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Dois mil anos de Igreja

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Dois mil anos de Igreja 
“Tu és Pedro; e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja… e as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). 
Pela História da Igreja podemos ver com clareza a sua transcendência e divindade. Nenhuma instituição humana sobreviveu a tantos golpes, 
perseguições, martírios e massacres durante 2000 mil anos; e nenhuma outra instituição humana teve uma seqüência ininterrupta de governantes. 
Já são 265 Papas desde Pedro de Cafarnaum. 
Esta façanha só foi possível porque ela é verdadeiramente divina; divindade esta que provém Daquele que é a sua Cabeça, Jesus Cristo. Ele fez 
da Igreja o Seu próprio Corpo (cf. Cl 1,18), para salvar toda a humanidade. 
Podemos dizer que, humanamente falando, a Igreja, como começou, “tinha tudo para não dar certo”. Ao invés de escolher os “melhores” 
homens do Seu tempo, generais, filósofos gregos e romanos, etc., Jesus preferiu escolher doze homens simples da Galiléia, naquela região 
desacreditada pelos próprios judeus. 
“Será que pode sair alguma coisa boa da Galiléia?” Isto, para deixar claro a todos os homens, de todos os tempos e lugares, que “todo este 
poder extraordinário provém de Deus e não de nós” (2Cor 4,7); para que ninguém se vanglorie do serviço de Deus. 
Aqueles Doze homens simples, pescadores na maioria, “ganharam o mundo para Deus”, na força do Espírito Santo que o Senhor lhes deu no dia 
de Pentecostes. “Sereis minhas testemunhas… até os confins do mundo” (At 1, 8). 
Pedro e Paulo, depois de levarem a Boa Nova da salvação aos judeus e aos gentios da Ásia e Oriente Próximo, chegaram a Roma, a capital do 
mundo, e ali plantaram o Cristianismo para sempre. Pagaram com suas vidas sob a mão criminosa de Nero, no ano 67, juntamente com tantos 
outros mártires, que fizeram o escritor cristão Tertuliano de Cartago(†220) dizer que: “o sangue dos mártires era semente de novos 
cristãos”. Estimam os historiadores da Igreja em cem mil mártires nos três primeiros séculos. Talvez isto tenha feito os Padres da Igreja 
dizerem que “christianus alter Christus” (o cristão é um outro Cristo), que repete o caminho do Mestre. 
Mas estes homens simples venceram o maior império que até hoje o mundo já conheceu. Aquele que conquistou todo o mundo civilizado da 
época, não conseguiu dominar a força da fé. As perseguições se sucederam com os 12 Césares romanos: Décio, Dioclesiano, Valeriano, Trajano, 
Domiciano, etc…, até que Constantino, cuja mãe se tornara cristã, Santa Helena, se converteu ao Cristianismo. No ano 313 ele assinava o edito 
de Milão, proibindo a perseguição aos cristãos, depois de três séculos de sangue. E nem mesmo o imperador Juliano, por volta do ano 390, o 
apóstata, conseguiu fazer recuar o cristianismo, e no leito de morte exclamava: “Tu venceste, ó galileu!”. 
O grande Império se ajoelhou diante de Cristo; a orgulhosa espada romana se curvou diante da Cruz. 
A marca impressionante desta Igreja invencível e infalível, esteve sempre na pessoa do sucessor de Pedro, o Papa. Os Padres da Igreja cunharam 
aquela frase que ficou célebre: “Ubi Petrus, ibi ecclesia; ubi ecclesia ibi Christus” (Onde está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja está 
Cristo). Já é um cadeia de 266 Papas, ininterrupta. Jamais se viu isso em qualquer outra Instituição humana. Os Impérios acabaram: Egípcio, 
Babilônico, Caldeu, Persa, Grego, Romano, Mongol … mas a marcha inexorável da Santa Igreja continua. 
“Tu és Pedro; e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja… e as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). 
Depois da perseguição romana, vieram as terríveis heresias. Já que o demônio não conseguiu destruir a Igreja, a partir de fora, tentava agora 
fazê-lo a partir de dentro. De alguns patriarcas das grandes sedes da Igreja, Constantinopla, Alexandria, Antioquia, Jerusalém, e outras partes , 
surgiam as falsas doutrinas, ameaçando dilacerar a Igreja por dentro. Era o pelagianismo, o maniqueísmo, o gnosticismo, o macedonismo, 
nestorianismo, etc.. Mas o Espírito Santo incumbiu-se de destruir todas elas, e o barco da Igreja continuou o seu caminho até nós. 
Os grandes defensores da fé e da sã doutrina, foram os “Padres” da Igreja: Inácio de Antioquia (†107), Clemente de Roma (†102), Ireneu de 
Lião (†202), Cipriano de Cartago(† 258), Hilário de Poitiers (†367), Cirilo de Jerusalém (†386), Anastácio de Alexandria (†373), Basílio 
(†379), Gregório de Nazianzo (†394), Gregório de Nissa (†394), João Crisóstomo de Constantinopla (†407), Ambrósio de Milão (†397), 
Agostinho de Hipona (†430), Jerônimo (420), Éfrem (†373), Paulino de Nola (†431), Cirilo de Alexandria (†444), Leão Magno (†461), e tantos 
outros que o Espírito Santo usou para derrotar as heresias nos diversos Concílios dos primeiros séculos. 
Cristo deixou a Sua Igreja na terra como “a coluna e o sustentáculo da verdade” 1Tm 3,15). Todas as outras comunidades cristãs foram 
 derivadas da Igreja Católica; as ortodoxas romperam em 1050; as protestantes em 1517; a anglicana, em 1534, etc. 
Depois que desabou o Império Romano do ocidente, coube à Igreja o papel de mãe destes filhos abandonados nas mãos dos bárbaros. S.Leão 
Magno, Papa e doutor da Igreja, enfrentou Átila, rei dos hunos, às portas de Roma, e impediu que este bárbaro, o “flagelo da História”, 
destruísse Roma; o mesmo fez depois com Genserico. Aos poucos a Igreja foi cristianizando os bárbaros, até que o rei e a rainha dos francos, 
Clovis e Clotilde, recebessem o batismo no ano 500. Era a entrada maciça dos bárbaros no cristianismo. Nascia a França católica; “a filha mais 
velha da Igreja”. Papel importantíssimo nesta conquista lenta e silenciosa coube aos monges e seus mosteiros espalhados em toda a Europa, 
especialmente os beneditinos, que preservaram a cultura do Ocidente. A Igreja salvou o mundo da destruição dos Bárbaros. 
Mais adiante, no Natal do ano 800, na Catedral de Reims, na França, o rei franco Carlos Magno era coroado pelo Papa. Também os bárbaros se 
rendiam à fé de Cristo. Isto foi possível graças aos milhares de evangelizadores que percorreram toda a Europa anunciando a salvação trazida 
por Jesus ao mundo. 
Em toda a Idade Média imperou a marca do cristianismo na Europa. Aspirava-se e respirava-se a fé. Surgiram as Catedrais como a bela 
expressão da fé; as Cruzadas ao Oriente no zelo de libertar a Terra Santa profanada; as Universidades cristãs, Bolonha, Sorbonne, Oxford, 
Salamanca, Coimbra, La Sapienza, etc, todas fundadas pela Igreja de Cristo. A Igreja é a mãe da cultura e do saber no Ocidente. 
Mas a fé sempre esteve ameaçada; nos tempos modernos levantaram-se contra a Igreja as forças do materialismo, do comunismo, do nazismo, 
do racionalismo e iluminismo ateu; e fizeram milhares de mártires cristãos, especialmente neste triste século vinte que há pouco findou. 
Certa vez Stalin, ditador soviético, para desafiar a Igreja, perguntou “quantas legiões de soldados tinha o Papa”; é pena que não sobrevivesse até 
hoje para ver o que aconteceu com o comunismo. Mas a Igreja continua como nunca, até o final da História, quando Cristo voltará para assumir 
a Sua Noiva. Será as Bodas definitivas e eternas do Cordeiro com a Sua Igreja. 
Papa e sucessão apostólica 
São Cipriano (?258), bispo de Cartago, defensor da unidade da Igreja: 
“O Senhor diz a Pedro: “Eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre 
ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus (…). O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos 
depois de sua ressurreição, dizendo: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio. Recebei o Espírito Santo, se perdoardes os pecados de alguém, 
ser-lhes-ão perdoados, se os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. No entanto, para manifestar a unidade, dispõe por sua autoridade a origem desta 
mesma unidade partindo de um só. Sem dúvida, os demais apóstolos eram, como Pedro, dotados de igual participação na honrae no poder; mas 
o princípio parte da unidade para que se demonstre ser única a Igreja de Cristo… Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade da Igreja? 
Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja? Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a 
Igreja?” (Sobre a Unidade da Igreja). 
Santo Ireneu (?202): 
“Porque é com essa Igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação, que deve necessariamente concordar toda igreja, 
isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos que procedem de toda parte, se 
conservou a Tradição que vem dos apóstolos” (Contra as Heresias). 
S. Pedro Crisólogo (?450): 
“No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma.” 
São João Crisóstomo (?407), bispo de Constantinopla: 
“Pedro, na verdade, ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apoia a fé e sobre a qual está edificada a Igreja. Tendo confessado ser 
Cristo o Filho de Deus vivo, foi-lhe dado ouvir: “Sobre esta pedra – a da sólida fé – edificarei a minha Igreja”(Mt 16,18). 
Tornou-se enfim Pedro o alicerce firmìssimo e fundamento da Casa de Deus, quando, após negar a Cristo e cair em si, foi buscado pelo Senhor e 
por ele honrado com as palavras: “apascenta as minhas ovelhas”(Jo 21,15s). Dizendo isto, o Senhor nos estimulou à conversão, e também a que 
de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitência 
sincera e se corrige de seus pecados”. (Haer. 59,c,8). 
Eusébio de Cesaréia (?340): 
“Pedro e Paulo, indo para a Itália, vos transmitiram os mesmos ensinamentos e por fim sofreram o martírio simultaneamente” (História 
Eclesiástica, II 25,8) 
Observação: A História da Igreja, desde cedo, mostra que os sucessores de S. Pedro em Roma fizeram uso da sua jurisdição. Por exemplo na 
questão da data da festa da Páscoa, no século II, alguns cristãos da Ásia Menor não queriam seguir o calendário de Roma; o Papa S. Victor 
(189-199) ameaçou-os de excomunhão (cf. Hist. Ecles. Eusébio V 24, 9-18). Ninguém contestou o Bispo de Roma, o Papa; e parecia claro a 
todos os bispos que nenhum deles podia estar em comunhão com a Igreja universal (já chamada de católica) sem estar em comunhão com a 
Igreja de Roma. Isto mostra bem o primado de Pedro desde o início da Cristandade. 
