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A) Organizado por CP Iuris ISBN 978-65-5701-002-0 MEDICINA LEGAL 1ª edição Brasília CP Iuris 2020 SOBRE O AUTOR Frederico Alves Melo. Formado em Direito e pós-graduado em Ciências Criminais pela Universidade Cândido Mendes. É professor, perito papiloscopista (PCERJ), ex-oficial de Cartório, aprovado para delegado de Polícia Federal (fases objetiva, subjetiva e oral) e delegado de Polícia do Estado de São Paulo. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................................... 7 1. INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL ............................................................................. 8 1.1. CONCEITO ................................................................................................................... 8 1.2. NOÇÕES HISTÓRICAS .................................................................................................. 8 1.3. SUBDIVISÕES ............................................................................................................... 9 1.4. RELAÇÕES DA MEDICINA LEGAL COM OUTRAS CIÊNCIAS ........................................... 9 QUESTÕES ........................................................................................................................ 10 GABARITO ........................................................................................................................ 11 2. PERITOS E PERÍCIAS ................................................................................................ 12 2.1. PERÍCIA ...................................................................................................................... 12 2.2. PERITO ...................................................................................................................... 14 2.3. CORPO DE DELITO ..................................................................................................... 14 QUESTÕES ........................................................................................................................ 17 GABARITO ........................................................................................................................ 18 3. CADEIA DE CUSTÓDIA ............................................................................................. 19 4. DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS .............................................................................. 27 4.1. NOTIFICAÇÃO ............................................................................................................ 27 4.2. ATESTADO MÉDICO .................................................................................................. 27 4.3. PRONTUÁRIOS .......................................................................................................... 29 4.4. DEPOIMENTO ORAL .................................................................................................. 29 4.5. RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL ...................................................................................... 30 4.6. PARECER MÉDICO-LEGAL .......................................................................................... 31 QUESTÕES ........................................................................................................................ 32 GABARITO ........................................................................................................................ 33 5. ANTROPOLOGIA FORENSE ...................................................................................... 34 5.1. IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO ................................................................................. 34 5.2. MÉTODO DE VUCETICH ............................................................................................. 35 5.3. IDENTIFICAÇÃO DE SANGUE ..................................................................................... 41 5.4. IDENTIFICAÇÃO POR DNA ......................................................................................... 42 5.5. OSTEOLOGIA ............................................................................................................. 42 5.6. IDENTIFICAÇÃO DE SEXO MASCULINO OU FEMININO .............................................. 48 5.7. IDENTIFICAÇÃO DE RAÇA HUMANA .......................................................................... 51 QUESTÕES ........................................................................................................................ 53 GABARITO ........................................................................................................................ 54 6. TRAUMATOLOGIA FORENSE ................................................................................... 55 6.1. PELE........................................................................................................................... 55 6.2. TRAUMA ................................................................................................................... 57 6.3. LESÃO ........................................................................................................................ 58 6.4. AGENTES VULNERANTES ........................................................................................... 59 7. PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO ................................................................................ 90 7.1. MUNIÇÃO .................................................................................................................. 93 7.2. ONDAS DE CHOQUE E ONDAS DE PRESSÃO ............................................................... 110 7.3. LESÕES DE SAÍDA PROVOCADAS POR PAF .............................................................. 112 Frederico Alves Melo 7.4. LESÕES PROVOCADAS POR PAF DE ALTA ENERGIA ................................................. 113 7.5. LESÕES EM ÓRGÃOS MACIOS PROVOCADAS POR PAF ........................................... 113 8. LESÕES E MORTES PROVOCADAS POR EXPLOSIVOS ............................................... 115 9. AGENTES TÉRMICOS ............................................................................................. 116 9.1. LESÕES PELA AÇÃO TÉRMICA .................................................................................. 116 9.2. SINAIS DECORRENTES DA AÇÃO DO CALOR ............................................................ 120 9.3. FOTODERMATOFITOSES ......................................................................................... 122 9.4. REGRA DOS NOVE DE WALLACE .............................................................................. 122 9.5. CAUSA DE MORTE NOS INCÊNDIOS ........................................................................ 123 9.6. DISGNÓSTICO DO AGENTE VULNERANTE FOGO ..................................................... 124 9.7. QUEIMADURA POR LÍQUIDO FERVENTE ................................................................. 124 9.8. QUEIMADURA POR SÓLIDO INCANDESCENTE ........................................................ 124 9.9. QUEIMADURA POR VAPORES SUPERAQUECIDOS .................................................. 124 9.10. LESÕES E MORTES CAUSADAS PELO FRIO ............................................................. 125 9.11. QUEIMADURAS PELO FRIO ................................................................................... 126 10. AGENTES ELÉTRICOS ........................................................................................... 128 10.1. FULGURAÇÃO ....................................................................................................... 128 10.2. ELETROPLESSÃO .................................................................................................... 130 10.3. CAUSAS DA MORTE X CORRENTE ELÉTRICA .......................................................... 132 11. AGENTES CÁUSTICOS ..........................................................................................134 12. ASFIXIOLOGIA FORENSE ...................................................................................... 136 12.1. CONCEITOS BÁSICOS DO APARELHO CIRCULATÓRIO ........................................... 137 12.2. CONTROLE DE RESPIRAÇÃO .................................................................................. 139 12.3. ENERGIA VULNERANTE NAS ASFIXIAS MECÂNICAS .............................................. 