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Prof. Dr. Antonio Carlos Martinho Junior 1ª Edição Cosmologia 1 Era uma noite fria e de céu limpo no Parque Nacional do Itatiaia, região sudeste do Brasil. Apesar de toda a escuridão da noite, parecia haver mais estrelas do que de costume. A ausência de iluminação artificial permitia que brilhantes que pareciam cintilar no céu noturno. Seu pai, Henrique, era um famoso professor de Física que possuía uma paixão incomum: saber qual teria sido a origem de todas as coisas. Henrique tinha consciência de que saber a origem de todas as coisas, em seus mais profundos segredos, era algo inconcebível para qualquer mente humana, até mesmo para aquelas que possuíam um talento especial. Durante anos estudara nas melhores universidades brasileiras, mas seu ápice ocorreu no ano de 2008 quando foi estudar num dos mais renomados institutos de pesquisas do mundo, o CERN. Naquela noite de acampamento, Théo viu pela primeira vez uma estrela cadente. Intrigado, foi perguntar ao pai o que era aquele rastro de luz que cruzara o céu bem diante de seus olhos. Será que as estrelas começaram a cair? Ficou com medo. Como todos os pais fazem, Henrique quis explicar o que havia acontecido, mas diferentemente do que normalmente ocorre com a maioria dos pais, Henrique sabia profundamente do que iria falar, só precisava acertar o tom. É, ia ser uma longa noite de perguntas e respostas. - Estamos sendo constantemente bombardeados por diversos meteoritos, mas quando eles entram na atmosfera, essa região que possuir “ar”, ele entra em atrito e se desfaz completamente. O que você viu foi exatamente isso, um meteorito que entrou em nossa atmosfera e foi aniquilado por ela -, explicou o pai, 1. Introdução 2 Co Cosmologia entusiasmado. Encantado com o fato de que nosso planeta está sendo constantemente bombardeado por meteoritos, mas que eles não atingem o solo, Théo lembrou-se imediatamente de uma foto que vira nas aulas de ciências. Era uma foto da Lua, cuja superfície, nas palavras do pequeno, parecia um queijo cheio de buracos. Logo surgiu a pergunta, quase em tom de afirmação: - Mas pai, quer dizer então que na Lua não existe essa tal de “atmosfera”? Então lá não dá para ver estrelas cadentes? - Exatamente, Théo. Henrique ficou surpreso com a destreza intelectual do filho. Apesar de decepcionado com o fato de não poder ver uma estrela cadente caso um dia fosse a Lua, Théo começou a pensar o que seriam todos aqueles pontos brilhantes no céu. Naquele dia, seu pai havia levado um telescópio novinho em folha que havia comprado. Após alguns minutos observando as estrelas, as quais pareciam ter sido colocadas à mão em posições que formavam as mais diferentes figuras, desde picolés a personagens de desenho animado, Théo sucumbiu o silêncio com uma pergunta cuja resposta iria mudar para sempre sua forma de ver as coisas, aliás, todas as coisas. - Pai, de onde vem as estrelas? Talvez você não se pareça com Théo, mas muito provavelmente já parou, nem que por alguns segundos, para olhar o céu numa noite estrelada. A partir desse momento você vai fazer uma viagem no espaço-tempo de 13,7 bilhões de anos. Tudo que será visto aqui servirá de base para a compreensão não somente das demais disciplinas que compõem a grade de Ciências, mas principalmente lhe abrirá portas para você entender por que você está aqui e por que tudo está aqui do jeito como o percebemos. Física, Química e Biologia são disciplinas que tem um objetivo em comum, porém com focos distintos. O importante é ter em mente que elas compõem algo único, que é simplesmente entender a natureza. As questões que responderemos nas próximas páginas tem uma particularidade essencial – elas conduzem a mais perguntas, mais complexas que as primeiras. Isto é ciência! Seja bem-vindo ao seu próprio Universo, mas de um jeito completamente diferente do que você pode imaginar. Cosmologia 3 De uma forma ou de outra, todos os povos que já habitaram a superfície terrestre tentaram explicar a origem do Universo. Entende-se por mito de criação as explicações não baseadas em evidências científicas para a origem do Universo. Dentro dos mitos de criação podemos encontrar toda sorte de ideias. Um deus ou múltiplos deuses, caos e ausência de uma origem são apenas algumas das respostas a questão mais difícil de ser respondida. Afinal de contas, como tudo começou? Os índios Yanomami (América do Sul) e Maori (Nova Zelândia), mesmo separados pela distância, não somente física, como também cultural, compartilham a crença de que o Universo surgiu do nada. Por outro lado, os taoistas (crença de origem chinesa) creem que o Universo surgiu do caos. No Egito antigo existiam diversos mitos de criação e dentro deles podemos contar mais de 10 divindades criadoras. Um dos mitos de criação egípcios conta que o Universo surgiu de uma água primordial. Acreditavam que antes de todas as coisas não havia nada senão trevas e água primordial. Essa água primordial era chamada de Nun, um oceano à semelhança do rio Nilo que continha todos os germes da vida. Já a mitologia grega da criação nos conta que o Universo surgiu do Caos, a existência indistinta. Depois nasceram a Terra (chamada de Gaia) e Eros. O Caos gerou a Noite que, por conseguinte, gerou o Dia. Sob a 2. Mitos de Criação Figura 2.1 – Índios Maoris (esquerda) e Ianomamis (direita), mesmo com suas culturas separadas por milhares de quilômetros, compartilhavam a mesma ideia para explicar a origem do Universo. 4 Co Cosmologia responsabilidade de Gaia ficaram a criação do Céu (chamado de Urano), das Montanhas e do Mar. Gaia uniu-se a Urano e deles originaram-se os Titãs, Réia, Têmis, os Gigantes, Cronos (o tempo) dentre outros. Independente do mito de criação escolhido, a criação do Universo ocorreu em algum momento do passado. Naturalmente, com o avanço das sociedades, os mitos de criação passaram a ser questionados e diversos cientistas de todas as partes do mundo, independente de seus posicionamentos religiosos, políticos ou culturais, passaram a investigar o assunto de maneira cada vez mais profunda. Essas investigações levaram ao desenvolvimento de diversas teorias científicas sobre a origem de tudo. Todas elas, exceto a do Big Bang, foram rejeitadas por não conseguirem explicar, de fato, o Universo como ele se apresenta atualmente. Esse é o mecanismo básico que torna a Ciência diferente de qualquer tipo de religião: você pode testar, a qualquer momento, as propostas e rejeitá-las ou, pelo contrário, testar uma proposta e verificar que ela é realmente válida. Qualquer um pode fazer isso, inclusive você. Basta ser curioso e se empenhar para se tornar um bom cientista. Cosmologia 5 Para o mundo ocidental, os gregos foram os primeiros a tentar explicar a origem do Universo de maneira racional, não apoiada em mitos de criação. Aristóteles propôs, 340 a.C., que a Terra seria o centro do Universo, sob a qual orbitariam todos os outros planetas conhecidos, bem como o Sol. A primeira órbita, a mais próxima da Terra, seria a da Lua, seguida por Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e, por último, a órbita das estrelas (Figura 3.2). 3. Primeiras tentativas baseadas na razão Figura 3.1 – O filósofo grego Aristóteles foi o primeiro, pelo menos na história ocidental, a tentar explicar a origem do Universo. Figura 3.2 - Modelo Heliocêntrico proposto por Aristóteles: o planeta Terra fica no centro do Universo e o Sol, a Lua e os demais astros giram em torno dela. 6 Co Cosmologia Alémde posicionar a Terra no centro do universo, Aristóteles também afirmou que todos os corpos que a orbitavam eram formados por uma substância genérica chamada de Quintessência, ou Éter. Ainda, entre a Terra e a Lua, existiam todos os elementos que nos tornavam únicos na imensidão do Cosmo. Esses elementos, o ar, a terra, a água e o fogo, permitiam a existência de reações quando estivessem fora do seu lugar natural. Mas como assim? Aristóteles acreditava que uma pedra só caía por que seu local de origem não é no ar, e sim na terra. Essa foi a primeira explicação baseada no racionalismo, mesmo que incorreta, para a gravidade. A ampliação das ideias sobre a gravidade permitiu a Aristóteles chegar a conclusão de que um um objeto mais pesado que outro cai mais rapidamente. Novamente, Aristóteles estava enganado, e esse erro perdurou por mais de 1800 anos até ser corrigido por Galileu Galilei. Talvez você esteja se perguntando por que um erro como esse durou tanto tempo. Para compreender isso devemos voltar nossos olhos para a história daquela época. A Igreja Católica dominou toda a Europa durante todo o primeiro milênio, impondo suas teorias sobre a origem do Universo. Posicionar a Terra no centro do Universo dava aos homens um destaque de altíssima importância perante a criação divina. Assim, durante quase dois milênios perdurou a teoria incorreta de Aristóteles. Contudo, a ascensão do protestantismo na Europa na segunda metade do século XVI começou a abalar o poder da Igreja Católica. Dentro de pouco tempo alguns pensadores começaram a questionar a veracidade das proposições aristotélicas quanto ao seu pensamento geocêntrico. O polonês Nicolau Copérnico foi o primeiro intelectual a questionar o geocentrismo aristotélico. Copérnico, mesmo sem a ajuda de um telescópio - que ainda não tinha sido inventado - foi capaz de afirmar que na verdade não era o Sol que orbitava a Terra, mas pelo contrário, a