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ENQ 270- GERENCIAMENTO AMBIENTAL PROCESSOS BIOLÓGICOS DE TRATAMENTO Docente: Erlon Lopes Pereira UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUIÍMICA 2 CLASSIFICAÇÕES DOS PROCESSOS E REATORES BIOLÓGICOS Em função do tipo de processo: anaeróbio, aeróbio, anóxico, anammox. Tipo de reator: Em função do tipo de fluxo: Contínuo ou Batelada Quanto a presença ou ausência de enchimento: Reatores com biomassa dispersa (ausência) Reatores com meio suporte “biofilme” (presença) Contínuos: Em função do tipo de escoamento os contínuos podem ser classificados em: Ascendente, Descendente e Horizontal 3 TIPOS DE REATORES 4 CONCEITOS Tempo de Detenção Hidráulica (TDH); Carga Orgânica Volumétrica (COV); Carga Orgânica Biológica (COB); Velocidade Ascensional; Carga Hidráulica (CH); Tempo de Retenção Celular (Θc); Eficiência 5 PROCESSOS BIOLÓGICOS DE TRATAMENTO O tratamento de esgotos é conhecido desde os tempos mais remotos, há cerca de 4.000 anos. Na Bíblia, O Senhor Deus instruiu o povo israelita de forma simples e eficiente quanto ao tratamento de seus excrementos, quando estavam acampados ao leste do rio Jordão, prestes a entrar na Terra Prometida (Canaã): Deuteronômio 23¹ Também terás um lugar fora do acampamento para as tuas necessidades. Entre as tuas armas terás alguma coisa com que cavar, e quando defecares, cavarás e cobrirás os teus excrementos. (....) O teu acampamento será santo, para que Eu não veja em ti coisa indecente e me aparte de ti ‘ 6 ENQ 270- GERENCIAMENTO AMBIENTAL PROCESSOS ANAERÓBIOS UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUIÍMICA A DIGESTÃO ANAERÓBIA : ESTADO DA ARTE ! Conceito: É um processo microbiológico que, na ausência de oxigênio, permite transformar a matéria orgânica em metano, ocorrendo em diversos meios naturais tais como sedimentos, fontes termais e sistemas gastrointestinais, e ainda em ambientes controlados como é o caso dos reatores anaeróbios. O conhecimento da existência do metano remonta a 1776, ano em que Volta o descobriu e lhe chamou “ar inflamável”. Desde essa data, passou-se cerca de um século até se provar que a metanogênese era um processo relacionado com a atividade microbiológica. Um tempo mais tarde Volta reconheceu a presença de metano no gás dos pântanos. Já no século XIX (1801 -1900), Ulysse Gayon, aluno de Louis Pasteur, realizou a fermentação anaeróbia de uma mistura de estrume e água, a 35ºC, conseguindo obter 100 litros de biogás por m3 de matéria orgânica. 8 Louis Pasteur, ao apresentar à Academia de Ciências os trabalhos do seu aluno, considerou que esta fermentação podia constituir em fonte de energia para aquecimento e iluminação, devido a presença de metano, o hidrocarboneto de menor cadeia de carbono (1 átomo de carbono), principal componente do gás natural e de elevado poder calorífico. Em1860, o francês Jean Louis Mouras descreveu a liquefação da matéria orgânica de um efluente doméstico em condições anaeróbias feitas em “Tanques fechados”. 30 anos depois, Donald Cameron, na Inglaterra, modificou o tanque de Louis Mouras e deu-lhe o nome de “tanque hidrolítico”, e este sistema foi escolhido em 1897 pelo governo local, para o tratamento de todos os efluentes das cidades inglesas. No começo do século XX, ocorreu na Índia e na China, o início do desenvolvimento de biodigestores para a produção de gás metano a partir de esterco de animais, principalmente bovinos. 9 O primeiro documento relatando a coleta de biogás de um processo de digestão anaeróbia ocorreu em uma estação de tratamento de efluentes municipal na Inglaterra, em 1895. No entanto, o primeiro estudo de aproveitamento em uma pequena planta, com uso de estrume e outros materiais, foram feitos na 1941, na Índia. Em 1947 foram pela primeira vez isoladas duas bactérias metanogenicas (Methanosarcina barkeri e Methanobacterium formicicum) em cultura pura. Onze anos mais tarde, isolou-se a Methanobacterium ruminantium usando a técnica de Hungate criada em 1969. Em 1974 esta técnica foi modificada por Miller e Wolin, para a manipulação de microrganismos em condições anaeróbias estritas (Técnica da Câmara Anaeróbia). 