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TEXTO 01 D C Formas de Estado e Federalismo

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João Jampaulo Júnior1
Mestre e Doutor em Direito Constitucional
jampaulo@uol.com.br
DIREITO CONSTITUCIONAL II - TEXTO 01 - (fls. 01/19)
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
I – DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO[footnoteRef:1] - 1.1. Introdução; 1.1.1. As Formas de Estado; 1.1.2. Estado Unitário; 1.1.3. Estado Federal; 1.1.4. Estado Regional. [1: Luiz Alberto David Araujo/Vidal Serrano Nunes Júnior - Curso de Direito Constitucional. ] 
1.1. Introdução
O processo de organização e estrutura do Estado responde pela existência de configurações institucionais de muitas faces, estabelecidas sob três distintos regimes jurídicos: a) as formas de Estado, b) as formas de Governo, c) e os Sistemas de Governo.
Formas de Estado > são definidas a partir do critério territorial, tomando como referência e o conteúdo do regime de descentralização político-administrativa de cada Estado, indicando, por este modo, a existência de um Estado Unitário ou Federal.
Formas de Governo (ou forma Institucional de Estado) > é o modo pelo qual o poder se organiza e se distribui entre governantes e governados, modulando o nível de intervenção da população no governo. São formas de Governo: a República e a Monarquia. A República se caracteriza pela periodicidade dos mandatos, pela responsabilidade de seus governantes, pelo conceito de coisa pública e pela eletividade dos governantes. A Monarquia, diferentemente, é marcada pelo trato vitalício e hereditário na indicação de seus dirigentes.
Sistemas de Governo > indicam a forma e o conteúdo da divisão orgânica do poder, que sofre variações segundo o sistema escolhido: o presidencialista ou o parlamentarista.
1.1.1. As Formas de Estado
As Formas de Estado se referem à projeção do poder dentro da esfera territorial, tendo como critério a existência, a intensidade e o conteúdo de descentralização político-administrativa de cada um.
Em face desses elementos diferenciais é que o Estado, quanto à sua forma, pode ser classificado como Federal ou Unitário.
Essa classificação dos Estados em Federal ou Unitário, embora seja a mais recorrente (usual), não é consensual na doutrina. Alguns autores incluem nessa classificação o Estado Regional.
· Federal
Classificação de Formas de Estado:	> Unitário
· Regional	
1.1.2. Estado Unitário > é caracterizado pela centralização política, no qual existe um único polo constitucionalmente capacitado a produzir, com autonomia, normas jurídicas. O Estado Unitário admite a existência de entidades descentralizadas, desde que não possuam autonomia, agindo por delegação do órgão central, que cama para si o monopólio da capacidade política (não existem ordem parcelares como os Estados-membros).
1.1.3. Estado Federal > Suas raízes se encontram na experiência histórica dos Estados Unidos da América. O Estado Federal nasce do vínculo de partes autônomas (territórios individuais), de vontades parciais. Com a associação das partes autônomas nasce uma entidade central, corporificadora do vínculo federativo, e diversas entidades representativas das vontades parcelares. Os Estados que ingressam na Federação perdem sua soberania no momento desse ingresso, preservando, contudo, uma autonomia política. Todas essas entidades são dotadas de autonomia (sem soberania, mas só autonomia) e possuem o mesmo patamar hierárquico no bojo da federação. Reside nesse relacionamento entre vontades parciais (territórios individuais) e vontade central (detém o vínculo federativo) o cerne do Estado Federal. Tanto a manutenção dessa autonomia como o exercício dela serão objeto do acordo federalista, que deve constar de uma Constituição. 
1.1.4. Estado Regional > constitui uma forma intermediária entre o Estado Unitário e o Federal, no qual se dotam de autonomia entes regionais. 
II - DA FEDERAÇÃO[footnoteRef:2] - 2.1. A Federação: 2.1.1. A Importância do Princípio Federativo; 2.1.2. Funcionamento da Federação; 2.1.3. Autonomia e Soberania; 2.1.4. Federação e Democracia; 2.1.5. Federação como Processo; 2.1.6. A Estrutura do Estado Federal; 2.1.7. Traços comuns a toda Federação; 2.1.8. Federação Americana; 2.1.9. A Teoria dos Poderes Implícitos; 2.1.10. A Federação no Direito Positivo Brasileiro; 2.1.11. A Federação na Constituição de 1988; 2.1.12. Repartição de Competências Constitucionais. [2: Celso Ribeiro Bastos - Curso de Direito Constitucional.] 
2.1. A Federação
2.1.1. A Importância do Princípio Federativo
O princípio federativo é uma das vigas mestras sobre as quais se eleva o travejamento (vigamento, conjunto de traves que sustentam uma construção) constitucional.
