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205 Alessandro Borges Tatagiba CRESWELL, JOHN W. PROJETO DE PESQUISA: MÉTODOS QUALITATIVO, QUANTITATIVO E MISTO; TRADUÇÃO MAGDA LOPES. – 3 ED. – PORTO ALEGRE: ARTMED, 296 PÁGINAS, 2010. Resenhado por Alessandro Borges Tatagiba1 Voltado para pesquisadores, o livro pode auxiliar − como fonte de consulta sempre à mão, referência ou manual − alunos da pós- graduação e professores, inclusive. A obra aborda muito mais do que simples descrição ou detalhamento sobre os métodos qualitativo, quantitativo e misto. O autor, John W. Creswell, professor de Psicologia Educacional, com 30 anos de experiência na Universidade de Nebraska-Lincoln, sintetiza neste livro sua experiência com os cursos que ministra sobre metodologia qualitativa e pesquisa com métodos mistos. Os exemplos de diversas disciplinas que ilustram todos os capítulos saíram de livros, de artigos de periódicos, de propostas de teses e dissertações. O autor destaca que os exemplos refletem questões de justiça social e estudos realizados com indivíduos marginalizados da sociedade, bem como as amostras e as populações tradicionais estudadas pelos cientistas sociais. Dividido em dois momentos, o livro oferece no prefácio um panorama preciso do livro. A Parte I, segundo Creswell (2010: 18), consiste de passos a serem considerados pelos pesquisadores antes de desenvolverem suas propostas ou planos de pesquisa. Por sua vez, a Parte II, trata dos métodos que dão título ao livro e dos seguintes constituintes de uma proposta de pesquisa: Introdução; Declaração de Objetivo; Questões e Hipóteses de Pesquisa. todos os capítulos 1. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Brasília. Pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio teixeira (Inep). 206 Cadernos de Linguagem e Sociedade, 13 (1), 2012 se dividem, por sua vez, cinco partes: introdução, desenvolvimento, resumo, exercícios de redação e, por último, leituras adicionais. Da parte I, deve-se destacar a abordagem sobre as concepções filosóficas de um projeto de pesquisa e as questões éticas a serem previstas. Diferentemente das outras edições, esta terceira inclui uma visão bastante objetiva sobre concepções filosóficas que envolvem a proposta de pesquisa ou estudo. Destarte, o pesquisador pode situar, avaliar, ou reavaliar se for o caso, a concepção filosófica do próprio trabalho. O destaque que o autor dá às questões éticas passou, nesta edição, por uma ampliação para incluir questões relacionadas à coleta de dados e ao relato dos achados de pesquisa. Após introduzir o tema, situando a questão ética numa relação de confiança que se estabelece entre o pesquisador e os participantes da pesquisa, Creswell salienta, em primeiro lugar que “a ideia básica da pesquisa de ação/ participatória é que o investigador não marginalize ou incapacite ainda mais os participantes do estudo” (Creswell, 2010: 117). O autor evidencia a questão ética para as várias fases da pesquisa, passando pela coleta de dados até as que possuem implicações na redação e divulgação da pesquisa. A discussão sobre ética na pesquisa − qualitativa, quantitativa ou mista − não se encerra obviamente nessa seção do capítulo quatro do livro, uma vez que o tema abre a oportunidade de proveitosos debates acadêmicos. Acima de tudo, além do autor reconhecer a existência de questões éticas não consensuais no próprio meio acadêmico, as referências utilizadas e as leituras adicionais, propostas ao final deste capítulo, convocam para um estudo ainda mais atento sobre este relevante tema. A partir da Parte II, ao tratar sobre o planejamento da pesquisa, logo no capítulo cinco, o autor oferece conselhos sobre a composição e a redação de uma introdução de um estudo acadêmico. Destaca, ainda, a importância da introdução e explana em separado sobre as introduções qualitativas, quantitativas e de métodos mistos. No capítulo seis, o leitor encontrará um detalhamento da declaração de objetivo sob a ótica qualitativa, quantitativa e de métodos mistos. 207 Alessandro Borges Tatagiba O autor trata as Questões e Hipóteses de Pesquisa no capítulo sete descrevendo, como no capítulo anterior, o tópico sob a perspectiva de cada um dos três métodos de pesquisa. Acerca da pesquisa qualitativa, no capítulo oito, o autor apresenta passo a passo os procedimentos voltados para essa metodologia. Destacam-se, nesse capítulo, as observações do autor sobre as ameaças à validade da pesquisa. Conforme Creswell (2010:196), há várias ameaças à validade que levantarão questões sobre a competência de um experimentador e, portanto, os pesquisadores experimentais precisam identificar ameaças potenciais à validade interna e externa para evitá-los, ou minimizá-los. Os métodos qualitativos, apresentados no capítulo nove, empregam, conforme observa Creswell (2010:206), várias concepções filosóficas; estratégias de investigação e métodos de coleta de dados, análise e interpretação. Além de detalhar as características da pesquisa qualitativa, o autor apresenta também “dicas de pesquisa” voltadas para as estratégias de investigação. O papel do investigador, em seguida, ganha igual destaque tratando, inclusive, sobre as questões éticas na relação pesquisador-participantes, já abordadas anteriormente no capítulo quatro. Antes de passar à interpretação e análise dos dados, o autor cuidadosamente lista possíveis abordagens para se proceder à coleta de dados qualitativos. Na forma de um quadro detalhado, o autor especifica os procedimentos sobre a validação da precisão das informações coletadas. O que, por conseguinte, irá impactar a confiabilidade e validade da pesquisa. O último capítulo, sobre métodos mistos, não encerra as contribuições da obra. No final do livro, além de contarmos com índices onomásticos e remissivos; o glossário, apresentado logo após o capítulo dez, pode auxiliar bastante os pesquisadores. No que se refere aos métodos mistos, o autor enfatiza que esse método se vale dos pontos fortes dos métodos quantitativos e qualitativos. A figura 10.1, à página, 246, ilustra de uma forma bastante simples como se daria a convergência do método quantitativo e qualitativo. Antes, porém, o autor descreve a natureza da pesquisa 208 Cadernos de Linguagem e Sociedade, 13 (1), 2012 de métodos mistos apresentando uma proposta com questões para o planejamento de um procedimento envolvendo métodos mistos. Uma distinção relevante que o autor faz com relação ao método misto se refere às estratégias de investigação. Conforme Creswell (2010: 247-253), essas estratégias revelam que facilmente, a depender da questão de pesquisa, as propostas de estudo podem empregar métodos quantitativos e qualitativos, ora atribuindo mais peso a um do que a outro, ora iniciando-se com um e concluindo-se com outro. O autor fecha o último capítulo sobre métodos mistos destacando pontos relevantes sobre a coleta e análise de dados, bem como a apresentação do relatório. O livro, Projeto de Pesquisa: Métodos Qualitativo, Quantitativo e Misto, pode proporcionar aos acadêmicos um relevante diferencial para a elaboração, ou quem sabe até revisão, das propostas de estudo e de pesquisa. Deve-se atentar, contudo, que ao longo do livro se observou, às vezes, uma sobreposição de terminologias como métodos, estratégias e projetos, a exemplo da que se observa na figura 1.1, à página 28. Não obstante, a linguagem clara e contundente − aliada a uma apresentação visual agradável e rica em exemplos, quadros e figuras − propicia uma leitura profícua. Além de exemplificar os métodos quantitativo, qualitativo e misto ao longo dos dez capítulos, a obra oferece aos pesquisadores reflexões sobre elementos basilares para a construção de uma proposta de pesquisa.