Papa Pio XII – Encíclica “Mystici Corporis Christi”: 
“Há os que se enganam perigosamente, crendo poder se ligar a Cristo, cabeça da igreja, sem aderir fielmente a seu Vigário na terra. Porque 
suprimindo esse Chefe visível, quebrando os laços luminosos da unidade, eles obscurecem e deformam o Corpo místico do Redentor a ponto de 
ele não poder ser reconhecido e achado dentro dos homens, procurando o porto da salvação eterna”. 
SOBRE A SUCESSÃO APOSTÓLICA 
S. Clemente de Roma (?102), Papa (88-97): 
“Os apóstolos foram mandados a evangelizar pelo Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Assim, Cristo vem de Deus e os 
apóstolos de Cristo. Essa dupla missão se sucede em boa ordem, por vontade de Deus. Assim, tendo recebido instruções, e estando plenamente 
convencidos pela ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, e confirmados na fé pela palavra de Deus, saíramos Apóstolos a anunciar, na 
plenitude do Espírito Santo, a boa nova da aproximação do reino de Deus. Iam pregando por campos e cidades, batizavam os que obedeciam o 
desígnio de Deus, e iam estabelecendo aos que eram as primícias dentre eles como bispos e diáconos dos futuros fiéis, depois de prová-los no 
Espírito Santo. E isto não era novidade, pois desde muito tempo estava escrito de tais bispos e diáconos.” (n.VI) 
“Renunciemos, portanto, às nossas vãs preocupações e voltemos à gloriosa e veneranda regra de nossa Tradição.” (n.VII) 
“Para que a missão a eles [apóstolos] confiada fosse continuada após a sua morte, impuseram a seus colaboradores imediatos, como que por 
testamento, o múnus de completar e confirmar a obra iniciada por eles, recomendando que atendessem a todo o rebanho no qual o Espírito Santo 
os colocara para apascentar a Igreja de Deus. Constituíram pois, tais varões e em seguida ordenaram que, quando eles morressem, outros homens 
íntegros assumissem o seu ministério” (Carta aos Coríntios 42,44). 
“Também os nossos Apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal. Por tal 
motivo e como tivessem perfeito conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de 
que, após a morte deles outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério. Os que assim foram instituídos por eles, ou mais tarde 
por outros homens iminentes com a aprovação de toda a Igreja, e serviram de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo com humildade, pacífica 
e abnegadamente, recebendo por longo tempo e da parte de todos o testemunho favorável, não é justo em nossa opinião que esses sejam depostos 
de seu ministério” (Cor 42, 1-3). 
Essas palavras de S. Clemente, discípulo de S. Paulo como confirma a tradição, é da maior importância; pois nos mostram que foi desejo 
expresso dos Apóstolos que acontecesse a sucessão deles. É por isso que após a morte de S. Pedro, a Igreja de Roma elegeu o seu sucessor, S. 
Lino, depois S. Anacleto, etc. 
Tertuliano, Bispo de Cartago (?202): 
“(…) Foi inicialmente na Judeia que [os apóstolos] estabeleceram a fé em Jesus Cristo e fundaram igrejas, partindo em seguida para o mundo 
inteiro a fim de anunciarem a mesma doutrina e a mesma fé. Em todas as cidades iam fundando igrejas das quais, desde esse momento, as outras 
receberam o enxerto da fé, semente da doutrina, e ainda recebem cada dia, para serem igrejas. É por isso mesmo que serão consideradas como 
apostólicas, na medida em que forem rebentos das igrejas apostólicas. 
É necessário que tudo se caracterize segundo a sua origem. Assim, essas igrejas, por numerosas e grandes que pareçam, não são outra coisa que 
a primitiva Igreja apostólica da qual procedem. São todas primitivas, todas apostólicas e todas uma só. Para atestarem a sua unidade, 
comunicam-se reciprocamente na paz, trocam entre si o nome de irmãs, prestam-se mutuamente os deveres da hospitalidade: direitos todos 
esses regulados exclusivamente pela tradição de um mesmo sacramento. 
A partir daí, eis a prescrição que assinalamos. Desde o momento em que Jesus Cristo, nosso Senhor, enviou os apóstolos para pregarem, não se 
podem acolher outros pregadores senão os que Cristo instituiu. Pois ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho tiver 
revelado. 
E qual a matéria da pregação, isto é, o que lhes tinha revelado o Cristo? 
Aqui ainda assinalo esta prescrição: para sabê-lo é preciso ir às igrejas fundadas pessoalmente pelos apóstolos, por eles instruídas tanto de viva 
voz quanto pelas epístolas depois escritas. 
Nestas condições, é claro que toda doutrina em acordo com a dessas igrejas apostólicas, matrizes e fontes originárias da fé, deve ser considerada 
autêntica, pois contém o que tais igrejas receberam dos apóstolos, os apóstolos de Cristo e Cristo de Deus. Ao contrário, toda doutrina deve ser 
pré-julgada como proveniente da mentira se se opõe à verdade dos apóstolos, de Cristo e de Deus. 
Resta, pois, demonstrar que nossa doutrina, cuja regra formulamos acima, procede da tradição dos apóstolos e, por isso mesmo, as demais 
procedem da mentira. Nós estamos em comunhão com as igrejas apostólicas, se nossa doutrina não difere da sua: eis o sinal da verdade.”(Da 
Prescrição dos hereges, XIII-XX) 
Os mártires de ontem e de hoje 
Aos presentes o Papa fez uma pergunta decisiva sobre o sentido do sacrifício em um mundo confrontado. Destacou o exemplo dos mártires 
coreanos, que aceitavam “a igual dignidade de todos os batizados” e privilegiavam “umaforma de vida fraterna que desafiava às estruturas 
sociais rígidas de sua época”. 
No Jubileu do Ano 2000, o Papa João Paulo II lembrava ao mundo cristão que o século XX – “por ter dado ouvidos aos falsos profetas” – gerou 
mais mártires do que todos os 19 séculos anteriores. Basta contar os mártires do comunismo, do nazismo, da Revolução bolchevista (1917), da 
Revolução espanhola (1930), da Guerra dos Cristeros no México (1926), para entender esta triste realidade. Mais o que nunca o sangue dos 
cristãos fecundou o solo onde foi lançada a semente do Evangelho. 
Disse o Papa em Seul na beatificação dos 124 mártires: “Esta história nos fala da importância, da dignidade e da beleza da vocação dos leigos na 
Igreja”. O Papa beatificou o leigo Paulo Yun Ji-Chung e outros 123 mártires, executados a partir do final do século XVIII. Paulo foi martirizado 
com um primo por tentar realizar um funeral católico para sua mãe, ignorando os rituais do confucionismo. Todos os novos beatos eram leigos, 
com exceção de um padre, James Mun-mo, que veio da China. Destaca-se, então, a importância dos leigos que assumem a fé cristã com valentia. 
Em sua homilia o Papa destacou que “a vitória dos mártires, o testemunho por eles prestado à força do amor de Deus, continua ainda hoje a dar 
frutos na Coreia, na Igreja que recebe incentivo do seu sacrifício”. 
Em todos os tempos e em todos os lugares, sabemos que a semente do Evangelho lançada na terra, sempre foi regada com o sangue dos mártires 
para poder geminar. Isto acontece desde Jerusalém, quando o primeiro Apóstolo, São Tiago Maior, foi morto pelo rei Herodes Agripa em 42. E 
continua ainda hoje, mais do que nunca; basta olhar para o Oriente: Egito, Iraque, Irã, Afeganistão, etc.. e ver a carnificina que hoje se realiza 
contra os cristãos, sob os olhos meio fechados do mundo. 
“Algum tempo depois que as primeiras sementes de fé foram lançadas nesta terra, os mártires e a comunidade cristã tiveram que escolher entre 
seguir Jesus ou o mundo. Tinham escutado a advertência do Senhor, ou seja, que o mundo os odiaria por causa d’Ele (cf. Jo 17, 14); sabiam qual 
era o preço de ser discípulo. Para muitos, isso significou a perseguição e, mais tarde, a fuga para as montanhas, onde formaram aldeias 
católicas”, lembrou o Papa. 
 
Disse o Papa que hoje nossa fé também é posta à prova pelo mundo, que nos pede “negar a nossa fé”, “diluir as exigências radicais do 
Evangelho e conformar-nos com o espírito do tempo”. Mas, ele lembrou que os mártires chamam-nos a “colocar Cristo acima de tudo”. “Os 
mártires levam-nos a perguntar se há algo pelo qual estamos dispostos a morrer”. Ele disse que ia a Coreia para dizer aos jovens “o único Nome 
que pode nos dar a salvação”: Jesus Cristo. 
Os mártires de todos os tempos chegaram à sublime liberdade e alegria de ir ao encontro da morte porque acreditaram na palavra do Senhor, e o 
colocaram em primeiro lugar. Muitos foram outros mártires no Oriente. Por exemplo, na mesma cidade em que explodiu a terrível bomba 
atômica na Segunda Guerra Mundial, em 1945, aconteceu o heroico testemunho de numerosos mártires da Fé, que a Igreja comemora no dia 6 
de fevereiro: São Paulo Miki e seus 26 companheiros martirizados ali. 
Santos Carlos Lwanga e 22 companheiros mártires, foram mortos pelo rei Mwanga, rei de Buganda, hoje Uganda. No domingo de 18/11/2012, a 
Igreja no Vietnã celebrou a festa dos 117 mártires vietnamitas, cuja canonização teve grande oposição do governo comunista e que se converteu 
em um símbolo para os fiéis que superaram muitas dificuldades para poder expressar sua fé e, em algumas regiões, ainda sofrem repressão 
violenta por sua fidelidade a Cristo. Calcula-se que o número de vítimas da perseguição ocorrida entre os séculos XVII e XVIII em várias 
regiões do Vietnã tenha chegado em 130 mil. 
Enfim, onde chega o Evangelho acontece a perseguição e a morte dos fiéis do Senhor, nosso Rei, cujo trono foi a Cruz. 
