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Empreendedorismo social APRESENTAÇÃO O empreendedorismo social desponta nas últimas décadas do século XX, acompanhando as mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorrem no Brasil e no mundo, principalmente após a globalização. Dessa forma, as ações de empreendedorismo social, seja sob a forma comunitária ou a partir de organizações sociais do terceiro setor, surgem para complementar a ação do Estado frente às demandas sociais urgentes e que envolvam situações de risco, sempre partindo do princípio do empoderamento local e da busca global por uma sociedade mais justa e sustentável. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá conhecer o conceito de empreendedorismo social, bem como as principais características do empreendedor social. Aprenderá também sobre as semelhanças entre as diversas ações de empreendimentos sociais existentes hoje na sociedade brasileira. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o conceito de empreendedorismo social.• Identificar as características do empreendedor social.• Analisar as semelhanças entre as ações do empreendedorismo social.• DESAFIO A reconfiguração da sociedade contemporânea, principalmente nos aspectos econômicos e políticos, fez com que fosse necessário o engajamento da sociedade civil nas demandas sociais existentes. Dessa forma, vimos um aumento importante nas ações empreendedoras do terceiro setor em áreas essenciais como educação, saúde, moradia e riscos de vida, bem como aumenta consideravelmente as ações de empreendedorismo social comunitário. Você, licenciado em Pedagogia, especialista em Gestão e Planejamento, resolveu se mudar para uma região do interior de seu estado, procurando ter uma vida mais tranquila, segura e com maior qualidade. Chegando nessa cidade, você realizou um processo seletivo simplificado e logo iniciou o trabalho como professor em uma escola pública local, onde começou a se apropriar do funcionamento da comunidade onde a escola se insere, percebendo sua cultura e seu estilo de vida. Constatou que os pais de seus alunos eram, em sua grande maioria, agricultores, de onde tiravam o sustento para seus lares por meio do plantio de algumas culturas e criações de alguns animais que procuravam vender no centro da cidade. Percebeu, também, que as mulheres, normalmente, resumiam suas rotinas a acompanhar seus filhos na escola e dividir as tarefas agrícolas com os maridos. Porém, muitas dessas mães eram excelentes bordadeiras e realizavam trabalhos manuais artesanais de grande talento. Apesar desses esforços dos pais e das mães, a comunidade apresenta alto grau de vulnerabilidade social, conseguindo somente sobreviver, sem prosperar a partir do que produzem. Você, como professor, foi consultado pela comunidade para emitir sua opinião sobre como poderiam mudar esse quadro. Dentro do conceito de empreendedorismo social, aponte ideias socialmente empreendedoras que pudessem ser postas em prática nessa comunidade, enfatizando os aspectos pedagógicos envolvidos. INFOGRÁFICO O empreendedorismo social se origina do termo empreendedorismo, que, inicialmente, começou a ser utilizado para se referir às pessoas que eram capazes de transformar suas ideias em oportunidades de negócios lucrativos dentro do mercado. Trazendo esse pensamento para a aplicação na esfera do social, temos o empreendedorismo social, que irá apresentar algumas diferenças pontuais em relação ao empreendedorismo comercial, empresarial ou de negócios. Neste Infográfico, você irá conhecer cinco das principais diferenças entre o empreendedorismo empresarial ou de negócios e o empreendedorismo social. CONTEÚDO DO LIVRO O empreendedorismo social emerge a partir das reconfigurações econômicas, políticas e culturais contemporâneas, pois associa as ideias de cidadania, participação e economia solidária para a promoção de ações empreendedoras que tenham como objetivo a transformação social de determinado grupo de pessoas ou comunidades. Leia o capítulo Empreendedorismo social, do livro Gestão de Organizações Educacionais, que trata do conceito de empreendedorismo social, suas características e o perfil do empreendedor social, assim como das ações de empreendedorismo social e as similaridades com o conceito de empreendedorismo tradicional. Boa leitura. GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS Pablo Rodrigo Bes Empreendedorismo social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir empreendedorismo social. Identificar as características do empreendedor social. Analisar as semelhanças entre as ações do empreendedorismo social. Introdução As ações do empreendedorismo social têm aumentado consideravel- mente nas últimas décadas, associadas ao próprio crescimento do terceiro setor e da consciência de cidadania que a sociedade vem desenvolvendo na contemporaneidade. No contexto atual, frente à impossibilidade do Estado de prover as múltiplas demandas sociais, em função da redução de investimentos públicos nessas áreas, o empreendedorismo social acabou sendo impulsionado, assumindo hoje grande importância no contexto nacional e internacional. Neste capítulo, você vai aprender o conceito de empreendedorismo social e as suas principais características. Além disso, vai distinguir as várias ações de empreendedorismo social que estão em prática na atualidade, percebendo as suas diferenças e semelhanças. O que é empreendedorismo social? Para entender o conceito de empreendedorismo social, você precisa, primeira- mente, compreender alguns conceitos de economia e a política de governança que rege os Estados na contemporaneidade. O mundo atual, segundo Lazzarato (2006), sofreu algumas transformações no sistema capitalista que afetaram a forma como a sociedade vive. Essas transformações cresceram na década de 1990, no período da expansão da globalização entre as nações. Sobre a globalização, Oliveira (2008, p. 1) comenta que “[...] sua configu- ração é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que há os avanços tecnológicos, aliados aos avanços das informações e produção abundante de