139 12.4. SINAIS GERAIS DE ASFIXIA ..................................................................................... 139 12.5. CLASSIFICAÇÃO DAS ASFIXIAS DE AFRÂNIO PEIXOTO ........................................... 140 12.6. MODALIDADES DE ASFIXIA ................................................................................... 140 12.7. SINAIS NAS ASFIXIAS POR CONSTRICÇÃO DO PESCOÇO ....................................... 148 13. LESÕES E MORTE POR ENERGIA RADIANTE .......................................................... 155 14. LESÕES E MORTES CAUSADAS PELA ENERGIA BAROMÉTRICA............................... 159 15. MODIFICADORES DA IMPUTABILIDADE ............................................................... 164 16. TANATOLOGIA .................................................................................................... 175 16.1. TIPOS DE MORTE ................................................................................................... 176 16.2. SINAIS ABIÓTICOS IMEDIATOS DE MORTE ............................................................ 178 16.3. SINAIS ABIÓTICOS CONSECUTIVOS OU MEDIATOS DE MORTE ............................. 179 16.4. FENÔMENOS CADAVÉRICOS TRANSFORMATIVOS ............................................... 184 17. SEXOLOGIA FORENSE .......................................................................................... 193 17.1. A VIDA SEXUAL FEMININA ..................................................................................... 193 17.2. ABORTO ................................................................................................................ 202 17.3. PARAFILIAS ............................................................................................................ 209 18. TOXICOLOGIA FORENSE ...................................................................................... 221 APRESENTAÇÃO Este material foi desenvolvido com o intuito de auxiliar o estudo da matéria medicina legal para concursos de Delegado de Polícia, tendo como finalidade o aprofundamento e a melhor organização do estudo. A ideia de montar este material se deveu ao fato de achar, em um primeiro momento, que é difícil de se passar conhecimento sobre o tema abordado, e depois, pensar que a maneira de se passar sempre se deu de forma confusa e desordenada. Assim, buscou-se dar ênfase na simplicidade para facilitar o entendimento e o estudo complementar (sempre prezei por um estudo dinâmico e eficaz). O material é fruto de diversas doutrinas (Hygino de C. Hércules, Genival Veloso de França, Roberto Blanco, Wilson Palermo, Neusa Bittar, Malthus etc.), cursos (Roberto Blanco, André Uchoa, Luciana Gazzola etc.) e apostilas e está repleto imagens ilustrativas. Fica o agradecimento pessoal ao meu amigo e professor Roberto Blanco, que sempre me orientou e incentivou a fabricar este material. Por fim, estude para ser o primeiro colocado, acredite em você. Crenças limitam o potencial. Seja disciplinado. A disciplina é o medidor do seu comprometimento com os seus projetos. Se você anda indisciplinado, é porque não tem dado importância suficiente para o que você quer. Bons estudos. Frederico Alves Melo Perito Papiloscopista da PCERJ Aprovado para Delegado de Polícia Federal (Fase objetiva, subjetiva e oral) e Delegado do Estado de São Paulo. Frederico Alves Melo 8 1. INTRODUÇÃO À MEDICINA LEGAL 1.1. CONCEITO A doutrina no geral define medicina legal como sendo a um só tempo, arte e ciência. É arte porque a realização de uma perícia médica requer habilidade (instinto) na prática do exame e estilo de redação do laudo; e essa arte se sujeita à ciência que se vale de todo o conhecimento oferecido pelas demais especialidades médicas, além de ter um campo próprio de pesquisa. A definição de MEDICINA LEGAL varia de autor para autor, podendo ser apontada como principais definições: AMBROISE PARÉ (Pai da Medicina Legal): “É a arte de fazer relatórios em juízo”; GENIVAL VELOSO FRANÇA: “É a contribuição da medicina e da tecnologia e outras ciências afins às questões do Direito na elaboração das leis, na administração judiciária e na consolidação da doutrina”; BONNET: “É uma disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para dar respostas a questões judiciais”; LACASSAGNE: “A arte de pôr os conceitos médicos legais a serviço da administração da justiça”; LEGRAND DU SAULLE: “A aplicação das ciências médicas ao estudo e à solução de todas as questões especiais, que podem suscitar a instituição das leis e a ação da justiça”. 1.2. NOÇÕES HISTÓRICAS Apesar de haver relatos históricos mais antigos, podem ser apontados como marcos da medicina legal: Século XVI - Ano 1532: primeira publicação – Constitutio Criminalis Carolina – que passou a exigir a presença de peritos em certos delitos; Ano 1575 – Ambroise Paré: considerado o marco efetivamente inicial – trata-se do primeiro tratado de medicina legal (Des Rapptors et des Moyens d’Embaumer les Corps Morts), que tratava de técnicas de embalsamento, gravidade de feridas, virgindade etc.; Ano 1602 – Fortunatus Fidelis: primeiro tratado de medicina legal tido como completo, lançando em Palermo; Primeira Revista de Medicina Legal: Alemanha – 1821: A Alemanha inaugurou a primeira Escola de Medicina Legal; Segunda Revista de Medicina Legal: França – 1829; NO BRASIL – principais influências: França (principal); Alemanha; Itália. A transição da matéria se deu com Agostinho José de Souza Lima, com o ensino da medicina legal. A nacionalização da matéria foi inaugurada por Raimundo Nina Rodrigues, conhecido como “Lombroso dos trópicos”, que iniciou a fase de pesquisa cientifica médico legal, principalmente relacionado à psiquiatria forense e antropologia criminal. Outros importantes para nacionalização da medicina legal vieram em seguida, tais como Oscar Freire e Afranio Peixoto, que seguiram os estudos de Raimundo Nina Rodrigues. A inclusão da medicina legal como matéria nas faculdades de medicina da Bahia e Rio de Janeiro se deu em 1832. Frederico Alves Melo 9 1.3. SUBDIVISÕES Trata-se da divisão da chamada medicina legal geral e especial. A medicina legal geral vai além do estudo do ser humanao e se divide em: Deontologia – ocupa-se das normas éticas a que o médico está sujeito no exercício da profissão; Diceologia – está ligada aos direitos dos profissionais. Por sua vez, a medicina legal especial liga-se ao estudo do ser humano e tem como principais subdivisões: Patologia forense; Toxicologia forense; Infortunística; Antropologia forense; Sexologia forense; Psiquiatria forense. Vejamos cada uma delas agora. I. Patologia forense – Estuda a traumatologia forense e a tanatologia. Na traumatologia, são estudadas as energias vulnerantes, os seus mecanismos de ação e as suas consequências. A tanatologia (tanato: morte) estuda a morte, sua causa jurídica e os fenômenos cadavéricos. II. Toxicologia forense – tem por objeto de estudo as substâncias tóxicas, seus efeitos sobre o ser humano, seu mecanismo de ação, seu modo de detecção em casos concretos e o esclarecimento de aspectos de repercussão jurídica. III. Infortunística – ocupa-se dos acidentes de trabalho, sua etiologia, dinâmica e suas consequências. Além disso, estabelece o nexo entre os acidentes e as incapacidades laborativas. IV. Antropologia forense – estuda os restos mortais com objetivode esclarecer sua identidade, causa de morte e ascendência. V. Sexologia forense – abrange aspectos relacionados com o diagnóstico de virgindade, violência sexual, gravidez, puerpério, aborto e problemas médicos legais relativos ao casamento. VI. Psiquiatria forense – tem por finalidade a avaliação da responsabilidade penal e a capacidade civil, que podem estar alteradas em função de distúrbios mentais. Nela, são abordados os aspectos médico-legais da embriaguez e as toxicomanias. Foram citadas as principais subdivisões, havendo outras citadas pela doutrina, tais como psicologia forense, medicina legal desportiva, vitimologia etc. 1.4. RELAÇÕES DA MEDICINA LEGAL COM OUTRAS CIÊNCIAS Com a ciência médica – buscam-se seus temas nos mais diversos ramos da ciência médica, como traumatologia, psicologia, ginecologia e demais especialidades médicas. Com a ciência jurídica: Direito Penal e Processual Penal – trata-se de estudo relacionado a crimes; Direito Civil e Processual Civil – trata-se de estudo relacionado a questões do casamento, paternidade etc.; Frederico Alves Melo 10 Direito Trabalhista – trata-se de estudo relacionado à infortunística. Direito Desportivo – trata-se de estudo relacionado