Terra orbitava o Sol. Após a invenção do telescópio, que originalmente foi criado para a guerra, as coisas podiam ser efetivamente vistas. Galileu Galilei, num súbito genial, resolveu apontar pela primeira vez o telescópio para o céu. Desse fato em diante, toda a história da humanidade tomaria um novo rumo. As observações de Galileu Galilei apoiavam a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico. Todavia, a divulgação dos resultados de suas observações não foram bem vistas pela Igreja Católica. Galileu Galilei, para evitar ser queimado vivo pela inquisição, foi obrigado a afirmar que sua teoria estava incorreta e, daí em diante, viver em prisão domiciliar pelo resto da sua vida. De qualquer forma, a certeza de um mundo geocêntrico havia começado a ruir. Era só uma questão de tempo até outros cientistas começarem a publicar trabalhos afirmando a veracidade da descoberta de Galileu Galilei. Não tardou muito e Johannes Kepler foi o primeiro cientista a dar um tratamento matemático as observações do astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, o qual havia feito medições celestes com precisão não vista na época. Kepler foi Cosmologia 7 chamado por Brahe para realizar os cálcuos necessários para comprovar a teoria do geocentrismo. Contudo, de posse das medições realizadas por Brahe, Kepler acabou comprovando, de maneira inverossímil, a teoria heliocêntrica. Pela primeira vez na história a astronomia era descrita por leis físicas, dando origem a um novo ramo da ciência: a Astrofísica. Difícil imaginar alguém que tenha nascido prematuro, sem pai e que tenha sido abandonado pela mãe aos 3 anos de idade possa revolucionar o mundo da maneira que Isaac Newton fez. Newton foi o primeiro cientista a não somente dar uma explicação correta para o motivo pelo qual os objetos caem, mas também a criar uma nova matemática para explicar a gravidade. E Deus então disse: Faça-‐se Newton! E tudo se iluminou. Figura 3.3 – O britânico Isaac Newton (esquerda) e o alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (direita). Ambos desenvolveram o cálculo independentemente e, por isso, existe uma eternal brig pela “paternidade” de tal ferramenta matemática. 8 Co Cosmologia Compreender a força da gravidade é de vital importância para entender o mecanismo de evolução do Universo. A gravidade é uma força que age a distância (não precisa haver contato) e é sempre uma força atrativa. Matematicamente podemos descrever a força da gravidade pela equação da gravitação universal: Como podemos ver pela equação acima, a força da gravidade é tão maior quanto forem maiores as massas dos objetos (produto entre M e m). Por outro lado, ela diminui com o quadrado da distância, o que significa que quanto mais afastados estiverem os objetos, menor será a força de atração entre eles. Assim, massa e distância são elementos fundamentais que devemos levar em consideração quando falamos em gravidade. Para ilustrar matematicamente, vamos considerar a força da gravidade existente entre a Terra e o Sol. Supondo que a massa da Terra seja igual a 6.1024 Kg, a massa do Sol igual a 2.1030 Kg, a distância que os separam igual a 150 milhões de quilômetros e a constante da gravitação universal (G) igual a 6,7.10-11 N.m2/kg2, substituindo esses valores na equação acima temos: Cosmologia 9 Apesar da grande fama, Newton não tinha as Ciências naturais como principal objeto de estudo. Grande parte de todo seu trabalho estava voltada para a Astrologia e Alquimia. De fato, acredita-se que apenas 30% de sua obra está voltada para a Ciência. Embora pareça simples, para Newton desenvolver as equações que regem o Universo em seu aspecto mascroscópico, ele antes precisou criar um novo ramo da matemática: o cálculo. Isso mesmo, Newton não somente desenvolveu uma nova interpretação do Universo como também criou o cálculo. O cálculo diferencial e integral, ensinado somente em cursos superiores no Brasil, é de fundamental importância para compreender muitos aspectos da Física, da Química, da Biologia, entre muitos outros. 10 Cosmologia A teoria do Big Bang é, de acordo com o conhecimento geral, a teoria que explica como tudo começou. Correto? Não! O Big Bang não explica como o Universo surgiu, mas como ele evoluiu após seu início. Esse conceito errado acerca do Big Bang é um dos responsáveis pela crítica inadvertida de diversos grupos que afirmam que o Big Bang não prova absolutamente nada. Pelo contrário, todos os dados que constituem o Big Bang são comprovadamente verdadeiros. A descoberta de que as galáxias estão se afastando uma das outras pelo cientista Edwin Hubble em 1929 levou ao desenvolvimento da teoria do Big Bang em 1946 pelo cientista George Gamow, embora esse nome tenha sido originado de outra forma. Fred Hoyle, um astrônomo britânico, discordava das conclusões apresentadas por Hubble, visto que a ideia aceita até então era a de que o Universo era estacionário, ou seja, as estrelas estavam localizadas em pontos fixos no Universo. Durante uma entrevista ao programa The Nature of Things da rádio BBC, Hoyle utilizou o termo “Big Bang” para ironizar a teoria de Hubble, contudo, acabou dando o nome à teoria mais aceita hoje. Anos mais tarde, Hoyle veio a afirmar que o termo utilizado por ele no programa não tinha por finalidade satirizar a teoria de Hubble, mas apenas demonstrar o abismo que diferenciava as duas teorias. Para desenvolver o conceito básico do Big Bang, os cientistas usaram um raciocínio lógico bem simples. Se hoje vemos que as galáxias estão se afastando umas das outras, ao voltarmos no tempo, elas estariam mais próximas. Seria como retroceder um filme em DVD, assistindo-o do fim para o começo. Quanto mais retrocedermos,mais próximas elas estariam até um ponto em que todas estariam juntas, ou seja, no começo de tudo. 4.1 Qual seria o ponto zero? Em cosmologia, o máximo que podemos voltar no tempo é até o que chamamos de era de Planck. Nesse momento do Universo as quatro forças fundamentais (força nuclear forte, força nuclear fraca, gravidade e eletromagnetismo) estavam unificadas e as partículas elementares ainda não existiam. Essa era está a 10-43 segundo do ponto zero absoluto e o Universo nesse tempo possuía 1,6.10-36 m. Pelo fato de que as forças fundamentais estavam unificadas, não faz sentido contar o começo do tempo como sendo o ponto zero real, mas sim após o tempo de Planck, o qual tomaremos aqui como sendo o ponto zero. Quando voltamos ao ponto zero, em que o espaço e o tempo ainda não existiam, toda a matéria que existe em nosso Universo estava contida num único ponto que é menor do que um átomo (algo menor que o comprimento de Planck). Contudo, ela 4. Big Bang Cosmologia 11 ainda não era matéria propriamente dita, era energia. Esse ponto de energia, por alguma causa ainda desconhecida, começou a se expandir. Entre 10-43 e 10-35 segundo o Universo se expandiu até atingir aproximadamente 80 vezes o tamanho da Terra. Nesse período de tempo, a energia começou a criar matéria e a força nuclear forte, força nuclear fraca e o eletromagnetismo estavam unificadas. Porém, a gravidade havia se separado desde o início desse período. 4.2 Como essa energia se transformou em matéria Einstein, na Teoria da Relatividade Geral, previu por meio de suas equações uma equivalência entre massa e energia, ou seja, que uma poderia ser transformada na outra. Essa descoberta deu origem ao desenvolvimento de reatores nucleares para gerar eletricidade pela transformação de parte da matéria que constitui o combustível nuclear – o Urânio. Além disso, essa descoberta deu suporte ao modelo do Big Bang, uma vez que explicava como a energia contida nesse ponto pode ser transformado em matéria. A equação que demonstra isso é apresentada abaixo: em que E é a energia, m é a massa dada em Kg e c é a velocidade da luz no vácuo, aproximadamente 3.108 m/s. Diferentemente do que ocorrem Figura 4.1 – Um resumo da evolução do Universo. C réd itod : N A SA 12 Cosmologia em reatores nucleares ou em bombas atômicas, em que a massa se transforma em energia, no jovem Universo a energia se transformou em massa, dando origem a matéria. 