10 Em 1982, Huser e colaboradores, isolaram pela primeira vez uma bactéria com características únicas, que era capaz de transformar acetato em metano e dióxido de carbono, mas incapaz de utilizar quaisquer outros tipos de substratos então identificados como precursores do metano, especialmente o hidrogênio e o dióxido de carbono, e a chamaram pelo nome de Methanothrix soehngenii. Recentemente, foi renomeado o gênero Methanothrix como Methanosaeta, por não estar de acordo com o código internacional de nomenclatura das bactérias. 11 Com base nos conhecimentos até agora mencionados o tratamento de esgotos era feito em lagoas de estabilização, tanques sépticos, ou despejados em curso hídricos sem tratamento. Todavia, em grandes escalas começava-se a ver a necessidade de diminuir a área de construção da unidade de tratamento e aumentar a eficiência do processo. Somente a partir de 1960, a digestão anaeróbia passou a ser pesquisada com caráter mais científico, havendo então grandes progressos quanto à compreensão dos fundamentos do processo auxiliando de forma efetiva os projetos de digestores e equipamentos auxiliares. A recuperação de energia gerada pelos processos anaeróbios teve grande impulso com a crise do petróleo, onde diversos países buscaram alternativas para a sua substituição. No entanto, o impulso recebido no período de crise não chegou a constituir um sólido movimento de substituição dos recursos não renováveis por outras fontes renováveis de energia. 12 ETAPAS BIOQUÍMICAS E MICROBIOLÓGICAS DO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA A digestão anaeróbia pode ser considerada como um ecossistema onde diversos grupos de microrganismos trabalham interativamente na conversão da matéria orgânica complexa e produzem metano, gás carbônico, água, gás sulfídrico e amônia, além de novas células bacterianas . Fases do processo: hidrólise, acidogêneses, acetogênese e metanogênese. 1. HIDRÓLISE A hidrólise constitui a fase de degradação de matéria particulada complexa, tais como, lipídios, polissacarídeos, proteínas e ácidos nucléicos em matérias dissolvidas mais simples, como ácidos graxos voláteis, carboidratos, aminoácidos, purinas e pirimidinas solúveis, os quais podem atravessar as paredes celulares das bactérias fermentativas. 13 Esta conversão é executada pela ação de exoezimas, excretadas pelas bactérias fermentativas hidrolíticas. É normalmente um processo lento, sendo os lipídios hidrolisados mais lentamente que as outras moléculas . Os fatores que podem afetar essa etapa são: temperatura operacional do reator, tempo de residência do substrato, composição do substrato, pH do meio, concentração de NH4 +-N e a concentração dos produtos da hidrolise . Os principais gêneros de bactérias que atuam nesta etapa são: Closterdium, Micrococcus e Staphylococcus, que são gêneros produtores de lípases, para degradação de lipídeos e ácidos graxos, Bacteroides, Butyvibrio e Clostridum, Fusobacterium, Selenomas, Streptococus, Proteus, Peptococcus e Bacillus, que são gêneros produtores de proteases, para degradação de proteínas a aminoácidos, Closterdium, Stapyhloccoccus, Acetivibrio, Eubacterium, que são gêneros produtores de amilases para a degradação de polissacarídeos e açúcares menores. 