta máxima Po rc en ta ge m d o ef ei to m áx im o Po rc en ta ge m d o ef ei to m áx im o A potência do fármaco pode ser comparada usando a CE50: quanto menor a CE50, mais potente é o fármaco Figura 2.7 O efeito da dose na intensidade da resposta farmacológica. A. Gráfico em escala linear. B. Lançamento semilogarítmico dos mesmos dados. CE50, dose de fármaco que causa 50% da resposta máxima. familiar em biologia, pois pode ser aplicada a diversos eventos biológicos, como a atividade enzimática e as respostas aos farmacos. Duas proprie- dades importantes dos fármacos, potência e eficácia, podem ser determi- nadas nas curvas dose-resposta graduais. 1. Potência: Potência é uma medida da quantidade de fármaco ne- cessária para produzir um efeito de determinada intensidade. A concentração de fármaco que produz 50% do efeito máximo (CE50) em geral é usada para determinar a potência. Na Figura 2.7, a CE50 dos fármacos A e B indica que o fármaco A é mais potente do que o B porque menor quantidade de fármaco A é necessária para obter 50% do efeito, quando comparado com o fármaco B. As preparações terapêuticas dos fármacos refletem sua potência. Por exemplo, candesartana e irbesartana são bloqueadores do recep- tor de angiotensina usados no tratamento da hipertensão. A faixa de doses terapêuticas da candesartana é 4-32 mg; a da irbesarta- na é de 75-300 mg. Por isso a candesartana é mais potente do que a irbesartana (ela tem um CE50 menor, similar ao do fármaco A na Fig. 2.7). Como a faixa de concentração dos fármacos (1-99% da resposta máxima) em geral é muito ampla, são usados lança- mentos gráficos semilogarítmicos para poder representar a faixa de doses completa. Como apresentado na Figura 2.7B, as curvas assumem a forma sigmoide, o que simplifica a interpretação da curva dose-resposta. 2. Eficácia: Eficácia é o tamanho da resposta que o fármaco causa quando interage com um receptor. A eficácia depende do número de complexos farmacorreceptores formados e da atividade intrín- seca do fármaco (sua capacidade de ativar o receptor e causar a resposta celular). A eficácia máxima de um fármaco (Emáx) conside- ra que todos os receptores estão ocupados pelo fármaco, e não se obterá aumento na resposta com maior concentração do fármaco. Por isso, a resposta máxima difere entre agonistas totais e par- ciais, mesmo que 100% dos receptores sejam ocupados pelos fár- macos. De modo similar, mesmo que um antagonista ocupe 100% 0 20 30 40 50 10 0 30 50 10 0 20 30 40 50 10 40 20 Injeção repetida do fármaco A administração repetida de um agonista (como a epinefrina) em curto período de tempo resulta na diminuição da resposta da célula Após um período de repouso, a administração do fármaco resulta em uma resposta de intensidade original Re sp os ta Tempo Figura 2.6 Dessensibilização de receptores. Capitulo_02_Whalen.indd 30 25/04/2016 09:38:55 Farmacologia Ilustrada 31 dos receptores, não ocorre ativação, e o Emáx é zero. A eficácia é uma característica clinicamente mais útil do que a potência, pois um fármaco com maior eficácia é mais benéfico terapeuticamente do que um que seja mais potente. A Figura 2.8 mostra a resposta a fármacos de diferentes potências e eficácias. B. Efeito da concentração do fármaco nas ligações com o receptor A relação quantitativa entre a concentração do fármaco e a ocupação dos receptores aplica a lei de ação das massas à cinética de ligação do fármaco com as moléculas receptoras: Fármaco + Receptor Complexo farmacorreceptor → Efeito biológico Admitindo que a ligação de uma molécula não altera a ligação de mo- léculas subsequentes e aplicando a lei de ação das massas, pode-se expressar matematicamente a relação entre a porcentagem (ou a fração) de receptores ocupados e a concentração do fármaco: DR R D K Dt d [ ] [ ] = [ ] + [ ] (1) em que [D] é a concentração do fármaco livre; [DR] é a concentração do fármaco ligado; [Rt] é a concentração total de receptores, que é igual à soma dos receptores ocupados e dos receptores não ocupados(livres); e Kd é a constante de dissociação de equilíbrio para o fármaco do receptor. O valor Kd pode ser usado