Os Apóstolos e a Propagação da Igreja 
O Apóstolo São Pedro 
Sabe-se que São Pedro foi por Jesus constituído fundamento visível da Igreja (cf. Mt 16,16-19; Jo 21,15-17). Os Atos dos Apóstolos mostram 
como este Apóstolo tomava a dianteira logo nos primeiros tempos da Igreja: no dia de Pentecostes (At 2,14-40), no pórtico de Salomão (At 3,12-
26), diante do tribunal judeu (At 4,8-12), no caso de Ananias e Safira (At 5,1-11), ao receber o primeiro pagão, Cornélio, na Igreja (At 10,1-48), 
ao pregar na Samaria (At 9,32-43). No ano de 42, é aprisionado em Jerusalém e, uma vez solto, “retira-se para outro lugar”(At 12,17). Para onde 
terá ido? – Uma tradição em voga do século IV em diante refere que Pedro morou 25 anos em Roma, ou seja, de 42 a 67. Quem a aceita, dirá 
que Pedro passou logo de Jerusalém para Roma. Acontece, porém, que Pedro é tido como fundador da sé episcopal de Antioquia na Síria; é certo 
que esteve presente ao concilio de Jerusalém em 49 (cf. At 15,7-11); pouco depois estava em Antioquia (cf. Gl 2,11-14). Estes dados levam a 
dizer que, se Pedro passou para Roma em 42, não permaneceu ininterruptamente nesta cidade. 
É certo, porém, que S. Pedro pregou em Roma, exercendo a plenitude dos poderes apostólicos, e ali sofreu o martírio, provavelmente crucificado 
de cabeça para baixo no ano de 67. Esta tese está bem documentada pela tradição, como se depreende dos seguintes testemunhos: 
Em 1Pd 5,13, o autor (S. Pedro) fala em nome dos cristãos da Babilônia, onde reside. Ora Babilônia é a Roma pagã do séc. I d.C. (cf.Ap 18,2s) 
S. Clemente de Roma, por volta de 96, em sua carta aos Coríntios, refere-se a Pedro e Paulo, que lutaram até a morte e deram testemunho diante 
dos poderosos; supõe que ambos tenham morrido em Roma (cf. cc. 5-6). 
S. Inácio de Antioquia (? 107) escreve aos romanos nestes termos: “Eu não vos ordeno como Pedro e Paulo”. Visto que não existe carta de Pedro 
aos romanos, admite-se o relacionamento oral de Pedro com a comunidade. 
Clemente de Alexandria (? 215) narra que S. Marcos, intérprete de Pedro, redigiu por escrito a pregação de Pedro a pedido de seus ouvintes 
romanos (cf. Eusébio, História Eclesiástica II 15; VI 14). 
S. Irineu de Lião, por volta de 180-190, atribui a fundação da comunidade de Roma aos apóstolos Pedro e Paulo e apresenta um catálogo dos 
bispos de Roma desde Pedro até sua época (Contra as heresias II 3,2-3). Em consequência, afirma que, para guardar a autêntica tradição 
apostólica, é preciso concordar com a doutrina da Igreja de Roma. 
O presbítero romano Gaio, por cerca de 200, atesta que, ainda nos seus tempos, se podiam mostrar em Roma os troféus (tropaia), isto é, os 
túmulos dos dois Apóstolos: o de Pedro na colina do Vaticano, e o de Paulo na via Ostiense (Eusébio, II 25) 
As escavações realizadas debaixo da basílica de S. Pedro confirmaram, em nosso século, tal tradição. Com efeito: verificou-se que a basílica foi 
construída pelo imperador Constantino em 324 por cima de um cemitério e sobre um terreno que corria em declínio de 11m de altura de Norte a 
Sul; isto exigiu a colocação de uma laje sustentada por pilastras de 5m, 7m e 9m de altura, a fim se estabelecerem sobre tal laje os fundamentos 
do edifício, Ora uma construção em tais condições só pode ser explicada pelo fato de que Constantino e os cristãos tinham a certeza de estar 
construindo sobre o túmulo de São Pedro. Ademais os arqueólogos encontraram na camada mais profunda das escavações ossos de quase metade 
de um indivíduo só, robusto, de uns 60-70 anos de idade, muito mais provavelmente homem do que mulher; inscrições em grafito postas nas 
proximidades rezavam: “Pedro está aqui” ou “Salve, Apóstolo” ou “Cristo Pedro”. 
Em 258 o Imperador Valeriano, perseguindo os cristãos, proibiu que estes se reunissem nos seus cemitérios dentro da cidade de Roma para 
celebrar a memória dos mártires. Em consequência, os cristãos levaram as relíquias de São Pedro para as catacumbas de São Sebastião na Via 
Ápia, e, uma vez passadaa era das perseguições, as trouxeram de volta ao Vaticano. 
O Apóstolo São Paulo 
A São Paulo tocou um papel de importância enorme na história do Cristianismo nascente Judeu da Diáspora ou de Tarso (Cilícia) , recebeu a 
cultura helênica vigente na sua pátria; aos 15 anos de idade foi enviado para Jerusalém, onde foi iniciado por Gamaliel nas Sagradas Escrituras e 
nas tradições rabínicas. Era autêntico fariseu, quando Cristo o chamou a trabalhar em prol de Evangelho por volta de ano 33 (cf. At 9, 19). 
Realizou três grandes viagens missionárias em terras pagãs, fundando várias comunidades cristãs na Ásia Menor e na Grécia. São Paulo não 
impunha aos pagãos nem a circuncisão nem as obrigações da Lei de Moisés, mas concedia-lhes logo o Batismo depois de evangelizados. Ora 
isto causou sérias apreensões a uma facção de judeo-cristãos chamados “judaizantes”; queriam que os gentios abraçassem a Lei de Moisés e o 
Evangelho, como se este não bastasse. Levantaram, pois, certa celeuma contra Paulo. A fim de resolver a questão, os Apóstolos que estavam em 
Jerusalém, se reuniram com Paulo e alguns discípulos no ano de 49, como refere S. Lucas em At 15: a assembléia houve por bem não impor aos 
gentios a Lei de Moisés, mas pediu que em Antioquia, na Síria e na Cilícia os étnico-cristãos1 observassem quatro cláusulas destinadas a 
garantir a paz das respectivas comunidades (que contavam numerosos judeo-cristãos): abster-se de carnes imoladas aos ídolos (idolotitos), de 
sangue, de carnes sufocadas (cujo sangue não tivesse sido eliminado) e de uniões ilegítimas. Essas cláusulas tinham caráter provisório, e 
visavam a não ferir a consciência dos judeo-cristãos2, que tinham horror aos ídolos, ao consumo de sangue e à fornicação. Estava assim 
teoricamente resolvida a problemática levantada pelos judaizantes; na prática, porém, estes não se tranquilizaram e procuraram destruir a obra 
apostólica de S. Paulo, caluniando-o como impostor e oportunista; Paulo, diziam, queria facilitar o acesso dos pagãos ao Cristianismo para 
ganhar a simpatia dos mesmos, já que não tinha a autoridade dos outros Apóstolos; não acompanhara o Senhor Jesus, mas era discípulo dos 
Apóstolos; alegavam também que, se Paulo queria viver do trabalho de suas mãos e não da obra de evangelização (cf. 1Cor 9,15-18; 1Ts 2,9), 
ele o fazia por saber que não era Apóstolo como os demais e não tinha o direito de ser sustentado pelas comunidades dos fiéis. São Paulo sofreu 
horrivelmente por causa dessas falsas acusações (cf. 2Cor 11,21-32), mas não se abateu, pregando intrepidamente a liberdade dos cristãos frente 
à Lei de Moisés. E por que tanto insistiu nisto? 
Eis a resposta paulina: Deus chamou Abraão gratuitamente ou sem méritos de Abraão, e prometeu-lhe a benção do Messias; Abraão acreditou 
nesta Palavra do Senhor, e tornou-se justo ou amigo de Deus por causa da sua fé; é certo, porém, que esta fé não foi inerte, mas traduziu-se em 
obediência incondicional a todas as ordens do Senhor. Ora o modelo de Abraão é válido para todos os homens, anteriores e posteriores a Cristo; 
ninguém é justificado ou feito amigo de Deus porque o mereça, mas porque Deus tem a iniciativa de perdoar os pecados de sua criatura; esta 
acredita no perdão de Deus e exprime sua fé em obras boas. – Sobre este pano de fundo a Lei de Moisés foi dada ao povo de Israel a título 
provisório e pedagógico: ela propunha preceitos santos, que o israelita não conseguia cumprir, vítima da desordem de pecado existente dentro de 
todo homem; assim a Lei tinha o papel de mostrar à criatura que ela por si só é incapaz de praticar o bem e de fazer obras meritórias; ela precisa 
da graça de Deus,… graça que o Messias devia trazer; desta maneira (dura e paradoxal) a Lei preparava Israel para receber o Salvador: aguçava 
a consciência do pecado, tirava qualquer ilusão de auto-suficiência e provocava o desejo do dom gratuito de Deus prometido a Abraão. A 
intuição desta verdade ou do grande desígnio de Deus na história da salvação se deve ao gênio de São Paulo, que assim evitou que o 
Cristianismo se tornasse uma seita judaica, filiada à Lei de Moisés, e preservou a autenticidade cristã: a Lei de Moisés era um elemento 
meramente provisório e preparatório para Cristo. 
Quanto ao fato de não querer viver do seu trabalho de evangelização, e de trabalhar com as mãos para ganhar seu pão, São Paulo o justificava, 
dizendo que evangelizar para ele não era meritório (como era meritório para os demais Apóstolos); Cristo o tinha de tal modo cativado que ele 
não podia deixar de pregar a Boa-Nova (“ai de mim, se eu não evangelizar!”, 1Cor 9,16); por isto devia fazer algo mais para oferecer ao Senhor 
Deus. – Ademais São Paulo fazia questão de dizer que não era discípulo dos Apóstolos, mas fora instruído e instituído diretamente por Deus (cf. 
Gl 1,1). 
A expansão do Cristianismo nascente 
Sem demora, a pregação do Evangelho ultrapassou os limites do país de Israel e entrou em território pagão. 
Em Antioquia, capital da Síria, fundou-se uma comunidade muito próspera, que se tornou um centro de irradiação missionária para o mundo 
helenista. Foi lá que pela primeira vez os Galileus (At 1,11) ou Nazarenos (At 24,5) receberam o nome de cristãos (em grego, christianoi); cf. At 
11,26. 
Em Roma o Cristianismo deve ter-se originado por obra de judeus residentes naquela cidade que haviam peregrinado a Jerusalém por ocasião do 
primeiro Pentecostes cristão (cf. At 2,10); tendo abraçado a fé naquele dia, regressaram a Roma e lá transmitiram a Boa-Nova aos seus 
compatriotas da Diáspora. S. Pedro e S. Paulo devem ter encontrado a comunidade já estruturada quando chegaram a Roma. Tácito refere que 
Nero em 64 mandou executar uma multitudo ingens (enorme multidão) de cristãos. 
O surto do Cristianismo na Gália é narrado através de histórias pouco seguras: os irmãos Lázaro, Marta e Maria terão ido para a Provença, e 
Lázaro haverá sido bispo de Marselha (cf. Lc 10, 38-42); Dionísio, convertido por S. Paulo no Areópago de Atenas (cf. At 17,34), terá sido o 
primeiro bispo de Paris… É certo, porém, que no século II havia comunidades florescentes na Gália, fato testemunhado por S. Irineu, bispo de 
Lião (? 202). 
