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APOSTILA-A-SAUDE-MENTAL-DA-CRIANÇA-1

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 
2 SAÚDE MENTAL E INFÂNCIA ................................................................... 5 
3 O PANORAMA ATUAL DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE MENTAL INFANTIL 
NO BRASIL ................................................................................................................. 8 
4 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, ATENÇÃO PRIMÁRIA E A INFÂNCIA ....... 14 
5 DISTÚRBIOS E TRANSTORNOS MENTAL INFANTIL ............................ 18 
5.1 Transtornos mentais ........................................................................... 20 
5.2 Definição de distúrbios do desenvolvimento ...................................... 23 
5.3 Deficiência intelectual: distúrbios de aprendizagem e do 
desenvolvimento .................................................................................................... 23 
5.4 Distúrbios de aprendizagem ............................................................... 31 
5.5 Transtornos do espectro autista (TEA): .............................................. 33 
5.6 Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ............ 39 
5.7 Dislexia ............................................................................................... 46 
5.8 Síndrome de Rett ............................................................................... 49 
5.9 Transtorno desintegrativo da infância................................................. 51 
5.10 Transtorno de Asperger .................................................................. 52 
6 POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA NA SAÚDE MENTAL INFANTIL ........ 53 
7 CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTO-JUVENIS (CAPSI) 57 
7.1 A potência do acolhimento ................................................................. 59 
7.2 As expectativas e o sofrimento do profissional de saúde no cuidado em 
saúde mental ......................................................................................................... 60 
8 Família e sofrimento psíquico: o desafio do protagonismo familiar ........... 62 
9 E O QUE PODE SER ENTENDIDO COMO UMA INTERVENÇÃO EM 
SAÚDE MENTAL? .................................................................................................... 64 
9.1 Ações terapêuticas comuns aos profissionais da Atenção Básica ..... 66 
 
3 
 
9.2 O cuidado que dá certo em saúde mental .......................................... 67 
9.3 O famoso desabafo: o profissional de Saúde como um interlocutor para 
a pessoa em sofrimento ........................................................................................ 67 
9.4 A psicoterapia infantil na atualidade ................................................... 68 
9.5 O papel do terapeuta .......................................................................... 70 
9.6 Ludoterapia ........................................................................................ 71 
9.7 A utilização dos jogos de mesa na terapia comportamental infantil de 
crianças com diagnóstico de TDAH ....................................................................... 74 
9.8 Atuação profissional do psicoterapeuta no TEA ................................. 76 
9.9 O desenvolvimento da criança a partir do brincar na psicanalise ....... 77 
9.10 O brincar terapêutico: método de tratamento psicanalítico ............. 79 
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 82 
11 BIBLIGORAFIA ...................................................................................... 88 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta 
, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse 
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. 
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão 
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 SAÚDE MENTAL E INFÂNCIA 
 
Fonte: pediatraorienta.org.br 
As políticas de saúde estão relacionadas, historicamente, com os processos de 
urbanização e industrialização. É no século XIX, com as grandes aglomerações 
populacionais, que nascem medidas de cunho higienista buscando mudar hábitos 
alimentares, de moradia, vestimentas que eram, até então, os principais responsáveis 
pelos altos índices de mortalidade da população, notadamente da população infantil. 
Segundo Rizzini 2008, as leis de proteção à infância, desenvolvidas nas 
primeiras décadas do século XX no Brasil, também faziam parte da estratégia 
de educar o povo e sanear a sociedade. As leis visavam prevenir a desordem, 
à medida que ofereciam suporte às famílias nos casos em que não 
conseguissem conter os filhos insubordinados. Esses poderiam ser 
entregues à tutela do Estado, caso se julgasse necessário, sobretudo quando 
a pobreza deixava de ser “digna” e a família era definida como sendo 
contaminada pela imoralidade (Rizzini, 2008). 
Essa apropriação pelo Estado da infância no Brasil gera um quadro de 
institucionalização dessas crianças e adolescentes que influenciam o imaginário social 
até os dias de hoje. A Saúde Mental Infantil no Brasil, enquanto campo de intervenção, 
cuidados e estudos sobre a criança, não teve nada estruturado ou sistematizado até 
o século XIX, quando surgiram as primeiras teses em psicologia e em psiquiatria, 
especialmente a partir da criação do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro o Hospício 
D. Pedro II, em 1852 (Ribeiro, 2006) 
 
6 
 
No início do século XX, o movimento higienista teve significativa influência na 
psiquiatria infantil brasileira, pois, mesmo não voltando seu olhar para a patologia 
mental propriamente dita, lançou bases para uma medicina que se preocupava com a 
criança e seu desenvolvimento. 
As crianças consideradas normais eram institucionalizadas através das escolas 
e internatos. Já as crianças tidas como insanas, eram internadas nos manicômios 
dividindo espaço com os adultos, pois não havia estudos ou instituições especificas 
voltadas às crianças nesse período. Dessa maneira, os primeiros estudiosos dos 
problemas infantis focaram suas investigações nas desordens evidentes buscando 
remediá-las, investindo-se no aperfeiçoamento da assistência pública em ambientes 
fechados, visando aos delinquentes, aos retardados e às crianças abandonadas e 
maltratadas. 
Naquela época, o saber médico deslocou sua intervenção também para a 
prevenção de doenças, aumentando seu papel na sociedade, bem como sua 
importância como apoio técnico-científico ao exercício de poder do Estado, A 
legitimação da psiquiatria como uma das instâncias reguladoras do espaço social, 
extrapolou os limites do asilo clássico, construindo um saber psiquiátrico preventivo 
ao qual se vincula o surgimento da psiquiatria infantil. 
Segundo Couto, Duarte e Delgado 2008, no Brasil, é fato recente o 
reconhecimento, pelas instâncias governamentais, de que a Saúde Mental de 
crianças e jovens é uma questão de saúde pública e deve integrar o conjunto 
de ações do Sistema Únicode Saúde (SUS). Historicamente, as ações 
relacionadas à Saúde Mental da infância e adolescência foram, no país, 
delegadas aos setores educacional e de assistência social, com quase 
ausência de proposições pela área da Saúde Mental (Couto, Duarte & 
Delgado 2008). 
Atualmente, o número de especialidades que se ocupam do desenvolvimento 
infantil é muito grande, a neurologia, a psicologia, a psicanálise, a psicopedagogia, a 
psicomotricidade, a fonoaudiologia, entre outras tem gerado uma assistência à criança 
fragmentada, médica e patologizante. 
Com a influência das neurociências temos um aumento cada vez maior da 
patologização infantil tendo o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade 
(TDAH), caracterizado pelos neurologistas por uma disfunção cerebral, um 
significativo representante. Podemos verificar que a própria escola e o professor 
passam a diagnosticar o aluno, tendo cada vez mais presente, parâmetros de 
 
7 
 
normalidade divulgados na mídia: jornais, revistas, televisão, programas de rádios, 
sites, etc. Assim, a própria escola classifica e encaminha a criança para a neurologia 
ou psiquiatria. Portanto, faz necessário mudarmos a concepção vigente sobre a 
infância que predomina atualmente, pautado também na biologização da vida. 
Segundo Bastos 2013, o conceito Biologização da Vida se relaciona com 
outros elaborados a partir da emergência da medicina como saber técnico 
cientifico voltada para a disciplinarização da força de trabalho, higienização 
dos espaços e controle das relações sociais, como medicalização do social e 
biopoder (Bastos, 2013). 
Entendemos por medicalização a expansão da ação da medicina para 
problemas de ordem espiritual e moral ou legal e criminal (Zola, como citado em 
Bastos, 2013), Ilich (1975) utilizou-se desse mesmo termo para conceituar a utilização 
de termos médicos para compreender problemas sociais por intermédio da busca de 
sua origem biológica. Finalmente Foucault (1988) definiu que a biopolítica age na 
espécie. Ela se preocupa em cuidar de todo o processo de vida desde o nascimento 
até a morte, enfim com a saúde da população. 
 A biopolítica cria técnicas de gestão da vida, nas quais o biológico é o centro 
das discussões políticas, com o objetivo de modificá-la, transformá-la, aperfeiçoá-la 
para melhor manejá-la. Para Foucault (1988), a valorização e o investimento sobre o 
corpo vivo, bem como a gestão distributiva de suas forças foram indispensáveis para 
o desenvolvimento do capitalismo. 
Na infância esse processo de biologização ou medicalização ocorre na 
educação, por intermédio, principalmente do diagnóstico do Transtorno de Distúrbio 
de Atenção e Hiperatividade (TDAH). 
Esse fenômeno da medicalização do social tão em evidência no mundo 
contemporâneo não deixa escapar a população infanto-juvenil. Podemos observar um 
aumento cada vez maior de consumo de psicotrópicos pela infância, principalmente 
nas crianças em idade escolar. 
Se de um lado observamos o avanço do processo da biologização da vida, e 
em especial da infância. De outro lado, a atual Política Nacional de Saúde Mental tem 
definido diretrizes importantes para a assistência à criança e adolescente. Entre essas 
diretrizes destacam-se duas: a implantação pelo SUS de novos serviços de saúde 
mental para crianças e adolescentes, os Centros de Atenção Psicossocial Infanto-
Juvenil (CAPSi) e a construção de estratégias para articulação intersetorial da saúde 
 