conhecimento, deparamo-nos com níveis sociais e humanos mais baixos e alarmantes de toda a história”. Uma das mudanças promovidas pela globalização e que segue a lógica da transformação do próprio capitalismo diz respeito às relações de governança do Estado sobre as demandas sociais. Dentro da lógica de um regime neoliberal, cabe ao Estado apenas prover minimamente as demandas sociais daqueles que se encontram em condições de desigualdade muito extrema no interior da sociedade. Aos demais, cabe seguir os ditames do mercado, em que o esforço de cada um, dentro do regime democrático, permitirá que se alcance, ou não, o lugar almejado e projetado para si. O regime neoliberal é a racionalidade utilizada hoje pela maioria das nações capita- listas do mundo. A sua lógica trabalha sobre a conversão de todas as organizações e pessoas em empresas. Dessa forma, dentro dessa lógica, todos somos empresários de nós mesmos. Outra importante transformação é o aumento da competitividade entre as organizações empresariais. Isso exige um novo perfil profissional e novas competências para a atuação dos profissionais nesse novo cenário. Essas mudanças impulsionaram o surgimento do empreendedorismo capitalista, motivando inúmeras pessoas a empreenderem os seus próprios negócios, bem Empreendedorismo social2 como a agirem com características empreendedoras no interior das empresas, buscando agregar valor ao desenvolvimento das suas atribuições. Frente a essas mudanças, o setor social também passou a demandar novas ações para complementar a carência de iniciativas estatais, de modo que muitos direitos sociais pudessem de fato ser garantidos a todos. Ao aprender sobre a origem do empreendedorismo social, você vai perceber que ele surge como uma evolução do termoempreendedorismo, amplamente utilizado nas empresas privadas, e que trabalha com a ideia de “empresariamento de si”. Porém, no caso do empreendedorismo social, os objetivos saem da esfera pessoal ou individual e partem em direção ao bem-estar da coletividade. Outro aspecto que diferencia radicalmente o empreendedor social do empreendedor típico de mercado é o fato de este último perseguir o lucro e o aumento da rentabilidade do seu negócio, enquanto o primeiro persegue a finalidade social para a qual está empreendendo os seus esforços e empenhando a sua energia. Para que fique claro o conceito de empreendedorismo social, cabe definir primeiramente o que ele não é: não se trata de empreendedorismo capitalista ou “de negócios”, nem da responsabilidade social desenvolvida por algumas organizações. A responsabilidade social é um conceito que atrela as organi- zações privadas às demandas sociais existentes, ou seja, uma empresa pode ter ações ou projetos voltados para o social, organizadas de forma estruturada e sistemática. Essas ações, porém, são institucionalizadas e não constituem empreendedorismo social. O empreendedorismo — assim como o empreendedorismo social — teve origem nos Estados Unidos, na década de 1980, com a criação da organização social denominada Ashoka, fundada por Bill Drayton, com a finalidade de desenvolver indivíduos que apresentassem atitudes inovadoras e que focassem a transformação social. Segundo Oliveira (2008), atualmente a Ashoka funciona em rede, atuando em mais de 40 países ao redor do mundo. Certo e Miller (2008, documento on-line, tradução nossa) apontam que o “[...] empreendedorismo social refere-se à identificação, avaliação e exploração de oportunidades que resultam em valor social”. Esse valor social é percebido a partir dos benefícios disponibilizados para as comunidades que recebem a ação dos empreendedores ou dos empreendimentos sociais. Muitas vezes, o empreendedorismo social se manifesta sob a forma de ações de cooperativismo ou associativismo entre os membros da comunidade em questão. Para compreendermos melhor essa questão do valor social como objetivo de um empreendimento social, “[...] temos de substituir a pessoa unidimensional 3Empreendedorismo social da teoria econômica por uma pessoa multidimensional — uma que tenha, ao mesmo tempo, interesses egoístas e interesses altruístas” (YUNUS, 2010, p. 10). Em outras palavras, temos interesses egoístas quando pensamos somente nas nossas próprias necessidades e nos engajamos nas atividades laborais para ter renda, poder consumir, comprar coisas, manter e melhorar o nosso padrão de vida. Quando somos altruístas, preocupamo-nos também com aqueles que nos cercam, com a sua existência e as suas condições de vida. Para Melo Neto e Fróes (2002, p. 9), o “[...] empreendedor social é um tipo especial de líder — suas ideias e inovações não são incorporadas aos produtos e serviços a serem produzidos e prestados. Mas, sobretudo, são adicionadas a metodologia utilizada na busca de soluções para os problemas sociais, objeto das ações de empreendedorismo”. Em essência, enquanto o empreendedor capitalista busca transformar as suas ideias em oportunidades de negócios rentáveis, o empreendedor social focaliza a sua criatividade e inovação nas oportunidades que melhor contribuam para a causa social na qual está empe- nhado. Então, o empreendedorismo social se diferencia do empreendedorismo capitalista principalmente em dois aspectos: o que faz e a quem se destina. Aquilo que faz: o empreendedor social não tem como foco a produção de bens e serviços para serem postos à venda simplesmente, mas para que essas operações possam solucionar os problemas sociais abrangidos pelo seu trabalho. Quem é atendido: os esforços dos empreendimentos sociais, ao contrá- rio dos empreendimentos capitalistas ou de negócios, não são direciona- dos para o mercado, mas sim para situações de alto risco social em que a população se encontre. Esses segmentos populacionais normalmente envolvem situações de exclusão social, pobreza e risco de vida. Ao comparar os dois tipos de empreendedores (o de negócios e o social), você verá que, enquanto o empreendedor capitalista atinge o seu sucesso a partir do aumento da sua receita e lucratividade aproveitando oportunidades que o mercado proporcionou, o empreendedor social