Na Espanha é possível que tenha estado São Paulo, consoante o desejo alimentado pelo Apóstolo (cf. Rm 15,28). A notícia de que São Tiago 
Maior chegou à Espanha é pouco fidedigna, pois tal Apóstolo morreu no ano de 42 em Jerusalém (cf. At 12,3); só no século VII se encontram os 
primeiros testemunhos desta notícia. 
Na Britânia (ou Inglaterra de hoje) supõe-se que o Cristianismo tenha penetrado por efeito do zelo missionário de cristãos da Ásia Menor. 
Tertuliano (? 222) falava da Britânia, que tinha “partes não penetradas pelos romanos, mas sujeitas a Cristo” (Adversus Judaeos 7). 
Na Alemanha sabe-se que o Evangelho já tinha seguidores no séc.II, conforme S. Irineu (Adversus haereses I 10,2), mas não se pode dizer como 
se originou o Cristianismo naquele território. 
A África norte-ocidental deve ter sido evangelizada por cristãos de Roma, visto que era grande o intercâmbio entre um continente e outro. No 
século III, Tertuliano podia dizer retoricamente que os cristãos constituíam a maioria das populações das cidades da região. Numerosas sedes 
episcopais (90) aí foram fundadas. 
Quanto ao Egito, diz-se que São Marcos deu origem à sede episcopal de Alexandria – o que é duvidoso. É certo, porém, que toda a região foi 
rica em dioceses e colônias de monges nos séculos III/V. 
Na Palestina a evangelização foi muito dificultada pelos judeus até 70. Neste ano os romanos venceram os israelitas rebeldes e os expulsaram da 
sua pátria. Em 130, o Imperador Adriano mandou reconstruir a cidade de Jerusalém arrasada em 70, dando-lhe o nome pagão de Aelia 
Capitolina, e dedicando o respectivo templo a Júpiter. O Calvário foi recoberto por um templo dedicado a Afrodite. Somente a partir do século 
III a comunidade étnico-cristã de Jerusalémcomeçou a ter certa importância. 
Na Índia, dizem escritos apócrifos que o Apóstolo São Tomé pregou o Evangelho, chegando até a costa de Malabar na parte sul-ocidental 
daquele país. Terá morrido como mártir sob o rei Misdai. Assim terão tido origem os cristãos de S. Tomé até hoje existentes. – Esta tradição não 
é inverosímil, pois havia intercâmbio comercial entre a Síria e a Índia. Todavia os melhores historiadores se mostram reservados. O Cristianismo 
talvez só tenha chegado à Índia no século III pela ação de viajantes persas e armenos. 
História da Igreja: As perseguições 
4: As Perseguições 
O Cristianismo expandiu-se com rapidez surpreendente, apesar dos obstáculos que encontrou no mundo pagão. Vejamos, pois, quais os 
principais fatores que favoreceram a sua difusão e quais os grandes obstáculos que se lhe opuseram. 
Fatores positivos 
Distinguiremos quatro pontos: 
1) O mundo greco-romano estava decadente no plano da filosofia e dos costumes. Com efeito; o fracasso da razão, mencionado no módulo 1, 
levava os cidadãos do Império a procurar uma resposta diferente, que não fosse mero produto do gênio do homem, mas viesse “do Alto”; disto 
dão testemunho as religiões de mistérios e certas tendências ao monoteísmo dentro do Império. 
No plano ético, o gozo, a futilidade e a procura de prestígio predominavam, apesar da severa doutrinação dos estoicos. O pobre era desprezado 
em favor do rico e poderoso; também a mulher sofria marginalização; mais ainda, o escravo, tido como base econômica do Império, era tratado 
como “coisa”. 
Ora a essa sociedade o Evangelho propunha a valorização de toda e qualquer pessoa humana, feita à imagem e à semelhança de Deus (cf. Gl 
3,27-29; Cl 3,11), a caridade para com todos, o amor à pobreza e à renúncia. Desvendava também o sentido da vida inspirado pelo amor daquele 
que primeiro nos amou (1Jo 4,19) e que nos chamou ao consórcio da sua bem-aventurança a ser alcançada pela configuração a Cristo. 
2) Como foi insinuado, o Cristianismo aparecia aos pagãos como algo absolutamente novo e inaudito (cf. 2Cor 5,17), mas correspondente às 
aspirações mais profundas do ser humano. Por isto podia dizer Tertuliano, o jurista romano convertido à fé cristã no fim do século II: “A alma 
humana é naturalmente cristã”; encontra no Evangelho a resposta aos seus anseios inatos. 
Com outras palavras: o Cristianismo não tinha em seu favor nem dinheiro nem tropas nem o apoio imperial, mas contava com o poder de atração 
e o fulgor da verdade: especialmente os problemas do sofrimento, da retribuição e do além encontravam (e encontram) no Evangelho uma 
solução que não é filosófica (a filosofia é incapaz de os resolver), mas que a sã razão pode aceitar pela fé sem trair a sua dignidade. Muitos 
estudiosos greco-romanos, depois de haver percorrido diversas escolas filosófico-religiosas, encontraram finalmente na Igreja a verdadeira 
sabedoria, que eles estimavam como a única na qual podiam confiar (S. Justino, Diálogo com Trifão nº 8). 
3) Além de proferir a verdade, os cristãos a traduziam em vida. Embora não se fechassem em grupos ou facções, os discípulos de Cristo 
primavam pela retidão de costumes, pelo amor fraterno, pela castidade… Tertuliano nos transmite a observação feita pelos pagãos: “Vede como 
se amam mutuamente e como estão prontos a morrer um pelo outro!” (Apologeticum 39). Notório testemunho da conduta santa dos cristãos é 
a epístola a Diogneto, dirigida por um cristão anônimo a um interlocutor pagão. 
Mesmo diante das ameaças dos perseguidores, muitos discípulos de Cristo se mantinham intrépidos e aceitavam a própria morte. A sua firmeza 
heroica dissolvia calúnias e convencia muitos dos que lhes eram alheios, como notam alguns escritores antigos. Dizia Tertuliano (? 220): “Plures 
efficimur quoties metimur a vobis, semen est sanguis christianorum. – Mais numerosos nos tornamos todas as vezes que somos por vós ceifados; 
o sangue dos cristãos é semente”(Apologeticum 50). E Latâncio (? após 317): “Cresce a religião de Deus quanto mais é premida” (Instituições 
V 19,9). 
4) Os cristãos tinham o zelo missionário, expressão do fervor de sua fé. Homens e mulheres, livres e escravos, comerciantes e soldados sentiam 
o dever de transmitir a Boa-Nova, cientes de que assim estavam servindo a seus irmãos. 
Eis, porém, que a expansão do Cristianismo se defrontou com sérios obstáculos, como se verá a seguir. 
Fatores Negativos 
Enumeraremos os cinco seguintes: 
1) Já São Paulo notava que a mensagem da Cruz é “escândalo para os judeus e loucura para os gregos”(1Cor 1,23). O Cristianismo exigia 
renúncia à vida devassa e morte ao velho homem para possibilitar a formação da nova criatura em cada indivíduo; cf. Ef 4,22s. 
2) O politeísmo era o culto oficial do Império; parecia ameaçado pelo monoteísmo cristão, que parecia até mesmo ateísmo. Os cristãos pareciam 
infensos aos homens e ao Estado, pois estavam solapando as bases destes. Notemos que os romanos eram tolerantes para com a religião dos 
povos conquistados; colocavam os deuses destes no Panteon de Roma; teriam feito isto também com Jesus Cristo, mas os cristãos de modo 
nenhum aceitavam pactuar com o politeísmo. Verdade é que o judaísmo era estritamente monoteísta e, não obstante, conseguia bom 
relacionamento com as autoridades romanas (cf. 1Mc 14,16-24); acontece, porém, que o judaísmo era uma religiãonacional, de pouco 
proselitismo, ao passo que o Cristianismo tinha destinação universal, voltada para todos os homens. 
3) Em particular, o culto do Imperador divinizado foi-se difundindo desde fins do século I. Veio a ser a pedra de toque da lealdade civil e do 
patriotismo; quem o recusasse, era acusado de traição à pátria. 
4) Toda a vida civil, em família ou na sociedade, era impregnada do espírito e das expressões do paganismo; assim as festas do lar 
comemoravam os deuses domésticos (penates e manes); os espetáculos públicos, os torneios esportivos, as feiras de comércio, o regime 
militar… deixavam transparecer a sua inspiração básica politeísta. – Os cristãos eram fiéis aos seus deveres de cidadãos, como lhes ensinava 
o Evangelho: “Dai a César o que é de César”(Mt 22,21; cf. Rm 13,1; 1Pd 2,13-17); mas não podiam participar de manifestações que, direta ou 
indiretamente, professassem o politeísmo. 
5) O modo de vida singular dos cristãos provocou-lhes, da parte dos pagãos, calúnias fantasiosas e duras. Eram acusados a três títulos principais: 
– ateísmo – o que seria também antipatriotismo e misantropia (ódio ao gênero humano); 
– banquetes de orgia, nos quais se comia carne de crianças; assim era entendida a Eucaristia, por vezes celebrada às ocultas por causa dos 
perseguidores. O culto cristão se dirigiria a um asno crucificado (tal era o mal-entendido que o Crucifixo suscitava; seria “burrice”!); 
– causa de calamidades públicas, como pestes, inundações, fome, invasões de bárbaros… Eram tidas como castigos dos deuses, que os cristãos 
irritavam por seu “ateísmo”. Esta acusação persistiu até o século V, mesmo quando as outras queixas iam cessando.Os cristãos pareciam 
inimigos do bem comum, lucifuga natio (facção que foge à luz), recrutada nas classes mais desprezíveis da sociedade. De modo especial, os 
comerciantes, os artistas, os sacerdotes pagãos, os adivinhos, os hostilizavam, pois a fé cristã prejudicava os seus interesses profissionais. 
Compreende-se que o clima assim criado tenha suscitado violentas perseguições aos cristãos. Estas, de fato, ocorreram desde 64 até 313. 
A luta sangrenta 
Distinguimos duas fases na era das perseguições: a primeira vai até o Imperador Filipe o Árabe (244-249); a segunda começa com Décio, seu 
sucessor (249-251). A primeira fase foi mais longa, contudo menos cruel; aos anos de perseguição se seguiam anos de paz. Ao contrário, a 
segunda fase desenvolveu sistematicamente a sanha do Império contra o Cristianismo. 
