Buscar

ACOLHIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ACOLHIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE 
VIOLÊNCIA SEXUAL EM CONTEXTO PERICIAL 
 
Igor Vieira¹; Taiane Alves²; Laize Oliveira
3
; Janaína Barletta
4
; Marlizete 
Maldonado Vargas
5 
 
 
 
 
 
¹ Mestrando em Saúde e Ambiente, Universidade Tiradentes, SE/Brasil. 
² Doutoranda em Psicologia, Università Degli Studi di Pavia, Italia. 
³ Mestrado em Psicologia Social, Universidade Federal de Sergipe, SE/Brasil 
4
Doutoranda em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Sergipe, SE/Brasil 
5
 Prof. Mestrado em Saúde e Ambiente, Universidade Tiradentes, pesquisadora do 
Instituto de Tecnologia e Pesquisa/LPPS, SE/Brasil 
E-mail do autor responsável: igosv@hotmail.com; Telf. +351 939 245 972 
 
 
 
 
Endereço para correspondência: Laboratório de Planejamento e Promoção da 
Saúde/ITP Avenida Murilo Dantas, 300, Bloco F sala 2. Bairro Farolandia. CEP 
49032-490, Aracaju/Sergipe 
 
mailto:igosv@hotmail.com
EXPERIENCIA DE ACOLHIMENTO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL EM CONTEXTO PERICIAL 
 
Resumo 
Este trabalho apresenta problematizações sobre as contribuições da psicologia no 
serviço de acolhimento do Instituto Médico Legal - IML da cidade de Aracaju, 
Sergipe. O objetivo foi fazer uma reflexão teórico-prática sobre a produção de um 
espaço de trabalho que privilegia a escuta no espaço público. O método utilizado foi o 
levantamento de relatos de vítimas/acompanhantes e discussões fundamentadas em 
referenciais teóricos atuais de bases de dados internacionalmente reconhecidas. Para o 
registro dos atendimentos realizados pelos estagiários, foram utilizados diários de 
bordo. Através da analise da experiência de estagio, foi possível, identificar o efeito 
positivo que a escuta diferenciada trouxe à criança ou adolescente vítima de violência 
sexual, pois submeter-se ao exame sexológico pode ser outro momento de 
revitimização já que este também era feito por um profissional (médico legista) do 
sexo masculino. Através de discussões sobre as adversidades e peculiaridades de 
trabalhar em um ambiente que confronta os sujeitos de forma permanente com a 
violência e a morte, o presente trabalho mostra que a situação psicológica, pedagógica, 
jurídica e de saúde podem ser trabalhadas de forma mais humanizada nas instituições 
onde o trabalho legista é o foco principal. Deste modo pôde-se transmitir maior 
segurança aos usuários para se submeterem aos exames de corpo de delito e a 
importância do atendimento psicológico mais duradouro. Assim, considera-se que este 
trabalho possa contribuir para novos estudos sobre a inserção da Psicologia em 
contextos institucionais como esse. 
Palavras-chave: Acolhimento, IML, Violência sexual, Formação do Psicólogo. 
 