8 
 
mental com setores historicamente envolvidos na assistência à infância e 
adolescência: saúde geral, educação, assistência social, justiça e direitos, com vistas 
à integralidade do cuidado. 
Segundo Couto et al., 2008, a saúde geral, particularmente a atenção básica, 
a educação e a assistência social são consideradas programas estratégicos 
para acesso de crianças e adolescentes ao cuidado em Saúde Mental, dentre 
outros fatores, porque são mais acessíveis à população e tendem a gerar 
menos estigma tanto para os usuários quanto para suas famílias. A noção 
que embasa a montagem de recursos é a de uma rede pública ampliada de 
atenção à Saúde Mental infantil e juvenil. Nessa rede devem estar articulados 
serviços de diferentes setores, com graus diferenciados de complexidade e 
níveis distintos de intervenção, capazes de responder pelas diferentes 
problemáticas envolvidas na Saúde Mental de crianças e jovens (Couto et al., 
2008). 
3 O PANORAMA ATUAL DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE MENTAL INFANTIL NO 
BRASIL 
Pode-se dizer que uma série de eventos ocorridos na história do Brasil foram 
determinantes para a retomada da discussão sobre a saúde mental infantil e o mais 
recente engajamento público na construção de uma política de saúde voltada para 
essa população específica. Entre esses marcadores, tem destaque a Reforma 
Psiquiátrica, a promulgação da constituição de 1988, fruto do processo de 
redemocratização do país, e a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
em 1990. 
Nesse sentido, historicamente caracterizada por uma rede de assistência de 
caráter filantrópico e privado, com forte componente tutelar, foi apenas em 
2003, que o Ministério da Saúde passou a orientar a construção coletiva e 
Inter setorial das diretrizes de uma rede de assistência de base comunitária 
e conformada às diretrizes da Reforma Psiquiátrica para essa área (ASSIS et 
al., 2009 apud, BRASIL, 2005a). 
Aos movimentos da Reforma Psiquiátrica está subjacente uma ampla 
discussão sobre práticas terapêuticas pautadas por uma nova ética relacionada ao 
cuidado de pessoas com transtornos mentais (COLVERO; IDE; ROLIM, 2004). 
Fundamentado no princípio doença-cura, o modelo asilar concebia o processo saúde 
doença de maneira predominantemente orgânica. Por conseguinte, as estratégias de 
cuidado eram focadas na remissão dos sintomas através de medicamentos, e na 
reclusão em hospitais psiquiátricos (YASUI; COSTA-ROSA, 2008). 
 
9 
 
A Atenção Psicossocial, por sua vez, compreende o processo de saúde-doença 
enquanto um fenômeno social complexo e que, por isso, demanda uma abordagem 
interdisciplinar e Inter setorial, bem como a construção de dispositivos territorializados 
de atenção (YASUI; COSTA-ROSA, 2008). Como destaca Amarante (2007), “é 
importante assinalar que poucos campos de conhecimento e atuação em saúde são 
tão vigorosamente complexos, plurais, Inter setoriais e com tanta transversalidade de 
saberes” (p.15). 
As diretrizes da Reforma Psiquiátrica foram inseridas no cenário brasileiro 
através da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Sistema 
Único de Saúde (SUS). É considerada como um conjunto de transformações de 
saberes, práticas, valores culturais e sociais, sendo que, “é no cotidiano da vida das 
instituições, dos serviços e das relações interpessoais que este processo avança, 
marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios” (BRASIL, 2005b, p. 06). 
A construção de uma política dirigida para a população infanto-juvenil, 
considerando suas especificidades e necessidades segundo os princípios 
estabelecidos pelo SUS, apresenta-se como um dos maiores desafios para a área da 
Saúde Mental. Nesse sentido, com o intuito de fortalecer uma política que priorize 
esse público alvo e preenche uma lacuna histórica, o Ministério da Saúde criou, em 
2004, o Fórum Nacional de Saúde Mental, a fim de promover um espaço permanente 
para discussão, articulação e interlocução de diferentes atores sociais (jurídicos, 
governamentais, civis, filantrópicos) envolvidos com o tema da saúde mental infantil 
(BRASIL, 2005a). 
Na esfera da Reforma Psiquiátrica Brasileira, os Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS) emergem como um dos dispositivos de atenção à saúde mental 
e possuem valor estratégico, na medida em que representam uma possibilidade de 
organização de uma rede substitutiva ao hospital psiquiátrico. A mais recente Política 
de Saúde Mental estabelece que o CAPS possui a incumbência de organizara rede 
de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios. Para tanto, tem a 
função de: 
Segundo Brasil 2005, prestar atendimento clínico em regime de atenção 
diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos; promover a 
inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações 
intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde 
mental na sua área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na 
rede básica (BRASIL, 2005b, p.25) 
 
10 
 
O art. 1º da Portaria n. º 336/GM, de 19/02/02, estabelece que os Centros de 
Atenção Psicossocial podem constituir-se em distintas modalidades de serviços, a 
saber CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos por ordem crescente de 
porte/complexidade e abrangência populacional. O art. 4º da referida portaria 
discrimina as características desses serviços (BRASIL, 2002). 
O Centro de Atenção Psicossocial para a Infância e Adolescência (CAPS II), 
destina-se a atender à demanda em saúde mental infantil em municípios com mais de 
200 mil habitantes, sendo definido como: 
Segundo Brasil 2004, um serviço de atenção diária destinado ao atendimento 
de crianças e adolescentes gravemente comprometidos psiquicamente. 
Estão incluídos nessa categoria os portadores de autismo, psicoses, 
neuroses graves e todos aqueles que, por sua condição psíquica, estão 
impossibilitados de manter ou estabelecer laços sociais (BRASIL, 2004, p. 
23). 
A atenção prestada pelo CAPSi envolve diversas funções, dentre as quais, 
atendimento individual e grupal, bem como em oficinas terapêuticas, atendimento à 
família, e atividades comunitárias que promovam a integração da criança e do 
adolescente na família, na escola, na comunidade ou quaisquer outras formas de 
inserção social (BRASIL, 2002). 
Desempenha, sob coordenação do gestor local, o papel de regular a porta de 
entrada da rede assistencial, supervisionar e capacitar as equipes de atenção básica, 
serviços e programas de saúde mental no espaço do seu território e/ou módulo 
assistencial, na atenção à infância e adolescência. Nesse âmbito, postula-se que as 
possibilidades relacionadas ao tratamento de crianças e adolescentes se ampliam 
quando o atendimento se inicia o mais cedo possível, de modo que, é papel do CAPSi 
estabelecer as parcerias necessárias com as instâncias ligadas ao cuidado da 
população infanto-juvenil nas redes de saúde, educação e assistência social (BRASIL, 
2004). 
Em se tratando da potencial cobertura à assistência à saúde mental infantil no 
Brasil, Couto, Duarte e Delgado (2008) apresentam os serviços considerados 
estratégicos nas políticas de quatro setores de cuidado, a saber, a saúde mental, 
saúde geral, educação, assistência social, justiça/direitos. Na área da Saúde Mental, 
destacam-se os ambulatórios de saúde mental e os Centros de Atenção Psicossocial 
(CAPS) em suas diferentes modalidades, enquanto dispositivos de base territorial. 
 
11 
 
No que se refere à Saúde Geral, especificamente da atenção básica, a 
Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem lugar estratégico nas ações de prevenção 
e detecção precoce das demandas relativas à saúde mental de crianças e 
adolescentes. No setor da Educação, está previsto o planejamento da cobertura 
universal da população quanto à oferta de estabelecimentos públicos de ensino, da 
educação infantil ao ensino médio. 
Ademais, conta-se com as várias instituições filantrópicas que oferecem 
ações educacionais e de reabilitação para alunos especiais em todo o país, 
como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Na Política 
Nacional de Assistência Social (PNAS) propõem-se os Centros de Referência 
da Assistência Social (CRAS), com o objetivo de desenvolver ações de 
proteção em áreas de vulnerabilidade social. Por fim, no âmbito da 
Justiça/Defesa de direitos, os Conselhos Tutelares, estabelecidos pelo ECA, 
são responsáveis por zelar os cumprimentos dos direitos das crianças e dos 
adolescentes (COUTO DUARTE, apud DELGADO, 2008). 
 
Ao analisar a situação atual da assistência à população infanto-juvenil nos 
serviços públicos brasileiros de saúde mental, Couto, Duarte e Delgado (2008) 
ressaltam que há algumas especificidades no cuidado que “não podem ser 
contempladas pela simples extensão das estratégias de cuidado da população adulta 
à população infantil e juvenil” (p. 391). 
Um dos aspectos que obstaculizam a inserção da saúde mental infantil na 
esfera da saúde pública consiste na “particularidade do sistema de cuidado”, que 
envolve muitas vezes “a atividade de vários setores autônomos em relação à saúde 
mental propriamente dita, como os setores da saúde geral/ atenção básica, educação, 
assistência social, justiça e direitos” (p. 392). Portanto, para a constituição de uma 
rede ampliada e eficaz de assistência infanto-juvenil, faz-se necessário trabalhar na 
articulação entre os diversos serviços e dispositivos que atendem a essa população 
(COUTO; DUARTE; DELGADO, 2008). 
Um dos principais desafios a serem superados neste âmbito é a necessidade 
de expansão dos diferentes serviços que compõem a rede de cuidados nos campos 
da saúde, educação e assistência social (COUTO; DUARTE; DELGADO, 2008). De 
fato, no Brasil, permanece como desafio a expansão de serviços para populações 
específicas, como crianças e adolescentes. 
Em Pernambuco, por exemplo, a rede de saúde mental infantil se mostra 
deficitária, na medida em que conta com apenas 7 (sete) CAPSi distribuídos em todo 
 