Sua importância na Lei Maior determina a impossibilidade de ser alterado até mesmo por via de emenda constitucional (O princípio Federativo é cláusula pétrea).
Infelizmente a realidade mostra que o princípio federativo foi fortemente degradado. A autonomia estatal é um menosprezo. Por exemplo: Muitos Estados-membros não têm condições de sobreviver financeiramente se lhes faltar o apoio do governo federal. A partilha constitucional de competências não aquinhoa, devidamente, Estados e Municípios, centralizando, ainda, na mão da União a determinação, ao menos nos seus princípios gerais, das diretrizes a prevalecerem em todos os campos legislativos (falta de autonomia maior para legislar).
Por que a Federação ainda é importante?
A importância da Federação se dá, pois o federalismo é, ainda hoje, um princípio rector (princípio orientador) que encontra receptividade e ressonância na vida de muitos países. Ele não se desatualizou, pois soube encontrar novos fundamentos em substituição àqueles que lhe deram origem. 
Exemplo: Quando se criou a primeira Federação conhecida, a americana buscou-se resolver na época o problema resultante da convivência entre si das treze colônias inglesas tornadas Estados independentes e com desejo de adotarem uma forma de poder político unificado. Porém, não queriam perder a independência, a individualidade, a liberdade e a soberania que tinham acabado de conquistar.
Com tais pressupostos surgiu, assim, a federação como uma associação de Estados pactuada por meio da Constituição. 
A Federação foi a forma mais imaginosa já inventada pelo homem para permitir a conjugação das vantagens da autonomia política com aquelas outras defluentes (derivadas) da existência de um poder central. O problema a ser resolvido era o da unificação política de comunidades que não se haviam integrado num todo nacional.
Federação > é a forma mais sofisticada de se organizar o poder dentro do Estado. Ela implica uma repartição delicada de competências entre o órgão do poder central, denominado União, e as expressões das organizações regionais, conhecidas por Estados-Membros, também conhecidos com o nome de Províncias ou Cantão.
Essa partilha de competências entre a União e os Estados é bastante rígida, pois prevista na Constituição Federal. Só Emenda Constitucional pode alterar essas competências. Os Estados-Membros participam na formação da União através dos Senadores que compõem uma Casa do Congresso Nacional (Senado).
Na Federação > (de outros países, pois o Brasil previu um terceiro nível: o municipal) os cidadãos se submetem a dois poderes políticos diferentes: o regional e o central.
Melhor explicando > sobre o mesmo território incidem duas ordens jurídicas diferentes, cada uma atuando no âmbito específico de suas competências. Assim, o Estado Federal legisla diretamente para os Estados-Membros, sem necessidade da intervenção desses para que suas normas se tornem eficazes. De outra parte, os Estados-Membros não podem retirar-se da Federação. O vínculo associativo é indissolúvel. 
A significação do fenômeno federativo se exaure dentro do mesmo Estado, ou seja, o direito internacional não faz diferença entre o Estado unitário e o federal. Este só tem realidade do ponto de vista do Direito Constitucional (a Federação embora leve ao extremo a possibilidade de descentralização do poder, toda ela transcorre dentro dos limites de um único Estado).
Federação > Seu traço distintivo específico: ser,
por um lado, uma reunião ou uma associação de Estados, mas, de outra parte, dar também lugar a um novo Estado que é o único, de fato, reconhecido pela Ordem Jurídica Internacional.
2.1.2. Funcionamento da Federação
É delicado o funcionamento de um Estado federal. A qualquer momento podem surgir conflitos no mecanismo que o seu funcionamento implica: duas ordens jurídicas convivendo lado a lado, mas sendo aplicadas sobre o mesmo território e sobre os mesmos indivíduos.
As possíveis divergências ou conflitos são sempre dirimidos por um Poder Judiciário. Por isso, dentro do Estado federal, a Suprema Corte do país, ocupa um papel de destaque. Cabe a Suprema Corte o papel de guardiã da federação, como órgão que assegura a manutenção e a preservação da Constituição e, em consequência, da própria federação.
Ao lado da descentralização do poder, a federação apresenta outra face importante: regra geral > ela implica na existência de um fenômeno associativo ou de agrupamento de Estados preexistentes. Isso aconteceu na primeira delas (Estados Unidos da América). 
Independência dos Estados Unidos da Inglaterra em 1787 > ficou claro que a federação inicialmente estabelecida não bastava para resolver os problemas com que se defrontavam os treze Estados americanos.