para determinar a afinidade do fármaco pelo seu receptor. A afinidade descreve a força da interação (ligação) entre o ligante e seu receptor. Quanto maior o valor de Kd, mais fraca é a in- teração e menor a afinidade, e vice-versa. A equação (1) define a curva que tem a forma de uma hipérbole retangular (Fig. 2.9A). À medida que a concentração do fármaco livre aumenta, a relação entre a concentração do receptor ligado e dos receptores totais se aproxima da unidade. A ligação do fármaco com seu receptor inicia eventos que levam à resposta biológica mensurável. Assim, não é surpresa que as curvas mostradas na Figura 2.9 e as que representam a relação entre dose e efeito (Fig. 2.7) sejam similares. C. Relações da ligação do fármaco com o efeito farmacológico O modelo matemático que descreve a concentração do fármaco e a liga- ção ao receptor pode ser aplicado à dose (concentração do fármaco) e à resposta (ou efeito), desde que as seguintes premissas sejam atendidas: 1) o tamanho da resposta é proporcional à quantidade de receptores li- gados ou ocupados; 2) o Emáx ocorre quando todos os receptores estão ocupados; e 3) a ligação do fármaco ao receptor não exibe cooperativi- dade. Nesse caso, E E D K Dm x d [ ] [ ] = [ ] + [ ]á (2) em que [E] é o efeito do fármaco na concentração [D], e [Emáx] é o efeito máximo do fármaco. 0 50 100 CE50 do fármaco A Fármaco C CE50 do fármaco B CE50 do fármaco C O fármaco A é mais potente do que o fármaco B, mas tem a mesma e�cácia O fármaco C apre- senta menor po- tência e menor e�cácia do que os fármacos A e B Log da concentração de fármaco Ef ei to b io ló gi co Fármaco A Fármaco B Figura 2.8 Curvas dose-resposta típicas para fármacos que mostram diferenças em potência e eficácia. CE 50, dose do fármaco que provoca 50% da resposta máxima. 1 0,5 0 0 1 0,5 A B Dose Log dose [R ec ep to re s oc up ad os ] [R ec ep to re s to ta is ] [R ec ep to re s oc up ad os ] [R ec ep to re s to ta is ] Figura 2.9 Efeito da dose na intensidade da ligação do fármaco. Capitulo_02_Whalen.indd 31 25/04/2016 09:38:57 32 Whalen, Finkel & Panavelil Portanto, se uma população de receptores específicos é vital na media- ção de um efeito fisiológico, a afinidade de um agonista para ligar-se nes- ses receptores deve estar relacionada com a potência desse fármaco em causar o efeito biológico. Deve ser lembrado que vários fármacos e a maioria dos neurotransmissores podem ligar-se a mais de um tipo de re- ceptor, causando, dessa forma, tanto os efeitos desejados como os efei- tos indesejados. Com objetivo de estabelecer a relação entre a ocupação de um subtipo particular de receptores pelo fármaco e a resposta bioló- gica correspondente, com frequência se constroem curvas de correlação entre a afinidade do receptor e a potência do fármaco (Fig. 2.10). IV. ATIVIDADE INTRÍNSECA Como já mencionado, um agonista liga-se a um receptor e produz uma res- posta biológica baseada na concentração do agonista e na fração de P Kd Ligação �1 CE 50 B ro nc od ila ta çã o A D N E I Rxy=0 0,01 0 1 10 10 0 1.0 00 10 .00 0 10 0.0 00 1.0 00 .00 0 0,1 1 10 100 1.000 10.000 100.000 P Kd Ligação �1 CE 50 P re ss ão a rt er ia l A D N E I Rxy=1 0,01 0 1 10 10 0 1.0 00 10 .00 0 10 0.0 00 1.0 00 .00 0 0,1 1 10 100 1.000 10.000 P Kd Ligação �2 CE 50 P re ss ão a rt er ia l A D N E I Rxy=0 0,01 1 10 10 0 1.0 00 10 .00 0 10 0.0 00 1.0 00 .00 0 10 .00 0.0 00 0,1 1 10 100 1.000 10.000 P Kd Ligação �2 CE 50 B ro nc od ila ta çã o A D N E I Rxy=1 0,01 1 10 10 0 1.0 00 10 .00 0 10 0.0 00 1.0 00 .00 0 10 .00 0.0 00 0,1 1 10 100 1.000 1.000 100.000 Figura 2.10 Correlação da afinidade do fármaco pela ligação com o receptor e a potência em produzir um efeito fisiológico. Deve haver correlação positiva entre a afinidade (valor de Kd) do fármaco para ligar-se a um subtipo de receptor específico e a potência (valor de CE50) deste fármaco para produzir uma resposta fisiológica mediada por essa população de receptores. Por exemplo, vários fármacos têm afinidade por ambos os receptores α1 e adrenérgicos β2. As letras dentro de círculos na figura representam agonistas com afinidades variáveis