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RESENHA O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do sul - Boaventura Souza Santos

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Resenha “ O Fim do Império Cognitivo: A Afirmação das Epistemologias do Sul”
Disciplina: Teoria de Relações Internacionais II - Turma PPGRI 2019
Tema: Epistemologias e Metodologias Outras
Aluna: Bianca Petermann Stoeckl
Como mencionado na apresentação na contracapa do seu livro, Boaventura traz o conceito de “epistemologia do Sul” a fim de desafiar o domínio do pensamento eurocêntrico e fazer justiça social global por meio da mudança epistemológica que garanta justiça cognitiva global, isto é, permitindo aos grupos oprimidos representarem o mundo como seu e nos seus próprios termos[footnoteRef:0]. [0: Traço um paralelo com a obra de Paulo Freire “Comunicação e Extensão?”, 1979, que li recentemente, no qual trata de relações humanas hierárquicas da tendência de posse absoluta do conhecimento, priorizando teorias em detrimento do conhecimento que se estabelece nas relações homem-mundo e vice versa e sem que haja troca de saberes 
] 
As epistemologias do sul "referem-se à produção e à validação de conhecimentos ancorados nas experiências de resistência de todos os grupos sociais que têm sido sistematicamente vítimas de injustiça, da opressão e da destruição causadas pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patriarcado". (p.17)
Não se trata apenas de uma noção geográfica entre o Norte e o Sul. O Sul a que se pretende dar voz é antes de tudo o Sul epistémico. Como uma crítica do modelo de racionalidade ocidental dominantes, traz os problemas e os possíveis caminhos para se afirmar tais epistemologias. 
É um desafio as epistemologias dominantes em dois níveis diferentes: Uma é discutir e reconhecer a validade de conhecimentos e modo de saber que não reconhecidos pela epistemologia dominante e , de praxe, está tão enraizado que nem os dominados percebam, em uma situação de alienação. 	
Assim, traz o conceito de sociologia das ausências como procedimento para transformar sujeitos ausentes em presentes como forma de identificar e validar os conhecimentos que contribuirão para a resistência e revolução e libertação social. A ideia central da sociologia das ausências é que não existem a ignorância nem o conhecimento em geral. Como se tratam de relações sociais de poder, resgatá-los é um ato político. Por outro lado, os excluídos revelados muitas vezes são coletivos nos quais perde-se a autoria do conhecimento, estando perante a processos de luta social e política no qual o conhecimento tem que ser vivido de forma performativa. 
Os conhecimentos são práticas sociais que surgem e circulam, na maioria das vezes, de forma despersonalizada e nesse sentido pode-se pensar que se trata de saberes e não de conhecimento. Mas para as epistemologias do Sul saberes e conhecimento são sinônimos, não havendo distinção, como realçada por Foucault (1969). Trata-se, portanto, de uma relação pragmática entre o conhecimento científico e outros tipos de conhecimento, conhecimentos distintos que podem construir outro mundo possível. A comparação entre as epistemologias do sul e do norte tende-se a projetar a imagem binária e dualista da imaginação ocidental. Nesse sentido, vem a noção de uma linha abissal que "marca a divisão radical entre formas de sociabilidade", no caso demarcada pela dicotomia epistemologias do norte/epistemologias do sul sendo que a primeira está associada à "sociabilidade colonial que caracterizou o mundo ocidental moderno desde o século XV". 
 O norte privilegiando a ciência moderna que se desenvolveu por lá desde o século XVII, baseando-se no observação sistemática e na experimentação controlada, bem como no rigor instrumental que difere o conhecimento científico das práticas e saberes populares. Isso contribuiu para mostrar a excepcionalidade do mundo ocidental e determinar a linha abissal que separa ainda hoje as sociedades e as sociabilidades metropolitanas das colônias. 
A epistemologias do sul estão interessadas na contestação, em grande, parte o capitalismo, o colonialismo e o patriarcalismo, mas também de proposição de alternativas, por outros olhares que não os das epistemologias do norte, que concebem o norte epistemológico eurocêntrico como sendo a única fonte de conhecimento válido, seja qual for o local geográfico onde o conhecimento é produzido. Dessa forma, as epistemologias do sul pretendem mostrar que aquilo que se considera válido, ignorando outras formas de conhecimento, deu origem a um epistemicídio massivo, isto é, a destruição de saberes que prevalecem sobretudo do outro lado da linha abissal. Isso significa que a colonialidade do saber e do poder que permanece como instrumento para perpetuar as opressões geradas pelas relações hegemônicas. 