mede o seu desempenho a partir do impacto social causado pelas suas ações. Dessa forma, segundo Melo Neto e Fróes (2002, p. 10), “[...] sua medida de sucesso é o impacto social. Ou seja, o número de pessoas beneficiadas com a solução proposta no programa ou projeto de empreendedorismo social”. Empreendedorismo social4 O empreendedorismo social é um processo de transformação da sociedade que deve ter o seu impulso inicial a partir de ações das comunidades envolvidas no problema que venha a ser objeto das ações empreendedoras sociais desencadeadas. Suponha que, em determinada comunidade de periferia, os estudantes estejam apresentando um alto índice de reprovação escolar. Uma ação de empreendedorismo social poderia ser a promoção, pela associação de moradores locais, de um reforço escolar para esses alunos, visando à melhoria da sua aprendizagem e o seu sucesso escolar. Ao definir o empreendedorismo social, Oliveira (2008, p. 167) destaca que se trata, antes de tudo, “[...] de uma ação inovadora voltada para o campo do social. Neste sentido é um processo, que se inicia com a observação de uma situação-problema local, em seguida procura-se elaborar uma alternativa para enfrentar esta situação, e que é colocada em prática”. Essas ações típicas do empreendedorismo social, segundo Oliveira (2008), são inovadoras, realizá- veis, autossustentáveis e provocam impacto social, bem como inspiram os governos a criarem políticas públicas para as demandas sociais que são alvo dessas ações empreendedoras. O empreendedorismo social exige uma mudança de paradigmas, ou seja, faz-se necessário desconstruir a maneira como pensamos, sentimos e agimos em sociedade, buscando relações e interações sociais mais comunitárias e solidárias. Essa mudança no estilo de vida da população é desafiadora, uma vez que o empreendedorismo social apresenta seis dimensões específicas a serem consideradas (MELO NETO; FRÓES, 2002): 1. dimensão psicossocial; 2. dimensão cultural; 3. dimensão econômica; 4. dimensão política; 5. dimensão ambiental; 6. dimensão regulatória/institucional. 5Empreendedorismo social A dimensão psicossocial refere-se à mudança de comportamentos que é requerida das comunidades, no seu engajamento, na participação e res- ponsabilidade pelas ações sociais. A dimensão cultural foca nas questões de valorização e preservação das culturas locais. A dimensão econômica se debruça sobre as questões da geração de renda, do emprego e da melhoria da qualidade de vida. A dimensão política envolve a criação de organizações sociais mais atuantes, como as cooperativas e associações que focalizam o social. A dimensão ambiental envolve o melhor uso dos recursos naturais e a diminuição dos impactos ambientais. Por fim, a dimensão regulatória/ institucional se relaciona com as políticas públicas que venham a incentivar os empreendimentos sociais. Como você pode ver, o empreendedorismo social é uma área de grande relevância para o funcionamento da sociedade, pois se encarrega de propor parcerias e prestar serviços que apoiam, complementam e, em alguns casos, até mesmo substituem a ação do Estado frente a problemas sociais urgentes envolvendo populações de risco. No próximo tópico, você vai conhecer mais detalhadamente as características do empreendedorismo social e dos seus empreendedores. Uma das formas de empreender um negócio social que tem sido amplamente utilizada no Brasil é a constituição de cooperativas que busquem abranger algum aspecto da vida social de uma comunidade, trazendo benefícios mútuos. Uma cooperativa é formada pela associação de pessoas que possuemum objetivo comum e que aderem de forma voluntária à finalidade das suas ações, de acordo com as suas necessidades, sejam elas econômicas, sociais ou culturais. As cooperativas são reguladas pela Lei nº. 5.764, de 16 de dezembro de 1971; mais recentemente, as cooperativas de trabalho tiveram atenção especial na sua regulação a partir da Lei nº. 12.690, de 19 de julho de 2012. As características do empreendedorismo social Você já aprendeu que o empreendedorismo social se diferencia do empreen- dedorismo comercial em alguns aspectos, como a fi nalidade da sua atuação e o público a quem se destina. Você vai agora aprender um pouco mais sobre as suas características (PARENTE et al., 2011): Empreendedorismo social6 criação de valor social; criatividade e inovação; transformação social; visão de oportunidades; empatia; gestão de risco; proatividade; ação em grupos. O empreendedorismo social apresenta como uma das suas principais carac- terísticas — e talvez a que mais o diferencie dos empreendedores de negócios — a possibilidade de criação e maximização do valor social para a causa que objetiva. Dessa forma, os empreendedores sociais transformam e revolucionam os modelos de produção desse valor social nas áreas da educação, da saúde, do meio ambiente, entre outras, enquanto os empreendedores de negócios se preocupam com as mudanças nas relações de produção que envolvem as suas ações empreendedoras. O valor social também pode ser traduzido como lucro social: enquanto as ações do empreendedor comercial geram lucro financeiro, as ações do empreendedorismo social geram lucro social. Assim, lucro social são os ganhos em termos de benefícios gerados à comunidade pelas ações sociais empreendidas pelas cooperativas e associações de pessoas que se mobilizam. Entre os muitos benefícios para as comunidades locais, que podem ser entendidos como valor social a partir das ações do empreendedorismo social, podemos citar, segundo Melo Neto e Fróes (2002): maior conhecimento; conscientização; autoestima; autossuficiência; participação; novas ideias e valores; sentimento de conexão; novo papel exercido pela população local — de mão de obra barata a proprietária e gestora dos empreendimentos locais. A criatividade e a inovação também são características do empreende- dorismo social, pois remetem à necessidade de encontrar um novo processo para realizar algo a fim de atingir os objetivos almejados junto à comunidade. Para que haja criatividade e inovação, faz-se necessária a existência de canais 