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O DIREITO A INFORMAÇÃO E A PROPAGANDA ELEITORAL

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ESCOLA PAULISTA DE DIREITO. 
PÓS-GRADUAÇÃO: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. 
AVALIAÇÃO - 2° SEMESTRE DE 2020 
ALUNA: ANA PAULA GOTTARDI B. M. DOS SANTOS - RA 201910290 
 
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ARTIGO: O DIREITO A INFORMAÇÃO E A PROPAGANDA ELEITORAL 
 
 
 A liberdade de expressão é garantida pela Constituição de 1988, principalmente 
nos incisos IV e IX do artigo 5º. Enquanto o inciso IV é mais amplo e trata da livre 
manifestação do pensamento, o inciso IX foca na liberdade, dentre outras, de 
comunicação. O que se lê no inciso IX do artigo 5º é o seguinte: “IX – É livre a expressão 
da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de 
censura ou licença;” 
 A partir do texto constitucional podemos concluir que um dos intuitos do inciso 
IX, além de salvaguardar da censura todo o tipo de informação, é proteger a liberdade de 
comunicação sobre qualquer tema ou assunto, INDEPENDENTE de LICENCA. De tal 
modo, é correto dizer que a proteção da liberdade de expressão é essencial para 
uma democracia, eis que somente assim é possível participar efetivamente da vida 
política do nosso país. Para isso, também é fundamental que tenhamos acesso a todo tipo 
de informação. 
 Pois bem, a propaganda partidária constitui espécie do gênero propaganda 
política, sendo que este ainda engloba a propaganda eleitoral, a propaganda intrapartidária 
e a propaganda institucional. Sendo assim, a propaganda partidária distingue-se das 
 
 
 
demais por ter como finalidade específica: a difusão da ideologia do partido político, o 
convencimento dos eleitores e a obtenção de vitória no certame. 
 É importante frisar que a veiculação de propaganda política visa concretizar o 
ideal de Estado Democrático de Direito delineado pela Constituição, eis que a verdadeira 
observância ao pluralismo político e a legitimidade de um governo representativo 
pressupõe o enriquecimento do debate eleitoral e a participação consciente dos cidadãos, 
o que apenas se conquista através da informação proporcionada pela propaganda. 
 Não é por outra razão, portanto, que na ADI 3741, sob a relatoria do Ministro 
Ricardo Lewandowski, foi julgada a inconstitucionalidade do art. 35-A da Lei 11.300/06, 
também chamada de minirreforma eleitoral. Isto porque prevaleceu o argumento de que 
ao se vedar a divulgação de pesquisas eleitorais por qualquer meio de comunicação, a 
partir do décimo quinto dia anterior até às dezoito horas do dia do pleito, ofender-se-ia a 
liberdade de informação como corolário da liberdade de expressão, bem como as 
garantias individuais apregoadas no art. 5 da CFRB. 
 Tal proibição iria, além de estimular a divulgação de boatos e dados apócrifos, 
provocar manipulações indevidas que levariam ao descrédito do povo no processo 
eleitoral, o que seria, à luz dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, 
inadequada, desnecessária e desproporcional quando confrontada com o objetivo 
pretendido pela legislação eleitoral que é, em última análise, o de permitir que o cidadão, 
antes de votar, forme sua convicção da maneira mais ampla e livre possível. 
 A vedação da eficácia do referido art. 35-A representou a correta expressão de 
respeito ao texto constitucional sob o prisma da liberdade de informação e de expressão. 
Ademais, a manutenção do artigo “censurador” contribuiria, tão somente, para a possível 
circulação de boatos e dados inautênticos, "dando azo a toda sorte de manipulações 
indevidas, que acabariam por solapar a confiança do povo no processo eleitoral, 
atingindo-o no que ele tem de fundamental, que é exatamente a livre circulação de 
informações". 
 Mas um dos limites impostos à liberdade de comunicação é a verdade. O que se 
espera é que se tenha cautela ao propagar informações, já que, dado o poder de alcance 
que grandes veículos de comunicação, bem como a rede mundial de computadores 
(internet) têm, informações equivocadas podem resultar em violações de direitos. 
 
