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A Cartomante – Uma análise Jurídica Karina Milhorim da Silva Graduada em Psicologia Aluna do 8º período de Direito Membro do Nepedil - 2018 Resumo do Conto Escrito por Machado de Assis: Nasceu em 1839 – Rio de Janeiro Filho de lavadeira e pintor de paredes – se torna jornalista, poeta e escritor Observador perspicaz da sociedade brasileira; Resumo do Conto Rio de Janeiro – 1869 Triângulo amoroso – Rita, Vilela e Camilo Vilela – advogado e foi magistrado Rita – mulher bonita, descrita como dama formosa e tonta Camilo – funcionário público por insistência da mãe, pai lhe queria médico Resumo do Conto Vilela e Rita são casados Vilela e Camilo são amigos de infância Rita e Camilo – gostos em comum, se apaixonam e vivem um romance secreto Resumo do Conto O romance segue até que Camilo recebe uma carta anônima; Camilo se distancia da casa de Vilela Rita procura uma cartomante Camilo recebe um bilhete – vai a cartomante – vai a casa de Vilela Contexto Histórico e Jurídico Segundo Ramos, 2012 p. 55: “os discursos jurídico e social, munidos de suas técnicas, produziram uma forma de pensar a mulher como um sujeito inumano” A mulher, historicamente, é vista como um sujeito de menos valia que o homem. Sua vida era menos valiosa do que a honra do homem; Contexto Histórico e Jurídico Ordenações Filipinas tiveram vigência até o advento do Código Criminal de 1830 – não tinha mais vigência, mas ainda mantinha relação com a cultura da época; “Achando o homem casado sua mulher em adultério, licitamente poderá matar assim a ela, como o adúltero, salvo se o marido for peão e o adúltero fidalgo.” Contexto Histórico e Jurídico O Código Criminal de 1830 e o adultério feminino x adultério masculino; Sanção cominada ao delito estava diretamente relacionada ao autor da conduta delituosa; Contexto Histórico e Jurídico Segundo Ramos, 2012, p. 62: Se Mulher: incorria na prática do crime em quaisquer circunstância Se Homem: só era imposta pena em caso de prática adultério cumulada como sustento e a mantença da amásia Relação com a preservação do patrimônio da família – certeza da prole para o homem. Contexto Histórico e Jurídico O 1890 – 1º Código Penal do Regime Republicano: Diferença na pena para o adultério: Homem x Mulher Contexto Histórico e Jurídico O 1890 – 1º Código Penal do Regime Republicano e passa a existir a excludente de ilicitude da legítima defesa; “operou-se uma adaptação ou uma justa posição entre a legítima defesa e a defesa do bem jurídico ‘honra’ para a construção da tese da ‘legítima defesa da honra” (Ramos, 2012, p. 62) Vamos imaginar que Vilela fosse a Júri Popular para ser julgado pelos assassinatos que cometera Tese da Defesa: legítima defesa da honra (Tese ainda hoje utilizada - Ramos, 2012) Jurados: quem seriam? Contexto Histórico e Jurídico Tribunal do Júri no Brasil Código de Processo Criminal do Império - 1830 – jurados eram os cidadãos eleitores, de reconhecido bom-senso e probidade (Karam, 2017) Contexto Histórico e Jurídico Tribunal do Júri no Brasil Em 1841 - jurado: ser eleitor, saber ler e escrever e ter renda líquida anual entre 200 e 400 mil réis, valores deveriam ser dobrados se proviessem do comércio ou da indústria. Estima-se que 78% da população era analfabeta Contexto Histórico e Jurídico Tribunal do Júri no Brasil Fausto (apud Rangel, 2018, p. 69) que afirma que: “apesar de ter sido promulgada, em 1831, lei que proibia o tráfico de escravos no Brasil, como, majoritariamente, os jurados do Tribunal do Júri eram donos de escravos, os traficantes, quando levados a julgamento, eram absolvidos”. Contexto Histórico e Jurídico Diante desse contexto, podemos imaginar o julgamento de Vilela: Jurados homens, letrados e pertencentes a elite; Julgando outro homem, advogado, que matou a esposa adúltera e seu amante Vilela seria condenado ou absolvido? Contexto Histórico e Jurídico Tribunal do Júri no Brasil Art. 5º, XXXVIII, CF/88 - É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; Contexto Histórico e Jurídico Na Atualidade Ramos, 2012, analisou 6 acórdãos do TJ MG: “em quatro os jurados absolveram ou votaram pela diminuição da pena do réu por entenderem a legítima defesa da honra como um salvo-conduto para se matar a companheira adúltera” Pesquisa – 2000 a 2008 Conclusão Ainda há muito a ser conquistado pela mulher em relação à efetividade de seus direitos; Espero ter demonstrado como a literatura é uma ferramenta rica para o estudo do Direito Bibliografia KARAM, Henriete. Questões teóricas e metodológicas do direito na literatura: um percurso analítico-interpretativo a partir do conto Suje-se Gordo!, de Machado de Assis. Revista Direito GV, v. 13, n. 3, p. 827-865, set. –dez. 2017 RAMOS, Margarida Danielle. Reflexões sobre o processo histórico-discursivo do uso da legítima defesa da honra no Brasil. Revista Estudos Feministas, p. 53-73, jan.-abril, 2012. RANGEL. Tribunal do Júri. 6. ed. São Paulo: Editora Gen, 2018. 336p