Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MERCHANDISING Professor Rodrigo Médici Cândido 2 INTRUDUÇÃO AO MARKETING O marketing envolve mais do que uma simples atividade de promoção. Trata-se de uma combinação de elementos que farão com que o produto certo esteja no local certo, na quantidade certa, a um preço adequado, e que o público saiba que ele existe. A visão míope do marketing como contendo apenas o elemento promocional deve ser alterada para uma visão mais abrangente. Esse é o objetivo do bloco 1, cujo entendimento lhes permitirá obter maior aproveitamento acerca dos conhecimentos e definições em merchandising. 1.1 Conceitos básicos A principal associação que discute o marketing no mundo, a American Marketing Association (AMA), é uma comunidade essencial para os profissionais de marketing. A associação, sediado em Chicago, nos EUA, define o marketing como sendo uma “atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para clientes, parceiros e sociedade em geral”. Dois dos autores referenciais em marketing, se não os principais, Kotler e Keller (2012, p. 24) definem o marketing de forma mais simplificada, porém não menos relevante, ao apontar que “o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais”. Nota-se, nesse sentido, que a atividade de marketing implica no entendimento das necessidades do consumidor para que se consiga criar valor para ele por meio da oferta de produtos e serviços desejados. O marketing, portanto, é um processo, e a venda, apesar de importante e necessária, não é o seu objetivo final. O principal objetivo do marketing é criar valor para o cliente, ou seja, que ele consiga enxergar mais benefícios ao fazer a aquisição daquilo que 3 procura do que custos. Quanto melhor a atividade de marketing, menor o esforço da venda, pois os clientes saberão que há um esforço envolvido na pesquisa e no conhecimento de suas necessidades e na oferta dos produtos e serviços que anseia. A venda, portanto, ocorre desde que os produtos sejam disponibilizados nos mercados adequados. O profissional de marketing é um indivíduo fundamental e essencial para as organizações, independente do setor ou de seu tamanho. Isso não significa que todas as empresas devem possuir um departamento de marketing, com diversas pessoas qualificadas, mas sim que exista algum tipo de orientação para a atividade de marketing, mesmo que seja realizada por terceiros. Esses gestores envolvidos em atividades de marketing buscam, de acordo com Kotler e Keller (2012), gerenciar a demanda para atender aos objetivos organizacionais, ao oferecer bens e serviços aos compradores. Por óbvio, algum tipo de comunicação deve existir, para tornar o produto conhecido, mas isso dependerá de cada empresa e das características de seu público e do mercado de atuação. Algumas empresas chegam a direcionar milhares de reais por mês para realizar atividades de marketing (mercados consumidores), enquanto outras gastam quantias bem inferiores para, simplesmente, manter um site ou gerenciar relacionamentos, por exemplo (mercados industriais). A Figura 1.1 demonstra o funcionamento do sistema de marketing. Figura 1.1: Sistema simples de marketing Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 6). O sistema de marketing, então, trata de um processo de troca, conforme conclui Honorato (2004), no qual participam organizações e clientes. Uma organização identifica 4 uma necessidade ou desejo de uma empresa ou de outra pessoa e busca satisfazê-los ao oferecer bens ou serviços. Essa outra parte, por sua vez, prosseguirá com a compra se enxergar valor e utilidade naquilo que é ofertado. O processo de troca permite que as organizações, ainda, coletem informações do mercado comprador acerca de suas necessidades, comportamento, exigências ou satisfação, e passe a atendê-los cada vez melhor com vistas em longo prazo. Durante o processo de troca existente na atividade de marketing, não apenas a qualidade do produto ou o valor monetário são observados, tampouco somente a ação promocional ou somente o ponto de venda. Há de haver uma junção de todas essas variáveis, que é o chamado composto de marketing, também conhecido como mix de marketing. De acordo com Honorato (2004), se os consumidores estão atrás de soluções para os seus problemas, as empresas podem utilizar o mix de marketing para influenciar a sua resposta. Figura 1.2: Mix de marketing Fonte: Santana (2018). As estratégias de produto podem envolver qualidade, quantidade, sortimento, estilo, marca, embalagem, nível de serviço. As estratégias de preço dizem respeito à precificação, margens, descontos, prazos e condições de crédito. A estratégia de praça 5 envolve a localização, canais de distribuição, cobertura de entrega e atendimento, transporte e armazenamento. Por fim, as estratégias de promoção envolvem, entre outras coisas, publicidade e propaganda, relações públicas, promoção de vendas, força de vendas e marketing direto. 