Era necessária > uma unidade maior para enfrentar sérios desafios postos pela soberania recém-adquirida. Necessidade de se adotar uma moeda única para todo o território. Conveniência de se enfrentarem de maneira unida os desafios militares levantados pela antiga metrópole (Inglaterra). Esses fatores tornavam impositiva a adoção de uma ordem jurídica capaz de coordenar de maneira eficiente os esforços de todos os povos integrantes da Federação.
É necessário reconhecer que nem todos os Estados que se proclamaram federativos tiveram, no passado, vida independente, atribuída aos diversos Estados que hoje os compõem.
Melhor explicando > é possível atingir a federação a partir da desagregação de um Estado unitário. Tal ocorre quando do Estado unitário inicial se separam as diversas unidades autônomas que passarão a constituir seus Estados-Membros. Não obstante a profunda diferença histórica entre as duas experiências, do ponto de vista jurídico, o modelo remanesce (resta, subsiste) o mesmo. Quer se trate de federações surgidas pela agregação de Estados preexistentes, ou federações nascidas da desagregação (separação) de um Estado unitário. Todavia, o importante é que o grau de autonomia dos Estados-Membros seja grande e que essa autonomia seja assegurada por uma Constituição que, não possa ser alterada senão com a colaboração dos próprios Estados, ou pelo menos a partir da representação que possuem no próprio Senado Federal.
Apesar de apresentarem essas características comuns que as tornam igual do ponto de vista formal, e não obstante se inspirarem no mesmo modelo (a Federação Americana), as federações atualmente existentes têm, todas elas, sua personalidade própria.
Vários países no mundo adotam a forma federativa: o Brasil, a Argentina, o México, os Estados Unidos, a Austrália, o Canadá, a ex-União Soviética dentre outros. A história de cada um desses países influenciou na realidade da federação adotada.
Exemplo é a federação do Brasil. Um modelo teórico de federação não corresponde a uma autêntica autonomia das unidades federativas. No Brasil as unidades federativas nunca tiveram a posição de Estados soberanos e independentes (como nos Estados Unidos), pois eram províncias do Império brasileiro e, consequentemente, dotadas de nenhuma ou pouquíssima autonomia.
2.1.3. Autonomia e Soberania
As palavras autonomia e soberania se distinguem do ponto de vista jurídico.
Soberania > é o atributo que se confere ao poder do Estado em virtude de ser ele juridicamente ilimitado. Um Estado não deve obediência jurídica a nenhum outro Estado. Isso o coloca numa posição de coordenação com os demais integrantes da cena internacional e de superioridade dentro do seu próprio território. 
Assim, soberania, é um poder que não encontra nenhum outro acima dela na arena internacional e nenhum outro que lhe esteja nem mesmo em igual nível na ordem interna.
Autonomia > é a margem de discrição de que uma pessoa goza para decidir sobre os seus negócios, mas sempre delimitada essa margem pelo próprio direito. Daí porque se falar que os Estados-Membros são autônomos, ou que os Municípios são autônomos: ambos atuam dentro de um quadro ou de uma moldura jurídica definida pela Constituição Federal.
Autonomia > não é uma amplitude incondicionada ou ilimitada de atuação na ordem jurídica, mas, tão somente, a disponibilidade sobre certas matérias, respeitados, sempre, princípios fixados na Constituição.
Autonomia é uma área de competência circunscrita pelo direito, enquanto Soberania não encontra qualquer espécie de limitação jurídica.
O Estado Federal é soberano do ponto de vista do direito internacional enquanto que os Estados-Membros são autônomos do ponto de vista do direito interno. Eles gozam de uma ampla margem de autonomia dentro das competências que lhes são fixadas pela Constituição Federal.
2.1.4. Federação e Democracia
Na linguagem comum, usam-se indiferentemente República Federativa do Brasil e União como se fossem a mesma coisa. Mas de posse dessas noções introdutórias sobre federação podemos fazer a distinção que a técnica constitucional impõe.
Federação > se tornou, por excelência, a forma de organização do Estado democrático. Hoje nos Estados Unidos há uma firme convicção de que a descentralização do poder é um instrumento fundamental para o exercício da democracia. Melhor dizendo: quanto mais perto estiver a sede do poder decisório daqueles que a ele estão sujeitos, mais probabilidade existe de o poder ser democrático. 
Esse é um Ponto Fundamental: não teremos uma autêntica democracia no Brasil se não houver uma forte tendência descentralizadora.
Não podemos manter na Constituição elementos que confundem a federação com um mecanismo de convivência de Estados carentes de unidade nacional para abraçar a federação como instrumento de democracia.
A regra de ouro poderia ser a seguinte: nada será exercido por um poder de nível superior desde que possa ser cumprido pelo inferior.