4.3 A assimetria do Big Bang Entre 10-43 e 10-35 segundo após o Big Bang a matéria começou a ser formada. Contudo, antimatéria também era formada e, se ambas fossem criadas na mesma proporção, haveria uma aniquilação total e nada disso existiria. Dessa forma, de acordo com os cálculos dos cientistas, para cada 100.000.000 partículas de antimatéria foram criadas 100.000.001 partículas de matéria. Esse desequilíbrio foi o suficiente para criar o Universo como o conhecemos hoje. Talvez você não tenha notado, mas tudo que vemos a nossa volta, inclusive nós mesmos, é formado por restos de uma aniquilação desbalanceada ocorrida a 13,7 bilhões de anos. Incrível! Ainda, entre 10-36 e 10-33 ou 10-32 segundo o Universo experimentou uma fase de crescimento extremamente rápida que ficou conhecida como “expansão inflacionária”. Isso explica o fato do universos aparecer homogêneo e isotrópico. Figura 4.3.1 – Na imagem (a) vemos o processo de conversão de matéria em energia pela aniquilação de um elétron com um pósitron. Em (b) vemos como energia pode ser transformada em matéria. Cosmologia 13 4.4 Formação dos primeiros átomos Durante seus momentos iniciais de vida o Universo era extremamente quente. Mas, quente quanto? A resposta mais correta a essa pergunta seria: algumas bilhões de vezes mais quente que o centro do Sol. A essa temperatura, o cientistas acreditavam que as primeiras partículas que se formavam deveriam se assemelhar a um gás, na verdade, um plasma, que nada mais é do que um gás ionizado. Contudo, os resultados de novas pesquisas apontam algo diferente. Aparentemente, as partículas apresentavam-se no Universo primitivo como um líquido. Pelo fato de a temperatura ser extremamente alta, todas as partículas fluíam livremente. Isso impedia que as partículas se unissem para formar os átomos. Todavia, esse estado do Universo durou uma pequena fração de segundos. Com 1 milionésimo de segundo de vida o Universo se expandiu até chegar a aproximadamente 8 vezes o tamanho do Sistema Solar. Conforme se expandia a temperatura reduzia, reduzindo também a energia das partículas. Quando o Universo possuía entre 10-5 e 10-3 segundo de vida os primeiros hádrons começaram a se formar. Hádrons são partículas originadas pelas união de quarks que são mantidos dessa forma pela força nuclear forte. Exemplos de hádrons são o próton e o nêutron. Por enquanto não se preocupe com a estrutura da matéria, mais adiante dedico um capítulo só a isso. Após a formação dos hádrons (Era Hadrônica) começaram a se formar os Léptons, cuja partícula mais conhecida é o elétron. Isso ocorreu entre 10-3 e 1 segundo após o Big Bang. Com a temperatura um pouco mais baixa devida a contínua expansão do Universo, os prótons e nêutrons puderam se unir formando o esboço dos primeiros átomos. Os núcleos de Hidrogênio e Hélio foram os primeiros a serem formados, mas ainda não eram átomos propriamente ditos pois a alta temperatura (10 milhões de graus Celsius) ainda não permitia que os elétrons se unissem a eles. Esse estágio do Universo durou cerca de 300.000 anos. 14 Cosmologia 4.5 O desespero de Penzias e Wilson Arno Penzias e Robert Wilson trabalhavam na construção de um antena para a Bell Labs, em 1964, que tinha como finalidade estudar ondas de rádio vindas do espaço. Ao verificar os dados obtidos pela antena, observaram um ruído no sinal que vinha de todas as partes do cosmo, o qual eles não conseguiam explicar. Após eliminar todas as possibilidades possíveis, incluindo pombos e seus excrementos que estavam na antena, Penzias e Wilson publicaram um artigo relatando suas observações. Posteriormente, Robert Dicke identificou esse ruído como sendo a Radiação Cósmica de Fundo, um tipo de eco do Big Bang. Uma das características da Ciência é a capacidade de fazer previsões teóricas para serem testadas experimentalmente. Caso uma previsão teórica seja demonstrada experimentalmente, confirmamos a teoria. Isso foi exatamente o que aconteceu com a radiação cósmica de fundo. Ela havia sido proposta em 1948 pelos cientistas George Gamov, Ralph Alpher e Robert Herman. Mas será que você é capaz de observar ou ouvir essa radiação cósmica de fundo? A resposta é sim, e provavelmente você já fez isso. Sabe quando estamos sintonizando um rádio e entre as estações ouvimos um chiado irritante? Ou na televisão, que quando mal sintonizada aparece uma tela cheia de chuviscos acompanhada pelo mesmo chiado que você ouve no rádio? Então, cerca de 1% desse chiado e dos chuvisco da tela são radiação cósmica de fundo, a mesma encontrada por Penzias e Wilson. Você está ouvindo os ecos da formação dos primeiros átomos. Figura 4.5.1 - Antena construída por Penzias e Wilson. Figura 4.5.2 – Os cientistas limpam os excrementos dos pombos numa tentativa desesperada de identificar a origem do ruído. Cosmologia 15 Conforme o Universo continuava a se expandir e resfriar, os elétrons puderam se unir aos núcleos atômicos de Hidrogênio e Hélio formando então os primeiro átomos. Com isso, a quantidade de elétrons livres diminuiu rapidamente e os fótons que antesinteragiam livremente com eles para formar núcleos de hidrogênio agora podiam vagar livremente pelo jovem Universo, resultando num desacoplamento entre radiação e matéria. Tal desacoplamento recebeu o nome de recombinação. Com o passar do tempo, os fótons começavam a se resfriar ainda mais até atingirem a temperatura de 2,7 K. De acordo com a teoria do Big Bang, a radiação do espaço que se mede hoje teve origem em uma superfície esférica que chamamos de superfície de última difusão. Essa superfície de difusão representa o conjunto de pontos do espaço em que o processo de recombinação ocorreu. 4.6 Formação de átomos mais pesados Até o momento vimos como os primeiros átomos foram criados. Hidrogênio e Hélio são átomos leves que compõem nosso Universo e eram os únicos durante os 200 milhões de anos de vida do universo. Mas como será que todo o restante da tabela periódica foi originado? Figura 4.5.3 – Evolução da qualidade das imagens da radiação cósmica de fundo. 16 Cosmologia O Universo não foi gerado de maneira perfeita, e por isso muito cientistas usam o termo “Criação Imperfeita” para citar o Big Bang. Tal imperfeição deve-se a pequenas oscilações em sua estrutura, as quais foram detectadas pela sonda espacial WMAP, lançada em 2001 ao custo de US$ 150 milhões. Essas imperfeições foram descobertas pelo estudo mais preciso da radiação cósmica de fundo e delas se originaram o que hoje chamamos de estrelas e galáxias. Essas variações podem ser vistas numa das mais fantásticas imagens obtidas pelo ser humano (imagem do centro da página). A imagem da sonda WMAP mostra que Penzias e Wilson, assim como os demais cientistas, estavam enganados quanto ao fato de acreditarem que a radiação cósmica de fundo era igual em todas as direções. Contudo, esse engano só poderia ser desfeito com os sensores altamente sensíveis da sonda WMAP, não diminuindo em nada a importância das descobertas realizadas por esses cientistas. Uma análise da imagem da radiação cósmica de fundo obtida pela sonda WMAP nos revela regiões de diferentes densidades, demonstrando que regiões mais densas formaram agrupamentos de galáxias. Já as regiões de baixa densidade crescem e tornam-se espaço entre as galáxias. Nessas imperfeições existia uma grande quantidade de nuvens de átomos de Hidrogênio. As nuvens se aproximavam uma das outras e se uniam graças a força da gravidade. Com o passar do tempo mais e mais átomos de Hidrogênio são adicionados à nuvem. Uma estrela nasce quando a alta temperatura dessas nuvens fez com que os átomos de Hidrogênio sofram fusão nuclear emitindo luz e formando novos núcleos de Hélio. Os átomos mais pesados do que o Hidrogênio e o Hélio se formaram pela fusão desses primeiros núcleos. Por exemplo, o carbono foi formado pela fusão de 3 núcleos de Hélio. Dois desses novos núcleos de Carbono posteriormente se fundiram formando o primeiro núcleo de magnésio. O último núcleo a ser formado foi o de Ferro, o qual se originou da fusão de núcleos de Silício. Entretanto, o núcleo de Ferro é altamente estável e nem mesmo as altas temperaturas existentes no Cosmologia 17 núcleo das estrelas eram capazes de fazê-los fundir. Nesse momento o Universo já se encontra com 500 milhões de anos de idade. Os elemento mais pesados que o Ferro só foram formados graças ao aparecimento de grandes explosões chamadas Supernovas. Quando as estrelas esgotavam seu combustível nuclear elas entram em colapso e explodem liberando uma quantidade enorme de energia. Para você ter uma vaga ideia, a quantidade de energia liberada por uma supernova pode atingir facilmente o equivalente a 1026 ogivas nucleares. Toda esse energia foi suficiente para conseguir fundir os núcleos de Ferro, criando elementos mais pesados do que ele, como o Molibdênio, Zinco, Prata, Ouro, etc. 4.7 Criação de matéria a partir do vácuo Se o Big Bang não demonstra como a matéria surgiu na natureza, mas somente como ela evoluiu, como poderia ser criada a matéria a partir do nada? Faça um exercício mental. Teste as hipóteses mais básicas para a criação física de algo. Podemos imaginar que não havia absolutamente nada antes do Big Bang, nem matéria, nem espaço, nem tempo. Simplesmente do nada surge a matéria, o espaço e o tempo. A questão é: se não havia nada, como por ter surgido algo? De onde veio tudo isso? Por outro lado podemos pensar que não houve um começo. Tudo sempre existiu. Estranho isso, não? Esse é o pensamento básico de uma teoria que tentar explicar a origem do Universo que é conhecida como teoria do Ambiplasma, proposta pelo engenheiro elétrico sueco Hannes Alfvés, ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1970. De acordo com essa teoria, o Universo, que nesse momento está se expandindo, chegará ao seu limite e, a partir desse ponto, a força da gravidade irá iniciar um movimento oposto, de forma que ao final de alguns bilhões de anos todas as estrelas, galáxias, nebulosas e outros irão se condensar num único ponto. Toda matéria do Universo estará contida nesse ponto e, em algum momento, por algum motivo, irá explodir violentamente num novo Big Bang, onde novas estrelas, novos planetas e, quem sabe, novas formas de vida, se formarão. Isso significa que o momento atual em que vivemos é apenas um de infinitos ciclos de expansão e contração do Universo. A teoria do Ambiplasma é, a primeira vista, um pouco difícil de se compreender. Afinal de contas, como algo pode não ter tido um começo? Se você parar para pensar um pouco, também é estranho aceitar que algo surgiu do nada, não é? O problema é compreender que algo, para poder existir, tem que ter tido obrigatoriamente um começo. É assim que funciona conosco. Para nós existirmos nós nascemos e, consequentemente morreremos. Disso, acreditamos, de forma arrogante, que o Universo deve funcionar da mesma maneira que o seres vivos: deve nascer e morrer. Mas lembre-se de uma coisa simples: a vida surgiu, na face da Terra, a 3,5 bilhões 18 Cosmologia de anos e o Universo possui 13,7 bilhões de anos. Além disso, o Universo evoluiu de forma a possibilitar a existência da vida. Não faz o menor sentido tentarmos aplicar leis apoiadas em nosso “mundinho” terrestre para tentar entender a origem de tudo que nos cerca. 