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O ACORDO NUCLEAR BRASIL-REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA

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O ACORDO NUCLEAR BRASIL-REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA – PAULO NOGUEIRA BATISTA
O acordo foi assinado em Bonn, em junho de 1975 e constitui o mais importante instrumento de cooperação entre um país desenvolvido e um em desenvolvimento. Além de projetar a Alemanha Ocidental como fornecedora de equipamentos e serviços, num mercado dominado pelos Estados Unidos, viabilizaria a execução do primeiro programa efetivo de utilização pacífica, em larga escala, de energia atômica por um pais em desenvolvimento.
Representa uma primeira grande manifestação da capacidade de atuação independente frente aos Estados Unidos num campo da mais alta prioridade. A Alemanha se revelaria para o Brasil em duas questões chave para o desenvolvimento nacional – a produção de aço e a utilização da energia nuclear – como alternativa para os Estados Unidos.
Decisão norte-americana de financiar e assistir tecnicamente grandes empreendimentos estatais: a Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia Vale do Rio Doce.
O Acordo Nuclear teria muito mais impacto externo do que a instituição do monopólio estatal na área de petróleo, pois não excluía a participação de empresas estrangeiras na área que efetivamente as interessava no Brasil, a de distribuição e comercialização de derivativos de petróleo. A criação da Petrobrás não punha em risco nenhum interesse estratégico dos Estados Unidos.
A cooperação nuclear entre o Brasil e a Alemanha Ocidental, além de abrir perspectivas em outros terrenos – na área, por exemplo, da ciência e da tecnologia, nos valorizaria, como parceiros, em relação a países desenvolvidos, como um país em condições de ter uma política independente em questões centrais da cena internacional. A qualificação do Brasil como potência nuclear civil, nos daria inegável projeção geopolítica, firmando nossa liderança na América Latina.
Também provocaria forte reação nos Estados Unidos, resultando num cerceamento ainda maior da cooperação internacional no terreno da energia nuclear, estendendo-se mesmo nas áreas não sensíveis. O país, não conseguindo impedir a assinatura do acordo, se dedicaria, por um lado, a um trabalho de incentivo à criação no Brasil se uma oposição interna ao programa nuclear do Governo Geisel e a uma série de iniciativas internacionais, com o objetivo de dificultar a implementação do Acordo teuto-brasileiro e de obstar a conclusão de novos acordos do gênero da Alemanha ou da França com outros países em desenvolvimento.
Formação de um cartel de fornecedores, o “Clube de Londres”: Estados Unidos conseguiram associar todos os países desenvolvidos detentores de tecnologia no setor nuclear, inclusive a União Soviética. A Alemanha Federal somente concordaria em integrar o “cartel” dos fornecedores nucleares sob a condição da não-aplicação de suas diretrizes restritivas ao Acordo assinado com o Brasil.
Durantes dois anos, a Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA dedicou-se a estudar e debater a possibilidade da criação de Multilateral Nuclear Fuel Cycle Facilities, destinada a tornar menos atraente ou menos justificável a existência de unidades nacionais de enriquecimento de uranio ou de reprocessamento de plutônio.
O acordo resultaria na revisão da legislação norte-americana em matéria nuclear, instituindo a possibilidade de sanções dentro e fora da área nuclear a serem aplicadas a países que, no entender dos Estados Unidos, violassem obrigações como signatários do Tratado de Não-Proliferação – TNP.
O acordo provocou o endurecimento das normas da AIEA em matéria de salvaguardas, controle mais estrito. Adotando sistema de salvaguardas destinado a permitir controle estrito da qualidade de material nuclear em todas as etapas se sua utilização.
A política nuclear acaba sendo uma outra face da política externa. Cada vez mais a tecnologia é sinônimo de poder nacional.
O que se denomina ou denominou a política nuclear brasileira em diferentes governos, até o Presidente Ernesto Geisel, nada mais eram do que políticas propostas pelos setores mais ativamente engajados na área nuclear.
Evolução do interesse do Brasil: 1. Fase de inicial de tentativa de afirmação 2. Fase de defesa do direito, nuclearização para fins militares 3. Acordo teuto-brasileiro, nuclearização pacífica, incluído o direito de se valer da cooperação estrangeira.
De Vargas à Juscelino: do Plano Baruch ao “átomo para a paz”
Vargas: nos limitamos no quadro de cooperação com o esforço militar dos Estados Unidos a fornecer areias monoazíticas.
Dutra: Estados Unidos querendo preservar o monopólio da energia nuclear que havia adquirido com a produção das primeiras bombas atômicas. O Governo norte-americano seria proibido de ceder qualquer tipo de colaboração.