ao desempenho esportivo; Direito Administrativo – trata-se de estudo relacionado a atestados médicos utilizados por servidores. QUESTÕES Questão 1) De acordo com Afrânio Peixoto, a medicina legal pode ser definida como “A aplicação de conhecimentos científicos dos místeres da justiça”. Do ponto de vista didático tradicional, a medicina legal pode ser dividida em geral e legal. No caso da geral, seu campo de ação se ocupa de várias áreas do conhecimento, como a) antropologia forense. b) honorários médicos. c) asfixiologia forense. d) genética forense. e) sexologia forense. Questão 2) Sob o ponto de vista didático, a medicina legal está dividida em medicina geral e medicina especial. A respeito da medicina legal especial, assinale a opção correta. a) A antropologia forense é o estudo da identidade e da identificação, seus métodos, processos e técnicas. b) A infortunística trata da análise racional da participação da vítima na eclosão e justificação das infrações penais. c) A tanatologia versa sobre os fenômenos volitivos e afetivos mentais, a periculosidade do alienado, as socioneuropatias em face de problemas judiciários, a simulação e a dissimulação. d) A vitimologia estuda os diferentes aspectos da gênese e da dinâmica dos crimes. e) A asfixiologia forense é o estudo dos cáusticos e dos envenenamentos. Questão 3) A medicina legal é uma ciência de grandes proporções e muita diversificação. A respeito do conceito de medicina legal, analise as afirmativas. I. A medicina legal é a ciência a serviço das ciências jurídicas e sociais. II. Embora se relacione estreitamente com o Direito Processual Penal, a medicina legal não apresenta relação com o Direito Processual Civil. III. Uma das definições de medicina legal é que esta é a arte de pôr os conhecimentos médicos a serviço da administração da Justiça. IV. A medicina legal tem recebido diversas denominações, como: Medicina Judiciária, medicina política e medicina forense. Estão corretas as afirmativas: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) III e IVapenas. Questão 4) De acordo com Ambroise Paré, a medicina legal é a arte de produzir relatórios na justiça. Frederico Alves Melo 11 ( ) Certo ( ) Errado GABARITO 1. b 2. a 3. b 4. Certo Frederico Alves Melo 2. PERITOS E PERÍCIAS A perícia médico-legal é definida como sendo a “contribuição da medicina e da tecnologia e outras ciências afins para as questões do Direito na elaboração das leis, na administração judiciária e na consolidação da doutrina”. Além disso, ela é o exame dos elementos materiais de interesse de um processo e é realizada por perito, possuindo uma face objetiva e outra subjetiva: Face objetiva – tratam-se de alterações visíveis verificadas pelo perito objetivamente. É encontrada no laudo pericial na parte chamada de descrição. Face subjetiva – nessa face, faz-se a análise da parte objetiva. É encontrada no laudo pericial na parte chamada de discussão. Segundo o Art. 6º do Código de Processo Penal, ao ocorrer um delito, deve a autoridade policial comparecer ao local e preservar o mesmo até a chegada dos peritos criminais. Art. 6 o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; O local em que será realizada a perícia poder ser classificado como: Local idôneo – é o local que se encontra preservado; Local inidôneo – é o local que não se encontra preservado. Embora o artigo 6º do Código de Processo Penal trate apenas das perícias em local de crime, elas podem ocorrer em qualquer coisa que esteja relacionada ao delito, como em seres humanos, cadáveres, coisas, animais etc. 2.1. PERÍCIA A perícia é uma diligência com a finalidade de estabelecer a veracidade ou falsidade de situações, fatos ou acontecimentos, por meio de prova e análise de toda a matéria colhida como vestígio de uma infração, ou seja, exame de corpo de delito. Assim, a perícia tem como finalidade provar atos de interesse da justiça. Quando os fatos alegados em um processo deixam vestígios materiais e esses se perdem no mesmo instante em que ocorre, ou logo após, sua comprovação em juízo só pode ser feita pela prova testemunhal. E o relato dessas testemunhas pode, por diversas razões, não corresponder fielmente à realidade. No entanto, se, desse proceso, resultam vestígios duradouros, com a possibilidade de serem detectados, o exame e o registro de tais vestígios devem ser feitos obrigatoriamente. O exame desses elementos materiais, quando feito por técnico, é chamado de perícia. Para o processo penal, a perícia é um meio de prova, pois é a forma que as fontes de prova são introduzidas no Processo Penal. Conforme art. 159 do Código de Processo Penal, as pericias serão realizadas por perito oficial. Perito oficial é o perito concursado, que, no ato de sua posse, presta compromisso de realizar o mister com ética e relatar com veracidade o que aprecia, não sendo necessário prestar este compromisso a cada perícia. Vale ressaltar que, sendo perito oficial, a regra é que a perícia seja realizada por apenas um perito. Frederico Alves Melo 13 Excepcionalmente, caso não tenha perito oficial na localidade, permite-se a realização da perícia por duas pessoas idôneas, chamados de peritos não oficiais, devendo estas serem portadoras de diploma em curso superior, não necessariamente na área de especialidade da perícia (preferencialmente), e devem prestar compromisso. Portanto, sendo perito oficial, basta 01 (um) perito para realização da perícia. Caso não tenha perito oficial na localidade, a perícia pode ser realizada por 02 (duas) pessoas idôneas portadoras de diploma de curso superior, preferencialmente na área específica. O perito não oficial é conhecido como perito ad hoc ou gracioso. Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. § 1 o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. § 2 o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. O PERITO NOMEADO PELA AUTORIDADE SERÁ OBRIGADO A ACEITAR O ENCARGO Segundo o Art. 277 do Código de Processo Penal, o peritonomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa, salvo se apresentar justo motivo para a escusa. Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível. Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente: a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade; b) não comparecer no dia e local designados para o exame; c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos. IMPEDIMENTO PARA SER PERITO Segundo o Art. 279 do Código de Processo Penal, não poderão ser peritos: Os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos incisos I e IV do art. 69 do Código Penal; Os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia; Os analfabetos e os menores de 21 anos. PERINESCROSCOPIA É o exame corpo de delito que é feito em volta do cadáver. LOCAL RELACIONADO É o local que não tem ligação direta com o local objeto da perícia imediata, mas indiretamente pode conter alguma ligação ou ser útil para análise de prova. VESTÍGIOS: DELICTA FACTIS PERMANENTIS E DELICTA FACTIS TRANSEUNTES Os vestígios podem ter caráter permanente ou passageiro. Delito não transeunte: Ocorre quando a infração penal deixa vestígios. São vestígios duradouros, chamados de delicta factis permanentis. Como exemplos de crimes não transeuntes, podemos citar o homicídio (CP, art. 121), o estupro (CP, art. 213) e as lesões corporais (CP, art. 129). Frederico Alves Melo 14 Delito traseunte: Ocorre quando a infração penal não deixa vestígios. Chamado de delicta factis transeuntes. São crimes transeuntes, por exemplo, a calúnia (CP, art. 138), a difamação (CP, art. 139) e a injúria (CP, art. 140), todos estes se praticados por meio verbal. 