EXPERIENCE OF A HOST TEENS VICTIM OF SEXUAL VIOLENCE IN 
FORENSIC CONTEXT 
Abstract 
This work presents questions over the contribution of psychology in the host service of 
the Forensic Institute – IML from Aracaju. The goal was to make a theoretical and 
practical analysis over the implementation of a workspace that focuses on listening in 
the public space. The method used was a survey of reported victims / accompanying 
persons and discussions based on theoretical references from current internationally 
recognized databases. Logbooks were used to record the trainees’ visits. By analysis 
of stage experience, it was possible to identify the positive effect that differentiated 
listening brought the child or adolescent victim of sexual violence, as the submitting to 
the sexological examination may be another moment of victimization, as this was also 
done by a professional (medical examiner) male. Through discussions over adversity 
and peculiarities of working in an environment that confronts the subject permanently 
with violence and death, this work shows that the psychological, pedagogical, legal 
and health situations can be worked out in a more humanized way where coroner 
work is the main focus. Then, it was possible to transmit greater safety for users to 
undergo the expert examination and the importance of psychotherapy. This work will 
contribute to further studies on the integration of psychology in institutional contexts 
such as this. Key words: Host, Sexual violence, Psychologist formation 
Introdução 
A violência, desde sua esfera doméstica até os grandes conflitos armados, é 
tema recorrente na vida do indivíduo, sendo largamente enfocada nos meios de 
comunicação internacionais (WHO, 2003). E hoje, a violência sexual é um profundo 
problema social e de saúde pública por sua alta prevalência na população e prejuízos 
para o desenvolvimento biopsicossocial da vítima e de seus familiares (Habigzang & 
Caminha, 2004). 
A Organização Mundial de Saúde (2003) define a violência sexual como: 
Qualquer ato sexual ou tentativa de atos para traficar a sexualidade de uma pessoa 
utilizando coerção, ameaças ou força física, praticados por qualquer pessoa, 
independentemente de suas relações com a vítima, em qualquer cenário, incluindo o 
lar ou trabalho”. Para Jewkes, Sen, & Garcia-Moreno (2002), a violência sexual é 
mais provável de ocorrer em sociedades com rígidos e tradicionais papéis de gênero, e 
onde há ideologia da superioridade masculina. 
Entretanto violência contra crianças e adolescentes, ocorre em todas as partes 
do mundo, em todas as culturas e extratos sociais. Tjaden & Thoennes (2000) 
levantaram que entre as vítimas de estupro do sexo feminino, mais da metade (54 por 
cento) das pesquisadas tinham menos de 18 anos de idade. Dados apresentados por 
Gaytos-Rosaldo (2012) sugerem que até um terço dos adolescentes tiveram sua 
primeira experiência sexual de modo forçado. Por serem indefesas e permanecerem 
por longo tempo na dependência de outros, as crianças se tornam vítimas constantes 
dos diversos tipos de violência, na grande maioria das vezes, por pessoas de convívio 
muito próximo e/ou responsáveis por garantir-lhes segurança e desenvolvimento 
saudável (Faria, Araujo & Baptista, 2008). 
O impacto da violência sexual está associado com o risco aumentado de uma 
série de problemas de saúde sexual e reprodutiva, com consequências imediatas e de 
longo prazo. Seu impacto sobre a saúde mental pode ser tão grave quanto o seu 
impacto físico, e pode ser igualmente duradoura. A morte após a violência sexual pode 
ser resultado de suicídio, infecção pelo HIV ou assassinato. Esta ultima pode ocorrer 
tanto durante um assalto sexual ou posteriormente, como um assassinato de 'honra' 
(Gaytos-Rosaldo, 2012). 
A violência e abuso sexual na infância estão entre as causas mais comuns de 
transtorno de estresse pós-traumático. Algumas crianças podem apresentar alterações 
comportamentais, cognitivas e afetivas, tais como sentimentos de culpa, diferença em 
relação aos pares, desconfiança, conduta hipersexualizada, baixo rendimento escolar 
abuso de substâncias psicoativas, fugas do lar, isolamento social, irritabilidade, 
ideações suicidadas ou tentativas de suicídio (Jonzon & Lindblad, 2004). Além disso, 
o peso destas agressões e sua desesperança parecem tão intoleráveis para algumas 
crianças e adolescentes que podem levá-las a apresentar problemas psiquiátricos 
posteriormente, tais como depressão maior, transtornos de personalidade múltipla, 
transtornos de personalidade borderline, abuso de substâncias psicoativas e 
comportamento antissocial (Peres, 2008). 
 