De Nero (54-68) a Filipe (244-249) 
Nero foi um Imperador cruel. Na noite de 18 para19/07/64 começou um incêndio em Roma, que durou seis dias e devastou três quartos da 
cidade. A opinião pública atribuía – talvez erroneamente – a desgraça à loucura de Nero. Este terá procurado desviar de si a suspeita oferecendo 
ao povo motivos de divertimento: com efeito, mandou prender multidão de cristãos – acusados de ateísmo, orgias e misantropia – e na noite de 
15/08/64, dentro do jardim imperial (circo de Nero, onde atualmente se ergue a basílica de S. Pedro), submeteu-os a tormentos (crucificação, 
tochas vivas, representação cruenta de cenas mitológicas), à guisa de espetáculos para o povo. De então por diante o nome cristão era banido; ser 
cristão equivalia a arriscar-se a morrer. 
Após Vespasiano e Tito, imperadores mais tranquilos, Domiciano (81-96) reacendeu a perseguição, fazendo-se chamar oficialmente Dominus ac 
Deus (Senhor e Deus). O Apóstolo São João foi então exilado para a ilha de Patmos (cf. Ap 1,9). 
O Imperador Trajano (98-117) fixou uma norma de conduta para os oficiais do Império: os cristãos são ateus; por isto, desde que convictos, hão 
de ser punidos; mas não devem ser procurados; as denúncias anônimas não têm valor; caso reneguem a sua fé, sejam postos em liberdade. Esta 
norma estabeleceu jurisprudência para o futuro. 
Marco Aurélio (161-180) desencadeou outra perseguição, em parte devida à insatisfação do povo, que acusava os cristãos de responsáveis por 
calamidades que afligiam a sociedade. 
Setímio Severo (193-211), em 202, assinou um decreto que atingia tanto os judeus como os cristãos; estes últimos surpreendiam o Imperador por 
crescerem numericamente nas camadas elevadas da sociedade. Proibiu, pois, as conversões ao Cristianismo; os magistrados não deveriam 
esperar denúncias, mas haveriam de procurar os cristãos. Assim catecúmenos e neófitos (cristãos recém-batizados) foram violentamente 
golpeados, especialmente no Norte da África, onde existiam em maior número. 
Seguiram-se quarenta anos de relativa paz. 
Desde Décio (249-251) até Constantino (313) 
Décio (249-251) quis restaurar o Império em seu esplendor de tempos passados, consolidando-o contra inimigos externos e internos. Para tanto 
haveria de reforçar a religião oficial do Império, visando especialmente aos cristãos, que ele considerava como os inimigos mais perigosos do 
Estado. Por conseguinte, em 250 decretou que todos os cidadãos do Império Romano deveriam manifestar expressamente a sua adesão à religião 
do Estado, oferecendo aos deuses um sacrifício propiciatório; quem o fizesse, receberia um certificado (libellus) de dever cumprido; 
quem resistisse, seria submetido a penas diversas (cárcere, confiscação de bens, exílio, trabalhos forçados…) até à pena de morte. Os bispos 
estavam particularmente na mira do Imperador, que dizia tolerar mais facilmente um rival no Império do que um Bispo cristão em Roma. Os 
cristãos, colhidos de surpresa por este decreto, fraquejaram em parte; mas houve também uma multidão de mártires de todas as idades e de 
ambos os sexos. 
Após dois anos de paz sob o Imperador Galo (251-253), Valeriano (253-260) em 257, vendo o Estado em grande miséria, quis remediar-lhe 
mediante novo golpe contra os cristãos. Visou a dissolver a organização das comunidades cristãs, ferindo Bispos, sacerdotes e diáconos; 
mandou, pois, que estes oferecessem sacrifícios aos deuses sob pena de exílio; a visita aos cemitérios e a participação nas reuniões de culto 
eram proibidas sob ameaça de morte. Naquela época já havia muitos cristãos exercendo funções no palácio imperial; foram condenados a 
trabalhos forçados na condição de escravos. Logo, porém, que Valeriano foi preso na guerra persa (259), a tormenta foi-se amainando. 
Diocleciano (284-305) profunda reforma administrativa,, que haveria de implicar nova tentativa de restaurar ou fortalecer a religião do Estado. O 
Cristianismo estava muito difundido, contando entre 7 e 10 milhões de fiéis num total de 59 milhões de habitantes do Império; Prisca, a esposa 
de Diocleciano, e sua filha Valéria eram provavelmente favoráveis ao Evangelho, além de altos oficiais do exército e da corte. – Desencadeou-se 
assim a última, a mais grave e a mais longa perseguição, que tendia a aniquilar o Cristianismo numa luta de vida ou morte: foram condenados à 
destruição os templos e os livros sagrados cristãos. Em 304 um decreto imperial obrigava todos os cidadãos a sacrificar aos ídolos – o que 
provocou o derramamento de copioso sangue ou execuções em massa. 
Todo esse esforço perseguidor havia de ser vão; o Estado havia de capitular diante da tenacidade dos discípulos de Cristo. Após muitas 
peripécias dentro de um Império esfacelado, Constantino, um dos sucessores de Diocleciano, houve por bem publicar em 313 o Edito de Milão: 
este concedia a todos os habitantes do Império e, em particular, aos cristãos plena liberdade de religião e de culto; às comunidades cristãs se faria 
a restituição ou a indenização dos edifícios e das terras confiscadas durante as perseguições. Assim dissolvia-se pela raiz o vínculo existente 
entre o Império Romano e o culto pagão; abria-se uma era nova na política religiosa do Estado e inaugurava-se um novo segmento de história 
do Cristianismo. 
É difícil dizer ao certo o número de mártires que tombaram nos quase três séculos de perseguição: 100.000 ou talvez apenas algumas dezenas de 
milhares? As Atas de Martírio que nos chegaram às mãos, foram retocadas para servir à edificação dos leitores em vários casos, como as de Sta. 
Cecília, S. Jorge, S. Cristóvão, S. Sebastião, S. Lourenço…, reconhecendo isto após um estudo objetivo de tais documentos, a Igreja quis dizer 
aos fiéis que nem tudo o que se narra a respeito dos mártires antigos é seguramente histórico; tal declaração nada tem que ver com “cassação de 
Santos”; os Santos serão sempre santos, mas hão de ser cultuados na base de informações históricas, e não na de narrações fantasiosas. É de 
notar, porém, que temos também testemunhos de autenticidade garantida, que nos referem a virtude heroica dos mártires cristãos. 
Passagem e Morte de Pedro em Roma 
Algumas vezes os protestantes, por não conseguirem desmentir o Primado de Pedro, dizem que Pedro nunca esteve em Roma e, por conseguinte, 
a Igreja de Roma não poderia ser a verdadeira Igreja de Cristo. 
Porém, não é o que dizem os primitivos cristãos… 
“Lancemos os olhos sobre os excelentes apóstolos: Pedro foi para a glória que lhe era devida; e foi em razão da inveja e da d iscórdia que Paulo 
mostrou o preço da paciência: depois de ter ensinado a justiça ao mundo inteiro e ter atingido os confins do Ocidente, deu testemunho perante 
aqueles que governavam e, desta forma, deixou o mundo e foi para o lugar santo. A esses homens […] juntou-se grande multidão de eleitos que, 
em consequência da inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas, deixando entre nós magnífico exemplo.” (Clemente de Roma, ano 96, Carta 
aos Coríntios, 5,3-7; 6,1). 
“Não é como Pedro e Paulo que eu vos dou ordens; eles foram apóstolos, eu não sou senão um condenado” (Inácio de Antioquia, ano 107, Carta 
aos Romanos 4,3). 
“Tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina evangélica. A seguir, indo para a Itália, eles vos 
transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio simultaneamente” (Dionísio de Corinto, ano 170, extrato de uma de suas 
cartas aos Romanos conforme fragmento conservado na “História Eclesiástica” de Eusébio, II,25,8). 
“Nós aqui em Roma temos algo melhor do que o túmulo de São Filipe. Possuímos os troféus dos apóstolos fundadores desta Igreja local. Vai à 
via Óstia e lá encontrareis o troféu de Paulo; vai ao Vaticano e lá vereis o troféu de Pedro” (Gaio, ano 199) 
“Pedro, finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo” (Orígenes,+253, conforme fragmento conservado na “História 
Eclesiástica” de Eusébio, III,1). 
Grafitos anônimos dos séculos II e III escritos sobre otúmulo de São Pedro localizado durante as escavações arqueológicas promovidas sob a 
Basílica do Vaticano nas décadas de 50 e 60 (do séc. XX): 
“Pedro está aqui.” (=Petros Eni) 
“Pedro, pede a Cristo Jesus pelas almas dos santos cristãos sepultados junto do teu corpo.” 
“Salve, Apóstolo!” 
“Cristo e Pedro” 
“Viva em Cristo e em Pedro” 
“Vitória a Cristo, a Maria e a Pedro” 
Se Pedro não tivesse estado em Roma, a frase de Santo Inácio ficaria completamente sem sentido. 
História da Igreja: As Heresias Cristológicas ( I ) 
Após verificar que o Filho de Deus é verdadeiro Deus com o Pai e o Espírito Santo, a atenção dos teólogos devia voltar-se mais detidamente 
para a questão: como Jesus pode ser autêntico Deus e autêntico homem? Como se relacionam entre si a Divindade e a humanidade de Jesus? 
A resposta a estas perguntas exigiu grande esforço por parte dos estudiosos, que a formularam em quatro etapas: 1) a fase apolinarista; 2) a fase 
nestoriana; 3) a fase monofisita; 4) a fase monotelita. 
A seguir, estudaremos as três primeiras destas etapas. 
O Apolinarismo 
Em plena controvérsia ariana, o Bispo Apolinário de Laodicéia (Síria), 310-390, mostrava-se fervoroso defensor do Credo niceno contra os 
arianos, mas afirmava que em Cristo a natureza humana carecia de alma humana; tomava ao pé da letra as palavras de S. João 1,14: “O Lógos se 
fez carne”, entendendo carne no sentido estrito, com exclusão de alma. O Lógos de Deus faria as vezes de alma humana em Jesus, isto é, seria 
responsável pelas funções vitais da natureza humana assumida pelo Lógos. Os argumentos em favor desta tese eram os seguintes: duas naturezas 
completas (Divindade e humanidade) não podem tornar-se um ser único; se Jesus as tivesse, Ele teria duas pessoas ou dois eu – o que seria 
monstruoso. Além disto, dizia, onde há um homem completo, há também o pecado; ora o pecado tem origem na vontade; por conseguinte, Jesus 
não podia ter vontade humana nem a alma espiritual, que é a sede da vontade. 