O autor traz para o debate conceitos de lutas de resistências contra a dominação ocidental (não eurocêntricos) com importante significado político como o Ubuntu "que requer uma ontologia de ser-com e estar-com", o sumak kawsay, em quéchua, expressando a ideia do buen vivir e o pachamama, recentemente incluído na constituição equatoriana e que tem "a natureza não como um recurso natural, mas como um ser vivo, fonte de vida, ao qual são reconhecidos direitos do mesmo modo que aos seres humanos". São exemplos de apropriações contrahegeminicas. 
Diante disso, para além do pensamento abissal, a fim de construir, reconhecer e dar credibilidade aos conhecimentos não-científicos, são identificados alguns questionamentos que confrontam diretamente as epistemologias do sul com as epistemologias do norte. Aqui é importante conceituar as ecologias dos saberes que é um processo coletivo de produção de conhecimentos que visa reforçar as lutas pela emancipação social, democrático e que considera óbvio que todas as práticas racionais em que intervêm os seres humanos, e seres humanos e natureza, têm mais de um tipo de saber e, por conseguinte, também mais de um tipo de ignorância. 
Assim, sugere a análise das questões teóricas e metodológicas levantadas pelas epistemologias do sul: 1. O problema do relativismo (como estabelecer a validade relativa, já que coexistem diversos tipos de conhecimento); 2. O problema da objetividade; 3. O problema do papel da ciência na ecologia dos saberes (articulação entre a ciência moderna e o conhecimento não-científico); 4. O problema da autoria; 5. O problema da oralidade e da escrita (como validar saberes?); 6. O problema da luta (O que é e qual seu conteúdo epistemológico potencial ou específico); 7. O problema da experiência; 8. O problema da corporalidade do saber(como explicar a materialização do conhecimento por meio da presença de corpos); 9. O problema do sofrimento injusto; 10. O problema do aquecimento da razão ou do coronozar (como superar a racionalidade científica dando espaço aos sentimentos); 11. O problema de como relacionar sentido e copresença; 12. Como descolonizar o conhecimento, bem como as metodologias através das quais ele é produzido? 13. Como criar metodologias consonantes com as epistemologias do Sul (não extrativistas); 14. Quais os contextos das combinações de saberes científicos e artesanais nas ecologias de saberes? 15. Quais as implicações de ser um pesquisador pós-abissal; 16. O que é uma experiência profunda dos sentidos; 17. Como desmonumentalização o conhecimento escrito e promover autoria; 18. O problema do arquivo; 19. O problema da tradução intercultural; 20. O problema da educação popular; 21. O problema da descolonização da universidade; 22. Como ligar a educação popular e a universidade através da ecologia de saberes e da arte das práticas.
Após contextualizar e colocar os seus argumentos sobre as epistemologias do Sul, o autor desenvolve ao longo do livro a busca de respostas para os problemas apontados, com foco na necessidade de um pensamento pós-abissal e da luta pela emancipação social. Sobre o percurso para as epistemologias do Sul, é necessário reconhecer que nem todas as exclusões são do mesmo tipo e utiliza como instrumentos para essas distinção entre exclusões abissais e não abissais e os diferentes modos de dominação a sociologia das ausênciase a sociologia das emergências. A possibilidade de um futuro melhor está na reinvenção do presente, ampliado pela sociologia das ausências - que traz o passado para o presente - e pela sociologia das emergências (que traz o futuro para o presente).
Referências Bibliográficas
Santos, Boaventura de Sousa (2019) O Fim do Império Cognitivo: A Afirmação das Epistemologias do Sul. Belo Horizonte: Autêntica Editora, Introdução e Capítulo 1.
Santos, Boaventura de Sousa. Construindo as Epistemologias do Sul: Antologia Essencial. Volume I: Para um pensamento alternativo de alternativas / Boaventura de Sousa Santos; compilado por Maria Paula Meneses. [et al.]. - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO, 2018.

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