2.2. PERITO É um auxiliar da justiça, devidamente compromissado, estranho às partes, portador de conhecimento técnico altamente especializado e sem impedimentos para atuar no processo. FUNÇÃO DO PERITO A função do perito limita-se a verificar o fato, indicando a causa que o motivou. Qualquer que seja a posição em que esteja o perito, oficial ou não, seu compromisso com a verdade constitui-se em dever ético e obrigação legal. A declaração falsa ou a ocultação da verdade constituem o delito de falsa perícia, previsto no Art. 342 do Código Penal: Art. 342 - Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, PERITO, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 2.3. CORPO DE DELITO Quando o fato delituoso produz alterações materiais no ambiente, dá-se o nome de corpo de delito ao conjunto de elementos sensíveis denunciadores do fato criminoso; assim, pode-se definir corpo de delito como sendo: Os elementos materiais, perceptíveis pelos nossos sentidos, resultantes da infração penal. Corpus criminis: é toda coisa ou pessoa sobre a qual incide a conduta delitiva nos crimes contra a pessoa. Corpus intrumentorium: são meios e instrumentos utilizados pelo agressor para produzir o delito. Esses elementos sensíveis, objetivos, devem ser alvo de prova, obtida por meios que o direito fornece. Os peritos dirão da sua natureza e estabelecerão o nexo entre eles e o ato ou a omissão do acusado; com isso, tem-se o exame de corpo de delito. Não se deve confundir corpo de delito com exame de corpo de delito: o primeiro é o elemento objetivo que o crime deixou; o segundo é o exame realizado sobre esse elemento. Ex.: suponha que tenha ocorrido um homicídio, e que, no local, foi encontrado um projétil de arma de fogo e ainda uma arma de fogo. Assim, nesse caso, o corpo de delito é o projétil de arma de fogo e a arma de fogo coletados no local do delito; por sua vez, o exame de corpo de delito é o trabalho realizado pelo perito para comparar se o projétil foi disparado por uma determinada arma de fogo. EXAME DE CORPO DE DELITO DIRETO E INDIRETO O exame de corpo de delito é aquele que é feito com base no corpo de delito. Exame de corpo de delito direto – o corpo de delito é objeto da atividade pericial. Frederico Alves Melo 15 Ex.: Perito que tem contato direto com um cadáver em um delito de homicídio. Exame de corpo de delito indireto – há duas correntes: 1ª Corrente – seria a substituição do exame objetivo pela prova testemunhal, subjetiva. Diz que é chamado indevidamente de exame corpo de delito indireto, pois não há corpo, embora exista o delito, porque faltam os sinais, os vestígios, os elementos materiais (art. 158 CPP). Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. 2ª Corrente – entende que o exame de corpo de delito indireto é aquele em que não é mais possível a perícia direta no corpo de delito, por este ter desaparecido; porém, o médico legista terá acesso aos prontuários médicos do paciente e, à sua vista, elaborará o documento médico-legal. Segundo o professor Wilson Palermo, o exame de corpo de delito indireto é equivalente à prova testemunhal. OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO Sempre que o delito deixar vestígios, é obrigatório que se faça o exame de corpo de delito, seja ele direito ou indireto. Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade. EXCEÇÃO À OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO (Lei n° 9099/95) Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, é dispensado o exame corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. Art. 77, § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. PRIORIDADE NA REALIZAÇÃO DO EXAME DE CORPO DE DELITO (Lei n° 13.721, de 2018) Quando o delito envolver violência doméstica e familiar contra mulher e/ou violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência, deve ser dada prioridade na realização do exame de corpo de delito. Art. 158, Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: I - violência doméstica e familiar contra mulher; II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. MOMENTO DO EXAME DE CORPO DE DELITO REGRA – a qualquer dia e hora: Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora. EXCEÇÃO – a autópsia deve ser feita pelo menos seis horas após a morte, pois é o tempo em que aparecem os sinais de certeza de morte, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, tiverem certeza do óbito. Frederico Alves Melo 16 Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto. Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisara causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante. ASSISTENTE TÉCNICO NA PERÍCIA É possível a indicação de assistente técnico, que só será admitido pelo juiz após a conclusão dos exames e a elaboração do laudo pelos peritos oficiais. § 3 o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. § 4 o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. OITIVA DOS PERITOS E PARECER TÉCNICO Segundo o § 5o do Art. 159 do Código de Processo Penal, durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. § 6 o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. PERÍCIA COMPLEXA Se a perícia for tida como complexa, ou seja, se abranger mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial. Se houver divergência entre os peritos, a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. CPP, Art. 159, § 7 o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. PRAZO DO LAUDO PERICIAL Será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. PROVA TESTEMUNHAL No caso de desaparecimento dos vestígios, é possível a produção de prova testemunhal. Frederico Alves Melo 17 Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ O juiz não está vinculado ao laudo apresentado pelo perito e, em caso de não o acatar no todo ou parte, deverá motivar objetivamente. Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO A ausência do exame de corpo de delito pode levar à nulidade do processo: Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167. QUESTÕES Questão 1) No que tange à perícia oficial e em acordo com o CPP, é CORRETO afirmar: a) É facultada ao acusado a indicação de assistente técnico, após admissão pela autoridade policial. b) Entende-se por perícia complexa aquela que abrange mais de uma área de conhecimento especializado. c) Faculta-se ao Ministério Público e ao assistente técnico do querelante a formulação de quesitos a qualquer tempo do inquérito policial. d) Na falta de perito oficial, qualquer contribuinte poderá exercer o mister, desde que não inadimplente com impostos públicos, e que seja admitido pelo delegado de polícia presidente do inquérito. Questão 2) Jovem do sexo masculino é encontrado morto no seu quarto, aparentemente um caso de suicídio por enforcamento. Logo ao chegar no local de morte, a equipe pericial encontra a vítima na cama, com o objeto usado como elemento constritor removido. Nessa situação, o perito criminal deve a) avaliar detalhadamente o local, buscar pistas de envolvimento de terceiros, não realizar o exame pericial do cadáver e registrar a alteração notada no laudo final. b) fazer o boletim de ocorrência com a alteração notada, isolar e preservar o local de morte, e solicitar o envio de equipe pericial do instituto médico-legal para realização de perícia conjunta. c) informar à autoridade policial sobre a alteração do local de morte, emitir o laudo de impedimento e determinar a remoção imediata do cadáver para o instituto médico-legal. d) realizar o exame externo do cadáver, de tudo que é encontrado em torno dele ou que possa ter relação com o fato em questão, e registrar no laudo a alteração notada no local de morte. e) realizar o registro fotográfico do local, investigar as circunstâncias da morte, não realizar o exame pericial do cadáver, coletar o provável instrumento utilizado e descrever no laudo a alteração do local de morte. Questão 3) No que se refere às perícias e aos laudos médicos em medicina legal, assinale a opção correta. a) As perícias podem consistir em exames da vítima, do indiciado, de testemunhas ou de jurado. Frederico Alves Melo 18 b) A perícia em antropologia forense permite estabelecer a identidade de criminosos e de vítimas, por meio de exames de DNA, sem, no entanto, determinar a data e a circunstância da morte. c) A opção pela perícia antropológica deve ser conduta de rotina nos casos em que a família da vítima manifestar suspeita de morte por envenenamento. d) As perícias médico-legais são restritas aos processos penais e civis. e) Laudo médico-legal consiste em narração ditada a um escrivão durante o exame. Questão 4) Com relação aos conhecimentos sobre corpo de delito, perito e perícia em medicina legal e aos documentos médico-legais, assinale a opção correta. a) Perícia é o exame determinado por autoridade policial ou judiciária com a finalidade de elucidar fato, estado ou situação no interesse da investigação e da justiça. b) O atestado médico equipara-se ao laudo pericial, para serventia nos autos de inquéritos e processos judiciais, devendo ambos ser emitidos por perito oficial. c) Perito oficial é todo indivíduo com expertise técnica na área de sua competência incumbido de realizar o exame. d) É inválido o laudo pericial que não foi assinado por dois peritos oficiais. e) Define-se corpo de delito como o conjunto de vestígios comprobatórios da prática de um crime evidenciado no corpo de uma pessoa. GABARITO 1. b 2. d 3. a 4. a Frederico