4.7.1 Sim, matéria pode ser criada a partir do vácuo Se lhe parecia absurdo o fato de que, de acordo com a teoria do Big Bang, a matéria por algum motivo surgiu do nada, acredite que isso é verdadeiramente possível. Muito recentemente, cientistas do Laboratório Nacional do Acelerador Fermi (Dürr et al. - Fermi Lab – USA)1 demonstraram que as flutuações do vácuo quântico podem criar matéria. A primeira coisa a ser compreendida é a diferença existente entre o vácuo proposto pela física clássica, o qual não possui absolutamente nada por definição, e o vácuo quântico, no qual, pares de partículas virtuais surgem e desaparecem a todo momento. Em particular, o vácuo descrito pela teoria quântica, mais precisamente pela Cromodinâmica Quântica, é uma mistura de glúons e pares de quark-antiquark. 1. S. Dürr, Z. Fodor, J. Frison, C. Hoelbling, R. Hoffmann, S. D. Katz, S. Krieg, T. Kurth, L. Lellouch, T. Lippert, K.K. Szabo, G. Vulvert. Ab-initio Determination of light Hadron Masses. Science, v. 322, p. 1224-1227, 2008. Cosmologia 19 Olhe ao seu redor. Quantas dimensões você é capaz de perceber? Existem 3 dimensões visuais facilmente perceptíveis: comprimento, altura e profundidade (eixos x, y e z, respectivamente). Contudo, além dessas dimensões ainda temos que considerar uma quarta dimensão, o tempo. O tempo é uma dimensão essencial para localização no espaço. Vamos supor que irá acontecer uma festa na casa de um amigoe você é um dos convidados. Quais as informações que você precisa saber para ir a festa? Primeiramente o endereço, que nada mais é que uma representação bidimensional. Contudo, seu amigo mora em um prédio e você precisa saber então qual é o apartamento que ele mora, uma vez que não adianta chegar no local e entrar em outro apartamento. Assim, temos 3 dimensões envolvidas (localização da rua e altura). Isso já é o suficiente para chegar na festa? Ainda não. Você precisa saber qual é a data e hora da festa, pois do contrário você até chegaria no local correto, mas não necessariamente no momento da festa. Assim, o mais correto seria indicar também a data e a hora. 5. Dimensões e forma do Universo 20 Cosmologia Agora, com esse convite em mãos, podemos chegar no lugar e na hora corretos. Como você pode ver, a nossa percepção de mundo é quadridimensional. Mas temos um grande problema para resolver: o nossos Universo, para ser estável como se apresenta, deve possuir 11 dimensões. Isso mesmo, não foi um erro de digitação. São necessárias 11 dimensões. Talvez seja difícil compreender essas 11 dimensões, mas temos que entender que essas dimensões possuem tamanhos que nossa percepção física não consegue distinguir. Para facilitar, vamos a um exemplo: imagine-se dentro de um transatlântico. Quantas dimensões podemos perceber? Quatro, correto? Agora saia do transatlântico e o observe a uma certa distância. Ele acabou de se transformar em 3 dimensões (comprimento, altura e profundidade). Quando esse transatlântico se afasta suficientemente, você passa a vê-lo como um objeto bidimensional no horizonte. No momento em que ele se afasta muito, seus olhos conseguem distingui-lo como apenas um ponto, ou seja, algo unidimensional. Veja que conforme nos afastamos do objeto a nossa percepção de dimensões vai sendo reduzida. O que era quadrimensional inicialmente passou a ser unidimensional num segundo momento. O Universo é assim. Suas demais dimensões estão acima da nossa capacidade física (não cognitiva) de percepção. 6.1 Universo ou Multiverso? Alguns cálculos de física teórica nos mostram a possibilidade matemática de existirem diversos Universos paralelos, provavelmente infinitos. Contudo, apesar desse fato ficar apenas no campo teórico, há um impacto emergente em outras áreas do conhecimento, principalmente na filosofia, em que diversas Cosmologia 21 especulações são feitas em respeito a esse tema. De acordo com Brian Greene, autor do livro The Hidden Reality, algumas observações dão suporte a possibilidade da existência de Universos paralelos. Uma delas é o fato da existência de uma fase inflacionária do nosso Universo que permitiria a existência de inúmeros outros Universos com diferentes características do nosso. Contudo, fica claro para os cientistas o fato de que não podemos testar algumas evidências que sugerem que vivamos em um Multiverso, visto que nosso horizonte observacional se tornou transparente a radiação cerca de 300.000 anos após o Big Bang, e assim perdemos todas evidências que poderiam provar ou refutar essa hipótese. Partindo do princípio que existem Universos paralelos ao nosso, ainda assim não podemos fazer conjecturas sobre isso, mesmo por que muitos deles podem não ter formado estrelas e galáxias, outros podem ter criado de uma maneira diferente que não possibilitem a vida como a conhecemos ou, ainda, que possibilite que existência de vida em quantidade de sítios muito maiores do que encontramos em nosso Universo. Toda e qualquer afirmação sobre o que é, ou mesmo se existe, é pura especulação e deve ser tratada com ceticismo até que provas concretas (observações diretas ou indiretas, medidas, etc.) sejam obtidas. Enquanto isso, vamos deixar que outras áreas do conhecimento, como as artes, desfrutem dessas novas possibilidades. 6.2 Possíveis formas do Universo Compreender a forma assumida pelo Universo durante sua evolução não é uma tarefa simples. Em primeiro lugar temos que ter em mente que a geometria que nos foi ensinada na escola talvez não tenha validade nenhuma para descrevê- la. Além disso, entender as possíveis formas do Universo será de importância primordial para o desenvolvimento dos possíveis cenários para um eventual “fim do Universo”, o qual é tratado em detalhes no capítulo 7. Basicamente, a geometria que nos é ensinada na escola é o que chamamos de Geometria Euclidiana. Essa geometria trata de figuras desenhadas no plano, como por exemplo numa lousa ou no próprio papel. De acordo com a geometria euclidiana, 22 Cosmologia entre outras coisas, a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180º e retas paralelas são retas que nunca se cruzam. Todavia, quando transportamos os triângulos e as retas paralelas para a superfície de uma esfera, tudo aquilo que aprendemos não possui mais validade, ou seja, a soma dos ângulos internos de um triângulo é maior do que 180º e retas paralelas podem se cruzar. Estranho? Não compreendeu? Então vamos fazer alguns exercícios mentais para deixar isso mais claro. Para isso você precisará de uma esfera qualquer, seja uma bola (futebol, basquete, etc...), uma fruta ou um globo terrestre. Aqui irei utilizar um globo terrestre para facilitar as coisas. Imagine-se em algum ponto do pólo norte. Desça para o sul até a linha do equador. Chegando ao equador, vire para o leste (𝛉=90º) e ande algumas centenas de quilômetros. Vire novamente para o norte (𝛉=90º) e caminhe até o pólo norte. Perceba que você chegou ao mesmo ponto de partida e que, somente o fato de ter virado para o leste e, em seguida, para o norte, já temos uma soma de ângulos igual a 180º, isso sem contar com o ângulo entre as duas retas no pólo norte (imagem abaixo). Note também que esse ângulo será tanto maior quanto maior for a distância que você percorrer sob a linha do equador. Em relação às retas paralelas, experimente amarrar duas canetas, uma à outras, e traçar retas paralelas na superfície de uma bola. Como você pode girar livremente sobre a superfície da bola, as retas paralelas podem se cruzar e, não obstante, as retas cruzam com elas mesmas. À esse tipo de geometria damos o nome de Geometria não-Euclidiana. Sobre esse tipo de geometria o matemático e filósofo norte- americano Matthew Ryan escreveu: “O estudo da Geometria Não Euclidiana não traz mais aos estudantes do que cansaço, vaidade, arrogância e imbecilidade. O espaço Não Euclidiano é a falsa invenção dos demônios, que prazenteiramente ocupam os pensamentos obscuros dos Não Euclidianos com falsos conhecimentos. Os Não Euclidianos, tal como os sofistas, parecem não se aperceber de que os seus pensamentos passaram a ser obscurecidos pelos estímulos dos espíritos malignos.” Cosmologia 23 Em novembro de 2002 o matemático russo Grigori Yakovlevich Perelman colocou na internet a resolução da conjectura de Poincaré, o qual afirma, resumidamente, que a superfície tridimensional de uma esfera é o único espaço tridimensional fechado em que todos os contornos ou caminhos podem ser encolhidos até chegarem a um simples ponto. Durante alguns anos os mais renomados matemáticos debruçaram- se sobre a resolução de Perelman tentando compreendê-la. Na época, o matemático Tomasz Mrowka, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), disse: “Estamos desesperadamente tentando entender o que ele fez”. Em agosto de 2010, Perelman foi reconhecido oficialmente pelo Instituto de Matemática de Clay por ter resolvido a