7Empreendedorismo social de comunicação abertos, que incentivem a participação e o engajamento de todos os voluntários nas ações do empreendimento social. Outra característica importante do empreendedorismo social é buscar a transformação de algum aspecto da vida social das pessoas envolvidas. Por exemplo, uma cooperativa de material reciclado transforma a vida social das pessoas: antes vistos como “catadores de lixo”, os empreendedores agora tra- balham com material reciclado e, além de melhorarem as suas próprias vidas, também estão ajudando na preservação ambiental e melhoria do planeta. É fácil perceber como essa ação transforma a vida dessas pessoas, especialmente em termos de aspectos psicossociais, econômicos e culturais, a partir das ações empreendidas por essa organização empreendedora, cujo foco principal é atender a uma demanda social. Perceber oportunidades para realizar ações também é uma característica do empreendedorismo social. Assim como no empreendedorismo comercial, isso consiste muitas vezes na conversão de ideias locais em organizações que possam materializá-las e oportunizar que elas atinjam os resultados esperados. Para isso, os empreendedores sociais devem estar atentos ao funcionamento das dimensões que envolvem o empreendedorismo social, procurando visualizar onde e quais ações são necessárias. A empatia, o altruísmo e a solidariedade costumam caracterizar o empreendedo- rismo social, pois são os valores normalmente percebidos e compartilhados entre os empreendedores que se lançam a desenvolver ações sociais. Colocar-se no lugar do outro e preocupar-se com a comunidade e com o coletivo fazem parte desse rol de características. Uma das marcas potentes que caracterizam o empreendedorismo social é a gestão do risco, ou seja, o gerenciamento de segmentos da população que se encontrem em situação de risco social, manifestada normalmente pela sua vulnerabilidade. Dessa forma, podemos verificar as questões da pobreza e as suas múltiplas carências, da falta de emprego, da violência doméstica, Empreendedorismo social8 dos riscos de vida diversos, entre tantas outras como possíveis áreas a serem gerenciadas pelas ações do empreendedorismo social. A proatividade e a forma como procuram agir, por meio da mobilização de equipes ou grupos sociais, também é um aspecto essencial do empreen- dedorismo social. O seu princípio básico é ter atitude, não ficar esperando que tais causas sociais sejam atendidas pelo Estado, mas sobretudo valer- -se da cidadania e do engajamento da comunidade na busca por soluções para os problemas enfrentados a partir da condução de ações organizadas e empreendedoras. Em relação às características do empreendedor social, Araújo (2006, p. 70) acrescenta ainda que “[...] assim como o empreendedor privado, o empreendedor social reúne características, tais como: capacidade de cor- rer riscos, energia, tenacidade, criatividade, flexibilidade, habilidade para conduzir situações, iniciativa, capacidade de aprendizagem, envolvimento, originalidade, inovação, entre outras.” É importante perceber que o empre- endedor social carrega consigo muitas das características do empreendedor comercial, conforme cita a autora. Porém, o seu foco será diferenciado nas finalidades para as quais canaliza tais características. Uma das características do empreendedorismo social também é a ênfase no desenvolvimento local da comunidade na qual serão postas em prática as ações planejadas. Melo Neto e Fróes (2002, p. 42) comentam que esse desenvolvimento local se viabiliza por meio de dois mecanismos: 1°) o “empoderamento” da comunidade (no sentido da obtenção de maior grau de informação, conscientização, senso do interesse coletivo, e forta- lecimento dos sentimentos de autoestima, autossuficiência, etc. 2°) o reinvestimento da renda no espaço local. Essas ações de desenvolvimento local são percebidas, por exemplo, em regiões de grande pobreza e desemprego, onde pessoas da comunidade se reúnem e, com os seus esforços de empreendedorismo social, canalizam os seus talentos e a sua capacidade produtiva em torno de algo que possa ala- vancar renda e melhorar as suas condições de vida. É o caso de associações de mulheres que produzem artesanatos ou fabricam produtos culinários típicos das suas regiões para, de forma organizada, conseguir comercializar os seus produtos e melhorar as suas vidas e a localidade em que se inserem. 9Empreendedorismo social Procurando abranger de forma mais concisa e completa as múltiplas características que compõem o perfil do empreendedor social na contem- poraneidade, Oliveira (2008) divide-as entre conhecimentos, habilidades, competências e posturas, conforme mostrado no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Oliveira (2018). Conhecimentos Habilidades Competências Posturas Saber apro- veitar as oportunidades. Ter competên- cia gerencial. Ser pragmático e responsável. Saber trabalhar de modo em- presarial para resolver proble- mas sociais. Ter visão clara. Ter iniciativa. Ser equilibrado. Ser participativo. Saber trabalhar em equipe. Saber negociar. Saber pensar e agir estrategica- mente. Ser perceptivo e atento aos detalhes. Ser ágil. Ser criativo. Ser crítico. Ser flexível. Ser focado. Ser habilidoso. Ser inovador. Ser inteligente. Ser objetivo. Ser visionário. Ter sensode responsabilidade. Ter senso de solidariedade. Ser sensível com os problemas sociais. Ser persistente. Ser consciente. Ser competente. Saber usar forças latentes e regenerar forças pouco usadas. Saber correr riscos calculados. Saber integrar vários atores em torno dos mesmos objetivos. Saber interagir com diversos segmentos e interesses dos diversos setores da sociedade. Saber improvisar. Ser líder. Ser inconfor- mado e in- dignado com a injustiça e a desigualdade. Ser determinado. Ser engajado. Ser compro- metido e leal. Ser ético. Ser profissional. Ser transparente. Ser apai- xonado pelo que faz (campo social). Quadro 1. Perfil do empreendedor social Da análise do Quadro 1, vale enfatizar o aspecto de transformador social que o empreendedor apresenta. Isso necessariamente