Proteção Legal de Crianças e Adolescentes contra Violência Sexual 
A Constituição Brasileira de 1988, o Código Penal, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA, 1989) e registraram de forma marcante a importância da 
participação da sociedade para proteção da criança e do adolescente contra qualquer 
forma de abuso sexual. A Lei 8.069 de 13 de julho de 1990 estabeleceu penalidades, 
não somente para os que praticam o ato, mas também, para aqueles que sabem e 
omitem qualquer informação (BRASIL, 2003).No ano 2000, foi lançado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do 
Adolescente (Conanda), o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual 
contra Crianças e Adolescentes, como instrumento de defesa e garantia de direitos da 
criança e do adolescente. Propõe a criação, fortalecimento e implementação de um 
conjunto articulado de ações e metas locais, fundamentais para assegurar a proteção 
integral da criança e do adolescente em situação ou risco de violência sexual. Já a lei 
12015, de 07 de agosto de 2009, que se refere aos crimes contra a dignidade sexual e 
apresenta artigos relacionados às crianças e adolescentes vítimas, aumentou a pena 
para todos os tipos de violência que envolva crianças e adolescentes. Incluiu o estupro 
para ambos os sexos. Já a prática sexual mediante presença de alguém menor de 14 
anos, ou induzi-lo a presenciar conjunção carnal ou outro ato libidinoso a fim de 
satisfazer lascívia própria ou de outrem, prevê a reclusão de 2 a 4 anos. 
Em Aracaju/Brasil, o Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual 
contra Crianças e Adolescentes monitora e avalia o Plano Estadual e desenvolve ações 
de enfrentamento e prevenção da violência e abuso sexual infanto-juvenil assim como 
tem sido responsável por inciativas de mobilização em massa para a luta contra esse 
tipo de violência tão desumana. 
O campo jurídico/legal, em conjunto com o campo das ciências humanas e da 
saúde procura não só garantir as condições essenciais da criança e dos adolescentes e 
protegê-los da violação dos seus direitos, como também prezar pela recuperação de 
crianças que sofrem ou sofreram algum tipo de maus tratos e danos. Nesses casos, 
portanto, a adequada avaliação e o eficiente atendimento psicológico das vítimas tem 
grande importância. Um importante recurso utilizado na avaliação psicológica da 
criança nos casos de abuso infantil é a testagem projetiva. Através dos testes, a criança 
pode reproduzir seu mundo interno sem tantas resistências já que os estímulos 
apresentados descaracterizam uma semelhança exata e objetiva com a sua realidade, 
permitindo que o testando expresse seus conflitos e possa ser ajudado (Tardivo, Pinto 
Junior & Santos, 2005). 
Ao considerar-se a alta incidência e impactos negativos do abuso sexual nas 
suas dimensões sociais, jurídicas e psicológicas envolvidas neste complexo fenômeno 
(Habigzang &Caminha, 2004), para que sejam efetivas, as intervenções devem ser 
planejadas a partir de ações coordenadas por instituições atuem de forma harmônica 
por meio de diferentes olhares técnicos especializados. 
Atendimento Psicológico às vitimas de Violência Sexual 
Por se tratar de um fenômeno multifacetado, com múltiplas variáveis, é 
essencial que os profissionais que atuam na área tenham formação contínua e 
específica, bem como apoio e supervisões frequentes, pois atuar nesta área é 
geralmente fonte de estresse para os profissionais (Habigzang & Caminha, 2004). 
Os órgãos de proteção à criança e ao adolescente, tais como os Conselhos de 
Direito, Conselhos Tutelares, Promotoria e Juizado da Infância e Adolescência, e 
demais instituições como escolas, postos de saúde, hospitais, abrigos, entre outras, 
compõem a rede de apoio social para as vítimas. A ação desta rede inicia, na maioria 
dos casos, com o acolhimento da denúncia de abuso sexual e por esta razão a 
revelação da criança é um momento crucial que pode, por si só, apresentar um risco de 
revitimização quando os profissionais não adotam as medidas de proteção previstas. 
Esse estudo apresenta e discute um projeto de intervenção realizado com 
vítimas de violência sexual encaminhadas no IML para a realização de laudos 
periciais. Examinaram-se também quais os encaminhamentos que o IML/SE oferece a 
essas vítimas, sobretudo no que se refere à proteção à saúde. 
O interesse em apresentar e discutir este projeto de intervenção dirigido a 
crianças e adolescentes vítimas de violência sexual está relacionado à relevância em 
compartilhar a experiência, ao estimulo a outras produções na mesma linha que 
possam provocar um debate em torno do tema. Neste sentido, também se tem como 
objetivo ampliar as discussões sobre este tipo de trabalho, contribuir para o 
desenvolvimento do conhecimento na área e para a formação e o aprimoramento dos 
profissionais que trabalham no campo. 
A experiência de Estagiários de Psicologia no Serviço de Acolhimento do IML 
O serviço de acolhimento do IML/SE contava na época da experiência com 
uma assistente social e um psicólogo e dois supervisores/docentes da Universidade 
Tiradentes. A rotina de atendimento no IML se dá conforme segue: após o registro, a 
vítima e encaminhada ao setor acolhimento onde era realizada uma entrevista com o 
serviço social e, em seguida ou concomitantemente, são ouvidos pelo psicólogo e/ou 
dois estagiários da psicologia, que poderiam acompanhar o entrevistado e sua família 
até o setor de pericias. Quando o atendimento era de crianças, o responsável era 
atendido paralelamente pelo serviço e social ou estagiário de psicologia enquanto 
psicólogo ou outro estagiário de psicologia atendia a vítima. Em relação aos 
encaminhamentos que os médicos legistas dão às vítimas de violência, a maior parte 
costuma ir para a Maternidade Nossa Senhora de Lourdes – MNSL, para realização da 
profilaxia, ou seja, para medidas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis 
(DSTs), a exemplo da HIV e gravidez. Esse encaminhamento é de extrema 
importância porque possibilita à vítima restabelecimento da sua saúde física. 
Através do acompanhamento da equipe de acolhimento e Serviço de 
Psicologia, buscava-se identificar a situação social, pedagógica, jurídica e de saúde 
dos usuários do referido serviço para assim produzir um encaminhamento mais 
adequado para cada caso, de maneira a transmitir para a vítima maior segurança no 
que deveria ou iria ser feito durante o exame pericial e os procedimentos ou 
encaminhamentos posteriores, orientando para a importância da psicoterapia e 
informando sobre os serviços disponíveis na Rede de Atenção. 
Dentre os vários casos atendidos no serviço de Psicologia do IML, pode-se 
observar o desespero de muitas mães ou responsáveis que chegavam ao serviço. Para 
Deblinger et al. (1996), muitas vezes, as reações dos pais diante o abuso sexual 
influencia a forma de enfrentar da situação, por parte da criança. Logo, o profissional 
de psicologia deve estimular os pais a ficarem calmos e serem apoiadores, na medida 
do possível. O suporte aos pais ajuda-os a estarem receptivos, caso @ filh@ inicie 
uma conversa sobre o abuso. Estas atitudes reduzem a possibilidade de reações 
exageradas, que aumentem a ansiedade da criança possam piorar ainda mais a situação 
de estresse mediante o trauma vivido. 
Após a investigação da violência, a criança necessita de um auxílio para 
enfrentar a experiência. É importante, então, inicie uma psicoterapia, que pode lhe 
oferecer estratégias eficazes para o enfrentamento e aprendizagem de como lidar com 
o fato de ter sido violado (a), e chegue a um bom processo de ajustamento (Fisher& 
Heflin, 2004). 
 