pelos α1 e receptores β2. Contudo, dos dados apresentados, fica claro que os receptores α1 só mediam alterações na pressão arterial, ao passo que os receptores β2 só mediam alterações na broncodilatação. Capitulo_02_Whalen.indd 32 25/04/2016 09:38:57 Farmacologia Ilustrada 33 receptores ativados. A atividade intrínseca de um fármaco determina sua capacidade de ativar total ou parcialmente os receptores. Os fármacos po- dem ser classificados de acordo com suas atividades intrínsecas e os valo- res de Emáx resultantes. A. Agonistas totais Se um fármaco se liga a um receptor e produz a resposta biológica máxima que mimetiza a resposta do ligante endógeno, ele é um ago- nista total (Fig. 2.11). Agonistas totais se ligam ao receptor e o estabi- lizam no seu estado ativo, e diz-se que tem atividade intrínseca unitá- ria. Todos os agonistas totais de uma população de receptores devem produzir o mesmo Emáx. Por exemplo, a fenilefrina é um agonista total nos adrenoceptores α1 porque ela produz o mesmo Emáx produzido pelo ligante endógeno, norepinefrina. Após ligar-se ao adrenoceptor α1 no músculo liso vascular, a fenilefrina estabiliza o receptor em seu estado ativo. Isso mobiliza o Ca2+ intracelular, causando interações dos fila- mentos de actina e miosina e encurtando as células musculares. O diâ- metro das arteríolas diminui, causando aumento da resistência ao fluxo de sangue nos vasos e aumento da pressão arterial. Como essa breve descrição ilustra, um agonista pode ter vários efeitos mensuráveis, in- cluindo ações em moléculas intracelulares, em células, em tecidos e no organismo inteiro. Todas essas ações são atribuídas à interação do fármaco com o receptor. Para agonistas totais, a curva dose-resposta para a ligação com o receptor e cada um dos efeitos biológicos deve ser comparável. B. Agonistas parciais Os agonistas parciais têm atividade intrínseca maior do que zero, mas menor do que um (Fig. 2.11). Os agonistas parciais não conseguem produzir o mesmo Emáx que o agonista total, mesmo ocupando todos os receptores. Entretanto, o agonista parcial pode ter uma afinidade que é maior ou menor que a do agonista total, ou equivalente a ela. Quando o receptor é exposto ao agonista parcial e ao total simultaneamente, o agonista parcial pode atuar como antagonista do agonista total. Consi- dere o que ocorreria com o Emáx de receptor saturado com um agonista na presença de concentrações crescentes de agonista parcial (Fig. 2.12). À medida que o número de receptores ocupados pelo agonista parcial aumenta, o Emáx diminui até alcançar o Emáx do agonista parcial. Esse potencial dos agonistas parciais de atuar como agonista e antagonista pode ser usado terapeuticamente. Por exemplo, o aripiprazol, um antipsi- cótico atípico, é um agonista parcial em seletos receptores de dopamina. As vias dopaminérgicas que estiverem superativas tendem a ser inibidas pelo aripiprazol, enquanto as vias que estiverem subativas são estimu- ladas. Isso explica a habilidade do aripiprazol de reduzir os sintomas da esquizofrenia, com riscos mínimos de causar efeitos adversos extrapira- midais (ver Cap. 11). C. Agonistas inversos Comumente, os receptores livres são inativos e precisam da interação com um agonista para assumir uma conformação ativa. Contudo, alguns receptores apresentam conversão espotânea de R para R* na ausência de agonista. Agonistas inversos, ao contrário de agonistas totais, esta- bilizam a forma R (inativa) e convertem R* em R. Isso diminui o número de receptores ativados paramenos do que observado na ausência do fármaco (Fig. 2.11). Assim, os agonistas inversos têm atividade intrínseca 0 25 50 75 100 Agonista parcial O agonista total provoca a ativação total do receptor nas concentrações elevadas do fármaco Agonista total A ti vi da de d o re ce pt or Agonista inverso Log da concentração do fármaco Neste exemplo, cerca de 12% dos receptores têm atividade constitutiva na ausência do agonista A ligação do agonista parcial resulta na ativa- ção de menos de 100%, mesmo em concentra- ções muito elevadas O agonista inverso provoca uma resposta aquém da linha de base