Afim de prevenir ou frustrar desenvolvimento autônomo da nova tecnologia por parte de qualquer país e, em especial, da União Soviética, os Estados Unidos tentariam, em primeiro lugar, assumir por via da ONU o controle de todas as atividades nucleares em todo o mundo - Plano Baruch -, em troca da promessa de progressivo desarmamento nuclear. Tais colocações não ofereciam obviamente grandes chances de prosperar em face precisamente da oposição da União Soviética. A efetiva resposta moscovita viria, no entanto, pela aceleração de suas próprias pesquisas, surpreendendo o mundo, três anos depois, com a explosão de uma primeira bomba atômica em 1949, seguida em 1953 de uma bomba termonuclear.
Na discussão do Plano Baruch na ONU, o representante brasileiro na Comissão de Energia Atômica da referida Organização, Almirante Álvaro Alberto, lançaria a tese que viria mais tarde a construir um dos pilares da política nuclear brasileira ao tentar condiciona a aceitação do Plano pelo Brasil a compromissos de cooperação para desenvolvimento da energia nuclear no País. A posição não impediria nosso apoio ao Plano Baruch.
O Brasil não contava com a capacidade organizada de pesquisa científica ou tecnológica nem com base industrial com a sofisticação requerida para de dar sustentação a um programa nuclear. Os Estados Unidos estavam determinados a não ceder tecnologia nuclear de qualquer espécie mesmo para reatores de pesquisa e menos ainda, no caso de países em desenvolvimento, para geração de eletricidade.
A negativa dos EUA de se comprometer formalmente com a utilização de armas nucleares na defesa da Europa Ocidental constituiria um forte estimulo à proliferação da capacidade nuclear militar com todo seu spin-off de usos civis. Estados Unidos ficariam vulneráveis a um ataque nuclear direto da União Soviética com mísseis transcontinentais, levando os europeus a insistir no estacionamento não apenas de tropas norte-americanas que serviriam de “gatilho” na hipótese de ataque convencional no teatro europeu, mas também de armas nucleares táticas no Velho Mundo, ainda que sob o controle dos Estados Unidos.
A explosão da primeira bomba atômica soviética romperia de forma dramática o monopólio norte-americano da tecnologia nuclear para fins militares, mas teria também consequências econômicas: desenvolvimento de programas civis seria subproduto mais ou menos automático dos programas militares. Estados Unidos assumem a liderança desse campo. Surgem competidores num mercado internacional que parecia muito promissor para a Europa Ocidental, como alternativa ao carvão.
Átomos para a Paz: lançado por Eisenhower em 1953, é uma nova política pela qual os Estados Unidos abririam mão do segredo científico e se disporiam a proporcionar cooperação tecnológica para fins passivos, limitada, no entanto às áreas não sensíveis. Cooperação da União Soviética. A partir deste programa, os dois países criaram a Agencia Internacional de Energia Atomica (AIEA), recebendo a missão de administração de salvaguardas uniformes e multilaterais, destinadas à substituição das salvaguardas nacionais dos fornecedores de equipamentos nucleares. Institucionalizar-se-ia o controle do uso nacional.
Estados Unidos se comprometeram a fornecer, em condições estritamente comerciais, reatores de pesquisa e de potência e também cooperação em algumas áreasde pesquisa.
Brasil: 1952 – Acordo trienal com os Estados Unidos para fornecimento de areias monozíticas. Vargas aprova um programa nuclear proposto por Álvaro Alberto que contemplava a cooperação norte-americana, francesa e alemã. O objetivo era a instalação de reatores de pesquisa e de um reator para produção de eletricidade e todas as etapas do ciclo combustível. Vargas não chega a de fato, a dar partida em um programa de efetivo exercício do direito à nuclearização.
Café Filho: Volta à exclusividade da cooperação com os Estados Unidos. Para evitar atividades paralelas, cria-se a Comissão de Energia Atômica no âmbito do CNPq e se afasta Álvaro Alberto da área nuclear.
JK: Brasil dá os primeiros passos concretos no sentido da utilização da energia nuclear. Criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear e aquisição de um reator de pesquisa que seria instalado no Instituto de Energia Atômica. Diversificação das fontes externas de cooperação.
João Goulart: Pouco foi feito, exceto a tentativa não consumada de um acordo com a França para fornecimento de um reator e potência de urânio natural.
1962: projeto de resolução sobre ampla proposta de desnuclearização da América Latina. Proposta resgatada pelo México, no que decorreria a iniciativa mexicano-brasileira de um acordo de proscrição de armas nucleares na região que viria a constituir o Tratado de Tlatelolco.

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