Apolinário expôs suas idéias no livro “Encarnação do Verbo de Deus”, que ele apresentou ao Imperador Joviano e que os seus discípulos 
difundiram. – Foram condenadas num sínodo de Alexandria em 362; depois, pelo Papa S. Dâmaso em 377 e 382 e, especialmente, pelo Concílio 
de Constantinopla I (381). Verificando a oposição que lhe faziam bons teólogos, Apolinário limitou-se a negar a presença de mente (nous) 
humana em Jesus. S. Gregório de Nissa (? 394) e outros autores lhe responderam mediante belo princípio: “O que não foi assumido pelo Verbo, 
não foi redimido” – o que quer dizer: Deus quer santificar e salvar a natureza humana pelo próprio mistério da Encarnação ou pela união da 
Divindade com a humanidade; se pois, a humanidade estava mutilada em Jesus, ela não foi inteiramente salva. 
Em Antioquia, fundou-se uma comunidade apolinarista, tendo à frente o Bispo Vital. Por volta de 420 esta foi reabsorvida pela Igreja ortodoxa, 
mas nem todos os seus membros abandonaram o erro, que reviveu, de certo modo, na heresia monofisita. 
O Nestorianismo 
Afirmada a existência da natureza humana completa em Jesus, os teólogos puderam estudar mais detidamente o modo como humanidade e 
Divindade se relacionaram em Cristo. 
Antes, porém, de entrar em particulares, devemos mencionar as duas principais escolas teológicas da antiguidade: a alexandrina e a antioquena, 
que muito influíram na elaboração da Cristologia. 
A escola alexandrina era herdeira de forte tendência mística; procurava exaltar o divino e o transcendental nos artigos da fé. Interpretava a S. 
Escritura em sentido alegórico, tentando desvendar os mistérios divinos contidos nas Sagradas Letras. Em assuntos cristológicos, portanto, era 
inclinada a realçar o divino, com detrimento do humano. 
Ao contrário, a escola antioquena era mais dada à filosofia e à razão: voltava-se mais para o humano, sem negar o divino. Interpretava a S. 
Escritura em sentido literal e tendia a salientar em Jesus os predicados humanos mais do que os atributos divinos. Era mais racional, ao passo 
que a de Alexandria era mais mística. 
Dito isto, voltemos à história do dogma cristológico. 
A primeira tentativa de solução foi encabeçada por Nestório, elevado à cátedra episcopal de Constantinopla em 428. Afirmava que o Lógos 
habitava na humanidade de Jesus como um homem se acha num templo ou numa veste; haveria duas pessoas, em Jesus – uma divina e outra 
humana – unidas entre si por um vinculo afetivo ou moral. Por conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (Theotókos), como diziam os 
antigos, mas apenas Mãe de Cristo (Christokós); ela teria gerado o homem Jesus, ao qual se uniu a segunda pessoa da SS. Trindade com a sua 
Divindade. 
Nestório propunha suas idéias em pregações ao povo, nas quais substituía o título “Mãe de Deus” por “Mãe de Cristo” As suas concepções 
suscitaram reação não só em Constantinopla, mas em outras regiões também, especialmente em Alexandria, onde S. Cirilo era Bispo ardoroso. 
Este escreveu em 429 aos bispos e aos monges do Egito, condenando a doutrina de Nestório. 
As duas correntes se dirigiram ao Papa Celestino I, que rejeitou a doutrina de Nestório num sínodo de 430. Deu ordem a S. Cirilo para que 
intimasse Nestório a retirar suas teorias no prazo de dez dias, sob pena de exílio; Cirilo enviou ao Patriarca de Constantinopla uma lista de doze 
anatematismos que condenavam o nestorianismo. Nestório não se quis dobrar, de mais a mais que podia contar com o apoio do Imperador; além 
do mais, tinha muitos seguidores na escola antioquena, entre os quais o próprio Bispo João de Antioquia. 
Em 431, o Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para Éfeso o terceiro Concílio Ecumênico a fim de solucionar a questão 
discutida. S. Cirilo, como representante do Papa Celestino I, abriu a assembléia diante de 153 Bispos. Logo na primeira sessão, foram 
apresentados os argumentos da literatura antiga favoráveis ao título Theotókos, que acabou sendo solenemente proclamado; daí se seguia que em 
Jesus havia uma só pessoa (a Divina); Maria se tornara Mãe de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a natureza humana no seu seio. 
Quatro dias após esta sessão, isto é, a 26/06/431 chegou a Éfeso o Patriarca Jogo de Antioquia, com 43 Bispos seus seguidores, todos favoráveis 
a Nestório; não quiseram unir-se ao Concílio presidido por S. Cirilo, representante do Papa; por isto formaram um conciliábulo, qual 
depôs Cirilo. O Imperador acompanhava tudo de perto e sentia-se indeciso. S. Cirilo então mobilizou todos os seus recursos, para mover 
Teodósio II em favor da reta doutrina; nisto foi ajudado por Pulquéria, piedosa e influente irmã mais velha do Imperador. Este finalmente 
apoiou a sentença de Cirilo e exilou Nestório. Todavia os antioquenos não se renderam de imediato; acusavam Cirilo de arianismo a 
apolinarismo. Após dois anos de litígio, em 433 puseram-se de acordo sobre uma fórmula de fé que. professava um só Cristo e Maria como 
Theotókos. 
O Nestorianismo, porém, não se extinguiu. Os seus adeptos, expulsos do Império Bizantino, foram procurar refúgio na Pérsia, onde fundaram a 
Igreja Nestoriana. Esta teve notável expansão até a China e a Índia Meridional; mas do século XIV em diante foi definhando por causa 
das incursões dos mongóis; em grande parte, os nestorianos voltaram à comunhão da Igreja universal (são hoje os cristãos caldeus e os cristãos 
de São Tomé). 
Em nossos dias muitos estudiosos têm procurado reabilitar a pessoa e a obra de Nestório, que parece ser autor de uma apologia intitulada 
“Tratado de Heraclides de Damasco”: pode-se crer que tenha tido reta intenção; mas certamente sustentou posições errôneas por se ter apegado 
demasiadamente à Escola Antioquena. 
Leia também: http://cleofas.com.br/historia-da-igreja-as-heresias-cristologicas-ii/ 
O Monofisismo 
A luta contra o Nestorianismo, que admitia em Jesus duas naturezas e duas pessoas, deu ocasião ao surto do extremo oposto,que é o 
monofisismo ou monofisitismo (“em Jesus há uma só natureza e uma só pessoa: a divina”). 
O primeiro arauto desta tese foi Eutiques, arquimandrita de Constantinopla: reconhecia que Jesus constava originariamente da natureza divina e 
da humana, mas afirmava que a natureza divina absorveu a humana, divinizando-a; após a Encarnação, só se poderia falar de uma natureza em 
Jesus: a divina. Esta doutrina tornou-se a heresia mais popular e mais poderosa da antiguidade, pois, para os orientais, a divinização da 
humanidade em Cristo era o modelo do que deve acontecer com cada cristão. 
Eutiques foi condenado como herege no Sínodo de Constantinopla em 448, sob o Patriarca Flaviano. Todavia não cedeu e reclamou contra uma 
pretensa injustiça, pois tencionava combater o Nestorianismo. Conseguiu assim ganhar os favores da corte. 
Solicitado pelo Patriarca Dióscoro de Alexandria, Teodósio II Imperador convocou em 449 novo Concílio Ecumênico para Éfeso, confiando a 
presidência do mesmo a Dióscoro, que era partidário de Estiques. Dióscoro, tendo aberto o Concílio negou a presidência aos legados papais; não 
permitiu que fosse lida a Carta do Papa S. Leão Magno, que propunha a reta doutrina: as duas naturezas em Cristo não se misturam nem 
confundem, mas cada qual exerce a sua atividade própria em comunhão com a outra; assim Cristo teve realmente fome, sede e cansaço, como 
homem, e pôde ressuscitar mortos como Deus. – Esse Concílio de Éfeso proclamou a ortodoxia de Eutiques; depôs Flaviano, Patriarca de 
Constantinopla, e outros Bispos contrários à tese monofisita… Todavia os seus decretos foram de curta duração. Os Bispos de diversas regiões o 
repudiaram como ilegítimo ou, segundo a expressão do Papa São Leão Magno, como “latrocínio de Éfeso”; pediam novo Concílio que de fato 
foi convocado após a morte de Teodósio II pela Imperatriz Pulquéria (irmã de Teodósio) e pelo general Marcião, que em 450 foi feito Imperador 
e se casou com Pulquéria. 
O novo Concílio, desta vez legítimo, reuniu-se em Caledônia, diante de Constantinopla, em 451; foi o mais concorrido da antiguidade, pois dele 
participaram mais de 600 membros, entre os quais três legados papais. A assembléia rejeitou o “latrocínio de Éfeso”; depôs Dióscoro e aclamou 
solenemente a Epístola Dogmática do Papa São Leão a Flaviano; esta serviu de base a uma confissão de fé, que rejeitava os extremos do 
Nestorianismo e do Monofisismo, propondo em Cristo uma só pessoa e duas naturezas: 
“Ensinamos e professamos um Único e idêntico Cristo… em duas naturezas, não confusas e não transformadas, não divididas, não separadas, 
pois a união das naturezas não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou as suas propriedades e se uniu com a outra numa 
Única pessoa e numa Única hipóstase”. 
Assim terminou a fase principal das disputas cristológicas: em Cristo não há duas naturezas e duas pessoas, pois isto destruiria a realidade da 
Encarnação e da obra redentora de Cristo; mas também não há uma só natureza e uma só pessoa, pois Cristo agiu como verdadeiro homem, 
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sujeito à dor e à morte para transfigurar estas nossas realidades. Havia, pois, uma só pessoa (um só eu) divina, que, além de dispor da natureza 
divina desde toda a eternidade, assumiu a natureza humana no seio de Maria Virgem e viveu na terra agindo ora como Deus, ora como homem, 
mas sempre e somente com o seu eu divino. 
O encerramento do Concílio de Calcedônia não significou a extinção do monofisismo. Além da atração que esta doutrina exercia sobre os fiéis 
(especialmente os monges), propondo-lhes a humanidade divinizada de Cristo como modelo, motivos políticos explicam essa persistência da 
heresia; com efeito, na Síria e no Egito certos cristãos viam no Monofisismo a expressão de suas tendências nacionalistas, opostas ao helenismo 
e à dominação bizantina. Por isto os monofisitas continuaram a lutar contra o Imperador, que havia exilado Dióscoro e Eutiques e ameaçado de 
punição os adeptos destes: ocuparam sedes episcopais; inclusive a de Jerusalém (ao menos temporariamente). No século VII a situação se 
agravou, pois os muçulmanos ocuparam a Palestina, a Síria e o Egito, impedindo a ação de Bizâncio em prol da ortodoxia nesses países. Em 
conseqüência, os monofisitas foram constituindo Igrejas nacionais: a armena, a síria, a mesopotâmica, a egípcia e a etíope, que subsistem até 
hoje com cerca de 10 milhões de fiéis. 