A escuta psicológica 
No primeiro momento, de escuta da criança ou adolescente, o objetivo era 
acolher e buscar dos mesmos uma resposta ao que ocorrera através do desenho ou 
expressões gráficas, já que essa técnica faz com que diminua a resistência na 
expressão do mundo interno do sujeito. No acolhimento das crianças, também eram 
utilizados métodos lúdicos a fim de observar o que estaria acontecendo com a elas 
naquele momento. Quando a violência sexual é revelada inicialmente ao psicólogo, o 
mesmo deve transmitir à criança, tranquilidade e apoio, sem precisar obter detalhes 
específicos do fato. Porém, isto não quer dizer que ele não deva encorajar a criança no 
compartilhamento de informações sobre o abuso. O relato da criança sobre a 
experiência abusivatem que transcorrer com uma narrativa livre. Para isto ocorrer, o 
profissional ou estagiário de psicologia pode fazer perguntas formuladas de modo 
geral para não influenciar no relato. Tem mais credibilidade e significado, a revelação 
feita com as próprias palavras e nível de compreensão da criança (Deblinger, Fisher & 
Heflin, 1996). Por esta razão, fundamentados nos referidos autores, ressalta-se a 
importância da atitude do psicólogo ou estagiário ao transmitir à criança ou 
adolescente a segurança de que ela pode falar sobre qualquer pensamento, fazer 
perguntas e/ou demonstrar preocupação relacionada ao abuso sem se sentir mais 
fragilizada, humilhada, ou envergonhada por isso. A entrevista, portanto, deve ser 
cuidadosa para não, reforçar o sentimento de culpa, medo e desamparo que costuma 
acompanhar a experiência de violência sexual. E, mesmo que se dê abertura e 
disposição para se falar do abuso sexual, não é recomendável induzir a criança fazer 
um discurso da experiência. 
 