Melhor explicando: só serão atribuídas ao governo federal e ao governo estadual aquelas tarefas que não possam ser cumpridas senão a partir de um governo com esse nível de amplitude e generalização. Em outras palavras: o Município prefere ao Estado e à União. O Estado, por sua vez, prefere à União.
Não podemos esquecer > os poderes agigantados de que desfruta hoje a União não foram absorvidos dos Estados e Municípios. O que houve foi uma intromissão incomensurada levada a cabo pelo poder central na esfera normalmente reservada aos particulares sobretudo em matéria econômica. De nada adiantará atribuírem-se tarefas específicas a Estados e Municípios se se continuar a permitir que a União, de forma descontrolada, incursione pelo domínio econômico.
Foi a assunção de um papel avassalador e asfixiante na gestão da atividade industrial e financeira que permitiu à União exercer uma dominação não contrabalançada por poderes de igual monta nas demais esferas de governo.
Um poder central estatizante é inconveniente com uma autêntica federação, que pressupõe um equilíbrio entre as diversas esferas governamentais. 
2.1.5. Federação como Processo
Merece destaque > a federação não é um esquema jurídico que possa ser transformado em realidade tão só pela sua enunciação no Texto Constitucional. A federação como a democracia, é um processo que necessita constante aperfeiçoamento e adaptação a novas realidades.
Federação > nada mais é do que a transplantação para o plano geográfico da tripartição de poderes do plano horizontal, de Montesquieu. Portanto, ela serve ao mesmo princípio de que o poder repartido é mais difícil de ser arbitrário.
Melhor explicando > Se para se dar um golpe (Político) necessita-se da aquiescência de vinte e sete Estados e de mais de cinco mil Municípios
(como no caso do Brasil), ele nunca ocorrerá.
Nossa história > só teve golpes políticos porque o poder está concentrado numa cúpula muito pequena.
A Ditadura > O fato de ela ter sido centralizadora é explicável, pois o veículo por excelência do governo autoritário é a centralização do poder.
Para finalizar > Em síntese, desde que encarada como forma de descentralização do poder, a federação é não só algo atual, mas uma das ideias magnas que devem informar o futuro do País.
2.1.6. A Estrutura do Estado Federal
A forma de exercício do poder é um problema de vulto na organização das comunidades políticas.
É impossível um governo querer estender sua eficácia até os limites do seu território sem, ao mesmo tempo, adotar alguma forma de descentralização.
As Cidades-Estados na Grécia antiga se valeram, ainda que em escala reduzida, desse recurso (forma de descentralização). Não foi exercitado com maior intensidade em razão das exíguas dimensões territoriais dessas organizações políticas.
Surge o problema de forma aguda quando surgem na Europa os Estados modernos, resultado da concentração de todo o poder nas mãos do Monarca. Essas comunidades representavam grandes territórios. Assim, o poder régio teve necessidade de se fazer representar junto às comunidades locais e regionais através de prepostos. Mas o caráter absoluto do regime impunha severos limites à descentralização.
Só em 1787, quando os treze Estados confederados americanos se fundiram no primeiro Estado Federal, é que a descentralização do poder irá verdadeiramente florescer. Na federação as autonomias regionais são elevadas ao mais alto grau de importância, conferindo-se-lhes amplos poderes. Elas passam a denominar-se Estados, à semelhança do que acontece com a própria organização central da qual fazem parte integrante.
Elas têm Constituições próprias, assim como um Legislativo, um Executivo e um Judiciário seus. Disso resulta ser a federação uma forma de Estado caracterizada, sobretudo, por ser resultante de uma reunião ou associação de outros Estados.
A palavra Federação vem do latim foedus, foederis, que significa exatamente união, associação.
República Federativa do Brasil > é o nome que se dá ao todo, quer dizer, à resultante do poder central mais os poderes locais ou regionais. O Texto Constitucional chama-se Constituição da República Federativa do Brasil, pois se preocupa em organizar e dar as linhas mestras do Estado brasileiro.
Do ponto de vista interno > esse Estado se expressa basicamente através de duas ordens jurídicas (há uma terceira – os Municípios – que falaremos adiante) que são, de um lado, a União e, de outro, os Estados-Membros ou os Estados Federados, ou simplesmente Estados.
União > é uma pessoa jurídica de direito público dotada de autonomia. Ela pode atuar dentro dos limites que a Constituição lhe outorga, da mesma maneira que os Estados-Membros também são autônomos. 
A autonomia recíproca entre os Estados-Membros e a União é a essência do princípio federativo.