Alves Melo 3. CADEIA DE CUSTÓDIA Essa sistemática é nova no Código de Processo Penal e foi inserida pela Lei 13.964/19 (“pacote anticrime”), tratando da documentação de uma evidência. A preocupação com o legislador foi tecer todo um procedimento para garantir a integridade da prova, para que, quando submetida ao contraditório, chegue absolutamente íntegra. A cadeia de custódia da prova pode responder a um binômio, que é a autenticidade e integridade. Ex.: ao se fazer um exame de sangue, existe todo um procedimento a ser seguido pelo atendente, como lavar as mãos, usar luva,mostrar a seringa e agulha e informar que estão lacradas, mostrar a etiqueta com os dados do paciente e fazer a coleta do sangue. Todo esse procedimento visa a dar segurança. Por isso, deve haver a documentação da evidência, com fim de dar segurança. CONCEITO DE CADEIA DE CUSTÓDIA É o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio, coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. IMPORTÂNCIA MÉDICO-LEGAL DA CADEIA DE CUSTÓDIA Segundo o professor Wilson Palermo, reside na preservação dos vestígios que futuramente poderão se transformar em verdadeiras provas no curso do processo penal, garantindo-se, assim, a idoneidade e a integridade. INÍCIO DA CADEIA DE CUSTÓDIA O início da cadeia de custódia se dá: Com a preservação do local de crime; ou Com procedimentos policiais; ou → Com procedimentos periciais, Nos quais seja detectada a existência de vestígio. Note que o início da cadeia de custódia pode ser dar por qualquer agente público envolvido nas diligências. Segundo o professor Wilson Palermo, não necessariamente um objeto reconhecido como vestígio estará na cena do delito; por esse motivo, abriu-se a possibilidade de se iniciar uma cadeia de custódia com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. § 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. CONCEITO DE VESTÍGIO Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, relacionado com a infração penal. São matéria-prima na produção da prova pericial. Vestígio visível: é aquele detectável a olho nu. Vestígio latente: é aquele que precisa ser revelado por técnicas especiais para que possa ser coletado. Frederico Alves Melo 20 § 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. Segundo o professor Wilson Palermo, a existência de um vestígio pressupõe a existência de: Um agente provocador, que causou ou contribuiu para causar; e Um suporte adequado, que é o local em que o vestígio se materializa. VESTÍGIO E INDÍCIO Segundo o professor Wilson Palermo, vestígio não se confunde com indício. Vestígio é a matéria; indício é a circunstância. Conforme o art. 239 do Código de Processo Penal: Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. PRESERVAÇÃO DE EVENTUAL VESTÍGIO NA CADEIA DE CUSTÓDIA A responsabilidade pela preservação do eventual vestígio é do agente público que: Reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial, ficando este responsável por sua preservação. § 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação. FASES DA CADEIA DE CUSTÓDIA Segundo o professor Wilson Palermo, no que diz respeito às fases da cadeia de custódia, ela pode ser externa ou interna. Fase externa – é a fase que abrange o local de crime e eventual áreas relacionadas. Fase interna – diz respeito ao tratamento do vestígio e sua perícia, englobando o armazenamento ou descarte do material. ETAPAS DO RASTREAMENTO DO VESTÍGIO NA CADEIA DE CUSTÓDIA Segundo o Art. 158-B. do Código de Processo Penal, a cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas cronológicas: RECONHECIMENTO: é o ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial. Ou seja, verifica-se que algo interessa para produção da prova pericial. ISOLAMENTO: é o ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e ao local do crime: Ambiente imediato: é a área abrangida pelo corpo de delito e seu entorno. É o local em que se encontra a maioria dos vestígios materiais. Ex.: quarto da casa em que ocorreu o homicídio; 1) RECONHECIMENTO 2) ISOLAMENTO 3) FIXAÇÃO FIXAÇÃOHECIMENTO 4) COLETA 6) TRANSPORTE 9) ARMAZENAMENTO 10) DESCARTE 5) ACONDICIONAMENTO 7) RECEBIMENTO FIXAÇÃOHECIMENTO 8) PROCESSAMENTO Frederico Alves Melo 21 Ambiente mediato: é adjacente ao local imediato. Há um vínculo físico/geográfico com o local do delito. Ex.: criminoso deixou uma blusa no quintal da casa; Ambiente relacionado: não tem conexão física/geográfica com a cena do crime, mas guarda relação com a prática delituosa. Ex.: arma do homicídio que pode estar na casa do criminoso. Segundo o professor Wilson Palermo, embora a lei tenha previsto sequencialidade, deve-se se ater a critérios lógicos, entendendo que é possível que as etapas de reconhecimento e isolamento possam ocorrer de maneira cíclica, ou seja, podem ser invertidas. FIXAÇÃO: é a descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável (um) pelo atendimento. COLETA: é o ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas características e sua natureza. ACONDICIONAMENTO: é o procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento. TRANSPORTE: é o ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse. RECEBIMENTO: é o ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e à unidade de polícia judiciária relacionada, ao local de origem, ao nome de quem transportou o vestígio, ao código de rastreamento, à natureza do exame, ao tipo do vestígio, ao protocolo, à assinatura e à identificação de quem o recebeu. Segundo o professor Wilson Palermo, esse ato de transferência da posse do vestígio pode não estar presente em todas as situações, já que o próprio perito que coletou pode efetuar o transporte e submetê-lo ao exame pertinente. PROCESSAMENTO: é o exame pericial em si, ou seja, a manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito. ARMAZENAMENTO: é o procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente. Contraperícia é uma nova perícia realizada em material depositado em local seguro e isento, que já teve a parte anteriormente analisada, originando prova que está sendo contestada (SENASP, Anexo II da Portaria 82/2014). Contraprova é o resultado da contraperícia. DESCARTE: é o procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorizaçãojudicial. Frederico Alves Melo 22 Segundo o professor Wilson Palermo, embora a lei tenha previsto sequencialidade, deve-se se ater a critérios lógicos; ele entende que são possíveis pequenas inversões, desde que não comprometa a integridade, nem se perca a história do vestígio, atendendo assim o princípio da eficiência. CADEIA DE CUSTÓDIA E CORPO DE DELITO Segundo o professor Wilson Palermo, cadeia de custódia e corpo de delito não se confundem, pois: A cadeia de custódia representa todos os procedimentos que são utilizados para manter, preservar, rastrear a posse e manuseio dos vestígios desde o seu reconhecimento até o descarte. A corpo de delito é a base residual do crime, sem o que ele não existe (Genival França). Vale lembrar que, se a infração penal deixar vestígio, é indispensável o corpo de delito, conforme o Art. 158 do Código de Processo Penal. CONSEQUÊNCIAS DA QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA A doutrina, assim como o STJ, oscila entre a ilicitude e nulidade, não havendo, hoje, um posicionamento majoritário. Veja: STJ - HC 160.662: ILICITUDE DA PROVA: Caso concreto: parte do conteúdo da interceptação telefônica desapareceu. O fato de desaparecer gera dúvida à autenticidade. Diante da dúvida, o STJ reconheceu a ilicitude da prova; STJ – RESP 1.795.341: NULIDADE DA PROVA: STJ reconheceu nulidade da prova. Em sendo nulidade, é necessário que se comprove o prejuízo, sob pena dessa nulidade não ser reconhecida: Esta Corte Superior possui entendimento de que a prova produzida durante a interceptação não pode servir apenas aos interesses do órgão acusador, sendo imprescindível a preservação da sua integralidade, sem a qual se mostra inviabilizado o exercício da ampla defesa, tendo em vista a impossibilidade da efetiva refutação da tese acusatória. Segundo o professor Wilson Palermo, a cadeia de custódia é um verdadeiro meio de obtenção de provas, já que viabiliza eventuais exames nos vestígios que, por si só, já constituem corpo de delito. Assim, entende que eventual violação à cadeia de custódia será uma violação de natureza processual; portanto, será tratada como prova ilegítima, merecendo tutela da teoria das nulidades, na forma do Art. 564, IV, do Código de Processo Penal. Diz ainda que essa nulidade é relativa (deve demonstrar prejuízo e ser alegada em momento oportuno, sob pena de preclusão) e que pode ser sanada, conforme Art. 572 do Código de Processo Penal. Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: [...] IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato. Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, Ill, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar- se-ão sanadas: I - se não forem argüidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior; II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim; III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos. COLETA DOS VESTÍGIOS Frederico Alves Melo 23 Segundo o Art. 158-C, a coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial (um perito), que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. Segundo o professor Wilson Palermo, a coleta deve ser feita necessariamente por perito oficial ou por peritos ad hoc. Admite uma única exceção, que seria aquela justificada por questões de segurança, determinadas no próprio local, diante de eventual comprometimento da integridade física dos componentes da equipe que participam das diligências, devendo ter autorização do Delegado de Polícia e liberação do perito, com a sua supervisão, para ter ciência da forma como o material foi coletado. EXAMES PERICIAS NO LOCAL DE CRIME Segundo o professor Wilson Palermo, o perito criminal irá eleger o melhor método para busca de vestígios. Cita que os métodos existentes podem ser: Em linha; Em linha cruzada; Em quadrante; ou Em espiral. DETALHAMENTO DO CUMPRIMENTO DO TRATAMENTO DOS VESTÍGIOS O órgão central de perícia oficial de natureza criminal: É responsável por detalhar a forma do cumprimento do tratamento dos vestígios coletados no curso do inquérito ou processo. A disciplina da cadeia de custódia deve ser observada tanto na fase pré-processual quanto na fase processual penal. Art. 158-C, § 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. ENTRADA EM LOCAIS ISOLADOS OU REMOÇÃO DE VESTÍGIOS ANTES DE LIBERADOS PELO PERITO RESPONSÁVEL É PROIBIDA a entrada em locais isolados. É PROIBIDA a remoção de qualquer vestígio do local de crime: Salvo se o local for liberado pelo perito responsável; Sob pena de responder pelo crime de FRAUDE PROCESSUAL. Deve o Delegado de Polícia analisar o dolo do agente que promove a retirada de vestígios do local do crime, pois pode haver remoção justamente para uma preservação do vestígio. § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização. FRAUDE PROCESSUAL Art. 347 CP - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. ACONDICIONAMENTO DE VESTÍGIOS Frederico Alves Melo 24 Os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. O recipiente ainda deverá: Individualizar o vestígio; Preservar suas características; Impedir contaminação e vazamento; Ter grau de resistência adequado; e Ter espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. O recipiente só poderá ser aberto: Pelo perito que vai proceder à análise; e Motivadamente, por pessoa autorizada. Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do material. § 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. § 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. § 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. ROMPIMENTO DO LACRE DO RECIPIENTE QUE CONTÉM OS VESTÍGIOS Cada vez que houver rompimento do lacre, deve-se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio: O nome e a matrícula do responsável; A data; O local; A finalidade; Bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado. § 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado. SE HOUVER ROMPIMENTO DO LACRE, ESTE DEVERÁ ESTAR PRESENTE NO NOVO RECIPIENTE. § 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente. Se houver rompimento do lacre, este deverá estar presente no novo recipiente. CENTRAL DE CUSTÓDIA Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e ao controle dos vestígios. Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controledos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal. § 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio. Frederico Alves Melo 25 § 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam. § 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. § 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ação. O material periciado será encaminhado para central de custódia após a realização da perícia. No período entre a realização da perícia e o armazenamento: O material é devolvido à central de custódia; Se a central de custódia não possuir espaço ou condições de armazenar determinado material: Deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso, Mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. Frederico Alves Melo 4. DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS São expressões (gráficas, públicas ou privadas) baseadas em critérios médico-legais que têm o caráter representativo de um fato a ser avaliado em juízo. São seis espécies de documentos que podem interessar ao juízo: Notificação ou comunicação compulsória; Atestado; Prontuários; Depoimento oral; Relatórios; Pareceres. 4.1. NOTIFICAÇÃO São comunicações compulsórias feitas pelo médico à autoridade competente de um fato profissional, em razão de necessidade social ou sanitária. São notificados compulsoriamente: acidentes de trabalho, doenças infectocontagiosas, morte encefálica etc. Se o médico verificar que o paciente se encontra com o Covid-19, deve notificar isso à autoridade competente, por ser doença infectocontagiosa. A Lei n° 13.931/19 passou a disciplinar que o médico deve notificar à autoridade policial em até 24 horas os casos de indícios ou confirmação de violência contra a mulher. Não constitui notificação compulsória o conhecimento, pelo médico, de pessoa viciada em droga. A notificação compulsória não viola o dever de sigilo médico, diante de justa causa ou dever legal (Art. 73 do Código de ética Médico). As notificações compulsórias foram regulamentas pela Portaria n° 104/11 do SUS, e a ausência de notificação, quando exigida, faz com que o médico incorra no delito de omissão de notificação de doença, previsto no Art. 269 do Código Penal. Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 4.2. ATESTADO MÉDICO É a afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas possíveis consequências. É também chamado de certificado médico. Sendo um documento unilateral e singelo, que não possui forma pré-definida e ainda, não pode se sobrepor ao laudo médico. O atestado médico pode ser classificado: QUANTO À FINALIDADE Atestados judiciários – são os atestados requisitados por juiz. Só os atestados que interessam à justiça constituem documentos médico- legais. Atestados administrativos – são os reclamados pelo servidor público para efeito de licenças, aposentadoria, abono etc. Frederico Alves Melo 28 Atestados oficiosos – são os requisitados por particulares para justificar ausências, seja no trabalho, escola etc. QUANTO AO CONTEÚDO Atestado idôneo – é o atestado verdadeiro, honesto, correto. Atestado gracioso (complacente ou de favor) – aquele em que a pessoa que pede é do círculo de amizade, mas não esteve sob os cuidados do profissional. O ato de dar atestado médico falso constitui ilícito penal (art. 302 do Código Penal). Atestado imprudente – é aquele que o médico não toma as medidas para verificar a veracidade do afirmado pelo paciente, ou seja, confia na palavra deste. Atestado falso – é o atestado feito dolosamente para não corresponder à verdade, correspondendo a um ilícito penal do Art. 302 do Código Penal. Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena - detenção, de um mês a um ano. Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. Atenção Atestado não se confunde com declaração, sendo esta apenas um relato de testemunho. Com a Lei n° 9.099/99, o atestado médico assumiu a posição de substituto eventual da perícia médico-legal nos casos de lesão corporal leve (art. 77, § 1°). Art. 77, § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. Atestado de óbito – o atestado de óbito está regulado pela Resolução n° 1.779/05 do CFM. É uma declaração padronizada, elaborado por médico que indica a causa médica da morte. É composta por oito blocos de informações e indispensável para assentamento do óbito no cartório de Registro civil. No caso de morte natural, o médico que acompanha o paciente é quem fornece o atestado de óbito. Em relação às condições que ocorre, a morte pode ser: Natural, decorre de doença ou envelhecimento; Violenta, decorrente de energias externas, como crime, suicídio ou acidente; Suspeita, inesperada, sem sinais de violência, mas que ocorreu em condições estranhas. Situações em que o médico não pode atestar o óbito: Morte natural, se não deu assistência ou se não tem diagnóstico da causa da morte, antes de 24 horas após o período de internação; Morte violenta; Morte suspeita. Segundo o professor Hygino de C. Hercules, no caso de uma pessoa falecer em um hospital que estava em um curto período de tempo (24 horas), deve o Hospital realizar a autópsia. Nos casos de mortes que ocorreram em condições violentas e/ou suspeitas, deve existir autópsia, e o médico que a realiza é quem fornece o atestado, sendo realizada pelo IML. Se houver lesão e a morte ocorrer no hospital, mesmo que dias depois, deve o corpo ser encaminhado ao IML. Frederico Alves Melo 29 A morte natural de causa mal definida é encaminhada para o serviço de verificação de óbito (SVO), que fará a autópsia. Como neste caso não é compulsória a autópsia, a família pode discordar de sua realização, devendo recorrer ao suprimento judicial. MORTE FETAL E NECESSIDADE DE DECLARAÇÃO DE ÓBITO No caso de morte fetal, o atestado de óbito pode ser obrigatório ou dispensado, a depender se a morte é tida como prematura, intermediária ou tardia: Morte fetal prematura ou precoce – se o feto tiver: Menos de 500 gramas; ou Menos de 25 centímetros; ou Menos de 5 meses (20 semanas): → O médico não é obrigado a expedir declaração de óbito, ou seja, pode ser dispensada. Morte fetal intermediária – o feto deve ter: Mais de 500 gramas e menos de 1000 gramas; ou Mais de 25 centímetrose menos de 35 centímetros; ou Mais de 5 meses e menos de 6 meses: → Há obrigação de o médico expedir declaração de óbito. Morte fetal tardia – o feto deve ter: Mais de 1000 gramas; ou Mais de 35 centímetros; ou Mais de 6 meses: → Há obrigação de o médico expedir declaração de óbito. Vale citar que a Lei de Registros Públicos traz, em seu artigo 53, a obrigatoriedade de se realizar o atestado de óbito fetal em todos os casos, mas, para a doutrina medico-legal, essa obrigação só se dá a partir da morte fetal intermediária. 4.3. PRONTUÁRIOS Trata-se de todo acervo (padronizado, organizado e conciso), referentes aos cuidados médicos prestados ao paciente, sendo um verdadeiro “dossiê”. O prontuário é de propriedade do paciente. STF: a instituição ou o médico não são obrigados a atender à requisição de prontuários – apenas ao perito cabe o direito de consultá-los e, mesmo assim, obrigando-se ao sigilo. 4.4. DEPOIMENTO ORAL Trata do depoimento em juízo do perito em que ele foi intimado para audiência. Nesse ato, ele irá explicar de forma clara e sem termos científicos o que ele procedeu à elaboração de seus laudos, dirimindo dúvida das partes. Alguns doutrinadores não relacionam o depoimento como documento medico-legal, sendo feito pelo professor Delton Croce. Frederico Alves Melo 30 4.5. RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL É o documento medico-legal que possui forma escrita e minuciosa de todas as operações de uma perícia médica determinada por autoridade policial ou judiciária. O relatório medico-legal é gênero do qual são espécies o laudo e o auto. Se ditado pelo perito ao escrivão, chama-se de auto. Se feito pelo perito após terminada a perícia, chama-se laudo. DIVISÃO DO RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL O relatório medico-legal é dividido em sete partes (nesta ordem): I. Preâmbulo; II. Quesitos; III. Histórico ou comemorativo; IV. Descrição (é a parte mais importante); V. Discussão; VI. Conclusão; VII. Resposta aos quesitos. Para memorizar essa divisão do relatório médico-legal, repita algumas vezes e não esqueça: PREQUE - HIDE - DISCONRE PREÂMBULO É uma espécie de introdução na qual constam: A qualificação: Da autoridade solicitante; Do perito; Do examinado; O local em que é feito o exame; A data e a hora; O tipo de perícia a ser feita. QUESITOS OFICIAIS São perguntas cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes que deram origem ao processo. Não existem no foro cível. No foro penal, são padronizados e têm o fim de caracterizar os elementos de um fato típico. Em que pese existir um rol padronizado, não impede que a autoridade formule outros quesitos. Ex.: quesitos de laudo cadavérico: 1) Houve morte? 2) Qual a causa médica da morte? 3) Qual o instrumento ou meio que causou a morte? 4) A morte foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel? HISTÓRICO ou COMEMORATIVO Frederico Alves Melo 31 São dados referentes aos antecedentes obtidos pelo próprio examinando, exceto no caso de autopsia, em que precisam ser transcritos, não endossados, da guia de remoção que acompanha o corpo. Chamada também de anamnese medico-legal (entrevista). DESCRIÇÃO É a descrição minuciosa e precisa do que foi observado pelo perito e como ali se chegou, contendo métodos, formas, tempo, velocidade etc., ilustrando o ocorrido com desenhos, gráficos, plantas, fotografias, entre outras formas. É a parte mais importante do relatório médico-legal, uma vez que não pode ser refeita com a mesma riqueza de detalhes em um exame posterior. Por isso, deve ser minuciosa, correspondendo ao chamado visum et repertum (é à vista do que é encontrado). É de boa norma não diagnosticar durante a descrição. É a parte mais importante do relatório medico-legal. DISCUSSÃO Segundo o professor Hygino de C. Hercules, se não houver contradições aparentes, pode não ser necessária. Contudo, quando surge alguma discrepância entre a descrição e o histórico, torna-se imperiosa. Nesses casos, os achados têm de ser analisados sob novos ângulos, tentando encontrar uma explicação para as diferenças. CONCLUSÃO Terminadas a descrição e a discussão, se houver, o perito assume uma posição quanto à ocorrência ou não do fato, com base nas informações do histórico, nos achados do exame objetivo e no seu confronto. As conclusões serão objetivas e podem ser afirmativas, negativas ou inconclusivas. RESPOSTA AOS QUESITOS Deve ser sucinta e objetiva, não sendo admissíveis falta de clareza nem interpretação dúbia. Em caso de dúvida, o perito dirá que não existem dados para esclarecê-la. Terminado o relatório, o perito deve assiná-lo. A data do exame pode constar do preâmbulo, estar no início da descrição ou ser colocada antes das assinaturas finais. Alguns doutrinadores citam a assinatura do perito como sendo integrante do relatório médico-legal. 4.6. PARECER MÉDICO-LEGAL É o documento elaborado por uma instituição cujo corpo técnico tem competência inquestionável ou por um perito ou professor cuja autoridade na matéria seja reconhecida acerca de divergências importantes constantes na consulta médico-legal. O parecer será solicitado por uma consulta médico-legal (que envolve divergências importantes quanto à interpretação dos achados de uma perícia, de modo a impedir uma orientação correta dos julgadores, sendo que estes ou qualquer das partes interessadas podem solicitar esclarecimentos a uma instituição ou a um perito). A consulta médico-legal é um documento que exprime dúvida sobre um relatório médico-legal e no qual a autoridade, ou mesmo um outro perito, solicita esclarecimento sobre pontos controvertidos constantes no mesmo, em geral formulando quesitos complementares. Frederico Alves Melo 32 Decorre da não compreensão de algum aspecto do relatório ou pela superveniência de um fato novo no decorrer do processo. Alguns doutrinadores, inclusive o professor Hygino de C. Hercules, citam que a consulta médico-legal é um documento médico-legal. DIVISÃO DO PARECER MÉDICO-LEGAL I. Preâmbulo II. Exposição A exposição contém quesitos e histórico. III. Discussão IV. Conclusão Atenção Não existe a descrição no parecer médico-legal. PREÂMBULO – o preâmbulo é a parte em que ficam as qualificações das autoridades que fazem a consulta e a do parecista. EXPOSIÇÃO – compreende o motivo da consulta, os quesitos formulados e o histórico do caso em análise. DISCUSSÃO – o parecista demonstra seu poder de argumentação. Não há, como no relatório, o dever cívico de servir à justiça. É a parte mais impostante do parecer médico legal. CONCLUSÃO – o parecista deve sintetizar os pontos relevantes da discussão de modo claro e sucinto. QUESTÕES Questão 1) Segundo a melhor doutrina, pode-se considerar que “Documento é toda anotação escrita que tem a finalidade de reproduzir e representar uma manifestação de pensamento”. Entre os documentos médico-legais, temos as seguintes descrições: - É declaração simples, por escrito, de um fato médico e de suas