12 
 
o estado (BRASIL, 2012a). Tal quadro impõe barreiras no acesso aos serviços, 
principalmente relativas às filas de espera para atendimento (BOARINI; BORGES, 
1998) e à acessibilidade geográfica, visto que não raramente esses serviços são 
localizados em regiões “centrais” das cidades (PASSOS, 2012). Ademais, famílias e 
crianças ainda se deparam com dificuldades de outras ordens, tais como o estigma e 
a falta de qualificação profissional (COUTO; DUARTE; DELGADO, 2008; BOARINI; 
BORGES, 1998). 
A construção de uma rede comunitária de cuidados é fundamental para a 
consolidação da Reforma Psiquiátrica, e implica num movimento contínuo e dirigido a 
todos os espaços da cidade, almejando a emancipação das pessoas que buscam os 
serviços de saúde, sobretudo daquelas em sofrimento psíquico, não se reduzindo, por 
conseguinte, ao conjunto dos serviços de saúde mental disponíveis no município. 
Nessa perspectiva, são valorizadas práticas sociais que permitam atender às 
complexidades das demandas de inclusão social de sujeitos excluídos e 
estigmatizados ao longo da história, em um país de acentuadas desigualdades sociais 
(BRASIL, 2005b). 
Portanto, a construção de redes sociais é compreendida como essencial no 
processo de atenção (BRASIL, 2005b; DIMENSTEIN et al., 2010; YASUI; COSTA-
ROSA, 2008), compreendendo-se que os equipamentos de saúde não são suficientes 
para garantir resolutividade, promoção da autonomia e da cidadania das pessoas com 
transtornos mentais. Para tanto, a noção de território emerge como organizador da 
rede de atenção psicossocial: 
Segundo Brasil, o conceito de território é fundamental para a saúde mental 
por se tratar não somente da definição de uma área geográfica de 
responsabilidade dos serviços, mas também pela proximidade dos contextos 
reais das pessoas, favorecendo seu acesso, além de propiciar conhecer e 
interagir com as dimensões da vida cotidiana dos usuários e de sua rede 
social (BRASIL, 2005b). 
Desse modo, uma das diretrizes históricas para a consolidação da Reforma 
Psiquiátrica brasileira diz respeito à articulação da atenção básica11 a uma rede 
substitutiva de cuidados à saúde mental (BRASIL, 2005b; VECCHIA, MARTINS, 
2009), pois reitera a constituição de dispositivos de base comunitária e territorial, 
fundamentais à superação da “iatrogenia da assistência à saúde mental 
hospitalocêntrica” (VECCHIA; MARTINS, 2009, p. 184). 
 
13 
 
Compreendendoque o campo de intervenção das Equipes de Atenção Básica 
se caracteriza pela proximidade com famílias e comunidades, cotidianamente estas 
se deparam com questões relacionadas à saúde mental (BRASIL, 2005b; VECCHIA, 
MARTINS, 2009). Entretanto, eventualmente os profissionais apresentam dificuldades 
em lidar com esse tipo de demanda, exigindo o investimento em políticas de 
expansão, formulação e avaliação para esse setor, por meio de diretrizes que 
compreendam a dimensão subjetiva dos usuários e os problemas mais frequentes de 
saúde mental (BRASIL, 2005b). 
Carvalho et al. (2012) consideram que o conceito de rede social é central na 
compreensão dos sentidos das experiências geradas no ato de cuidar, podendo ser 
definido como sistema formado por diversos objetos sociais (pessoas, funções e 
contextos), que oferece apoio instrumental à pessoa em suas diferentes 
necessidades. No cuidado de crianças, as redes envolvidas potencialmente abarcam 
familiares (pai, mãe, avós, etc.) e não familiares (babás, creche, escolas, vizinhos, 
etc.) “implicando uma comunicabilidade e sociabilidade entre os diversos membros” 
(p. 71), assim como “as crenças que circulam e as estratégias que vem sendo 
utilizadas para sua inserção na comunidade” (BRASIL, 2013, p. 66). 
Durante muito tempo, as origens do adoecimento psíquico foram atribuídas à 
instituição familiar, concepção essa, que justificava as práticas segregadoras do 
modelo asilar. A atenção psicossocial, em contraste, é perpassada por uma 
concepção de cuidado que implica a participação dos diversos atores envolvidos como 
sujeitos ativos na produção de saúde, e não somente como objetos de intervenções e 
construções teóricas. 
 Nesse processo, a participação da família é considerada como primordial 
(SEVERO et al.,2007), como se evidencia nos diversos trabalhos produzidos nos 
últimos anos enfocando as relações entre família e sofrimento psíquico (BORBA, et 
al., 2011; CALDANA, 2008; COLVERO; IDE; ROLIM, 2004; DIMENSTEIN, et al., 
2010; MACHINESKI, 2011; PEGORARO; MORENO, 2009; SCHRANK; 
OLSCHOWSKY, 2008; SEVERO et al., 2007; SILVA, 2012; etc.). 
Algumas das justificativas que embasam a escolha da família como público-
alvo do estudo se dão no sentido de valorizar os saberes de senso comum acerca do 
fenômeno saúde-doença mental construídos na convivência com um familiar em 
sofrimento psíquico, como observado em Colvero, Ide e Rolim (2004): 
 
14 
 
Identificamos que estes familiares possuem um saber, saber este constituído 
na relação com o doente mental e com os profissionais, que atravessa todas as suas 
queixas e pedidos de ajuda. Este saber, construído no senso comum, consiste em 
uma operação que dá um sentido às metáforas e imagens que lhes são oferecidas 
pela história social de seu tempo sobre o processo saúde - doença mental e convívio 
familiar, e, por conseguinte, precisa ser identificado (p. 199). 
Segundo Favoreto 2008, no atual contexto da organização de serviços e 
práticas voltadas à atenção em saúde, deve-se almejar o diálogo entre os 
saberes científicos e práticos que reflita sobre os cuidadores e cuidados, 
promovendo novas sínteses e modos de atuar em saúde (FAVORETO, 
2008). 
Desse modo, compreende-se que todos os sistemas terapêuticos são providos 
de um valor intrínseco, uma vez que todas as formas de conhecimento têm uma 
racionalidade. Por isso, é necessário problematizar “o papel das técnicas de 
diagnóstico e de tratamento ante as razões objetivas e subjetivas de todos os sujeitos 
envolvidos na produção e reprodução dos cuidados”, revelando o valor do 
conhecimento que emerge como fruto da experiência (MINAYO, 2007, p. 193). 
O quadro teórico das Representações Sociais emerge como um suporte 
privilegiado para o embasamento dessa perspectiva, visto que trata dos universos 
simbólicos socialmente partilhados. Ademais, essa abordagem aplicada ao campo da 
saúde, em sua diversidade de orientações e métodos, apresenta-se como um meio 
de acesso privilegiado ao estudo dos processos de formação e difusão do 
pensamento social, com base no qual os comportamentos e práticas relativas ao 
campo da saúde-doença se apoiam (MORIN; APOSTOLIDIS, 2002). 
4 ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, ATENÇÃO PRIMÁRIA E A INFÂNCIA 
O Movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira se inicia a partir da década de 
1970 durante a ditadura militar, quando movimentos sociais lutam pela 
redemocratização do país e reivindicam direitos sociais. Seus atores vêm questionar 
o modelo hospitalocêntrico de assistência, onde prevaleciam as práticas médicas 
curativo individualizadas e especializadas. 
O Movimento considerava esse modelo de assistência ineficaz, pois gerava 
exclusão social e sequestrava a cidadania das pessoas com sofrimento psíquico, 
 
15 
 
violando os direitos humanos. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental 
(MTSM) foi um importante ator no processo da Reforma Psiquiátrica, criticava o 
manicômio e reivindicava melhores condições de assistência às pessoas com 
sofrimento psíquico e a humanização dos serviços de saúde (Amarante, 2009). 
Na década de 1980 com a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde 
(1986), da I Conferência Nacional de Saúde Mental (1987) e do II Congresso Nacional 
dos Trabalhadores de Saúde Mental (1987) e a criação do Sistema Unificado e 
Descentralizado de Saúde (SUDS) em 1987, surgem condições favoráveis às 
transformações na assistência à saúde no país. Não se trata mais de melhorar as 
estruturas existentes, mas de criar novos dispositivos e estratégias de cuidado (Yasui, 
1999; Luzio, 2003). 
Nessa perspectiva, o Movimento da Reforma Psiquiátrica trouxe significativos 
avanços para o cuidado dos usuários dos serviços de saúde mental. As Conferencias 
nacionais de Saúde Mental, cada uma a seu modo, também apontaram a necessidade 
de se definir ações político-assistenciais para que um novo tempo se instaurasse no 
que diz respeito ao cuidado e tratamento da população infanto-juvenil. Mas é apenas 
no Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Inter setorial (2010) 
que aparecem diretrizes específicas para a demanda infanto-juvenil. 
O relatório da referida conferencia destaca a importância do desenvolvimento 
de ações Inter setoriais, transdisciplinares, de assistência e de promoção de Saúde 
Mental nos três níveis de atenção. Aponta também que as exigências colocadas no 
processo de consolidação da política de Saúde Mental infanto-juvenil implicam a 
construção de redes que respondam não apenas aos desafios presentes nos grandes 
centros urbanos, mas também aqueles existentes em municípios de pequeno porte 
populacional. 
Assim, começa a emergir um novo modelo assistencial em Saúde Mental 
guiado por pressupostos como a inclusão social e a emancipação das pessoas com 
sofrimento psíquico, através do processo de desativação dos hospitais psiquiátricos e 
da criação de uma rede substitutiva de cuidados, territorializada e integrada. Sendo 
fundamental que essa rede seja pautada na intersetorialidade e na 
corresponsabilidade. 
Segundo Brasil 2001, a promulgação da Carta Constitucional de 1988 afirmou 
a condição de cidadã de crianças e adolescentes, a Lei nº 8069 de 1990, 
conhecida como Estatuto da Criança e Adolescente assegurou seus direitos. 
 