14 2. ACIDOGÊNESE Nesta fase os monômeros resultantes da hidrólise, após seremtransportados através da membrana celular para o interior da célula, são transformados numa variedade de produtos entre os quais acetato, propianato e butirato. Em geral, a população fermentativa representa cerca de 90% da população bacteriana total dos digestores anaeróbios, sendo que o número e a diversidade das espécies bacterianas fermentativas envolvidas no processo dependem largamente da composição do substrato. A partir das reações formuladas a seguir, pode-se afirmar que esta etapa é altamente favorecida termodinamicamente cujas reações ocorrem com muita espontaneidade visto que a energia livre padrão é muito baixa. Os microrganismos acidogênicos, são os que mais se beneficiam energeticamente e, em decorrência, possuem tempo mínimo de geração e elevadas taxas de crescimento no consórcio microbiano, como mostram as equações químicas: 15 C6H12O6 + 2H2O → 2CH3COOH + 2CO2 + 4H2 ∆G o= -206 kj/reação C6H12O6 + 2H2 → 3CH3CH2COOH + 2H2O + 2H + ∆Go= -358 kj/reação C6H12O6→ 3CH3CH2 CH2COOH + 2H2O + 2H + ∆Go: -255 kj/reação Onde: ∆Go é a energia livre de Gibbs no estado padrão (pH=7, pressão de 1tam, temperatura de 25ºC e o líquido sendo água pura). Os gêneros de bactérias fermentativas acidogênicas são: Clostridium, Bacteroides, Ruminococcus, Butyribacterium, Propionibacterium, Eubacterium, Lactobacillus, Streptococcus, Pseudomonas, Bacillus, Escherichia, Desulfobacter, Micrococcus. 16 3. ACETOGÊNESE A acetogênese consiste na transformação dos produtos da fermentação, propianato e butirato, em acetato, dióxido de carbono e hidrogênio por ação das chamadas bactérias sintróficas acetogênicas. São chamados assim porque a existência delas depende da atividade de microrganismos consumidores de hidrogênio. A seguir são mostrados alguns exemplos de transformações acetogênicas: CH3CH2CH2COOH + 2H2O → 2CH3COO - + 2 H2 + H + ∆Go = +48,1 kj/reação CH3CH2COOH + 3H2O → CH3COO - + 3H2 + HCO3 -+ H+ ∆Go= +72,2 kj/reação CH3CH2OH + H2O → CH3COO - + 2H2 + H + ∆Go = +9,6 kj/reação 17 4. METANOGÊNESE A metanogênese é a etapa final do processo, responsável diretamente pela produção de metano, e constitui, em muitos casos, o passo que governa todo processo de degradação do substrato. As bactérias metanogênicas pertencem ao domínio das arqueobactérias, que são diferentes das bactérias típicas, que pertence ao domínio das eubactérias. As arqueas exibem vários atributos bioquímicos e estruturais, únicas, as quais adaptaram viver em habitat específicos. As arqueas são anaeróbias estritas, requerendo para o seu desenvolvimento um potencial redox entre -250 e -300 mv. Possuem coenzimas e cofactores específicos (coenzima F420, F430, coenzima Metanopterina) e degradam apenas um número limitado de substratos com baixo número de carbonos: acetato, metanol, metilaminas, formiato, hidrogênio e dióxido de carbono. 18 A coenzima F420 é muito importante, pois permite a distinção de arqueas metanogênicas das bactérias através de microscopia de epi-florescência. As arqueas metanogênicas estão distribuídas em cinco ordens: Methanobacteriales, Methanococcales, Methanomicrobiales, Methanosarcinales e Methanopyrales, todas dentro do filo Euryarcheota. A metanogênese pode ser considerada uma forma de respiração, onde o gás carbônico, ou grupo metil de compostos C-1, ou o carbono do grupo metil do acetato, é o receptor de elétrons. Em função da sua fisiologia, as arqueas metanogênicas são divididas em dois grupos principais, onde é responsável pela formação do metano a partir de ácido acético ou metanol, e o segundo, pelo metano a partir de hidrogênio e dióxido de carbono, como mostrado a seguir: 19 20 Metanogênicas acetoclásticas, usam acetato como fonte de carbono e energia, produzindo gás carbônico (CO2) e metano (CH4). Metanogênicas hidrogenotróficas, utilizam gás carbônico como fonte de carbono e aceptor final, e o hidrogênio, como fonte de energia, o hidrogênio funciona como um agente redutor. Dentre as cinco ordens, somente a Methanosarcinales compreende arqueas acetoclásticas. Estas se encontram divididas em duas famílias: Methanosaetaceae e Methanosarcinaceae. A família methanosaetaceae é especialista, tendo alta afinidade pelo acetato, mas uma taxa máxima de crescimento relativamente baixa, com tempo de duplicação de 3,5 a 9 dias, e possui um único gênero, Methanosaeta que é constituído por espécies que formam filamentos longos e finos. Já a família Methanosarcinaceae é mais generalista, tendo muito baixa afinidade pelo acetato, porém com uma alta taxa de crescimento. Nesta família se destaca o gênero Methanosarcina, que cresce em forma de cocos. 