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Acesso à educação de qualidade - desafios contemporâneos

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E METODOLOGIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
PROFª: CAROLINA ZUCCARELLI
Rafael Valladão Rocha
Acesso à educação de qualidade: desafios contemporâneos
Nos últimos anos, houve considerável ampliação do acesso às instituições de ensino superior. Políticas públicas como as ações afirmativas, ProUni e FIES, abriram caminhos educacionais para jovens oriundos dos mais variados estratos sociais, sobretudo pobres, negros e estudantes da rede pública de ensino. Esse conjunto de políticas de expansão do acesso ao nível superior de ensino foi orientado pelo ideal de inclusão dos excluídos, pressupondo uma relação causal entre a má qualidade da educação básica oferecida pelo Estado, por meio da qual a maioria dos jovens pobres e pretos se escolarizam, e as más condições socioeconômicas em que vivem muitos dos alunos egressos da escola pública. Não havendo meios viáveis de aprimoramento efetivo da qualidade de ensino na rede pública, e estando interessado em elevar rapidamente os índices de acesso às universidades e instituições superiores de ensino, o governo federal decidiu tomar um atalho, conduzindo jovens carentes ao curso superior sem, antes, aperfeiçoar o curso básico. Afinal, “os estudantes de menor renda, em sua maioria pretos e pardos, que em geral frequentaram escolas públicas de menor qualidade na educação básica, não têm muitas opções a não ser tentar ingressar em instituições de educação superior privadas, pelas quais tem que pagar.”[footnoteRef:1] Como o jovem, formado em escola pública, chegou à universidade? [1: HERINGER, Rosana. Democratização da educação superior no Brasil: das metas de inclusão ao sucesso acadêmico. Revista Brasileira de Orientação Profissional, vol. 19, nº 1. Florianópolis, 2018.] 
	Para atingir seu objetivo, esse conjunto de políticas educacionais deveria, ao menos no plano do ensino superior, ampliar o acesso às instituições públicas, garantir-lhes recursos que financiassem o aprimoramento da qualidade de ensino e da infraestrutura escolar, de modo a atrair jovens que, em outras circunstâncias, estariam matriculados em instituições privadas de ensino. Passados alguns anos desde o início da implementação do FIES e do ProUni, nota-se que o setor privado de ensino superior foi amplamente beneficiado com isenções fiscais e toda sorte de estímulos por parte do governo federal[footnoteRef:2], ao passo em que a rede pública de ensino básico permaneceu deficitária, incapaz de atingir metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação. Quanto à qualidade de aprendizagem no nível superior, ocorre que a péssima qualidade do ensino básico público influencia diretamente a capacidade de aprendizagem dos estudantes universitários contemplados pelas políticas de expansão do acesso ao nível superior. A educação deficitária oferecida na base, embora não determine fatalmente, gera efeitos sobre o restante do edifício educacional, como se depreende da constatação de que o analfabetismo funcional de estudantes de nível superior elevou-se nos últimos anos, coincidindo com o período de implementação das políticas educacionais de expansão do acesso ao ensino superior[footnoteRef:3]. Parece clara a necessidade de priorização do ensino básico, no campo das políticas públicas de educação, adotando-se uma “ênfase nos conteúdos”[footnoteRef:4] que forneça ao estudante os subsídios intelectuais indispensáveis a um processo de aprendizagem satisfatório, sobretudo no nível superior, no qual as exigências pedagógicas se fazem sentir de forma mais veemente. [2: CHAVES, Vera Lúcia Jacob; AMARAL, Nelson Cardoso. Política de expansão da educação superior no Brasil: o ProUni e o FIES como financiadores do setor privado. Educação em Revista, vol. 32, nº4. Belo Horizonte, 2016.] [3: TOLEDO, Lucineia Silveira. Analfabetismo funcional entre adolescentes: um mal-estar na educação contemporânea. Revista Fundamentos, vol. 2, nº1. Teresina, 2015. ] [4: DURHAM, Eunice Ribeiro. A política educacional do governo Fernando Henrique Cardoso: uma visão comparada. Revista Novos Estudos vol.88, nº1 . 2010.] 
	Enquanto isso, a estrutura social desigual, que condiciona decisivamente a distribuição de recursos educacionais no interior da sociedade, permanece intocada. Inúmeras crianças e adolescentes continuam destituídas do direito à educação, inalcançáveis por políticas públicas cujo objetivo primordial não é corrigir as graves deficiências envolvidas tanto na efetivação do ensino público já estabelecido, como também as lacunas encontradas na distribuição da rede educacional. Não há possibilidade de atenuação dos efeitos da desigualdade socioeconômica que não considere a escola básica como núcleo do problema a ser corrigido[footnoteRef:5]. [5: MARCHELLI, Paulo Sérgio. Expansão e qualidade da educação básica no Brasil. Cadernos de Pesquisa, vol. 40, nº140. São Paulo, 2010.]

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