16 
 
Nos últimos anos houve avanços na consolidação de um novo desenho da 
Política Nacional de Saúde Mental, outras portarias foram publicadas e 
ajudaram os municípios a organizarem seus serviços e ações de saúde 
mental no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (Brasil, 2001). 
Como a Portaria 336/02 em que define o CAPS como serviço ambulatorial de 
atenção diária que deve funcionar segundo a lógica do território e independente de 
qualquer estrutura hospitalar, contempla a criação do Centro de Atenção Psicossocial 
infantil (CAPSi), mas foi em 2004, que se criou o Fórum Nacional de Saúde Mental 
Infanto-juvenil constituído pela Portaria GMnº 1.608, de 3.8.2004, para debater e 
deliberar sobre a questão da institucionalização de crianças e adolescentes, 
particularmente daquelas portadoras de transtornos psíquicos (Brasil, 2005). 
Atualmente podemos observar a ampliação da rede de atenção, com serviços 
abertos e ações territoriais, diminuição dos leitos psiquiátricos, redução da exclusão 
social e a tentativa de criar uma cultura contra os manicômios. 
Apesar das transformações ocorridas, a Reforma Psiquiátrica brasileira precisa 
enfrentar muitos problemas e desafios, dentre eles o de implementar políticas e 
práticas capazes de assegurar os direitos básicos de cidadania de toda a população 
infantil brasileira, uma vez que as promulgações de textos legais não operam por si 
as mudanças necessárias. 
Os CAPSi, serviços públicos de base territorial voltados para a atenção 
intensiva, embora tenha entre suas prioridades de ação os projetos de 
desospitalização e de institucionalização, ainda são insuficientes em número para 
atender a demanda de uma clientela mais grave que não recebe um atendimento 
resolutivo na modalidade ambulatorial. Esses serviços estão localizados em 
municípios de médio e grande porte. 
Os municípios de pequeno porte contam com uma rede de saúde composta por 
serviços de Atenção Primária e, em alguns casos possuem o Ambulatório de Saúde 
Mental como único serviço especializado, que muitas vezes não contém programas 
específicos para a demanda infantil. 
Dessa maneira, a ESF representa o primeiro contato da população com o 
serviço de saúde. Como tal, é uma estratégia para reorientação dos sistemas de 
saúde, auxiliando a operacionalização dos princípios e diretrizes do Sistema Único de 
Saúde e organizando o sistema numa rede articulada com os outros níveis de ação. 
 
17 
 
A Estratégia de Saúde da Família se destaca entre as estratégias de saúde por 
ser uma tentativa de transformar as práticas em atenção à saúde e o trabalho dos 
profissionais que nele atuam. É uma estratégia inerente à atenção primária que tem 
por objetivo focalizar o indivíduo como um sujeito integrado à família e a comunidade, 
além de centrar a atenção na promoção de saúde e dar ênfase à integralidade das 
ações. 
Segundo Borges 201, de acordo com a atual Política Nacional de Saúde 
Mental, as ações de saúde mental devem ser desenvolvidas em articulação 
com a Atenção Básica pela convergência de princípios entre elas. Mas, para 
que a saúde mental seja concretizada na Atenção Básica, é preciso que os 
princípios do SUS se tornem práticas cotidianas. Nesse sentido, ações que 
envolvam conceitos como acolhimento e vínculo, atuação em equipe e no 
território, integralidade do cuidado e responsabilização pelas ações, trabalho 
em rede, desinstitucionalização e reabilitação psicossocial, são condições 
sine qua non para a construção de cuidados comuns entre estas políticas. 
(Borges, 2012). 
Uma relação harmônica e profícua entre as ações de saúde mental e Atenção 
Primária se faz essencial para avançarmos nas propostas da Reforma Sanitária e da 
Reforma Psiquiátrica no Brasil. Atualmente já podemos analisar quais têm sido os 
avanços e desafios nesta relação. 
Desde os anos setenta do século XX acompanhando a trajetória da reforma 
sanitária, o processo da reforma psiquiátrica vem alterando conceitos e práticas na 
atenção aos transtornos mentais no país. O foco fundamental deste movimento é a 
desinstitucionalização, sendo sua luta principal a redução do número de leitos nos 
manicômios e a implementação de ampla rede comunitária de serviços substitutivos. 
Este direcionamento da reforma psiquiátrica para o cuidado dos pacientes com 
transtornos severos e persistentes e para a implantação de Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS) deixou em segundo plano a assistência aos transtornos mentais 
menos graves e mais prevalentes. 
Essas medidas tentam diminuir a defasagem na formação dos profissionais da 
Atenção Primária que não são preparados para atender a demanda de Saúde Mental 
e, por isso, na maioria das vezes não veem as questões de Saúde Mental como parte 
integrante do seu trabalho. Essa situação está relacionada também com a lógica dos 
especialismos que durante muito tempo creditou aos profissionais como os psicólogos 
e psiquiatras o saber para lidar com as questões de Saúde Mental: 
 
18 
 
Segundo Dimenstein 2005, A integração do PSF [ESF] com as políticas de 
Saúde Mental, por sua vez, implica também transformações profundas nas 
práticas de saúde institucionalizadas. A lógica dos ‘especialismos’, ainda 
muito arraigada à cultura médico-hospitalocêntrica, encontrada entre os 
técnicos e mesmo entre a população usuária, dificulta a implementação de 
novas formas de cuidado. Tal lógica pressupõe relações hierarquizadas de 
saberes e poderes entre os diferentes membros da equipe e desta com os 
usuários. Isso quer dizer que é preciso pôr em curso alterações na forma de 
organização dos serviços, pautadas por mudanças nos saberes instituídos 
que delimitam quem é competente e quem tem autoridade para lidar com a 
loucura. Tal perspectiva conduz inevitavelmente a uma discussão a respeito 
do caráter ideológico do mandato social das profissões envolvidas no campo 
da saúde e da “vaidade” que atravessa o mundo “psi”, que sedimenta a saúde 
mental como espaço privativo dos profissionais que nele atuam. 
(DIMENSTEIN ET AL, 2005, p.26-27). 
Portanto, faz-se necessário investirmos tanto na formação dos profissionais da 
Atenção Primária, quanto na mudança de ideologias e práticas ligadas à lógica dos 
especialismos para que de fato possamos desenvolver ações integrais de cuidado. 
5 DISTÚRBIOS E TRANSTORNOS MENTAL INFANTIL 
O distúrbio mental infantil é mais comum do que se pode imaginar. Estudo 
realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) traçou 
um panorama sobre a incidência desses transtornos na vida de crianças e 
adolescentes. Dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) alertam 
que esse grupo específico representa aproximadamente 30% (crianças) e 14,2% 
(adolescentes) da população mundial. Em relação à taxa de incidência, levantamentos 
informam que a quantidade de menores com algum transtorno mental chegue a 15%. 
O distúrbio mental infantil pode ser algum transtorno que afete, principalmente, 
campos ligados ao seu neurodesenvolvimento, assim como aspectos relacionados à 
sua cognição e funcionalidade. 
 Alguns autores consideram o fato de a criança estar em uma situação de risco 
(em se tratando de distúrbio mental) “quando seu desenvolvimento não ocorrer 
conforme o esperado para sua faixa etária e para os parâmetros de sua cultura”. De 
acordo com a OMS, a promoção da saúde mental está associada a um ‘estado de 
bem-estar’, permitindo ao indivíduo a realização de atividades que contribuam de 
forma significativa para sua comunidade e sua própria vida. 
 
 
 
19 
 
Quais são os fatores associados: 
Há que se ressaltar que o distúrbio mental em crianças e adolescentes é 
motivado por alguns fatores determinantes. Eles podem ser divididos em alguns 
grupos: 
 Fatores genéticos: relacionados ao histórico familiar de transtorno 
mental; 
 Fatores psicossociais: relacionados a casos de disfunções na vida 
familiar e situações indutoras de estresse; 
 Fatores biológicos: relacionados a situações de anormalidades do 
sistema nervoso central, sejam elas causadas por lesões, infecções, 
desnutrição ou exposição a toxinas; 
 Fatores ambientais: relacionados a problemas enfrentados na 
comunidade (violência urbana) e tipos de possíveis abusos (físico 
psicológico e sexual). 
A OMS considera duas grandes categorias dos transtornos mentais que estão 
presentes na vida das crianças e dos adolescentes: transtornos do desenvolvimento 
psicológico e transtornos de comportamento e emocionais. 
Quais são os distúrbios mentais com maior incidência? 
O estudo feito pela UFRJ conseguiu chegaraos transtornos mais frequentes 
nos pacientes analisados. O levantamento apontou que a Depressão, os Transtornos 
de Ansiedade, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o 
Transtorno de Conduta (TC) e os Transtornos por Uso de Substância foram os 
observados consideravelmente. 
Houve variação na taxa de cada uma delas. Vejam a seguir: 
 Depressão (0,6 % e 30%); 
 Transtorno de Ansiedade (3,3% e 32,3%); 
 TDAH (0,9% e 19%); 
 Transtorno de Conduta (1,8% e 29,2%); 
 Transtorno por Uso de Substancias (0,9% e 19%). 
Existem fatores de risco? Quais são eles? 
Sim e não são poucos. A literatura científica reconhece situações bastante 
variadas e que podem influenciar e/ou piorar a situação da criança ou adolescente 
que convive com algum distúrbio mental, a saber: 
https://neurosaber.com.br/transtornos-psiquiatricos-x-transtornos-de-aprendizagem-qual-a-relacao/
https://neurosaber.com.br/transtornos-psiquiatricos-x-transtornos-de-aprendizagem-qual-a-relacao/
https://neurosaber.com.br/transtornos-psiquiatricos-x-transtornos-de-aprendizagem-qual-a-relacao/
 