21 Metanogênicas hidrogenotróficas: Ao contrario das acetoclásticas, praticamente todas as espécies conhecidas de arqueas metanogênicas são capazes de produzir metano a partir de hidrogênio e gás carbônico, resultando em uma maior liberação de energia. Os gêneros mais frequentemente isolados em reatores anaeróbios são Methanobacterium, Methanospirillum, Methanobrevibacter, Methanoculleuse e Methanocorpusculum. Qual a vantagem da presença das arqueas metanogêncas hidrogenotróficas no reator? Apesar de serem mais lentas e serem responsáveis pela baixa produção do metano elas contribuem com a remoção de hidrogênio modificando a condição termodinâmica do reator fazendo com que as reações metanogênicas que não ocorreriam termodinamicamente passem a ocorrer. 22 Problemas relacionados ao mal cheiro em reatores anaeróbios. 1 – Competição das bactérias redutoras de sulfato (BRS) com as metanogênicas: Devido a presença de sulfato no afluente as BRS reduzem o sulfato a H2S “roubando” o hidrogênio que seria utilizado pelas arqueas metanogênicas hidrogenotróficas. O H2S produzido tem mal cheiro e é um composto inibidor para as arqueas metanogênicas reduzindo a atividade da biomassa e a eficiência do reator anaeróbio. O problema passa a ser preocupante quando o afluente possue a relação DQO/sulfato menor que 7. 2- O azedamento do reator: Devido a falta de tamponamento ou excesso de carga pode ocorrer um desequilíbrio na ecologia microbiana fazendo com que os ácidos produzidos não sejam consumidos, azedando o meio. Altas concentrações de ácidos inibem o crescimento das arqueas metanogênicas levando ao colapso do reator dando a ele cheio de vinagre. 23 24 REATORES DE ALTA TAXA Para aumentar o tempo de retenção celular, diminuir o tempo de detenção hidráulica e aumentar a eficiência foram criados os reatores de alta taxa. São aqueles em que o tempo de retenção celular é bem maior do que o tempo de detenção hidráulica. Ao mesmo tempo a biomassa apresenta alta atividade de degradação da matéria orgânica. Entre os existentes, os mais conhecidos são: reatores de leito fixo, reatores de leito rotatório, reatores de leito expandido e reatores de leito fluidificado, reatores de chicanas, reatores de manta de lodo, reatores com leito granular expandido e reatores com recirculação interna . 25 26 Experiência de Young & MacCarty (1969): “YOUNG, J.C. & MAC CARTY, P.L. The anaerobic filter for waste treatment. Journal WPCF, 41 (5), p 160- 173, 1969.” Pesquisa realizada entre 1963 -1968. Filtro anaeróbio alimentado com despejo líquido sintético, verificando-se eficiência na remoção de DBO superior a 80% para tempos de detenção hidráulicos inferiores a 24 horas com produção de biogás. Separação do biofilme e do lodo intersticial. Conclusão: a eficiência está relacionada com lodo intersticial e não somente pelo biofilme. Na década de 70 a crise do petróleo estimulou o uso de fontes alternativas de energia dentre elaso biogás. Isso levou o estudo aprofundado da anaerobiose e como deixar os reatores mais eficientes, compactos e sem enchimento para tratar um volume maior de rejeito: Reatores de alta taxa. A teoria de Gatze Lettinga 27 O FENÔMENO DA GRANULAÇÃO O fenômeno da granulação foi observado acidentalmente por Willian de Zeeuw, um biólogo holandês, que durante um