1.2 Variável: Produto Ao se pensar nas estratégias de produto, é preciso que os gestores de marketing tenham em mente que aquilo que será ofertado deve solucionar um problema do consumidor e satisfazê-lo. Hooley, Piercy e Nicoulaud (2011) argumentam que os consumidores compram os benefícios oferecidos pelo produto, e não o produto em si. Outra observação que frequentemente deve permear as discussões estratégicas acerca de produto é que a necessidade atendida será momentânea, na maioria dos casos, pois elas são constantemente alteradas, em especial pelo fato de cada vez mais produtos serem lançados em períodos de tempo cada vez menores. A isso, chamamos de ciclo de vida dos produtos, que pode ser observado na Figura 1.3. Figura 1.3: Ciclo de vida dos produtos Fonte: Tavares (2012). O ciclo de vida representa uma série de etapas pelas quais os produtos passarão ao longo do tempo, desde a sua introdução no mercado até a fase de declínio. O Quadro 1.1 elucida as características de cada etapa: 6 Etapa Caracterização Introdução Lançamento do produto no mercado Poucos clientes Vendas lentas Margens baixas Prejuízo financeiro (comum) Poder de convencimento de clientes e rede de distribuição Elevado investimento em ações promocionais Crescimento Atração de clientes Adoção do produto Aumento nas vendas Aumento de lucros Repetição de compras Possível entrada de concorrentes em razão da lucratividade do mercado Investimentos para a liderança de mercado Proteção de produtos para a curva se manter ascendente Maturidade Crescimento desacelerado Estágio mais longo Estabilidade de lucro e vendas Fragmentação do mercado Entrada de concorrentes Guerra de preços Aplicação de descontos Desafio: inverter a tendência de queda e renovar o ciclo de vida do produto por meio da inovação Declínio Declínio das vendas e lucros Alterações nas necessidades dos consumidores Redesenho de projeto Revisão de planejamento: investir ou excluir o produto Quadro 1.1: Ciclo de vida do produto Fonte: elaborado pelo autor. Cada etapa do ciclo de vida dos produtos implica em uma estratégia a ser adotada, que vai desde o maciço investimento em ações de marketing, com o objetivo de conquistar audiência e público, estimulando-o à experimentação e ao conhecimento do que se oferta, passando pelo investimento em inovação para que os concorrentes não copiem produtos, até o momento de decisão entre manter o produto e investir em ações para 7 fazê-lo crescer novamente ou a sua exclusão da linha de produtos fornecidos pela empresa. 1.3 Variável: Preço No que tange à precificação, todo cuidado é pouco, já que preços elevados podem afastar o consumidor,assim como preços baixos em demasia também podem afastá- los. Algumas variáveis devem ser levadas em consideração, conforme apontam Hooley, Piercy e Nicoulaud (2011): Custo de produção: valor total gasto para produzir um item. Uma estratégia de precificação bastante comum, a partir da observação de custos de produção, é a estratégia de mark-up, na qual estipula-se um valor adicional a ser acrescido no custo. Tal estratégia garante que os produtos não sejam vendidos abaixo de seu nível de custo. Valor econômico para o cliente: valor máximo que o cliente aceitaria pagar, pelos benefícios oferecidos pelo produto e marca. As empresas que observam esse fator de precificação, em geral, estão atentas ao mercado, realizam pesquisas e são orientadas à inovação. Nível de preço da concorrência: estipulação de preços a partir da análise da concorrência. No caso de produtos comuns, com pouca inovação, é de grande relevância analisar o concorrente em termos de preços praticados, já esse pode ser um diferencial para o cliente. Posicionamento competitivo desejado: estratégia de preço na qual a organização mostra ao mercado como deseja posicionar-se, quanto à qualidade e confiabilidade, por exemplo. Preços baixos podem significar pouca qualidade, mas também podem atrair consumidores sensíveis a preço. Preços elevados podem sinalizar qualidade superior. Elasticidade preço-demanda: avalia-se o grau