20 
 
 Baixo nível educacional; 
 Doenças crônicas e terminais; 
 Maus-tratos na infância; 
 Eventos traumáticos; 
 Psicopatologia parental; 
 Vulnerabilidade social (considerado por alguns autores como um fator 
de risco para doenças mentais); 
 Outros 
5.1 Transtornos mentais 
Transtornos mentais, de acordo com o CID –10 tem em comum uma etiologia 
demonstrável, de doença ou lesão cerebral, ou outra afecção que leve a uma 
disfunção cerebral. Disfunção esta que pode ser primária como em doenças, lesões e 
afecções que afetam o cérebro diretamente e preferencialmente; ou secundário, como 
em doenças e transtornos sistêmicos que acometem o cérebro como um dos múltiplos 
órgãos ou sistemas corporais envolvidos. 
Segundo Fernandez e Cheniaux (2010) o termo transtorno mental é utilizado 
para indicar a presença de um conjunto de vivencias subjetivas ou comportamentais 
que causam sofrimento significativo ou um importante prejuízo no funcionamento 
social, ocupacional ou em qualquer outra área importante da vida do indivíduo. 
Jung (1986) sobre a doença mental salienta que eclode em momento de 
grande emoção despertadas por razões, por assim dizer, normais. Para o 
autor quando a doença mental surge, vários sintomas aparecem que não 
podem de modo algum ser compreendidos do ponto de vista anatômico, 
porém tornam-se compreensíveis quando considerado a história pregressa 
do sujeito. Sendo assim a personalidade torna-se, o elemento no qual se 
desenvolve a doença. O critério que permite julgá-la é ao mesmo tempo a 
realidade e a medida da doença (JUNG, apud FOCAULT 1975). 
Zimerman (2007) ressalta que as defesas empregadas pelo ego definem a 
formação do tipo de caráter e dos transtornos mentais. Determinado mecanismo 
defensivo do ego pode predominar com grande intensidade, que acaba por 
estabelecer um padrão do tipo de caráter do sujeito ou o transtorno mental. É 
frequente que se forme uma constelação de defesas que se configuram em 
 
21 
 
determinada organização defensiva típica de certos padrões de quadros clínicos de 
psicopatologia ou de personalidade. 
O autor exemplifica tal afirmação com a possibilidade de que uma criança tenha 
sido educada com constantes avisos de cuidados e com repetidas advertências de 
que deve evitar riscos, que na maioria dos casos são situações banais de fácil e sadio 
enfrentamento. 
Essa criança torna-se mais propensa a se tornar uma pessoa fóbica com a 
vigência de defesas que procuram evitar situações imaginadas como sendo 
perigosas, tais como; o escuro, espaço aberto ou fechado, medos de pequenos 
animais, sangue, injeções entre outros. 
Exemplo usado pelo autor para elucidar o fenômeno diz respeito a educação, 
onde aponta que uma criança marcada por intensas e exageradas recomendações, 
advertências e até mesmo ameaças com relação à limpeza, terá forte tendência a 
tornar-se uma pessoa com características obsessivas, ficando assim submetido a um 
superego que é rígido cobrador e ameaçador. 
As causas determinantes não são unicamente exteriores, como nos exemplos 
citados, pois uma fobia pode ser resultado de uma projeção de sentimentos 
persecutórios internos. Uma neurose obsessiva– compulsiva pode ser consequência 
defensiva contra um superego cruel e tirânico (ZIMERMAN, 2007). 
Em continuação Laplanche e Pontalis (2001, p.277) afirmam “Mecanismos de 
defesa são diferentes tipos de operações em que a defesa pode ser especificada”. 
Nesse sentido Laia (2011) no contexto específico de uma abordagem dimensional dos 
transtornos mentais, aponta que encontraremos proposições como: sintomas 
psicóticos (positivos), sintomas negativos, sintomas maníacos, sintomas depressivos, 
deficiência cognitiva, ansiedade, sintomas obsessivos compulsivos, uso indevido de 
substância, impulsividade, propensão ao suicídio, problemas alimentares, problemas 
de sono e problemas sexuais. 
Michel Foucalt (1975) acrescenta, ressaltando que: 
Segundo FOULCAULT, e define a doença mental com os mesmos métodos 
conceituais que a doença orgânica, se se isolam e se se reúnem os sintomas 
psicológicos como os sintomas fisiológicos, é porque antes de tudo se 
considera a doença, mental ou orgânica, como uma essência natural 
manifestada por sintomas específicos. Entre essas duas formas de patologia, 
não há então unidade real, mas semente, e por intermediário destes dois 
postulados, um paralelismo abstrato. Ora o problema da unidade humana e 
 
22 
 
da totalidade psicossomática permanece inteiramente aberto (FOULCAULT, 
1975). 
O autor ainda salienta que as dimensões psicológicas da doença não podem 
ser encaradas como autônomas. Para ele, a doença mental pode situar-se em relação 
a gênese humana, à história psicológica e individual e também às formas de 
existência. É necessário levar em consideração esses aspectos da doença e recorrer 
a explicações míticas, como a evolução das estruturas psicológicas e a teoria dos 
instintos, para compreender o processo da doença mental. 
Foucault acrescenta ainda que, “é somente na história que se pode descobrir o 
único, a priori concreto, onde a doença mental toma como abertura vazia de sua 
possibilidade suas figuras necessárias” (FOUCAULT, 1975). 
Foucault (1975) afirma que é da angustia que a evolução psicológica 
transforma-se em história individual. O que une o presente e o passado é a angustia, 
e esta situa-se em relação ao outro e confere-lhes uma comunidade de sentido. A 
conduta patológica é envolvida por conteúdos arcaicos e uma inserção significativa 
do presente, e é neste presente que desencadeia a ambivalência e a angustia, 
provocando o jogo de proteção neurótica. 
Deve-se ressaltar que esta angustia e os mecanismos que a afastam, já foram 
a muito tempo fixados na história do sujeito. Diante disso, é possível então corroborar 
dizendo que a doença desenvolve-se como um círculo vicioso, onde o doente se 
protege contra um passado em que a presença secreta faz surgir a angustia, por meio 
de seus atuais mecanismos de defesa, por outo lado contra a possível ocorrência de 
uma angustia atual, dessa forma o sujeito se protege apelando para proteções 
instauradas no decorrer de situações análogas. 
A história psicológica do doente é composta por um conjunto de condutas 
significativas que edificam mecanismos de defesa contra a ambivalência das 
contradições efetivas (FOUCAUL,1975). Diante das afirmações compreende-se que 
se pelo olhar do autor que o complexo de édipo não foi vivenciado de forma 
satisfatória, ou até mesmo correta, este sujeito poderá vivenciar sintomas 
psicopatológicos quando adulto. 
 
23 
 
5.2 Definição de distúrbios do desenvolvimento 
O termo “distúrbios do neurodesenvolvimento” é uma denominação mais 
adequada para os distúrbios do desenvolvimento. Os distúrbios do 
neurodesenvolvimento são problemas neurológicosque podem vir a interferir com a 
aquisição, retenção, ou aplicação de habilidades ou conjuntos de informações 
específicos. Eles podem envolver disfunção da atenção, da memória, da percepção, 
da linguagem, da solução de problemas ou da interação social. Esses distúrbios 
podem ser leves e de fácil controle com intervenções comportamentais e educacionais 
ou podem ser mais graves, e as crianças afetadas podem precisar de mais apoio. Os 
distúrbios do neurodesenvolvimento incluem: 
 Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade 
 Transtorno de espectro autista 
 Transtorno de aprendizagem, como dislexia e deficiências em outras 
áreas acadêmicas 
 Deficiência intelectual 
5.3 Deficiência intelectual: distúrbios de aprendizagem e do desenvolvimento 
A Deficiência intelectual (DI) é quando o desempenho intelectual fica 
significativamente abaixo da média desde o nascimento ou período inicial da vida do 
bebê, causando limitações à capacidade de realizar atividades normais da vida diária. 
 A deficiência intelectual pode ser genética ou resultado de um distúrbio 
que interfere no desenvolvimento do cérebro. 
 A maioria das crianças com DI não desenvolve sintomas notáveis até 
chegarem à pré-escola. 
 O diagnóstico se baseia nos resultados de testagem formal. 
 A realização de cuidados pré-natais adequados reduz o risco de se ter 
um filho com DI. 
 Apoio de muitos especialistas, terapia e educação especial ajudam as 
crianças a alcançar o nível de desempenho mais elevado possível. 
 