experimento de escalonamento de um reator piloto, tratando efluente de uma usina de açúcar, no final da década de 70, observou que a biomassa se tornara agregada na forma de esferas, com diâmetro variando de 1 a 5 mm. Estudos feitos por Hulshoff et al., (2004), mostram que a formação de grânulos pode ser considerada como a maior razão do sucesso da introdução do reator UASB, no tratamento de efluentes industriais. Este processo de granulação permite maiores cargas quando comparado com outros processos anaeróbios convencionais, tais como tanques de contato, tanques sépticos e lagoa anaeróbia. As duas principais razões que explicam estas altas taxas são: 28 Boas características de sedimentabilidade do lodo granular. As velocidades de sedimentação do lodo granular são de aproximadamente 60 m h-1, enquanto que as velocidades ascendentes superficiais são mantidas abaixo de 2 m h-1 permitindo uma dissociação entre o tempo de retenção celular (TRC) e o tempo de detenção hidráulica (TDH), sendo que TRC acima de 200 dias foram observados em conjugação com TDH de 6 horas. Alta atividade especifica metanogênica (AME) do grânulo. 29 30 31 32 UASB: O SUCESSO ENTRE OS REATORES DE ALTA TAXA Reator trifásico com leito de lodo (mais denso, características de sedimentação melhores e diâmetros maiores - granulado) e manta (menos denso, velocidades de sedimentação mais baixas- floculado). O sistema é auto-misturado pelo movimento ascendente das bolhas do biogás e do fluxo ascendente. Acima do separador trifásico têm-se o compartimento de decantação. O reator é: Compacto, com baixa demanda de área. Baixa produção de lodo. Eficiência na remoção de DBO/DQO, na ordem de 65 a 85%. Boa desidratabilidade do lodo. Capaz de suportar altas taxas de carga orgânica e hidráulica. 33 MONITORAMENTO DO REATOR Partida (Start-up): Inoculação ou sedimentação ? Período de instabilidade ! Aclimatização ! Estado estacionário (Steady-Steate): Eficiência varia pouco (10%; 15%) dependendo do efluente e do reator ! Estudo de variação de carga: Choques Orgânicos? Choques Hidráulicos ? Nesta fase retira-se os dados necessários para escalonamento: Cinética de Crescimento da biomassa + Hidrodinâmica + Viscosidade do lodo e do efluente. 34 REQUISITOS AMBIENTAIS PARA TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS Relação C:N:P Para biomassa com baixo coeficiente de produção celular – 330:5:1 Para biomassa com alto coeficiente de produção celular – 130:5:1 Relação DQO:N:P Para biomassa com baixo coeficiente de produção celular – 1000:5:1 Para biomassa com alto coeficiente de produção celular – 350:5:1 35 TEMPERATURA A temperatura é um dos fatores ambientais que mais influencia a eficiência do processo de degradação anaeróbia. Os microrganismos não possuem meios de controlar sua temperatura interna e, dessa forma, a temperatura no interior da célula é determinada pela temperatura ambiente. Existem três faixas de temperatura associadas ao crescimento microbiano: Faixa psicrofilica que se situa entre 4oC e aproximadamente 15oC Faixa mesófilica que se situa entre 20oC e aproximadamente 40oC Faixa termofilica que se situa entre 40oC e aproximadamente 70oC e acima. Em cada uma dessas três faixas, onde o crescimento microbiano é possível, são normalmente referenciados três valores de temperatura para caracterizar o crescimento das espécies de microorganismos, sendo: Temperatura mínima, abaixo da qual o crescimento não é possível, Temperatura ótima, onde o crescimento é máximo, Temperatura máxima, acima da qual o crescimento também não é possível 36 O aumento da temperatura tem como vantagens: o aumento na solubilidade dos compostos orgânicos, taxas de reações químicas e biológicas e o aumento de microrganismos. Pesquisas atuais baseadas na relação de Arrehenius, descrevem que um decréscimo da temperatura em 10oC resulta na diminuição