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Grécia Período Clássico Período Clássico (séculos V a.C.-IV a.C.) O Período Clássico foi marcado por violentas lutas dos gregos contra os persas e entre si. Apesar disso, o século V a.C. foi considerado o apogeu da antiga civilização grega, concentrando suas maiores realizações cul- turais. A partir das reformas de Clístenes, toda a Grécia acabaria receben- do influências atenienses, que se aprofundaram durante o governo de Péricles. Por duas vezes os persas tentaram invadir a Grécia, provocando confli- tos que ficaram conhecidos como Guerras Médicas (em referência aos medos, um dos povos que faziam parte da origem persa). A primeira das grandes guerras de gregos contra persas ocorreu entre 490 a.C. e 479 a.C. Liderados por Dario I, os persas desembarcaram na Grécia, mas foram surpreendidos pelo exército ateniense na Planície de Maratona, onde, apesar de sua superioridade numérica, foram derrotados pelos gregos. O prestígio ateniense cresceu muito após essa vitória, e a cidade começou a se destacar entre as demais pólis gregas. Precavendo-se contra um possível novo ataque persa, após a primei- ra Guerra Médica os atenienses procuraram fortalecer sua marinha de guerra, já que o cenário das lutas seria o mar Egeu. A segunda ofensiva persa iniciou-se em 480 a.C., quando o imperador Xerxes partiu com aproximadamente 100 mil homens em direção à Gré- cia. Os gregos uniram-se contra os invasores, mas, apesar do sucesso es- partano em retardar o avanço do inimigo, no desfiladeiro de Termópilas, os persas conseguiram invadir e saquear Atenas. Apesar de vitoriosa, a campanha persa acabou se enfraquecendo, na medida em que suas tropas não eram facilmente guarnecidas por su- primentos e reforços. A derrota na grande batalha naval de Salamina, diante de Atenas, selou o destino dos persas, que mais uma vez se retir- aram sem terem conseguido tomar a Grécia. Durante a guerra, as pólis gregas formalizaram uma aliança conhecida como Liga de Delos. Tratava-se basicamente de uma união militar contra os persas. As cidades que participavam da aliança pagavam impostos – que eram depositados na ilha de Delos – para sustentar a frota e os ex- ércitos conjuntos de todas as cidades-Estado. Atenas, com seu prestígio e poderio econômico, logo passou a administrar os recursos de Delos, tornando-se líder da liga. Ao final das guerras contra os persas, os at- enienses insistiram na manutenção da Liga de Delos e, portanto, na cobrança de tributos. As demais cidades gregas ficaram insatisfeitas com a medida, mas pouco podiam fazer contra o poderio militar ateniense. Chegava ao auge o im- perialismo ateniense, ou seja, o período em que Atenas passou a dominar a Grécia antiga, subordinando boa parte das cidades-Estado. Os atenienses começaram a interferir na vida política e social das outras pó- lis, transferindo o tesouro de Delos para Atenas e, com frequência, utilizando a força para manter subjugado o restante da Grécia. O controle dos recursos de outras cidades abriu caminho para o apogeu ateniense, particularmente entre os anos de 461 a.C. e 429 a.C., época conhecida como a Idade de Ouro de Atenas, quando a cidade era, então, dirigida por Péricles. Durante o governo de Péricles, aprimorou-se a democracia. Observando que os homens livres pobres dificil- mente participavam das instituições democráticas, Péricles criou uma pequena remuneração em dinheiro para os ocupantes de cargos públicos (subsídio de- nominado mistoforia), possibilitando a participação popular nos assuntos da administração da cidade. Além disso, em seu governo Atenas foi reconstruída e embelezada; erguer- am-se um templo dedicado à deusa Atena, o Partenon, e muralhas defensivas em torno da cidade. Em grande parte, o brilhantismo cultural e a prosperidade atenienses foram conseguidos graças ao domínio e à exploração das demais pólis por parte de Atenas. O apogeu da democracia e de Atenas, portanto, assentava-se no impe- rialismo. A insatisfação contra o domínio ateniense existia não apenas nas ci- dades da Liga de Delos, mas também entre as cidades aristocráticas que não se alinhavam a Atenas. Lideradas por Esparta, as pólis insatisfeitas formaram uma aliança contra Atenas, a Liga do Peloponeso. Em 431 a.C., Atenas e Esparta entraram em guerra, arrastando as demais pó- lis para um conflito que ficaria conhecido como Guerra do Peloponeso. Atenas tinha o poderio marítimo, enquanto os exércitos de Esparta detinham o domí- nio terrestre. Nos dezessete anos de guerra, os soldados espartanos devastaram os campos da Ática e cercaram Atenas. O conflito só terminou em 404 a.C., com a vitória final de Esparta. Com o fim da democracia ateniense e o retorno do poder oligárquico na Grécia, iniciou-se o período de domínio espartano. Esse domínio foi ameaçado por outras cidades, que lutavam pelo controle da penín- sula Balcânica. Foi o caso de Tebas, que derrotou Esparta em 371 a.C. e estabe- leceu uma breve hegemonia. As constantes guerras tiveram como resultado enfraquecimento das ci- dades-Estado gregas, o que abriu caminho para a invasão dos macedônios, povo do norte da península Balcânica. Em 338 a.C., na Batalha de Queroneia, os exércitos gregos foram derrotados e a Grécia caiu sob o domínio da Macedônia. A cultura grega A Grécia atravessou um período de notável desenvolvimento artístico-cultur- al. O Século de Péricles constituiu o momento áureo da cultura grega, quando viveram os principais teatrólogos, filósofos, arquitetos e artistas. O pensamento grego tinha por base a razão e, por isso, valorizava o ser humano (antropocentrismo), influenciando significa- tivamente o racionalismo ocidental dos séculos seguintes. As palavras do te- atrólogo grego Sófocles (495 a.C.