24 
 
O termo “retardo mental”, usado anteriormente, adquiriu um estigma social 
indesejável. Por isso, os profissionais de saúde o substituíram pelo termo deficiência 
intelectual. 
A deficiência intelectual não é um distúrbio médico específico como a 
pneumonia ou a faringite estreptocócica e nem é um distúrbio da saúde mental. As 
pessoas com DI têm desempenho intelectual significativamente abaixo da média, que 
limita sua capacidade de lidar com uma ou mais áreas da vida diária (habilidades de 
adaptação) a tal ponto que precisam de apoio constante. As habilidades adaptativas 
podem ser classificadas em diversas áreas, incluindo: 
 Área conceitual: competência em memória, leitura, escrita e matemática 
 Área social: consciência dos pensamentos e sentimentos de outras 
pessoas, habilidades interpessoais e julgamento social 
 Área prática: cuidados pessoais, organização de tarefas (de trabalho e 
acadêmicas), administração do dinheiro e saúde e segurança 
As pessoas com deficiência intelectual têm graus variados de deficiência, 
classificada de leve a profunda. Ainda que a deficiência seja causada 
fundamentalmente pela restrição do funcionamento intelectual (normalmente medido 
com testes de inteligência padronizados), o grau de deficiência depende mais da 
quantidade de apoio de que a pessoa precisa. Uma pessoa com deficiência leve em 
um teste de inteligência, por exemplo, pode ter habilidades de adaptação tão precárias 
que apoio intensivo é necessário. 
O apoio é classificado em: 
 Intermitente: É necessário apoio em algumas ocasiões 
 Limitado: Significa um programa diário em uma oficina com acolhimento 
 Abrangente: Apoio diário e contínuo 
 Generalizado: Um nível de apoio elevado em todas as atividades da vida 
diária, possivelmente incluindo cuidados de enfermagem abrangentes 
Apenas com base em testes de QI, considera-se que cerca de 3% de toda a 
população tem uma deficiência intelectual. No entanto, caso a classificação seja 
baseada na necessidade de apoio, somente cerca de 1% das pessoas são 
classificadas como tendo limitação mental (cognitiva) significativa. 
 Níveis de deficiência: Moderado QI de 52-69/ Moderado QI 36-51/ Grave 
20-35/ Profunda QI 19 ou menos 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-da-sa%C3%BAde-mental-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-dist%C3%BArbios-da-sa%C3%BAde-mental-em-crian%C3%A7as
 
25 
 
Causas: Existe uma grande variedade de quadros médicos e ambientais que 
podem causar deficiência intelectual. Alguns são genéticos. Alguns estão presentes 
antes ou durante a concepção e outros ocorrem durante a gravidez, o nascimento ou 
depois. O fator comum é que algo interfere com o crescimento e o desenvolvimento 
do cérebro. Mesmo com os mais recentes avanços no campo da genética, 
especialmente das técnicas de análise cromossômica, com frequência não é possível 
identificar uma causa específica para a DI. 
Sintomas: Algumas crianças com deficiência intelectual manifestam anomalias 
evidentes no nascimento ou pouco tempo depois. Essas anomalias podem ser físicas 
ou neurológicas e podem incluir características faciais pouco comuns, como cabeça 
muito grande ou muito pequena, deformidades das mãos ou dos pés e várias outras 
anomalias. Algumas vezes, as crianças têm um aspecto normal, mas apresentam 
outros sinais de doença grave, como convulsões, letargia, vômitos, urina com odor 
anormal, distúrbios alimentares e crescimento anormal. 
Durante o primeiro ano de vida, muitas crianças com DI mais grave têm um 
desenvolvimento motor tardio e apresentam lentidão para rolar, se sentar e ficar de 
pé. No entanto, a maior parte das crianças com DI não manifesta sintomas 
perceptíveis até ao período pré-escolar. Os sintomas se tornam aparentes em idade 
mais precoce naquelas mais gravemente afetadas. Em geral, o primeiro problema 
percebido pelos pais é um atraso no desenvolvimento da linguagem. As crianças com 
DI aprendem de forma mais lenta a usar palavras, a uni-las e a construir frases 
completas. Algumas vezes, seu desenvolvimento social é lento devido a dificuldades 
cognitivas e deficiências da linguagem. 
As crianças com DI podem demorar para aprender a se vestir e se alimentar 
sozinhas. Alguns pais podem não considerar a possibilidade de deficiência cognitiva 
até a criança chegar à escola ou à pré-escola e se mostrar incapaz de atender as 
expectativas apropriadas à idade. As crianças com DI são mais propensas do que as 
outras crianças a ter problemas comportamentais, tais como explosões, crises de 
raiva e comportamento fisicamente agressivo ou auto agressivos. 
Esses comportamentos se relacionam com frequência a situações específicas 
de frustração combinadas com deficiência na capacidade de comunicar e controlar 
impulsos. Crianças mais velhas podem ser facilmente enganadas, exploradas e 
convencidas a maus comportamentos menores. 
 
26 
 
Cerca de 20 a 35% das pessoas com DI também têm distúrbios da saúde 
mental (diagnóstico duplo). Ansiedade e depressão são especialmente comuns, 
principalmente em crianças cientes de que são diferentes das outras crianças ou nas 
que são abusadas e maltratadas devido à sua deficiência. 
Diagnóstico 
 Avaliação do desenvolvimento e da inteligência 
 Exames de imagem do sistema nervoso 
 Exames genéticos 
Muitas crianças são avaliadas por equipes de profissionais, incluindo 
neurologista pediátrico ou pediatra do desenvolvimento, psicólogo, patólogo da fala, 
terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta, educador especial, assistente social ou 
enfermeiro. Os médicos avaliam as crianças com suspeita de deficiência intelectual 
testando seu desempenho intelectual e procurando por uma causa. 
 Mesmo que a causa da DI da criança possa ser irreversível, identificar o 
distúrbio que causou a deficiência pode permitir aos médicos prever o curso futuro da 
criança, prevenir a perda de habilidades adicionais, planejar intervenções que possam 
aumentar o desempenho da criança e aconselhar os pais sobre o risco de ter outra 
criança com o mesmo distúrbio. 
Exames preventivos 
Uma vez que problemas de desenvolvimento leves nem sempre são percebidos 
pelos pais, os médicos rotineiramente fazem testes de avaliação do desenvolvimento 
durante as consultas médicas. Os médicos usam questionários simples, como os 
Questionáriosde idades e estágios ou Inventários de desenvolvimento infantil, para 
avaliar com rapidez as habilidades cognitivas, verbais e motoras da criança. Os pais 
podem ajudar o médico a determinar o nível de desempenho da criança preenchendo 
um teste de Avaliação parental da situação do desenvolvimento (PEDS). As crianças 
com desempenho significativamente inferior ao nível da sua idade nesses testes de 
avaliação são encaminhadas para testes formais. 
Aplicação de testes formais 
A aplicação de testes formais tem três componentes: 
 Entrevistas com os pais 
 Observações da criança 
 
27 
 
 Testes nos quais o desempenho da criança é comparado com as 
pontuações de muitas crianças da mesma idade (testes referenciados 
pela norma) 
Alguns testes, como o Teste de inteligência padrão de Binet e a Escala 
Wechsler de inteligência para crianças, medem a habilidade intelectual. Outros testes, 
como as Escalas de comportamento adaptativo de Vineland, avaliam áreas como 
comunicação, habilidades em atividades diárias, habilidades sociais e habilidades 
motoras. Em geral, esses testes formais comparam as capacidades intelectuais e 
sociais da criança com as de outras crianças da mesma idade. 
No entanto, crianças de diferentes culturas, de famílias não falantes do inglês 
e de condição socioeconômica muito baixa têm maior propensão a não se sair bem 
nesses testes. Por essas razões, o diagnóstico da DI requer que o médico integre 
esses dados com informações obtidas dos pais e da observação direta da criança. 
Um diagnóstico de DI é adequado somente quando tanto as habilidades intelectuais 
quanto as de adaptação estão significativamente abaixo da média. 
Identificação da causa 
Os recém-nascidos com anomalias físicas ou outros sintomas que sugiram a 
existência de um quadro associado a DI necessitam frequentemente de exames de 
laboratório para ajudar a detectar distúrbios metabólicos e genéticos. 
Exames de diagnóstico por imagens, como imagem por ressonância magnética 
(IRM), podem ser realizados a fim de se detectar problemas estruturais no cérebro. 
Um eletroencefalograma (EEG) registra a atividade elétrica do cérebro e é usado para 
avaliar a criança em termos de possíveis convulsões. 
Análise cromossômica, incluindo a nova tecnologia de análise cromossômica 
de micro arranjo, exames de urina e de sangue e radiografias ósseas também podem 
ajudar a descartar outras causas de suspeita de DI. 
Algumas crianças que apresentam lentidão na aprendizagem da linguagem e 
no domínio de aptidões sociais têm quadros diferentes da DI. Uma vez que problemas 
da audição interferem no desenvolvimento da linguagem e do desenvolvimento, uma 
avaliação da audição é normalmente feita. Problemas emocionais e problemas de 
aprendizagem podem ser igualmente confundidos com DI. 
Crianças que foram gravemente privadas de amor e atenção normais 
( Negligência) durante um período prolongado podem parecer ter DI. Uma criança que 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/abuso-e-neglig%C3%AAncia-infantil/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-o-abuso-e-a-neglig%C3%AAncia-infantil#v824338_pt
 