 
 
 As notícias falsas, propagadas principalmente em períodos eleitorais, também 
podem ter grande peso na escolha dos eleitores por um ou outro candidato, o que acaba 
por distorcer a opinião pública e fragilizar a democracia. Esse é um dos motivos pelos 
quais existe o inciso V do artigo 5º, que garante direito de resposta às pessoas que se 
sentiram ofendidas por matérias ou publicações veiculadas em meios de comunicação. 
Ou seja, a liberdade de expressão e de comunicação não podem se sobrepor a outros 
direitos fundamentais. 
 Alguns meios de contenção de notícias falsas e comunicação abusiva e 
manipulativas foram criados em amparo a Lei Eleitoral. De acordo com a Resolução TSE 
23.549/2017, a divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações sujeita as 
responsáveis à multa altíssimas, além do que a divulgação de pesquisa fraudulenta (falsa) 
constitui crime, punível com detenção de seis meses a um ano e multa. 
 A Justiça Eleitoral desenvolveu e aperfeiçoou ainda, mecanismos de combate à 
desinformação disseminada em redes sociais e ferramentas de troca de mensagens. A 
iniciativa é uma demanda direta da pressão que a sociedade civil tem feito sobre o tema 
e consequência da eleição presidencial de 2018, cujo resultado foi muito influenciado 
pelos disparos em massa de fake news, usados por alguns candidatos como estratégia de 
ataque a adversários políticos. 
 Em parceria com as principais empresas, a Justiça Eleitoral se comprometeu a 
combater o uso de robôs, impulsionamentos ilegais de conteúdo, o uso de perfis que 
espalham notícias falsas e os disparos em massa. Para o TSE (Tribunal Superior 
Eleitoral), essas práticas comprometem o debate público de qualidade, que deve priorizar 
ideias, argumentos e propostas, livre de mentiras, ofensas ou agressões. 
 Diante desse cenário, as redes sociais assumiram um importante papel no 
compartilhamento de ideias e conteúdos por pessoas comuns, permitindo com que os 
cidadãos assumam todos os dias posições de protagonismo frente à realidade. A partir do 
surgimento de ferramentais digitais de participação política, a internet foi transformada 
em um instrumento importante de exercício do poder pelo povo. 
 Entre outros benefícios, as ferramentas digitais possibilitam com que os cidadãos 
tenham acesso àquilo que antes estava restrito à elite política e permitem com que a 
própria sociedade, munida de informações e conhecimentos, promova debates e dialogue 
 
 
 
com maior frequência tanto com o poder público quanto com outros setores sociais. Em 
especial, podemos destacar as conquistas obtidas através da Lei nº 12.527/2011, 
denominada de Lei de Acesso à Informação (LAI). 
 A LAI determina um conjunto de obrigações aos órgãos e entidades do poder 
público quanto à divulgação de informações, dados e documentos para livre acesso da 
população, principalmente por meio de canais digitais (excetuando-se casos previstos 
como imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado). 
 Ainda temos o Projeto de Lei n° 2630, de 2020 (Lei das Fake News), enviado a 
Câmara em 2020, e que estabelece normas relativas à transparência de redes sociais e de 
serviços de mensagens privadas, sobretudo no tocante à responsabilidade dos provedores 
pelo combate à desinformação e pelo aumento da transparência na internet, à 
transparência em relação a conteúdos patrocinados e à atuação do poder público, bem 
como estabelece sanções para o descumprimento da lei. 
 Logo, observamos que, sob a égide da Constituição Federal, amparada no inciso 
IX do art. 5°, e através de mecanismos como a LAI, a sociedade brasileira pode participar 
de forma democrática da vida política do país e cobrar cada vez mais responsabilidade do 
poder público, utilizando-se da conexão e da interação proporcionadas pelos canais 
digitais, sobretudo as redes sociais e os serviçosde troca instantânea de mensagens. 
 E com a sedimentação de entendimento vinda do julgamento da ADI 3741 
devemos, de maneira apropriada, lidar com a responsabilidade do exercício do direito à 
liberdade de expressão, à luz dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, de 
forma adequada. Isto porque no campo do Direito Eleitoral, o princípio da segurança 
jurídica exerce função ímpar ao garantir a estabilidade das normas que disciplinam a 
disputa pelo poder, impedindo que lei casuística seja promulgada a fim de preservar o 
poder político e econômico em prejuízo do efetivo interesse popular. Permitir 
modificações casuísticas na legislação que disciplina a disputa eleitoral levaria à 
perpetuação dos mandatários que já estão no poder, uma vez que disporiam dos 
mecanismos para mudar as regras ao sabor de suas conveniências. 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Mendes, Anna Paula Oliveira: É inconstitucional o fim da propaganda partidária gratuita no rádio e na TV. Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2017-nov-17/anna-mendes-fim-propaganda-eleitoral-gratuita-inconstitucional> 
Fonte: Artigo Quinto. Disponível em: < https://www.politize.com.br/artigo-5/liberdade-de-
expressao/#:~:text=A%20liberdade%20de%20express%C3%A3o%20%C3%A9art%C3%ADstica%2C%20cient%C3%ADfica% 
20e%20 de%20comunica%C3%A7%C3%A3o.>

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