da taxa de reação pela metade, todavia tem sido observado que decréscimos de temperatura de 35oC para 25oC não levam a flutuações significativas no desempenho dos reatores. Variação de temperatura pode comprometer o desempenho dos reatores, uma vez que alguns microrganismos são extremamente sensíveis, tolerando variações máximas de 1oC a 2oC por dia, inclusive as arqueas metanogênicas. Elevadas temperaturas podem aumentar a pressão parcial de hidrogênio influenciando deste modo a cinética do metabolismo sintrófico, aumentando a fração de amônia livre inibidora aos processos anaeróbios e, por fim, aumentando a constante de acidez (pKa) advinda dos ácidos graxos voláteis diminuindo a atividade das arqueas metanogênicas. 37 PH, ALCALINIDADE E ACIDEZ o pH é outro fator ambiental de vital importância nos processos anaeróbios, pois afeta a taxa de crescimento dos microrganismos, e que suas variações podem causar importantes alterações na constituição microbiana dos consórcios. O pH afeta o metabolismo, especificamente a utilização das fontes de carbono como energia, as reações de síntese e a produção de metabólitos extracelulares. A morfologia e a estrutura são também afetadas, como conseqüência, comprometendo os fenômenos de adesão e floculação, aspectos de crucial importância nos reatores. Os componentes que ditam a variação de pH são CO2 e os ácidos graxos voláteis que tendem a baixar o pH e os cátions como íon amônio provenientes da degradação de proteínas e também o sódio oriundo de detergentes que aumentam alcalinidade e o pH. Os microrganismos produtores de metano têm um crescimento ótimo na faixa de pH entre 6,6 a 7,4, enquanto que as acidogênicas podem metabolizar o substrato em pH que variam de 5,0-6,0. 38 Não baixando de 4,5 pois pode provocar o azedamento do reator, fazendo com que a produção dos ácidos voláteis continue aumentando, e a produção de metano diminua devido a alta sensibilidade das arqueas metanogênicas. O pH acidogênico deve estar acima da constante de acidez (pKa) para a maioria dos ácidos orgânicos (acetato, propianato e butirato), uma vez que a célula é muito mais sensível aos ácidos na forma não dissociada do que aos ânions, sendo que o limite máximo deve ser acima de 5 para prevenir mudanças na fermentação. A toxicidade do íon amônio (NH4 +) é influenciada pelo pH do meio: Para valores elevados de pH forma-se preferencialmente a forma não ionizada (NH3) que penetra na membrana celular. Os ácidos voláteis e o H2S exercem uma toxicidade influenciada pelo pH do meio: Isso porque ocorre o deslocamento dos equilíbrios ácido-base destes compostos, nas formas não ionizadas, para baixos valores de pH. As formas não ionizadas penetram na célula, dissociam-se e provocam o aumento da concentração intracelular de hidrogênio. A extrusão do excesso de próton consome ATP, diminuindo a sua disponibilidade para o crescimento e metabolismo. 39 A alcalinidade é um parâmetro largamente aceito para avaliação da capacidade de tamponamento do pH em processos anaeróbios de tratamento. Esta capacidade “tampão” é fundamental em situações de desbalanceamento, ou seja, quando a produção de ácidos orgânicos excede a capacidade de remoção pelas bactérias metanogênicas. A alcalinidade de bicarbonatos, HCO3 -, constitui a principal fonte de capacidade tampão na faixa de pH neutro, e pode sergerada em condições anaeróbias, pela degradação de compostos orgânicos nitrogenados, sabões ou sais de ácidos orgânicos, redução de sulfitos e sulfatos. O método sugerido por Ripley e colaboradores publicado em 1986, onde a titulação da alcalinidade é realizada em duas etapas: a primeira etapa relacionada à alcalinidade bicarbonato, uma titulação com ácido sulfúrico até pH=5,75, e a segunda etapa, relacionada à concentração de ácidos graxos voláteis acumulados no processo anaeróbio, titulação a partir do pH 5,75 até 4,30. 