Perfil dos usuários 
Foram atendidos no IML ao longo do triênio 2009-2011, 322 crianças e 
adolescentes com queixas de estupro, ato libidinoso, atentado ao pudor e lesão 
corporal. Com faixa etária 1 a 18 anos, os estupros se concentraram entre as idades de 
12 a 15 anos (56%), sendo que mais de 85% eram do sexo feminino. Os agressores 
eram conhecidos, mas na maioria dos laudos periciais não constava o tipo de vinculo 
com o agressor. 
Uma das configurações que favorecem uma relação de abuso é a assimetria de 
poder entre as pessoas envolvidas. Dessa forma, através de uma ameaça ou 
chantagem, a pessoa mais ‘forte’ da relação consegue estabelecer condutas a serem 
tomadas pela pessoa mais ‘fraca’, que obedece contra sua vontade para não sofrer uma 
perda considerada maior. Como a vítima sente-se incapaz de ir contra o agressor, com 
baixo senso de autoeficácia para enfrentar a situação coercitiva, apresenta-se 
completamente vulnerável e sem reação (Faiman, 2004). 
No atendimento com a mãe de Joana (nome fictício), 6 anos, que chegou ao IML 
diretamente por denúncia de violência sexual cometida pelo genitor foi esclarecido o 
contexto no qual o abuso ocorria. Quando a mãe ia trabalhar, seu ex-marido ficava em 
casa, colocava DVD para a irmã mais nova assistir na sala e chamava Joana para o 
quarto, onde a obrigava fazer sexo oral e atos libidinosos. Ao relatar essa história, 
pode-se confirmar o sofrimento e impacto negativo causado pela violência, não apenas 
na vítima, como também em pessoas próximas. A mãe chorou o tempo todo, descrevia 
a situação aversiva como um pesadelo, culpava-se por não ter conseguido evitar e 
relatava muita raiva ao decidir buscar justiça. 
Os estagiários não ficavam isentos do turbilhão de emoções causadas pela 
situação de abuso: muitas vezes em supervisão, também demonstravam raiva do 
agressor, compaixão pela criança, sentimentos de frustração e incompetência por não 
poder resolver todas as questões. 
Lidar com os próprios sentimentos e as emoções negativas dos familiares e 
vítimas foi um grande desafio para os estagiários. Equilibrar-se entre a vontade 
pessoal e postura profissional foi um importante manejo alcançado nesse processo de 
construção do papel do psicólogo. Foi a partir das reflexões sobre o impacto 
emocional da violência que os estagiários puderam se posicionar enquanto suporte e 
apoio para a vítima, estabelecendo relações terapêuticas, assertivas e afetivas. 
Verificou-se a importância do suporte social, desde um profissional até um familiar, 
para que a vítima possa sentir-se segura e apoiada, assim como possa desenvolver 
estratégias de enfrentamento adequadas. 
No caso de Joana ficou claro a aliança de apoio estabelecida entre mãe e filha a 
partir da fala da criança: “Mãe, eu estou tão aliviada porque contei para a senhora”. 
Outro momento considerado delicado pelos estagiários era o exame de corpo de 
delito. Joana foi acompanhada durante esse procedimento e observou-se que, 
inicialmente, a criança resistiu em relatar ao médico o que havia ocorrido, indicando a 
mãe como fonte de informação. Com ajuda dos estagiários, Joana conseguiu contar 
sua história finalizando com a expressão, que também lhe era bastante dolorosa: “Meu 
pai vai ser preso!”. 
 