conjectura de Poincaré. Como prêmio Perelman deveria ter recebido US$ 1 milhão, mas o recusou 2 vezes afirmando que o reconhecimento já era suficiente. Para a Cosmologia, a resolução de Perelman temprofundas implicações, uma vez que ela permite que se faça um catálogo de todas as formas tridimensionais possíveis no Universo, incluindo a forma do próprio Universo. Possíveis formas do Universo Ainda não se sabe ao certo qual é a forma que nosso Universo possui, mas diversos estudos propões formas diferentes e suas consequências. Contudo, um importante parâmetro deve ser levado em consideração para avaliar as consequências de cada forma para o destino do Universo. Esse parâmetro é chamado de Parâmetro de Densidade (Ω), e é a relação entre a densidade média de matéria e um valor crítico de densidade. matematicamente, podemos representa-lo assim: em que � representa a densidade média de matéria, 𝜌c o valor crítico da densidade, G a constante gravitacional de Newton e H o parâmetro de Hubble. Aqui, iremos apresentar 3 formas e suas consequências para o Universo. Cada uma das 3 formas está relacionada a um valor de Ω. Caso Ω=1, teremos um Universo plano e a geometria euclidiana tem validade. Contudo, se Ω>1 teremos 24 Cosmologia um Universo fechado como uma esfera e, portanto, irá valer a geometria não euclidiana. Ainda, se Ω<1, teremos um Universo aberto (curvado negativamente), como se fosse uma cela de cavalo e, assim, teremos uma geometria hiperbólica. Cosmologia 25 6.1 Estrelas Vimos anteriormente no item 5.6 desse livro que as primeiras estrelas surgiram do acúmulo de nuvens de átomos de hidrogênio em “rachaduras” na parede do Universo. Essa nuvens eram atraídas pela força da gravidade e, quando a pressão e a temperatura eram altas o suficiente, os átomos de hidrogênio se fundiam formando Hélio. Estrelas são corpos celestes formadas por plasma. A alta massa de uma estrela faz com que a sua gravidade seja sempre alta, o que provoca as reações de fusão nuclear. Nas reações de fusão nuclear, parte da matéria é convertida em energia. Essa energia é emitida pelas estrelas por três formas principais: radiação eletromagnética; vento solar1 e neutrinos2. Para que essas reações de fusão nuclear ocorram, a estrela deve possuir massa superior a um valor crítico, o qual é aproximadamente igual a 81 vezes a massa de Júpiter. Sendo assim, para que uma estrela promova reações de fusão nuclear, sua massa deve ser superior a 154.1027 Kg. Estrelas estão se formando por toda a parte do cosmo. A Nebulosa de Orion (M42) é a região de formação massiva de estrelas mais próxima da Terra, estando a uma distância de 1344 anos-luz. Esta nebulosa pode ser vista a olho nu no céu noturno e parece ter um diâmetro de 24 anos-luz. 6.1.1 Quantas estrelas existem? As estrelas não estão espalhadas de maneira uniforme pelo Universo. Normalmente elas estão agrupadas em galáxias com gás e poeira interestelares. Cada galáxia possui, geralmente, centenas de bilhões de estrelas e, apenas em nosso Universo observável, existem mais de 100 6. O Universo atual 26 Cosmologia bilhões de galáxias. Em 2003, os astrônomos acreditavam que existiam cerca de 70 sextilhões (7.1022) de estrelas no Universo observável. Contudo, em 2010, tal estimativa foi revisada e acredita-se que existam 300 sextilhões de estrelas (3.1023) apenas no universo observável. 6.1.3 Dinâmica das estrelas As estrelas mantém a dinâmica de suas forças estáveis por bilhões de anos, algumas delas por até trilhões de anos. Tal equilíbrio é dado pela força da gravidade – que tende a colapsar toda a matéria para o centro da estrela e produz altas temperatura e pressões – e, como consequência dessas altas pressões e temperatura tem-se as reações de fusão nuclear, que tendem a fazer a estrela expandir. Dessa forma, se chamarmos de G a força da gravidade em uma estrela e F a força de expansão causada pelas fusões nucleares. Quando uma estrela encontra-se em equilíbrio temos G = F o qual é mantido dinamicamente. Conforme o núcleo vai esgotando o combustível, G passa a ser maior que F, e a estrela encontra-se a caminho da morte. Figura 7.1 – Nebulosa cabeça de cavalo. Cosmologia 27 Nebulosa Bumerange Nebulosa de Orion Nebulosa Olho de Gato Nebulosa Carangueijo Nebulosa Esquimó Nebulosa Helix 28 Cosmologia 6.1.4 Morte de uma estrela No núcleo da estrela, ao esgotar todo seu combustível nuclear, a força da gravidade prevalece e toda a massa da estrela colapsa em seu interior. Contudo, algumas reações de fusão nuclear ainda ocorrem nas camadas mais superiores da estrela. O núcleo, ao se contrair, eleva sua temperatura, fazendo com que as camadas superiores também se aqueçam e expandam. Nesse ponto, temos o que chamamos de gigante vermelha. Quando esse momento chegar para o nosso Sol, seu raio atingirá um tamanho que estará além da Terra. Após queimar todo o hidrogênio, o núcleo começa a fazer fusão nuclear dos átomos de Hélio, formando carbono. Ao esgotar todo carbono, a estrela se expande e resfria. As camadas superiores também se expandem e acabam liberando matéria, a qual irá se acumular ao redor da estrela formando uma nebulosa planetária, como visto na figura a seguir. Dependendo da massa final da estrela, ela pode virar uma estrela de nêutrons ou um buraco negro, como veremos nos próximos capítulos. 6.2 Supernovas Supernovas são grandes explosões que ocorrem em estrelas com aproximadamente 10 vezes a massa do Sol e que queimaram todo o seu combustível nuclear. Essas explosões são responsáveis pela formação dos átomos mais pesados que o Ferro devido as altas temperaturas produzidas nessas explosões, o que promove as fusões de núcleos atômicos pesados. Com o passar do tempo, as reações de fusão nuclear vão esgotando o Hidrogênio e o Hélio Cosmologia 29 existente no núcleo da estrela. Contudo, as estrelas ainda possuem massa e pressão suficientes para fundir átomos de carbono, criando elementos mais pesados que ele. Gradualmente, camadas de matéria vão se formando de modo que a região mais densa encontre-se no núcleo da estrela. Ao atingir uma determinada massa, o material presente no centro da estrela passa a emitir energia e neutrinos. Logo a seguir as camadas externas explodem, lançando até 90% da matéria presente na estrela. Se a massa restante for equivalente a 1,5 massas solares, os elétrons colapsam com o núcleo atômico, mas precisamente com os prótons e formam nêutrons, dando origem as estrela de nêutrons ou Pulsar. Contudo, se a massa remanescente for superior a 3 massa solares, o núcleo se mantém, porém continua a colapsar e dá origem a uma singularidade no espaço-tempo conhecida como Buraco negro. 6.3 Buracos negros Ilustração artística de uma explosão supernova na galáxia NGC 1260 Créditos: NASA Imagem da emissão de raios gama da Supernova Rosetta Stone. Créditos: NASA Supernova menageire. Créditos: NASA Remanescente dupla da Supernova DEM L316. Créditos: NASA 30 Cosmologia Diferentemente do que se pode imaginar, um buraco negro não é um ponto vazio do espaço, pelo contrário. Quando uma supernova explode, dependendo da massa remanescente (3 massas solares), pode-se formar um buraco negro que de “buraco” e “negro” só tem o nome. Em primeiro lugar, trata-se de uma grande quantidade de matéria contida num ponto muitíssimo pequeno, ou seja, não há um vazio. Além disso, o termo “negro” refere-se a uma propriedade dos buracos negros de não permitirque nada escape dele. Contudo, isso não é de todo verdadeiro, visto que um buraco negro não é necessariamente tão “negro” assim. De forma resumida, um buraco negro é, de acordo com a Teoria Geral da Relatividade de Einstein, um ponto do espaço em que nem a luz consegue escapar. Para entender melhor o que é um buraco negro, vamos fazer uma pequena analogia: a força da gravidade na Terra é capaz de trazer de volta a superfície todo corpo que tenta sair dela, exceto quando um corpo é lançado com uma velocidade maior ou igual a velocidade de escape da Terra, que é igual a 40.320 Km/h. Se o seu corpo for lançado com essa velocidade você irá para o espaço e nunca mais retornará. Entretanto, se você aponta qualquer fonte luminosa para o espaço, um laser, por exemplo, pelo fato de que a velocidade da luz ser muito maior do que a velocidade de escape na Terra, a luz consegue escapar e ir para o espaço sem nenhum problema. No capítulo 4 desse livro, vimos que a força da gravidade é proporcional a massa dos objetos. Assim, quanto maior for a massa, maior será a força de atração entre eles, ou seja, maior será a gravidade. Pensado assim, você pode imaginar uma região do espaço onde a massa contida num ponto é infinitamente grande, fazendo com que a velocidade de escape desse ponto seja maior que a velocidade da luz. Nessa região, nem mesmo a luz poderá sair, pois ela sempre será atraída de volta para o ponto de onde saiu. Você acabou de imaginar um buraco negro. Agora imagine a seguinte situação. Você e um amigo estão em uma nave espacial próxima a um buraco negro. Tanto você quanto seu amigo possuem um rádio comunicador. Você veste sua roupa espacial e sai da nave e vai em direção ao buraco negro. Enquanto você não atinge o horizonte de eventos1, você e seu amigo conseguem se comunicar normalmente pelo rádio. No momento em que você chegar ao horizonte de eventos, coisas estranhas começam a acontecer. O seu amigo manda uma mensagem para você, a qual você recebe normalmente. Contudo, ao responder