Quem seria soberano dentro do Estado Federal? Houve época que se entendeu que os Estados-Membros fossem os soberanos. Em outras ocasiões foi dito que a soberania caberia simultaneamente aos Estados-membros e à União. Hoje prevalece a doutrina segundo a qual soberano é o Estado total, é a República Federativa do Brasil, que expressa sua soberania na ordem internacional através dos órgãos da União.
Dos Municípios > esse é um ponto importante no federalismo brasileiro, pois ao se contemplar a doutrina sobre a federação nunca será encontrada referência aos Municípios. Os Municípios são considerados um problema dos Estados-Membros que a eles outorgam, ou não, autonomia segundo a sua vontade. 
No constitucionalismo brasileiro tal não acontece. É diferente. 
Os Municípios também desfrutam de uma autonomia similar à dos Estados-Membros, visto que não lhes falta um campo de atuação delimitado: leis próprias e autoridades suas. 
Isso dá ao nosso Município a qualidade de autônomo e, mais do que isso, autônomo por força da própria Constituição.
2.1.7. Traços comuns a toda Federação
Existem união de Estados que são relevantes para o Direito Internacional. Essa união de Estados se chamam Confederações e o documento jurídico que as forma é o Tratado.
Dois ou mais Estados podem vincular-se do ponto de vista do Direito Internacional, celebrando obrigações recíprocas e chegando mesmo a criar um órgão central encarregado de levar a efeito as decisões tomadas.
Mas há diferenças fundamentais entre a confederação e a federação.
Na confederação os Estados que a compõem não perdem sua individualidade do ponto de vista do Direito Internacional. Os Estados continuam detentores de sua soberania, e podem, livremente, desligar-se a qualquer momento da Confederação. 
A Confederação não tem poderes de se imiscuir nos assuntos internos de cada um dos Estados que a formam. Ou seja. As decisões tomadas no nível da Confederação dependerão sempre de leis internas a cada um dos Estados, para que se tornem efetivas.
Em termos históricos > a confederação é bem mais antiga que a federação. Ela foi conhecida na antiguidade clássica na Grécia, onde foram frequentes as ligas formadas sob a supremacia de uma dada cidade em torno da qual se agrupavam diversas outras, unidas por vínculos de colaboração recíproca.
Em diversas outras ocasiões históricas, os Estados decidiram celebrar entre si, laços confederativos.
Em algumas vezes a confederação deu lugar a uma federação, como o caso dos Estados Unidos e da Suíça, onde, precedentemente às atuais federações, existiram confederações. Nos Estados Unidos a confederação durou de 1781 a 1787, data em que entrou em vigor a primeira Constituição autenticamente federativa na história da humanidade. As razões que motivaram a mudança de confederação para federação foi o caráter frouxo das associações confederativas.
O caso Americano > um conjunto de problemas enfrentados pelos Estados Confederados deu lugar à federação, essa forma extremamente engenhosa de organização do poder.
No caso Americano de um lado, havia a necessidade de organizar-se um poder central forte e, de outro, havia a entranhada com convicção de que os Estados não deviam abrir mão de sua Soberania. A solução encontrada pelos constituintes de Filadélfia foi a de atribuir ao Estado Federal tão somente os poderes que fossem expressamente enunciados na Constituição.
Apenas as competências definidas no Texto Constitucional como da alçada da União é que podiam ser desempenhadas pelo órgão central do poder.
Curiosidade > Na Constituição Americana não há qualquer referência à palavra federação, muito embora seja ela o modelo das constituições federativas.
Estados-Membros > passaram a contar com todos os poderes que não fossem delegados à União ou que não estivessem expressamente proibidos de exercitar, pela Constituição Federal. 
Essa técnica de repartição de competências é ainda hoje predominante na maioria das Federações: consiste em atribuir poderes enunciados à União e os poderes remanescentes aos Estados-Membros. A grande virtude foi atender perfeitamente a exigências aparentemente contraditórias.
A União, pela enunciação das competências que recebia, surgia suficientemente forte para impor-se em matérias específicas aos Estados-Membros.
Os Estados-Membros tinham também a certeza de continuar inteiramente soberanos, em tudo aquilo que não dissesse respeito às delegações expressamente feitas.
Esse Federalismo de cisão profunda entre as competências da União e dos Estados é, ainda hoje, considerado o federalismo clássico ou federalismo dualista.
Hoje existe um federalismo de colaboração ao invés da forma pura que existia nos seus primórdios. Existe hoje uma interpenetração entre as atividades da União e as do Estado, o que é feito mediante técnicas que viabilizam a participação da União em atividades conjuntas com os Estados, da mesma forma que fazem dos Estados entes de colaboração na atividade federal. 
Isso é denominado como um autêntico federalismo de colaboração.