No Egito, os monofisitas tomaram o nome de coptas, nome que guarda as três consoantes da palavra grega Aigyptos (g ou k, p, t ); são os antigos 
egípcios. Os ortodoxos se chamam melquitas (de melek, Imperador), pois guardam a doutrina ortodoxa patrocinada pelo Imperador em 
Calcedônia. Há coptas que se uniram a Roma em 1742, enquanto os outros permanecem monofisitas, mas professam quase o mesmo Credo que 
os católicos. Na Abissínia os monofisitas também são chamados coptas pois receberam forte influência do Egito. – Dentre os melquitas, grande 
parte aderiu ao cisma bizantino, separando-se de Roma em 1054; certos grupos, porém, estão hoje unidos à Igreja universal; ver capítulo 21. 
Na Síria e nos países vizinhos, os monofisitas foram chamados jacobitas, nome derivado de um dos seus primeiros chefes: Jacó Baradai (= o 
homem da coberta de cavalo, alusão às suas vestes maltrapilhas). Jacó, bispo de Edessa (541-578), trabalhou com zelo e êxito para consolidar as 
Comunidades monofisitas, As quais deu por cabeça o Patriarca Sérgio de Antioquia (544). 
A história das disputas cristológicas prosseguirá no capítulo seguinte. 
Os Santos Padres da Igreja 
Chamamos de «Padres da Igreja» (Patrística) aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII, que foram no 
Oriente e no Ocidente como que «Pais» da Igreja, no sentido de que foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas 
heresias e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a sua fonte mais rica. Certa vez 
disse o Cardeal Henri de Lubac: 
«Todas as vezes que, no Ocidente tem florescido alguma renovação, tanto na ordem do pensamento como na ordem da vida – ambas estão 
sempre ligadas uma à outra – tal renovação tem surgido sob o signo dos Padres.» 
Abaixo está apresentada uma relação, ainda que incompleta, desses gigantes da fé e da Igreja, que souberam fixar para sempre o que Jesus nos 
deixou através dos Apóstolos. 
1. S. Clemente de Roma (†102), Papa de Roma (88 – 97) 
2. Santo Inácio de Antioquia (†110) 
3. Aristides de Atenas (†130) 
4. São Policarpo de Esmira (†156) 
5. Pastor de Hermas (†160) 
6. Aristides de Atenas (†160) 
7. São Hipólito de Roma (160 – 235) 
8. São Justino (†165) 
9. Militão de Sardes (†177) 
10. Atenágoras (†180) 
11. São Teófilo de Antioquia (†181) 
12. Orígenes de Alexandria (184 – 254) 
13. Santo Ireneu (†202) 
14. Tertuliano de Cartago (†220) 
15. São Clemente de Alexandria (†215) 
16. Metódio de Olimpo (sec.III) 
17. São Cipriano de Cartago (210-258) 
18. Novaciano (†257) 
19. São Atanásio de Alexandria(295 -373) 
20. São Efrém – (306 – 373), diácono, Mesopotânia 
21. São Hilário de Poitiers – bispo (310 – 367) 
22. São Cirilo de Jerusalém, bispo (315 – 386) 
23. São Basílio Magno, bispo (330 – 369) – Cesaréia 
24. São Gregório Nazianzeno – (330 – 379), bispo 
25. São Ambrósio – (340 – 397), bispo, Treves – Itália 
26. Eusébio de Cesaréia (340) 
27. São Gregório de Nissa (340) 
28. Prudêncio (384 – 405) 
29. São Jerônimo ( 348 – 420), presbítero Strido, Itália 
30. São João Cassiano (360 – 407) 
31. São João Crisóstomo – (349 – 407), bispo 
32. São Agostinho – (354 – 430), bispo 
33. Santo Efrém (†373) 
34. Santo Epifânio (†403) 
35. São Cirilo de Alexandria – (370 – 442), bispo 
36. São Pedro Crisólogo – (380 – 451), bispo, Itália 
37. São Leão Magno (400 – 461), papa de Roma – Toscana, Itália 
38. SãoPaulino de Nola (†431) – Sedúlio (sec V) 
39. São Vicente de Lerins (†450) 
40. São Pedro Crisólogo (†450) 
41. São Bento de Núrcia (480 – 547) 
42. São Venâncio Fortunato (530-600) 
43. São Ildefonso de Toledo (617 – 667) 
44. São Máximo Confessor (580-662) 
45. São Gregório Magno (540 – 604), Papa de Roma 
46. São Ildefonso de Sevilha (†636) 
47. São Germano de Constantinopla – (610-733) 
48. São João Damasceno (675 – 749), bispo, Damasco 
Conheça um pouco daquilo que esses grandes Padres da Igreja escreveram; isto nos ajudará a compreender melhor o que é a Sagrada Tradição 
da Igreja. Veremos de onde vem a fonte de tudo aquilo que cremos e vivemos na Igreja […] 
São Clemente de Roma (†102), Papa (88-97), foi o terceiro sucessor de São Pedro, nos tempos dos imperadores romanos Domiciano e Trajano 
(92 a 102). No depoimento de Santo Ireneu “ele viu os Apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido diretamente a sua pregação e 
ensinamento”. (Contra as heresias) 
Santo Inácio de Antioquia (†110) foi o terceiro bispo da importante comunidade de Antioquia, fundada por São Pedro. Conheceu pessoalmente 
São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de 
Roma escreveu Cartas às igreja de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Na carta aos esmirnenses, 
aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”. 
Aristides de Atenas († 130) foi um dos primeiros apologistas cristãos; escreveu a sua Apologia ao imperador romano Adriano, falando da vida 
dos cristãos. 
São Policarpo (†156) foi bispo de Esmirna, e uma pessoa muito amada. Conforme escreve Santo Irineu, que foi seu discípulo, Policarpo foi 
discípulo de São João Evangelista. No ano 155 estava em Roma com o Papa Niceto tratando de vários assuntos da Igreja, inclusive a data 
da Páscoa. Combateu os hereges gnósticos. Foi condenado à fogueira; o relato do seu martírio, feito por testemunhas oculares, é documento mais 
antigo deste gênero (publicado neste livro). 
Hermas (†160) era irmão do Papa São Pio I, sob cujo pontificado escreveu a sua obra Pastor. suas visões de estilo apocalíptico. 
Didaquè (ou Doutrina dos Doze Apóstolos) é como um antigo catecismo, redigido entre os anos 90 e 100, na Síria, na Palestina ou em 
Antioquia. Traz no título o nome dos doze Apóstolos. Os Padres da Igreja mencionaram-na muitas vezes. Em 1883 foi encontrado um seu 
manuscrito grego. 
São Justino (†165), mártir nasceu em Naplusa, antiga Siquém, em Israel; achou nos Evangelhos “a única filo proveitosa”, filósofo, fundou uma 
escola em Roma. Dedicou a sua Apologias ao Imperador romano Antonino Pio, no ano 150, defendendo os cristãos; foi martirizado em Roma. 
Santo Hipólito de Roma (160-235) discípulo de santo Irineu (140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde Orígenes o ouviu pregar. Morreu 
mártir. Escreveu contra os hereges, compôs textos litúrgicos, escreveu a Tradição Apostólica onde retrata os costumes da Igreja no século III: 
ordenações, catecumenato, batismo e confirmação, jejuns, ágapes, eucaristia, ofícios e horas de oração, sepultamento, etc. 
Melitão de Sardes (†177) foi bispo de Sardes, na Lídia, um dos grandes luminares da Ásia Menor. Escreveu a Apologia, dirigida ao imperador 
Marco Aurélio. 
Atenágoras (†180) era filósofo em Atenas, Grécia, autor da Súplica pelos Cristãos, apologia oferecida em tom respeitoso ao imperador Marco 
Aurélio e seu filho Cômodo; escreveu também o tratado sobre A Ressurreição dos mortos, foi grande apologista. 
São Teófilo de Antioquia (†após 181) nasceu na Mesopotâmia, converteu-se ao cristianismo já adulto, tornou-se bispo de Antioquia. 
Apologista, compôs três livros, a Autólico. 
Santo Ireneu (†202) nasceu na Ásia Menor, foi discípulo de são Policarpo (discípulo de são João), foi bispo de Lião, na Gália (hoje França). 
Combateu eficazmente o gnosticismo em sua obra Adversus Haereses (Refutação da Falsa Gnose) e a Demonstração da Preparação Apostólica. 
Segundo são Gregório de Tours (†594), são Irineu morreu mártir. É considerado o “príncipe dos teólogos cristãos”. Salienta nos seus escritos a 
importância da Tradição oral da Igreja, o primado da Igreja de Roma (fundada por Pedro e Paulo). 
Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, foi bispo de Poitiers, combateu o arianismo, foi exilado pelo imperador Constâncio, 
escreveu a obra Sobre a Santíssima Trindade. 
São Clemente de Alexandria (†215) Seu nome é Tito Flávio Clemente, nasceu em Atenas por volta de 150. Viajou pela Itália, Síria, Palestina e 
fixou-se em Alexandria. Durante a perseguição de Setímio Severo (203), deixou o Egito, indo para a Ásia Menor, onde morreu em 215. Seu 
grande trabalho foi tentar a aliança do pensamento grego com a fé cristã. Dizia: “Como a lei formou os hebreus, a filo formou os gregos para 
Cristo”. 
Orígenes (184-254) Nasceu em Alexandria, Egito; seu pai Leônidas morreu martirizado em 202. Também desejava o martírio; escreveu ao pai 
na prisão: “não vás mudar de idéia por causa de nós”. Em 203 foi colocado à frente da escola catequética de Alexandria pelo b ispo Demétrio. 
Em 212 esteve em Roma, Grécia e Palestina. A mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia Mammae, chamou-o a Antioquia para ouvir suas 
lições. Morreu em Cesaréia durante a perseguição do imperador Décio. 
Tertuliano de Cartago (†220), norte da África, culto, era advogado em Roma quando em 195 se converteu ao Cristianismo, passando a servir a 
Igreja de Cartago como catequista. Combateu as heresias do gnosticismo, mas se desentendeu com a Igreja Católica. É autor das frases: “Vede 
como se amam” e “ O sangue dos mártires era semente de novos cristãos”. 