para seu amigo, ele não Cosmologia 31 recebe a mensagem. Você consegue imaginar por quê? Como as ondas de rádio são ondas eletromagnéticas, a exemplo da luz, cada vez que você envia uma mensagem ela é imediatamente puxada para dentro do buraco negro. Você sempre receberá as mensagem do seu amigo, mas o seu amigo não irá receber as mensagem enviadas por você. Outra estranheza que ocorre é que o seu corpo será esticado. Imagine-se passando pelo horizonte de eventos em pé. Seus pés são a primeira parte do seu corpo a serem atraídas pelo buraco negro e quanto mais próximo do buraco negro, maior a força que ele exercerá. Assim, seus pés são puxados com força maior do que a sua cabeça, fazendo com que seu corpo seja esticado no sentido pés-cabeça. É uma ótima forma para quem deseja crescer um pouco mais. A ideia de que buracos negros podem emitir radiação e serem detectados por ela surge da ideia da existência de um horizonte de eventos. Imagine um buraco negro que exerça sua alta força gravitacional em uma determinada região do espaço-tempo. No limite dessa região, imediatamente sobre uma linha imaginária que circunda toda a singularidade, pares partículas/antipartícula virtuais podem surgir. Caso uma delas seja criada para dentro do horizonte de eventos, ela nunca poderá ser captada. Contudo, se o seu par virtual for criado para o lado de fora do horizonte de eventos, a força gravitacional do buraco negro não será capaz de atraí-la e, assim, podemos captá-la por meio de telescópios especiais. 6.3.2 Hipótese ou realidade? Apesar do conceito de buraco negro ter tido apenas bases teóricas quando de sua concepção, os astrônomos têm identificado diversos candidatos a buraco negros espalhados pelo cosmo. Em nossa própria galáxia, a Via Láctea, há fortes indícios de que exista um buraco negro em seu centro, nas vizinhanças de Sagitário A*, com massa equivalente a 2 milhões de massas solares. Mas como podemos saber se existem ou não buracos negro? Além do fato da criação de pares partícula/antipartícula virtuais, como já explicado anteriormente, podemos detectar a presença de um buraco negro pela alteração do movimento das estrelas devido ao seu alto campo gravitacional. Ainda, podemos detectar grandes quantidades de radiação emitidas por estrelas que são espiraladas para o centro do buraco negro. 32 Cosmologia Hoje, sabemos da existência provável de centenas de buracos negros espalhados pelo cosmo. A tabela abaixo foi extraída do site do Observatório Astronômico Frei Rosário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mostra alguns buracos negros supermassivos encontrados no centro das galáxias. Outra tabela obtida no mesmo site mostra 8 estrelas que podem ser companheiras de buracos negro. Se você gostou de estudar sobre buracos negro, sugiro a leitura do livro George e os Segredos do Universo, cuja autoria pertence a Lucy Hawking e Stephen Hawking. Trata-se de um livro de leitura agradável, muito diferente dos livros de física que você conhece. Cosmologia 33 6.4 Buracos brancos Buracos branco são entidades matematicamente viáveis, previstos pela Teoria Geral da Relatividade de Einstein. Contudo, isso não significa que eles realmente existam. Um buraco branco seria um buraco negro tempo-invertido, isso é, ao invés de ser uma região do espaço onde nada possa escapar, um buraco branco seria uma região do espaço onde nada pode cair. Os buracos branco surgiram como parte das soluções de Karl Schwarzchild para as equações da Teoria da Relatividade, sendo então descrito como um buraco de minhoca (wormhole) de Schwarzchild. Nesse wormholes existiriam um buraco negro em uma ponta que sugaria toda matéria de luz de uma região do espaço e a transferiria para a outra ponta onde existiria um buraco branco, o qual criaria toda matéria e luz. Todavia, isso não poderia acontecer devido a dois fatos: o primeiro é que os wormholes de Schwarzchild são instáveis, desconectando-se assim que se formam e, em segundo lugar, por que esses buracos somente são uma solução válida para as equações de Einstein quando nenhuma matéria interage com o buraco. Ainda, aparentemente esses buracos violariam a segunda lei da termodinâmica, a qual prevê a impossibilidade de se converter 100% da energia entre formas diferentes. 6.5 Estrelas de nêutrons Como estudamos no primeiro item desse capítulo, após a ocorrência de uma supernova, dependendo da massa confinada no núcleo resultante da explosão poderá ser formada uma estrela de nêutrons. Tipicamente, uma estrela de nêutrons se forma quando a massa resultante é equivalente a 1,35 a 2 massas solares e são extremamente quentes. Sua composição é basicamente de nêutrons, partículas subatômicas que são desprovidas de carga elétrica. Essas estrelas não colapsam sobre si mesmas devido ao Princípio da Exclusão de Pauli, o qual prevê que dois férmions, como os nêutrons por exemplo, podem ocupar o mesmo espaço e estado quântico ao mesmo tempo. A formação de nêutrons se dá pela explosão de uma supernova que resulta em um núcleo do tamanho indicado acima. Nessa situação, os elétrons são capturados pelos prótons dos núcleos atômicos, os quais se transformam, portanto, em nêutrons. Além das altas temperaturas encontradas nesses corpos celestes, a gravidade também é extremamente alta devido a grande massa que está supercompactada. Uma característica marcante de uma estrela de nêutrons é a sua emissão de uma pequena quantidade de radiação na forma de 34 Cosmologia ondas de rádio e raios gama que são liberados na forma de jatos que acompanham a direção de eixo magnéticonorte-sul, o qual não necessariamente coincide com o eixo de rotação dessa estrela. Esses jatos nos permitem identificar essas estrela, visto que eles são emitidos em pulsos periódicos muito precisos. 6.6 Quasares Quasares são núcleos galácticos ativos, poderosamente energéticos. Contudo, devido ao seu tamanho, não podem ser considerados como estrelas pois são maiores que elas, mas também não se enquadram na definição de galáxia por não alcançarem o tamanho mínimo para isso. Dessa forma, grosso modo, os quasares são corpos celestes intermediários entre estrelas e galáxias. Seu nome originou-se do fato de que esses corpos apresentaram-se aos serem humanos com aparência de uma estrela azulada. Disso, resultou o acrônimo “quasar”, que significa “quasi-stellar radio source – fonte de rádio quase-estelar”. Atualmente, o modelo mais aceito é o de que os quasares são buracos negro com massas de 1 milhão a 1 bilhão de vezes a massa do Sol, os quais estão localizados no centro de galáxias ativas. Seu alto poder de emissão de energia permitiu aos astrônomos classificarem-no como os maiores corpos emissores de energia do Universo, emitindo entre 100 e 1000 vezes mais luz do que uma galáxia com cem bilhões de estrelas. Assim como as estrelas de nêutrons, os quasares emitem sua energia na forma de jatos de partículas de alta energia. Além disso, emitem são emissores de ondas de rádio, o que permite aos cientista utilizar radiotelescópios para identificá-los. O maior quasar já identificado é o 3C 273, localizado na constelação de Virgo, a 2,4 bilhões de anos-luz1 da Terra. Isso significa que sua luz, que é captada pelos radiotelescópios próximos da Terra, foi emitida 2,4 bilhões de anos atrás e só chegou aqui nesse momento! Entretanto, o quasar CFHQS J2329-0301 é, até o momento, o quasar mais distante já observado. Ele foi descoberto em 2007 pelo Canada-France-Hawaii High-z Quasar Survey (CHFQS) e está situado a meros 12,7 bilhões de anos luz da Terra. Isso significa que ele foi formado nos primórdios do Universo, cuja idade é, lembre-se, de 13,7 bilhões de anos. Até o momento, existem mais de 200.000 quasares catalogados, grande parte deles pelo espectroscópio Sloan Digital Sky Survey – SDSS. Cosmologia 35 Quasar 3C 48, localizado na constelação de Triângulo. Créditos: WikimediaCommons Quasar 3C 186. Créditos: NASA Quasar 3C 273. Créditos: WikimediaCommons. Espectroscópoio Sloan Digital Sky Survey – SDSS, localizado no estado do Novo México, EUA. Os seus sensores CCD são capazes de gerar imagens de até 120 Mega Pixels.Créditos: Sloan Digital Sky Survey (SSDS). 36 Cosmologia Do ponto de vista não-científico, existem dezenas de “teorias” apocalípticas. O próprio termo “apocalipse” assumiu um papel diferente do seu original, o qual, quando traduzido de forma correta, significa “revelação”e não “fim do mundo”. Cientificamente, a partir do momento em que se concluiu que em algum momento do passado cósmico o Universo teve um início, pode-se imaginar que também terá um fim. Contudo, essa é uma premissa baseada na própria existência humana, na qual todo ser vivo, como indivíduo, nasce e morre. Nesse capítulo iremos conhecer as principais hipóteses científicas para um eventual fim do Universo. Todavia, para ter uma melhor compreensão dessas hipóteses, precisamos conhecer em mais detalhes quais são as possíveis formas do Universo. Por isso, sugiro que retome o capítulo 5 desse livro antes de prosseguir com a leitura do presente capítulo, visto que as hipóteses quem vêm sendo desenvolvidas dependem da forma do Universo. O destino final do Universo depende diretamente do Parâmetro de Densidade do Universo (Ω). Embora existam hipóteses melhores aceitas do que outras, esse é um ramo de estudo da Cosmologia que está em constante transformação devido aos avanços na tecnologia. Assim, vamos tratá-los de maneira igual, todos como possibilidades reais. Aqui, temos que partir do fato de que o Universo encontra-se em expansão acelerada, ou seja, o Universo cresce com uma velocidade cada vez maior. A confirmação desse fato rendeu, em 2011, o prêmio Nobel de Física aos físicos Saul Perlmutter, Brian P. Schmidt e Adam G. Riess. 