28 
 
revele um atraso para aprender a se sentar ou caminhar (habilidades motoras 
grosseiras) ou para manipular objetos (habilidades motoras finas) pode ter um 
problema neurológico não associado a DI. 
Prognóstico 
Uma vez que a deficiência intelectual às vezes coexiste com problemas físicos 
graves, a expectativa de vida das pessoas com DI pode ser mais curta dependendo 
do quadro clínico específico. Em geral, quanto mais grave for a deficiência cognitiva e 
quanto mais problemas físicos a pessoa tiver, mais curta a expectativa de vida. 
Contudo, na ausência de problemas físicos, uma pessoa com DI leve terá uma 
expectativa de vida relativamente normal, e os tratamentos de saúde estão 
melhorando os resultados de longo prazo para pessoas com todos os tipos de 
deficiência intelectual. Muitas pessoas com DI conseguem sustentar a si próprias, 
viver independentemente e até mesmo manter o emprego se receberem o apoio 
adequado. 
Prevenção 
A prevenção se aplica sobretudo a doenças genéticas e infecciosas e às lesões 
provocadas por acidentes. 
A síndrome de álcool fetal é uma causa da deficiência intelectual altamente 
comum e completamente passível de prevenção. O grupo March of Dimes e outros 
grupos preocupados com a prevenção da DI focam muitos dos seus esforços em 
alertar as mulheres sobre os efeitos extremamente prejudiciais do álcool durante a 
gravidez. 
Os médicos podem recomendar a realização de exames genéticos às pessoas 
com familiares ou outros filhos com doenças hereditárias conhecidas, especialmente 
doenças relacionadas a DI, como fenilcetonúria, doença de Tay-Sachs ou síndrome 
do X frágil. A identificação de um gene associado a um distúrbio hereditário permite 
que o aconselhamento genético ajude os pais a perceberem o risco de terem um filho 
afetado. As mulheres que planejam uma gravidez devem receber as vacinas 
necessárias, principalmente contra a rubéola. As mulheres com risco de distúrbios 
infecciosos que possam ser prejudiciais ao feto, como rubéola e o vírus da 
imunodeficiência humana (HIV) devem ser testadas antes de engravidar. 
A realização de cuidados pré-natais adequados reduz o risco de se ter um filho 
com DI. O folato (ácido fólico), um suplemento vitamínico, tomado antes da concepção 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-feminina/uso-de-medicamentos-durante-a-gravidez/uso-de-medicamentos-durante-a-gravidez#v810372_pt
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-metab%C3%B3licos-heredit%C3%A1rios/dist%C3%BArbios-do-metabolismo-dos-amino%C3%A1cidos#v822296_pt
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-metab%C3%B3licos-heredit%C3%A1rios/dist%C3%BArbios-do-metabolismo-dos-lip%C3%ADdios#v822413_pt
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/anomalias-cromoss%C3%B4micas-e-gen%C3%A9ticas/s%C3%ADndrome-do-x-fr%C3%A1gil
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/anomalias-cromoss%C3%B4micas-e-gen%C3%A9ticas/s%C3%ADndrome-do-x-fr%C3%A1gil
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/infec%C3%A7%C3%B5es-virais-em-beb%C3%AAs-e-crian%C3%A7as/rub%C3%A9ola
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv
 
29 
 
e no início da gravidez pode ajudar a prevenir determinados tipos de anomalias 
cerebrais, especialmente os defeitos do tubo neural. Os avanços nas práticas de 
trabalho de parto e parto e no tratamento de bebês prematuros ajudaram a reduzir a 
taxa da DI relacionada à prematuridade. 
Alguns exames, como a ultrassonografia, a amniocentese, estudos de 
vilosidades coriônicas e vários exames de sangue podem ser realizados durante a 
gravidez para identificar doenças que conduzem frequentemente à DI. 
 A amniocentese ou as amostras de vilosidades coriônicas são com frequência 
usadas em mulheres com alto risco de ter bebês com síndrome de Down, 
especialmente naquelas com 35 anos de idade ou mais, e nas mulheres com histórico 
familiar de distúrbios metabólicos. 
A medição da alfa-fetoproteína sérica materna é um teste útil para defeitos do 
tubo neural, síndrome de Down e outras anomalias. Algumas doenças, como 
hidrocéfalo e incompatibilidade de Rh grave podem ser tratadas durante a gravidez. 
A maioria das doenças, contudo, não pode ser tratada e o reconhecimento precoce 
pode servir somente para preparar os pais e permitir que eles considerema opção do 
aborto. 
Tratamento 
 Apoio multidisciplinar 
O melhor tipo de cuidado prestado a uma criança com DI é por meio de uma 
equipe multidisciplinar que inclui: 
 Clínico geral 
 Assistentes sociais 
 Terapeutas da fala 
 Terapeutas ocupacionais 
 Fisioterapeutas 
 Neurologistas ou pediatras especializados em desenvolvimento 
 Psicólogos 
 Nutricionistas 
 Educadores 
Outros profissionais também podem fazer parte da equipe se necessário. Junto 
com a família, essas pessoas desenvolvem um programa abrangente e 
individualizado para a criança que é iniciado assim que se suspeitar do diagnóstico de 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/defeitos-do-tubo-neural-e-espinha-b%C3%ADfida
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/problemas-em-rec%C3%A9m-nascidos/prematuridade
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-feminina/detec%C3%A7%C3%A3o-de-dist%C3%BArbios-gen%C3%A9ticos/exames-diagn%C3%B3sticos-pr%C3%A9-natais#v808926_pt
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-feminina/complica%C3%A7%C3%B5es-da-gravidez/incompatibilidade-de-rh
 
30 
 
DI. Os pais e irmãos da criança também precisam de apoio emocional e às vezes 
aconselhamento. A família inteira deve ser uma parte integral do programa. 
A gama completa de pontos fortes e fraquezas da pessoa deve ser levada em 
consideração ao se determinar que tipo de apoio é necessário. Fatores tais como 
deficiências físicas, problemas de personalidade, doença mental e habilidades 
interpessoais são levados em consideração. 
As pessoas afetadas com deficiência intelectual e distúrbios da saúde mental 
coexistentes como depressão podem receber medicamentos apropriados em 
dosagens similares àquelas dadas às pessoas sem DI. Contudo, dar medicamentos a 
uma criança sem também oferecer terapia comportamental e alterações ambientais, 
em geral, não é útil. 
Todas as crianças com DI se beneficiam de educação especial. A lei federal 
dos EUA sobre educação para indivíduos com deficiências (Individuals with 
Disabilities Education Act, IDEA) exige que as escolas públicas ofereçam educação 
gratuita e apropriada para crianças e adolescentes com DI ou outros distúrbios do 
desenvolvimento. 
 A educação deve ser fornecida no ambiente menos restritivo e mais inclusivo 
possível, no qual a criança tenha todas as oportunidades para interagir com outras 
crianças não afetadas e tenha igual acesso aos recursos da comunidade. 
Crianças com DI em geral têm as melhores condições de vida em casa. No 
entanto, algumas famílias não podem proporcionar cuidados em casa, especialmente 
no caso das crianças com deficiências graves e complexas. Essa é uma decisão difícil 
que exige discussão abrangente entre a família e toda a equipe de apoio. 
Ter uma criança com graves deficiências em casa exige um cuidado dedicado 
que muitos pais podem não ser capazes de proporcionar. A família pode precisar de 
apoio psicológico. Um assistente social pode organizar serviços de assistência 
familiar. Ajuda pode ser oferecida por creches, empregadas, cuidadores infantis e 
instituições de apoio para os pais. 
A maior parte dos adultos com DI vive em residências especializadas 
comunitárias que oferecem serviços apropriados às necessidades da pessoa, assim 
como trabalho e oportunidades de recreação. 
 
31 
 
5.4 Distúrbios de aprendizagem 
Os distúrbios de aprendizagem envolvem uma incapacidade de adquirir, reter 
ou usar habilidades ou informações gerais, o que resulta de dificuldades com a 
atenção, com a memória ou com o raciocínio e afeta o desempenho acadêmico. 
 As crianças afetadas podem ser lentas para aprender os nomes das 
cores ou das letras, para contar ou para aprender a ler e escrever. 
 As crianças fazem uma série de testes acadêmicos e de inteligência 
administrados por especialistas em aprendizagem. 
 O tratamento envolve um plano de aprendizagem feito sob medida para 
as habilidades da criança. 
Os distúrbios de aprendizagem são bastante diferentes da deficiência 
intelectual (anteriormente denominada retardo mental) e ocorrem em crianças com 
desempenho intelectual normal ou mesmo elevado. Os distúrbios de aprendizagem 
afetam somente certas funções, enquanto que nas crianças com deficiência intelectual 
as dificuldades afetam de maneira ampla as funções cognitivas. 
Os três tipos comuns de distúrbios de aprendizagem são 
 Distúrbios da leitura 
 Distúrbios da expressão escrita 
 Distúrbios envolvendo a capacidade matemática 
Assim, crianças com distúrbios de aprendizagem podem ter dificuldades 
significativas para compreender e aprender matemática, mas nenhuma dificuldade 
para ler, escrever e se sair bem em outras matérias. A dislexia é o distúrbio de 
aprendizagem mais conhecido. Os distúrbios de aprendizagem não incluem as 
dificuldades de aprendizagem que se devem a problemas de visão, audição e de 
coordenação ou a distúrbios emocionais, embora esses problemas possam também 
ocorrer em crianças com distúrbios de aprendizagem. 
 