mensurada na ausência de fármaco Figura 2.11 Efeitos dos agonistas total, parcial e inverso na atividade do receptor. Capitulo_02_Whalen.indd 33 25/04/2016 09:38:57 34 Whalen, Finkel & Panavelil menor que zero, revertem a atividade de receptores e exercem efeito far- macológico oposto ao dos agonistas. D. Antagonistas Os antagonistas ligam-se ao receptor com alta afinidade, mas têm ati- vidade intrínseca nula. Um antagonista não tem efeito na ausência de agonistas, mas pode diminuir o efeito do agonista quando estiver pre- sente. Pode ocorrer antagonismo pelo bloqueio da ligação do fármaco ao receptor ou da capacidade de ativar o receptor. 1. Antagonistas competitivos: Se ambos, antagonista e agonista, se ligam ao mesmo local receptor de modo reversível, eles são denominados “competitivos”. O antagonista competitivo impede que o agonista se ligue ao seu receptor e mantém esse receptor no estado inativo. Por exemplo, o anti-hipertensivo terazosina compe- te com o ligante endógeno norepinefrina nos adrenoceptores α1, diminuindo, assim, o tônus do músculo liso vascular e reduzindo a pressão arterial. Contudo, essa inibição pode ser superada aumen- tando-se a concentração do agonista em relação ao antagonista. Assim, de modo característico, os antagonistas competitivos deslo- cam as curvas dose-resposta para a direita (aumenta o CE50) sem afetar o Emáx (Fig. 2.13). 2. Antagonistas irreversíveis: Antagonistas irreversíveis se fixam de modo covalente ao local ativo do receptor, reduzindo, assim, o número de receptores disponíveis para o agonista. O antagonista irreversível causa redução do Emáx sem alterar o valor de CE50 (sal- vo na existência de receptores de reserva). Em contraste com os antagonistas competitivos, o efeito dos antagonistas irreversíveis não consegue ser superado pela adição de mais agonista (Fig. 2.13). Assim, antagonistas irreversíveis e antagonistas alostéricos (ver adiante) são considerados antagonistas não competitivos. Uma diferença fundamental entre antagonistas competitivos e não competitivos é que os competitivos diminuem a potência do ago- nista (aumentam a CE50), e os não competitivos diminuem a eficá- cia do agonista (diminuem o Emáx). 3. Antagonistas alostéricos: O antagonista alostérico também dimi- nui o Emáx, sem alterar o valor de CE50 do agonista. Esse tipo de antagonista se fixa em um local (local alostérico) diferente do local de ligação do agonista e evita que o receptor seja ativado pelo ago- nista. A picrotoxina é um exemplo de agonista alostérico, pois se fixa no interior do canal de cloreto controlado pelo GABA. Quando a picrotoxina está fixada dentro do canal, o cloreto não pode passar pelo canal mesmo quando o receptor está totalmente ativado pelo GABA. 4. Antagonismo funcional: Um antagonista pode atuar em um re- ceptor completamente separado, iniciando eventos que são fun- cionalmente opostos aos do agonista. O exemplo clássico é o an- tagonismo funcional pela epinefrina da broncoconstrição induzida por histamina. A histamina se liga aos receptores H1 histamínicos na musculatura lisa bronquial, causando broncoconstrição da ár- vore brônquica. A epinefrina é um agonista nos adrenoceptores β2 na musculatura lisa bronquial, que causa o relaxamento do mús- culo. O antagonismo funcional também é conhecido como “anta- gonismo fisiológico”. 0 -10 -8 -6 1,0 0,5 Fr aç ão d a re sp os ta m áx im a Log (agonista parcial) Resposta produzida pelo agonista total Resposta produzida pelo agonista parcial Resposta total Legenda: Agonista total Agonista parcial Receptor comple- tamente ativo Receptor parcial- mente ativo Níveis elevados de agonista podem ativar todos os receptores e provocar estimulação excessiva indesejada A presença de agonista parcial desloca algumas moléculas de agonista, resultando numa redução na resposta do receptor Em concentração elevada de agonista parcial, o agonista está completamente deslocado e a atividade do receptor é determinada pela atividade intrínseca do agonista parcial Figura 2.12 Efeitos dos agonistas parciais. CE50 para o fármaco isolado ou na presença de um antagonista não competitivo