Certas características fundamentais da federação não se alteraram com o tempo e até hoje o pensamento dos constituintes da Filadélfia permanecem. Como exemplo tem-se a repartição de competências (estabelecido em 1787), ou seja, competências enunciadas e competências remanescentes, elementos até hoje indispensáveis à federação.
Foi tido desde o inicio e ainda tem nos dias atuais a necessidade de assegurar que essa partilha de competências não seja subvertida no funcionamento normal das coisas. Melhor dizendo: é preciso que o disposto na Constituição não se revele, na prática, letra morta.
Para a mantença da partilha de competências recorreu-se ao fortalecimento do Poder Judiciário, elemento indispensável em toda Federação. 
De nada adiantaria a preocupação de repartir competências entre a União e Estado, se não houvesse um órgão (o Poder Judiciário) em condições de superiormente dirimir os conflitos entre ambos. É por isso que o Poder Judiciário americano, desde o início desfruta de um grande prestígio na vida nacional, que permanece até hoje. Assim a Federação Americana acaba por seu uma criação da Suprema Corte daquele país, pela interpretação que faz do Texto Constitucional.
É inerente a toda federação um Texto Constitucional no qual se façam essas instituições presentes. O Texto Constitucional não pode ficar ao sabor de alterações por via de leis ordinárias. Ele só pode ser modificado por Emenda à Constituição, produzida mediante a satisfação de requisitos bastante exigentes (Constituição rígida), envolvendo, inclusive, a participação dos próprios Estados. É esse o elemento de estabilidade que acaba por assegurar a manutenção da partilha inicial de competências.
Assim, uma Constituição escrita e uma Constituição tecnicamente rígida (que só pode ser alterada via Emenda Constitucional), constituem ainda hoje traços essenciais do federalismo.
As características principais de uma federação são:
I – a união de certas entidades políticas autônomas (os Estados) para finalidades comuns;
II – a divisão dos Poderes Legislativos entre o Governo Federal e os Estados componentes, divisão regida pelo princípio de que o primeiro é um “Governo de poderes enumerados”, enquanto os últimos são governos de “Poderes Residuais”;
III – a operação direta, na maior parte, de cada um desses centros de governo, dentro de sua esfera específica, sobre todas as pessoas e propriedades compreendidas nos seus limites territoriais;
IV – a provisão de cada centro com o completo aparelhamento de execução da lei, quer por parte do Executivo, quer do Judiciário.
2.1.8. Federação Americana
O item referente à união de Estados autônomos corresponde ao ocorrido na Federação Americana em que houve de fato a associação de treze Estados independentes, mediante um verdadeiro pacto Federal. 
Embora a Constituição Americana começa pela frase: “Nós o povo dos EUA”, esculpida no seu preâmbulo, a união foi, de fato, celebrada pelos Estados. Foram os representantes dos Estados que elaboraram a Constituição de 1787, da mesma maneira que foi esta submetida a ratificações obtidas mediante o voto de convenções eleitas em cada um dos Estados.
No exemplo americano, fica patente o fato de a nação americana ter surgido da união voluntária de treze soberanias autônomas, o que levou um juiz americano a afirmar que a Constituição é um pacto entre as entidades soberanas.
Essa soberania inicialmente admitida dos Estados-Membros, na prática foi desmentida por ocasião da Guerra da Secessão, onde Estados Sulistas pretenderam, sem êxito, fazer valer o seu direito de separação, de saída, da Federação. No episódio ficou claro que a União era perpétua, indissolúvel, e assim decidiu a Suprema Corte dos EUA: 
“A perpetuidade e a indissolubilidade da União de forma alguma implica a perda de existência distinta e individual ou do direito de autonomia dos estados ... Segundo a Constituição, embora os poderes dos estados fossem bastante limitados, todos os poderes não delegados aos Estados Unidos, nem proibidos aos estados, são reservados aos estados, respectivamente, ou ao povo”.
Essa União de Estados não fica tão patente, pelo menos em termos históricos, em países como o Brasil, em que a Nação antecedeu à Federação. Mas a ideia de que o governo federal resulta da associação pactuada de Estados, essa ideia, em si mesma, continua a ter ainda uma força teórica na explicação do modelo federativo, mesmo naqueles Estados em que, do ponto de vista histórico, tal união jamais tenha existido.
2.1.9. A Teoria dos Poderes Implícitos
O cerne central da Federação é a divisão de poderes entre o Estado Central e os Estados-Membros. Em 1787 foi proposta a abolição das autonomias estaduais o que não foi aceito. A preocupação era evitar qualquer possibilidade de asfixia dos Estados que deveriam permanecer como Estados dotados de todos os elementos necessários à sua integração. 