Ainda que as causas dos distúrbios de aprendizagem não sejam 
completamente conhecidas, elas incluem anomalias dos processos básicos 
envolvidos na compreensão ou no uso da linguagem falada ou escrita ou do raciocínio 
numérico ou espacial. 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/defici%C3%AAncia-intelectual
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/defici%C3%AAncia-intelectual
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/dislexia
 
32 
 
Ainda que o número de crianças com distúrbios de aprendizagem seja 
desconhecido, cerca de 5% da população em idade escolar nos Estados Unidos 
recebe serviços de educação especiais devido a distúrbios de aprendizagem. Os 
meninos com distúrbios de aprendizagem podem superar em número as meninas em 
uma proporção de cinco para uma, mas as meninas com frequência não são 
reconhecidas ou diagnosticadas como sofrendo de distúrbios de aprendizagem. 
Muitas crianças, principalmente aquelas com problemas de comportamento, se 
saem mal na escola e são testadas por psicólogos educacionais em termos de 
distúrbios de aprendizagem. Contudo, algumas crianças com determinados tipos de 
distúrbios de aprendizagem ocultam bem suas dificuldades e evitam um diagnóstico 
e, por consequência, um tratamento, por muito tempo. 
Sintomas 
Crianças pequenas podem ser lentas para aprender os nomes das cores ou 
das letras, para atribuir palavras a objetos familiares, para contar e para progredir em 
outras habilidades de aprendizagem iniciais. Elas podem demorar para aprender a ler 
e escrever. Outros sintomas podem ser o período de concentração curto e distrair-se 
facilmente (semelhante ao transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), 
problemas de fala/linguagem, dificuldade em compreender as informações faladas e 
memória curta. 
As crianças afetadas podem ter dificuldades com atividades que exigem 
coordenação motora fina, tais como escrever com clareza e copiar. As crianças com 
distúrbios de aprendizagem podem ter dificuldades para se comunicar. Algumas 
crianças podem se sentir inicialmente frustradas e mais tarde desenvolver problemas 
comportamentais, como se distrair facilmente, ser hiperativas, retraídas, tímidas ou 
agressivas. 
Diagnóstico 
• Avaliações educacionais, médicas e psicológicas 
As crianças que não conseguem ler ou aprender no nível esperado 
considerando suas habilidades verbais ou intelectuais devem ser avaliadas. Devem 
ser realizados exames de audição e de vista, uma vez que problemas com esses 
sentidos também podem interferir nas habilidades de ler eescrever. Distúrbios da 
audição e da visão não devem ser confundidos com distúrbios de aprendizagem. 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/transtorno-do-d%C3%A9ficit-de-aten%C3%A7%C3%A3o-com-hiperatividade-tdah
 
33 
 
Os médicos examinam as crianças em busca de distúrbios físicos. As crianças 
fazem uma série de testes de inteligência, tanto verbais quanto não verbais, e testes 
acadêmicos de leitura, escrita e habilidades aritméticas. 
 Esses testes podem com frequência ser feitos por especialistas na escola da 
criança a pedido dos pais. Nos Estados Unidos e em outros países, as escolas são 
obrigadas por lei a aplicar os testes e a oferecer as acomodações adequadas. 
Tratamento 
• Gestão educacional 
O tratamento mais útil para um distúrbio de aprendizagem é uma educação 
feita cuidadosamente sob medida para a criança individual. 
Medidas como eliminar aditivos alimentares, tomar grandes doses de vitaminas 
e examinar o organismo da criança em busca de traços de minerais foram com 
frequência tentadas, mas não comprovadas. Nenhum tratamento medicamentoso tem 
grande efeito sobre as conquistas acadêmicas, a inteligência e a capacidade geral de 
aprendizagem. Como algumas crianças com distúrbios de aprendizagem têm 
igualmente transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, determinados 
medicamentos, como metilfenidato, podem melhorar a atenção e a concentração e 
melhorar a capacidade de aprendizagem. 
5.5 Transtornos do espectro autista (TEA): 
Os transtornos do espectro autista (TEAs) são problemas nos quais as pessoas 
têm dificuldade em desenvolver relacionamentos sociais normais, usam linguagem de 
maneira anormal ou não a usam em absoluto e se comportam de maneiras 
compulsivas e ritualistas. 
• As pessoas afetadas têm dificuldades para se comunicar e se relacionar 
com terceiros 
• As pessoas com transtornos do espectro autista também têm padrões 
de comportamento, interesses e/ou atividades restritas e com frequência 
seguem rotinas rígidas. 
• O diagnóstico se baseia na observação e nos relatos dos pais e outros 
cuidadores. 
 
34 
 
• A maioria das pessoas responde melhor a intervenções 
comportamentais altamente estruturadas. 
Os transtornos do espectro autista (TEAs) são considerados um espectro de 
transtornos, porque as manifestações variam amplamente em tipo e gravidade. 
Anteriormente, os TEAs eram classificados como autismo clássico, síndrome de 
Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e transtorno 
generalizado do desenvolvimento não especificado. Contudo, os médicos atualmente 
não usam essa terminologia e consideram todos esses como TEAs (exceto para 
a síndrome de Rett, que é um distúrbio genético distinto). 
Os TEAs são diferentes da deficiência intelectual, ainda que muitas crianças 
com TEAs tenham ambas as coisas. O sistema de classificação enfatiza que, dentro 
desse amplo espectro, diferentes características podem ocorrer de maneira mais ou 
menos intensa em um dado indivíduo. 
O número estimado de pessoas identificadas como sendo portadoras de um 
transtorno do espectro autista continua a aumentar, ao mesmo tempo que os médicos 
e cuidadores tentam aprender mais sobre os sintomas do transtorno. 
Os sintomas de um transtorno do espectro autista podem aparecer nos 
primeiros dois anos de vida, mas em formas mais leves, os sintomas podem não ser 
detectados até à idade escolar. Esses transtornos ocorrem em cerca de uma em cada 
68 pessoas com base em estatísticas populacionais recentes, e são quatro vezes mais 
comuns entre meninos do que entre meninas. 
As causas específicas dos transtornos do espectro autista não são 
completamente compreendidas, embora elas frequentemente estejam relacionadas a 
fatores genéticos. No caso de pais com um filho com um TEA, o risco de ter outro filho 
com um TEA é 50 a 100 vezes maior. 
Diversas anomalias genéticas, tais como a síndrome do X frágil e a síndrome 
de Down, podem estar associadas a um TEA. Infecções pré-natais como, por 
exemplo, infecções virais como rubéola ou citomegalovírus( Algumas infecções dos 
recém-nascidos), também podem desempenhar alguma função. No entanto, está 
claro que os TEAs não são causados por má educação, condições adversas da 
infância ou por vacinação. 
 
 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/s%C3%ADndrome-de-rett
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-do-desenvolvimento/defici%C3%AAncia-intelectual
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/anomalias-cromoss%C3%B4micas-e-gen%C3%A9ticas/s%C3%ADndrome-do-x-fr%C3%A1gil
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/anomalias-cromoss%C3%B4micas-e-gen%C3%A9ticas/s%C3%ADndrome-de-down-trissomia-21
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/anomalias-cromoss%C3%B4micas-e-gen%C3%A9ticas/s%C3%ADndrome-de-down-trissomia-21
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/infec%C3%A7%C3%B5es-virais-em-beb%C3%AAs-e-crian%C3%A7as/rub%C3%A9ola
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/problemas-em-rec%C3%A9m-nascidos/sepse-no-rec%C3%A9m-nascido#v815122_pt
https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/problemas-em-rec%C3%A9m-nascidos/sepse-no-rec%C3%A9m-nascido#v815122_pt
 
35 
 
Sinais dos transtornos do espectro autista 
Nem todos os sinais precisam estar presentes para um diagnóstico de TEA, 
mas as crianças precisam ter dificuldades tanto em A quanto em B. Os sinais podem 
variar amplamente em gravidade, mas devem prejudicar o desempenho das crianças. 
A - Dificuldades nas comunicações sociais e na interação social: 
 Dificuldade para interagir com terceiros e compartilhar pensamentos e 
sentimentos 
 Dificuldades com a comunicação não verbal (como fazer contato visual, 
compreender e usar linguagem corporal e expressões faciais) 
 Dificuldades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos 
interpessoais 
B - Padrões de comportamento, atividades ou interesses restritos e 
repetitivos: 
 Movimentos ou fala repetitiva 
 Aderência inflexível a rotinas e resistência a mudanças 
 Interesses muito restritos e intensos 
 Resposta a sensações físicas, tais como gostos, cheiros e texturas, 
muito aumentada ou diminuída 
Sintomas 
As crianças com transtorno do espectro autista desenvolvem sintomas nas 
seguintes áreas: 
 Comunicação e interações sociais 
 Comportamento, interesses e atividades 
Os sintomas variam de leves a graves, mas a maioria das pessoas exige algum 
tipo de apoio em ambas as áreas. Existe uma ampla variação nas pessoas com um 
TEA quanto à sua capacidade de agir de forma independente na escola ou na 
sociedade e em relação à sua necessidade de receber apoio. 
Além disso, cerca de 20 a 40% das crianças com um TEA, sobretudo aquelas 
com um QI inferior a 50, desenvolvem convulsões antes da adolescência. Em cerca 
de 25% das crianças afetadas ocorre uma regressão do desenvolvimento por volta da 
época do diagnóstico, o que pode ser o indicador inicial de um distúrbio. 
 
 
 
36 
 
Comunicação e interações sociais 
Com frequência, os bebês com um TEA se aninham e fazem contato visual de 
formas pouco habituais. Apesar de alguns bebês afetados ficarem perturbados 
quando são separados dos pais, podem não procurar seus pais em busca de 
segurança como as outras crianças. 
As crianças mais velhas muitas vezes preferem brincar sozinhas e não 
estabelecem relações pessoais íntimas, especialmente fora da família. Quando 
interagem com outras crianças, podem não fazer contato visual nem usar expressões 
faciais para estabelecer contato social e têm dificuldade de interpretar o humor e as 
expressões dos

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