possíveis consequências, feitas por qualquer médico que esteja no exercício regular de sua profissão e que tem o propósito de sugerir um estado de doença, para fim de licença, dispensa ou justificativa de falta de serviço. - Comunicações compulsórias feitas às autoridades competentes, pelo médico, de um fato profissional, por necessidade sanitária e social sobre moléstia infectocontagiosa, doença de trabalho e a morte encefálica. - Intercessão no decurso de um processo, por estudioso médico-legal, nomeado para intervir na qualidade de perito, para emitir suas impressões e responder aos quesitos formulados pelas partes. - Descrição minuciosa de uma perícia médica, feita por peritos oficiais, requisitada por autoridade policial ou judiciária frente a um inquérito policial. É constituído de preâmbulo,quesitos, histórico ou comemorativo, descrição, discussão conclusão e resposta dos quesitos. As definições acima se referem, respectivamente, a: a) atestado, notificação, parecer médico-legal e relatoria médico-legal. b) parecer médico-legal, notificação, atestado e relatoria médico-legal. c) atestado, parecer médico-legal, relatoria médico-legal e notificação. d) relatoria médico-legal, notificação, relatoria médico-legal e atestado. e) atestado, relatoria médico-legal, parecer médico-legal e notificação. Frederico Alves Melo 33 Questão 2) A respeito dos documentos médico-legais, tem-se o seguinte: a) relatório médico somente poderá ser elaborado por médico legista. b) laudo e auto são documentos idênticos. c) o atestado de óbito poderá ser assinado por profissional não médico. d) notificação é uma comunicação feita pelo médico ao delegado de polícia sobre um fato relevante na investigação. Questão 3) Os documentos médico-legais são mecanismos de comunicação com as autoridades e, portanto, devem ser elaborados com metodologia, de forma a obedecer uma configuração preestabelecida. Constituem parte comum ao relatório ou laudo e ao parecer, EXCETO: a) descrição. b) discussão. c) conclusão. d) preâmbulo. e) quesitos. Questão 4) Em um relatório médico-legal, o chamado visum et repertum refere-se: a) ao histórico. b) ao preâmbulo c) à descrição. d) à discussão e conclusão e) à resposta aos quesitos. Questão 5) O documento médico-legal, ditado ao escrivão logo após a realização do exame pericial, é denominado: a) auto. b) parecer. c) atestado. d) relatório. e) notificação. GABARITO 1. a 2. c 3. a 4. c 5. a Frederico Alves Melo 34 5. ANTROPOLOGIA FORENSE A antropologia forense estuda os restos mortais com o objetivo de esclarecer sua identidade, causa de morte e ascendência. 5.1. IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO Inicialmente, é importante diferenciar identidade e identificação. IDENTIDADE – é a qualidade de ser a mesma coisa e não algo diverso. Traduz-se pelo conjunto de características peculiares que dão a essa coisa a individualidade, ou seja, torna-a única, diferente de qualquer outro. São atributos que tornam alguém ou alguma coisa igual apenas a si próprio. Possui respaldo na imutabilidade e unicidade dos caracteres individuais. IDENTIFICAÇÃO – é o processo ou método pelo qual se estabelece a identidade (objetivo da identificação) de uma pessoa ou coisa. A identificação pode se basear em sinais e dados peculiares ao indivíduo que, em seu conjunto, possam excluí-lo de todos os demais. Os sinais e dados utilizados na identificação são chamados de elementos sinaléticos (Ex.: cor e o tipo de cabelo). Importante! A identificação não deve ser confundida com o simples reconhecimento. O reconhecimento baseia-se na comparação entre a experiência da sensação visual, auditiva ou tátil, proporcionada no passado (já se conhece), com a mesma experiência renovada no presente pelo elemento a ser reconhecido. IDENTIDADE IDENTIFICAÇÃO RECONHECIMENTO É a qualidade da pessoa ser única, não existindo outra igual. Tem como características a unicidade e imutabilidade. Processo pelo qual se identifica pessoa ou algo. Como exemplos, podemos citar a identificação de um cadáver em decomposição, por meio da realização de exame de DNA. Baseada em métodos científicos e técnicos. Pelo método de comparação, uma pessoa reconhece outra. A primeira, conhecendo as características físicas da segunda, compara os dados memoriais que possui com a imagem que lhe foi apresentada; portanto, trata-se de um método não científico, subjetivo, opinativo e precário. Ex.: reconhecimento fotográfico. Em termos de condições para um método de identificação, o conjunto de elementos sinaléticos, para ser considerado bom, deve preencher os seguintes requisitos: Unicidade ou individualidade – é o conjunto desses elementos que deve ser exclusivo do indivíduo, de modo a distingui-lo de todos os demais; imutabilidade – os elementos não podem se modificar facilmente (capacidade de resistência) pela ação do meio ambiente, tempo etc. Assim, o peso do corpo não deve ser considerado elemento sinalético, por estar sujeito a grandes variações; Frederico Alves Melo 35 Perenidade – é a capacidade de os elementos resistirem à ação do tempo: Há quem trate como sinônimo de imutabilidade; O professor Wilson Palermo, que integra a Banca de Delegado RJ, cita a perenidade como característica autônoma, não sendo sinônimo de imutabilidade; Praticabilidade – esses elementos não podem expor as pessoas a vexame quando elas precisarem ser identificadas, ou seja, sua coleta deve ser de maneira simples e fácil, sem ser invasiva; Classificabilidade – os processos de identificação devem valer-se de elementos e sinais de fácil classificação, de modo a orientarem a busca prontamente nos arquivos e a qualquer momento (é a rapidez e facilidade na busca dos registros). 5.2. MÉTODO DE VUCETICH Existem diversos “métodos” de identificação; no entanto, convencionou-se que o que melhor atende aos elementos propostos é o método Vucetich, adotado no Brasil a partir de 1903, que toma como elemento básico a presença, a ausência e a posição de uma figura chamada delta nos dedos da mão. As papilas dérmicas que vão dar origem aos desenhos digitais surgem com 6 meses de vida intrauterina. A CLASSIFICAÇÃO DE VUCETICH A classificação de Juan Vucetich é baseada na presença na ausência e na posição de uma figura chamada delta nos dedos da mão. Inicialmente, entenda como é formado o delta. O delta são pequenos ângulos ou triângulos formados pelas cristas papilares. É a característica fundamental no sistema de Juan Vucetich, sendo formado no ponto de encontro dos sistemas basilar, nuclear e marginal. SISTEMA BASAL – é o conjunto de linhas paralelas ao sulco que separa a segunda da terceira falange, ou seja, compreende as linhas abaixo do ramo inferior das linhas diretrizes, ficam na base da impressão digital, isto é, abaixo do núcleo. SISTEMA MARGINAL – é o conjunto de linhas das bordas e extremidades da terceira falange, ou seja, é formado pelas linhas que estão acima do ramo superior das linhas diretrizes que se sobrepõem ao núcleo. SISTEMA NUCLEAR – localiza-se entre os sistemas anteriores, sendo o sistema de linhas central. Frederico Alves Melo 36 O delta pode ainda ser subclassificado, quanto à sua forma, em: Delta tripódico ou negro; Delta cavado ou branco. Fonte: Imagem retirada do Manual Técnico de Datiloscopia do Instituto de Identificação Félix Pacheco - RJ. TIPOS FUNDAMENTAIS DA CLASSIFICAÇÃO DE VUCENTICH São quatro as classificações possíveis: Arco – ocorre diante da ausência de deltas; Presilha interna – há a presença do delta à direita do observador; Presilha externa – há a presença do delta à esquerda do observador; Verticilo – há a presença de dois deltas. Atenção! Frederico Alves Melo 37 Não confundir desenho digital com impressão digital. Desenho digital é o que está na pele, sem que haja contato com superfície. Já quando há o ajuntamento de linhas (pretas e brancas) sobre determinada superfície, tem-se a impressão digital, em que o delta das presilhas se inverte; assim, o desenho de uma da presilha interna, na impressão digital, passa a ser à esquerda, e o da presilha externa passa a ser à direita. Para identificar uma impressão digital, deve-se analisar a posição do delta. Assim, o delta deve ser avaliado na superfície. Porém, deve-se lembrar que uma pessoa que olha seu dedo (desenho digital) e vê um delta a esquerda, no momento que tocar uma superfície (gerando uma impressão digital), ao olhar para a impressão gerada, o delta estará do lado oposto, devendo assim ser classificado. Portanto, quando uma
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