Por conta dessa situação foi limitado a União tão somente os poderes enunciados na Constituição, garantindo que não haveria engrandecimento exagerado do Estado Central.
A teoria dos poderes enunciados não nos deve afastar de interpretação posterior da Suprema Corte Americana, acolhida pela maioria dos estudiosos do modelo federativo, onde além dos poderes expressamente enunciados na Constituição, seriam também indispensáveis à União os poderes implícitos, ou seja, aqueles que fossem instrumentais ao atingimento das finalidades expressamente enunciadas.
Foi a teoria dos poderes implícitos que permitiu o desenvolvimento completo do governo central. Hoje, na Constituição Americana não se encontra previsão de muitas atividades cumpridas pelo governo central, pois elas repousam na interpretação jurisprudencial da Suprema Corte, que nelas viu meio indispensável ao atingimento das finalidades contempladas nos dispositivos expressos da Constituição Federal.
Traço típico do federalismo é o fato de o poder central ter imediata atuação sobre as pessoas e sobre o território dos Estados-membros.
2.1.10. A Federação no Direito Positivo Brasileiro
A exemplo do Estado Central, os Estados-membros dispõem, cada um deles, do seu aparato organizacional próprio. São governos plenos com todos os seus órgãos. Existe um Poder Executivo, um Poder Legislativo e um Poder Judiciário dos Estados-Membros, assim como há um Executivo, um Legislativo e um Judiciário da União.
Embora, hoje, as decisões mais importantes emanam do Poder Central, os Estados-Membros em uma federação como o Brasil ou uma Federação como a Americana, continuam a deter uma presença bastante grande junto à vida dos cidadãos.
Normalmente as funções de polícia, de prestação de ensino, de prestação dos serviços de saúde, e outras atividades, estão entregues aos Estados-Membros, e é com essas máquinas administrativas que o cidadão deve lidar. Os próprios tributos são separados entre Tributos da União e Tributos dos Estados-membros, e o cidadão deverá honrá-los igualmente.
Não há que se falar em supremacia da União sobre os Estados, nem destes sobre a União. Todavia, o federalismo americano enfatiza um denominado princípio de supremacia nacional sobre os Estados.
É evidente que a União por sua vontade não possa invadir esferas de competência dos Estados. Deve haver respeito recíproco entre esses entes e suas competências, pois essa é a essência do federalismo. Para essa regra não existe exceções.
A jurisprudência americana consagra a hipótese de uma lei estadual conflitar com uma lei federal, ambas calcadas em razoáveis indícios de constitucionalidade. Nesse caso aplicou-se a cláusula da Constituição Americana que diz: “a lei federal, a Constituição e os Tratados são a lei suprema do país”. Pela jurisprudência essas normas não podem sofrer contraste emanado dos Estados, ainda que calcado em uma competência constitucionalmente sua. Tal não é um princípio mas uma exceção válida para casos restritos onde ocorrer um conflito constitucional de competência.
No direito brasileiro não se aplica esse princípio, pois em primeiro lugar analisa-se
qual a lei que é constitucional.
Esse princípio americano produz efeitos nefastos à nossa doutrina, onde se alega um suposto princípio de hierarquia das leis, que colocaria a lei federal acima da lei estadual. Tal só ocorre diante de uma lei federal constitucional contrariada por uma lei estadual.
Para esses casos onde houver extrapolação da competência federal, a situação é resolvida normalmente em inconstitucionalidade (afronta ao pacto federativo), não havendo invocação do princípio da superioridade da lei nacional sobre a dos Estados.
O Brasil adotou o federalismo em 15.11.1889 por força da implantação da República e pela opção feita naquele momento pala forma federativa de Estado. Tal decisão só foi implementada com o advento da Constituição de 1891.
Nesse período os Estados recém-criados gozaram de grande autonomia, mas dela não fizeram bom uso. O governo apoiado pelas oligarquias locais, por sua força, atuava em prol de seus interesses grupais e de classes.
Em 1930 com o movimento revolucionário, são nomeados interventores para os Estados, o que os privou de uma efetiva autonomia.
A Constituição de 1934 confirma o caráter federativo do Estado Brasileiro. Mas logo essa Constituição é revogada por outra Constituição, imposta pelo golpe de Estado de 1937, e volta o Brasil à forma unitária de Estado.
A federação só ressurge com a Constituição de 1946. Todavia o movimento armado militar (1964) trouxe um regime despótico e autoritário, com violentos abalos enfraquecendo o princípio federativo.
O avanço do Estado técnico-burocrático, assumindo amplas funções no campo econômico, faz com que muitos autores duvidem do caráter federativo do Estado brasileiro.