7. O fim do Universo Cosmologia 37 8.1 Big Freeze (Grande Congelamento) Nesse cenário hipotético a expansão do Universo continuaria até um ponto em que a temperatura alcançaria o zero absoluto (0 Kelvin, ou -273,15 ºC). Esse evento poderia ocorrer caso o Universo possua uma geometria plana ou hiperbólica e na ausência de energia escura. Contudo, caso a constante cosmológica seja positiva, este cenário se estende também a um Universo fechado. 8.2 Morte térmica do Universo Ainda dentro do contexto de uma expansão infinita, o Universo poderia alcançar uma entropia máxima. Para entendermos melhor o que isso significa, precisamos detalhar o que significa o termo entropia: de acordo com a 2ª Lei da Termodinâmica, todo sistema fechado sempre tende a um estado de maior desordem. Como a desordem passa a ser uma tendência natural de qualquer sistema, incluindo seres vivos, utilizamos essa “desordem” como uma grandeza física, a qual chamamos de entropia. Assim, podemos fazer a seguinte analogia: seu quarto encontra-se arrumado, mas com o passar do tempo ele tende naturalmente à desordem, nunca ao contrário, ou seja, seu quarto nunca irá se auto-organizar. Para que ele volte ao seu estado “arrumado”, alguém precisa organizá-lo, gastando energia. Dessa maneira, podemos classificar seu quarto arrumado como um sistema de baixa entropia, e quando ele encontra-se desarrumado, C réditos: N ASA. Tradução feita pelo autor 38 Cosmologia podemos classificá-lo como um sistema de alta entropia. Aplicando essa ideia ao Universo, após um longo período de expansão, todas as estrelas estariam distribuídas homogeneamente pelo cosmo, não havendo nenhum tipo de aglomerado, o que impediria qualquer forma de vida ou de processamento de informação. Esse cenário se aplica a qualquer geometria do Universo. 8.3 Big Rip (Grande rachadura) Outro possível cenário para o fim do Universo é o Big Rip, uma hipótese publicada em 2003 por Robert Caldwell, professor do Dartmouth College. Nesse cenário, se o Universo contiver uma grande quantidade de energia escura, a velocidade de expansão do Universo atingira uma velocidade acima do nível crítico, o que causaria a desintegração de todo tipo de matéria, culminando, após alguns bilhões de anos, na desintegração do próprio átomo em partículas elementares e radiação. 8.4 Big Crunch A hipótese do Big Crunch sugere que, caso o Universo possua uma geometria fechada (Ω>1), a densidade média do Universo seria capaz de reduzir a expansão até um ponto em que a força gravitacional superasse a força de expansão, o que faria com que todo o Universo colapsasse em um único ponto. Assim, podemos imaginar o Big Crunch como um evento simétrico ao Big Bang, o qual terminaria em uma possível singularidade. Contudo, tal singularidade seria resultado de um ponto de vista simples. Na verdade, o resultado final da contração do Universo ainda é desconhecido e a singularidade do espaço-tempo é uma condição que não leva em consideração os efeitos da gravidade quântica. Como consequência do Big Crunch, um outro possível cenário resultante seria o surgimento de um novo Universo a partir de um novo Big Bang. Assim, temos um modelo no qual o Universo seria eterno, com infinitos ciclos de expansão e contração. A primeira vista pode soar estranho o Universo não ter tido um início real. Isso se deve ao fato de que o ser humano nasce e, um dia, morre,ou seja, de acordo com sua visão de mundo algo obrigatoriamente deve possuir um começo e um fim. Contudo, devemos lembrar que a vida é um fenômeno complexo, mas ainda assim está contida dentro do próprio Universo e segue as leis da Física e, dessa maneira, o Universo é, obrigatoriamente, mais complexo do que a própria vida por conte-la. Caso não tenha compreendido, sugiro uma leitura sobre Teoria de Conjuntos. Apesar de um Universo eterno já ter sido desenvolvida desde os anos 30, notadamente por Albert Einstein, tal ideia entrou em declínio após o Cosmologia 39 trabalho de Richard Chace Tolman que demonstrou uma falha conceitual causada pela entropia. De acordo com Tolman, cada ciclo deveria ser mais longo que o anterior e, extrapolando tal raciocínio para o passado extremo, teríamos um Big Bang inicial. Somente com a descoberta da energia escura pode-se retomar a ideia inicial de um Universo eterno. Atualmente, tal hipótese vem ganhando espaço na comunidade científica. O cosmólogo brasileiro Mario Novello publicou em 2008 um trabalho científico na revista Physics Reports intitulado Boucing cosmologies no qual propõe que o Big Bang não deve ser considerado como um ponto primordial para tudo que existe. Com base em seu trabalho, Novello escreveu um livro intitulado “Do Big Bang ao Universo eterno”, o qual possui linguagem para o público geral. Portanto, fica aqui uma boa dica de leitura caso se interesse mais pelo assunto. 40 Cosmologia Até o momento vimos como a matéria foi formada e evoluiu após o Big Bang. Agora vamos nos aprofundar na ultraestrutura da matéria, ou seja, de que componentes os átomos são formados e como ele se arranjam no núcleo atômico. Antes de entrar nas profundezas da ultraestrutura da matéria, vamos esclarecer algo que poderá confundi- lo mais para frente. O conceito de átomo, inicialmente proposto na Grécia antiga (átomo de Demócrito), não é o que estamos tratando aqui. Isso implica que o uso da palavra átomo está incorreto. Isso mesmo, o átomo que estudamos não é bem um átomo. Deixe-me explicar... A palavra átomo deriva do grego a, negação e tomo, divisível, ou seja, o termo faz referência a uma estrutura que não é mais divisível. Como vimos anteriormente, um átomo é composto por uma eletrosfera, na qual encontramos os elétrons – partículas com carga negativa e que são responsáveis pelas ligações químicas – e um núcleo, o qual é composto por prótons (cargas positivas) e nêutrons (destituídos de carga elétrica). Assim, logo de cara, o núcleo atômico pode ser dividido em 2 tipos de partículas, as quais podem ser isoladas e utilizadas em laboratórios. O átomo que conhecemos não é tão indivisível assim, você não acha? Quando começamos a trabalhar com a física das partículas, temos que ter em mente que todas as leis da física clássica não conseguem descrever o comportamento da matéria em sua estrutura básica. As leis que regem o comportamento do mundo subatômico são descritas pela mecânica quântica, um ramo da Física que teve origem em 1900 com os trabalhos de Marx Planck. Mas afinal de contas, se o núcleo atômico é composto por prótons e nêutrons, outra questão pode ser facilmente levantada: do que são formados os prótons e os nêutrons? 8. Ultraestrutura da matéria Cosmologia 41 8.1 Os Quarks Os quarks são parte da matéria que compõe os prótons e os nêutrons. Existem 6 tipos de quarks que possuem nomes bem interessantes: up, down, botton, top, strange e charm. A imagem ao lado ilustra a carga elétrica de cada um desses elementos. Prótons e Nêutrons são formados pela união de 3 quarks. Os prótons possuem 2 quarks up e 1 quark down. Assim, a soma das cargas em seu interior é igual a Já os nêutrons são formados pela união de 2 quarks down e 1 quark up. Nesse caso, assumindo os valores da carga elétrica de cada quark, temos Como você pode ver, o próton possui carga positiva por que a soma das cargas de seus quarks é igual a 1. Mais interessante, o nêutron possuir carga nula devido ao fato de que as cargas elétricas dos quarks que os compões se anulam. Até aqui tudo bem. Os prótons e nêutrons são formados por quarks, os quais possuem cargas elétricas cuja soma é responsável por conferir a carga elétrica dos prótons e dos nêutrons. Mas como esses quarks são mantidos unidos para formar um próton ou um nêutron? A resposta é simples: por meio de uma cola! 8.2 Os Glúons Os Glúons são partículas elementares que não possuem massa e que mantém os quarks unidos, como demonstrado na figura abaixo: 42 Cosmologia A força que mantém os diferentes quarks unidos é conhecida como Força Nuclear Forte, e para ser rompida é necessária uma grande quantidade de energia. Assim, para estudarmos as propriedades dos quarks, devemos separá-los e esse é o objeto de estudo do próximo tópico. 