Considerações finais 
Observou-se que os dados do perfil das crianças e adolescentes atendidos no 
IML/SE não diferem do que já foi levantado no país sobre essa temática. As vítimas de 
violência sexual tem por perfil serem adolescentes conhecidas de seus agressores, e 
essas agressões são cometidas em um local de fácil acesso tanto pelas vítimas quanto 
por seus agressores. 
Durante o estágio no Instituto Medico Legal, foi notado que existiam 
demandas para serem trabalhadas tanto com as vítimas como com os funcionários que 
faziam parte daquela instituição. Em relação à intervenção com as vitimas, muita das 
vezes pôde-se notar a necessidade que estas tinham em obter vários esclarecimentos 
sobre os procedimentos a serem feitos e até mesmo a necessidade de poder 
compartilhar sentimentos relacionados ao acontecido. 
 Uma das dificuldades encontradas na rotina de atendimento do setor era que, 
em algumas vezes, em função da demanda, a vítima ia primeiramente ao médico 
legista. Quando isso acontecia, nem sempre era possível fazer o acolhimento 
psicossocial, uma vez que a evasão do local era imediata. Porém, de modo geral, 
notou-se a relevância da escuta diferenciada feita pela equipe de psicologia, até 
mesmo quando muitos casos mostravam a necessidade de um encaminhamento 
emergencial para uma continuidade do acompanhamento psicológico, muito 
importante dado os aspectos traumáticos resultantes da violência sofrida. 
Essa atividade implicou na consolidação da função do psicólogo como 
mediador das relações interpessoais na instituição e na sua importância na facilitação 
da comunicação entre outros profissionais e vítimas de forma mais humanizada, uma 
vez que a equipe era muito reduzida e não tinha condições de atender a demanda de 
forma mais individualizada e com espaço privilegiado de escuta e tempo de atenção 
que muitas das vítimas requeriam. 
 