São Cipriano (†258) Cecílio Cipriano nasceu em Cartago, foi bispo e primaz da África Latina. Era casado. Foi perseguido no tempo do 
imperador Décio, em 250, morreu mártir em 258. Escreveu a bela obra Sobre a unidade da Igreja Católica. Na obra De Lapsis, sobre os que 
apostataram na perseguição, narra ao vivo o drama sofrido pelos cristãos, a força de uns, o fracasso de outros. Escreveu ainda a obra Sobre a 
Oração do Senhor, sobre o Pai Nosso. 
Eusébio de Cesareia (260-339) bispo, foi o primeiro historiador da Igreja. Nasceu na Palestina, em Cesareia, discípulo aí de Orígenes. Escreveu 
a sua Crônica e a História Eclesiástica, além de A Preparação e a Demonstração Evangélicas. Foi perseguido por Dioclesiano, imperador 
romano. 
Santo Atanásio (295-373), doutor da Igreja, nasceu em Alexandria, jovem ainda foi viver o monaquismo nos desertos do Egito,onde conheceu o 
grande Santo Antão(†376), o “pai dos monges”. Tornou-se diácono da Igreja de Alexandria, e junto com o seu Bispo Alexandre, se destacou no 
Concílio de Nicéia (325) no combate ao arianismo. Tornou-se bispo de Alexandria em 357 e continuou a sua luta árdua contra o arianismo (Ário 
negava a divindade de Jesus), o que lhe valeu sete anos de exílio. São Gregório Nazianzeno disse dele: “O que foi a cabeleira para Sansão, foi 
Atanásio para a Igreja.” 
Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, nasceu em Poitiers, na Gália (França); em 350 clero e povo o elegiam bispo, apesar de ser 
casado. Organizou a luta dos bispos gauleses contra o arianismo. Foi exilado pelo imperador Constâncio, na Ásia Menor, voltando para a Gália 
em 360, fazendo valer as decisões do Concílio de Nicéia. É chamado o “Atanásio do Ocidente”.Escreveu as obras Sobre a Fé, Sob re a 
Santíssima Trindade. 
Santo Efrém, o Sírio (†373) doutor da Igreja é considerado o maior poeta sírio, chamado de “a cítara do Espírito Santo”. Nasceu em Nísibe, 
de pais cristãos, por volta de 306, deve ter participado do Concílio de Nicéia (325), segundo a tradição, com o seu bispo Tiago. Foi ordenado 
diácono em 338 e assim ficou até o fim da vida. Escreveu tratados contra os gnósticos, os arianos e contra o imperador Juliano, o apóstata. 
Escreveu belos hinos e louvores a Maria. 
SãoCirilo de Jerusalém (†386), doutor da Igreja, Bispo de Jerusalém, guardião da fé professada pela Igreja no Concílio de Nicéia (325). Autor 
das Catequeses Mistagógicas, esteve no segundo Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 381. 
São Dâmaso (304-384), Papa da Igreja, instruído, de origem espanhola, sucedeu o Papa Libério que o ordenou diácono; obteve do Imperador 
Graciano o reconhecimento jurisdicional do bispo de Roma. Mandou que S. Jerônimo fizesse uma revisão da versão latina da Bíbl ia, a Vulgata. 
Descobriu e ornamentou os túmulos dos mártires nas catacumbas, para a visita dos peregrinos. 
São Basílio Magno (329-379), Bispo e doutor da Igreja, nasceu na Capadócia; seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro, são santos. Foi íntimo 
amigo de S. Gregório Nazianzeno; fez-se monge. Em 370 tornou-se bispo de Cesaréia na Palestina, e metropolita da província da Capadócia. 
Combateu o arianismo e o apolinarismo (Apolinário negava que Jesus tinha uma alma humana). Destacou-se no estudo a Santíssima Trindade 
(Três Pessoas e uma Essência). 
São Gregório Nazianzeno (329-390), doutor da Igreja – nasceu em Nazianzo, na Capadócia, era filho do bispo local, que o ordenou padre; foi 
um dos maiores oradores cristãos. Foi grande amigo de São Basílio, que o sagrou bispo. Lutou contra o arianismo. Sua doutrina sobre a 
Santíssima Trindade o fez ser chamado de “teólogo”, que o Concílio de Calcedônia confirmou em 481. 
São Gregório de Nissa (†394) foi bispo de Nissa, e depois de Sebaste, irmão de São Basílio e amigo de São Gregório Nazianzeno. Os três 
santos brilharam na Capadócia. Foi poeta e místico; teve grande influência no primeiro Concílio de Constantinopla (381) que definiu o dogma da 
SS. Trindade. Combateu o apolinarismo, macedonismo (Macedônio negava a divindade do Espírito Santo) e arianismo. 
São João Crisóstomo (354-407) ( = boca de ouro), doutor da Igreja, é o mais conhecido dos Padres da Igreja grega. Nasceu em Antioquia. 
Tornou-se patriarca de Constantinopla, foi grande pregador. Foi exilado na Armênia por causa da defesa da fé sã. Foi proclamado pelo papa S. 
Pio X, padroeiro dos pregadores. 
São Cirilo de Alexandria (†444) Bispo e doutor da Igreja, sobrinho do patriarca de Alexandria, Teófilo, o substituiu na Sé episcopal em 412. 
Combateu vivamente o Nestorianismo (Nestório negava que em Jesus havia uma só Pessoa e duas naturezas), com o apoio do papa Celestino. 
Participou do Concílio de Éfeso (431), que condenou as teses de Nestório. É considerado um dos maiores Padres da língua grega, e chamado o 
“Doutor mariano”. 
São João Cassiano (360-465) recebeu formação religiosa em Belém e viveu no Egito. Foi ordenado diácono por S. João Crisóstomo, em 
Constantinopla, e padre pelo papa Inocêncio, em Roma. Em 415 fundou dois mosteiros em Marselha, um para cada sexo. São Bento recomendou 
seus escritos. 
São Paulino de Nola (†431) nasceu na Gália (França), exerceu importantes cargos civis até ser batizado. Vendeu seus bens, distribuindo o 
dinheiro aos pobres, e com sua esposa Terásia passou a viver vida eremítica. Foi ordenado padre em 394, em 409 bispo de Nola. 
São Pedro Crisólogo (†450) (= palavra de ouro) bispo e doutor da Igreja – foi bispo de Ravena, Itália. Quando Êutiques, patriarca de 
Constantinopla pediu o seu apoio para a sua heresia (monofisismo – uma só natureza em Cristo), respondeu: “Não podemos discutir coisas da fé, 
sem o consentimento do Bispo de Roma”. Temos 170 de suas cartas e escritos sobre o Símbolo e o Pai – Nosso. 
Santo Ambrósio (†397), doutor da Igreja, nasceu em Tréveris, de nobre família romana. Com 31 anos governava em Milão as províncias de 
Emília e Ligúria. Ainda catecúmeno, foi eleito bispo de Milão, pelo povo, tendo, então recebido o batismo, a ordem e o episcopado. Foi 
conselheiro de vários imperadores e batizou santo Agostinho, cujas pregações ouvia. Deixou obras admiráveis sobre a fé católica. 
São Jerônimo (347-420), “Doutor Bíblico” – nasceu na Dalmácia e educou-se em Roma; é o mais erudito dos Padres da Igreja latina; sabia o 
grego, latim e hebraico. Viveu alguns anos na Palestina como eremita. Em 379 foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino de Antioquia; foi 
ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo de São Gregório de Nissa. De 382 a 385 foi secretário do Papa S. Dâmaso, por cuja ordem fez a 
revisão da versão latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, por 34 anos. Pregava o ideal de santidade entre as mulheres da nobreza romana 
(Marcela, Paula e Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de São Jerônimo destacam-se a austeridade, o temperamento 
forte, o amor a Igreja […]. 
Santo Epifânio (†403), Nasceu na Palestina, muito culto, foi superior de uma comunidade monástica em Eleuterópolis (Judéia) e depois, bispo 
de Salamina, na ilha de Chipre. Batalhou muito contra as heresias, especialmente o origenismo. 
Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja – Nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e S. Mônica. Grande teólogo, filósofo, 
moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi 
professor de Retórica na corte do Imperador. Alí se converteu ao cristianismo pelas orações e lágrimas, de sua mãe Mônica e pelas pregações de 
S. Ambrósio, bispo de Milão. Foi batizado por esse bispo em 387. Voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e 
depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Foi um dos homens mais importantes para a Igreja. Combateu com grande capacidade as heresias 
do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho escreveu 
muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”. São Leão 
Magno (400-461) – Papa e Doutor da Igreja – nasceu em Toscana, foi educado em Roma. Foi conselheiro sucessivamente dos papas Celestino I 
(422-432) e Xisto III (432-440) e foi muito respeitado como teólogo e diplomata. Participou de grandes problemas da Igreja do seu tempo e pôde 
travar contato pessoal e por cartas com Santo Agostinho, São Cirilo de Alexandria e São João Cassiano, que o descrevia como “ornamento da 
Igreja e do divino ministério”. Deixou 96 Sermões e 173 Cartas que chegaram até nós. Participou ativamente na elaboração dogmática sobre o 
grave problema tratado no Concílio de Calcedônia, a condenação da heresia chamada monofisismo. Leão foi o primeiro Papa que recebeu o 
título de Magno (grande). Em sua atuação no plano político, a História registrou e imortalizou duas intervenções de São Leão, respectivamente 
junto a Átila, rei dos Hunos, em 452, e junto a Genserico, em 455, bárbaros que queriam destruir Roma. 
São Vicente de Lérins (†450) Depois de muitos anos de vida mundana se refugiou no mosteiro de Lérins. Escreveu o seu Commonitorium, “ 
para descobrir as fraudes e evitar as armadilhas dos hereges”. 
São Bento de Núrcia (480-547) nasceu em Núrcia, na Úmbria, Itália; estudou Direito em Roma, quando se consagrou a Deus. Tornou-se 
superior de várias comunidades monásticas; tendo fundado no monte Cassino a célebre Abadia local. A sua Regra dos Mosteiros tornou-se a 
principal regra de vida dos mosteiros do ocidente, elogiada pelo papa S. Gregório Magno, usada até hoje. O lema dos seus mosteiros era “ora et 
labora”. O Papa Pio XII o chamou de Pai da Europa e Paulo VI proclamou-o Patrono da Europa, em 24/10/1964. 
São Venâncio Fortunato (530-600) nasceu em Vêneto na Itália, foi para Poitiers (França). Autor de célebres hinos dedicados à Paixão de Cristo 
e à Virgem Maria, até hoje usados na Igreja. 
São Gregório Magno (540-604), Papa e doutor da Igreja – Nasceu em Roma, de família nobre. Ainda muito jovem foi primeiro ministro do 
governo de Roma. Grande admirador de S. Bento, resolveu transformar suas muitas posses em mosteiros. O papa Pelágio o enviou como núncio 
apostólico em Constantinopla

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