em que a demanda sofrerá variações a partir de diferentes níveis de preços. Em geral, respeitando as características do mercado, quanto menor o preço, maior a quantidade de produto comprada (demanda elástica). O oposto também é verdadeiro, ou seja, conforme se eleva o preço, diminui-se a demanda. Há casos, ainda, nos quais uma mudança em preço 8 exerce pouco efeito sobre a quantidade demandada (demanda inelástica). Mercados em que a demanda é elástica em preço geralmente se caracterizam por maiores níveis de competitividade, maior poder de escolha do consumidor e facilidade de troca de fornecedores. Verifica-se a demanda inelástica em mercados que apresentam monopólio ou quando os custos de troca de fornecedor são elevados. Para Kotler e Keller (2012), na precificação, o importante a se considerar é que as decisões devem ser coerentes com a estratégia de marketing da empresa, seu mercado de atuação e o posicionamento de marca. Também deve-se atentar para as pressões do macroambiente, que podem afetar o estabelecimento dos preços. Nas pequenas empresas, em geral, quem determina o preço e se responsabiliza por todas as análises cabíveis e pertinentes é o próprio dono do negócio. As grandes empresas, do contrário, mais robustas e departamentalizadas, possuem centros de custos e gerentes de produto ou regionais que são os responsáveis pela definição. A seleção do preço final não é uma atividade única, mas envolve todo um processo de planejamento e análise de custos, demanda e ambiente. Mesmo que tudo tenha sido verificado e estudado pela alta direção, uma figura de grande responsabilidade na precificação é o vendedor, que está na linha de frente e possui um contato direto com o cliente. O vendedor, nesse caso, pode se aproveitar desse fator e dar um feedback aos responsáveis pela estratégia de preços, informando se os mesmos estão aceitáveis, se há dificuldades em vender, se há reclamações, entre outros. Não raro, os vendedores trabalham com listas de preços, ao invés de preço único, que reflete variações geográficas, na demanda, nas exigências do segmento de mercado e nos níveis de pedidos. De toda forma, as empresas devem ser flexíveis no sentido de alteração de preços, para mais ou para menos, adequando-se à realidade imposta pelo ambiente de negócios. 1.4 Variável: Praça A variável praça, ou distribuição, abrange a forma como o produto será entregue ao cliente, seja diretamente, seja por intermediários. A escolha se dará, principalmente, em função do cliente atendido, pessoa física ou pessoa jurídica. 9 No caso de a empresa optar por utilizar intermediários, isso significa atingir mais clientes, localidades diferentes das quais a empresa está sediada. Quanto mais intermediários, maior é a possibilidade de ampliação do nível de atendimento, contudo, o controle de qualidade fica prejudicado, já que a mercadoria transita por diversas etapas na cadeia de suprimentos, passando de intermediário para intermediário, podendo ocorrer erros de armazenagem, estocagem ou transporte. Uma outra desvantagem da utilização de intermediários é que o produto pode ficar exposto em uma prateleira ao lado de produtos concorrentes, desestimulando a compra. Quando a empresa decide por uma estratégia de distribuição direta, ela opta por direcionar os produtos diretamente para o cliente, em lojas ou fábricas, o que acaba por facilitar o contato com o consumidor final, maior controle de qualidade e permite a elaboração mais assertiva de ações de relacionamento com cliente. A venda direta é utilizada, geralmente, em negócios business to business (B2B). Segundo Kotler e Keller (2012), fabricante e consumidor fazem parte de todos os canais. Caso a empresa adote a estratégia de distribuição direta, vendendo diretamente ao consumidor final, a nível de extensão, ele é denominado de canal de nível 0 (zero). No caso de distribuição por intermediários, um canal de nível 1 (um) conta com um intermediário (varejista), um canal de nível 2 (dois) conta com dois intermediários (atacadista e varejista) e um canal de nível 3 (três) conta com três intermediários (atacadista, atacadista especializado e varejista). Não existe uma regra quanto ao uso de canal mais adequado, variando de empresa para empresa. A adoção de canais de distribuição de produtos e serviços é flexível, sendo que as empresas estão atentas para custos, principalmente. Em um momento, pode-se optar por trabalhar com venda direta. Em outro momento, pode-se decidir pela venda indireta, via