CE50 para o fármaco na presença de um antagonista competitivo Fármaco isolado Fármaco com antagonista competitivo Concentração do fármaco Ef ei to b io ló gi co Fármaco com antagonista não competitivo Figura 2.13 Efeitos de fármacos antagonistas. CE50, dose do fármaco que provoca 50% da resposta máxima. Capitulo_02_Whalen.indd 34 25/04/2016 09:38:58 Farmacologia Ilustrada 35 menor que zero, revertem a atividade de receptores e exercem efeito far- macológico oposto ao dos agonistas. D. Antagonistas Os antagonistas ligam-se ao receptor com alta afinidade, mas têm ati- vidade intrínseca nula. Um antagonista não tem efeito na ausência de agonistas, mas pode diminuir o efeito do agonista quando estiver pre- sente. Pode ocorrer antagonismo pelo bloqueio da ligação do fármaco ao receptor ou da capacidade de ativar o receptor. 1. Antagonistas competitivos: Se ambos, antagonista e agonista, se ligam ao mesmo local receptor de modo reversível, eles são denominados “competitivos”. O antagonista competitivo impede que o agonista se ligue ao seu receptor e mantém esse receptor no estado inativo. Por exemplo, o anti-hipertensivo terazosina compe- te com o ligante endógeno norepinefrina nos adrenoceptores α1, diminuindo, assim, o tônus do músculo liso vascular e reduzindo a pressão arterial. Contudo, essa inibição pode ser superada aumen- tando-se a concentração do agonista em relação ao antagonista. Assim, de modo característico, os antagonistas competitivos deslo- cam as curvas dose-resposta para a direita (aumenta o CE50) sem afetar o Emáx (Fig. 2.13). 2. Antagonistas irreversíveis: Antagonistas irreversíveis se fixam de modo covalente ao local ativo do receptor, reduzindo, assim, o número de receptores disponíveis para o agonista. O antagonista irreversível causa redução do Emáx sem alterar o valor de CE50 (sal- vo na existência de receptores de reserva). Em contraste com os antagonistas competitivos, o efeito dos antagonistas irreversíveis não consegue ser superado pela adição de mais agonista (Fig. 2.13). Assim, antagonistas irreversíveis e antagonistas alostéricos (ver adiante) são considerados antagonistas não competitivos. Uma diferença fundamental entre antagonistas competitivos e não competitivos é que os competitivos diminuem a potência do ago- nista (aumentam a CE50), e os não competitivos diminuem a eficá- cia do agonista (diminuem o Emáx). 3. Antagonistas alostéricos: O antagonista alostérico também dimi- nui o Emáx, sem alterar o valor de CE50 do agonista. Esse tipo de antagonista se fixa em um local (local alostérico) diferente do local de ligação do agonista e evita que o receptor seja ativado pelo ago- nista. A picrotoxina é um exemplo de agonista alostérico, pois se fixa no interior do canal de cloreto controlado pelo GABA. Quando a picrotoxina está fixada dentro do canal, o cloreto não pode passar pelo canal mesmo quando o receptor está totalmente ativado pelo GABA. 4. Antagonismo funcional: Um antagonista pode atuar em um re- ceptor completamente separado, iniciando eventos que são fun- cionalmente opostos aos do agonista. O exemplo clássico é o an- tagonismo funcional pela epinefrinada broncoconstrição induzida por histamina. A histamina se liga aos receptores H1 histamínicos na musculatura lisa bronquial, causando broncoconstrição da ár- vore brônquica. A epinefrina é um agonista nos adrenoceptores β2 na musculatura lisa bronquial, que causa o relaxamento do mús- culo. O antagonismo funcional também é conhecido como “anta- gonismo fisiológico”. 