40 Titulação até o pH 5,75, o primeiro estágio da titulação a qual fornece a alcalinidade parcial (AP), equivalente à alcalinidade bicarbonato. Titulação até pH 4,3, que corresponde ao segundo estágio da titulação, fornecendo a alcalinidade intermediaria (AI), equivalente à alcalinidade dos ácidos voláteis. A relação entre os dois AI/AP resulta no índice Ripley, e através dele podemos inferir sobre as condições de operacionais de reator. Se o valor for maior 0,3 indica que estão ocorrendo distúrbios no processo de digestão anaeróbia, sendo sempre recomendável observar cuidadosamente o processo na referida unidade de tratamento, pois é possível que ocorra problemas de eficiência. É importante salientar que outros valores diferentes de da realção AI/AP= 0,3, possam indicar estabilidade do sistema, como afirmado por outros pesquisadores. Para esgoto domestico valores da alcalinidade bicarbonato entre 1.000 e 5.000 mg L-1, permitem manter o pH na faixa de 6,6 a 7,5, respectivamente, sendo a faixa mais comum no tratamento das águas residuárias de 3.000 a 5.000 mg L-1 de carbonato de cálcio. 41 TOXIDADE EM MICRORGANISMOS ANAERÓBIOS Na digestão anaeróbia os organismos acidogênicos e as arqueas metanogênicas diferem muito quanto a sua fisiologia nutricional, crescimento cinético e sensibilidade às condições do meio, sendo que o fracasso em manter o balanço entre esses dois grupos de microrganismos pode provoca problemas na estabilidade dos reatores. Substâncias inibidoras são sempre tidas como causadoras primárias de instabilidade de reatores, distúrbios do processo anaeróbio e do respectivo colapso quando estiverem em concentrações consideráveis na água residuária e impregnadas no lodo. Uma substância é considerada inibidora quando provoca condições adversas na população microbiana ou inibição do crescimento bacteriano, pelo decréscimo da taxa de produção do metano e acumulação de ácidos orgânicos. 42 A literatura sobre digestão anaeróbica mostra variações consideráveis nos limites de toxidade ou inibição devido aos mecanismos de antagonismo, sinergismo e aclimatização que ocorrem no processo de digestão anaeróbia. As principais substâncias que causam toxidade nos processos anaeróbios são: Amônia Livre; Sais: Sódio, Potássio, Magnésio, Alumínio; Sulfeto. 43 CINÉTICA MICROBIANA O estudo cinético do processo de biodigestão anaeróbia é importante para propiciar a determinação e otimização de parâmetros de projetos para reatores de configuração em escala real. O estudo cinético de um determinado fenômeno ou processo significa estudar sua evolução no tempo, através da quantificação de certas grandezas que definam adequadamente esta evolução. No caso da degradação de material orgânico, as grandezas medidas são: tempo, concentração de microrganismos presentes, concentração de substrato que limita o processo e a concentração do produto em que se possa estar interessado . A cinética bioquímica de um determinado processo consiste em estudar as velocidades de crescimento dos microrganismos acompanhadas da utilização de substrato e da formação de produtos. As velocidades devem ser expressas em termos matemáticos por modelos que representem com clareza a eficácia dos processos. As principais fases de crescimento bacteriano são: 44 A FASE DE MAIOR INTERESSE E IMPORTÂNCIA NO PERFIL DO CRESCIMENTO MICROBIANO É A FASE DO CRESCIMENTO EXPONENCIAL. PELO FATO DA TAXA DE DEGRADAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA EM PROCESSOS DE TRATAMENTO BIOLÓGICO SER FUNÇÃO DO NÚMERO DE MICRORGANISMOS PRESENTES. A FASE DE MENOR INTERESSE PARA ESTE TIPO DE TRATAMENTO É A FASE DE ACLIMATIZAÇÃO OU “LAG”, DEVIDO À TAXA DE CRESCIMENTO SER NULA E DE SER UMA FASE LIGADA AOS ESTUDOS DE PROCESSOS INIBITÓRIOS. 45 46 OBRIGADO !!!!
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