exigirá dele, além da competência de ação exigida pelo terceiro setor, a capacidade de interagir com os setores primário (público) e secundário (privado) para atingir o sucesso das suas ações empreendedoras sociais. Empreendedorismo social10 Muitas das organizações que atuam no terceiro setor, no Brasil e no mundo, utilizam-se das ideias do empreendedorismo social para executar as suas atividades. Uma vez que o terceiro setor se constitui por organizações de natureza privada, que procuram cumprir com as demandas públicas não atendidas pelo Estado, é necessário que os voluntários possuam os atributos de empreendedores sociais para realizarem bem os seus afazeres e produzirem os benefícios sociais à coletividade. As ações do empreendedorismo social As ações do empreendedorismo social são postas em prática tanto por co- munidades específi cas quanto pelas diversas organizações que atuam no terceiro setor e procuram atender às demandas sociais que necessitam de ação organizada e voluntária para transformar determinada realidade. O empreendedorismo social se diferencia, no entanto, de um projeto social, por apresentar um caráter de empoderamento da comunidade na qual atua — e não somente de resolução de determinado problema. O que garante o sucesso de uma ação de empreendedorismo social é o engajamento da própria comunidade por meio do entendimento de que a sua participação e o seu envolvimento podem resultar na mudança esperada. Dessa forma, para conhecer algumas das ações que envolvem o empre- endedorismo social, podemos retomar o conceito de inovação, uma vez que uma ideia socialmente transformadora em geral envolve alto grau de inovação e costuma ser central e essencial para que o empreendedorismo social tenha sucesso. Os autores Melo Neto e Fróes (2002, p. 49) fornecem alguns exemplos de ideias socialmente empreendedoras, que podem ser desenvolvidas de forma comunitária ou por organizações sociais: • combate a um tipo de exclusão social (por exemplo, a implantação de uma rede de escolas de informática em comunidades de baixa renda); • abordagem holística de um problema social (por exemplo, os projetos de- senvolvidos pelo Instituto Renascer, que baixou em 60% as reinternações hospitalares de crianças pobres no Rio de Janeiro); • adoção de práticas preventivas valorizando a cultura local e a identidade da comunidade (por exemplo, os projetos “Barraca da Saúde” e “Trupe da Saúde”); 11Empreendedorismo social • adoção de ações lúdicas em ambientes tecnológicos e impessoais (por exem- plo, o projeto “Doutores da Alegria”); • promoção da cidadania (por exemplo, as ações desenvolvidas pelo Instituto de Defesa do Consumidor); • novos insights (enfoques) sobre a abordagem de problemas sociais (por exemplo, o projeto “Médicos de Família”); • adoção de novas práticas de gestão (por exemplo, programas e projetos de autogestão). É interessante perceber, a partir dos exemplos citados pelos autores, como o empreendedorismo social se vale, por vezes, do estabelecimento de ações de cooperativismo e associativismo para realizar os seus objetivos. Dessa forma, consegue-se envolver as pessoas da comunidade, promovendo a sua participação e o seu engajamento em busca de benefícios comuns. Existem duas vertentes principais pelas quais o processo de empreende- dorismo social se realiza: “[...] o empreendedorismo social comunitário e o empreendedorismo voltado para organizações sociais” (MELO NETO; FRÓES, 2002, p. 132). Cada um desses tipos de empreendedorismo social apresenta características próprias, conforme o Quadro 2. Fonte: Adaptado de Melo Neto e Fróes (2002). Empreendedorismo social comunitário Empreendedorismo voltado para organizações sociais O foco é a comunidade. O foco é nas organizações sociais. Seu objetivo é fortalecer a cidadania, a organização e a integração comunitária. Seu objetivo é melhorar o desempenho das organizações sociais atuantes na comunidade. Empreende a comunidade como um todo. Empreende a organização social. Predomínio de ações institucionais. Predomínio de ações gerenciais. Âmbito de atuação mais amplo. Âmbito de atuação mais restrito. Gerenciamento da comunidade. Gerenciamento de uma organização que presta serviços à comunidade. Quadro 2. As duas vertentes do empreendedorismo social e as suas diferenças Empreendedorismo social12 Você pode perceber que, embora ambas sejam entendidas como ações de empreendedorismo social, elas possuem aspectos particulares que devem ser considerados. Ao referir-se aos empreendimentos comunitários, Singer e Souza (2000, p. 254) destacam que “[...] tais empreendimentos constituem a base da economia solidária, cuja característica marcante é a autogestão. E o seu modelo predominante é o trabalho cooperativado”. É claro que, para haver uma ideia empreendedora e para que esta possa ser institucionalizada, organizada e estruturada dentro de um formato eficiente e que atenda aos objetivos da comunidade, transformando a sua condição social a partir da participação dos seus membros, é necessário que haja um suporte. Esse suporte e essa orientação também são possíveis com o trabalho de organizações sociais que tenham como objetivo desenvolver o empreende- dorismo social e as suas formas de gestão. Elas investem no capital humano local e buscam ampliá-lo; como consequência, elevam também o capital social existente nessas comunidades a fim de construir uma sociedade mais justa e sustentável. O capital humano corresponde ao nível de qualificação, escolaridade e capacidade empreendedora que os membros da comunidade possuem, enquanto o capital social é considerado como a forma de organização e participação destes na condução das questões comunitárias. Em relação aos tipos de ações de empreendedorismo social que crescem na atualidade, visando combater os efeitos perversos da globalização, que exclui e gera bolsões de pobreza ao redor do mundo, Oliveira (2008, p. 80) comenta que “[...] merecem destaques outras ações crescentes e alternativas, como do cooperativismo, de movimentos como os sem-terra, da criação do fóruns internacionais de manifestos antiglobalização, como exemplo, o Fórum Social [...]”