8.3 Destruindo núcleos atômicos – Aceleradores de Partículas Se você quisesse sabe do que é feito um relógio, o que você faria? A resposta mais simples seria: eu o desmontaria. Para descobrir do que os átomos são feitos devemos desmontá-los completamente e observar, medir e entender cada uma de suas partes. Contudo, você pode desmontar um relógio com apenas algumas chaves de relojoeiro, mas com átomos isso não dá para ser feito. Então, sobra-nos apenas uma opção: dar uma bela pancada no relógio, digo, nos átomos, de forma que ele se despedace por inteiro e, a partir dos seus pedacinhos, descobrir do que eles são feitos. Correto? É exatamente isso que os cientistas fazem com os aceleradores de partículas. Existem milhares de aceleradores de partículas espalhados pelo mundo com as mais diversas finalidades. Alguns deles podem ser encontrados em hospitais e são utilizados para produção de radiofármacos. Outros são os grandes aceleradores circulares de partículas encontrados nos maiores centros de pesquisas do mundo, e são exatamente sobre eles que iremos estudar. Se você jogar um relógio contra a parede, dependendo da força, você irá despedaçá- lo e, por exemplo, vai descobrir que ele possui uma bateria. Mas do que é feita essa bateria? A força que você utilizou não foi suficiente para quebrar a bateria, mas apenas para removê-la do restante do objeto. Logo, precisaremos de colisões mais fortes para que a bateria seja quebrada e assim possamos descobrir do que ela é feita. O mesmo acontece dentro dos aceleradores de partículas. Nesses equipamentos, dois feixes de partículas são acelerados em sentidos opostos a velocidades altíssimas por meio de campos magnéticos ultra potentes. Num dado momento esses dois feixes são direcionados um contra o outro de forma que colisões entre eles ocorram, como se dois carros fossem colocados na mesma pista e se chocassem de frente. Essas colisões ocorrem dentro de sensores gigantescos, sensíveis o suficiente para detectar diversas propriedades de cada fragmento produzido. Atualmente, o maior acelerador de partículas do mundo é o LHC, sigla em inglês para Large Hadron Collisor – Grande Colisor de Hádrons. Ele está localizado no CERN, o maior centro de pesquisas nucleares do planeta, que fica situado na fronteira entre França e Suíça. Nesse acelerador de partículas, Cosmologia 43 os feixes de hádrons viajam por um anel de aproximadamente 27 Km de extensão a 99,99% da velocidade da luz. Para simular as condições essenciais, a temperatura em seu interior atinge -271,3 ºC (1,9 K). O fato das partículas serem aceleradas a 99,99% da velocidade da luz talvez não lhe diga muita coisa, mas em números reais isso equivale a 11245 voltas completas em cada segundo. Lembre- se que apenas1 volta completa possui aproximadamente 27 Km! A cada segundo são produzidas cerca de 600 milhões de colisões e daí surge a necessidade da alta sensibilidade dos sensores. Ainda, a cada segundo esses sensores geram informação suficiente para preencher 100.000 CDs. Se você deseja conhecer o LHC em maiores detalhes, o seu site oficial dispõe de um tour 3D que pode ser acessado em http://petermccready.com/. Alice (A Large Ion Collider Experiment) – Nesse experimento os cientistas estão colidindo íons de chumbo de forma a recriar as condições iniciais do Big Bang. Os resultados obtidos nesse experimento permitirão aos cientistas compreender o estado da matéria conhecida como plasma de quark-glúon, a qual acredita-se que se tenha formado nas primeiras frações de segundo após o Big Bang. Como vimos anteriormente, Visão geral do LHC. O equipamento encontra-se enterrado a aproximadamente 100 metros de profundidade. Créditos: CERN. 44 Cosmologia a força que mantém os quarks unidos é extremamente forte e exatamente por isso não conseguimos encontrar quarks livres na natureza. As colisões promovidas nesse sensor irão gerar temperaturas da ordem de mais de 100 milhões de graus Celsius. Espera- se que essas temperaturas sejam suficientes para separar os quarks dos glúons para que os mesmos possam ser estudados mais a fundo. Sensor ALICE. Créditos: CERN. Resultado das colisões dentro do sensor ALICE. Créditos: CERN. Sensor ATLAS - Esse detector é o responsável pela procura do Bóson de Higgs, uma partícula elementar da matéria que dá origem massa. Além disso, por meio do ATLAS os cientistas também irão estudar dimensões extras do nosso Universo e a matéria escura. Créditos: CERN. Cosmologia 45 Bóson de Higgs Muitos dos conceitos físicos básicos utilizados em nosso cotidiano nos passam desapercebidos até o momento em que nos debruçamos sob uma reflexão mais apurada sobre eles. Tempo e massa são exemplos claros desses conceitos que, quando paramos para pensar sobre eles, conseguimos dar um nó em nossos neurônios. Nesse capítulo iremos nos questionar o que é a massa de uma partícula, de onde ela vem e como se manifesta. Afinal, o que é massa? Se você perguntar a um químico o que significa a massa de um corpo, ele lhe responderá que a massa é a quantidade de matéria que um corpo possui, ou seja, quanto maior for a quantidade de matéria de um dado corpo, maior será sua massa. Do ponto de vista da química esse conceito está totalmente correto, dado que a natureza de estudos dessa disciplina, as interações e reações químicas, necessitam mensurar a quantidade de partículas que estão interagindo ou reagindo. Contudo, se você perguntasse o que significa a massa de um corpo a um físico, a resposta seria completamente diferente. Para a física, a massa de um corpo é uma medida da sua inércia, a qual entendemos com a “dificuldade” apresentada por um corpo, ou partícula, quando se tenta alterar seu estado inercial, ou simplesmente o estado original apresentado pelo corpo naquele dado momento. Assim, se temos uma partícula em repouso em relação a algum referencial, devemos aplicar uma determinada força sob ela para colocá-la em movimento e, do contrário, caso uma determinada partícula possua velocidade, devemos aplicar uma determinada força para fazê-la parar. Portanto, quanto maior for a inércia de um corpo, mais difícil é para esse corpo alterar sua velocidade. Pense em duas pessoas se deslocando em sua direção com a mesma velocidade (considere você parado), uma delas a pé e com massa de 40 Kg e a outra dirigindo um caminhão de 10.000 Kg de massa total. Qual delas você teria que fazer menos força para parar por completo? Certamente a de 40 Kg é mais fácil (a sua força será menor), mesmo que as velocidades das duas sejam a mesma. A diferença reside exatamente na massa dos corpos envolvidos, ou seja, na inércia de cada corpo. De onde vem a massa de um corpo? Para compreender a massa de um corpo precisamos retomar a ultraestrutura da matéria. Vimos no capítulo anterior que os hádrons (prótons e nêutrons, por exemplo) são partículas subatômicas constituídas por quarks, os quais se mantém unidos por meio de glúons. O Bóson de Higgs seria uma subpartícula atômica que compõe todas as demais partículas conferindo-lhes massa. Para tentar compreender esse fenômeno de forma um pouco mais clara, vamos fazer uma analogia: tratemos você como uma partícula que pode se mover. Ao caminhar na rua você encontra uma certa dificuldade em andar devido à existência de ar, mas isso não nos atrapalha muito e podemos caminhar com facilidade. Imagine-se então caminhando dentro 46 Cosmologia de uma piscina com água até o pescoço. Nesse caso o seu movimento encontra uma maior resistência, ou seja, para você mudar de velocidade dentro da água você deverá fazer mais força do que você faria no ar. A água nesse caso atua como um campo que aumenta a sua inércia. Pior ainda seria se você estivesse tentando andar na lama. A esse campo que aumenta a sua inércia damos o nome de Campo de Higgs e, assim como a água é formada por moléculas individuais, podemos imaginar que o Campo de Higgs também é, e nesse caso temos o bóson de Higgs. Por meio da analogia anterior podemos perceber que quanto maior for a intensidade do Campo de Higgs, maior é a inércia de uma partícula e, consequentemente, essa inércia será expressa como a sua massa. Outra consequência disso é a explicação do por que algumas partículas não apresentam massa. Nesse caso, tais partículas não interagem com o Campo de Higgs e, assim, podem se deslocar livremente no espaço-tempo. Por que o bóson de Higgs é tão importante para a Física? Durante as décadas de 60 e 70 os físicos de partículas desenvolveram uma teoria conhecida como “Modelo Padrão”, a qual descreve as interações entre 3 das 4 forças elementares da natureza: o eletromagnetismo, a força nuclear fraca e a força nuclear forte. O desenvolvimento dessa teoria se deu tanto por meio de avanços experimentais como por avanços nas formulações teóricas. Exemplos desses avanços teóricos foram as predições da existências de quarks e outras subpartículas atômicas, as quais foram identificadas anos mais tarde. Em 1964, Peter Higgs e outros físicos propuseram que deveria existir uma partícula elementar que seria responsável pela quebra de simetria eletrofraca, o que resultaria no fato das partículas apresentarem massa. Essa subpartícula atômica deveria possuir características que a classificariam como um bóson Cosmologia 47 (partícula com spin inteiro) e, acima de tudo, validaria o Modelo Padrão como essencialmente correto. Part ícula de Deus? O bóson de Higgs ficou popularmente conhecido como “Partícula de Deus” e esse fato traz muitos problemas para a Física. Em nenhum momento a Física tenta buscar a existência de um Deus. O estudo das partículas fundamentais da matéria busca uma compreensão mais profunda do nosso Universo e o bóson de Higgs é uma peça fundamental que faltava para comprovar se o Modelo Padrão da Física de Partículas estava ou não correto. O nome partícula de Deus originou-se quando o cientista ganhador do prêmio Nobel, Leon Lederman, escreveu um livro para o público geral sobre o bóson de Higgs e sua importância. Originalmente, o título do livro deveria ser “The Goddamn Particle” (A partícula maldita, em tradução literal para o português), mas o editor do livro acreditava que o termo “maldita” poderia afastar os possíveis leitores e sugeriu que o livro se chamasse “The God Particle - If the Universe is the Answer, What is the Question?” (A Partícula de Deus - Se o Universo
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