intermediários varejistas ou atacadistas. Ou, ainda, pode-se trabalhar com as duas formas de distribuição de produtos. Kotler e Keller (2012) apontam para uma tendência na distribuição, que é a estratégia omnichannel, ou seja, trabalhar com diferentes canais de distribuição, de acordo com as necessidades dos clientes. Uma empresa pode optar por vender diretamente, além de trabalhar com representantes, vender seus produtos em lojas parceiras e de maneira 10 virtual (online). Cada canal possui como alvo um segmento diferente de compradores e os produtos são disponibilizados de acordo com suas necessidades. Um consumidor pode, por exemplo, entrar no site de uma empresa, fazer o pedido e retirar no ponto de venda, ao invés de aguardar uma transportadora entregar. O cuidado no marketing omnichannel é garantir que todos os canais operem em consonância com a estratégia e os valores da empresa e que a experiência de consumo seja excelente e inalterada em cada momento de interação. 1.5 Variável: Promoção A promoção está ligada à comunicação de marketing, que, segundo Kotler e Keller (2012, p. 348), é “o meio pelo qual as empresas buscam informar, persuadir e lembrar os consumidores sobre os produtos e as marcas que comercializam”. Tal comunicação de marketing tem o objetivo de conectar o produto ou marca ao consumidor, posicionando-a em sua memória e impulsionando as vendas. Ainda de acordo com os autores, são oito as formas de comunicação: Forma de comunicação Características Exemplos Propaganda Apresentação e promoção de mercadorias de forma paga via mídia impressa, eletrônica ou expositiva. Anúncios, folhetos, manuais, encartes, painéis e placas de sinalização. Promoção de vendas Incentivos de curta duração para estimular a experimentação e as compras. Concursos, jogos, sorteios, prêmios, amostras, cupons, exposições e bônus. Eventose experiência Criar interação entre empresa e consumidores, por meio de atividades e programas patrocinados pela própria empresa, em ocasiões especiais ou por períodos. Esportes, entretenimento, festivais, visitas técnicas, museus. Relações públicas e publicidade Programas internos dirigidos a funcionários, consumidores, mídia ou governo, para promover a empresa. Kits de imprensa, discursos, seminários, doações de caridade. Marketing direto Comunicação direta com clientes específicos, seja por Catálogos, telemarketing, mala 11 meio de cartas, e-mail ou telefone. direta, televendas, e- mail. Marketing interativo Atividades online com o objetivo de interação entre a empresa e seus clientes. Blogs, sites, vídeos, redes sociais. Marketing boca a boca Interação entre pessoas referente à experiência de compra ou uso de bens e serviços. Comunidades virtuais, bate-papo. Vendas pessoais Interação pessoal cujo objetivo é apresentar produtos e serviços e estimular vendas. Apresentações de vendas, reuniões, programas de incentivo, amostras. Quadro 1.2: Formas de comunicação Fonte: elaborado pelo autor. As empresas podem se aproveitar de quantas formas de comunicação acharem por bem, desde que as atividades estejam integradas, transmitam uma mensagem coerente e um posicionamento estratégico. Por mensagem coerente, entenda-se que o emissor precisa saber quais os públicos a serem atingidos, reações a serem geradas e meios para se fazer isso com assertividade. 12 Conclusão A atividade de marketing se mostra de grande relevância para o crescimento organizacional, já que envolve as ações estratégicas relacionadas ao preço, à praça, ao produto e à promoção. O entendimento desse mix é vital para a construção de estratégias vencedoras, que atinjam o público-alvo e resultem em valor para ele, resultando em lucratividade e perenidade para as organizações. Referências AMERICAN Marketing Association (AMA). Disponível em: <https://www.ama.org/>. Acesso em: 13 dez. 2018. HONORATO, Gilson. Conhecendo o marketing. Barueri, SP: Manole, 2004. HOOLEY, Graham; PIERCY, Nigel F.; NICOULAUD, B. Estratégia de marketing e posicionamento competitivo. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. SANTANA, L. 4Ps do Marketing: entenda como funciona o Mix de Marketing. 12 abr. 2018. Disponível em <http://www.conteudoinboundmarketing.com.br/4ps-de- marketing/>. Acesso em: 14 dez. 2018. TAVARES, F. M. Ciclo de vida do produto: introdução, crescimento, maturidade e declínio. 2012. Disponível em: <https://marketingfuturo.com/ciclo-de-vida-do- produto-introducao-crescimento-maturidade-declinio/>. Acesso em: 21 fev. 2019.
Compartilhar