. Também, ao analisarmos o âmbito educacional, percebemos que há inúmeros exemplos de empreendedorismo social propostos a partir do trabalho de organizações sociais. 13Empreendedorismo social Podemos citar como exemplo a atuação do Instituto Inspirare, criado no estado de São Paulo, que reúne voluntários interessados em promover trans- formações sociais a partir da busca por uma educação inovadora, tecnológica e equitativa, atuando na formação de professores e junto aos públicos de estudantes das comunidades onde se insere. O Instituto Inspirare opera a partir de parcerias com várias outras organizações públicas e da sociedade civil para atingir os seus objetivos. Para maiores informações sobre as ações de empreendedorismo social do Instituto Inspirare, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/BSK3 Oliveira (2008) apresenta algumas organizações sociais que atuam de forma inspiradora no empreendedorismosocial. As organizações que estão voltadas diretamente para a área da educação são as seguintes: Edisca, Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), Centro de Comunicação e Cultura, e Crecheplan. Veja como atuam essas organizações e perceba como elas procuram causar impacto social a partir do seu empreendedorismo. A Edisca é uma escola ofertada para meninas carentes do estado do Ceará, visando construir um caminho alternativo à vida nas ruas e à prostituição. Fundada por Dora Andrade, trata-se de uma escola idealizada para ajudar crianças pobres a desenvolverem as suas habi- lidades. Na escola, além dos conteúdos programáticos, são ofertadas aulas de dança, teatro, mímica, coral, artes plásticas e música clássica. Dessa forma, as crianças permanecem mais tempo na escola, na qual a participação dos pais também é promovida. O Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), fundado por Sebastião Rocha, em Belo Horizonte, desenvolve atividades que objetivam fazer com que os estudantes sintam prazer em frequentar as aulas. Para isso, foi criado um projeto de educação popular que não se limita ao espaço físico das escolas e aproveita as particularidades locais nesse processo educacional. Empreendedorismo social14 O Centro de Comunicação e Cultura, localizado em Fortaleza e fundado por Daniel Raviolo, trabalha com a publicação de jornais comunitários autossustentáveis que apoiam a educação não formal das comunidades onde atua. Para inserir-se nas escolas, foi criado o projeto Clube do Jornal Escolar, que trabalha com base na responsabilidade civil, no meio ambiente e na preservação do patrimônio histórico local. A Crecheplan, criada por Sílvia Carvalho, que foi bolsista da Ashoka, tem o objetivo de desenvolver creches de primeira qualidade focando em uma das maiores carências dessa etapa: a formação de seus profissionais. Dessa forma, trabalha ofertando cursos de capacitação e formação continuada para os profissionais da Educação Infantil que desenvolvem as suas funções nas creches e pré-escolas do estado de São Paulo. Podemos perceber que as ações de empreendedorismo social citadas apre- sentam aspectos em comum, como a constituição da sua atuação em uma área social que necessita de apoio, buscando transformar essas realidades. Essas iniciativas de empreendedorismo social organizam as suas atividades a partir do trabalho voluntário dos seus membros e procuram valer-se das caracterís- ticas locais para compor as suas ações. Dessa forma, acabam reconhecendo e valorizando os traços da cultura local. Além disso, percebemos que essas iniciativas acabam por elevar o nível de capital social existente nos locais onde atuam, pois promovem a participação, a cooperação e a multiplicação das suas experiências entre todos. Outra característica que merece destaque e que costuma fazer parte das ações do empreendedorismo social é o fato de elas funcionarem como um mecanismo que promove a auto-organização social dessas comunidades. Em outras palavras, elas agem como uma tecnologia social que deixa de lado os aspectos mais assistencialistas e os substitui pela perspectiva de emancipação e transformação pelo caminho do empreendedorismo. O conceito de tecnologia social pode ser entendido como os diversos “arranjos institu- cionais definidos e implementados por associações, governos federal, estadual e local, universidades, sindicatos, equipes gestoras dos programas e projetos de desenvolvi- mento social numa comunidade e pelos próprios membros da comunidade” (MELO NETO; FRÓES, 2002, p. 64). Veja no quadro a seguir algumas tecnologias sociais atuais. 15Empreendedorismo social Fonte: Adaptado de Melo Neto e Fróes (2002). Denominação Características Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS) Estratégia de indução ao desenvolvimento que prevê a adoção de uma metodologia participativa, pela qual mobilizam-se recursos da sociedade civil, em parceria com o Estado (com os três níveis de governo), para realização de diagnósticos da situação de cada localidade, identificação de potencialidades, escolha de vocações e confecção de planos integrados de desenvolvimento. Empreendimento Social Processo dinâmico pelo qual comunidades e seus membros identificam ideias e oportunidades econômicas e sociais, e atuam desenvolvendo-as e transformando-as em empreendimentos comerciais e industriais autossustentáveis. Clube da Troca Formados por pequenos produtores de mercadorias que constroem para si um mercado protegido ao emitir moeda própria que viabiliza o intercâmbio entre os participantes. Cooperativas de Trabalho Cooperativas especializadas em vender serviços (de limpeza, de manutenção, vigilância, etc.) a serem prestados nos locais e com o uso de meios fornecidos pelos compradores. Incubadoras de Pequenos Negócios Núcleos de criação e desenvolvimento de pequenos negócios. Instituições Comunitárias de Crédito Instituições privadas sem fins lucrativos que ofertam microcrédito aos pequenos empreendedores. Associações de Grupos de Produção Associações que congregam diversos grupos de produção. Associações de Solidariedade Associações para amparar famílias atingidas