Referências 
Brasil (1997). Estatuto da Criança e do Adolescente. Ministério da Justiça, Brasília, 
110pp. 
Brasil (2002). Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Ministério da Justiça. 
Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra crianças e 
adolescentes. Brasília: Ministério da Justiça. 
Brasil (2003). Lei Federal n.° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto 
da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, Senado Federal, 
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2003. 
Brasil (2005). Cartilha 10 anos da adoção da Convenção Interamericana para 
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Convenção Belém do 
Pará, 3ª edição – Brasília: AGENDE. 
Brito, R. C. & Koller, S. H. (1999). Redes de apoio social e afetivo e 
desenvolvimento. In;A. M. Carvalho (Ed.). O mundo social da criança: Natureza e 
cultura em ação (pp. 115-130). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. 
Cohen-Liebman, M. S. (1999). Draw and tell: Drawings within the context of child 
sexual abuse investigations. The Arts in Psychotherapy, 26(3):185-194. 
Deblinger, E., Lippman, J., & Steer, R. (1996). Sexually abused children suffering 
posttraumatic stress symptoms: Initial treatment outcome fi ndings. Child 
Maltreatment, 1, 310–321. 
Costa (2008). Dimensões da Violência Perpetrada contra a mulher: Uma analise de 
casos de Estupro em Aracaju. Cadernos UFS – Serviço Social, Vol X (1). 
Faria, A. L., Araújo, C. A. A & Baptista, V. H. (2008) Assistência à vítima de 
violência sexual: a experiência da Universidade de Taubaté. Rev. Eletr. 
Enf.;10(4):1138-43. 
Faiman, C. J. S. (2004). Abuso sexual em família: a violência do incesto à luz da 
psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo. 
Fisher, B., Cullen, F. T. &Turner, M. G.(2000). The Sexual Victimization of College 
Women. Washington, D.C.: National Institute of Justice and Bureau of Justice 
Statistics, U.S. Department of Justice. 
Gaytos-Rosaldo, A. (2012). Demographic Profile of Victims of Sexual Violence Seen 
at the Eastern Visayas Regional Medical Center-Women and Children Protection 
Unit (Evrmc-Wcpu): A 10-Year Retrospective Study. Journal of Alternative 
Perspectives in the Social Sciences, 5(1),240-251. 
Goldman, R. & Goldman, D. (1998). The prevalence and nature of child sex abuse in 
Australia. Australian Journal of Sex, Marriage and Family, 9 (2), 94-106. 
Habigzang, L. F. & Caminha, R. M. (2004). Abuso sexual contra crianças e 
adolescentes: Conceituação e intervenção clínica. São Paulo, SP: Casa do 
Psicólogo. 
Jewke. R, Sem. P, & Garcia Moreno, C. (2002) Sexual Violence. In: Krug EG et al 
(Eds) World Health Report on Violence and Health. WHO, Geneva. 
Jonzon, E. & Lindblad, F. (2004). Disclosure, reactions and social support: Findings 
from a sample of adult victims of child sexual abuse. Child Maltreatment, 9(2), 
190-200. 
Kristensen, C. H., Oliveira, M. S. & Flores, R. Z. (1999) Violência contra crianças e 
adolescentes na Grande Porto Alegre: Pode piorar? In; Associação de Apoio à 
Criança e ao Adolescente (Ed.), Violência doméstica (pp. 104-117). São 
Leopoldo, RS: AMENCAR. 
Morais, N. A. & Koller, S. (2004) Abordagem ecológica do desenvolvimento humano, 
Psicologia positiva e resiliência: Ênfase na saúde. In: S. Koller (Ed.), Ecologia do 
desenvolvimento humano: Pesquisa e intervenção no Brasil (pp. 91-107) São 
Paulo, SP: Casa do Psicólogo. 
Spink, M. J. P. (2003). Psicologia social e saúde: prática, saberes e sentidos. 
Petrópolis, RJ: Vozes. 
Squizatto, A. P. & Rocha, W. (2004). Caracterização das vítimas de violência sexual 
a partir da análise dos registros feitos pela coordenadoria geral de medicina 
legal de Cuiabá. Disponível em: 
http://www.seguranca.mt.gov.br/politec/3c/artigos/Seminario_ana.squizatto.pdf 
Acesso em: 28 abr. 2012. 
Tardivo R., Pinto Junior, A. A & Santos, M. R. (2005). Avaliação psicológica de 
crianças vítimas de violência doméstica por meio do teste das fábulas de Düss PSIC - 
Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 6, nº 1, p. 59-66. 
Tjaden, P. & Thoennes, N. (2000). Full Report of the Prevalence, Incidence, and 
Consequences of Violence Against Women: Findings from the National Violence 
Against Women Survey. Research Report. Washington, D.C.: National Institute of 
Justice and the Centers for Disease Control and Prevention. 
Veltman, M. W. M. & Browne, K. D. (2002). The assessment of drawings from 
children who have been maltreated: a systematic review. Child Abuse Review, 11, 
19-37. 
World Health Organization - WHO (2003). Guidelines for medical-legal care for 
victims of sexual violence. Genebra.

Continue navegando