0 -10 -8 -6 1,0 0,5 Fr aç ão d a re sp os ta m áx im a Log (agonista parcial) Resposta produzida pelo agonista total Resposta produzida pelo agonista parcial Resposta total Legenda: Agonista total Agonista parcial Receptor comple- tamente ativo Receptor parcial- mente ativo Níveis elevados de agonista podem ativar todos os receptores e provocar estimulação excessiva indesejada A presença de agonista parcial desloca algumas moléculas de agonista, resultando numa redução na resposta do receptor Em concentração elevada de agonista parcial, o agonista está completamente deslocado e a atividade do receptor é determinada pela atividade intrínseca do agonista parcial Figura 2.12 Efeitos dos agonistas parciais. CE50 para o fármaco isolado ou na presença de um antagonista não competitivo CE50 para o fármaco na presença de um antagonista competitivo Fármaco isolado Fármaco com antagonista competitivo Concentração do fármaco Ef ei to b io ló gi co Fármaco com antagonista não competitivo Figura 2.13 Efeitos de fármacos antagonistas. CE50, dose do fármaco que provoca 50% da resposta máxima. V. RELAÇÕES DOSE-RESPOSTA QUANTAIS Outra relação dose-resposta importante é entre a dose de fármaco e a pro- porção da população que responde a ela. Essas respostas são conhecidas como respostas quantais, pois, para cada indivíduo, o efeito acontece ou não. Respostas graduais podem ser transformadas em quantais definindo- -se um determinado nível de resposta gradual, como o ponto no qual a res- posta ocorreu ou não. Por exemplo, pode ser determinada uma relação do- se-resposta quantal na população para o anti-hipertensivo atenolol. A resposta positiva é definida como uma redução de no mínimo 5 mmHg na pressão arterial diastólica. Curvas dose-resposta quantais são úteis na de- terminação das doses às quais a maioria da população responde. Elas têm formato similar às curvas dose-resposta, e a DE50 é a dose de fármaco que causa a resposta terapêutica em metade da população. A. Índice terapêutico O índice terapêutico (IT) de um fármaco é a relação entre a dose que produz toxicidade em metade da população (DT50) e a dose que produz o efeito eficaz ou clinicamente desejado em metade da população (DE50): IT = DT50 / DE50 O IT é uma medida da segurança do fármaco, pois um valor elevado indi- ca uma ampla margem entre a dose que é efetiva e a que é tóxica. B. Utilidade clínica do índice terapêutico O IT é determinado usando-se a triagem do fármaco e a experiência clí- nica acumulada. Em geral, eles revelam uma faixa de doses eficazes e uma faixa distinta (algumas vezes, com sobreposição) de doses tóxicas. Embora sejam desejados valores altos de IT para a maioria dos fárma- cos, alguns com IT baixo são usados rotineiramente no tratamento de doenças graves. Nesses casos, o risco de obter efeitos indesejados não é tão elevado quanto o risco de deixar o paciente sem tratamento. A Figura 2.14 mostra as respostas à varfarina, um anticoagulante oral com IT bai- xo, e à penicilina, um antimicrobiano com IT alto. 1. Varfarina (exemplo de fármaco com índice terapêutico baixo): À medida que a dose de varfarina aumenta, uma maior fração dos pacientes responde (para esse fármaco, a resposta desejada é o aumento de duas a três vezes na relação normalizada internacional [INR, do inglês international normalized ratio]), até que finalmente todos os pacientes respondam (Fig. 2.14A). Contudo, nas doses elevadas de varfarina, ocorre hemorragia devido à anticoagulação em uma pequena porcentagem de pacientes. Fármacos com IT baixos – ou seja, fármacos para os quais a dose é crucialmente importante – são aqueles cuja biodisponibilidade altera de modo crítico o efeito terapêutico (ver Cap. 8). 2. Penicilina (exemplo de fármaco com índice terapêutico alto): Para fármacos como a penicilina (Fig. 2.14B), é seguro e comum administrar dose excessiva em relação àquela que é necessária minimamente para obter a resposta desejada, sem o risco de efei- tos adversos. Nesse caso, a biodisponibilidade não altera critica- mente os efeitos terapêuticos ou clínicos. 100 0 50 A Po rc en ta ge m d e pa ci en te s Log concentração do fármaco no plasma (unidades arbitrárias) Janela terapêutica Efeito terapêutico desejado Efeito adverso (indesejado) Varfarina: índice terapêutico pequeno 100 0 50 B Po rc en ta ge m d e pa ci en te s Log concentração do fármaco no plasma (unidades arbitrárias) Janela terapêutica Efeito terapêutico desejado Efeito adverso (indesejado) Penicilina: índice terapêutico amplo Figura 2.14 Porcentagem cumulativa de pacientes que respondem aos níveis plasmáticos de varfarina e benzilpenicilina. Capitulo_02_Whalen.indd 35 25/04/2016 09:38:58
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