O Brasil não tem acentuadas tradições federativas como o caso dos EUA. No período monárquico vigorava o Estado Unitário. Após a independência o grau de autonomia dos Estados-membros nunca assumiu proporções equiparáveis às existentes nos Estados federativos mais desenvolvidos.
Não obstante o inegável fortalecimento do poder central em detrimento das autonomias locais, o modelo jurídico vigente no Brasil é o de um Estado federal.
Tudo aqui se passa como um modelo federativo autêntico. Há mecanismos de repartição de competências, e respeito às autonomias locais, ainda que muitas vezes esvaziadas, mas de qualquer forma, existentes nos campos restritos da sua atuação. 
É declarada nula a lei que não respeitar essas autonomias locais. Para se entender o funcionamento do Estado brasileiro, é necessário compreender os mecanismos de funcionamento de uma federação.
2.1.11. A Federação na Constituição de 1988
O traço principal que marca profundamente a nossa (já capenga) estrutura federativa é o fortalecimento da União relativamente às demais pessoas integrantes do sistema.
O constituinte de 1988, infelizmente, não produziu uma revitalização do nosso princípio federativo.
O Estado Brasileiro na Constituição de 1988 ganha níveis de centralização superiores à maioria dos Estados que se consideram unitários. Com a descentralização por regiões ou por províncias, há um nível de transferência das competências tanto legislativas quanto de execução muito superior àquele alcançado pelo Estado Brasileiro. Nossa Constituição é eminentemente centralizadora. Nesse aspecto ela é mais grave e centralizadora que a anterior (1964).
O artigo 18 da nossa Constituição ao dar a estrutura da Federação Brasileira nela incluiu os municípios.
Tal desatende aqueles que preferem uma forma mais pura, mais clássica de federação. Todavia ao incluir o Município como ente da federação, andou bem o constituinte brasileiro.
Com a autonomia municipal, um dos centros de competência constitucional exercida de forma autônoma, não há por que o Município não possa participar naquele artigo (art. 18, CF) que fornece o perfil jurídico-político da República Federativa do Brasil.
O fato de o Município não se fazer representar na União, e assim não compor de certa forma o suposto pacto federativo, nos parece ser um argumento de ordem excessivamente formal.
O Distrito Federal continua como na Constituição anterior e figura como parte da federação brasileira. 
O Distrito Federal tornou-se mais uma das autonomias existentes no Estado-Brasileiro, exercendo autonomia sobre matérias que lhes são próprias, por intermédio de um Legislativo próprio. 
Assim o Distrito Federal se assemelha a um Estado-Membro da Federação.
2.1.12. Repartição de Competências Constitucionais
O sistema de partilha das competências constitucionais foi razoavelmente alterado em face do Texto anterior (Constituição de 1964). A Constituição anterior mantinha maiores escrúpulos com relação ao modelo clássico de federação, ao permitir que ainda guardasse alguma significação o princípio de que os poderes não ressalvados expressamente na Constituição como da União pertencem aos Estados. Tratava-se do § 1º do artigo 13 da Constituição anterior que dispunha in verbis:
“Aos Estados são conferidos todos os poderes que, explícita ou implicitamente, não lhes sejam vedados por esta Constituição”.
Artigo de igual índole é mantido na Constituição atual. Todavia é forçoso reconhecer que esse dispositivo, hoje, não cumpre sua função institucional. Ora, são tão amplas as competências atribuídas à títulos diversos à União, que a participação do Estado se torna (evanescente) efêmera.
Verdade inquestionável > a regra de ouro da nossa Federação tornou-se a de que a União cumpre um papel hegemônico na atividade legislativa em todos os níveis. Destarte, trata-se de mudança substancial de critério em face da lei maior precedente. Nesta ainda havia a preocupação de se apartarem competências de maneira mais ou menos nítida, permitindo que os Estados e Municípios desfrutassem de uma competência privativa, exclusiva, apesar de sabermos que a técnica da competência supletiva já era conhecida na Constituição anterior.
Esse fato (competências privativas dos Estados e Municípios) parecia algo excepcional na lei maior, ou seja, o desfrute por parte do Estado de competência para legislar originariamente. O certo é que essa competência praticamente desaparece, ficando reduzida a itens pouco numerosos, quase inexistentes. A área em que essa atuação pode ainda se fazer sentir é a do servidor público, que é do Direito Administrativo. Mesmo assim, resulta muito desfalcada por toda a sorte de matérias que hoje são, na verdade, de competência da União. 
 
Bibliografia
Luiz Alberto David Araujo/Vidal Serrano Nunes Júnior - Curso de Direito Constitucional.
Celso Ribeiro Bastos - Curso de Direito Constitucional.

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