por problemas sociais. Fórum de Economia Solidária Iniciativas que promovem debates sobre empreendimentos sociais comunitários. Redes de Intercâmbio Reunião de empreendimentos comunitários que se ajudam mutuamente e, coligados, obtêm viabilidade econômica. Movimentos Sociais Voltados para causas sociais importantes, como a reforma agrária, no caso do Movimento Sem Terra, ou melhoria das condições de moradia, no Movimento Sem Teto, ou para combater o racismo e o preconceito sociais, no caso do Movimento Negro. Empreendedorismo social16 ARAÚJO, M. P. Construindo o social: através da ação e da responsabilidade. Novo Ham- burgo: Editora Feevale, 2006. CERTO, S. T.; MILLER, T. Social entrepreneurship: key issues and concepts. Business Horizons, [s. l.], n. 51, n. 4, p. 267-271, 2008. Disponível em: https://www.sciencedirect. com/science/article/pii/S0007681308000396. Acesso em: 16 abr. 2019. LAZZARATO, M. As revoluções do capitalismo: a política do império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. MELO NETO, F. P.; FRÓES, C. Empreendedorismo social: a transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. OLIVEIRA, E. M. Empreendedorismo social: da teoria à prática, do sonho à realidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008. Para conhecer mais sobre as tecnologias sociais utilizadas nas ações de empreende- dorismo social, acesse o artigo de Ladislau Dowbor, intitulado “Redes de Apoio ao Empreendedorismo e Tecnologias Sociais”, no link a seguir. https://qrgo.page.link/56y4 Um exemplo interessante de empreendedorismo social é retratado no filme O menino que descobriu o vento, do diretor Chiwetel Ejiofor. Baseado na história real de William Kamkwamba, o filme relata a força de um jovem para construir um gerador de energia eólica e irrigar as plantações da família no solo desértico africano. A obra mostra as ações de gerenciamento comunitário necessárias para que a ideia empreendedora do menino possa ser posta em prática, ajudando a resolver o problema da fome da comunidade onde reside. Enfatiza ainda a importância do capital humano conquistado a partir da escola e a sua biblioteca para que o capital social pudesse ser canalizado como deveria e a iniciativa de empreendedorismo social tivesse êxito. 17Empreendedorismo social PARENTE, C. et al. Empreendedorismo social: contributos teóricos para a sua definição. In: ENCONTRO NACIONAL DE SOCIOLOGIA INDUSTRIAL, DAS ORGANIZAÇÕES E DO TRABALHO, 14., 2011, Lisboa. Anais [...]. Portugal, 2011. Disponível em: https://repositorio- -aberto.up.pt/bitstream/10216/61185/2/cparenteempreendedorismo000151867.pdf. Acesso em: 16 abr. 2019. SINGER, P.; SOUZA, A. R. (org.). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de Janeiro: EditoraContexto, 2000. YUNUS, M. Criando um negócio social: como iniciativas economicamente viáveis podem solucionar os grandes problemas da sociedade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Empreendedorismo social18 DICA DO PROFESSOR O empreendedorismo social trabalha com a ideia de empoderamento das comunidades e do entendimento de que sua participação é decisiva para que possam ser alcançados benefícios sociais comuns a todos. Para isso, precisam ser oportunizadas ações que elevem o nível de capital social que essa comunidade tem. Nesta Dica do Professor, você conhecerá o conceito de capital social e a sua importância dentro das ações do empreendedorismo social. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Os anos de 1990, do século XX, foram marcados por grandes transformações nos âmbitos político, econômico, social e cultural que afetaram todo o planeta, uma vez que, nesse período, já se observava os processos intensos da globalização. Essas mudanças fizeram emergir um novo conceito de empreendedorismo, predominantemente social. Considerando que as diferenças entre empreendedorismo capitalista e social são frutos desse período, assinale a alternativa que apresenta a correta relação entre o contexto e o surgimento do empreendedorismo social. A) As tecnologias de comunicação e informação impulsionadas a partir da globalização contribuíram para o surgimento do empreendedorismo social. B) As formas de governo das nações capitalistas expandem a racionalidade neoliberal após a globalização e impulsionam a emergência do empreendedorismo social e das ações do terceiro setor. C) A globalização afetou o contexto econômico, promovendo maior competitividade entre as empresas privadas e favorecendo, dessa forma, o empreendedorismo social. D) Durante o processo de globalização houve uma expansão das ideologias de cunho socialista, que promoveram o social e as suas ações empreendedoras sociais. E) A globalização fez com que as relações de emprego e trabalho se reconfigurassem, aumentando a concorrência entre as pessoas e as empresas e expandindo o empreendedorismo social que se vale dessa lógica. 2) O empreendedorismo social apresenta algumas dimensões específicas sobre as quais esse processo se instala. Quando consideradas tais dimensões, aumentam muito as possibilidades de que essas ações empreendedoras atinjam seus objetivos e causem o impacto social desejado. Analise as alternativas a seguir e marque aquela que apresenta a relação correta entre a dimensão e suas características. A) A dimensão regulatória/institucional envolve os movimentos de incentivo e busca por novas organizações sociais e como torná-las mais atuantes na comunidade. B) A dimensão ambiental envolve os processos de criação e implementação de locais apropriados ao desenvolvimento de ações sociais, principalmente nos espaços urbanos. C) A dimensão ambiental envolve os processos de criação e implementação de políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo social. D) A dimensão psicossocial se refere à mudança de comportamentos que é requerida nas ações de empreendedorismo social, o que envolve participação, engajamento e solidariedade. E) A dimensão cultural abrange os estudos da cultura ambiental local visando o uso sustentável dos recursos naturais existentes na comunidade. O empreendedorismo social e o capitalista, embora