-406 a.C.) atestam a importância atribuída ao homem na cultura grega. Afirmava ele: “Muitos são os prodígios; entretanto nada é mais prodigioso do que o homem”. Os artistas e os pensadores que fizeram da cultura grega uma das mais impo- nentes pertenciam, em geral, a uma elite sustentada por numerosos escravos e pequenos camponeses. A religião grega caracterizou-se pelo politeísmo antro- pomórfico, ou seja, os gregos acreditavam em vários deuses que tinham formas e atributos semelhantes aos da espécie humana: suas fraquezas, paixões, vir- tudes. Mas uma característica fundamental distinguia os deuses dos humanos: a imortalidade, que se devia ao alimento do qual os deuses se nutriam: a am- brosia. Acreditavam que muitos de seus deuses habitavam o Monte Olimpo, de onde comandavam o destino humano. Alguns de seus diversos mitos são personagens muito conhecidas, como Hércules, famoso por sua força extraor- dinária, ou Teseu, que em tempos remotos teria livrado a Grécia da opressão do Minotauro. Entre as principais divindades estão: Zeus, senhor de todos os de- uses; Atena, filha de Zeus, deusa da razão e da sabedoria e protetora da cidade de Atenas; Apolo, deus da luz e das artes; Dioniso, deus do vinho; e Poseidon, deus das águas. O surgimento e a consolidação do teatro grego também podem ser associados à mitologia, pois se deram a partir das manifestações em hom- enagem a Dioniso (Baco, para os romanos), o deus do vinho. As tragédias gre- gas mais destacadas foram escritas por Ésquilo (525 a.C.-456 a.C.), Sófocles (496 a.C.-406 a.C.) e Eurípedes (484 a.C.-406 a.C.). O maior representante da comédia antiga grega foi Aristófanes (445 a.C.-386 a.C.). Na arquitetura e na escultura buscava-se uma expressão do humanismo, com o cultivo de princípios como o racionalismo e a simplicidade, resultando em equilíbrio, harmonia e ordem. As formas de pensar dos gregos influenciaram o desenho urbano das pólis e as construções nelas existentes. Um exemplo é o Pnyx, construção na qual se reunia a eclésia (assembleia dos cidadãos), erguida aproveitando uma ladeira ou colina: originalmente, os cidadãos ficavam na par- te de cima para ver o orador, que ficava na parte mais baixa, mas com o tempo essa disposição se inverteu, e o oradorpassou a ficar no alto. Também na construção dos teatros a arquitetura da Grécia antiga utilizou o mesmo recurso, aproveitando a inclinação de montanhas para dar suporte às arquibancadas. A civilização grega foi também o berço da Filosofia (palavra gre- ga que significa ‘amor à sabedoria’), estudo que tem por objetivo procurar expli- cações racionais e universais para a vida e para a humanidade. Inicialmente, desenvolveu-se na filosofia grega a linha ou escola de pensamen- to que se tornaria conhecida como pré-socrática (“antes de Sócrates”), ou dos filósofos da natureza, que tentavam buscar uma explicação para a origem das coisas que fosse além do mítico e do religioso. Mais tarde, sobretudo em Atenas e no contexto da democracia, surgiu a escola sofista, que abriu mão de inter- pretações mais amplas sobre a origem das coisas e passou a enfatizar a prática da retórica, a arte do convencimento. Deixando de lado a busca por um conhe- cimento mais profundo ou verdadeiro, os sofistas estimulavam a expressão de opiniões como forma de atingir objetivos concretos (por exemplo, aprovação de uma lei). Um dos representantes dessa escola foi Protágoras (c. 485 a.C.-410 a.C.), autor da frase “O homem é a medida de todas as coisas”, com a qual evi- denciava o deslocamento das atenções do Universo para o ser humano. No século V a.C., época do apogeu ateniense, destacou-se o filósofo Sócrates (c. 470 a.C.-399 a.C.), que não apenas criticava os sofistas, mas afirmava a existência de um conhecimento verdadeiro e a capacidade do ser humano em atingi-lo pela prática filosófica apoiada no diálogo. Crítico da ordem ateniense, acabou sendo julgado e condenado à morte por “corromper a juventude”. Os princípios desenvolvidos por Sócrates foram assumidos por seu discípulo Platão (c. 428 a.C.-348 a.C.), considerado o fundador da filosofia ocidental. Em seus ensinamentos, Platão considerava a busca pelo conhecimento verdadeiro uma prática transcendente, isto é, que iria além dos dados obtidos pelos senti- dos. Seria pelo pensamento que se chegaria às ideias eternas e imutáveis, como a beleza, a bondade e a verdade. Finalmente, Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), já vivendo no período do domínio macedônico, levou a Filosofia para outra direção, afirmando a preponderân- cia dos sentidos como forma de obter o conhecimento verdadeiro. Platão e Aristóteles fundaram duas correntes do pensamento que dominaram o debate filosófico no Ocidente até pelo menos o final do século XVIII.
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