apresentem semelhanças na composição do perfil de seus empreendedores (como a visão inovadora, a criatividade, o correr riscos calculados, entre outras), apresentam características que 3) os diferenciam. Analise as alternativas a seguir e marque aquela que apresenta uma diferença correta entre o empreendedorismo capitalista e o empreendedorismo social. A) O empreendedorismo capitalista visa a constituição de um negócio que gere lucros enquanto que o empreendedorismo social objetiva agir produzindo impacto social na comunidade. B) O empreendedorismo social tem foco na ação individual enquanto que o empreendedorismo capitalista focaliza a coletividade. C) O empreendedorismo social se desenvolve no segundo setor da economia enquanto que o empreendedorismo capitalista é percebido em organizações do terceiro setor. D) O empreendedorismo capitalista requer solidariedade e altruísmo enquanto que o empreendedorismo social lida com a competitividade e a concorrência de mercado. E) O empreendedorismo capitalista trabalha com a ideia de empoderamento da comunidade enquanto que o empreendedorismo social procura satisfazer as necessidades dos clientes. 4) Para Melo Neto e Fróes (2002, p. 61), “somando-se o capital humano e o capital social instalado em uma determinada localidade, temos o somatório de suas potencialidades”. Os autores evidenciam que o empreendedorismo social será potencializado quando esses dois conceitos aparecerem juntos, devido às suas características. Considerando que o conceito de capital social traz em si a capacidade de engajamento e que o conceito de capital humano se refere, de maneira muito sintética, à qualificação de uma dada comunidade, indique a alternativa que apresenta a CORRETA relação entre capital social e capital humano, considerando os estudos sobre empreendedorismo social e a citação de Melo Neto e Fróes. A) Comunidades que apresentam bons índices de capital social acabam apresentando também capital humano condizente com ele. B) O capital humano existente na comunidade é um fator determinante das suas ações relativas ao capital social. C) O nível de capital humano de uma comunidade acaba por restringir as ações coletivas e participativas típicas do capital social. D) Comunidades que apresentam capital humano elevado não apresentam capital social, pois nesta as questões sociais estão bem resolvidas. E) Algumas comunidades podem apresentar alto nível de capital social, porém baixo grau de capital humano, por isso precisam ser desenvolvidas em termos de qualificação. 5) Uma das habilidades imateriais que precisam ser desenvolvidas nas comunidades para que as ações de empreendedorismo social sejam bem-sucedidas é a solidariedade e o altruísmo, o que leva ao engajamento e à participação de todos nas várias demandas necessárias, incluindo as econômicas, fazendo com que o modo de pensar e viver das pessoas dessas comunidades se transforme. Singer (2002, p. 121) comenta, porém, que “(...) para que a economia solidária se transforme de paliativo dos males do capitalismo em competidor do mesmo, ela terá de alcançar níveis de eficiência na produção e distribuição de mercadorias comparáveis aos da economia capitalista”. A partir da citação e dos estudos da disciplina, marque a alternativa que apresenta uma correta relação entre o conceito de economia solidária e o de empreendedorismo social. A) A economia solidária é um campo da economia e distancia-se da sociologia, por essa razão não apresentam uma relação direta com o conceito de empreendedorismo social. B) A economia solidária serve de base para as ações do empreendedorismo social, devendo adequar-se às lógicas do capitalismo vigente para que possa vir a ter maior eficiência e eficácia. C) A economia solidária serve como fundamento das ações empreendedoras sociais por reproduzir as práticas cotidianas do capitalismo utilizadas em organizações empresariais. D) A economia solidária trata dos níveis de envolvimento e produção de bens e renda das comunidades a partir do empreendimento de negócios lucrativos e comerciais. E) A economia solidária trata do empoderamento das comunidades vulneráveis e, para isto, utiliza-se de iniciativas do empreendedorismo social para essa finalidade. NA PRÁTICA As ações de gerenciamento dos empreendimentos sociais não são simples, exigindo competências tanto para a gestão institucional do empreendedorismo social realizado por organizações sociais quanto para a gestão comunitária, quando esse empreendedorismo socialfor comunitário. Na Prática, você irá conhecer os passos necessários para que a gestão comunitária de um empreendedorismo social possa atingir seus objetivos com sucesso. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Cidadania, empreendedorismo social e economia solidária no contexto dos catadores cooperados de materiais recicláveis De autoria de Hugo Manuel Bastos e Geraldino Carneiro de Araújo, este artigo apresenta como os conceitos estudados sobre as características do empreendedorismo social são percebidos nas ações dessa cooperativa de reciclagem do Mato Grosso do Sul. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Formação do empreendedor social e a educação formal e não formal: um estudo a partir de narrativas de história de vida Este artigo apresenta como o desenvolvimento de um perfil relacionado ao empreendedorismo social é construído a partir das experiências educacionais formais e não formais. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! AgitAção Social - Campanha Benfeitoria Neste vídeo, você verá como as ações empreendedoras se valem na atualidade das redes sociais visando a conseguir recursos para financiar seus objetivos. No vídeo, pode-se ver que a construção do material propõe educar as crianças pequenas para o empreendedorismo social, iniciativa que seria concretizada por meio das doações de interessados via crowfunding. Porém, a meta não foi atingida, os recursos doados foram devolvidos para seus doadores e a cartilha não foi realizada. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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